1 INTRODUÇÃO: O cigarro já foi visto como hábito

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CESSAÇÃO DO TABAGISMO NO BRASIL: REVISÃO DA LITERATURA
Martalice Ribeiro Barbosa1
Marta de Lima Castro2
DianeKelly Lacerda3
Menandes Alves de Souza Neto 4
RESUMO:
Vários países implantaram um conjunto de recomendações básicas para o tratamento da dependência de nicotina,
com o objetivo de sistematizar as práticas clínicas, psicológicas e sociais, no mundo. O Brasil possui o Programa
Nacional de Controle do Tabagismo que disponibiliza tratamento e acompanhamento gratuito aos pacientes. Apesar
da indústria do tabaco ocupar posição importante na economia brasileira olucro gerado ao país não supera os
prejuízos com assistência médica.Entender como o hábito de fumar interage com as relações socioeconômicas é
fundamental para proposição de medidas de redução de danos e melhoria da qualidade de vida da população.
Palavras-Chaves: Tabagismo, dependência, nicotina.
ABSTRAT:
Many countries have implemented a set of basic recommendations for the treatment of nicotindepencency, with the
aim of systematize clinical, psychological and social practice in the world. Brazil has the Tabagism National Control
Program, which offers free treatment and acompaniment to the patients. Although Tobacco industry occupies an
important position in Brazilian economy, the profit generated to the country cannot overcome the losses with medical
assistance. Understanding how the smoking habit iterates with socio-economical relations is fundamental to purpose
ways of reduction of damage and the improvement of population´s life quality.
Key-Words: Tagagism, depencency, nicotin.
desde o surgimento do tabaco até as medidas
antitabagistas estabelecidas no país.
1 INTRODUÇÃO:
O cigarro já foi visto como hábito inofensivo e até
mesmo ligado ao status social, sendo amplamente
utilizado na sociedade, mas o surgimento de estudos
prospectivos demonstrou a associação entre o uso do
tabaco e o aparecimento de diversas doenças,
principalmente o câncer.
Os
prejuízos
causados
pelo
fumo
impulsionaramimportantes ações de saúde pública no
Brasil e no mundo. Há mais de 15 anos,o Ministério da
Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer
(INCA), vem articulando, nacionalmente,ações de
natureza intersetorial e de abrangência nacional, junto a
outros setoresdo governo, com a parceria das
secretarias estaduais e municipais de Saúde e de
váriossetores da sociedade civil organizada, como, o
aumento das taxas de impostos para a indústria
tabagista, veiculação de anúncios advertindo sobre suas
conseqüências deletérias a saúde, além da criação do
Programa Nacional de Controle do Tabagismo.
Diante do cenário de alta prevalência de
tabagismo, grandes taxas de doenças relacionadas ao
tabaco e suas conseqüências e impacto na saúde
pública, torna fundamental conhecer a trajetória do
tabaco no Brasil, para melhor compreender o contexto
em que vivemos e atuamos profissionalmente, no
combate à dependência química da nicotina. Em razão
disso este trabalho tem por objetivo fazer uma revisão
bibliográfica sobre a cessação do tabagismo no Brasil,
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ISSN 1984-431X
2 METODOLOGIA
Estudo descritivo, elaborado pelo modelo de
revisão bibliográfica. Para a pesquisa dos artigos
utilizados nessa revisão, foram feitas buscas de
trabalhos brasileiros indexados nas bases de dados
eletrônicas Lilacs e Scielo sob os unitermos “cessação
do tabagismo no Brasil”, “tratamento do
tabagismo”,“controle do tabagismo no Brasil” e
“História do Tabaco no Brasil” e/ou seus
correspondentes em língua inglesa.O critério de
inclusão utilizado para seleção dos artigos foi ter sido
realizado no Brasil e conter os termos acima citados,
no título ou no resumo.
3 REFERÊNCIAL TEÓRICO
3.1- HISTÓRIA DO TABACO NO BRASIL
A planta chegou ao Brasil provavelmente pela
migração de tribos tupis-guaranis. Quando os
portugueses
aqui
desembarcaram,
tomaram
conhecimento do tabaco pelo contato com os índios. E
a partir do século XVI, o seu uso disseminou-se pela
Europa e logo alcançou prestígio mundial (NARDI,
1985; NARDI, 1996; DENARC – PR, 2011).
