ENTREVISTA Diabetes infantil Mais de 380 milhões de pessoas em todo o mundo são atingidos pela diabetes, segundo dados da Federação Internacional de Diabetes. No Brasil, quarto país no ranking com mais casos, há cerca de 13 milhões de portadores, sendo que 1 milhão são crianças, de acordo com a Associação de Diabetes Juvenil. Esse mês a Revista APM Regional Piracicaba entrevista a pediatra, Dra. Ludmila Marie Weiss Aloisi, sobre o tema Diabetes Infantil, confira. tânea. Em geral são necessárias 2 ou 3 aplicações diárias de insulina durante o tratamento ambulatorial. Como diagnosticar? Quais os sintomas? Os sintomas iniciais são muito semelhantes nos dois tipos de diabete, sede e fome exagerados e aumento no número de micções e emagrecimento inexplicável levam a família a suspeitar da doença e procurar o médico. Lactentes geralmente apresentam sintomas inespecíficos como choro frequente, irritabilidade e dificuldade de ganhar peso. Em crianças maiores a queixa de astenia, visão borrada, vulvovaginite e/ou balanopostite por Cândida são comuns. Com a evolução da lesão das células do pâncreas os sintoma se agravam até o quadro de cetoacidose diabética. O diagnóstico é realizado com certa facilidade após algumas semanas dos sintomas. Em alguns casos o diabete pode ter um início mais lento, o que dificulta o diagnóstico. A dosagem de glicose em jejum é o exame inicial a ser feito. A OMS disponibiliza tabelas com os valores a serem considerados normais e patológicos. Para definir diabete mélito tipo 1 deve-se dosar marcadores de autoimunidade. Avaliar também riscos de histórico familiar para diabete mélito tipo 1 ou 2 e obesidade (risco de DMT2) Insulina causa dependência química? Não se trata de dependência química, mas de necessidade vital. Sem insulina, muitos pacientes morreriam. Isso não significa que eles sejam viciados na substância. Além disso, como as crianças estão em fase de desenvolvimento e crescimento, é necessário que se faça a adequação das dose de insulina com uma certa frequência. Um outro fator que influencia no controle da glicemia, são as infecções bastante frequentes na primeira infância. Qual o tratamento mais adequado para as crianças? Tão logo seja feito o diagnóstico deve ser iniciado o tratamento. Devem ser corrigidas a desidratação, a acidose metabólica e criado um plano de manutenção das condições gerais do paciente e do uso de insulina. As necessidades das crianças e adolescentes com diabetes e de seus familiares são especiais e diferentes dos adultos em geral. O tratamento é realizado com aplicações de insulina subcu- 12 Como prevenir? Há prevenção? Por se tratar de uma doença auto-imune, não há prevenção para o DMT1, porém o controle da obesidade é um fator fundamental na prevenção do DM T2, que vem aumentando na faixa etária pediátrica. A Obesidade Infantil pode acarretar a diabetes? A obesidade, por aumentar a resistência insulínica, pode levar ao desenvolvimento de Diabete Mélito tipo 2 e Síndrome Metabólica, igual ao dos adultos. Crianças com diabetes devem seguir dieta? Em relação as recomendações alimentares, não se faz restrição de carboidratos, pois as crianças estão em fase de crescimento, sendo recomendado somente retirar os carboidratos simples (açúcar, mel e doces em geral). É necessário que os pacientes façam de 6 a 7 refeições ao dia em pequenas quantidades, sendo que a última refeição do dia deve ser antes de deitar, evitando desta forma a hipoglicemia. Crianças diabéticas devem cortar todo e qualquer tipo de açúcar? Como trabalhar isso no dia a dia das crianças? Não devem ser cortados radicalmente todos os açúcares da dieta, somente os mais simples (açúcar, mel e doces), pois estes tem uma absorção muito rápida elevando a taxa de glicose rapidamente. A ingestão de alimentos ricos em fibras devem ser incentivados por proporcionarem absorção mais lenta dos carboidratos e açúcares. É um desafio para a equipe multidisciplinar e para a família, que deve estar envolvida no tratamento das crianças e adolescentes, sendo necessário o APM - Regional Piracicaba - Outubro 2015 constante acompanhamento dos pacientes e familiares para o bom controle da patologia. Quais as maiores dúvidas das mães sobre a Diabetes em Crianças? Por se tratar de doença crônica, sem possibilidade de cura, a maior angústia das famílias está em como conviver no dia a dia com as manifestações da doença, como realizar o tratamento com insulina que deve ser aplicada várias vezes durante o dia, além da preocupação com as complicações. Porque o exercício físico pode ser um aliado para o tratamento da Diabetes? O exercício físico é fundamental no tratamento da criança diabética, pois promove diminuição da glicemia, melhora da sensibilidade insulínica e consequente melhora no controle metabólico. Além disso, o condicionamento físico previne a obesidade, promove bem estar geral e melhora a auto-estima. A diabetes pode acarretar outras doenças? Das complicações do DM, a mais temida é a hipoglicemia, além disso podem ocorrer nefropatias, lesões de fundo de olho, doença tireoidiana autoimune associada, neuropatias diabéticas. Nos casos de mau controle diabético pode ocorrer atraso no desenvolvimento puberal e baixa estatura. Dra. Ludmila Marie Weiss Aloisi Pediatra CRM 18833 Foto Arquivo Pessoal O que é diabetes? O diabete mélito é uma síndrome caracterizada por hiperglicemia (aumento da glicose circulante) decorrente da deficiência de secreção de insulina ou falta de ação biológica da insulina. Existem dois tipos de diabete mélito, o tipo 1 que é causado por lesão auto imune das células beta do pâncreas e corresponde a maioria dos casos de diabete em crianças e adolescentes. Recentemente tem-se observado um aumento dos casos de diabete mélito tipo 2, e é causado por resistência insulínica periférica, secundária a obesidade. É o diabete mais frequente na idade adulta. Há ainda outros tipos de Diabete, de outras causas auto imunes, insípido, transitório neonatal, bem mais raros.