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EXCLUSIVO
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ESCAJJlNILAs
Mais um
cidadão
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Mesta Ediçíih Daúde
Bagabalô
Bob Mariey * Speech
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AFRO REGGAE • Ns 38 • MARÇO ■ 2000
DIQSRIAL
GCAR • Grupo Cultural
AFRO REGGAE
Este número do Afro Reggae
Notícias, o primeiro do Ano
7 de existência do jornal, traz
na capa uma matéria polêmica. Depois de cumprir pena de 15 anos
de reclusão, José Carlos dos Reis
Encina, popularmente conhecido
como Escadinha, afirma querer largar a vida do crime e tornar-se um
cidadão - mais um cidadão José!
Para tanto, compôs uma série
de raps, que foram gravados por
nomes importantes do hip-hop nacional, como G.O.G., Thaíde e MV
Bill, pra citar só alguns. (Há ainda
a participação dos Racionais, com
a música O homem na estrada,
que, diz-se, motivou a opção de
Escadinha pela linguagem do rap.)
Coincidentemente, a semana em
que saiu este número do ARN (a
última de fevereiro), foi também a semana em que a imprensa deu largo
destaque à história envolvendo o
narcotraficante Marcinho VP e o cineasta João Moreira Salles. A princípio,
o bandido (como prefere ser chamado, segundo matéria de O Globo, 27/
02/00) queria largar o crime, e o
documentarista quis apoiá-lo, financiando-o com uma bolsa de aproximadamente R$ 1.200,00.
Escadinha cumpriu 15 anos de
pena, lançou um CD de rap e, segundo suas palavras nesse CD, quer trocar a paz de um fuzil pela guerra de
um microfone. Muita gente não leva
fé, é o direito de cada um. Marcinho
VP, também quer se regenerar e escrever um livro, mas não fez ainda
nem um nem outro e, principalmente, não ajustou contas com a Justiça
(assim, com J maiúsculo).
Nós, aqui no Afro Reggae, não
formamos nenhuma opinião sobre
o movimento de um ou de outro.
Mas acreditamos que, para que a
Justiça seja feita, é preciso que ambos tenham oportunidade de dizer
o que pensam, e a sociedade a de
acreditar ou duvidar, mas é preciso ouvi-los. Esse é o sentido desta
matéria, vamos ouvir o que José
Carlos dos Reis Encina tem a dizer,
ele é um homem na estrada, como
no rap dos Racionais: O homem na
estrada, recomeça sua vida, sua finalidade: a sua liberdade, que foi
perdida, subtraída. E quer provar
que realmente mudou, que se recuperou, e quer viver em paz, não
olhar para trás, dizer ao crime
nunca mais.
Ficamos revoltados com a organização do show do dia três de dezembro passado com os irmãos
jamaicanos do grupo Israel
Vibration na casa de shows
Bedrock, em Niterói, Rio de Janeiro. Houve muito desrespeito ã banda. Os responsáveis, ditos
organizadores da desorganizada
festa, ofereceram um som de péssima qualidade, além de péssimas
condições de recepção aos componentes da banda. Isto mostra que
representantes da economia capitalista da Babilônia, que dominam
todo o mercado reggae do Brasil,
desconhecem e não dão importância à mensagem do reggae. Nós, que
procuramos a verdade, não podemos nos calar. Por tudo isso devemos combater estas farsas e farsantes. Por Jah! Não podemos ser
sugados pelo dragão da Babilônia.
Núcleo Cultural Rasta Brasileiro
Sana-RJ
o H2 tem força e chegou pra representar o povo das periferias,
pode crê. Paz e fiquem com Deus.
Reação da Periferia
João Pessoa - PB
ARN tá garantido.
0 que eu percebi no jornal é
que vocês abordam muito o hiphop. É isso aí, isso demonstra que
Conheci o Jornal a partir da
edição no 36, ao passar numa loja
de artigos de reggae no centro de
São Paulo. Gostei muito do conteúdo do jornal. Como sou fanático por reggae roots, gostaria de
ver mais reportagens, principalmente sobre o reggae no
maranhão, que além da Tribo de
Jah, tem excelentes bandas que
tocam o ritmo roots. Se possível
gostaria de receber as próximas
edições do ARN em minha casa.
Desde Jah muito obrigado. Continuem assim!
Cleiton Devesa Mendes
Carapicuiba-SP
Obrigado Cleiton, nossa intenção éJustamente fazer mais e melhores matérias de reggae, não só
do Maranhão, mas de todo o Brasil. Ah, e a partir de agora, o seu
Saudações... Meu nome é
Sidney B. de Aguiar, vulgo "Ney",
tenho 22 anos de idade, moro no
estado do Amazonas, mais precisamente na periferia de Manaus.
Paço o curso de história da Universidade do Amazonas e sou o
diretor de imprensa do CACHA
(Centro Movimento Hip-hop
Manaus) desde 1994. Quero receber o Afro Reggae Notícias e divulgar a cultura negra na academia, na comunidade e na sociedade manauara. Pode crê!
Sidney B. de Aguiar
Manaus-AM
Valeu pela força, Ney. Pode deixar que a próxima edição você já
vai receber em casa. Um abraço.
CORRETOR PROFISSIONAL
M SEGUROS
Al
""- Condomínio e
*.»«..
a,s r; í
"
SUSEP-IUP i^
Tel
efax: (02l) 537-9889
0 Afro Reggae Notícias é uma das atividades promovidas pela Entidade
Grupo Cultural Afro Reggae, que desenvolve trabalhos sociais nas
comunidades de Vigário Geral e Morro Cantagalo e Cidade de Deus entre elas os de resgate da cidadania através da música, apoio pedagócio
e de saúde. Para quem estiver interessado em contribuir financeiramente com o GCAR; Banco do Brasil Ag. 0288-7, C/C 62727-5,
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8
MAIS SEGURO.
