*ã EXCLUSIVO gJ4c ESCAJJlNILAs Mais um cidadão • s • •••••4 ••#••4 •••••4 ^4^ Mesta Ediçíih Daúde Bagabalô Bob Mariey * Speech m AFRO REGGAE • Ns 38 • MARÇO ■ 2000 DIQSRIAL GCAR • Grupo Cultural AFRO REGGAE Este número do Afro Reggae Notícias, o primeiro do Ano 7 de existência do jornal, traz na capa uma matéria polêmica. Depois de cumprir pena de 15 anos de reclusão, José Carlos dos Reis Encina, popularmente conhecido como Escadinha, afirma querer largar a vida do crime e tornar-se um cidadão - mais um cidadão José! Para tanto, compôs uma série de raps, que foram gravados por nomes importantes do hip-hop nacional, como G.O.G., Thaíde e MV Bill, pra citar só alguns. (Há ainda a participação dos Racionais, com a música O homem na estrada, que, diz-se, motivou a opção de Escadinha pela linguagem do rap.) Coincidentemente, a semana em que saiu este número do ARN (a última de fevereiro), foi também a semana em que a imprensa deu largo destaque à história envolvendo o narcotraficante Marcinho VP e o cineasta João Moreira Salles. A princípio, o bandido (como prefere ser chamado, segundo matéria de O Globo, 27/ 02/00) queria largar o crime, e o documentarista quis apoiá-lo, financiando-o com uma bolsa de aproximadamente R$ 1.200,00. Escadinha cumpriu 15 anos de pena, lançou um CD de rap e, segundo suas palavras nesse CD, quer trocar a paz de um fuzil pela guerra de um microfone. Muita gente não leva fé, é o direito de cada um. Marcinho VP, também quer se regenerar e escrever um livro, mas não fez ainda nem um nem outro e, principalmente, não ajustou contas com a Justiça (assim, com J maiúsculo). Nós, aqui no Afro Reggae, não formamos nenhuma opinião sobre o movimento de um ou de outro. Mas acreditamos que, para que a Justiça seja feita, é preciso que ambos tenham oportunidade de dizer o que pensam, e a sociedade a de acreditar ou duvidar, mas é preciso ouvi-los. Esse é o sentido desta matéria, vamos ouvir o que José Carlos dos Reis Encina tem a dizer, ele é um homem na estrada, como no rap dos Racionais: O homem na estrada, recomeça sua vida, sua finalidade: a sua liberdade, que foi perdida, subtraída. E quer provar que realmente mudou, que se recuperou, e quer viver em paz, não olhar para trás, dizer ao crime nunca mais. Ficamos revoltados com a organização do show do dia três de dezembro passado com os irmãos jamaicanos do grupo Israel Vibration na casa de shows Bedrock, em Niterói, Rio de Janeiro. Houve muito desrespeito ã banda. Os responsáveis, ditos organizadores da desorganizada festa, ofereceram um som de péssima qualidade, além de péssimas condições de recepção aos componentes da banda. Isto mostra que representantes da economia capitalista da Babilônia, que dominam todo o mercado reggae do Brasil, desconhecem e não dão importância à mensagem do reggae. Nós, que procuramos a verdade, não podemos nos calar. Por tudo isso devemos combater estas farsas e farsantes. Por Jah! Não podemos ser sugados pelo dragão da Babilônia. Núcleo Cultural Rasta Brasileiro Sana-RJ o H2 tem força e chegou pra representar o povo das periferias, pode crê. Paz e fiquem com Deus. Reação da Periferia João Pessoa - PB ARN tá garantido. 0 que eu percebi no jornal é que vocês abordam muito o hiphop. É isso aí, isso demonstra que Conheci o Jornal a partir da edição no 36, ao passar numa loja de artigos de reggae no centro de São Paulo. Gostei muito do conteúdo do jornal. Como sou fanático por reggae roots, gostaria de ver mais reportagens, principalmente sobre o reggae no maranhão, que além da Tribo de Jah, tem excelentes bandas que tocam o ritmo roots. Se possível gostaria de receber as próximas edições do ARN em minha casa. Desde Jah muito obrigado. Continuem assim! Cleiton Devesa Mendes Carapicuiba-SP Obrigado Cleiton, nossa intenção éJustamente fazer mais e melhores matérias de reggae, não só do Maranhão, mas de todo o Brasil. Ah, e a partir de agora, o seu Saudações... Meu nome é Sidney B. de Aguiar, vulgo "Ney", tenho 22 anos de idade, moro no estado do Amazonas, mais precisamente na periferia de Manaus. Paço o curso de história da Universidade do Amazonas e sou o diretor de imprensa do CACHA (Centro Movimento Hip-hop Manaus) desde 1994. Quero receber o Afro Reggae Notícias e divulgar a cultura negra na academia, na comunidade e na sociedade manauara. Pode crê! Sidney B. de Aguiar Manaus-AM Valeu pela força, Ney. Pode deixar que a próxima edição você já vai receber em casa. Um abraço. CORRETOR PROFISSIONAL M SEGUROS Al ""- Condomínio e *.»«.. a,s r; í " SUSEP-IUP i^ Tel efax: (02l) 537-9889 0 Afro Reggae Notícias é uma das atividades promovidas pela Entidade Grupo Cultural Afro Reggae, que desenvolve trabalhos sociais nas comunidades de Vigário Geral e Morro Cantagalo e Cidade de Deus entre elas os de resgate da cidadania através da música, apoio pedagócio e de saúde. Para quem estiver interessado em contribuir financeiramente com o GCAR; Banco do Brasil Ag. 0288-7, C/C 62727-5, NÃO FAÇA ~ SEGURO SEM CONSULTAR UM 8 MAIS SEGURO. Coordenador Executivo: José Júnior Tesoureiro: Plácido Pascoal Coordenação de Promoção e Eventos: Luiz Lopes (Tekko Rastafari) Coordenadora Social: Márcia Florêncio Coordenador do Núcleo Cantagalo: Sérgio Henrique Coordenador de Saúde: José Marmo Coordenador do C. Cultural: Anderson Sá Consultor Administrativo; Romário dos Santos Coordenador de Comunicação: Ecio de Salles Diretoria: Megan Mylan, Mònica Cavalcanti, Plácido Pascoal e Waly Salomão Conselho Consultivo: Enza Bozetti, Jane Galvão, João Costa Batista, Lorenzo Zanetti, Marcelo Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana, Moema Valarelli e Victor Valia !^*''1:««S»ÇMafii««p!tairfüs*i<(V!