LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM Dr. Cornelius (Neal) Hegeman e Alejandro Cid (eds.) e estudantes de MINTS, Miami: Carlos Ruiz, Rubén Reyes, Alfonso Luis, Felipe González, Luis Pieschacon, Mara Parra, Curso do: MINTS [Seminario Internacional de Miami] 14401 Old Cutler Road Miami, FL 33158 786-573-7001 E-mail, [email protected] Página Web, http://mintsespanol.byethost12.com 2013 1 ÍNDICE LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM COMO ESTUDAR O CURSO INTRODUÇÃO LIÇÃO UM: OS SERVOS DE DEUS (1: 1 - 80) INTRODUÇÃO 1. LUCAS E TEÓFILO (1: 1 - 4) 2. ZACARIAS, ISABEL, JOÃO O BATISTA E GABRIEL (1: 5 - 25) 3. GABRIEL, JOSÉ E MARIA (1: 26 - 38) 4. ISABEL W MARIA (1: 39 - 56) 5. NASCIMENTO DE JOÃO (1: 57 - 66) 6. PROFECIA DE ZACARIAS (1: 67 - 80) CONCLUSÃO LIÇÃO DOIS: O NASCIMENTO E A APRESENTAÇÃO DE JESUS (2: 1 - 52) INTRODUÇÃO 1. O NASCIMENTO DE JESUS (2: 1 - 7) 2. DADO A CONHECER AOS PASTORES (2: 8 - 20) 3. APRESENTAÇÃO DE CRISTO NO TEMPLO (2: 21 38) 4. O REGRESSO A NAZARÉ (2: 39 - 40) 5. O MENINO JESUS NO TEMPLO (2: 41 - 52) CONCLUSÃO LIÇÃO TRÊS: A PREPARAÇÃO DE JESUS PARA SEU MINISTÉRIO PÚBLICO (3:1 - 4: 44) INTRODUÇÃO 1. A PREGAÇÃO DE JOÃO (3: 1 - 20) 2. O BATISMO DE JOÃO (3: 21 - 22) 3. A GENEALOGIA DE JESUS (3: 23 - 28) 4. A TENTAÇÃO DE JESUS (4: 1 - 13) 5. O PRINCÍPIO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (4:14- 15) 6. O INÍCIO DO MINISTÉRIO EM NAZARÉ (4:16-30) 7. A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO EM CAFARNAUM E NA GALILÉIA (4:31-44) CONCLUSÃO LIÇÃO QUATRO: CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (5: 1 - 9: 50) INTRODUÇÃO 1. A PESCA MILAGROSA E O CHAMADO DE PEDRO, JACÓ E JOÃO (5: 1 – 11) 2. JESUS CURA UM LEPROSO E UM PARALÍTICO (5: 12 – 16) 3. OS DISCÍPULOS COLHEM ESPIGAS NA DIA DE REPOUSO (6: 1 – 5) 4. O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA (6: 6 – 11) 2 5. O CHAMADO DOS DOZE APÓSTOLOS (6: 12 – 19) 6. BEM-AVENTURANÇAS E AIS (6: 20 – 26) 7. O AMOR E OS INIMIGOS (6: 27 – 36) 8. JULGAR, PRODUZIR FRUTO E ESTAR FUNDAMENTADO (6: 37 – 48) 9. JESUS CURA O SERVO DE UM CENTURIÃO (7: 1 – 10) 10. JESUS RESSUSCITA O FILHO DE UMA VIÚVA (7:11-17) 11. OS MENSAGEIROS DE JOÃO BATISTA. 12. JESUS NA CASA DE SIMÃO O FARISEU (7: 36 – 50) 13. MULHERES QUE SERVEM A JESUS (8: 1 – 3) 14. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (7: 18 – 35) 15. A LUZ DEVE BRILHAR (8: 16 – 18) 16. A MÃE E OS IRMÃOS DE JESUS (8: 19 -21) 17. JESUS ACALMA A TEMPESTADE (8: 22-25) 18. LIBERTAÇÃO DE UM ENDEMONIADO (8: 26 – 39) 19. A FILHA DE JAIRO E A MULHER QUE TOCOU O MANTO DE JESUS (8: 40 – 56) 20. A MISSÃO DOS DOZE (9: 1-6) 21. A MORTE DE JOÃO BATISTA (9: 7 – 9) 22. JESUS ALIMENTA A CINCO MIL (9: 10 – 17) 23. A CONFISSÃO DE PEDRO (9: 18 – 27) 24. A TRANSFIGURAÇÃO (9: 28 – 36) 25. JESUS CURA A UM JOVEM ENDEMONIADO (9: 37 45) 26. QUEM É O MAIOR? (9: 46 – 50) CONCLUSIÓN LIÇÃO CINCO: O MINISTÉRIO EM PERÉIA E JERUSALÉM (9: 51-19: 27) INTRODUÇÃO 1. JESUS E OS DISCÍPULOS (9: 51 – 10: 24) 2. JESUS ENSINA SOBRE O AMOR (10: 25 - 42) 3. JESUS ENSINA A ORAR (11: 1 - 13) 4. JESUS E OS INIMIGOS DO REINO (11: 14 - 12: 3) 5. JESUS ENSINA COMO SEGUI-LO (12: 4 - 14: 35) 6. JESUS ENSINA COM PARÁBOLAS (15: 1 - 16: 15) 7. JESUS ENSINA SOBRE A LEI (16: 16 - 31) 8. JESUS ENSINA SOBRE A FÉ E A FIDELIDADE (17:119:10) 9. PARÁBOLA DAS DEZ MINAS (19: 11 - 27) CONCLUSÃO LIÇÃO SEIS: A SEMANA DA PAIXÃO (19: 28 - 22: 71) INTRODUÇÃO 1. ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM (19: 28 - 44) 2. PURIFICAÇÃO DO TEMPLO (19: 45 – 48) 3. A AUTORIDADE DE JESUS (20: 1 – 8) 4. OS LAVRADORES MAUS (20: 9 – 18) 5. A REAÇÃO DOS LÍDERES (20: 19 – 26) 6. A PERGUNTA SOBRE A RESSURREIÇÃO (20: 27 - 40) 6. DE QUEM JESUS É FILHO? (20: 41 – 44) 3 7. JESUS ACUSA AOS ESCRIBAS (20: 45 – 47) 8. A OFERTA DA VIÚVA (21: 1 - 4) 9. SINAIS ANTES DO FIM (21: 5 – 24) 10. A VINDA DO FILHO DO HOMEM (21: 25 – 38) 11. O COMPLÔ PARA MATAR A JESUS (22: 1 – 6) 12. A PÁSCOA E A INSTITUÇÃO DA CEIA DO SENHOR (22: 7 – 30) 13. PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO E A QUESTÃO DO SUSTENTO (22: 31 – 38) 14. JESUS ORA NO GETSEMÂNI (22: 39 – 46) 15. A PRISÃO DE JESUS (22: 47 – 71) 16. PEDRO NIEGA A JESÚS (22: 54 – 62) 17. JESUS PERANTE O TRIBUNAL JUDAICO (22: 63 – 71) CONCLUSÃO LIÇÃO SETE: O JUÍZO E A MORTE DE JESUS (23: 1 - 56) INTRODUÇÃO 1. JESUS E PILATOS (23: 1 – 5) 2. JESUS E HERODES (23: 6 - 12) 3. A SENTENÇA DE JESUS (23: 13 – 25) 4. CRUCIFICAÇÃO E MORTE DE JESUS (23: 26 – 49) 5. JESUS É SEPULTADO (23: 50 – 56) CONCLUSÃO LIÇÃO OITO: A GRANDE COMISÃO SEGUNDO LUCAS (LUCAS 24: 1 - 53) INTRODUÇÃO 1. A RESSURREIÇÃO DO FILHO DO HOMEM (24: 1 12) 2. NO CAMINHO DE EMAÚS (24: 13 - 35) 3. AS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO FÍSICA DE JESUS É VISÍVEL E PAUPÁVEL (24: 36 – 49) 4. A CONTINUAÇÃO (24: 50 - 53) CONCLUSÃO CONCLUSÃO MANUAL DO PROFESSOR APÊNDICE BIBLIOGRAFIA BIOGRAFIA FOLHA DE ESTUDO 4 INTRODUÇÃO O propósito deste estudo sobre o Evangelho de Lucas é para saber: Por que foi escrito? Que contribuição apresenta a pesquisa do Evangelho de Lucas sobre a vida e o ensino de Jesus Cristo? Nas introduções dos quatro Evangelhos, o foco cristológico destes livros é identificado no princípio de cada Evangelho. Mateus 1.1: Jesus com filho de Abraão (verdadeiro crente) e Filho de Davi (verdadeiro rei). Marcos 1.1: Jesus Cristo é o Filho de Deusi Lucas 1.1-4: Jesus é o histórico e humano Filho de Deus. João: Jesus é divino, ele é Deus. A identificação do tema principal de Lucas está 4.18 e 19.10. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres...”. (O Messias, o ungido). E, “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Filho do Homem). Uma estrutura cronológica é: Lucas: Jesus Cristo é o Filho do Homem e Messias Histórico e Humano (1.1-4) 1. Prefácio e apresentação dos servos de Deus (Lucas 1.1-80); 2. O nascimentos e a apresentação de Jesus (1.1-52); 3. A preparação de Jesus para seu ministério público na Galiléia (3.1-4.44); 4. O ministério de Jesus na Galiléia (5.1-9.50); 5. O ministério em Samaria e Peréia (9.51-19.27); 6. A semana da paixão (19.28-22.71); 7. O juízo e a morte (23.1-56); 8. Ressurreição, Grande Comissão e ascensão (cap. 24). A chave hermenêutica para estudar Lucas será examinar 8 passagens que se encontram nesse Evangelho. Alguns são parcialmente mencionados em outros Evangelhos e alguns são novos. Cremos que o foco de Lucas pode ser determinando nestas passagens. 5 Material Novo em Lucas1 1.1-4 Prefácio ou Prólogo 1.5-25 Promessa do nascimento de João Batista 1.26-38 O anúncio (Promessa a Maria do nascimento do Salvador) 1.39-45 Visita de Maria a Isabel 1.46-56 O Magnificat (canto de louvor de Maria) 1.57-66 O nascimento de João Batista 1.67-80 O Benedictus (Profecia de Zacarías) 2.1-7 O nascimento de Jesus 2.8-21 O anúncio do nascimento de Salvador aos pastores, “Glória a Deus nas alturas”, a visita dos pastores, a Jesus é dado um nome. 2.22-38 A aprensentação de Jesus no templo o Nunc Dimittís de Simão Ação de graças de Ana 2.39-40 O retorno a Nazaré 2.41-52 O menino Jesus no Templo 3.1-20 O ministério de João Batista 3.23-38 A genealogia de Jesus 4.14-15 O início do grande ministerio na Galiléia 4.16-30 A rejeição de Jesus em Nazaré 5.1-11 Uma pesca milagrosa 7.11-17 A ressurreição do filho da viúva de Naim 7.36-50 Jesus é ungido por uma mulher pecadora A parábola dos dois credores 1 8.1-3 As mulheres que ministram 9.51-56 Uma aldeia samaritana se nega a receber Jesus 10.1-12 A comissão dada aos setenta (ou setenta e dois) 10.17-20 O retorno dos setenta (ou setenta e dois) 10.25-37 A parábola do samaritano compassivo 10.38-42 Maria de Betância faz uma escolha correta Guillermo Hendriksen, El Evangelio según San Lucas, pp. 31 - 33. 6 11.1-4 “Ensina-nos a orar” O Pai Nosso 11.5-13 A parábola do amigo importuno 11.27-28 A verdadeira bem-aventurança 11.37-54 Jesus é convidado a comer na casa de um fariseu. Denúncia contra os fariseus e os intérpretes da lei. 12.13-21 A parábola do rico insensato 12.32-34 “Não temais”. “Vendei os vossos bens e daí esmola” 12.35-40 A parábola dos servos vigilantes 12.49-50 Fogo e Batismo 13.1-5 Arrependei-vos ou perecereis 13.6-9 A parábola da figueira estéril e do viticultor misericordioso 13.10-17 A cura de uma mulher inválida no dia do repouso 13.22-30 A porta estreita 13.31-33 A partida da Galiléia 14.1-6 A cura do hidrópico 14.7-14 Uma lição para os convidados: A parábola dos lugares reservados, e uma lição para o anfitrião 14.15-24 A parábola do convite rejeitado 14.25-33 O custo do discipulado A parábola do homem que edificou sem calcular o custo A parábola do rei razoável 15.1-7 A parábola da ovelha perdida 15.8-10 A parábola da moeda perdida 15.11-32 A parábola do filho pródigo 16.1-13 A parábola do mordomo astuto 16.14-15 Repreensão da justiça própria dos fariseus 16.19-31 A parábola do homem ostentador (o rico) e do mendigo (Lázaro) 17.5-6 “Aumenta-nos a fé” 17.7-10 A parábola do servo inútil 17.11-19 A cura dos dez leprosos, dos quais só um voltou para agradecer 17.20-37 A vinda do reino 18.1-8 A parábola da viúva que perseverou 7 18.9-14 A parábola do fariseu e do publicano 19.1-10 Jesus e Zaqueu 19.11-27 A parábola das minas 19.39-40 “Se estes se calarem as pedras clamarão” 19.41-44 “Quando viu a cidade chorou sobre ela” 21.20-24 O anúncio da destruição de Jerusalém 21.25-28 A vinda do Filho do Homem 21.34-36 Vigiai e orai, lembrando da vinda do Filho do Homem 21.37-38 Resumo do ensino final de Jesus no templo 22.3-6 Satanás entra no coração de Judas 22.14-23 A instituição da Ceia do Senhor 22.24-30 A disputa acerca da grandeza 22.31-34 A oração de Cristo por Pedro 22.35-38 “Porventura vos faltou alguma coisa?” 22.39-46 Jesus no monte das Oliveiras 22.47-53 Traição e Prisão A orelha cortada e restaurada “Esta é a vossa hora” 22.54-62 Pedro nega a Jesus 22.63-65 Jesus é zombado e espancado 22.66-71 Jesus é condenado pelo Sinédrio 23.1-5 Jesus perante Pilatos 23.6-12 Jesus perante Herodes 23.13-25 Jesus sentenciado à morte 23.26-43 Simão de Cirene Choram as filhas de Jerusalém Jesus crucificado entre dois criminosos As duas primeiras palavras da cruz 23.44-49 A morte de Jesus 23.50-56 A sepultura de Jesus 24.1-12 A ressurreição de Jesus 24.13-35 A aparição de Cristo aos de Emaús 8 24.36-49 A aparição de Cristo a seus discípulos 24.50–53 A ascensão de Cristo Nosso estudo se concentrará em oito porções dessas passagens. 