Coordenador Executivo: José Júnior
Tesoureiro: Plácido Pascoal
Coordenação de Promoção e Eventos: Luiz
Lopes (Tekko Rastafari)
Coordenadora Social: Márcia Florêncio
Coordenador do Núcleo Cantagalo: Sérgio
Henrique
Coordenador de Saúde: José Marmo
Coordenador do C. Cultural: Anderson Sá
Consultor Administrativo; Romário dos Santos
Coordenador de Comunicação: Ecio de Salles
Diretoria: Megan Mylan, Mònica Cavalcanti,
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Conselho Consultivo: Enza Bozetti, Jane Galvão,
João Costa Batista, Lorenzo Zanetti, Marcelo
Fontes do Nascimento Viana de Santa Ana,
Moema Valarelli e Victor Valia
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N
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I
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ANO VII • N 38 • MARÇO DE 2000
Uma publicação bimestral do GCAR
Jorn. Responsável: Monica Cavalcanti
(MTb. 17.889)
Jornalista: Leonardo Lichote Garcia da Silva
Revisão: Paula Lacerda Pinto
Edição de Arte e capa: Luís Henrique Nascimento (21 223 1233 e 9662-4698)
Capa desta edição (foto): lerê Ferreira
Fotografia: lerê Ferreira e Sérgio Henrique
Colaboradores: Oswaldo Guilherme, Jânio
Carvalho(BA), DJ TR, Mariano Ramalho, Def
Yuri, Kabeça, Makandal, Ras Adauto, Djalma
(Delfa/SP), Athayde Motta, Rosana
Heringer, Márcio Libar, Roberto Moura,
Binho, Guto
Assist. de Produção ARPA: Márcio Marques
Agente Administrativo: Altair Martins
Escriturário: Bráulio R. M. Nunes
Tiragem: 15.000 exemplares
Impressão: Jornal dos Sports
Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal
Ag. de Projeto: Luís Gustavo, Edilso
Maceió,Carlos Eduardo, Anderson Elias,
Vítor Onofre, Jacson Inácio.
Instrutores: Capoeira: Apache e Lápis;
Dança: Charles Júnior e Michele
Costa;Percussão: Paulo "Negueba";
Futebol: Branco e Farinha; Grafite: Márcio
Alexandre Bella F. da Silva
Cantagalo
Circo do Mundo - Instrutora: Ana Carolina
N. Corrêa
Agentes de Projeto: Ana Carolina D. de
Oliveira e Carolina Machado de Senna
Programa Baticum: R.C.Jekko Rastafari, Guapi
Góis, Gisele Sobral e Viviane Motta
Agradecimentos: COINTER/UERJ, CTEUERJ,
ABIA (Jane Galvão), Associação de Moradores
de Vigário Geral {Seu Lins e Renato), CEM João
Goulart, FASE/SAAR Fundação Ford, ÍBISS
(Nanko Van Buuren), M.W. Barroso
Sede: Rua Senador Dantas, 117/1233 - Centro
-Rio de Janeiro-RJ-CEP 20031-201-TeiyFax:
(021) 220 7804-e:mail: [email protected]
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0 JORNAL AFRO REGGAE NOTÍCIAS é uma
publicação do GRUPO CULTURAL AFRO
REGGAE (GCAR) e não se responsabiliza
pelas alterações de última hora nos horários
e endereços fornecidos pelos organizadores
de eventos e empresas citadas. As matérias
assinadas são de total responsabilidade de
seus autores.
AFRO REGGAE ■ Ng38 • MARÇO • 2000
Divulgação
ctDcLLO
ARN - Como surgiu a Bagabalô?
Um reggae que vem da
Mario - A gente fazia um som sem comfonte, mas que não se
promisso, que era a banda Palha de Milho. A gente mudou de nome porque já
fecha para outros sons,
havia uma banda em Niterói chamada
Palha de Milho. Acabou surgindo o
como rock, MPB e o que
Bagabalô, em 96, com a entrada do
Marcelo Nestler. O nome é bem sonoro,
mais vier: é assim que a
bem alegre, e traduz a festa que a nossa
Bagabalô define a sua
galera, o pessoal que estava junto com
a gente, participava, mesmo não sendo
música. Em Niterói,
da banda.
Fábio - O lance com o Marcelo Nestler
onde a banda nasceu,
foi engraçado. O primeiro ensaio dele
foi quando o nosso guitarrista faltou. A
ela já é uma referência.
gente estava no estúdio dele e resolveMario Seixas, Fábio
mos chamar ele pra tocar com a gente.
Ele não tocava reggae,
Muniz, Marcelo mmm^mm
w^^—HÊm nunca tinha tocado, a praia
Nestler e
Mas o reggae dele era mais rock. Naquele dia a gente achou o som
não é só
Marcelo
dele meio estranho. A genprotesto,
te não estava acostumado,
Brandão
você pode
mas gostamos. Aí nós chafalar de amor, mamos ele. O cruzamento
querem agora
das experiências foi bem
de outras
legal pra banda. Hoje ele
voar mais alto.
coisas. O
é um dos compositores
reggae é vida. mais presentes da banda.
Para isso,
^" ARN - Vocês sentem
trabalham na
algum preconceito com
divulgação do CD
relação ao reggae?
"Reggae sem fronteiras".
Nesse papo, o vocalista
Mário e o baterista
Fábio falam do CD, do
preconceito da grande
mídia contra o reggae,
de conscientização e por
aí vai. Confira!
M - A mídia e algumas casas de show
têm um certo preconceito contra o
reggae, por causa de toda a filosofia que
o reggae traz - até mesmo o uso da
maconha. Por ser também um ritmo
popular, e não elitista. Ele vem do povo.
Mas o reggae pode chegar na mídia,
como provaram os Nativus - hoje
Natiruts. Ele tem muito a ver com a cultura do nosso país, com a nossa música.
O maior preconceito vem daí, do fato
de ser do povo. Além, claro, do fato de
falar a verdade, as coisas que incomodam os governantes, que querem continuar promovendo a ignorância do povo.
Da esquerda para a direita: Marcelo Brandão, Marcelo Nestler, Mario
Seixas e Fábio Muniz
ARN - Vocês acreditam que o
reggae tem esse compromisso de
informar o povo?
F - Parte dele. O reggae não é só protesto. Mas é fundamental a gente falar
do que está rolando por aí. O ritmo é
legal, faz dançar, mas as pessoas têm
que estar ligadas nas letras. Mas o
reggae não é só protesto, você pode
falar de amor, de outras coisas. O reggae
é vida.
M - Eu, particularmente, acredito que
deve haver essa onda de protesto, sim.
Mas há vários tipos de reggae. Lá no
Maranhão a gente viu até reggae na boquinha da garrafa. Eu acho isso contraditório. Você vê o próprio ritmo que
alerta para a conscientização servindo
para te alienar.
ARN - Como foi a receptividade no
Maranhão?
M - Foi legal. A gente chegou a participar de um festival de reggae em
Alcântara, uma cidade vizinha a São
Luís. A gente foi pra tentar abrir as portas lá. Embora a gente não tenha sido
classificado para a final do festival, as
pessoas gostaram muito do nosso som.
A gente tocou em São Luís também,
num bar, num trio elétrico...
tjohnny 1$.
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nua 24 de Maio, 116, Kua Alta Cj. 14 - Centro - SP - Tc/.: {011) 223-3492
ARN - Como foi que aconteceu o CD?