A partir de 1960, surgiram os primeiros relatórios
científicos que relacionaram o cigarro ao adoecimento
do fumante. Atualmente, existem inúmeros trabalhos
comprovando os malefícios do tabagismo à saúde do
Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n. 6 p. 76 - 81
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fumante e do não fumante exposto à fumaça do cigarro.
Apesar dos males que o hábito de fumar provoca, a
nicotina é uma das drogas mais consumidas no mundo
(DENARC - PR, 2011).
Desde 1985, o Brasil vem desenvolvendo
intervenções para o controle do tabagismo.
Principalmente com a criação do Programa Nacional de
Controle do Tabagismo (PNCT) com legislação ampla,
em 1996; criação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), responsável pela regulamentação
dos produtos derivados do tabaco; e aumento de preço
dos produtos do tabaco (DANEL et al, 2005).
O Brasil é o maior exportador mundial de tabaco
e segundo maior produtor, ocupando posição
importante na economia brasileira. No entanto, a
expectativa é que a produção de fumo brasileira sofra
uma queda gradual daqui para frente. Um dos fatores
que está influenciando a tendência de queda do cultivo
do tabaco é a diminuição do número de consumidores
no Brasil. De acordo com estudos do Ministério da
Saúde, em 1994 havia 44,3 milhões de fumantes no
País, cerca 28% da população. Em 2010, esse número
foi reduzido para 27,8 milhões, alcançando 14,5% dos
brasileiros. Essa redução deve-se tanto às campanhas
públicas antitabagistas quanto à inflação do preço do
cigarro, que tem um impacto forte no bolso do
consumidor (BRASIL, 2004; MIRRA et al, 2010;
SINDIFUMO, 2011)
3.2 – EPIDEMIOLOGIA DO TABAGISMO
O tabagismo, conceituado pelo consumo de
tabaco, caracteriza-se por intoxicação aguda ou crônica
decorrente do hábito de fumar é a principal causa de
morte evitável em todo mundo, comimpacto bem
conhecido sobre a saúde (PEIXOTO et al, 2007; WHO,
2008).
Existem importantes diferenciais no padrão e
tendências do consumo de tabaco por gênero e por
classe social no mundo. A proporção de homens
fumantes émais elevada do que a de mulheres. A
expansão do tabagismo foi progressivamente
diminuindo em países desenvolvidos, no entanto,
apresentou
crescimento
em
países
em
desenvolvimento, principalmente na população de mais
baixa renda e escolaridade (BRASIL, 2004; BRASIL
2006).
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios – PNAD sobre o consumo de produtos
derivados do tabaco (fumados ou não), realizado em
2008 no Brasil, entre pessoas de 15 anos ou mais, por
grandes regiões, sexo e perfil socioeconômico.
Detectou-se o percentual de 17,5% de usuários, o que
correspondia ao contingente de 25 milhões de pessoas.
O percentual mais elevado de usuários está na Região
Sul (19,0%) e os menores no Centro-Oeste (16,6%) e
Sudeste (16,7%). Entre os homens, os percentuais de
fumantes mais elevados foram os do Nordeste (22,9%,
ou 4,2 milhões de fumantes) e o do Sul (22,5%, ou 2,3
milhões de fumantes). Já entre as mulheres fumantes,
as regiões Sul (15,9%) e Sudeste (13,3%) apresentam
os maiores percentuais. No entanto, as parcelas de
homens usuários de tabaco forammaiores que as das
mulheres, tanto no Brasil quanto em suas regiões,
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aproximando do dobro no Norte e no Nordeste (IBGE,
2008).
Pesquisa desenvolvida por CAVALCANTE &
PINTO (2005) mostrou que muitos chefes de famílias
de baixa renda usam parte dos recursos de sua já
reduzida renda familiar para a compra de cigarros. O
desgaste econômico com o tabagismo é muito grande,
envolvendo indivíduos, serviços e a sociedade como
um todo.
