Hospital Escola Álvaro Alvim Serviço de Clínica Médica Faculdade de Medicina de Campos História Clínica Identificação: JM, masculino, 65 anos,branco, natural e residente de Campos Queixa Principal: dor em região lombar e lateral ( tóraco-abdominal ) esquerda HDA: Há cerca de 4 meses referindo dor em região lombar e tóracoabdominal esquerda persistente que piorava com a mobilização e mesmo com a respiração, no decorrer do dia e a noite, dificultando o ato de dormir. Negava tosse, sintomas urinários, hematúria ou febre. Referia que nos últimos 3 meses apresentou náuseas ocasionais, anorexia, inapetência e urina algumas vezes turva e com jato urinário fino. Procurou médico geriatra que solicitou alguns exames que se mostravam alterados e encaminhou para avaliação. HPP : DCI, hipertensão arterial há > 10 anos com tratamento irregular com Atenolol 50 mg/dia. HF : Hipertensão arterial (mãe). Negava DM, litíase ou outras enfermidades. HFis.: Boas condições de habitação, alimentação e hábitos de vida. Tabagista de 01 maço/dia por 10 anos até há 15 anos. Exame Físico : Bom estado geral e nutricional, palidez cutâneo-mucosa +/4, fâneros de distribuição e coloração normal, sem adenomegalias palpáveis, jugulares planas em decúbito; RCR em 2 tempos, SS +/6 em ponta e focos de base, sem frêmitos; pulmões aparentemente normais, sem ruídos adventícios; abdome plano sem visceromegalias ou massas e sem dor à palpação; pulsos periféricos palpáveis e simétricos; sem edemas de membros inferiores ou outros locais. Referia dor à palpação em transição condro-costal das 2 últimas costelas. Exame neurológico sumário normal. Exames admissionais Ht: 24% Hb: 8,0 g% Hipocromia moderada com normocitose Lec. Totais: 7600/mm3, com eosinofilia discreta ( 8% ) e restante normal Plaquetas: 146000 ; RDW: 12,1 % VHS: 121 Creatinina sérica: 8,0 mg/dl Glicose: 99 mg/dl Na: 140 mmol/l ; K: 6,0 mmol/l Colesterol: 127 mg/dl ; Triglicerídeos: 105 mg/dl CPK; 104 U/L (38-174) PSA: 0,38 nanog/ml ( até 2,5 ) TSH: 5,22 micro UI/ml ( 0,34 – 5,6 ) EAS: Dens= 1010 ; pH= 6 ; aspecto= lig. Turvo; 4 a 6 piócitos; cristais de urato ++; raras bactérias. Hipóteses diagnósticas e propedêutica Discussão DEBATEDORA: DRA. GISELE ABREU (R2) 25.05.2009 Dados relevantes do caso: Homem, 65 anos, branco; Há quatro meses: dor em região lombar e tóraco-abdominal E; Há três meses: náuseas, anorexia, inapetência e urina turva com jato urinário fino; HAS há 10 anos em uso de atenolol; Ex-tabagista; Palidez cutâneo-mucosa; Sopro sistólico (+/6+); Dor à palpação em transição condro-costal; Ht: 24%, Hb: 8,0g%, VHS: 121mm, Cr: 8,0mg/dL, K: 6,0; PSA: normal, TSH: normal; EAS: Aspecto ligeiramente turvo. Diagrama DOR ÓSSEA ? HOMEM IDOSO ANEMIA + VHS ↑ IR Hipóteses diagnósticas: Tumor ósseo primário: Condrossarcoma TU malígno no qual as células neoplásicas formam cartilagem; É o segundo TU ósseo malígno primário, atrás do osteossarcoma (excluindo o MM); Pode ser dividido em primário e secundário; Pode ser encontrado em pcts desde 5 até 90 anos; Dor, com ou sem massa, é o primeiro sintoma em 75 % dos pcts; Fratura patológica é rara; Ossos da pelve são os locais mais comuns de aparecimento; Apresenta crescimento lento, mas pode produzir metástases em órgãos distantes. Osteomielite: Processo inflamatório acompanhado de destruição progressiva do tecido ósseo, tendo como causa infecção por um microrganismo; Pode ser secundária a um foco contíguo de infecção, à insuficiência vascular ou hematogênica; Staphylococcus aureus é o agente mais frequentemente identificado; Localização mais comum da osteomielite hematogênica, em adultos: coluna vertebral (torácico distal e lombar); Início insidioso, com dor na região da coluna acometida que piora após movimentação, tosse ou espirro; Pode haver febre. O quadro clínico piora progressivamente sem tratamento. Osteoporose: Doença metabólica do tecido ósseo caracterizada por perda gradual de massa óssea, com deterioração da microarquiquetura tecidual e consequente fragilidade óssea; À densitometria óssea verifica-se perda de massa óssea > 2,5 desvios-padrão; Pode ser idiopática ou ser