«Dí5»»ww N 1 I 0 ANO VII • N 38 • MARÇO DE 2000 Uma publicação bimestral do GCAR Jorn. Responsável: Monica Cavalcanti (MTb. 17.889) Jornalista: Leonardo Lichote Garcia da Silva Revisão: Paula Lacerda Pinto Edição de Arte e capa: Luís Henrique Nascimento (21 223 1233 e 9662-4698) Capa desta edição (foto): lerê Ferreira Fotografia: lerê Ferreira e Sérgio Henrique Colaboradores: Oswaldo Guilherme, Jânio Carvalho(BA), DJ TR, Mariano Ramalho, Def Yuri, Kabeça, Makandal, Ras Adauto, Djalma (Delfa/SP), Athayde Motta, Rosana Heringer, Márcio Libar, Roberto Moura, Binho, Guto Assist. de Produção ARPA: Márcio Marques Agente Administrativo: Altair Martins Escriturário: Bráulio R. M. Nunes Tiragem: 15.000 exemplares Impressão: Jornal dos Sports Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal Ag. de Projeto: Luís Gustavo, Edilso Maceió,Carlos Eduardo, Anderson Elias, Vítor Onofre, Jacson Inácio. Instrutores: Capoeira: Apache e Lápis; Dança: Charles Júnior e Michele Costa;Percussão: Paulo "Negueba"; Futebol: Branco e Farinha; Grafite: Márcio Alexandre Bella F. da Silva Cantagalo Circo do Mundo - Instrutora: Ana Carolina N. Corrêa Agentes de Projeto: Ana Carolina D. de Oliveira e Carolina Machado de Senna Programa Baticum: R.C.Jekko Rastafari, Guapi Góis, Gisele Sobral e Viviane Motta Agradecimentos: COINTER/UERJ, CTEUERJ, ABIA (Jane Galvão), Associação de Moradores de Vigário Geral {Seu Lins e Renato), CEM João Goulart, FASE/SAAR Fundação Ford, ÍBISS (Nanko Van Buuren), M.W. Barroso Sede: Rua Senador Dantas, 117/1233 - Centro -Rio de Janeiro-RJ-CEP 20031-201-TeiyFax: (021) 220 7804-e:mail: [email protected] - home page: www.afroreggae.org.br 0 JORNAL AFRO REGGAE NOTÍCIAS é uma publicação do GRUPO CULTURAL AFRO REGGAE (GCAR) e não se responsabiliza pelas alterações de última hora nos horários e endereços fornecidos pelos organizadores de eventos e empresas citadas. As matérias assinadas são de total responsabilidade de seus autores. AFRO REGGAE ■ Ng38 • MARÇO • 2000 Divulgação ctDcLLO ARN - Como surgiu a Bagabalô? Um reggae que vem da Mario - A gente fazia um som sem comfonte, mas que não se promisso, que era a banda Palha de Milho. A gente mudou de nome porque já fecha para outros sons, havia uma banda em Niterói chamada Palha de Milho. Acabou surgindo o como rock, MPB e o que Bagabalô, em 96, com a entrada do Marcelo Nestler. O nome é bem sonoro, mais vier: é assim que a bem alegre, e traduz a festa que a nossa Bagabalô define a sua galera, o pessoal que estava junto com a gente, participava, mesmo não sendo música. Em Niterói, da banda. Fábio - O lance com o Marcelo Nestler onde a banda nasceu, foi engraçado. O primeiro ensaio dele foi quando o nosso guitarrista faltou. A ela já é uma referência. gente estava no estúdio dele e resolveMario Seixas, Fábio mos chamar ele pra tocar com a gente. Ele não tocava reggae, Muniz, Marcelo mmm^mm w^^—HÊm nunca tinha tocado, a praia Nestler e Mas o reggae dele era mais rock. Naquele dia a gente achou o som não é só Marcelo dele meio estranho. A genprotesto, te não estava acostumado, Brandão você pode mas gostamos. Aí nós chafalar de amor, mamos ele. O cruzamento querem agora das experiências foi bem de outras legal pra banda. Hoje ele voar mais alto. coisas. O é um dos compositores reggae é vida. mais presentes da banda. Para isso, ^" ARN - Vocês sentem trabalham na algum preconceito com divulgação do CD relação ao reggae? "Reggae sem fronteiras". Nesse papo, o vocalista Mário e o baterista Fábio falam do CD, do preconceito da grande mídia contra o reggae, de conscientização e por aí vai. Confira! M - A mídia e algumas casas de show têm um certo preconceito contra o reggae, por causa de toda a filosofia que o reggae traz - até mesmo o uso da maconha. Por ser também um ritmo popular, e não elitista. Ele vem do povo. Mas o reggae pode chegar na mídia, como provaram os Nativus - hoje Natiruts. Ele tem muito a ver com a cultura do nosso país, com a nossa música. O maior preconceito vem daí, do fato de ser do povo. Além, claro, do fato de falar a verdade, as coisas que incomodam os governantes, que querem continuar promovendo a ignorância do povo. Da esquerda para a direita: Marcelo Brandão, Marcelo Nestler, Mario Seixas e Fábio Muniz ARN - Vocês acreditam que o reggae tem esse compromisso de informar o povo? F - Parte dele. O reggae não é só protesto. Mas é fundamental a gente falar do que está rolando por aí. O ritmo é legal, faz dançar, mas as pessoas têm que estar ligadas nas letras. Mas o reggae não é só protesto, você pode falar de amor, de outras coisas. O reggae é vida. M - Eu, particularmente, acredito que deve haver essa onda de protesto, sim. Mas há vários tipos de reggae. Lá no Maranhão a gente viu até reggae na boquinha da garrafa. Eu acho isso contraditório. Você vê o próprio ritmo que alerta para a conscientização servindo para te alienar. ARN - Como foi a receptividade no Maranhão? M - Foi legal. A gente chegou a participar de um festival de reggae em Alcântara, uma cidade vizinha a São Luís. A gente foi pra tentar abrir as portas lá. Embora a gente não tenha sido classificado para a final do festival, as pessoas gostaram muito do nosso som. A gente tocou em São Luís também, num bar, num trio elétrico... tjohnny 1$. Rarities CDs, posters, camisetas, bandeiras, adesivos e acessórios reggae. Especializada em CDs independentes. nua 24 de Maio, 116, Kua Alta Cj. 14 - Centro - SP - Tc/.: {011) 223-3492 ARN - Como foi que aconteceu o CD? M - A gente já fazia shows em Niterói, já era relativamente conhecido, as pessoas cantavam nossas músicas. E a gente não tinha grana para bancar o CD. Tentamos a Secretaria de Cultura de Niterói e os caras pediram pra gente aguardar. Passou um tempo