M - A gente já fazia shows em Niterói, já
era relativamente conhecido, as pessoas
cantavam nossas músicas. E a gente não
tinha grana para bancar o CD. Tentamos
a Secretaria de Cultura de Niterói e os caras pediram pra gente aguardar. Passou
um tempo e o nosso projeto foi aprovado. A Prefeitura tem esse selo, o Niterói
Discos, que dá 1000 cópias para o artista
trabalhar, fazer a divulgação e a distribuição. Nós fomos a primeira banda de reggae
a gravar pelo Niterói Discos. É um selo
bem diversificado, que grava desde música erudita até música evangélica.
ARN - Como vocês definem a
identidade de vocês no cenário
reggae?
F - Acho que ela vem dessa união que
nós quatro conseguimos formar. Isso não
é só por causa da música, é outra coisa.
É amizade. A gente vive como uma família. Apesar de não sermos irmãos de sangue, somos irmãos mesmo. Musicalmente, o que nos define é o reggae, sempre
procurando misturar com outros estilos,
como o rock e, mais recentemente, o jazz,
além dos ritmos brasileiros. A música brasileira é a mais rica do mundo.
Contatos para show: (021)717-3216
(Mario) ou 711-1496 (Marcelo)
AFRO REGGAE • Na 38 • MARÇO • 2000
A C 0RD A
Dj T.R.
Após a forte
repercussão da matéria
anterior (Acorda HipHopf), muitos leitores
me sugeriram abordar
outros aspectos também
comuns e que, de certo
modo, nos permitem
questionar a postura do
movimento no Brasil.
A meu ver, é muito bom
que estejam sendo
desencadeadas essas
discussões internas,
pois um movimento que
não se auto-avalia e
não busca a sua
correção, se toma
contraditório e acaba
desmoronando.
Grupos vs. Bandas:
Sabemos que a marca registrada do rap é o DJ aliado ao MC,
formando o que conhecemos
como grupo de rap. Mas isso não
quer dizer que todos os artistas
devam seguir essa formação ao
pé-da-letra. O rap precisa estar
evoluindo constantemente de
acordo com o mundo, e se formar uma banda é o resultado
dessa evolução, qual o problema?
AFRO REGGAE • Na 38 ■ MARÇO • 2000
EIPH0P
i
CParteII
O mais curioso é perceber que
quando um rapper dos EUA faz
o seu trabalho apoiado numa
banda, os daqui não falam nada.
Muito pelo contrário, rendem a
maior homenagem. Então quem
tiver condições de formar uma
banda, que forme. Todos têm o
livre-arbítrio para fazer o que
quiser. Quem deve decidir essa
partida é o público que tanto precisa da mensagem do rap, e não
os grupos.
composto por estilos variados,
não seguindo apenas uma linha
de pensamento.
O rap na mídia:
Muitos rappers sustentam a
idéia de que o grupo que aparece nos canais de TV acaba se
vendendo. Mas será que isso faz
da MTV um canal diferente dos
outros? Reflita comigo: quantos
apresentadores negros a MTV
tem? Qual é a moral que a música
negra tem durante a prograIdentidade do rap carioca
mação diária? Quais são os hoAlguns artistas
rários do Yo/MTV
cariocas tendem a «MMMBM
Rapt Estar na teanunciar na mídia Estar na TV sendo
levisão
sendo
que o estilo do rap
você mesmo é
você mesmo é escarioca é diferente estar colocando a
tar falando para
do de outros estamídia para
milhões a realidados. E que a nova
trabalhar para
de de suas vidas
geração do Rio você. Mas tem que
ao mesmo tempo.
está mais preocuser inteligente.
É estar colocando
pada com as rimas mÊm—Ê^m—m
a mídia para traimprovisadas e
balhar para você.
com as festas. TenMas tem que ser inteligente.
dem também a dizer que o
favelado carioca é feliz e que o O hip-hop e sua ação social:
estilo mais radical faz a situação
De todas as três modalidades
parecer trágica. Estar sorrindo do hip-hop, o rap é o que mais
não significa estar feliz. Ninguém aborda as questões sociais. Mas
pode ser feliz ganhando 136 re- será que os rappers realizam algo
ais, morando em condições pre- de concreto nas suas respectivas
cárias, sendo perseguido pela comunidades ou estão apenas
polícia, sofrendo o racismo e preocupados com o sucesso,
passando fome. O que está acon- com a gravação de um CD?
tecendo é que a maioria dos
rappers cariocas não são oriun"Primeiro: somos homens. Sedos das favelas e talvez seja esse gundo: somos negros. Depois,
o motivo da afirmação contrária somos artistas e podemos atrair
a outros estados. Mas quem mora a comunidade para o nosso
dentro do caos se sente na obri
lado. Mas alguém tem de ser
gação de cantar a verdade e isso capaz de falar pelas pessoas,
acaba provando que o rap é pois a cultura vem delas e den-
tro da cultura está a criatividade
do rap e do hip-hop. Às vezes,
vemos a colocação que damos
ao hip-hop. Não podemos
colocá-lo acima de nossa importância como povo, que é de
onde ele vem."
(ChuckD/PublicEnemy)
Em breve,
campeonato de DJ's
Anônimos 2000,
no Rio de Janeiro.
Aguarde!
Y LIST - BY DJ
1. Xis-Us manos as minas
MVBILL-Soldado do Morro
Edi Rock - Não seja mais um pilantra
4. Facção Central - Versos Sangrentos
5. Face da Morte - Televisão
6. Xis - A fuga
7. Veredito do Gueto - Muito prazer (RJ.)
8. R.E.R - Só se for capaz (RJ.)
9. DMAI - H. AGO
10. Tribunal PopularLegítima defesa
<^\
Você que possui seu trabalho demo e
quer divulgar em nosso Play List e nos
bailes black do Rio de Janeiro, favor
enviar CD ou MD para a redação do
ARN, aos cuidados de DJ "A" e DJ TR.
6
AFRO REGGAE • N2 38 • MARÇO • 2000
Bob Marley
em exposição
Mariano Ramalho
O rei do reggae Bob
Marley está mais vivo
do que nunca.
Provavelmente um dos
mais importantes
artistas de nosso século,
ele conseguiu se
transformar num
superstar, modificando
a história da música
pop internacional e a
consciência de muita
gente nos quatro cantos
do planeta.
MT
Eo que mostra a Boh Marley
Exhibition, exposição que aconteceu no Conjunto Cultural da Caixa, do
dia 17 de janeiro até 6 de fevereiro. O
evento reuniu fotos, vídeos, shows, palestra, bazar e bar do reggae.
Bob Marley pregava uma revolução
semelhante à profetizada por Marcus
Garvey. Os Rastafari cultivavam a
premonição de que a música reggae iria
cobrir a terra assim como as águas cobrem os mares, porque eles sabiam que
Bob Marley era um cabeça de leão.