secundária a uma série de condições clínicas: hiperpara, DM, corticosteróides, menopausa cirúrgica, TU’s da MO e MM; Curso insidioso, apresentando sintomas na presença de fraturas; Fraturas mais comuns: compressão vertebral, punho, quadril, fêmur proximal, arcos costais e úmero; Na presença de fratura do corpo vertebral por compressão há dor em região dorsolombar que piora com o movimento; Exames laboratoriais são normais. Osteoartrose: Doença mais frequente do sistema musculoesquelético, acometendo 3,5% da população; Caracterizada por aumento do metabolismo celular articular em resposta a uma degradação cartilaginosa; Fator determinante do processo artrósico: desequilíbrio degradação/reparação; Distribuição similar em ambos os sexos; Principal sintoma: dor articular de duração e intensidade variáveis, com características mecânicas; Sinal propedêutico de importância: caráter difuso da dor; Outros sintomas: rigidez matinal (< 20 min.) e parestesia de MMII e MMSS; Articulações mais afetadas: mãos, joelhos, quadris e coluna vertebral. Amiloidose sistêmica primária: Produção de Igs amiloidogênicas por plasmócitos clonais na MO; 60% dos pcts têm entre 50-70 anos ao diagnóstico; Depósito de substância amilóide pode ocorrer no coração, rim, parede vascular, figado, baço, MO, nervos periféricos e autônomos; Fadiga, fraqueza e perda poderal podem abrir o quadro; 20% dos pcts apresentam insuficiência cardíaca congestiva ao diagnóstico; Amiloidose renal manifesta-se por: proteinúria e síndrome nefrótica com edema periférico, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia; Outras manifestações: anemia, trombocitose, hipogamaglobulinemia e deficiência de fatores de coagulação; Diagnóstico: biópsia em órgão alvo envolvido. Hiperparatireoidismo primário: Doença primária da gld paratireóide decorrente da secreção aumentada ou inadequada do PTH, resultando em hipercalcemia crônica; Mais frequente em mulheres após 60 anos; Etiologia mais comum: adenoma único; Pode ocorrer hipercalciúria (carga filtrada > que a capacidade de reabsorção renal); Quadro clínico: acomete principalmente sistema ósseo e urinário; Pcts sintomáticos podem apresentar somente sintomas urinários e história de nefrolitíase de repetição. Pode haver anomalidades funcionais renais e insuficiência renal; Alterações ósseas: dores ósseas ou articulares, deformidades, fraturas patológicas e lesões líticas; Diuréticos tiazídicos usados na HAS agravam a hipercalcemia; Diagnóstico laboratorial: hipercalcemia + PTH sérico aumentado ou não suprimido. Doença de Paget do osso: Doença osteometabólica focal caracterizada pelo aumento da remodelação óssea em um ou mais sítios do esqueleto; Segunda doença osteometabólica mais comum; Rara em pcts < 40 anos, um pouco mais comum em homens; O dano inicial ocorre por hiperatividade osteoclástica, provocando lesões líticas e osteoporose circunscrita do crânio. Em seguida, há recrutamento de osteoblastos e formação de osso lamelar de forma desordenada; Principal manifestação: é a dor óssea; Pode apresentar complicações neurológicas, ortopédicas, cardiovasculares e transformação maligna (osteossarcoma); Laboratório: hipercalcemia, aumento da FAS. Osteodistrofia renal: Caracteriza-se por anormalidades do osso urêmico. A osteomalácia é um dos achados; Apresenta vários tipos de lesões ósseas decorrentes de alterações do metabolismo ósseo causado pela IRC e diálise; Artrite aguda pode estar presente. Dor óssea pode ser encontrada na presença de osteomalácia; A maioria dos pcts com IRC desenvolve hiperpara e osteodistrofia renal ao longo da evolução da doença. Metástase óssea: Forma mais comum de TU ósseo maligno; Pode estar associada com dor e grave incapacidade; Incidência dos TU primários que apresentam metástase óssea: 49,6%..................mama; 10,5%..................mieloma; 9,6%..................rim; 9,0%..................pulmão; 4,9%..................próstata; 3,7%..................tireóide. Os locais mais comuns de metástase óssea são: vértebras (69%), pelve (41%) e costelas (25%). Metástase óssea: Principal forma de disseminação óssea dos carcinomas