e o nosso projeto foi aprovado. A Prefeitura tem esse selo, o Niterói Discos, que dá 1000 cópias para o artista trabalhar, fazer a divulgação e a distribuição. Nós fomos a primeira banda de reggae a gravar pelo Niterói Discos. É um selo bem diversificado, que grava desde música erudita até música evangélica. ARN - Como vocês definem a identidade de vocês no cenário reggae? F - Acho que ela vem dessa união que nós quatro conseguimos formar. Isso não é só por causa da música, é outra coisa. É amizade. A gente vive como uma família. Apesar de não sermos irmãos de sangue, somos irmãos mesmo. Musicalmente, o que nos define é o reggae, sempre procurando misturar com outros estilos, como o rock e, mais recentemente, o jazz, além dos ritmos brasileiros. A música brasileira é a mais rica do mundo. Contatos para show: (021)717-3216 (Mario) ou 711-1496 (Marcelo) AFRO REGGAE • Na 38 • MARÇO • 2000 A C 0RD A Dj T.R. Após a forte repercussão da matéria anterior (Acorda HipHopf), muitos leitores me sugeriram abordar outros aspectos também comuns e que, de certo modo, nos permitem questionar a postura do movimento no Brasil. A meu ver, é muito bom que estejam sendo desencadeadas essas discussões internas, pois um movimento que não se auto-avalia e não busca a sua correção, se toma contraditório e acaba desmoronando. Grupos vs. Bandas: Sabemos que a marca registrada do rap é o DJ aliado ao MC, formando o que conhecemos como grupo de rap. Mas isso não quer dizer que todos os artistas devam seguir essa formação ao pé-da-letra. O rap precisa estar evoluindo constantemente de acordo com o mundo, e se formar uma banda é o resultado dessa evolução, qual o problema? AFRO REGGAE • Na 38 ■ MARÇO • 2000 EIPH0P i CParteII O mais curioso é perceber que quando um rapper dos EUA faz o seu trabalho apoiado numa banda, os daqui não falam nada. Muito pelo contrário, rendem a maior homenagem. Então quem tiver condições de formar uma banda, que forme. Todos têm o livre-arbítrio para fazer o que quiser. Quem deve decidir essa partida é o público que tanto precisa da mensagem do rap, e não os grupos. composto por estilos variados, não seguindo apenas uma linha de pensamento. O rap na mídia: Muitos rappers sustentam a idéia de que o grupo que aparece nos canais de TV acaba se vendendo. Mas será que isso faz da MTV um canal diferente dos outros? Reflita comigo: quantos apresentadores negros a MTV tem? Qual é a moral que a música negra tem durante a prograIdentidade do rap carioca mação diária? Quais são os hoAlguns artistas rários do Yo/MTV cariocas tendem a «MMMBM Rapt Estar na teanunciar na mídia Estar na TV sendo levisão sendo que o estilo do rap você mesmo é você mesmo é escarioca é diferente estar colocando a tar falando para do de outros estamídia para milhões a realidados. E que a nova trabalhar para de de suas vidas geração do Rio você. Mas tem que ao mesmo tempo. está mais preocuser inteligente. É estar colocando pada com as rimas mÊm—Ê^m—m a mídia para traimprovisadas e balhar para você. com as festas. TenMas tem que ser inteligente. dem também a dizer que o favelado carioca é feliz e que o O hip-hop e sua ação social: estilo mais radical faz a situação De todas as três modalidades parecer trágica. Estar sorrindo do hip-hop, o rap é o que mais não significa estar feliz. Ninguém aborda as questões sociais. Mas pode ser feliz ganhando 136 re- será que os rappers realizam algo ais, morando em condições pre- de concreto nas suas respectivas cárias, sendo perseguido pela comunidades ou estão apenas polícia, sofrendo o racismo e preocupados com o sucesso, passando fome. O que está acon- com a gravação de um CD? tecendo é que a maioria dos rappers cariocas não são oriun"Primeiro: somos homens. Sedos das favelas e talvez seja esse gundo: somos negros. Depois, o motivo da afirmação contrária somos artistas e podemos atrair a outros estados. Mas quem mora a comunidade para o nosso dentro do caos se sente na obri lado. Mas alguém tem de ser gação de cantar a verdade e isso capaz de falar pelas pessoas, acaba provando que o rap é pois a cultura vem delas e den- tro da cultura está a criatividade do rap e do hip-hop. Às vezes, vemos a colocação que damos ao hip-hop. Não podemos colocá-lo acima de nossa importância como povo, que é de onde ele vem." (ChuckD/PublicEnemy) Em breve, campeonato de DJ's Anônimos 2000, no Rio de Janeiro. Aguarde! Y LIST - BY DJ 1. Xis-Us manos as minas MVBILL-Soldado do Morro Edi Rock - Não seja mais um pilantra 4. Facção Central - Versos Sangrentos 5. Face da Morte - Televisão 6. Xis - A fuga 7. Veredito do Gueto - Muito prazer (RJ.) 8. R.E.R - Só se for capaz (RJ.) 9. DMAI - H. AGO 10. Tribunal PopularLegítima defesa <^\ Você que possui seu trabalho demo e quer divulgar em nosso Play List e nos bailes black do Rio de Janeiro, favor enviar CD ou MD para a redação do ARN, aos cuidados de DJ "A" e DJ TR. 6 AFRO REGGAE • N2 38 • MARÇO • 2000 Bob Marley em exposição Mariano Ramalho O rei do reggae Bob Marley está mais vivo do que nunca. Provavelmente um dos mais importantes artistas de nosso século, ele conseguiu se transformar num superstar, modificando a história da música pop internacional e a consciência de muita gente nos quatro cantos do planeta. MT Eo que mostra a Boh Marley Exhibition, exposição que aconteceu no Conjunto Cultural da Caixa, do dia 17 de janeiro até 6 de fevereiro. O evento reuniu fotos, vídeos, shows, palestra, bazar e bar do reggae. Bob Marley pregava uma revolução semelhante à profetizada por Marcus Garvey. Os Rastafari cultivavam a premonição de que a música reggae iria cobrir a terra assim como as águas cobrem os mares, porque eles sabiam que Bob Marley era um cabeça de leão. A mais