A mais bela forma musical do terceiro mundo continua pulsando suas
delícias e o Rio de Janeiro é a primeira
cidade brasileira a receber a Bob Marley
Exhibition. Não foi a exposição mais
completa, mas foi um evento grande,
que refletiu o carisma do rei do reggae.
As fotografias da exposição pertencem a Adrian Boot, Peter Simon e
Cedella Booker; e cobrem a carreira de
Bob Marley desde o início, na Jamaica,
até suas passagens por EUA, Europa e
Brasil. Uma crítica: algumas fotos tinham
erros nas legendas.
O reggae nacional foi registrado com
shows dos artistas Ras Bernardo, Márcia Leoa, Marleando, Nabby Clifford,
Vell Rangel, Bagabalô, Lord Maracanã,
Rio Reggae Banda e Negril - que encerrou a exposição no dia 6 de fevereiro, data de nascimento de Bob Marley.
O saldo dos shows foi bem positivo,
ao contrário da palestra sobre rasta/
reggae, realizada no dia 25/01, que não
rendeu tanto quanto poderia.
A programação do telão contou com
21 vídeos. Time Will Tell, musicaldocumentário, inclui fragmentos de
concertos, gravações em estúdio e numerosas imagens de arquivo inéditas.
Inclui, entre outras jóias, Concrete
Jungle- na sua primeira apresentação
na TV BBC de Londres em 1973 -, o
medley das músicas Curfew/Burnin &
Lootin - na Alemanha em 1975 -,
Running Away e Zimbabwe - no concerto de independência de Zimbabwe
em 1980.
Outro vídeo, Caribbean Nights- The
Bob Marley Story é repleto de magníficas imagens antigas, gravações caseiras
e entrevistas em diferentes épocas da
sua vida. Esse vídeo foi a base central
da i^portagem que TV americana exibiu em maio de 1991, em comemoração aos 10 anos da morte de Bob Marley.
One Love, One Peace Concert —
Heartland Reggae também merece destaque. Inclui uma exuberante demonstração de poder nos cenários de
Kingston, em 1978. Há intervenções,
entre outros, de Peter Tosh, Jacob Miller.
Sobre todos, um imponente Bob Marley
e o célebre aperto de mãos dos líderes
políticos oponentes.
Jah protege aquele que lhe pertence, estabelecendo a paz. É um
terno Pastor e um hospedeiro gracioso. Como as asas protetoras de
uma águia, Jah esconde aquele que
confia nele. É a defesa contra a destruição, é a fortaleza quando se procura refúgio, como um vigia com o
seu rebanho. Jah é a sombra que
protege os que são seus, quer do
sol, durante o dia, quer durante à
noite. Jah é o nosso provedor, dando força e vida, tal qual um rio,
cujas águas dão vida, através de
uma fonte eterna.
Jah Live.
Mariano Ramalho é o presidente do Fã Clube Bob Marley.
UJiJUffiJU
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ARW-Universal
UNIVERSAL
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Não Fique fora dessa!
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OS primeiros 24 leitores que escreverem (Rua Senador Dantas, 117/1233,
Centro - Rio de Janeiro - CEP 20031-201) ou enviarem e-mail
([email protected]) para o jornal ganharão o novo CD de Amaury Gutierrez.
AFRO REGGAE ■ Ng38 • MARÇO • 2000
Jovens Empreendedores: botando pra estudar!
Infelizmente, problemas
relativos à educação,
sobretudo nas
comunidades pobres de
qualquer cidade
brasileira, não são nem
um pouco raros e, pior
ainda, são muito difíceis
de resolver.
Ias não é por isso que vamos ficar de braços cruzados. Em janeiro desse ano, o Grupo Cultural Afro Reggae iniciou,
em Vigário Geral, o projeto Jovens
Empreendedores Sociais, em parceria com o CIEDS - Centro Integrado de Estudos e Programas de
Desenvolvimento Sustentável e financiado pela UNICEF. O Jovens Empreendedores utiliza a
metodologia desenvolvida pela Secretaria de Trabalho da Prefeitura
da Cidade do Rio de Janeiro.
O projeto busca criar condições
para que jovens afastados da escola recuperem o tempo perdido,
através de classes de aceleração
pedagógica. Dessa forma, eles es-
lerê Ferreira
tariam prontos para retornar ao ensino formal
no mesmo passo dos
demais estudantes.
Além disso, o Jovens
Empreendedores Sociais
visa prepará-los para
que possam reproduzir
essa metodologia educacional em outras comunidades.
A linguagem das aulas conjuga aprendizagem e prazer. Nas 4 horas diárias em que os
alunos estão em sala,
são utilizados vídeos,
músicas e outras ferramentas que tornam a
aula agradável, desvinculando-a da idéia de
uma simples obrigação.
A importância desse projeto é que ele vem
ao encontro de uma necessidade básica, mas
sempre esquecida, das comunidades desse
país: criar meios para que o adolescente
morador de favela - excluído pela pobreza
de um lado, pela violência de outro - possa
exercer plenamente sua cidadania.
^IÊÊ'^m
No dia 15 de janeiro, a banda Afro Lata tocou
no Fla-Barra durante o treino da equipe de
futebol do Manchester (por ocasião do Mundial
de Clubes). O evento foi uma iniciativa da Unicef
e da FIFA. O time inglês - de Beckham, York e
Cia. - mantém um fundo social que repassa
verbas para o Unicef, a fim de incentivar
projetos que atuem na área de Educação no
mundo inteiro.
.W. Barroso Silk Screen Ltda.
Rio : Rua Alvarenga Peixoto, 80 • Vigário Geral • RJ • CEP 21240-690 -Tel.: (021) 372 4955 • Fax: (021) 371 7110 • Telex: (021) 35358
• São Paulo: Av. Brigadeiro Faria Lima, 830 • Conj. 64 • Pinheiros • SP • CEP 01452-000 • Tel.: (011) 210 6122 • Fax: (011) 212 2759
DANDO VIDA A SUA IMAGEM
8
AFRO REGGAE • Na 38 • MARÇO ■ 2000
De soldado do morro a comandante da justi
TEXTOS:
DJ T.R.
FOTOS: JAYME RIBEIRO
seria mate NipeRsáfeleíeíeste, , yw referçaría as opíáe íatelectuais,
qaesobreviiesfraça.
Olhe para a sua pele. Se você for preto,
imagine: quem compõe a maioria da po
pulação de rua? Quem não consegue
completar seus estudos? De quem são os
piores salários? Quem não está em destaque
na TV e nas revistas de um modo positivo?
Quem é a maioria da população carcerária?
Quem é a maioria da população favelada?
Quem sofre o racismo? Não acreditar na
transformação de Escadinha é não acreditar
em si mesmo. É não acreditar que o negro
pode superar suas dificuldades e progredir. É
estar preso numa prisão pior que o Bangu I.