9 LIÇÃO UM OS SERVOS DE DEUS (1.1-80) INTRODUÇÃO Enquanto Mateus menciona Maria, José, os magos e João Batista; Marcos adiciona os quatro discípulos pescadores (Simão, André, Tiago e João), e João menciona os demais discípulos; Lucas nos fala de Teófilo, Isabel, Zacarias, Gabriel, Simão, Ana e, além disso, nos dá varias particularidades sobre João Batista, Maria, José e Jesus. Lucas identifica servos de Deus relacionados com os apóstolos, mas fora do círculo imediato dos apóstolos. Neste sentido, o Evangelho de Lucas é uma apologia para os “leigos”, os crentes comuns, os pobres e os servos de Deus. 1. LUCAS E TEÓFILO (1.1-4) Lucas Lucas é o autor do Evangelho de Lucas e de Atos. É o “médico amado” (Cl 4.14). Estima-se que era um judeu grego (da circuncisão). Sua associação é com o apóstolo Paulo (Cl 4.14; 2 Tm 4.11; Fl) É o primeiro historiados da igreja primitiva (Lucas 1.1-4; Atos 1.1). Um judeu grego. Lucas era um judeu grego educado e mostra que o Evangelho não se restringia a judeus hebreus, o evangelho é universal2. “Segundo a voz da tradição, Lucas era grego. A exatidão, a amplitude e a beleza de seu estilo grego concordam com essa crença”. Um leigo. Lucas não é contado como um apóstolo. Como “leigo” tem a mesma graça que tinham os apóstolos para escrever Escritura. Por certo, Lucas estava associado com Paulo e viajava com ele em algumas viagens missionárias (At 15.36-18.22). Nesse sentido, ele é testemunha ocular da vida e ensinos dos apóstolos. Ele nos relata o que investigou junto a testemunhas oculares e fiéis do Senhor Jesus. 2 Hendriksen, p. 23. 10 Um médico. Como médico Luas presta atenção a certos detalhes físicos e emocionais pelos quais são afetados os enfermos. Hendriksen escreve: O ponto de vista equilibrado parece ser que o que sustêm tantos estudiosos – entre eles Berkhof, Harnack, Plummer, Ramsay, Robertson, Zahn – e que é resumido por G. T. Purves em seu artigo sobre Lucas (Westminster Dictionary of the Bible, pp. 364-366). Sua posição é a seguinte: Dado o fato de que Lucas certamente era médico (Cl 4.14), certas passagens do terceiro Evangelho (e Atos) coincidem com essa descrição. Para ver claramente isto, as seguintes passagens deveriam ser comparadas com suas paralelas em Mateus e/ou Marcos: Compare-se pois, Lc 4.28 com Mt 8.14 e Mc 1.30 (a natureza e o grau da febre da sogra de Pedro); Lc 5.12 com Mt 8.2 e Mc 1.40 (a lepra); e Lc 8.43 com Mc 5.26 (a mulher e os médicos). Facilmente podemos adicionar outras. Por exemplo, somente Lucas declara que era a mão direito que estava ressequida (6.6; cf. Mt 12.10; Mc 3.1), e entre os escritores sinóticos somente Lucas menciona que a orelha direita do servo do sumo sacerdote era a que foi cortada (22.50; cf. Mt 26.51 e Mc 14.47). Comparem-se ademais Lc 5.18 com Mt 9.2, 6 e Mc 2.3, 5, 9; e cf. Lc 18.25 com Mt 19.24 e Mc 10.25. Além disso, aqinda é certo que os quatro Evangelho apresentam a Cristo como o Médico compassivo de alma e corpo, e ao fazê-lo revelam que seus escritores também eram homens de terna compaixão, porém em nenhuma parte esse fato é mais abundantemente notório do que no terceiro Evangelho 3. Um historiador. Como historiador, Lucas 1.1-4 identifica seu método como o método de documentar a história. Lucas reconhece outros autores, cita múltiplas testemunhas fiéis e faz sua própria investigação sobre o que havia acontecido. Ele reconhece os escritos de outros: “Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram”. Ele toma emprestado dos autores dos outros Evangelhos e possivelmente de outra fonte que é conhecida como Q. Mas, não é conhecido com certeza qual dos autores do Evangelho escreveu primeiro, mas há um bom consenso de que foi Marcos4. Os autores dos Evangelhos conheciam os demais autores e seus escritos, porém não contradiziam um ao outro, mas tem seus próprios propósitos teológicos e didáticos. Seus escritos são baseados em um duplo testemunho: o testemunho ocular (“viram como seus olhos”) e o testemunho cristão (“ministros da palavra). Além das testemunhas oculares havia os que tinham ouvido das testemunhas oculares e fielmente haviam comunicado a Palavra.5 Assim, a primeira e a segunda geração de testemunhas foram investigadas por Lucas. 3 4 5 Ibíd., p. 18. Ibíd., p. 38. Ibíd., p. 71. 11 Os escritos de Lucas são fruto de investigação das coisas que haviam acontecido. Os escritos de Lucas não caíram do céu, não foram ditados por anjos (ainda que ele faça menção ao que disseram os anjos), não foi ditado por uma voz divina, foram, porém uma investigação árdua realizada debaixo da inspiração do Espírito Santo. Teófilo Um discípulo gentil. Teófilo, “amado de Deus” é o destinatário dos escritos de Lucas (1.3; Atos 1.1). Fora dos escritos de Lucas, a Bíblia não fala mais dessa pessoa. Só sabemos que era “excelentíssimo” e um discípulo que foi instruído no Evangelho de Jesus Cristo. O que podemos discernir da menção de Teófilo como possível oficial gentil, que amava a Deus e discípulo de Cristo e que ele necessitava ler a evidência histórica sobre os ensinos e obras de Cristo. Os escritos de Lucas são uma apologia para os gentios: a verificação do Evangelho de Jesus Cristo para a igreja universal. 2. ZACARIAS, ISABEL, GABRIEL E JOÃO BATISTA (1.5-25) Zacarias Um sacerdote. O anjo Gabriel não aparece ao sumo sacerdote nem aos líderes superiores de Zacarias, nem ao tirando Herodes, mas a este homem, sacerdote humildes e sua esposa. Assim é a graça de Deus, ele se revela aos humildes. Zacarias é sacerdote segundo a ordem de Abias (Lc 1.5; 1 Cr 24.10). O serviço destes sacerdotes era duas vezes por ano, por uma semana. Neste sentido, não era um sacerdote servindo em tempo completo, mas um sacerdote “leigo”. O sacerdócio é necessário para o povo de Deus. Os sacerdotes oram a Deus, são intercessores perante Deus. A oração é simbolizada pelo incenso. Eles também preparam os sacrifícios que são necessários para entrar na presença de Deus. Sem a obra sacerdotal é impossível para o pecador entrar na presença de um Deus santo e perfeito. O pecado impede tal entrada. Para entrar na presença de Deus o homem deve reconhecer e crer no Deus verdadeiro, orar, fazer sacrifício pelo pecado e fazer uma oferenda em gratidão. Deus providenciou o sacerdócio universal (o de Melquisedeque) e o sacerdócio particular para Israel, o de Arão. 12 Casado. Zacarias era casado com Isabel. Eles não tinham filhos, mas eram fiéis em seu matrimônio. A família é a instituição pela qual Deus trabalho no mundo. Na criação original, só estava Deus e a família original: Adão e Eva. Milhares de anos depois, Deus vai trabalhar por meio desta família humilde. Os sacerdotes do Antigo Testamento podiam casar. No Novo Testamento, todos os líderes cristãos tinham direito a casar. Proibir casar era considerado pelos apóstolos uma apostasia (1 Tm 3.1-5). O filho de Zacarias e Isabel, como Abel da primeira família, viria a ser martirizado. Isso aconteceu com Abel, João Batista, os profetas e Jesus que foram perseguidos pelos Caim, Herodes e Pilatos deste mundo. Justo. Este homem humilde é identificado como justo. Sua justiça foi vista por suas vidas irrepreensíveis em todos os mandamentos e ordenanças de Deus. São um contraste aos líderes religiosos que também tinham os mandamentos e ordenanças de Deus, mas rejeitaram ao Messias. A justiça perfeita diante de Deus é uma justiça providenciada por Deus. Por isso, a participação do povo de Deus no sacerdócio é importante. No sacerdócio, Deus mostra a maneira como o homem pode reconciliar-se com Deus. Zacarias e Isabel eram fiéis a Deus e mostram isso obedecendo aos mandamentos e participando nas suas ordenanças. Homem de oração. Zacarias e Isabel havia orando por um filho, mas Isabel era estéril. Eles necessitavam de um milagre de Deus. Gabriel anuncia que “a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João”. (Lc 1.13). A oração é parte da vida espiritual dos crentes. A oração não obriga Deus a agir mas é um apelo à graça e à misericórdia de Deus. Deus é soberano e o crente mostra isso em oração. Não é o crente que é soberano e Deus deve responder. Deus é soberano e o crente responde à graça de Deus. Faltou-lhe fé. Apesar de ser um homem justo e de oração, faltava fé a Zacarias, pois ele não creu imediatamente nas palavras de Gabriel. Os justos não são perfeitos, mas salvos 13 pela graça de Deus. A justiça dos crentes não depende da fé do justo, mas depende de Deus, nos qual o justo crer. Ele ficou mudo. O castigo por não crer nas palavras de Gabriel foi ele ficar mudo até que fosse cumprida a promessa do nascimento de João. Mathew Henry escreve: Zacarias ouviu tudo o que disse o anjo, mas falou com incredulidade. Deus o tratou justamente ao deixá-lo mudo, pois ele tinha objetado a palavra de Deus. podemos admirar a paciência de Deus para conosco. Deus o tratou amavelmente, porque assim lhe impediu de falar mais coisas afastadas da fé e em incredulidade. Assim, também, Deus confirmou sua fé. Se pelas repreensões a que estamos submetidos por nosso pecado, somos guiados a dar mais crédito à palavra de Deus, não temos razão para queixar-nos. Ainda os crentes verdadeiros são dados a desonrar a Deus com incredulidade; e suas bocas são fechadas com silêncio e confissão, quando pelo contrário, teriam devido estar louvando a Deus com gozo e gratidão. Nos tratos da graça de Deus devemos observar suas considerações bondosas para conosco. Ele nos olhou com compaixão e favor e, portanto, assim nos tratou. Foi vindicado. Por fim, Isabel, concebeu e o marido foi vindicado diante do povo. O ter filho era considerado como uma mostra da graça de Deus. Porém, mais que isso, a concepção de João era uma mostra da soberania de Deus e evidência de que Deus estava cumprindo seu plano de redenção. Tal como Sara deu a luz a Isaque, segundo a promessa de Deus, assim Deus continua mostrando seu poder e propósito. (Gn 21.1 e 2; Hb 11.11 e 12). Um profeta. Os versos 67-79 relata a profecia de Zacarias. Zacarias cheio do Espírito Santo, fala do Deus do pacto (1.67-75). O cumprimento das profecias do pacto é importante para mostra a soberania e a misericórdia de Deus. O anelo deste humilde servo de Deus é viver em santidade e justiça (v. 75) diante de Deus. O Salvador ia trazer esta santidade e justiça. Zacarias profetiza sobre seu filho. O filho ia preparar o caminho do Senhor. O Senhor (um nome divino!) vem à terra! Jesus não nasce para chegar a ser divino e Deus (crença mórmon), mas ele é o Filho de Deus que vai ser encarnado como homem. João Batista foi viver no deserto. Tal como o povo de Israel teve que passar pelo deserto para ser preparado para servir ao Senhor, assim João foi preparado no deserto para servir ao Senhor. 