bela forma musical do terceiro mundo continua pulsando suas delícias e o Rio de Janeiro é a primeira cidade brasileira a receber a Bob Marley Exhibition. Não foi a exposição mais completa, mas foi um evento grande, que refletiu o carisma do rei do reggae. As fotografias da exposição pertencem a Adrian Boot, Peter Simon e Cedella Booker; e cobrem a carreira de Bob Marley desde o início, na Jamaica, até suas passagens por EUA, Europa e Brasil. Uma crítica: algumas fotos tinham erros nas legendas. O reggae nacional foi registrado com shows dos artistas Ras Bernardo, Márcia Leoa, Marleando, Nabby Clifford, Vell Rangel, Bagabalô, Lord Maracanã, Rio Reggae Banda e Negril - que encerrou a exposição no dia 6 de fevereiro, data de nascimento de Bob Marley. O saldo dos shows foi bem positivo, ao contrário da palestra sobre rasta/ reggae, realizada no dia 25/01, que não rendeu tanto quanto poderia. A programação do telão contou com 21 vídeos. Time Will Tell, musicaldocumentário, inclui fragmentos de concertos, gravações em estúdio e numerosas imagens de arquivo inéditas. Inclui, entre outras jóias, Concrete Jungle- na sua primeira apresentação na TV BBC de Londres em 1973 -, o medley das músicas Curfew/Burnin & Lootin - na Alemanha em 1975 -, Running Away e Zimbabwe - no concerto de independência de Zimbabwe em 1980. Outro vídeo, Caribbean Nights- The Bob Marley Story é repleto de magníficas imagens antigas, gravações caseiras e entrevistas em diferentes épocas da sua vida. Esse vídeo foi a base central da i^portagem que TV americana exibiu em maio de 1991, em comemoração aos 10 anos da morte de Bob Marley. One Love, One Peace Concert — Heartland Reggae também merece destaque. Inclui uma exuberante demonstração de poder nos cenários de Kingston, em 1978. Há intervenções, entre outros, de Peter Tosh, Jacob Miller. Sobre todos, um imponente Bob Marley e o célebre aperto de mãos dos líderes políticos oponentes. Jah protege aquele que lhe pertence, estabelecendo a paz. É um terno Pastor e um hospedeiro gracioso. Como as asas protetoras de uma águia, Jah esconde aquele que confia nele. É a defesa contra a destruição, é a fortaleza quando se procura refúgio, como um vigia com o seu rebanho. Jah é a sombra que protege os que são seus, quer do sol, durante o dia, quer durante à noite. Jah é o nosso provedor, dando força e vida, tal qual um rio, cujas águas dão vida, através de uma fonte eterna. Jah Live. Mariano Ramalho é o presidente do Fã Clube Bob Marley. UJiJUffiJU ^ ARW-Universal UNIVERSAL \^ Não Fique fora dessa! M u s i c OS primeiros 24 leitores que escreverem (Rua Senador Dantas, 117/1233, Centro - Rio de Janeiro - CEP 20031-201) ou enviarem e-mail ([email protected]) para o jornal ganharão o novo CD de Amaury Gutierrez. AFRO REGGAE ■ Ng38 • MARÇO • 2000 Jovens Empreendedores: botando pra estudar! Infelizmente, problemas relativos à educação, sobretudo nas comunidades pobres de qualquer cidade brasileira, não são nem um pouco raros e, pior ainda, são muito difíceis de resolver. Ias não é por isso que vamos ficar de braços cruzados. Em janeiro desse ano, o Grupo Cultural Afro Reggae iniciou, em Vigário Geral, o projeto Jovens Empreendedores Sociais, em parceria com o CIEDS - Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável e financiado pela UNICEF. O Jovens Empreendedores utiliza a metodologia desenvolvida pela Secretaria de Trabalho da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. O projeto busca criar condições para que jovens afastados da escola recuperem o tempo perdido, através de classes de aceleração pedagógica. Dessa forma, eles es- lerê Ferreira tariam prontos para retornar ao ensino formal no mesmo passo dos demais estudantes. Além disso, o Jovens Empreendedores Sociais visa prepará-los para que possam reproduzir essa metodologia educacional em outras comunidades. A linguagem das aulas conjuga aprendizagem e prazer. Nas 4 horas diárias em que os alunos estão em sala, são utilizados vídeos, músicas e outras ferramentas que tornam a aula agradável, desvinculando-a da idéia de uma simples obrigação. A importância desse projeto é que ele vem ao encontro de uma necessidade básica, mas sempre esquecida, das comunidades desse país: criar meios para que o adolescente morador de favela - excluído pela pobreza de um lado, pela violência de outro - possa exercer plenamente sua cidadania. ^IÊÊ'^m No dia 15 de janeiro, a banda Afro Lata tocou no Fla-Barra durante o treino da equipe de futebol do Manchester (por ocasião do Mundial de Clubes). O evento foi uma iniciativa da Unicef e da FIFA. O time inglês - de Beckham, York e Cia. - mantém um fundo social que repassa verbas para o Unicef, a fim de incentivar projetos que atuem na área de Educação no mundo inteiro. .W. Barroso Silk Screen Ltda. Rio : Rua Alvarenga Peixoto, 80 • Vigário Geral • RJ • CEP 21240-690 -Tel.: (021) 372 4955 • Fax: (021) 371 7110 • Telex: (021) 35358 • São Paulo: Av. Brigadeiro Faria Lima, 830 • Conj. 64 • Pinheiros • SP • CEP 01452-000 • Tel.: (011) 210 6122 • Fax: (011) 212 2759 DANDO VIDA A SUA IMAGEM 8 AFRO REGGAE • Na 38 • MARÇO ■ 2000 De soldado do morro a comandante da justi TEXTOS: DJ T.R. FOTOS: JAYME RIBEIRO seria mate NipeRsáfeleíeíeste, , yw referçaría as opíáe íatelectuais, qaesobreviiesfraça. Olhe para a sua pele. Se você for preto, imagine: quem compõe a maioria da po pulação de rua? Quem não consegue completar seus estudos? De quem são os piores salários? Quem não está em destaque na TV e nas revistas de um modo positivo? Quem é a maioria da população carcerária? Quem é a maioria da população favelada? Quem sofre o racismo? Não acreditar na transformação de Escadinha é não acreditar em si mesmo. É não acreditar que o negro pode superar suas dificuldades e progredir. É estar preso numa prisão pior que o Bangu I. Numa prisão chamada complexo de inferioridade ou vergonha. Com vocês, José Carlos dos Reis Ensina, mais~um cidadão José... Qual a origem do codinome Escadinha? Nunca soube de fato a origem, mas acredito que foi quando eu era moleque e roubava jamelão, e eu era o menorzinho, daí sempre subia numa escada. Você quando jovem chegou a sonhar com alguma carreira profissional? Qual? Sempre quis ser comerciante, dono de bar, padaria... essas coisas. 