é via hematogênica; Adenocarcenoma prostático: - Sintomas urinários obstrutivos, quando há invasão da uretra ou colo vesical (↓ da força do jato, hesitação e micção intermitente com gotejamento pós miccional); - Pode haver dor lombossacra decorrente de metástase óssea; - Anemia por ocupação medular; - Screening: Toque retal e dosagem do PSA sérico; - 25% dos pcts com CA de próstata possuem PSA sérico normal; - Na vigência de metástase óssea o PSA geralmente encontra-se > 50ng/mL. Mieloma Múltiplo: Principal neoplasia plasmocitária (gamopatia monoclonal – comp.M ); População > 50 anos, mais comum em sexo masculino; 10% das neoplasias hematológicas; Marcos da doença gamopatia monoclonal; anemia; dor óssea; hipercalcemia; insuficiência renal. Os plasmócitos neoplásicos se proliferam na MO ocupando o espaço de células hematopoiéticas, liberando substâncias que inibem a proliferação de eritroblastos e que ativam os osteoclastos; Destruição óssea: hiperatividade osteoclástica e inibição osteoblástica; Anomalias cromossomiais são encontradas em até 50% dos casos. Mieloma Múltiplo: Manifestações surgem de forma insidiosa, acometendo principalmente o sist. Hematológico, ossos e função renal; Acomete múltiplos focos da MO funcionante – ossos com MO vermelha; Esses ossos podem ser a fonte de dores contínuas, fraturas patológicas e lesões líticas à radiografia; Anemia ocorre por: ocupação medular e liberação de fatores que inibem a eritropoiese; Há uma hipogamaglobulinemia funcional. Mieloma Múltiplo: Manifestações Clínicas A) Lesões esqueléticas: ► Comuns em sítios de MO funcionante; ► Pcts queixam-se, inicialmente, de “dor reumática” intermitente e localizada pricipalmente em região lombar; ► Fraturas patológicas são frequentes e podem ser confundidas com pleurisia ou doença neurológica; ► A dor é desencadeada pelo movimento; ► Alterações radiológicas: lesões líticas, arredondadas, do tipo insuflantes. RX de crânio com múltiplas lesões líticas sugestivas mas não específicas da dç. ► Plasmocitoma solitário – mieloma localizado. Mieloma Múltiplo: Manifestações Clínicas B) Susceptibilidade a infecções: ► Causada por redução na produção de Igs normais e aumento da degradação periférica das mesmas – hipogamaglobulinemia funcional; ► Redução dos níveis de linfócitos T CD4. Mieloma Múltiplo: Manifestações Clínicas C) Envolvimento renal: ► “Rim do mieloma” – Proteína de Bence Jones; ► Hipercalcemia (nefrocalcinose). É a principal causa de IRA no MM; ► Amiloidose AL – Ocorre em 10% dos casos de MM. Há glomerulopatia, que pode evoluir para sínd. nefrótica; ► Nefropatia por ácido úrico (hiperuricemia crônica – neopl. de elevado turn over celular). Mieloma Múltiplo: Manifestações Clínicas D) Envolvimento neurológico: ► Compressão medular – compressão extra-dural ou das raízes nervosas. Dor radicular, agravada por tosse ou espirro; ► Crises hipercalcêmicas – Cálcio > 12mg/dL; ► Polineuropatia periférica (sensitivo motora) – incomum, geralmente associada à amiloidose ou à sínd. POEMS. Mieloma Múltiplo: Manifestações Clínicas E) Síndrome de hiperviscosidade: ► Excesso de IgM, IgG3 e IgA; ► Cefaléia, fadiga, distúrbios visuais, papiledema, epistaxe, hemorragia retiniana, tinido e ataxia. F) Mieloma Osteosclerótico (Sínd. POEMS): ► Doença diferente do MM clássico, apresentando-se com número reduzido de lesões ósseas e curso mais indolente. Mieloma Múltiplo: Laboratório ► Anemia normocrômica/normocítica (Hb entre 710g/dL); ► Esfregaço de sangue periférico – “empilhamento de hemácias”; ► VHS caracteristicamente muito elevado (> 50mm/h); ► Hipercalcemia (> 10,5mg/dL); ► Aumento da β2 microglobulina (> 2,5mg/l); ► Componente M presente e > 3g/dL à eletroforese de proteínas; ► Proteína de Bence Jones (componente M urinário) à imunoeletroforese urinária; ► A realização da eletroforese de proteínas no soro e da imunoeletroforese urinária é capaz de detectar o componente M em 99% dos casos. Mieloma Múltiplo: Diagnóstico ► Critério obrigatório: PLASMOCITOSE MEDULAR > 10% NO ASPIRADO DE MO. + ► Pelo menos um dos seguintes critérios: ► Componente M no soro > 3g/dL; ► Componente