Numa prisão chamada complexo de inferioridade ou vergonha. Com vocês, José Carlos
dos Reis Ensina, mais~um cidadão José...
Qual a origem do codinome Escadinha?
Nunca soube de fato a origem, mas acredito
que foi quando eu era moleque e roubava jamelão, e eu era o menorzinho, daí sempre
subia numa escada.
Você quando jovem chegou a sonhar
com alguma carreira profissional?
Qual?
Sempre quis ser comerciante, dono de
bar, padaria... essas coisas.
0 que o levou a ingressar no
crime?
0 fascínio pelas mulheres e a
necessidade de impressionálas, depois juntou com algumas
necessidades pessoais e familiares, mas na realidade nada
que justificasse tudo isso.
de Deus. Contenos um pouco...
A minha regeneração terá que ser
confirmada no
dia-a-dia. Muitos
presos continuam
ligados a partidos
por uma questão
de sobrevivência e
não por questões
político-ideológicas. Eu só vou falar sobre religião
quando estiver na
rua, não quero ouvir críticas de pessoas dizendo que
estou usando em vão o nome de Jesus.
O que na realidade levou você a enxergar
a vida do crime de outro modo, buscando
assim a sua mudança?
Nunca sabemos ao certo porque
entramos, sabemos sempre porque queremos sair, vivo como
Me coloco
como um homem um bicho, como um cachorro
doido, isso é motivo suficiente.
em busca da
transformação
e para isso
conto com a
ajuda de todos.
Muitos jornais e revistas que
publicaram a sua matéria se
detiveram mais com a polêmica que poderiam causar com a pessoa
de um Escadinha traficante do que com
a de um homem regenerado. E um detalhe que eles não deram muita importância foi a sua experiência com a palavra
E o rap, como você conheceu?
Conheci pelas minhas filhas, estou feliz com essa mudança,
estou feliz com o rap, estou feliz
com a vida.
'^^■^™
Por que o rap como porta-voz
dos seus pensamentos?
Porque o rap é a única música que conheci que
tem o compromisso com pessoas como eu.
Embora você não cante nesta coletânea,
as suas idéias ficaram muito bem caracte-
^ *** *** Ani,l?cle no J0|,nal Afrgreggí
Contatos com Eeio no Telefax t02TfTT2207804 ou e-mail: aj
rizadas nas interpretações dos rappers.
Existe alguma pretensão de, numa próxima oportunidade, o Escadinha vir interpretando a sua realidade com a sua própria
voz?
Estou fazendo aula de canto junto com a minha fisioterapia, e pretendo lançar o meu trabalho em 2002.
Muitos apresentadores de programas policiais tendem a influenciar a opinião popular argumentando que lugar de bandido
é no cemitério, invalidando totalmente a
hipótese de uma transformação positiva
como foi o seu caso. Como você vê esta
situação?
Não me considero um homem transformado,
me coloco como um homem em busca da
transformação e para isso conto com a ajuda
de todos. A imprensa precisa de mim como
bandido. Assim eu rendo muito mais matéria.
Quando alguém morria eles colocavam na mi-
[email protected].
AFRO REGGAE ■ Ne 38 ■ MARÇO • 2000
GR0H0L0GIA DA VIDA DUEA
• 1956 - Nasce e se cria no Morro do
Juramento.
• 1974 - Preso por porte ilegal de armas
(pela primeira vez), paga a fiança e é liberado.
• 1976 - Preso por tráfico de drogas no
Morro do Juramento.
• 1980 - Preso por formação de quadrilha, tráfico de drogas e porte ilegal de armas.
• 1981 - Indiciado por 3 assaltos a carro-forte, porte ilegal de armas e acusado
de homicídio pela polícia.
• 1982 - Processado por assalto, tráfico
de drogas e conduzido ao presídio da Ilha
Grande (RJ)
• 1983 - Indiciado por mais 3 assaltos,
foge da Ilha Grande num barco a remo. A
polícia fecha o cerco no Morro do Jura-
nha conta, e com a música é diferente. Eles
não podem dizer que fiz coisas que não fiz.
Então, eu sou mais importante no crime.
Em algumas entrevistas concedidas à imprensa, você declarou a vontade que sentia de ingressar na política.
mento, onde um helicóptero da polícia civil é
abatido na operação, matando os quatro ocu-'
pantes.
• 1984 - Denunciado por homicídio, passando também a responder pelos delitos de assalto e tráfico de drogas.
• 1985 - Preso na Favela do Jacarezinho (RJ)
e conduzido ao presídio Ary Franco (Zona Norte - RJ). E pela primeira vez, em menos de
dois anos, frustra-se numa tentativa de fuga
juntamente com outros presos ligados à
"Falange Vermelha", ficando ferido na coluna
com um tiro. É transferido para a Ilha Grande, onde realiza a fuga mais espetacular de
todos os tempos: no último dia do ano, deixa
o presídio em um helicóptero.
• 1988 - Deportado com outros bandidos,
considerados de alta periculosidade, para o
presídio de segurança máxima Bangu I (Zona
Oeste - RJ), antes mesmo de sua inauguração oficial.
• 1997 - Passa a relatar a sua vida no papel
após o seu contato com a proposta do rap.
• 1998 - Sua filha procura os rappers Racionais MCs, G.O.G. e MV Bill, no show de
lançamento do CD Sobrevivendo no Inferno (Racionais MCs), no Imperator (Zona
Norte - RJ), e os entrega algumas folhas
escritas pelo seu pai sobre a sua dura experiência no crime e a sua preocupação
com a juventude desassistida das favelas
. Impressionados com o que leram, os
rappers indicaram a ela algumas gravadoras especializadas em rap. Todas ficaram
com um pé atrás temendo conseqüências
negativas, exceto a Zâmbia Fonográfica,
que abraçou de cara a idéia devido à sua
postura ideológica, preocupando-se cuida-
Como você vê o sistema político do
guém sai daqui para um trabalho, é por váripaís, e o que você teria como priorios motivos: Jesus, rap, medo ou arrependidade segundo a sua posimento. E nós também sabemos
ção política?
^^^^ quais são os principais meios de
Infelizmente o mundo não se
recuperação: um sistema sem
desenvolve como deveria.
0 rap é a única corrupção, atividades profissioNós somos condicionados a
nais e limpeza nos presídios. Mas
música que
amar um país que nunca nos
se
todos afirmam que o Brasil
conheci que tem
amou, mas isso faz parte. Eu
está falido e que o sistema está
o compromisso falido, nós vamos discutir o quê?
sou favela, sou líder nato, sou
com pessoas
sagaz - quem deveriam, na
Além de marido e pai, você
sua opinião, ser os represencomo eu.
também
é avô. Qual é o consetantes do favelado no Brasil? ^^^^
lho
que
você
daria ao jovem da
A minha idéia é a favela e os
favela,
que
vê
no cripresos.
me uma forma de ascensão?