Além disso, o tabagismo é um dos fatores de
risco mais importantes para as Doenças e Agravos Não
Transmissíveis (DANT), a principal causa de óbitos e
enfermidades no Brasil. Da década de 1930 até os anos
90, a proporção de mortes por DANT cresceu mais de
três vezes no país. Em 2004, as DANT foram
responsáveis por aproximadamente 63% da
mortalidade devida a causas conhecidas (BRASIL,
2006).
Houve no Brasil uma redução de fumantes a
partir da década de 90,além de redução acentuada do
consumo per capita de unidades. Entretanto, estima-se
que cerca de 200 mil mortes por ano ainda ocorrem em
conseqüência do tabagismo (CAVALCANTE, 2005;
Di FRANZAet al, 2009; MIRRA et al, 2010).
3.3 – ASPECTOS GERAIS DA DEPENDÊNCIA DE
NICOTINA
A nicotina é uma droga psicoativa lícita, que
causa dependência física, química e psicológica,
interferindo no organismo e no comportamento do
usuário. As conseqüências do uso do tabaco incluem
efeitos destrutivos em vários tecidos, produzindo desde
doenças pulmonares simples até alterações celulares
que predispõem ao câncer, assim como alterações
cardíacas e vasculares. (MARQUES et al, 2001;
BALBANI1& MONTOVANI, 2002; CHAVES&
MENDONÇA, 2005).
A intensidade da dependência da nicotina
cresce com o tempo e o número de cigarros fumados. A
diminuição de 50% no consumo da nicotina pode
desencadear os sintomas de abstinência nos indivíduos
dependentes, como: ansiedade, irritabilidade, distúrbios
do sono (insônia e sonolência diurna), aumento do
apetite, alterações cognitivas (diminuição da
concentração e atenção) e fissura pelo cigarro
(MARQUES et al, 2001).
3.3.1 – DIAGNÓSTICO DA DEPENDÊNCIA DE
NICOTINA
O diagnóstico clínico érealizado por um
profissional de saúde adequadamente treinado que
aborda dois questionamentos 1- qual o consumo diário
de tabaco e 2- se o fumante acredita ter problemas
associados a esse consumo.A abordagem a todos os
indivíduos na atenção primária visa não apenas
diagnosticar o tabagismo e aconselhar os fumantes a
parar de fumar, mas estimular aqueles que não fumam
para que não comecem (MARQUES et al, 2001;
LOPES, 2008).
Questionários,
inventários
e
escalas
desenvolvidos para elaborar o diagnóstico e melhor
avaliar a gravidade do consumo de tabaco podem ser
Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n. 6 p. 76 - 81
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introduzidos para fundamentar a intervenção e definir o
tratamento mais adequado ao paciente, de acordo com
o grau de dependência da nicotina. A Classificação
Internacional das Doenças (CID- 10) da Organização
Mundial da Saúde também é utilizada para avaliação
diagnóstica do uso do tabaco, mas o teste de
dependência à nicotina de Fagerström é o mais
utilizado mundialmente como ferramenta de avaliação
do grau de dependência nicotínica do tabagista
(MARQUES et al, 2001; REICHERT et al, 2008).
3.3.2 – TRATAMENTO DO TABAGISMO
No Brasil existe tratamento do tabagismo
disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através
do Programa de Controle do Tabagismo,
regulamentado pelas PortariaNº 1035/GM de
31/05/2004 e Portaria SAS/MS/Nº 442 de 13/08/2004.
Estas portarias ampliam o acesso da abordagem e
tratamento do tabagismo na atenção básica e média
complexidade da rede do SUS, incluem no elenco de
procedimentos financiados pelo Piso da Atenção
Básica (PAB) aqueles referentes ao tratamento do
tabagismo e aprovam o plano de implantação da
abordagem e tratamento do tabagismo na rede SUS e o
protocolo clínico e diretrizes terapêuticas da
dependência à nicotina (INCA, 2011).