M na urina (Ptn BJ à imunoeletroforese); ► Lesões ósseas líticas (RX convencional ou TC). Diagnóstico P r e s u n t i v o: MiElOmA MúLtIpLo Confirmação diagnóstica: Exames a solicitar ► Laboratoriais: ► Cálcio sérico; ► Proteínas totais e frações; ► Eletroforese de proteínas séricas; ► Imunoeletroforese urinária. ►Imunofixação ► Exames de imagem: ► Radiografia convencional. ► Mielograma. Exames Realizados Laboratório Creatinina: 7,6 mg∕dL Uréia: 222 mg∕dL K:6,4 mg∕dL Cálcio sérico: 10,5mg/dL Proteínas totais: 10,9g ∕dL Albumina: 2,9 g∕dL Globulina: 8g ∕dL Relação A ∕ G: 0,4 Imunofixação: Padrão monoclonal IgG Imunofixação KAPPA USG das vias urinárias Rim direito mede 11.5X5.55cm, heterogenio, apresentando medula ecogênica e discretamente espessada e em pólo superior formação cística medindo 1.72X1.93cm. Rim esquerdo mede 10.8X5.44cm, dimensões normais, apresentando medula ecogênica e discretamente espessada . Cortex medindo 1.90 cm O parênquima é homogênio, com espessura e ecogenicidade normais. Bexiga distendida, de paredes finas e lisas, conteúdo límpido, sem defeitos de repleção. Laudo radiológico RX de Crânio: lesões líticas de dimensões variadas na calota craniana RX de tórax: Fratura no 8 e 9 arcos costais esquerdos Rx de bacia: fratura antiga por avulsão no ílio esquerdo. Entesófito na crista ilíaca esquerda. Diagnóstico Final Comentários Relatora: Dra. Priscila Damião (R1) EPIDEMIOLOGIA É o principal plasmocitárias representante das neoplasias Mais comum: sexo masculino,raça negra,> 50 anos Os marcos da doença são: GAMOPATIA MONOCLONAL, ANEMIA, DOR ÓSSEA, HIPERCALCEMIA E INSUFICIÊNCIA RENAL. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Acometimento de forma lenta e progressiva principalmente :o sistema hematológico, os ossos e a função renal. A anemia →da ocupação medular e dos fatores inibitórios(principalmente)da eritropoiese secretados pelas ”células do mieloma”. 80% dos casos encontra se a cadeia leve do componente M na urina – Proteína de Bence Jones. Por ser tóxico aos túbulos renais ela pode causar um nefropatia crônica – “o rim do mieloma”. A destruição óssea →liberação hipercalciúria→insuficiência renal. de cálcio→hipercalcemia e LESÕES ESQUELÉTICAS Comuns em sítios que possuem medula óssea funcionate: costelas, corpos vertebrais, calota craniana,esterno e porções proximais da cintura pélvica e escapular. As alterações radiológicas → lesões líticas,arredondadas, do tipo “insuflantes” . O acomentimento da coluna vertebral é representada por formação tumoral globular,rarefação óssea e desaparecimento dos discos intervetebrais. Os pedículos são poupados. Diagnostico diferencial→metástase óssea lítica encontrada no carcinoma de mama, pulmão e tireóide. Principais diferenças: 1. a dor óssea do MM é movimento – dependente e na metástase a dor é contínua e com piora noturna; 2. as lesões do MM poupa os pedículos vertebrais e a metástase tem preferência por estas estruturas; SUSCETIBILIDADE A INFECÇÕES A infecção bacteriana é a principal causa de morte. Agentes mais pneumoniae,Haemophylus aureus. comuns influenzae, -Streptococcus Staphylococcus ENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO o Compressão medular - dor radicular, perda da função esfincteriana e paraplegia. Polineuropatia periférica (sensitiva –motora)-Incomum. o Crise hipercalcêmica – cefaléia,náuseas,vômito,desorientação, convulsões generalizadas,torpor e coma. DIAGNÓSTICO O diagnóstico do MM requer um critério obrigatório: PLASMOCITOSE MEDULAR > 10% e mais pelo menos um dos seguintes: 1. Componente M no soro> 3g/dL Componente M na urina Lesões ósseas líticas 2. 3. TRATAMENTO Transplante autólogo- recomenda se em pacientes com MM sintomáticos com idade< 70 anos. Paciente virgem de tratamento →VAD(Vincristin +doxorrubicina +dexametasona) ou dexametasona associado a talidomida Quimioterapias(sem transplante)- indicados para os não candidatos a transplante autólogo(comorbidades, baixo status performance, idade > 60-70 anos). Melfalan + prednisona. Terapia adjuvante: Bifosfonatos( indicado em todos os com lesões ósseas líticas ou osteopenia difusa).