14 Isabel De família sacerdotal. Enquanto Zacarias era “da ordem de Abias”, Isabel era da família sacerdotal de Arão. Aqui vemos a preservação da família sacerdotal. Apesar de, por causa do pecado e da corrupção de Israel, os reis e os profetas haviam desaparecido, todavia havia um remanescente sacerdotal fiel. Estava fielmente casada com Zacarias. É importante notar que Zacarias e Isabel observaram a lei e os profetas quanto ao matrimonio monogâmico (Gn 2; Dt 17.7). A poligamia havia destruído as famílias de grandes reis, tais como Davi e Salomão. Por causa das mulheres idólatras e homens adúlteros, os reis pecaram e Israel ficou dividido até hoje. Era estéril, mas concebeu. Tal como Sara (mãe de Isaque), Ana (mão de Samuel) e logo Maria (mãe de Jesus) ela ia conceber de uma maneira milagrosa. Pois, não foi a primeira vez e nem a última que Deus iria intervir na história humana por meio de um milagre. Apesar da esterilidade de Isabel, ela concebeu. “A extrema incapacidade do homem é a oportunidade de Deus” 6. Aqui se vê o imenso amor e misericórdia de Deus para esse casal. Uma mulher. É notável que o primeiro capítulo apresente três mulheres servas de Deus. Elas são Isabel, Maria e Ana. O livro do médico amado tem sido chamado de Evangelho da mulher, devido à terna e profunda consideração do Salvador pelas mulheres que se destaca nesse Evangelho de forma mais clara que em qualquer outro. Por exemplo, note-se a proeminência que se dá a Maria, a mãe de Jesus, e a Isabel (cap. 1 e 2). Recorde-se também que somente esse Evangelho menciona Ana, a profetisa e Joana, a leal seguidora (2.36-28; 8.3; 24.10). A linda história em que Maria (irmã de Marta e Lázaro) faz uma escolha correta também aparece somente aqui (10.38-42). Issto também vale para o emocionante relato acerca da bondade de Cristo mostrada para com a viúva de Naim (7.11-81), e para com a mulher pecadora que ungiu ao Senhor (7.36-50). Ademais, é inesquecível a parábola da Viúva que perseverou (18.1-8). E veja-se 11.27, 28; 13.10-17; 23.27)7. João Batista 6 7 Hendricksen., p. 93. Ibíd., p. 58. 15 Um grande homem. A grandeza de João Batista é muito diferente da grandeza do mundo. “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt 11.11). Era, entretanto, muito humilde. “Com espírito de humildade ele disse: Convém que ele cresça e que eu diminua (Jo 3.30). Em vista do fato de que o próprio Jesus ao descrever a natureza da verdadeira grandeza, sempre a relaciona com a humildade (Lc 7.6, 9; cf Mt 8.8-10; Lc 9.46-48; cf Mt 18.1-5; Mc 9.33-37; e veja-se também Mt 15.27-28)8.” Consagrado e separado para Deus. Ainda que todos os homens possam viver como João, ele foi separado por Deus para preparar o caminho do Senhor. Seu nascimento e ministério vai trazer muito gozo para os crentes (v.14). Cheio do Espírito. A primeira menção do Espirito Santo no Novo Testamento está relacionada com João como um menino não nascido (no ventre da sua mãe). É importante que o nome Espírito Santos seja com letra maiúscula em português porque é um nome próprio. Isso mostra que o Espírito não é simplesmente um espírito que vem de Deus, mas é Deus, a terceira pessoa da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (Mt 28.20). A obra do Espírito Santo é parte da vida de Jesus como Messias. Jesus, como Messias, foi ungido pelo mesmo Espírito Santo. Herodes, o rei da Judéia, ia matar aos meninos em Belém. Aqui vemos um quadro muito diferente entre os que matam meninos e os que voluntariamente abortam meninos. Aqui se vê que a vida humana é sagrada e que Deus pode santificar e usar os meninos para sua glória. Um ministério santo. O ministério de João seria de chamar os israelitas para arrependerem-se, para voltar a Deus e para preparar um povo para o Senhor. A unção do Espírito Santo na vida e no ministério de João Batista mostra-se em santidade: o arrependimento do pecado e reconciliação uns com os outros e com o Senhor. Hoje em dia, pela influência dos neocarismáticos, pensa-se que a unção do Espírito Santo é uma 8 Ibíd., p. 85. 16 experiência de êxtase, uma emoção à parte de um arrependimento sincero, de uma reconciliação autêntica e de um serviço compassivo aos pobres (veja-se Lucas 4.18). Gabriel e Zacarias Os anjos do céu são servos e mensageiros de Deus. São parte da equipe de Jesus. René Zapata escreve: O anjo Gabriel, cuja autoridade, como a de todos os anjos, provém de sua relação com Deus. A palavra anjo provém do grego “angelos”, e é mencionada no Novo Testamento cento e sessenta e cinco vezes. No Antigo Testamento é usada a palavra “malak” que aparece 108 vezes. Em ambos casos a correta tradução para o nosso idioma é “mensageiro”. A Bíblia nos declara que são seres criados por Deus. Em Colossenses 1.6: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”9. Os anjos não aparecem todos os dias. Só vêm em tempos especiais quando a história de redenção está desenvolvendo eventos especiais. No Antigo Testamento encontramos a “Malak Adonai”, o anjo do Senhor. Consideramos que foi o próprio Filho de Deus préencarnado. Também havia outros anjos tais como Gabriel e Miguel. No ministério do Senhor Jesus Cristo os anjos desenvolveram muitas tarefas muito importantes: 1. Anunciaram seu nascimento (Lc 1.35); 2. Anunciaram com um cântico a chegada de Jesus Cristo aos pastores (Lc 2.8-15); 3. Indicaram o perigo para Jesus Cristo a José, seu pai (Mt 2.13); 4. Serviram a Jesus Cristo depois das três tentações (Mt 4.11); 5. Um anjo o ajudou nos momentos mais difíceis na jardim (Lc 22.43); 6. Anunciaram a ressurreição (Lc 24.1-5); 7. Estiveram na ascensão para dar instruções aos discípulos (At 1.10-11)10. A concepção, o nascimento, a fuga para o Egito, a tentação, a paixão, a ressurreição e ascensão de Jesus foram tempos quando houve intensas atividades angélicas na primeira vinda do Senhor. Gabriel aparece para anunciar a concepção, o nascimento e o ministério de João tal como estes dados sobre Jesus. 9 10 René Zapata, “Lucas” CBNC, p. 16. Ibíd., pp. 16-17 17 Gabriel significa “homem poderoso de Deus”, é mencionado na Bíblia em Daniel 8.16: “Gabriel, dá a entender a este a visão”. E em Daniel 9.21, 2. “Falava eu, digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde. Ele queria instruir-me, falou comigo e disse: Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido”. Gabriel é um dos dois anjos na Bíblia que são nomeados. O outro é Miguel, o anjo guerreiro. Gabriel como já o havia feito antes e o faria posteriormente com Maria, tem a grande tarefa de dar a palavra de esperança e de boas notícias, já que em Lucas 1.19, ele identifica a si mesmo como mensageiro de boas notícias. Gabriel, o anjo do Senhor, que se dedica a explicar ou revelar, ou aclarar as visões que Deus mostra ao homem, se apresentou a Zacarias no momento preciso, o de maior importância em sua função como sacerdote, quando devia queimar o incenso. O destinatário de sua mensagem era alguém que podia entendêlo porque conhecia sobejamente o ensino de que Elias ou alguém de características similares precederiam ao Messias tão esperado em sua vinda. A surpresa e temor característicos tomaram conta de Zacarias”11. 3. GABRIEL, JOSÉ E MARIA (1.26-38) Gabriel e Maria Enquanto Gabriel fala com Maria, segundo Lucas, Mateus relata como o anjo fala com José três vezes (em relação a Maria, para escapar de Herodes e para voltar a Israel). Segundo Mateus, Gabriel dá detalhes importantes sobre a concepção e o nascimento de Jesus. O nascimento é em cumprimento às profecias de Isaías (7.14; 9.6) e será realizado pelo Espírito Santo. Gabriel também anuncia os nomes do filho que ia nascer: Jesus (Salvador) e Emanuel (Deus conosco). Deus enviou seu anjo especial para repetir e afirmar a profecia de que Jesus é Emanuel, Deus conosco, o Filho de Deus. Segundo Lucas Gabriel afirma a concepção milagrosa (v. 31) e a explica com detalhes (v. 35). Jesus será concebido pelo Espírito Santo e assim nasce como Filho de Deus. Assim, a divindade e a eternidade do Filho de Deus se mantêm na encarnação. Gabriel afirma o nome humano do menino, Jesus (Salvador). Além disso, identifica Jesus como Filho do Altíssimo e o Rei terno. Gabriel apresenta a obra de Deus, o Pai, o Filho, e o Espírito Santos de uma maneira que nenhum ser humano poderia explicar. Por isso, esta revelação vem diretamente, por meio de anjos celestiais, para explicá-la aos servos de Deus. Então, Lucas chega a ser “angelio” mensageiro desta boa notícia e nós, os leitores, somos responsáveis por crer e comunicar essa mensagem aos demais. 11 Ibíd., p. 17. 18 Maria Matthwe Henry resume: Aqui temos um relato da mãe de nosso Senhor; embora não devamos orar a ela, de todos modos devemos louvar a Deus por ela. Cristo devia nascer miraculosamente. O discurso do anjo somente significa: "Salve, tu que és a escolhida e favorecida especial do Altíssimo para ter a honra que as mães judias desejaram por tanto tempo". Esta aparição e saudação prodigiosas atordoaram a Maria. O anjo lhe assegurou então que ela tinha achado favor com Deus e que seria a mãe de um filho cujo nome ela devia chamar de Jesus, o Filho do Altíssimo, um em natureza e perfeição com o Senhor Deus. Jesus! o nome que refresca os espíritos desfalecentes dos pecadores humilhados; doce para pronunciar e doce para ouvir, Jesus, o Salvador. Não conhecemos sua riqueza e nossa pobreza, portanto, não corremos a Ele; não percebemos que estamos perdidos e perecendo, em conseqüência, Salvador é palavra de pouco deleite. Se estivermos convencidos da imensa massa de culpa que há em nós, e a ira que pende sobre nossas cabeças, preste a cair sobre nós, seria nosso pensamento contínuo: É meu o Salvador? Para que possamos achá-lo, devemos pisotear todo o que estorva nosso caminho a Ele. A resposta de Maria ao anjo foi a linguagem da fé e humilde admiração, e ela não pediu sinal para confirmar sua fé. Sem controvérsia, grande foi o mistério da santidade, Deus manifestado em carne (1 Tm 3.16). A natureza humana de Cristo devia produzir-se dessa forma, para que fosse adequada para Aquele que seria unido com a natureza divina. Devemos, como Maria aqui, guiar nossos desejos pela palavra de Deus. em todos os conflitos devemos lembrar que nada é impossível para Deus; e ao lermos e ouvirmos suas promessas, convertamo-las em orações: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra"12. José Lucas quase não menciona José. O sonho de José foi contado em Mateus 1. Mateus 1 também relata a genealogia de Jesus segundo a linhagem de José, ainda que José não seja pai biológico de Jesus. A genealogia mostra a herança legal de Jesus. Lucas, pois, completa a informação sobre o anúncio do nascimento de Jesus e mostra a legalidade da genealogia de Jesus. Jesus O primeiro capítulo tem muitos dados importantes sobre Jesus. Vamos mencionar os mais sobressalentes nomes. 