O paciente deve passar por uma consulta onde
o profissional de saúde vai avaliar a real motivação
desse paciente para deixar de fumar, seu nível de
dependência física à droga, se há indicação e/ou contraindicação ao uso do apoio medicamentoso, a existência
de co-morbidades psiquiátricas, enfim, fazer uma
completa anamnese (VIEGAS et al, 2007;
BALBANI1& MONTOVANI, 2005).
Os benefícios da interrupção do hábito de
fumar estão bem estabelecidos. Os ex-fumantes
apresentam uma redução do risco de morte e
conseqüente aumento da expectativa de vida, além de
redução do risco de câncer, sobretudo de pulmão, de
doenças cardiovasculares, como infarto e acidente
vascular cerebral, e de doenças pulmonares crônicas
(PEIXOTO et al, 2007).
É extremamente difícil para os tabagistas
abandonar o tabaco, devido à dependência da nicotina.
A maioria dos tabagistas conhece os malefícios do
cigarro e deseja parar de fumar. Todavia é preciso
vencer obstáculos práticos para alcançar a meta: 1) a
falta de diagnóstico médico da dependência de
nicotina; 2) o desconforto da abstinência e 3) o número
insuficiente de serviços de apoio para abandono do
fumo, com distribuição gratuita de medicamentos
(BALBANI1& MONTOVANI, 2005).
Estudos epidemiológicos mostram que mais
de 70% dos tabagistas desejam parar de fumar. No
entanto, menos de 10% alcançam esse objetivo por
conta própria, pois o desconforto da abstinência de
nicotina e a fissura pelo cigarro fazem com que a maior
parte dos ex-tabagistas apresente recaída. As recaídas
costumam ocorrer entre dois dias e três meses de
abstinência. Mas, com apoio médico adequado é
possível aumentar a taxa de sucesso no abandono do
fumo (BALBANI1& MONTOVANI, 2005;LUPPI et
al, 2006).
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Na prática o principal instrumento que o
médico utiliza para avaliar a redução ou abandono do
fumo é a informação do próprio paciente. Nos estudos
clínicos, porém, é indispensável uma medida objetiva e
confiável para saber se o indivíduo realmente parou de
fumar, o método mais usado é a dosagem da nicotina
no sangue, saliva ou urina (BALBANI1&
MONTOVANI, 2005).
Os métodos de cessação de fumar podem ser
diretos e indiretos. Os diretos são procedimentos
clínicos de avaliação do grau de dependência da
nicotina,
psicoterapia,
esclarecimentos,
aconselhamento, aplicação de medicamentos e
acompanhamento; os indiretos, constituem em ações
anti-tabágicas integradas na atenção primária da rede
de saúde pública, campanhas educativas atingindo,
desde a infância, os diversos segmentos da população,
proibição de fumar em locais públicos, elevação dos
impostos sobre os preços dos cigarros e advertências
nas embalagens dos produtos do tabaco (FOCCHI &
BRAUN, 2005; BALBANI1& MONTOVANI, 2005).
O índice de cessação do tabagismo é um dos
indicadores mais utilizados para expressar a
interrupção do hábito de fumar em uma dada
população. Os índices de cessação do tabagismo no
Brasil apresentam tendência crescente, com os menores
índices referentes a indivíduos commenor escolaridade
e/ ou de nível social mais baixo (CHAVES &
MENDONÇA, 2005). Por isso, deve-se enfatizar o
papel do estado e das políticas públicas no
reconhecimento do tabagismo como um problema de
saúde pública para que o tratamento seja
disponibilizado a todos os fumantes, tanto no Sistema
Único de Saúde quanto no Sistema de Saúde
Suplementar (VIEGAS et al, 2007; REICHERT et al,
2008).
O tabagismo é uma doença complexa e o seu
controle requer a integração de abordagens diversas:
farmacológicas, psicológicas, de comunicação de
massa. econômicas, entre outras (PRESMAN et al,
2005).
A terapia farmacológica é indicada para os
dependentes da nicotina, e divide-se em: fármacos de
primeira linha (terapia de reposição da nicotina e
bupropiona) e de segunda linha (clonidina e
nortriptilina)(FOCCHI & BRAUN, 2005; REICHERT
et al, 2008).
