o jogo de xadrez como ferramenta para o ensino da

Propaganda
O JOGO DE XADREZ COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA À
CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Edson GOULART1
Fernando FREI2
Resumo:
Os Jogos e brincadeiras são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo da
criança. Inúmeras teorias dissertam sobre a importância das atividades lúdicas para
um amadurecimento saudável. A prática dos jogos auxiliam desde a percepção de
representações exteriores até a integração social e a organização do pensamento,
sendo, portanto, fundamentais na formação do caráter. O jogo de Xadrez
especificamente exercita diversas características, como raciocínio lógico,
concentração, pensamento analítico, autonomia e autoconfiança. Podemos
identificar os diversos benefícios de sua prática desde quando a criança passa a
conhecer e a exercitar o domínio do tabuleiro, o que resulta em ganhos para sua
noção espaço-dimensional. Depois do tabuleiro são apresentadas as peças, cada
qual com suas características físicas, seus movimentos e papel no jogo, auxiliando
o desenvolvimento da memória e da concentração. O desenvolvimento da partida,
com a integração das peças e os cálculos das jogadas exercitam o raciocínio lógico
e imaginação, assim como a escolha do próximo lance valoriza sua iniciativa e
autonomia. Objetivos: O presente projeto estendeu projeto de ano anterior,
ensinando o Xadrez a professores do ensino fundamental de Assis-SP, para que
estes utilizem-no em suas respectivas salas-de-aula. Para tanto foi feita uma
revisão bibliográfica a respeito do tema, primeiramente analisando os benefícios
dos jogos no ambiente educacional, para então concentrar-se no estudo dos
possíveis benefícios da prática enxadrística para fins pedagógicos, principalmente
no que diz respeito ao jogo como atividade motivadora e promotora do
desenvolvimento, segundo as teorias construtivistas. Foram realizadas aulas
semanais de Xadrez com duração de aproximadamente uma hora, durante o ano foi
discutida também a metodologia adequada para o ensino do Xadrez a crianças.
Conclusão: O ensino do jogo foi bem aceito pelos professores que passaram a
utilizá-lo em sala de aula como atividade motivadora, tendo resultados positivos no
processo de aprendizagem.
O Ensino de Xadrez para Alunos dos 3º e 4º Anos do Ensino Fundamental
Introdução
O jogo é uma das atividades mais antigas, de fato mais antigo que a própria
civilização humana, pois os animais convivem com essa prática desde os primórdios da vida.
Podemos notar que não se trata apenas de um fenômeno fisiológico ou manifestação psicológica,
ele ultrapassa esses limites, é uma função significante. No jogo há algo que transcende as simples
necessidades da vida e dá sentido à ação.
1
2
Aluno bolsista do projeto
Docente Orientador
722
É no jogo que o ser humano cresce, e pelo jogo que a civilização se desenvolve.
Existem várias teorias biológicas que dissertam sobre o jogo dizendo, por exemplo,
que ele prepara o jovem para as tarefas sérias que mais tarde a vida exigirá dele, e outras dizem
que se trata de um exercício de autocontrole indispensável ao indivíduo. Mas, somente essas
teorias não podem explicar certas questões: Por que o bebê grita de prazer? Por qual motivo o
jogador se deixa levar pela paixão? Por que uma multidão pode ser levada ao delírio em um jogo
esportivo?
Nesta intensidade é que reside a característica primordial do jogo, ou seja, essa
tensão, a alegria e o divertimento que esse proporciona. (Huizinga, 1990)
Apesar do jogo estar presente em todas as etapas do desenvolvimento humano é
na infância que reside sua principal importância. Com o jogo as crianças aprendem quem são,
entendem que cada pessoa tem um papel a cumprir, e tornam-se familiarizadas com o espaço
cultural e com as regras da sociedade, Danoff, Breitbart e Barr (1977) dizem a respeito da
importância do jogo para o desenvolvimento: “Elas (as crianças) começam a raciocinar, a
desenvolver pensamento lógico, a expandir seus vocabulários e a descobrir relações matemáticas
e fatos científicos”.
Piaget escreve a respeito do papel dos jogos na infância para a formação do adulto,
segundo ele: “O jogo constitui o pólo extremo da assimilação da realidade no ego, tendo relação
com a imaginação criativa que será fonte de todo o pensamento e raciocínio posterior” (Piaget,
1962, pág.162).
Percebemos então que se os jogos são tão importantes para o desenvolvimento,
devem estar presentes em todo os processos que o envolvam, principalmente o meio escolar.
É na idade escolar que a criança sente necessidade de agrupar-se para praticar
diversas atividades, uma delas é o jogo. É também nessa fase que a dinâmica lúdica oferece
oportunidade para o fortalecimento das relações humanas, como as amizades e o
companheirismo.
Podemos dizer que o jogo é um instrumento altamente didático e importante. É mais
que uma diversão é um meio que pode auxiliar na aprendizagem, disciplinar o trabalho do aluno e
ensina-lo comportamentos básicos que podem ser necessários na formação de sua personalidade.