12 Matthew Henry, Op. cit., 19 Jesus (v. 31). Mateus 1.21 dá a definição: ele salvará seu povo de seus pecados. Ele é o Salvador de seu povo. Ele vai perdoar os pecados de seu povo. Ele não é o Salvador de todos os seres humanos no mundo, mas de seu povo que está em todas as partes do mundo e que vive em todas as classes de pessoas no mundo. Ele não vai perdoar os pecados de todo o mundo, mas os pecados de seu povo que se encontra no mundo. Filho do Altíssimo. (v. 32). Ele é o Filho, não de um Deus, como os tinham os gregos e romanos, mas Filho do único Deus supremo. Ente Santo. (v. 35). O Filho não terá o pecado de Adão, nem o pecado de sua mãe Maria, porque é concebido pelo Espírito Santo. Se o Salvador tivesse pecado, não poderia ser o substituto para seu povo e morrer por eles. O sacrifício do substituto deve ser perfeito. Filho de Deus. Sendo Ele concebido pelo Espírito Santo, Jesus, diferentemente de João e de todos os seres humanos, segue sendo o Filho eterno de Deus. A concepção do Espírito Santo garante a continuação da natureza divina de Jesus e sua relação paternal com Deus, o Pai. Salvador. (v. 47) Maria confessa que Jesus é Deus e Salvador. Ela não é a mãe de Deus, porque como Filho eterno de Deus, ele não tem mãe divina. Jesus é o filho humano de Maria. Maria é a mãe humana de Jesus como homem. Poderoso Santo. (v. 49). Além de ser o “ente santo”, ele é o Poderoso Santo. Como santo, ele tem o poder de pregar sobre a santidade de Deus e perdoar os pecadores que nele crêem. Suas vocações. Ele vai reinar sobre o trono de Davi, sobre a casa de Israel e para sempre. O reino de Jesus Cristo é pela igreja. Lucas nota como Deus vai tratar com os humildes: Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. 20 Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais. (vs. 51-54) A obra do Senhor para exaltar os humildes e humilhar os ricos é um tema mostrado no anúncio de seu ministério, nas bem-aventuranças, em sua resposta aos discípulos de João e em seus milagres e ensinos. 4. ISABEL E MARIA (1.39-56) A visita de Maria a Isabel confirma a vocação especial de ambas servas de Deus. A vocação de todas as mães é sagradas, sendo que são os instrumentos de Deus para trazer vidas humanas ao mundo. Maria e Isabel nos faz recordar a primeira mãe de todos os seres viventes, Eva. Ainda que Eva tenha sido instrumento do diabo, agora estas duas filhas de Eva serão servas na restauração e salvação de Deus13. Isabel está grávida de João. O propósito de João é preparar o caminho do Senhor. Isabel reconhece que o menino de Maria é o Senhor. Tal como José não era pai do Filho de Deus – o Filho de Deus foi concebido pelo Espírito Santo para preservar a natureza divina – assim Maria não é mãe de Deus, mas mãe de Jesus segundo sua humanidade, não segundo sua divindade. A relação e distinção entre a natureza divina e a natureza humana de Jesus deve ser preservada. Jesus é uma pessoa com duas naturezas14. Quando Isabel entrou na presença de Maria, João saltou no ventre daquela. Pelo poder do Espírito Santo, João estava afirmando seu propósito de vida15. Enquanto Herodes e os inimigos de Deus estavam planejando a morte de Jesus, até os meninos não nascidos, estavam cumprindo sua missão. A missão de Deus é cumprida pelo poder do Espírito Santo, trabalhando pelos servos de Deus, sejam adultos ou meninos não nascidos. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e por isso pode testemunhar e profetizar. O que era um testemunho e profecia particular para Isabel viria a ser uma experiência para todos os crentes e seus filhos com a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2.17). 13 É de acordo com esse contexto que podemos entender 1 Tm 2.15. A restauração, a dignidade da vocação de mã e exaltada. 14 No Concílio de Éfeso (431) Maria foi declarada Mãe de Deus. A distinção entre a natureza humana e a natureza divina não foi honrada. 15 A vida humana começa na concepção, tal como vida de Jesus (Lucas 1: 31). Por isso, o aborto é um crime contra Deus e contra a humanidade. 21 Maria profetiza também. A primeira coisa que ela confessa é que ela é pecadora e necessita de um Salvador: “meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador”. Só um pecador precisa de um Salvador. Não menção alguma nas Escrituras de que Maria era imaculada sem pecado. Maria nota que ela é uma humilde serva que foi exaltada. E nota que não somente ela, a humilhação dos ricos e a exaltação dos humildes por Deus, iriam acontecer em Israel. Pelo Espírito Santo, Maria fala de Jesus como Senhor e Salvador. Ela afirma que o Salvador é Deus. Afirma a divindade e deidade do filho que ia nascer. O Filho de Deus é Deus desde a eternidade, por isso é concebido pelo Espírito Santo. O Filho de Deus não vem a ser Deus, como pensam os mórmons, mas é declarado Deus já em seu nascimento. 5. O NASCIMENTO DE JOÃO (1.57-66) O nome de João é dado pelo anjo Gabriel (1.13). A mão do Senhor está com João desde antes do seu nascimento. Assim, isso é uma demonstração da soberania e da eleição de Deus. Desde antes da fundação do mundo, Deus havia planejado e predestinado seus filhos no plano da salvação. Esta passagem curta afirma de novo a soberania de Deus na vida de João e seus pais. 6. A PROFECIA DE ZACARIAS (1.67-80) Na profecia de Zacarias, pai de João, se vê a profissão de fé no Deus verdadeiro, a confissão da necessidade de um Salvador e uma descrição da obra de redenção de Deus por meio de Israel. A profecia de Zacarias é fruto da inspiração do Espírito Santo. É um modelo de como a santidade e a verdade do Espírito viria a funcionar na vida de Jesus e nos crentes em Jesus. CONCLUSÃO Os servos de Deus são o humilde povo de Deus. O anúncio do plano de Deus para o nascimento de João e de Jesus não foi dado ao sumo sacerdote, aos escribas, aos fariseus ou a outros líderes religiosos. O anúncio do nascimento de João e Jesus é dado aos leigos, aos 22 sacerdotes de baixo escalão e às mulheres. Deus é capaz de exaltar os humildes e humilhar os que pensam que são grandes. Deus usa a vocação de pai e mãe e também as vocações espirituais de profecia e sacerdócio, para trazer salvação e redenção ao povo de Deus. O plano de salvação apresentado em Lucas 1 não é obra dos líderes políticos ou religiosos. Não é obra dos seres humanos. É obra de Deus, executado pelos anjos de Deus e seus humildes servos. É obra de um Deus soberano que presta atenção a detalhes tais como os nomes e condição espiritual de seus humildes servos e servas. 23 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 1 1. Em comparação com Mateus, Marcos e João, qual é a perspectiva cristológica do Evangelho segundo Lucas? 2. Quem é Lucas? Quais sãos suas características importantes? 3. Que método é identificado por Lucas de como ele escreveu o Evangelho? 4. Quem é Zacarias? Como sabemos que é um fiel servo de Deus? Era um homem perfeito? 5. Quem é Isabel? Que papel ela desempenha como serva de Deus? 6. Por que a obra sacerdotal é importante? 7. Que diferença há entre a narrativa de Mateus e Lucas quando ao anúncio do nascimento de Jesus? 8. Como foi preservada a natureza divina do Filho de Deus no seu nascimento? 9. Maria é mãe de Deus? Como devemos ver a relação entre Maria e Jesus? 24 10. Como notamos o tema da exaltação dos humildes e a humilhação dos grandes no primeiro capítulo de Lucas? 25 LIÇÃO DOIS O NASCIMENTO E A APRESENTAÇÃO DE JESUS (2.1-52) Carlos Ruiz INTRODUÇÃO Talvez pudéssemos nos perguntar a razão pela qual Deus decidiu que havia chegado “a plenitude dos tempos” (Gl 4.4-5) durante a época em que o Império Romano governava o mundo para a chegada do Seu Filho à terra. Talvez nunca conheçamos todas as razões disso, mas, o que sabemos é que foi uma época de grande expectativa na comunidade judaica; sem dúvida não esperavam um Messias nas condições humildes e de pobreza nas quais veio o Salvador, o Filho do homem. Lucas registra um pouco desta grande expectativa através da passagem sobre um homem justo e piedoso chamado Simeão, a quem o Espírito Santo havia dito que não morreria sem ver o Cristo de Deus (Lc 2.25-26). Neste capítulo Lucas continua sua apologia para aqueles crentes comuns ou “leigos”, os servos de Deus. Lucas relata a visita do anjo aos pastores, mas se abstém de mencionar os reis Magos, assim ele cria um retrato perfeito sobre o nascimento humilde de nosso Criador e se assegura de que o leitor experimente cada um dos detalhes sobre sua humilde condição e pobreza, sem dúvida aquém do que qualquer rei humano haveria requerido para o nascimento de seu primogênito. Posteriormente nos apresenta um Jesus consciente do papel que veio desempenhar nessa terra; mesmo com pouca idade já sabia dos “negócios de Seu Pai” (Lc 2.49)16. Nesse capítulo estudaremos as seguintes passaagens: 2.1-7 O nascimento de Jesus 2.8-21 O anúncio do nascimento do Salvador aos pastores “Glória a Deus nas alturas” A visita dos pastores, a Jesus é dado um nome 2. 22-38 A apresentação de Jesus no templo O Nunc Dimittis de Simeão Ação de graças de Ana 16 Hendricksen, pp. 109, 110. 