0 que o levou a ingressar no crime? 0 fascínio pelas mulheres e a necessidade de impressionálas, depois juntou com algumas necessidades pessoais e familiares, mas na realidade nada que justificasse tudo isso. de Deus. Contenos um pouco... A minha regeneração terá que ser confirmada no dia-a-dia. Muitos presos continuam ligados a partidos por uma questão de sobrevivência e não por questões político-ideológicas. Eu só vou falar sobre religião quando estiver na rua, não quero ouvir críticas de pessoas dizendo que estou usando em vão o nome de Jesus. O que na realidade levou você a enxergar a vida do crime de outro modo, buscando assim a sua mudança? Nunca sabemos ao certo porque entramos, sabemos sempre porque queremos sair, vivo como Me coloco como um homem um bicho, como um cachorro doido, isso é motivo suficiente. em busca da transformação e para isso conto com a ajuda de todos. Muitos jornais e revistas que publicaram a sua matéria se detiveram mais com a polêmica que poderiam causar com a pessoa de um Escadinha traficante do que com a de um homem regenerado. E um detalhe que eles não deram muita importância foi a sua experiência com a palavra E o rap, como você conheceu? Conheci pelas minhas filhas, estou feliz com essa mudança, estou feliz com o rap, estou feliz com a vida. '^^■^™ Por que o rap como porta-voz dos seus pensamentos? Porque o rap é a única música que conheci que tem o compromisso com pessoas como eu. Embora você não cante nesta coletânea, as suas idéias ficaram muito bem caracte- ^ *** *** Ani,l?cle no J0|,nal Afrgreggí Contatos com Eeio no Telefax t02TfTT2207804 ou e-mail: aj rizadas nas interpretações dos rappers. Existe alguma pretensão de, numa próxima oportunidade, o Escadinha vir interpretando a sua realidade com a sua própria voz? Estou fazendo aula de canto junto com a minha fisioterapia, e pretendo lançar o meu trabalho em 2002. Muitos apresentadores de programas policiais tendem a influenciar a opinião popular argumentando que lugar de bandido é no cemitério, invalidando totalmente a hipótese de uma transformação positiva como foi o seu caso. Como você vê esta situação? Não me considero um homem transformado, me coloco como um homem em busca da transformação e para isso conto com a ajuda de todos. A imprensa precisa de mim como bandido. Assim eu rendo muito mais matéria. Quando alguém morria eles colocavam na mi- [email protected]. AFRO REGGAE ■ Ne 38 ■ MARÇO • 2000 GR0H0L0GIA DA VIDA DUEA • 1956 - Nasce e se cria no Morro do Juramento. • 1974 - Preso por porte ilegal de armas (pela primeira vez), paga a fiança e é liberado. • 1976 - Preso por tráfico de drogas no Morro do Juramento. • 1980 - Preso por formação de quadrilha, tráfico de drogas e porte ilegal de armas. • 1981 - Indiciado por 3 assaltos a carro-forte, porte ilegal de armas e acusado de homicídio pela polícia. • 1982 - Processado por assalto, tráfico de drogas e conduzido ao presídio da Ilha Grande (RJ) • 1983 - Indiciado por mais 3 assaltos, foge da Ilha Grande num barco a remo. A polícia fecha o cerco no Morro do Jura- nha conta, e com a música é diferente. Eles não podem dizer que fiz coisas que não fiz. Então, eu sou mais importante no crime. Em algumas entrevistas concedidas à imprensa, você declarou a vontade que sentia de ingressar na política. mento, onde um helicóptero da polícia civil é abatido na operação, matando os quatro ocu-' pantes. • 1984 - Denunciado por homicídio, passando também a responder pelos delitos de assalto e tráfico de drogas. • 1985 - Preso na Favela do Jacarezinho (RJ) e conduzido ao presídio Ary Franco (Zona Norte - RJ). E pela primeira vez, em menos de dois anos, frustra-se numa tentativa de fuga juntamente com outros presos ligados à "Falange Vermelha", ficando ferido na coluna com um tiro. É transferido para a Ilha Grande, onde realiza a fuga mais espetacular de todos os tempos: no último dia do ano, deixa o presídio em um helicóptero. • 1988 - Deportado com outros bandidos, considerados de alta periculosidade, para o presídio de segurança máxima Bangu I (Zona Oeste - RJ), antes mesmo de sua inauguração oficial. • 1997 - Passa a relatar a sua vida no papel após o seu contato com a proposta do rap. • 1998 - Sua filha procura os rappers Racionais MCs, G.O.G. e MV Bill, no show de lançamento do CD Sobrevivendo no Inferno (Racionais MCs), no Imperator (Zona Norte - RJ), e os entrega algumas folhas escritas pelo seu pai sobre a sua dura experiência no crime e a sua preocupação com a juventude desassistida das favelas . Impressionados com o que leram, os rappers indicaram a ela algumas gravadoras especializadas em rap. Todas ficaram com um pé atrás temendo conseqüências negativas, exceto a Zâmbia Fonográfica, que abraçou de cara a idéia devido à sua postura ideológica, preocupando-se cuida- Como você vê o sistema político do guém sai daqui para um trabalho, é por váripaís, e o que você teria como priorios motivos: Jesus, rap, medo ou arrependidade segundo a sua posimento. E nós também sabemos ção política? ^^^^ quais são os principais meios de Infelizmente o mundo não se recuperação: um sistema sem desenvolve como deveria. 