3.3.3 - TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
FÁRMACOS DE PRIMEIRA LINHA
- Terapia de reposição de Nicotina (TRN) :tem como
objetivo a substituição da nicotina do cigarro por meio
de doses menores e seguras, reduzindo os sintomas de
abstinência. Além de ser considerado um método
seguro e eficaz no tratamento da dependência de
nicotina,é o mais popular e o menos dispendioso
(FOCCHI & BRAUN, 2005).
- Cloridrato de Bupropiona:
É um antidepressivo
usado com o objetivo de reduzir os sintomas da
síndrome de abstinência do cigarro(HAGGSTRÄM et
al, 2001).
Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n. 6 p. 76 - 81
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DROGAS DE SEGUNDA LINHA
- Nortriptilina: É um antidepressivo que apresenta
também ação ansiolítica e efeitos colaterais
anticolinérgicos, como boca seca, tremores, visão turva
e sedação. Apesar desses efeitos, a nortriptilina pode
ser vantajoso como tratamento alternativo do
tabagismo, pois tem menor efeito colinérgico se
comparada a outros tricíclicos, e menor risco de
provocar convulsões (FOCCHI & BRAUN, 2005). O
uso de nortriptilina é indicado quando não é possível
prescrever bupropiona ou TRN (MARQUES et al,
2001; BALBANI1& MONTOVANI, 2005).
- Clonidina :O paciente deve ser orientado a parar de
fumar de dois a três dias após o início da medicação,
que deve ser mantida durante três a quatro semanas ou
até que alcance o controle dos sintomas de abstinência
(VIEGAS & REICHERT,2004). Apresenta eficácia
similar e com custo inferior a TRN e a bupropiona. No
entanto, seu uso é limitado pela elevada incidência de
efeitos colaterais(VIEGAS & REICHERT, 2004).
3.3.4- TRATAMENTO NÃO - FARMACOLÓGICO
- Aconselhamento médico:ajuda a identificar as
situações em que o tabagista busca o cigarro por um
comportamento (após as refeições, ao tomar um café,
em reuniões com amigos) ou circunstâncias emocionais
(ansiedade, aborrecimentos). Com base nisso o
fumante aprende estratégias para quebrar o vínculo
entre esses fatores e o ato automático de
fumar(LARANJEIRA
&
GIGLIOTI,
2000;
SARDINHA et al, 2005).
- Terapia cognitivo-comportamental: os componentes
principais dessa abordagem envolvem: 1) a detecção de
situações de risco de recaída; 2) o desenvolvimento de
estratégias de enfrentamento. Esse tipo de abordagem
envolve o estímulo ao auto-controle ou auto-manejo
para que o indivíduo possa aprender como escapar do
ciclo vicioso da dependência e a tornar-se assim um
agente
de
mudança
de
seu
próprio
comportamento(SARDINHA et al, 2005).
-Terapia de grupo:
Consiste de quatro sessões
de grupo (de 10 a 15 pessoas), de uma hora e meia,
uma vez por semana, por um período de quatro
semanas. Aborda os comportamentos, pensamentos e
sentimentos dos fumantes, onde a interação do grupo é
usada para incentivar e apoiar as mudanças, sem, no
entanto, estimular a dependência dos participantes ao
grupo (INCA, 2004).
3.3.5– CONTROLE DO TABAGISMO NO BRASIL
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
propôs , em maio de 1999, a adoção do primeiro
tratado internacional de saúde pública a ConvençãoQuadro para o Controle do Tabaco (CQCT), seu
objetivo é proteger as gerações presentes e futuras das
devastadoras consequências sanitárias, sociais,
ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela
exposição à fumaça do tabaco, proporcionando uma
referência para as medidas de controle do tabaco a
serem implementas das pelas Partes nos níveis
nacional, regional e internacional, a fim de reduzir de
maneira contínua e substancial a prevalência do
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ISSN 1984-431X
consumo e a exposição à fumaça do tabaco (BRASIL,
2011).