(Almeida, 1978)
Segundo Vygotsky em situações informais de aprendizado as crianças fazem uso
principalmente das interações sociais como forma de acesso a informação. Por exemplo,
aprendem as regras dos jogos através de outras pessoas e não através de seu empenho pessoal,
723
constata-se com isso que qualquer modalidade de interação social voltada para a promoção da
aprendizagem e do desenvolvimento pode ser utilizada de forma produtiva no ambiente escolar.
(Kohl,2003)
Outro fator importante dos jogos no meio educacional é a motivação, tarefas como a
leitura e a escrita que parecem trabalhosas e desinteressantes tornam-se agradáveis e atrativas
quando envolvidas por eles. Notamos a facilidade com que as crianças se propõem a fazer
atividades escolares quando essas são envolvidas por algum tipo de atividade lúdica.
Infelizmente muitas vezes os professores tendem a separar o trabalho do jogo na
realidade escolar, deixando de envolver essa indispensável ferramenta no processo de
aprendizado, delegando as mesmas apenas os poucos momentos de recreação.
Inúmeras são as opções na infinitude de jogos existentes. Devido exatamente a
essa amplitude, o estudo se direcionará especificamente ao “Rei dos Jogos”: O Xadrez.
O jogo de Xadrez trás desde de seu aprendizado todos os benefícios citados acima
inerentes às atividades lúdicas, porém, nota-se no estudo de sua complexidade diversos outros
exercícios de ordem cognitiva, principalmente no que diz respeito à estratégia, concentração e
raciocínio lógico. Numa partida o jogador deve preparar o movimento de suas peças imaginando
imediatamente as respostas possíveis de seu adversário e reagir prontamente as escolhas alheias,
exercitando a reversibilidade e a autonomia ao tomar as decisões por si mesmo. . É lugar comum
que uma das grandes dificuldades na resolução de problemas matemáticos estabelece-se na
incapacidade de entender e analisar sua proposta. Ao buscar a melhor combinação de lances a
criança aprende a pensar no problema de forma geral, aprendendo a analisar os diferentes pontos
e a encontrar o melhor caminho para sua solução.
Cada uma das peças apresentadas à criança terá sentido e movimentos únicos,
porém a combinação de suas ações é imprescindível para a vitória, segundo Smole (2001)
“devemos considerar que a resolução de problemas (matemáticos) trata de situações que não
possuem solução evidente e que exigem que o resolvedor combine seus conhecimentos e decida
pela maneira de usá-los em busca da solução”. Nota-se, portanto que o Xadrez pode também
cooperar com a organização do pensamento para superar os desafios impostos, seja no jogo ou
na matemática.
Um dos principais atributos exercitados pela prática do Xadrez é a concentração,
fundamental ao enxadrista. O jogador deve-se estar sempre pronto para as modificações
estratégicas decorrentes dos lances do adversário e focalizar sua atenção nas implicações que
cada um dos movimentos traz ao jogo. É sabido da importância da concentração para a
assimilação de conteúdos, tanto na matemática quanto em qualquer outra disciplina.
724
Diversos autores dissertaram a respeito dos benefícios acarretados pela prática do
Xadrez, e de seu importante papel para o desenvolvimento da cognição, a esse respeito A.
Pogliano escreve:
“Constituye (ajedrez) uno de los recursos pedagógicos más preciosos que la
civilizació ha ideado, síntesis de muchas cualidades en una sola actividad. Desarrolla
todas las potencias intelectuales del niño, al tiempo que lo conduce hacia el pensamiento
lógico-formal. El ajedrez educa la atención,desarolla la imaginación y contribuye a formar
el espíritu de investigación e inventiva” (Pogliano, A, 1973 pag.09)
Podemos identificar os diversos benefícios de sua prática desde quando a criança
passa a conhecer e a exercitar o domínio do tabuleiro, o que resulta em ganhos para sua noção
espaço-dimensional. Depois do tabuleiro são apresentados as peças, cada qual com suas
características físicas, seus movimentos e papel no jogo, auxiliando o desenvolvimento da
memória e da concentração.
O desenvolvimento do jogo, com a integração das peças e os
cálculos das jogadas exercitam o raciocínio lógico e imaginação, assim como a escolha do
próximo lance valoriza sua iniciativa e autonomia.(Partos, Charles 1978)
Faz parte do jogo também o outro jogador e o contato com ele é, portanto
indispensável. Nesse contato a criança se integra, conhece e reconhece outros pontos de vista.
Podemos dizer que os princípios do Xadrez tem notada relação com os princípios
da matemática, Leitão compara a ambos dizendo que tanto o enxadrista quanto o matemático
precisam do mesmo nível de abstração, para imaginar as jogadas, realizar cálculos mentais
precisos e passá-los para o plano real, diz ele:
“A verdadeira partida de xadrez desenvolve-se na mente do jogador; é lá que ocorre
a multiplicidade de variantes e estratagemas que estarão apenas parcialmente representadas no
tabuleiro” (Leitão, R. 2005).