0 rap é a única corrupção, atividades profissioNós somos condicionados a nais e limpeza nos presídios. Mas música que amar um país que nunca nos se todos afirmam que o Brasil conheci que tem amou, mas isso faz parte. Eu está falido e que o sistema está o compromisso falido, nós vamos discutir o quê? sou favela, sou líder nato, sou com pessoas sagaz - quem deveriam, na Além de marido e pai, você sua opinião, ser os represencomo eu. também é avô. Qual é o consetantes do favelado no Brasil? ^^^^ lho que você daria ao jovem da A minha idéia é a favela e os favela, que vê no cripresos. me uma forma de ascensão? Você acredita no sistema de reabilitação penitenciário? Na sua opinião, o que deveria ser feito para melhorá-lo? Todos nós sabemos que o sistema não recupera ninguém, ninguém mesmo. Guando a dosamente com a seleção de artistas que dariam uma forma real a tais relatos em rap. • 1999-Transferido para a penitenciária Lemos de Brito (Centro - RJ) e logo após para o presídio Plácido de Sá Carvalho (Zona Oeste - RJ), onde aguarda a sua liberdade em regime semi-aberto, após ter cumprido mais de 1/3 da pena com um comportamento exemplar. É lançada via Zâmbia Fonográfica a compilação Brazil I, Escadinha Fazendo Justiça com as Próprias Mãos, envolvendo os artistas X (Câmbio Negro), MV Bill, Xis, G.O.G., Racionais MCs, Dina Dee (Visão de Rua), Linha de Frente (Formado por internos do Carandiru - SP), Consciência Humana, Guerrilha Urbana, A-man (Chicago - EUA) e Thaíde e DJ Hum. A favela é o retrato do Brasil, e um monte de desempregados tentando uma solução para o dia seguinte. A minha solução eu não consegui achar. Hoje estou tentando outra, por isso o meu conselho é que os jovens encontrem a paz através do trabalho. Essa é a forma mais firme de chegar no dia seguinte. 0 que o Escadinha pretende de agora em diante? Ser um homem livre. Livre de verdade. 10 AFRO REGGAE ■ Ng 38 ■ MARÇO ■ 2000 Robcrta Salomone Vocalista e produtor do Arrested Development, uma das mais influentes bandas de bip bop da década de 90, Speecb está lançando seu segundo disco solo, Hoopla. Ao lado do Arrested, ganhou o Grammy de melbor artista novo, em 93, com o álbum 3 Years, 5 Months & 2 Days In The Life. Logo na seqüência, vieram os antológicos Unplugged e Zíngalamaduni Em 96, o grupo acabou e Speecb lançou seu primeiro solo, aclamado por crítica e público nos Estados Unidos. Agora, com Hoopla, o cantor mostrase mais maduro, conto podemos conferir em Clocks In Sync With Mine, primeira música de trabalho, cujo clipe já pode ser assistido na MTV e no Multishow. Na entrevista abaixo, o cantor fala sobre a carreira, o novo CD, a cena hip hop e revela também o desejo de visitar o Brasil em breve No Brasil, o movimento hip hop está se fortalecendo cada vez mais. E as músicas falam sobre violência, preconceito, discriminação. Você acredita que o hip hop tenha poder de mudar tanta injustiça? Eu, definitivamente, acredito nisso. O hip hop vem ganhando força a cada dia, com cada grupo novo que surge. Mas não acredito que este seja um poder só do rap, mas também de outros estilos de música, como o rock, o country. Acredito muito no poder da música. Mas o rap que você faz é diferente da maioria. Há contestação, mas de uma forma mais leve, mais positiva. E verdade, concordo com isso. Às vezes até me sinto estranho no meio dos rappers. A música que faço é sobre a minha realidade, sobre quem eu sou. Não quero incentivar de jeito nenhum a violência, quero tentar buscar mudanças sempre. Como está indo o seu disco "Hoopla"? ^tamaica * camping muito som» cultura rasta. cachoeiras* caminhadas* .café da manhã Janches naturais ♦sucos e drínks Jaricas Sana: » uma hora de Casimiro de Abrei.-BR 101, a 2 horas do Rio de Janeiro conlatos: (021) 71 1-8901- Caixa postal: 109.903- Casimiro de Abreu-RJ ••«•T^TH^^^S^TT^^T^^S Está indo muito bem. Eu sei que está tocando no Canadá, Estados Unidos, Europa e Japão. As pessoas estão comprando e tenho ouvido elogios. Qual é a sua música preferida do CD? A minha favorita é a de Bob Marley. Sempre gostei muito de Redemption Song. É verdade que foi difícil para você gravar esta música? Eu cantei esta música várias vezes em shows e as pessoas sempre reagiram muito bem. Às vezes, quando ouço Redemption Song, sinto como se ela tivesse sido feita por mim. Fiquei realmente muito nervoso ao gravá-la e houve vezes em que estava cantando e que comecei a chorar. Queria ter certeza de que iria conseguir passar este tipo de emoção. Felizmente, consegui. Quais foram as suas principais influências na música? Eu sempre ouvi muito Prince, Beastie Boys, Jungle Brothers, Fuggees. Gosto muito da Lauryn Hill, De La Soul e do disco Odelay, do Beck. É o tipo de música que coloco no som do carro enquanto dirijo. É verdade que você quer vir ao Brasil? Sim, quero muito. Desde quando estava no Arrested tinha esta vontade. Não sei muito sobre o Brasil, mas estou curioso para conhecê-lo. AFROREGGAENe38 ■ MARÇO • 2000 11 afr^antenas Direitos Humanos Afro Reggae recebe o prêmio Hebert de Souza leré Ferreira O sociólogo Hebert de Souza, mais conhecido como Betinho, dedicou sua vida à luta pela cidadania e contra a fome no Brasil (e no mundo). Por isso, sua militância social foi, desde o início, lá na década de 80, pautada por uma atitude firme em defesa dos valores e direitos humanos. Portanto, nada mais apropriado que a criação do prêmio de Direitos Humanos Hebert de Souza. Esse prêmio foi criado, ano passado, pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de premiar iniciativas sociais importantes no Rio de Janeiro. A instituição escolhida para inaugurar a premiação foi o Grupo Cultural Afro Reggae, devido aos seus projetos