Você acredita no sistema de reabilitação penitenciário? Na sua opinião, o que
deveria ser feito para melhorá-lo?
Todos nós sabemos que o sistema não recupera ninguém,
ninguém mesmo. Guando a
dosamente com a seleção de artistas
que dariam uma forma real a tais relatos em rap.
• 1999-Transferido para a penitenciária
Lemos de Brito (Centro - RJ) e logo após
para o presídio Plácido de Sá Carvalho
(Zona Oeste - RJ), onde aguarda a sua
liberdade em regime semi-aberto, após ter
cumprido mais de 1/3 da pena com um
comportamento exemplar. É lançada via
Zâmbia Fonográfica a compilação Brazil
I, Escadinha Fazendo Justiça com as Próprias Mãos, envolvendo os artistas X
(Câmbio Negro), MV Bill, Xis, G.O.G., Racionais MCs, Dina Dee (Visão de Rua),
Linha de Frente (Formado por internos do
Carandiru - SP), Consciência Humana,
Guerrilha Urbana, A-man (Chicago - EUA)
e Thaíde e DJ Hum.
A favela é o retrato do Brasil, e um monte de
desempregados tentando uma solução para
o dia seguinte. A minha solução eu não consegui achar. Hoje estou tentando outra, por
isso o meu conselho é que os jovens encontrem a paz através do trabalho. Essa é a forma mais firme de chegar no dia seguinte.
0 que o Escadinha pretende de agora em
diante?
Ser um homem livre. Livre de verdade.
10
AFRO REGGAE ■ Ng 38 ■ MARÇO ■ 2000
Robcrta Salomone
Vocalista e produtor do
Arrested Development,
uma das mais influentes
bandas de bip bop da
década de 90, Speecb está
lançando seu segundo
disco solo, Hoopla. Ao
lado do Arrested, ganhou
o Grammy de melbor
artista novo, em 93, com o
álbum 3 Years, 5 Months &
2 Days In The Life. Logo
na seqüência, vieram os
antológicos Unplugged e
Zíngalamaduni Em 96, o
grupo acabou e Speecb
lançou seu primeiro solo,
aclamado por crítica e
público nos Estados
Unidos. Agora, com
Hoopla, o cantor mostrase mais maduro, conto
podemos conferir em
Clocks In Sync With Mine,
primeira música de
trabalho, cujo clipe já
pode ser assistido na MTV
e no Multishow. Na
entrevista abaixo, o
cantor fala sobre a
carreira, o novo CD, a
cena hip hop e revela
também o desejo de
visitar o Brasil em breve
No Brasil, o movimento hip hop
está se fortalecendo cada vez
mais. E as músicas falam sobre
violência, preconceito,
discriminação. Você acredita que
o hip hop tenha poder de mudar
tanta injustiça?
Eu, definitivamente, acredito nisso.
O hip hop vem ganhando força a
cada dia, com cada grupo novo que
surge. Mas não acredito que este seja
um poder só do rap, mas também
de outros estilos de música, como o
rock, o country. Acredito muito no
poder da música.
Mas o rap que você faz é diferente
da maioria. Há contestação, mas de
uma forma mais leve, mais positiva.
E verdade, concordo com isso. Às
vezes até me sinto estranho no meio
dos rappers. A música que faço é
sobre a minha realidade, sobre quem
eu sou. Não quero incentivar de jeito nenhum a violência, quero tentar
buscar mudanças sempre.
Como está indo o seu disco
"Hoopla"?
^tamaica * camping
muito som»
cultura rasta.
cachoeiras*
caminhadas*
.café da manhã
Janches naturais
♦sucos e drínks
Jaricas
Sana: » uma hora de Casimiro de Abrei.-BR 101, a 2 horas do Rio de Janeiro
conlatos: (021) 71 1-8901- Caixa postal: 109.903- Casimiro de Abreu-RJ
••«•T^TH^^^S^TT^^T^^S
Está indo muito bem. Eu sei que
está tocando no Canadá, Estados
Unidos, Europa e Japão. As pessoas estão comprando e tenho ouvido elogios.
Qual é a sua música preferida
do CD?
A minha favorita é a de Bob Marley. Sempre gostei muito de Redemption Song.
É verdade que foi difícil para
você gravar esta música?
Eu cantei esta música várias vezes
em shows e as pessoas sempre reagiram muito bem. Às vezes, quando ouço Redemption Song, sinto
como se ela tivesse sido feita por
mim. Fiquei realmente muito nervoso ao gravá-la e houve vezes em
que estava cantando e que comecei a chorar. Queria ter certeza de
que iria conseguir passar este tipo
de emoção. Felizmente, consegui.
Quais foram as suas principais
influências na música?
Eu sempre ouvi muito Prince,
Beastie Boys, Jungle Brothers,
Fuggees. Gosto muito da Lauryn
Hill, De La Soul e do disco Odelay,
do Beck. É o tipo de música que
coloco no som do carro enquanto
dirijo.
É verdade que você quer vir ao
Brasil?
Sim, quero muito. Desde quando
estava no Arrested tinha esta vontade. Não sei muito sobre o Brasil,
mas estou curioso para conhecê-lo.
AFROREGGAENe38 ■ MARÇO • 2000
11
afr^antenas
Direitos Humanos
Afro Reggae recebe o prêmio
Hebert de Souza
leré Ferreira
O sociólogo Hebert de
Souza, mais conhecido
como Betinho, dedicou
sua vida à luta pela cidadania e
contra a fome no Brasil (e no
mundo). Por isso, sua militância
social foi, desde o início, lá na
década de 80, pautada por uma
atitude firme em defesa dos valores e direitos humanos.
Portanto, nada mais apropriado que a criação do prêmio de
Direitos Humanos Hebert de Souza. Esse prêmio foi criado, ano
passado, pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro, com o objetivo de premiar iniciativas sociais importantes no Rio de Janeiro. A instituição escolhida para inaugurar a
premiação foi o Grupo Cultural
Afro Reggae, devido aos seus projetos sócio-culturais voltados para
jovens em situação de risco.
A premiação aconteceu no
Centro Cultural Afro Reggae Vigário Legal, em Vigário Geral, no
dia 10 de dezembro. O deputado
Chico Alencar, presidente da Comissão de Direitos Humanos,
passou o Prêmio às mãos de José
Júnior, coordenador executivo do
GCAR, numa cerimônia que contou ainda com a apresentação das
bandas Afro Lata e AfroReggae.