26 2.39-40 O retorno a Nazaré 2.41-52 O menino no templo 1. O NASCIMENTO DE JESUS (2.1-7) Poderíamos dizer que este é o tema central deste capítulo, o nascimento do nosso Redentor. Lucas começa marcando historicamente os fatos mediante a menção do censo ordenado por Cesar Augusto (imperador Romano de 27 aC. a 14 dC.), sobrinho de Julio César, que gozou de uma grande reputação por respeitar os costumes, convicções religiosas e leis de suas colônias derrotadas, sempre e quando estas não interferiam nos interesses de Roma17. Miquéias 5.2-5 estabelece Belém como o lugar onde Jesus haveria de nascer já que tanto José como Maria pertenciam à cada de Davi. Esta cidade histórica de Davi é mencionada várias vezes na Bíblia (1 Sm 20.6; 2 Sm 23.15-16). Seu nome significa: “cada do pão” que tem de certo modo um tom profético já que Jesus chamou a si mesmo de “o pão da vida” 18. O padrão do censo era do tipo familiar, segundo Hendriksen e Zapata. Logo, foi necessário que Maria viajasse à sua cidade natal. As circunstâncias do nascimento de Jesus foram muito difíceis. Cristo nasceu numa hospedaria; a maioria dos comentaristas bíblicos o põem numa cova que servia de estábulo nas pousadas já que não havia lugar para José e sua família. Alegoricamente isso nos mostra que veio ao mundo apenas temporariamente, como quando se fica em uma pousada, para nos ensinar a fazer o mesmo. Foi assim também sua vida na terra segundo ele mesmo disse: “As raposas têm os seus covis e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. A menção de Lucas sobre a primogenitura de Jesus é ressaltada, pois Maria não teve relações com José antes do nascimento de Jesus (Mt 1.15). A citação de Marcos 6.3,4 nos mostra que sem dúvida Maria teve mais filhos depois do nascimento de Jesus e que seus irmãos foram: Tiago, José, Judas e Simão e também menciona-se algumas irmãos cujos nomes não são citados19. 17 18 19 Hendiksen, pp. 111, 112. Zapata, p. 26. Ibíd., p. 27. 27 2. DADO A CONHECER AOS PASTORES (2.8-20) Os anjos fora mensageiro de boas novas sobre o recém-nascido Salvador, mas foram enviados só a alguns pastores pobres, humildes, piedosos e trabalhadores, que estavam ocupados em sua vocação, vigiando seus rebanhos20. Os pastores eram pessoas depreciadas pela sociedade que vigiavam os rebanhos à noite para protegê-los de ladrões e animais. Crê-se que a aparição angelical foi no “campo dos pastores” a um quilômetro ao leste de Belém. Esse mesmo campo, que 1.100 anos antes havia pertencido a Boaz, foi o lugar onde se desenrolou o romance entre Rute e Boaz, antepassados de Jesus21. O relato de Lucas deixa muito claro que estes pastores, aos quais se fez a proclamação do nascimento do Salvador eram diferentes. Eram homens devotos, provavelmente conhecedores da profecia messiânica, e como Simeão, “esperavam a consolação de Israel” (Lc 2.25). Notemos como o anjo de dirigiu a eles em Lucas 2.10-12, e vejamos também sua reação exemplar (Lc 2.15, 17, 20)22. O anjo se apresenta ante os pastores de forma repentina. A glória do Senhor mencionada em várias ocasiões no Antigo Testamento os rodeia (Ex 16.10; 24.16; Lc 9.23; 1 Rs 8.11). No Antigo Testamento a glória do Senhor é a prova da sua presença. A glória do Senhor, também conhecida como Shekinah ou sinal visível da presença de Deus, é bem conhecida no Tabernáculo de Moisés como algo tangível, sempre relacionada com a luz, um resplendor ou uma nuvem; é um dos temas especiais que encontramos na Bíblia, a revelação de Deus ao homem. Ezequiel foi transladado em uma nuvem para ver, em uma viagem singular, através do tempo, a glória futura da cidade celestial. Jesus Cristo foi arrebatado ao céu em uma nuvem e os anjos disseram que voltaria da mesma maneira. No Antigo Testamento fazem-se muitas referências à Glória do Senhor em uma nuvem. Uma nuvem de luz iluminou a Jesus Cristo em seu encontro, no monte da transfiguração, com Moisés e Elias, etc23. Devido ao pecado do povo de Israel, a presença da glória do Senhor estava escondida atrás do véu do santuário do templo. Mas, o fato de que a glória do Senhor rodeava estes pastores humildes, significava que agora havia chegado o novo pacto no qual o Senhor vive junto com seu povo. A reação dos pastores é, inicialmente, de temos. Ninguém pode ver a glória do Senhor e sobreviver. Mas, o anjo dos Senhor os consola. Esta luz não é mortal para 20 21 22 23 Matthew Henry, p. 3. Zapata, p. 27. Henricksen, p. 120. Zapata, pp. 27, 28. 28 os homens pecadores, pois traz boas novas de grande gozo que será para todo o povo. Isto quer dizer: o gozo imenso de um povo que foi reconciliado com Deus, e que agora pode ver viver em sua glória, será efetuado por aquele que acabava de nascer24. No versículo 11 Lucas menciona: “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. A ênfase destas palavras está na palavra “Salvador”. O menino recém-nascido libertará do pecado; seu objetivo é lograr que o povo possa viver junto a Deus. O que os anjos exclamaram ou gritaram no verso 14 causa certa controvérsia quanto a se usaram a palavra eudokia (boa vontade, beneplácito), ou se disseram eudokias (a mesma palavra com sigma o “s” ao final de beneplácito). Os textos gregos variam nas opções. Alguns intérpretes, aceitando a primeira leitura como genuína, adotam o primeiro ponto de vista, segundo o qual os anjos disseram: “Glória a Deus nas alturas, e na terra paz, boa vontade para com os homens”25. Outros, havendo aceitado a segunda leitura, adotam o segundo ponto de vista, segundo o qual os anjos disseram: “Glória a Deus nas alturas e sobre a terra paz entre homens de seu beneplácito”26. O genitivo significa simplesmente “de seu beneplácito”. O beneplácito de quem? Claramente de Deus. Os anjos não estão se gloriando no homem nem em seus méritos, mas em Deus e em sua graça (Ver Mt 11.26; Lc 10. 21; Ef 1.4, 5, 9). Logo, quando expressamos em seu sentido pleno, a interpretação do segundo ponto de vista, é esta: “E sobre a terra paz entre os homens a quem Deus escolheu por sua graça”. Sua soberana benevolência está neles. Com eles, ele está satisfeito27. A boa vontade Deus para com os homens está manifestada no envio do Messias, que redunda em sua glória. A redenção do mundo é para sua glória nas alturas. A boa vontade de Deus ao enviar o Messias, trouxe paz a este mundo, como menciona Matthew Henry em seu comentário. A passagem nos diz que os pastores não perderam tempo; se foram prontamente, apressados ao lugar sinalizado pelo anjo. Apressaram-se para chegar em Belém a ver o cumprimento da Palavra que o Senhor lhes havia dado. Satisfeitos tornaram conhecido por 24 Matthew Henry, p. 4. A Revista e Corrigida traz uma tradução semelhante da Reina Valera de 1960, usada pelo autor. Nota do Tradutor. 26 Essa é uma opção mais próxima da Revista e Atualizada, bem como da NVI. Nota do tradutor. 27 Hendricksen, p. 125. 25 29 toda parte acerca do menino, que Ele era o Salvador, Cristo o Senhor. Nos versos 18-20 podemos ver três tipos de reações: a primeira de gozo por parte dos pastores, a segundo de silencia por parte das pessoas em geral e a terceira de Maria que comparava as palavras que ouvia com as que anteriormente lhe foram ditas pelo anjo Gabriel e Isabel, tratando de entender (uma tradução melhor que “meditar”) todas elas; e ao fazer isso, as guardava em seu coração. 3. APRESENTAÇÃO DE CRISTO NO TEMPO, O NUNC DIMITTIS DE SIMEÃO E A AÇÃO DE GRAÇAS DE ANA Nos versículos 21-39 lemos como Jesus foi posto debaixo da lei. No oitavo dia, Ele foi circuncidado. Através desta circuncisão, Jesus foi incorporado ao povo de Israel no pacto de Deus com Abraão. A circuncisão também significava que o israelita devia arrepender-se e viver em um novo estilo de vida. Jesus não necessitava de nenhuma dessas coisas, já que nasceu sendo Filho de Deus sem pecado. Entretanto, para nós é uma pregação do Evangelho. Jesus foi circuncidado e desta maneira tratado como pecador, como se necessitasse da graça de Deus para adquirir graça para nós. Era um costume judeu levar o menino recém-nascido para ser circuncidar no templo de Jerusalém quando se cumpriam os oito dias (Gn 17.12; Lv 12.3; cf. Lc 1.59). O nascimento de um menino era considerado um dom de Deus e um acontecimento muito importante na vida de uma mulher. Por isso, ela tinha de oferecer dois animais, um para expressar sua gratidão a Deus e outro para receber o perdão de Deus por qualquer pecado que tivesse cometido. Maria ofereceu o sacrifício dos pobres, previsto pela lei, duas rolas ou pombos jovens, em vez de um cordeiro e uma pomba28. O submeter-se à circuncisão foi um elemento na obediência requerida do Salvador, e sem esta obediência não poderia ser verdadeiramente Jesus, isto é, Salvador, e foi o nome dado pelo anjo antes da sua concepção. Tão importante era este nome que tanto José (Mt 1.21) como Maria (Lc 1.31) haviam sido instruídos para darem ao menino. Jesus não nasceu em pecado e não precisou da mortificação de uma natureza corrupta ou da renovação para santidade, que era o significado da circuncisão. Esta ordenança foi, no 28 Zapata, p. 30. 30 seu caso, uma garantia de sua futura obediência perfeita de toda a lei, em meio a sofrimentos e tentações, mesmo até a sua morte por nós. Nos versículos 22-24 se nos fala da apresentação de Jesus; o trouxeram a Jerusalém para apresentá-lo no templo. O salvador recém-nascido é levado à casa de Deus pela segunda vez. Lucas nos comenta que isso aconteceu quando os dias da purificação de Maria se cumpriram. A apresentação significava na cultura judaica que cada primeiro menino dos israelitas, o primogênito, tinha que servir a Deus no templo. Mas devido a seu pecado o povo de Israel havia perdido esse direito; Deus havia designado à Tribo de Levi como a tribo que lhe serviria na área sacerdotal (Nm 3). Ao final de quarenta dias, Maria foi ao templo para oferecer os sacrifícios estabelecidos para sua purificação. Jose apresenta também ao santo menino Jesus, porque como primogênito, tinha que ser apresentado ao Senhor, e ser redimido conforme a lei. “Apresentemos nossos filhos ao Senhor que no-los deu, rogando-lhe que os resgate do pecado e da morte, e os faça santos para Ele” 29. Simeão e o Nunc Dimittis Pouco se sabe de Simeão. Esta passagem não estabelece que ele estava investido de algum ofício específico; por exemplo, o de sacerdote. Parece que era o que hoje chamaríamos de “leigo”. A Bíblia nos mostra que a igreja precisa tanto dos leigos como dos ministros ordenados. Não somente Moisés e Josué ocuparam um lugar de importância nos negócios do reino, mas também Eldade e Medade que era “leigos” (Nm 11.26-29). Simeão é descrito como justo. Também o era José, o esposo de Maria (Mt 1.29) e também assim é descrita Maria, Zacarias e Isabel (Lc 1.60) E não nos esqueçamos de José de Arimatéia (23.50). Simeão era “justo e piedoso”. Podemos ver outros exemplos de homens piedosos em Atos 2.5; 8.2; 22.12. Com a máxima prudência estes homens assumiram os deveres que Deus lhes tinha atribuído. São conscienciosos em seus planos, tendo sempre como objetivo maior melhorar o bem-estar deles mesmos e o seu próximo, para a glória de Deus. Esta combinação “justo e devoto” pode muito bem indicar que Simeão se conduzia de 29 Matthew Henry, p. 4. 