sócio-culturais voltados para jovens em situação de risco. A premiação aconteceu no Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal, em Vigário Geral, no dia 10 de dezembro. O deputado Chico Alencar, presidente da Comissão de Direitos Humanos, passou o Prêmio às mãos de José Júnior, coordenador executivo do GCAR, numa cerimônia que contou ainda com a apresentação das bandas Afro Lata e AfroReggae. "Receber um prêmio dessa importância enobrece ainda mais as ações desenvolvidas pelo GCAR. Sendo recebido dentro da favela de Vigário Geral dignifica ainda mais. Acredito que essa nova safra de deputados da Assembléia Legislativa vem lutando para melhorar não só a imagem do Estado do Rio de Janeiro, mas, concretamente falando , acabar de vez com as injustiças e aberrações de violência que mancharam o estado na década de 90", declarou José Júnior. 12 AFROREGGAENs38 • MARÇO ■ 2000 R E c o R D s distribuição mn íTIsTi 7í7l AFRO REGGAE • N2 38 • MARÇO • 2000 CADERNO DHUDE Nasci em Salvador, uma cidade abençoada. Vivi no Candeal, um gueto onde o cantar dos grilos, dos gaios e o barulho do brejo eram de pura sinfonia. Talvez por isso tenho a alma lavada e repleta de música. Mudei para o Rio aos 11 anos de idade. Passei minha infância ouvindo meu avô e meus tios seresteiros, tocando e cantando Sinhô, Lupicínio, Luiz Gonzaga, Erivelto Martins, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Jararaca e Ratinho e tantos outros... O meu pai com a sua discoteca me apresentou Martinho da Vila, Mestre Marcai, Monsueto, Jackson do Pandeiro, às músicas sertanejas, Pixinguinha, Villa-Lobos, a todos os hinos militares (o hino da marinha era o mais bonito!), às big bands, aos sambas de roda e ao seu repertório saxofônico e clarinêtico. As minhas tias me ofereceram Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Vanderléia, Vanusa, Antônio Marcos, Gil, Gal, Bethânia, Caetano, Chico Buarque, Rolling Stones, Beatles, Serge Gaisbourg (Je t'aime moi non plus), Jorge Bem (Ela não gosta mais de mim, mas eu gosto dela mesmo assim, que pena!...), Leno e Lilian, MPB 4, Eduardo e Silvinha Araújo, e por aí vai. Minha mãe ofertou com carinho Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Claudia Barroso, Núbia Lafayete, Nicinha Batista, Elizete Cardoso, Dolores Duran, Emilinha Borba e Marlene, todos os hinos religiosos e as cantigas de ninar. Já no Rio, a cultura de rádio, na minha adolescência, foi fatal e total. Pela primeira vez, através do projeto Minerva, escutei Patativa do Assaré. As rádios Tamoio e Mundial incumbiram-se de me apresentar Marvin Gaye, Barry White, James Brown, Stevie Wonder, Diana Ross,, Tina Turner, Donna Summer, Tanita Tikaran, Michael Jackson and Jackson Five, Chaka Kann, Santana, Sta. Esmeralda, Slade, Gênesis, The Who, Pink Floyd, Lou Reed, Roberta Flack... Vi a MPB estourar nas FMs. Os Novos Baianos, Secos e Molhados... dançava e cantava todas as músicas de cor e salteado. Assim, decidi mesmo cantar e percebi as técnicas usadas pelos cantores. Todas essas influências fazem parte da minha vida. Todas tão naturalmente presentes e necessárias, quase que orgânicas. 14 missão ilo rio Leonardo LídioÉe Dia desses tava assistindo ao RJTV e, ao fim de uma reportagem, a apresentadora anunciou: "Agora, vamos acompanhar como anda a votação para a 'Música do Rio'". Corte para a Central do Brasil, onde o povão se espremia junto à urna eletrônica - para votar e para aparecer na televisão, não necessariamente nessa ordem. O repórter conversava com um artista de "alma carioca" que estava por ali - não me lembro bem quem era. Elogios à alegria da cidade, considerações sobre a violência que "assombra" o Rio, uma boa dose de saudosismo e acabava a pequena entrevista. Depois, eram apresentadas as oito canções concorrentes: A Voz do Morro, Cariocas, Cidade Maravilhosa, Copacabana, Ela é Carioca, Rio 40 Graus, Samba do Avião e Valsa de uma Cidade. Fim do Jornal. AFRO REGGAE ■ N2 38 ■ MARÇO • 2000 Pensei por alguns segundos. Várias questões vieram à minha mente, todas podendo ser resumidas na perplexidade do "que merda é essa?". Vou abrir algumas delas pra vocês. Vamos lá: por que fazer uma eleição desse tipo? A cidade precisa dela? De que Rio fala cada uma dessas músicas? Que aspectos da cidade aparecem nas canções? Prestando atenção nas letras, começamos a enxergar as respostas. Em quatro delas - Copacabana, Ela é Carioca, Samba do Avião e Valsa de uma Cidade - a palavra "mar" aparece como uma referência central da cidade. Só que para a maioria dos cariocas, e vou além, para o processo de formação cultural do Rio que correu paralelo à bossa nova, a importância da brisa marinha e das louras de corpos dourados é mínima. Tirando dessa discussão as canções Carioca - sobre o comportamento do morador da cidade -, Rio 40 Graus - colagem com pedaços do cotidiano de "beleza" e "caos" - e a louvação rasgada de Cidade Maravilhosa, sobra como representante do outro lado (o nosso) uma voz isolada, A Voz do Morro. A presença da música de Zé Keti aparece como uma concessão, um favor que os organizadores da eleição fazem ao samba tradicional. Não é. A representatividade das periferias, tanto em termos populacionais como de produção cultural, exige não só a presença do samba, mas também do reggae, do hip-hop, do jongo, do soul, do funk e de outras mil coisas que fervilham por aí. Minha cidade - a que vejo da janela dos ônibus e das kombis, da varanda dos bares, dos bancos das praças se aproxima muito mais da retratada nas canções nascidas da periferia do que daquela sonhada por um romantismo desligado da realidade. A questão aqui não é se as músicas me agradam ou não. Até posso dizer que gosto das oito concorrentes - mais