"Receber um prêmio dessa importância enobrece ainda mais as
ações desenvolvidas pelo GCAR.
Sendo recebido dentro da favela
de Vigário Geral dignifica ainda
mais. Acredito que essa nova safra de deputados da Assembléia
Legislativa vem lutando para melhorar não só a imagem do Estado do Rio de Janeiro, mas, concretamente falando , acabar de
vez com as injustiças e aberrações
de violência que mancharam o
estado na década de 90", declarou José Júnior.
12
AFROREGGAENs38 • MARÇO ■ 2000
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distribuição
mn íTIsTi 7í7l
AFRO REGGAE • N2 38 • MARÇO • 2000
CADERNO
DHUDE
Nasci em Salvador, uma
cidade abençoada.
Vivi no Candeal,
um gueto onde o
cantar dos grilos,
dos gaios e o barulho do brejo
eram de pura sinfonia. Talvez por
isso tenho a alma
lavada e repleta de
música. Mudei para o Rio aos 11
anos de idade.
Passei minha infância ouvindo
meu avô e meus tios seresteiros,
tocando e cantando Sinhô,
Lupicínio, Luiz Gonzaga, Erivelto
Martins, Nelson Gonçalves,
Orlando Silva, Jararaca e Ratinho
e tantos outros...
O meu pai com a sua discoteca
me apresentou Martinho da Vila,
Mestre Marcai, Monsueto, Jackson
do Pandeiro, às músicas sertanejas, Pixinguinha, Villa-Lobos, a todos os hinos militares (o hino da
marinha era o mais bonito!), às big
bands, aos sambas de roda e ao
seu repertório saxofônico e
clarinêtico.
As minhas tias me ofereceram
Roberto Carlos, Jerry Adriani,
Wanderley Cardoso, Vanderléia,
Vanusa, Antônio Marcos, Gil, Gal,
Bethânia, Caetano, Chico
Buarque, Rolling Stones, Beatles,
Serge Gaisbourg (Je t'aime moi
non plus), Jorge Bem (Ela não
gosta mais de mim, mas eu gosto
dela mesmo assim, que pena!...),
Leno e Lilian, MPB
4, Eduardo e
Silvinha Araújo, e
por aí vai.
Minha
mãe
ofertou com carinho Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Claudia Barroso, Núbia Lafayete,
Nicinha Batista, Elizete Cardoso,
Dolores Duran, Emilinha Borba e
Marlene, todos os hinos religiosos
e as cantigas de ninar.
Já no Rio, a cultura de rádio, na
minha adolescência, foi fatal e total. Pela primeira vez, através do
projeto Minerva, escutei Patativa
do Assaré. As rádios Tamoio e
Mundial incumbiram-se de me
apresentar Marvin Gaye, Barry
White, James Brown, Stevie
Wonder, Diana Ross,, Tina Turner,
Donna Summer, Tanita Tikaran,
Michael Jackson and Jackson Five,
Chaka Kann, Santana, Sta. Esmeralda, Slade, Gênesis, The Who,
Pink Floyd, Lou Reed, Roberta
Flack... Vi a MPB estourar nas FMs.
Os Novos Baianos, Secos e Molhados... dançava e cantava todas as
músicas de cor e salteado. Assim,
decidi mesmo cantar e percebi as
técnicas usadas pelos cantores.
Todas essas influências fazem
parte da minha vida. Todas tão naturalmente presentes e necessárias, quase que orgânicas.
14
missão ilo rio
Leonardo LídioÉe
Dia desses tava
assistindo ao
RJTV e, ao fim
de uma reportagem, a apresentadora
anunciou: "Agora, vamos acompanhar
como anda a votação para a 'Música
do Rio'". Corte para a Central do Brasil, onde o povão se espremia junto à
urna eletrônica - para votar e para
aparecer na televisão, não necessariamente nessa ordem. O repórter conversava com um artista de "alma carioca" que estava por ali - não me lembro bem quem era. Elogios à alegria
da cidade, considerações sobre a violência que "assombra" o Rio, uma boa
dose de saudosismo e acabava a pequena entrevista. Depois, eram apresentadas as oito canções concorrentes: A Voz do Morro, Cariocas, Cidade
Maravilhosa, Copacabana, Ela é Carioca, Rio 40 Graus, Samba do Avião e
Valsa de uma Cidade. Fim do Jornal.
AFRO REGGAE ■ N2 38 ■ MARÇO • 2000
Pensei por alguns segundos. Várias questões vieram
à minha mente, todas podendo ser resumidas na perplexidade do "que merda é
essa?". Vou abrir algumas delas pra
vocês. Vamos lá: por que fazer uma
eleição desse tipo? A cidade precisa
dela? De que Rio fala cada uma dessas músicas? Que aspectos da cidade
aparecem nas canções?
Prestando atenção nas letras, começamos a enxergar as respostas. Em
quatro delas - Copacabana, Ela é
Carioca, Samba do Avião e Valsa de
uma Cidade - a palavra "mar" aparece como uma referência central da
cidade. Só que para a maioria dos
cariocas, e vou além, para o processo
de formação cultural do Rio que correu paralelo à bossa nova, a importância da brisa marinha e das louras
de corpos dourados é mínima.
Tirando dessa discussão as canções
Carioca - sobre o comportamento do
morador da cidade -, Rio 40 Graus -
colagem com pedaços do cotidiano
de "beleza" e "caos" - e a louvação
rasgada de Cidade Maravilhosa, sobra como representante do outro lado
(o nosso) uma voz isolada, A Voz do
Morro. A presença da música de Zé
Keti aparece como uma concessão,
um favor que os organizadores da
eleição fazem ao samba tradicional.
Não é. A representatividade das periferias, tanto em termos populacionais
como de produção cultural, exige não
só a presença do samba, mas também
do reggae, do hip-hop, do jongo, do
soul, do funk e de outras mil coisas
que fervilham por aí.
Minha cidade - a que vejo da janela dos ônibus e das kombis, da varanda dos bares, dos bancos das praças se aproxima muito mais da retratada
nas canções nascidas da periferia do
que daquela sonhada por um romantismo desligado da realidade. A questão aqui não é se as músicas me agradam ou não. Até posso dizer que gosto das oito concorrentes - mais de
umas, menos de outras -, mas lembro
que quando se fala em "Música do Rio"
o buraco é mais embaixo. Estou falando da imagem de Rio que desejo para
mim e que acredito ser a que melhor
representa a cidade.
O Rio não precisa dessa eleição.