No Brasil, muito tem sido feito nos últimos 15
anos para controlar a epidemia tabágica, e os resultados
positivos são evidentes e estimulam todos a lutar por
novas conquistas. Dentre elas, medidas que protejam os
menos favorecidos do ponto de vista financeiro ou
educacional devem ser priorizadas, como ambientes
100% livres do cigarro, já adotados com sucesso em
vários municípios e estados da federação. Medidas que
visam proteger toda a população, independentemente
de classe social ou nível educacional (DANEL et al,
2005; DIFRANZA et al, 2009; GODOY, 2010).
Em 1999, o governo criou a Comissão
Nacional para o Controle do Uso do Tabaco (CNCT),
a Secretaria-Executiva ficou a cargo do Instituto
Nacional do Câncer (INCA). A criação da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no
mesmo ano, permitiu que o governo avançasse de
forma significativa através de medidas regulatórias e na
aplicação da legislação específicas para o setor tabaco.
Desde então, o INCA é o responsável pelo Programa
Nacional para o Controle do Tabagismo (PNCT),
(IGLESIAS et al, 2007; BRASIL, 2011).
Este Programa inclui vigilância, legislação e
incentivos econômicos, além de educação em escolas,
locais de trabalho e nas unidades de saúde. Como
passos necessários, o programa identifica: (1) evitar a
dependência, em especial entre crianças e adolescentes,
(2) promover ações para estimular a cessação, (3)
proteger os não-fumantes dos perigos da fumaça
ambiental do tabaco e (4) promover a redução dos
danos causados pelo tabaco, através de medidas de
regulamentação do produto (CAVALCANTE, 2005;
IGLESIAS et al. 2007).
Não existe nenhuma intervenção-chave para o
controle do tabagismo. Isso torna evidente que as ações
para o controle do tabagismo dependem da articulação
de estratégias em diferentes dimensões, envolvendo
diferentes setores sociais, governamentais e não
governamentais (CAVALCANTE, 2005; IGLESIAS et
al, 2007)
No Brasil, o controle do tabagismo saiu de um
papel marginal no Sistema Único de Saúde (SUS) para
um papel formal. Contudo, somente há pouco tempo, a
política de controle do tabagismo passou a contar com
financiamento no nível local, em especial para as ações
voltadas à cessação. O financiamento regular do SUS
que possa garantir recursos adequados para as
atividades dos estados e dos municípios continua sendo
um desafio. O acesso ao tratamento é ainda irregular e
ainda é baixo o nível de conscientização e de
capacitação no interior do SUS para o apoio das
intervenções relacionadas ao tratamento para parar de
fumar. A expectativa é que os canais usuais, como o
Programa Agentes Comunitários de Saúde e o
Programa Saúde da Família promovam o controle do
tabagismo no nível local (IGLESIAS et al, 2007).
Vale ressaltar que a liderança do Brasil no
controle do tabagismo se contrapõe à posição do país
no mercado mundial de fumo em folha, uma vez que é
o segundo maior produtor e o maior exportador
Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2011) n. 6 p. 76 - 81
80
mundial de fumo em folha, o que traz para o governo
brasileiro uma responsabilidade a mais com as questões
sociais decorrentes da histórica inserção econômica da
produção de tabaco no País (CAVALCANTE &
PINTO, 2005; DANEL et al, 2005).
Esse cenário coloca o Brasil no grupo de
países que, se por um lado não pode mais ignorar o
controle do tabagismo como uma prioridade de saúde
pública, social e econômica para atingir o
desenvolvimento sustentável, por outro, necessita
buscar caminhos para reverter sua dependência
econômica do tabaco em função de sua posição no
ranking mundial de produção e exportação de fumo em
folha (CAVALCANTE & PINTO, 2005).
4 – DISCUSSÃO
A partir de 1960, começaram a surgir os
primeiros estudos científicos relacionando o cigarro ao
adoecimento do fumante, e hoje, inúmeros trabalhos
comprovam os malefícios do tabagismo à saúde do
fumante e do não-fumante exposto à fumaça do
cigarro. Diante das evidências dos riscos causados pelo
tabagismo a saúde pública mundial, vários países se
reuniram para discutir medidas de controle do
tabagismo, culminando na Convenção-Quadro para o
Controle do Tabaco, em maio de 1999, com o objetivo
de conter a epidemia tabágica. Mas desde 1985, o
Brasil já vinha desenvolvendo intervenções para o
controle do tabagismo, evidenciado com criação do
Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT)
e criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), em 1996.