de umas, menos de outras -, mas lembro que quando se fala em "Música do Rio" o buraco é mais embaixo. Estou falando da imagem de Rio que desejo para mim e que acredito ser a que melhor representa a cidade. O Rio não precisa dessa eleição. O Rio não precisa de um retrato oficializado pela Rede Globo. O Rio precisa ser tratado com o respeito que conquistou ao longo de sua história, não como um bibelô que não resiste ao peso de seus próprios conflitos e contradições. A beleza do Rio que deve ser enaltecida não é a óbvia beleza natural, e sim aquela de que nos falam Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho em Sei Lá Mangueira, referindo-se ao morro de Cartola: "A beleza do lugar/ Pra se entender/ Tem que se achar/ Que a vida não é só isso que se vê/ É um pouco mais/ Que os olhos não conseguem perceber/ E as mãos não ousam tocar/ E os pés recusam pisar". A propósito, Cidade Maravilhosa deve ganhar a eleição. PIROâRAMA Dominso, das 19 às 14h - Rádio Bicuda FM 99,3 - Rcssae, Charme, Soul, HipHopetc (021) 220-7804/587-7152/587-7410 Realização GCAR e Centro de Tecnologia Educacional da UERJ AFRO REGGAE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS APRESENTA 0 ESPETÁCULO Patrocím bCOM A anda A F r o Reqqae CONTATOS PARA SHOWS: (021)220-7804, 9-917-0555 Apoio: PREFEITURA DO RIO jUma realização: * ARPA AFRO REGGAE • Na 38 ■ MARÇO ■ 2000 15 LANÇAMENTOS - Por DJah Tekko Rastafari Para divulgação desta coluna, os produtores, gravadoras ou selos devem enviar materiais (CD, release e fotos) para redação deste informativo. Ari Sobral & Água de Coco - "Arraial DAjuda Alma D'Jem - "Grito de Liberdade' Banda Natiruts "Povo Brasileiro De Brasília para o mundo, depois de 3 anos de ralação, a Banda Alma D'Jem lança seu 1s CD, Grito de Liberdade. Alma D'Jem significa "Alma em Paz", cheia de amor e de muita alegria. Repertório e arranjo bem elaborados, composições próprias, que mesclam o reggae roots ao love reggae, com influência de Djavan e Gil. Marcelo Mira, vocalista muito bom, lembra seu primo Alexandre Carlos (NatyRuts). Das 11 faixas, destaques para: De Cara, Divida, Grito de Liberdade, Na Rede, Destino Incerto, Negros. Prova de que o reggae veio para ficar, dançante e consciente. Não pode faltar na sua Cdteca, é muito bom. Mais um lançamento independente. Pedidos e contatos: (61) 233-5437 / (61) 9830406 ou pelo site: www.almadjem.art.br. Depois do sucesso do seu primeiro CD, ainda com o nome de Nativus e já contratada pela EMI, a banda Natiruts lança agora o CD Povo Brasileiro. Neste CD apresenta um trabalho mais enraizado, com uma qualidade soberba, mostrando um repertório que vai do reggae roots ao love reggae (reggae romântico). As faixas Palmares 7995 e Povo Brasileiro são um relato real e atual da sociedade brasileira. Destaques especiais: O Carcará e a Rosa, Meu Reggae é Roots, Eu e Ela. Um CD de alta qualidade que leva assinaturas de feras como Liminha e Torcuato Mariano. Contatos: Casulo do Cerrado Produções - tel: (61) 344-6924 / http://www.bandanatiruts.com.br. Edmon Costa Tijolada Reggae "Tempor II II A banda Água de Coco surgiu no verão de 1979, em Arraial D'Ajuda,e em 1984 lançou a sua primeira fita demo. O novo trabalho foi gravado em Arraial D'Ajuda com o apoio dos empresários locais e conta com a participação e direção artística de Durval Lelys (Asa de Águia). O estilo é bem local, misturando reggae com samba-reggae, muito balanço e swing praiano. Destaques para as faixas: Reggae Bahia, Ecolojah, Fauna do Arraial, Arraial D'Ajuda e Ajuda 2000. Pena que as músicas que mais tocaram no Rio (na antiga Fluminense FM), como Água de Coco e Kaya, ficaram de fora. Contatos: (73) 875-1025. Lúcio Sherman "Desejo II Após 10 anos de estrada, tempo em que foi vocalista de bandas e cantou em algumas casas noturnas cariocas e da Baixada, Lúcio mescla rit- mos como soul, R&B, charme, reggae e a MPB romântica e swingada. Em Desejo, Lúcio convidou um time de feras: Repolho (percussão), Zé Canuto (sax, atualmente toca com Gal Costa), Arthur Maia (baixo). Destaques para: Ansiedade (part. esp. da cantora americana de jazz Lynn Hilton), Sedução, LuzNeon, Jovem Criador e a regravação da música Pensando Nela. Produção independente. Pedidos e contatos: DLS Produções Artísticas-Tel. (21) 381-5331 / 9617-0872. II II Edmon Costa apresenta no seu 2Q CD um clima bem charmoso e dançante, com um repertório bem variado, onde mescla dance music e charme. Participações especiais do Grupo Ebony Vox e Abdullah. Algumas versões são muito bem produzidas, como Foi Assim - versão de Fernanda Abreu para a música Spiritual Thang-, Shake Your Body e Só Penso Em Você - versão da música Who's The Mack, de Mark Morrison - além das regravações de Pensando Nela (Beto/Reina), Amigo do Amigo (Skowa) e Depois do Prazer (SPC). Mais um lançamento da Indie Records. Contatos p/ shows tel. (21)541-5322/543-7745. Mais uma vez Brasília desponta para o cenário do reggae nacional, com mais uma banda de reggae roots, cujo nome faz jus ao seu trabalho, Tijolada Reggae. A fórmula do roots reggae da Tijolada é muito simples: um repertório bem equilibrado, um molho de arranjos e letras fáceis e uma pitada de muito balanço. A reação é um reggae bem dançante, com 11 faixas muito boas, destacando as faixas Comando, Desterro, Luz de Jah, Tijolada, Dias de Reggae, Rasta Cur/(part. esp. do rapper DJ Jamaika). Mais um lançamento Discovery (61) 226-5404. Contatos: (61) 323-2413. 1.N0TA MÁXIMA 9.COM TODA ESSA GENTE 2.AFINA A VIOLA 10.PRO MANO BROWN 3.FONTE DO SEU PRAZER 11JEITO CIGANO 4.QUIABO BOM 12AMOR POR MINHA MANGUEIRA 5.RENOIÇÃO 13 AS A PARTIDA 6.CUMPLICIDADE 14.CABO VERDE 7.SE DEUS DEU TUDO 15.SAUDAÇÃOAOXUMARÉ S^UTO-ESTIMA Já à venda. n