O Rio não precisa de um retrato oficializado pela Rede Globo. O Rio precisa ser tratado com o respeito que
conquistou ao longo de sua história,
não como um bibelô que não resiste
ao peso de seus próprios conflitos e
contradições. A beleza do Rio que
deve ser enaltecida não é a óbvia
beleza natural, e sim aquela de que
nos falam Paulinho da Viola e
Hermínio Bello de Carvalho em Sei
Lá Mangueira, referindo-se ao morro
de Cartola: "A beleza do lugar/ Pra se
entender/ Tem que se achar/ Que a
vida não é só isso que se vê/ É um
pouco mais/ Que os olhos não conseguem perceber/ E as mãos não ousam tocar/ E os pés recusam pisar".
A propósito, Cidade Maravilhosa
deve ganhar a eleição.
PIROâRAMA
Dominso, das 19 às 14h - Rádio
Bicuda FM 99,3 - Rcssae, Charme,
Soul, HipHopetc
(021) 220-7804/587-7152/587-7410
Realização
GCAR e Centro
de Tecnologia
Educacional
da UERJ
AFRO REGGAE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS APRESENTA 0 ESPETÁCULO
Patrocím
bCOM A
anda
A F r o
Reqqae
CONTATOS
PARA SHOWS: (021)220-7804,
9-917-0555
Apoio:
PREFEITURA DO RIO
jUma realização:
*
ARPA
AFRO REGGAE • Na 38 ■ MARÇO ■ 2000
15
LANÇAMENTOS - Por DJah Tekko Rastafari
Para divulgação desta coluna, os produtores, gravadoras ou selos devem enviar materiais (CD, release e fotos) para redação deste informativo.
Ari Sobral & Água
de Coco - "Arraial
DAjuda
Alma D'Jem - "Grito
de Liberdade'
Banda Natiruts "Povo Brasileiro
De Brasília
para o mundo,
depois de 3
anos de ralação, a Banda
Alma D'Jem
lança seu 1s
CD, Grito de
Liberdade.
Alma D'Jem
significa
"Alma em
Paz", cheia de amor e de muita alegria.
Repertório e arranjo bem elaborados, composições próprias, que mesclam o reggae roots ao
love reggae, com influência de Djavan e Gil. Marcelo Mira, vocalista muito bom, lembra seu primo Alexandre Carlos (NatyRuts). Das 11 faixas,
destaques para: De Cara, Divida, Grito de Liberdade, Na Rede, Destino Incerto, Negros. Prova
de que o reggae veio para ficar, dançante e consciente. Não pode faltar na sua Cdteca, é muito
bom. Mais um lançamento independente. Pedidos e contatos: (61) 233-5437 / (61) 9830406 ou
pelo site: www.almadjem.art.br.
Depois
do sucesso do seu
primeiro
CD, ainda
com
o
nome de
Nativus e
já contratada
pela
EMI, a banda Natiruts
lança agora o CD Povo Brasileiro. Neste CD
apresenta um trabalho mais enraizado, com
uma qualidade soberba, mostrando um repertório que vai do reggae roots ao love
reggae (reggae romântico). As faixas Palmares 7995 e Povo Brasileiro são um relato real
e atual da sociedade brasileira. Destaques
especiais: O Carcará e a Rosa, Meu Reggae
é Roots, Eu e Ela. Um CD de alta qualidade
que leva assinaturas de feras como Liminha
e Torcuato Mariano. Contatos: Casulo do
Cerrado Produções - tel: (61) 344-6924 /
http://www.bandanatiruts.com.br.
Edmon Costa
Tijolada Reggae "Tempor
II
II
A banda
Água de
Coco surgiu no verão
de
1979, em
Arraial
D'Ajuda,e
em 1984
lançou a
sua primeira fita
demo. O novo trabalho foi gravado
em Arraial D'Ajuda com o apoio dos empresários locais e conta com a participação e direção artística de Durval Lelys (Asa de Águia).
O estilo é bem local, misturando reggae com
samba-reggae, muito balanço e swing praiano. Destaques para as faixas: Reggae Bahia,
Ecolojah, Fauna do Arraial, Arraial D'Ajuda e
Ajuda 2000. Pena que as músicas que mais
tocaram no Rio (na antiga Fluminense FM),
como Água de Coco e Kaya, ficaram de fora.
Contatos: (73) 875-1025.
Lúcio Sherman "Desejo
II
Após 10
anos de
estrada,
tempo em
que foi vocalista de
bandas e
cantou em
algumas casas noturnas
cariocas e da
Baixada, Lúcio mescla rit- mos como soul, R&B, charme, reggae e a MPB romântica e swingada.
Em Desejo, Lúcio convidou um time de feras:
Repolho (percussão), Zé Canuto (sax, atualmente toca com Gal Costa), Arthur Maia (baixo). Destaques para: Ansiedade (part. esp. da
cantora americana de jazz Lynn Hilton), Sedução, LuzNeon, Jovem Criador e a regravação
da música Pensando Nela. Produção independente. Pedidos e contatos: DLS Produções Artísticas-Tel. (21) 381-5331 / 9617-0872.
II
II
Edmon Costa apresenta
no seu 2Q CD
um clima bem
charmoso e
dançante,
com um repertório bem
variado,
onde mescla
dance music e charme.
Participações especiais do Grupo Ebony Vox
e Abdullah. Algumas versões são muito bem
produzidas, como Foi Assim - versão de Fernanda Abreu para a música Spiritual Thang-,
Shake Your Body e Só Penso Em Você - versão da música Who's The Mack, de Mark
Morrison - além das regravações de Pensando Nela (Beto/Reina), Amigo do Amigo (Skowa) e Depois do Prazer (SPC). Mais um lançamento da Indie Records. Contatos p/ shows
tel. (21)541-5322/543-7745.
Mais
uma vez
Brasília
desponta
para o cenário
do
reggae nacional, com
mais uma
banda de reggae roots,
cujo nome
faz jus ao seu trabalho, Tijolada Reggae. A
fórmula do roots reggae da Tijolada é muito
simples: um repertório bem equilibrado, um
molho de arranjos e letras fáceis e uma pitada de muito balanço. A reação é um reggae
bem dançante, com 11 faixas muito boas,
destacando as faixas Comando, Desterro,
Luz de Jah, Tijolada, Dias de Reggae, Rasta
Cur/(part. esp. do rapper DJ Jamaika). Mais
um lançamento Discovery (61) 226-5404.
Contatos: (61) 323-2413.
1.N0TA MÁXIMA
9.COM TODA ESSA GENTE
2.AFINA A VIOLA
10.PRO MANO BROWN
3.FONTE DO SEU PRAZER
11JEITO CIGANO
4.QUIABO BOM
12AMOR POR MINHA MANGUEIRA
5.RENOIÇÃO
13 AS A PARTIDA
6.CUMPLICIDADE
14.CABO VERDE
7.SE DEUS DEU TUDO
15.SAUDAÇÃOAOXUMARÉ
S^UTO-ESTIMA
Já à venda.
n
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