31 tal modo que sua conduta com respeito aos homens (era justo) e para com Deus (era piedoso) era objeto da aprovação divina30. Simeão viu ao menino, o tomou em seus braços e louvou a Deus dizendo as palavras proféticas que seguramente o Espírito Santo, que lhe havia feito previamente reconhecer ao menino, pôs em sua boca para que ficasse registrado para todo o mundo, inclusive para nós hoje31: Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel. Segundo a enciclopédia britânica o termo Nunc Dimittis provém do latim. Nunc que significa “agora” e Dimittis que significa “enviar para fora”, na segunda pessoa do singular. “Nunc Dimittis servum tuum”. “Agora Soberano Senhor, estás despedindo o teu servo”, é usado como cântico na liturgia católica, e é conhecido como Nunc Dimittis ou cântico de Simeão32. O conceito “tua salvação” é definido por Simeão como “luz” e glória”. Para os gentios a salvação é luz: o verdadeiro conhecimento de Deus, santidade e amor, gozo como nuca antes havia sido experimentado. Por certo, é também luz para Israel, mas a expressão é particularmente adequada quando se aplica aos gentios devido a que suas trevas eram mais profundas. Para Israel a salvação é glória. Também é glória para os gentios, mas ninguém que conheça a Bíblia deixará de entender porque esta descrição é apropriada especificamente para Israel, já que é com Israel que nós associamos a Shekinah, isto é, a nuvem de luz, uma das manifestações da presença do Senhor da qual falamos anteriormente33. “O mesmo Espírito que proveu para sustentar a esperança de Simeão, proveu para seu gozo”, menciona Matthew Henry em seu comentário. AÇÃO DE GRAÇAS DE ANA 30 Hendriksen, p. 131. Zapata, p. 31. 32 www.britannic.com 33 Hendricksen, p. 134. 31 32 Seu nome significa “Graça”. Era viúva, filha de Fanuel. É a transliteração grega do nome hebraico mais conhecido Penuel, que também se escreve Peniel. Lembremos que Jacó, ao voltar para sua terra, foi deixado sozinho junto ao vau de Jaboque. Ali lutou com o Anjo e seu nome foi mudado para Israel. Em relação a essa passagem vemos o seguinte: “Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva” 34. Ana pertencia à tribo de Aser. Aser era o segundo filho de Zilpa, a escrava de Lia. Foi chamado Aser (=Feliz) porque seu nascimento deixou Lia feliz. Era o oitavo filho de Jacó. O fato de Lucas saber a que tribo Ana pertence indica que os judeus estavam conservando os registros de família, ou genealogias, em dia. Ana era uma profetisa. Um verdadeiro profeta é aquele que, havendo recebido revelações do propósito e vontade de Deus, declara aos demais aquilo que recebeu. O apóstolo Paulo considerava como muito importante o dom da profecia (1 Co 14.1)35. No aspecto material Ana poderia ter felicidade em sua vida, pois a havia perdido, era viúva havia muitos anos e anciã, “de idade muito avançada”, segundo o relato de Lucas. Alguns mencionam que tinha 105 anos aproximadamente. Ela encontrou consolo no serviço a Deus; sendo já anciã, não se apartava do tempo, mas seguia sendo inspirada pelo serviço ao Senhor, dia e noite através da oração e jejum (segundo o conceito corrente, o melhor meio para concentrar-se na oração). Imaginemos por um momento a situação: ao ficar no tempo, e também mediante a revelação do Espírito Santo, Ana conheceu a Jesus como o Ungido de Deus recém-nascido, e dá graças ao Senhor. Sua gratidão se converteu em um testemunho a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém. Veja as palavras de Simeão no seu Nunc Dimittis. Ela ouve claramente cada palavra. Está convencida de que este menino é verdadeiramente o Messias. Cheia de gratidão, ela imediatamente expressa sua gratidão a Deus. Terminada sua oração, ela começa a falar a todas as pessoas que pensam de forma similar a ela. A partir dali, ela falaria a todo aquele que, sendo de um mesmo espírito com ela, esperava igualmente e com ansiedade a redenção de Jerusalém (v. 25), sua libertação do pecado por meio do Salvador. Considerando o fato de que os Evangelho em suas páginas descrevem a maldade e dureza do coração dos fariseus, dos escribas e de muitos de seus 34 35 Ibid., p. 136. Zapata, p. 32. 33 seguidores, é interessante saber que, tanto nos tempos de Elias (1 Rs 19.18), como nos dias Paulo (Rm 11.5), e nos dias do menino Jesus, havia um “remanescente escolhido pela graça. Assim será sempre. Assim é também agora36. 4. O RETORNO A NAZARÉ (2.39-40) Outra vez, como nos versos 22, 23, 24 e 27 Lucas enfatiza o fato de que a conduta de José e Maria estava em harmonia com a lei de Deus. Havendo cumprido todo o que a lei exigia, eles voltaram para a Galiléia37. De acordo com Lei dos judeus, o menino estava debaixo da responsabilidade da mãe até os cinco anos, daí em diante, o pai era encarregado de cuidar de sua formação até os doze anos quando ele era considerado responsável por si mesmo. Nesse momento ele era considerado como um filho da lei. Lucas é o único evangelho que nos fala da infância de Jesus ao nos dizer que crescia e se fortalecia, que crescia em sabedoria e a graça o acompanhava. 5. O MENINO JESUS NO TEMPLO A lei obrigava a todos os judeus varões de “idade madura” a ir a Jerusalém três vezes ao ano para assistir a três grandes festas: páscoa, pentecostes e Tabernáculo (Ex 23.14-17; 34.22-23; Dt 16.16). Tornou-se um costume que muitos assistissem somente uma vez ao ano. No caso de José e Maria, assim como de muitos outros, a festa escolhida foi a Páscoa que se celebrava para comemorar a libertação dos judeus da escravidão do Egito. A lei não exigia que as mulheres assistissem, o mandamento divino refere-se somente aos homens. Não obstante, o fato de Maria também assistir mostra que era uma esposa muito piedosa. Não havia unanimidade com respeito à idade exata quando um menino passava a ser “bar mitzvah” (filho da lei), isto é, quando chegava à idade da maturidade e responsabilidade quanto ao cumprimento dos mandamentos. A opinião majoritária é de que com a idade de treze anos, um menino poderia assumir plenamente tal responsabilidade. Sabemos pelo menos que quando Jesus alcançou os doze anos, José e Maria o levaram consigo a Jerusalém a fim de 36 37 Hendricksen, p. 138. Ibíd., p. 139. 34 assistir à festa da Páscoa. Segundo a lei, a festa durava sete dias completos (Ex 12.15, 16; 23.15; Lv 23.6; Dt 16.3) 38. Aparentemente, foi em um dos pórticos do templo onde José e Maria encontraram Jesus. Estava sendo “no meio do mestres”, escutando-os e às vezes dirigindo perguntas a eles. Segundo vários comentaristas, estes eram os dias imediatamente seguintes à grande festa, e posto que Jerusalém era a sede da religião judaica, podemos imaginar que vários mestres famosos poderiam ser encontrados no templo, porque o ensino não era dado somente enquanto durasse a festa. Esta era então uma oportunidade para Jesus, que a cidade de Nazaré não poderia lhe proporcionar. Com suas perguntas e respostas revela uma perspicácia tal que todos os que o escutavam estavam admirados, todos os olhos deviam está postos nele, de modo que em um sentido muito real, quando ele falava se tornava o centro das atenções (ver Mt 1.18-24; 2.13)39. Está claro na resposta de Jesus sobre onde ele havia estado, que com a idade de 12 anos, ele estava completamente consciente da relação única entre ele mesmo e Seu Pai celestial. Mas tarde ele vai fazer referência a este maravilhoso tema repetidas vezes. “...Não sabíeis (note-se o plural – vós, José e Maria) que me cumpria estar na casa de meu Pai?”. É como se ele dissesse: “Na casa de meu Pai, ali é onde eu estava, e é onde devia está. Não sabia disso?”. Notamos que no Evangelho de Lucas, menciona-se várias vezes que: Jesus deve pregar (4.43), Jesus deve sofrer (9.22), é necessário Jesus seguir o seu caminho (13.33), está no lar de Zaque (19.5), era necessário ser entregue, ser crucificado e ressuscitar (24.7), sofrer essas coisas e entrar em sua glória (22.37; 24.26), e cumprir todas as profecias do Antigo Testamento que se referem a ele (24.44), ou seja, é claramente mostrado que tudo o que sucede a Jesus é a realização do decreto eterno de Deus (Lc 22.22; cf. At 2.23). Mas José e Maria não entenderam a declaração que ele lhes fez. Um aspecto do sofrimento de Jesus foi exatamente isso, que os homens, incluindo seus próprios familiares e seus próprios discípulos, não o entenderiam: Mt 16.22; Mc 9.10, 32; Jo 7.3-5. “E desceu com eles para Nazaré; e eralhes submisso”. Não pediu para ficar mais tempo na casa de Seu Pai. Sem fazer qualquer objeção, nem perguntas, desceu a Nazaré com seus “pais”. Note-se “desceu”. Além disso, rendeu uma contínua obediência a José e Maria apesar de toda debilidade deles e apesar da 38 39 Hendicksen, p. 140. Zapata, p. 36. 35 falta de entendimento. “Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração”. Ela seguiu procurando entender o que tanto o Anjo quanto Jesus, como todos os demais lhe falavam acerca de seu filho. A última frase do verso 52, significa que ele continuou experimentando de forma crescente a bondade de Seu Pai e também da amizade das pessoas que o rodeavam40. CONCLUSÃO No Capítulo dois vemos o cumprimento da promessa de Deus dada através de todo o Antigo Testamento sobre o nascimento do Messias, o Salvador. Lucas parece deter-se de propósito neste capítulo dando todos os detalhes de como pessoas “leigas” são as honradas pelo Pai para dar louvor a seu filho recém-nascido. Presenteia-nos com uma oração de Simeão, profunda e cheia de amor para o criador fiel que cumpre suas promessas e nos conta de Ana, chamada a profetisa, que também nos mostra o papel que um Leigo poderia desempenhar no serviço ao Deus todo-poderoso. Lucas nos mostra um Jesus menino já consciente de seu papel na terra, conhecedor de sua relação com seu Pai Celestial, mas humilde. O quadro de humildade que Lucas nos mostra durante todo o tempo é uma alegoria aos pobres. A pobreza com a qual o Salvador da humildade chega ao mundo, a pobreza naqueles que vem adorá-lo ao invés da realeza. A pobreza das ofertas, as duas pombas que era as ofertas dos mais pobres, enfim, todo o quadro que nos mostra o que realmente Jesus quis nos ensinar através de suas parábolas e, os apóstolos apesar de conviverem com ele não conseguiram entender facilmente. 