Um bom enxadrista deve ser capaz de visualizar várias jogadas à frente, sem mover
as peças, até confiar em uma determinada linha de jogo. Da mesma forma, um bom matemático
precisa abstrair o problema em sua mente, tratando de descobrir sua essência, apenas
representando-o no papel quando encontrar a melhor forma de resolvê-lo. O cálculo é uma
ferramenta indispensável no Xadrez e na matemática, ainda que sozinho não leve a uma solução.
Ele deve ser acompanhado de valorações que lhe indiquem o caminho a ser seguido”. (Leitão,R,
2005).
725
OBJETIVO
No ano de 2004 foi realizado projeto de ensino de Xadrez com crianças das
terceiras e quartas séries do ensino fundamental na EMEI – “João de Castro” na cidade de AssisSP. Durante o ano cerca de 25 crianças aprenderam e praticaram o jogo de Xadrez.
O projeto, apoiado pelo Núcleo de Ensino – PROGRAD, teve grande repercussão
na escola, onde professores notaram melhora no desempenho escolar dos alunos envolvidos,
sobretudo no que diz respeito à concentração e a disciplina.
Devido exatamente aos relatos positivos dos educadores, o projeto foi ampliado
com o objetivo de apresentar aos educadores (professores) o Xadrez como ferramenta de
aprendizagem, bem como a interação do Xadrez e a informática. Para tanto foi lecionado o Xadrez
para professores de diferentes escolas do ensino fundamental de Assis, reunidos semanalmente
na EMEI – João de Castro. A abordagem da interação entre Xadrez e Informática foi postergada,
pois constatou-se que um número reduzido de professores possuíam domínio na área de
informática, necessitando de um treinamento maior, o que, temporalmente não se adequava ao
projeto.
METODOLOGIA DE ENSINO
As reuniões tinham aproximadamente uma hora de duração e tinham por objetivo
relatar experiências realizadas na escola no ano de 2004; ensinar o Xadrez aos professores;
apresentar-lhes uma metodologia adequada para o ensino do jogo a crianças.
No primeiro contato foi apresentado aos professores o jogo de Xadrez e os
benefícios que este pode trazer se aplicado para o desenvolvimento da cognição.
Os principais objetivos do jogo de xadrez foram apresentados aos professores da
rede. Para facilitar a aprendizagem e obter maior motivação dos alunos foi adotada a metodologia
adquirida na experiência anterior (Projeto enxadristíco – 2004). Tal metodologia consiste nos jogos
e dinâmicas pré-enxadrísticos.
Os jogos pré-enxadrísticos são jogos mais simples que visam apresentar o Xadrez
por partes, desmembrando-o em jogos em que apenas um tipo de peça é utilizado. Quanto mais a
aprendizagem do jogo avança, mais peças são envolvidas nos pré-jogos, até que todas sejam
utilizadas, assim se igualando ao Xadrez.
As dinâmicas são atividades lúdicas motivadoras que utilizam o jogo de Xadrez
como tema central. Tais atividades apresentaram resultados eficazes para diminuir a ansiedade e
melhorar a disciplina durante o aprendizado do jogo. As dinâmicas são realizadas a partir do
726
momento em que o ensino do jogo se torna exaustivo. Através dela pode-se utilizar o pátio da
escola e ferramentas lúdicas diversas. Um exemplo bem conhecido de dinâmica enxadrística é o
“Xadrez Vivo”, no qual as crianças tomam o lugar das peças do jogo em um tabuleiro gigante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes mesmo do término do curso de Xadrez para os professores, estes já
relatavam estar utilizando-o em sala de aula, e com resultados eficazes, principalmente quando
aplicado como atividade motivadora.
Conclui-se, portanto, a relevância de projetos que visem aperfeiçoar e desenvolver
práticas que promovam melhorias nas condições de aprendizagem e motivem o ensino em suas
mais variadas formas.
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, P. N. Dinâmica Lúdica: Jogos Pedagógicos.1. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1978.
148 p.
Danoff,J. ; Breitbart, V. ; Barr, E. Open for Children. Nova York, Mc Graw – Hill, 1977, 243
p.
HUIZINGA, J. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. 2. ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1990. 243 p.
PARTOS, Charles. Vide Etude Systematique dês Éschecs, Martigny, Edition A-C Suisse, 1978,
190p.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987. 146 p.
POGLIANO, A. Ajedrez em la escuela. 1. ed. Buenos Aires: Ed. Kapelusz, 1973. 86 p.
SÁ, Antonio V. M. 2004. Disponível em: <htpp://www.clubedexadrez.com.br>.
SMOLE, K. C. S. Ler, escrever e resolver problemas Habilidades básicas para aprender
matemática. 1. ed. Porto Alegre: ARTMED EDITORA, 2001.203 p.
VYGOTSKY, L.L. A Formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes, 1984.
727
Download