O tabagismo é considerado uma pandemia,
entretanto, existem diferenças no padrão e tendências
do consumo de tabaco por gênero e por classe social no
mundo, apresentando maior consumo de tabaco entre
os homens e na população de países em
desenvolvimento, principalmente na população de mais
baixa renda e escolaridade. Já em países desenvolvidos
vem ocorrendo um decréscimo no consumo do produto
(BRASIL, 2004;WHO, 2009). Conforme estudo
brasileiro desenvolvido por IGLESIAS et al (2007),
que mostrou as taxas de prevalência de tabagismo
maior entre os grupos com baixo nível socioeconômico
eescolaridade. Estudo desenvolvido por BALBANI
& MONTOVANI (2002) mostra que no Brasil a
dependência da nicotina é hoje uma das doenças
crônicas mais comuns na população. Mas podemos
observar que as campanhas governamentais de combate
ao tabagismo se intensificaram na última década e vem
surtindo efeito.
O Governo Brasileiro tem investido esforços
no cumprimento das diretrizes do Programa de
Controle do Tabagismo de forma intersetorial e
abrangente. E, apesar de todas as dificuldades que o
Brasil enfrenta por ser um país produtor de tabaco, por
ser um país em desenvolvimento, por ter que lidar com
as constantes e sofisticadas estratégias de grandes
transnacionais de tabaco para enfraquecer as ações de
controle do tabagismo, muitos são os indicadores de
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que estamos avançando (IGLÉSIAS et al, 2007;
REICHERT et al, 2008; BRASIL, 2011)
Apesar da legislação brasileira para controle
do tabaco ser uma das mais fortes do mundo, ela é alvo
de constantes desafios, uma vez que tem contribuído
para avanços como a significativa redução no consumo
nacional ao longo dos últimos 15 anos. No entanto,
ainda são muitas as dificuldades a serem enfrentadas.
5 CONCLUSÃO
O tabagismo é considerado um dos fatores de
risco mais importantes para as Doenças e Agravos Não
Transmissíveis (DANT) -a principal causa de óbitos e
enfermidades no Brasil.
O Brasil vive um cenário contraditório, pois,
ocupa o lugar de segundo maior produtor mundial e o
maior exportador de tabaco. Entretanto, o Brasil possui
uma das mais fortes legislações do mundo para o
controle do tabaco, contribuindo assim, nos avanços da
significativa redução do consumo nacional, além de
estar conseguido desenvolverações para controle do
tabagismo fortes e abrangentes,o que tem lhe conferido
o reconhecimento deliderança internacional nessa área.
A cessação do tabagismo traz benefícios à
saúde, pois indivíduos que param de fumar evitam a
maioria das doenças associadas ao tabaco. Há consenso
de que o êxito dos programas de controle do tabagismo
depende da conscientização da população. Além do
envolvimento de todos os setores sociais,
governamentais e não governamentais, pois o
tabagismo é uma doença cujo controle depende da
vontade e envolvimento de toda a sociedade.
Diante desse cenário, torna-se
evidente que os patamares já alcançados são bastante
significativos na política nacional de controle do
tabagismo, mas ainda há muitos desafiosa serem
enfrentados.
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALBANI, A.P.S.; MONTOVANI, J.C. Métodos para
abandono do tabagismo e tratamento da dependência
da nicotina. RevBras Otorrinolaringologia.V.71, n.6,
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BALBANI, A.P.S.; MONTOVANI, J.C. Monóxido de
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Imunopatologia, 2002; 25: 116-21.
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Transmissíveis. Brasil, 15 capitais e Distrito Federal
2002–2003. Rio de Janeiro: INCA, 2004.
BRASIL, 2011. Ministério da Saúde. Instituto Nacional
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