40 Hendricksen, p. 141. 36 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 2 1. De qual cidade José partiu e de qual era sua cidade natal? 2. De que tribo José e Maria eram descendentes? 3. Além de Maria e José, a quem o Anjo se apresentou primeiro para anunciar o nascimento de Jesus? 4. Com que idade Jesus foi apresentado no templo? 5. Quem era Simeão e Nana, filha de Fanuel? 6. Como é comumente chamada a oração de louvor de Simeão? 7. Para que festa José e Maria viajava todos os anos para Jerusalém? 8. Comente sobre a purificação a que Maria devia se submeter de acordo com a Lei mosaica? (Lv 12.2-5). 9. Que partes Lucas omitiu que são encontradas em Mateus 2.1-18? 10. Poderíamos dizer que Jesus já tinha consciência sobre sua missão e identidade, quando ainda tinha pouca idade? (2.49). Explique. 37 LIÇÃO TRÊS A PREPARAÇÃO DE JESUS PARA SEU MINISTÉRIO PÚBLICO Alejandro Cid INTRODUÇÃO O tema principal dos capítulos 3 e 4 do Evangelho de Lucas, da mesma forma que todo o livro é a mensagem da salvação. Os dois termos favoritos são “pregar o Evangelho” e “salvação”. O primeiro resume o que Jesus fez: seus atos de ensino, cura e compaixão para com as pessoas, eram todos parte da proclamação das boas novas de que Deus havia vindo ao mundo. O segundo termo indica o conteúdo absoluto dessas boas novas. Se a “salvação” é para os perdidos, então é para todos porque todos estão perdidos. Ainda que sua obra se limitasse de alguma maneira, aos judeus, deixou bem claro que sua mensagem era para todos, para os gentios e também para os samaritanos, os odiados inimigos dos judeus, e que essa mensagem tinha conseqüências para os oprimidos e opressores. 1. A PREGAÇÃO DE JOÃO (3.1-20) “Lucas relata com uma precisão assombrosa todo o contexto, a vida política e social do império romano nessa época. Augusto estava já morto e Tibério foi nomeado por ele como o segundo imperador romano no ano 14 DC”41, em sucessão ao seu padrasto. A Palestina se encontrava sumamente conturbada pela inquietante presença romana que exercia seu domínio absoluto, tratando de obter os pagamentos de altos impostos, para sufragar os enormes gastos que representava um império tão extenso. Quanto ao governo dos assuntos religiosos da comunidade, estes estavam nas mãos de Anás e Caifás. O sumo sacerdócio era exercido por um só sumo sacerdote por vez e este era Caifás, que tinha sido nomeado pelo império romano, em substituição a Anás, que por sua vez era sogro de Caifás e que já havia deixado de atuar oficialmente como sacerdote, mas ainda mantinha para si uma forte e determinante influência nos destinos do povo judeu. Assim, então, toda a estrutura estava já preparada e disposta para que começasse a ação na região. O governo romano exercido por Tibério, o governo da Judéia por Pilatos, os 41 W. Hendriksen, p. 52. 38 governos locais das províncias eram exercidos pelos filhos de Herodes. Também os religiosos estavam que estavam no templo são mencionados minuciosamente por Lucas antes da ação começar a desenrolar. Então como de costume, como quase sempre acontece, a maneira como chega a Palavra de Deus aos protagonistas, João estava no deserto e a Bíblia nos diz que “veio a Palavra de Deus a João”. Assim, João se tornou um mensageiro, uma voz que proclamava ao Grande Rei que já estava às portas. Sua mensagem era de arrependimento e mudança total de vida. Ele proclamou isso fortemente, com veemência, chegou a chamar os religiosos da sua época de “raça de víboras”, não fazia rodeios, não fez do Evangelho “algo doce”, gelatinoso, mas, ao contrário com todas as suas forças, respaldado por sua atitude, anunciava que preparassem o caminho porque chegava uma hora muito importante da humanidade. Vemos também ele que se prestava ao diálogo, caso alguém lhe perguntasse se ele era o Cristo. “João vestia-se como Elias, o profeta do Antigo Testamento, que da mesma forma que João havia chamado ao povo de Israel a voltar-se para Deus. Mateus 3.4 diz que as roupas de João era feitas de pelo de camelo e levava um cinto de couro ao redor da cintura. Se alimentava com gafanhotos e mel silvestre. Os gafanhotos eram uma das comidas preferidas nos tempos bíblicos, por sua abundância em vitaminas e minerais. Com um sabor parecido com o de camarão eram comidos tostados. Segundo Levítico 11.22, os gafanhotos eram considerados comida pura. A vestimenta e a frugalidade de João estavam de acordo com o deserto onde ele pregava para as pessoas. A mensagem que ele proclamava era o oferecimento do perdão por parte de Deus, para todos aqueles sobrecarregados por seus pecados. Um perdão que era concedido pelo arrependimento”42. O batismo que João oferecia era uma transição que exigia das pessoas duas coisas: arrependimento e confissão pública de pecados. Aqueles que o faziam estavam em condições de serem batizados no rio Jordão para dar testemunho de que realmente haviam se arrependido de seus pecados e manifestavam seu propósito de encarar o resto de suas vidas de uma maneira diferente. João lhes pedia que primeiro provassem com seus atos que tiveram uma mudança real em suas vidas; requeria evidências de arrependimento antes de batizá-los. Com o batismo de João as pessoas recebiam uma preparação que os dispunha a receber e responder à mensagem do Evangelho que seria anunciado posteriormente pelo próprio Senhor Jesus Cristo. 42 R.Zapata, p. 61. 39 “Quando o mundo de Adão sucumbiu pelo dilúvio e toda aquela geração ficou sepultada pelas águas para sempre, Deus se comprometeu a nunca mais destruir o mundo por meio da água. O batismo de João representava a morte de uma vida ou de uma geração de vida que tínhamos em Adão. O batismo do Espírito Santo é o batismo do Senhor Jesus Cristo e é para estabelecer a presença do Espírito de Deus nas próprias pessoas. Paulo declararia com respeito a esta recepção da pessoa de Deus em Gálatas 2.20: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”43. João Batista foi o avanço, o progresso do anúncio da rocha que chegaria a romper com os sistemas humanos de governo. O anúncio de João não foi um anúncio qualquer, foi o anúncio mais importante da história da humanidade. João teve o raro privilégio de ser morto por algo que não sua própria culpa, e nisso se assemelhou ao Filho de Deus, ao qual estava anunciando. 2. O BATISMO DE JESUS (3.21-22) Todos os viam a João confessavam seus pecados, se consideravam pecadores, se arrependiam, se purificavam na água e se obrigavam a seguir o sucessor de João que batizaria com Espírito Santo e com fogo. Qual era o motivo de o próprio Jesus ser batizado também? No batismo de João havia confissão de pecados. Que pecados Jesus teria para confessar? Jesus estava representando um povo pecador e ao haver tomado, Ele mesmo, seu lugar ante a lei, lhe era necessário confessar os pecados desse povo. Também foi uma maneira de dar honra ao ofício de precursor de João Batista. No próprio ato do batismo Jesus orou e no momento que saia da água escutou uma voz que dizia: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo”. O próprio Deus falando sobre seu prazer, o Espírito Santo visível como uma pomba e o Filho de Deus saindo da água depois de haver cumprido o que era necessário e justo. Além do nascimento pela água, também se produziu ali o nascimento oficial do ministério de Deus pelos homens. Como quando foi necessário que o Espírito Santo fizesse sombra sobre Maria (Lc 1.35) para o nascimento humano de Jesus, agora simbolicamente 43 G.J Wenham, Comentario Bíblico Siglo XXI, p. 58. 40 também estava fazendo sombra, na pomba, no nascimento do ministério ou serviço humano de Deus entre os homens”44. Para João, o momento do batismo de Jesus foi o momento culminante de seu ministério. João já havia despertado o povo da sua letargia, o próprio Senhor se havia apresentado, tudo já estava feito. Vemos que o estava acontecendo foi ordenado do céu. João sai de cena e o próprio Filho de Deus começava agora seu turno, seu caminho para a cruz do Calvário. 3. A GENEALOGIA DE JESUS (3.23-28) A genealogia de Jesus é dada imediatamente depois do seu batismo, é estritamente pessoal e vem por sua ascendência de Maria, já que Lucas nos apresenta a Jesus como o Filho do Homem, que nasceu de sua mãe virgem Maria. Trata-se da descendência linear de Maria apresentando a descendência sanguínea de Jesus. “Em Lucas, a genealogia de Jesus chega até Adão porque procura explicar ou demonstrar nestes versículos sua ascendência humana. Também era em extremo necessário confirmar nas Escrituras que o Messias tão esperado devia ser Filho de Davi e também ser herdeiro real. Isso depreende-se de 2 Sm 7.12-13, Rm 1.3 e At 2.30-31”45. Pelos costumes judeus a descendência de Maria vinha no nome do esposo, já que José era “filho de Eli”, ou seja, seu genro, porque sabemos que o pai de José, como nos diz Mateus se chamava Jacó. 4. A TENTAÇÃO DE JESUS (4.1-13) Assim como Deus levou seu povo ao deserto, onde foi provado durante 40 anos antes de poder entrar na terra prometida, também Jesus foi levado ao deserto para ser provado por quarenta dias antes de iniciar oficialmente seu ministério terreno. Mas ao contrário do que havia ocorrido com os israelitas, Jesus não cedeu a nenhuma das tentações. A tentação, como podemos ver, seguiu-se imediatamente ao batismo, quando havia sido proclamado pelo próprio Deus, que era seu Filho em quem ele tinha prazer. Seguramente, 44 45 A. Estrada, Comentario Bíblico Mundo Hispano, p. 43. W. Hendriksen, p. 59. 41 foi uma dura batalha espiritual na programação dos três anos que culminaram com amorte de Jesus Cristo na cruz. Esta batalha já estava programada desde a eternidade, porque foi Jesus foi conduzido a ela pelo Espírito Santo. A duração da batalha foi de 40 dias, mas seguramente sua definição foi no final, quando nos é apresentada as três propostas de satanás, às quais Jesus Cristo não fez nenhuma consideração nem negociação possível. Satanás encabeçava sempre suas tentações com as mesmas palavras que foram proclamadas pelo Pai no batismo: “Se és Filho de Deus”. A palavra grega “tentar” é a mesma que significa “provar”, ou seja, por à prova. Jesus rechaçou as tentações dando importância definitiva e nível de excelência inapelável às Sagradas Escrituras. “Como Jesus que não tem pecado pode ser tentado? Em nosso intento por responder a esta pergunta muito importante, devemos antes de mais nada fazer notar que foi a natureza humana que foi tentada. Jesus não somente era Deus; ele era também homem. Por outro lado sua alma não era dura como pedra ou fria como um cubo de gelo, era uma alma totalmente humana, profundamente sensível, afetada e comovida pelos sofrimentos de toda espécie. Jesus foi capaz de expressar carinho, compaixão, piedade, ira, gratidão e ainda grande anelo pela salvação dos pecadores para a glória do Pai. Sendo não apenas Deus, mas também homem, ele sabia o que era está cansado e com sede. Portanto, não deve nos surpreender o fato de que depois do jejum de 40 dias, teve fome, e a proposta de converter as pedras em pão era uma tentação muito real. Não obstante, não deixa de ser verdade que a possibilidade e a realidade da tentação de Cristo ultrapassa o nosso entendimento”46. À tentação relacionada com o pão, Jesus respondeu: “Está escrito: nem só de pão viverá o homem”. À tentação relacionada com o domínio do mundo, Jesus respondeu: “Está escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele darás culto”. À tentação relacionada com a demonstração de poder, Jesus asseverou: “Também está escrito: não tentarás ao Senhor teu Deus. Todas as possibilidades de debilidade humana estavam compreendidas nas três tentações; não havia acesso possível por parte de Satanás àquele que veio ao mundo para despojá-lo de seu poder aqui na terra. O que realmente ocorreu foi uma batalha espiritual espetacular, que se fossem utilizados os elementos com os quais contamos hoje em dia para expressar graficamente coisas espirituais, veríamos raios, tormentas e batalhas difíceis de serem abarcadas por nosso 46 R. Zapata, p. 66. 42 pensamento ou nosso conhecimento. O que está escrito em Lucas é a representação para nossa compreensão da verdadeira luta espiritual que se desenrolou nesse deserto. Para reafirmar isto, basta recordar o último versículo da cena onde Lucas nos diz que Satanás esgotou todos os recursos de tentação. Satanás entrou rapidamente na cena com Adão e Eva e agora chegou também rapidamente quando veio ao mundo o “segundo Adão”. Então, Jesus foi tentado para se compadecer de nós. “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados”47. Já que Satanás havia vencido a Adão pela tentação, era necessário passar pelo mesmo processo e não ceder, para vencer pelas mesmas armas que Ele nos daria para vencer também a Satanás: A Palavra de Deus escrita e o poder do Espírito Santo em nós. “As respostas de Jesus afirmaram a autoridade expressa e documental das Sagradas Escrituras, esta autoridade excede o mero fato de manifestar uma intenção ou lei escrita e se transforma em uma arma, como está escrito, de dois gumes, que escrita, expressa leis espirituais que não se podem transgredir sem sofrer as conseqüências. Mas, o principal propósito da tentação não era meramente saber se Jesus Cristo podia ceder ou não às tentações de Satanás, mas que Jesus nunca faria nenhuma concessão, nem arranjo, nem trato com Satanás e estava disposto a enfrentá-lo com a própria Palavra de Deus que Ele encarnava”48. 5. O COMEÇO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (4.14-15) “Jesus regressou à Galiléia no poder do Espírito Santo; o Salvador começava rapidamente e com o poder de Deus a desenvolver seu ministério na terra. Qualquer um poderia dizer que era muito melhor iniciar em Jerusalém, uma cidade de fama mundial, para onde confluíam todos os transportes da época, rotas importantes e onde estavam as autoridades mais importantes da Palestina. Mas Jesus voltou para começar seu ministério na periferia, na parte subdesenvolvida e segregada pelos judeus que se consideravam de boa linhagem, a tal ponto de Natanael chegou a dizer: ‘Pode vir alguma coisa boa da Galiléia?’” 49 . A Galiléia era uma região isolada, separada da Judéia por Samaria, que era habitada especialmente por não-judeus, desde que os Assírios levaram o povo de Israel, propriamente 47 Hebreus 5.18 A. Estrada, p. 71. 49 G.J. Wenham, p. 79. 48 43 dito à Assíria e a partir dali os dispersaram aos quatro pontos cardeais de seu império. A extensão da Galiléia era aproximadamente de uns 70 km de largura por uns 40 km de comprimento, com muitos bosques e terras produtivas; ao oriente da Galiléia está o rio Jordão e o mar da Galiléia. A população era mesclada de judeus e gentios, por isso era chamada de “Galiléia dos gentios” e os galileus tinham um sotaque muito particular de falar, que os tornava facilmente reconhecidos por sua maneira de falar. “Por toda esta região Jesus esteve ensinando sempre nas sinagogas. A sinagoga era uma instituição herdada do tempo do exílio, quando longe do templo, os judeus se reuniam para ler as Sagradas Escrituras. Mantinham assim seu culto a Deus e suas tradições. O termo sinagoga é uma palavra grega que significa “assembléia”. Seu edifício era usado como lugar de encontro da comunidade para ensino, como uma escola, mas antes de tudo era um lugar de adoração, onde freqüentemente os líderes convidavam mestres visitantes para participar ativamente em seus ofícios. O texto bíblico era lido em hebraico, como ainda o é hoje em dia, mas a pregação ou ensino era transmitido em aramaico, um idioma muito próximo do hebraico”50. 6. A INAUGURAÇÃO DO MINISTÉRIO EM NAZARÉ (4.16-30) Jesus percorria então as sinagogas onde sempre havia pessoas dispostas a receber os ensinamentos. A mensagem de Jesus era que o tempo estava cumprido e o reino de Deus está próximo, que os homens deviam se arrepender de seus pecados e crer nas boas novas. Sua mensagem sempre se baseava no que estava profetizado acerca dele mesmo; afirmava que já era tempo do cumprimento do que estava profetizado. Quando voltou à cidade de Nazaré, a cidade de sua infância, também se dirigiu à sinagoga, onde seguramente assistiam seus amigos de infância e também familiares que o haviam visto crescer. Todos os sábados eram lidos um rolo da lei e outro dos profetas, esse dia entregaram a Jesus o manuscrito do profeta Isaías. Os rolos da sinagoga eram guardados em cofres de metal na parte de trás, numa espécie de biblioteca. Jesus leu então Isaias 61 onde o profeta se referia à época em que restauraria seu povo. A mensagem de Isaias é uma clara demonstração do objetivo do Senhor Jesus Cristo e seu propósito de vir a ocupar o lugar do homem. 50 W. Hendriksen, p. 78. 44 Quando Jesus Cristo leu, na sinagoga, o texto profético de Isaías 61, deixou bem claro o propósito de seu ministério, para que não restassem dúvidas. Não se tratava nenhuma religião nova, nenhuma reforma, nem de uma boa proposta religiosa, mas da resposta às necessidades que o homem experimenta desde que se separou de Deus, a partir d que, tem vivido em absoluta solidão e tristeza. A natureza da mensagem de Jesus era especial e era eterna, estava maravilhosamente resumida no texto que Ele havia acabado de ler. Cristo veio para: dar boas notícias aos pobres, dar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, liberdade aos oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor” 51. Isso deve ter impressionado a todos os que estavam ali presentes que os estava escutando e quando todos os olhavam assombrados disse: “Hoje se cumpre esta profecia diante de vocês”. O anúncio estava feito, já não havia como voltar atrás, a salvação estava a caminho e ia até a cruz, onde haveria de dar a vida por todos nós. O grande libertador já percorria seu caminho decididamente, dando seus comunicados nos lugares onde as pessoas se reuniam receber os ensinos sobre a lei e os profetas. As afirmações de Jesus fizeram que o humor dos que estavam escutando mudasse rapidamente e começou ali um grande alvoroço. Os que há alguns minutos somente o admiravam, estavam agora enfurecidos. Jesus havia tocado em uma de suas posses mais importantes: o orgulho. Jesus foi levado pela multidão ao cume da colina sobre a qual está construída a cidade de Nazaré. Diz-nos a Bíblia que foi levantado pelo seu próprio povo, mas não era para exaltá-lo, mas para lançá-lo abaixo. “O Filho do Homem não havia descoberto nada na realidade, sabia o que havia no coração do homem; mais adiante ele o denunciaria claramente, quando recordando o episódio de Nazaré, disse sobre Jerusalém o que está escrito no capítulo 13.34: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!”52. A maneira como ele se desvencilhou dos que o cercavam demonstra a graça que teve para fazer as coisas por sua própria vontade e também como durante a batalha dos três anos de seus ministério terreno tinha controle absoluto sobre tudo o que acontecia. A Bíblia nos diz que Jesus não argumentou, nem lutou para se livrar daqueles que queriam jogá-lo abaixo, simplesmente passou por eles, porque tinha a intenção de seguir seu caminho de obediência até a morte e morte de cruz. 51 52 G.J. Wenham, p. 82. R. Zapata, p. 74. 45 7. A CONTINUÇÃO DO MINISTÉRIO EM CAFARNAUM E NO RESTO DA GALILÉIA (4.31-44). Apesar do que havia sucedido anteriormente, Jesus continuou com seu ministério e foi a outra sinagoga, desta vez na cidade de Cafarnaum. “Nesse lugar havia algo que chama a atenção de muitos pseudo-cientistas quando falam acerca da possibilidade de que uma pessoa tenha em si mesmo a possibilidade de que habitem nele outras entidades, que a Bíblia identifica claramente como ‘demônios’”53. Em Cafarnaum diz o texto, havia um homem que estava possuído por um espírito maligno, que gritava contra o Senhor com todas as suas forças: “Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno?”. Aquela não era a hora de um enfrentamento com Satanás como o foi no deserto, agora era um enfrentamento contra alguns dos demônios que tinham possuído esse homem, que estava presente na sinagoga. Já sabemos que o confronto que estava tendo o Senhor Jesus Cristo, era nada menos que, enfrentar o reino das trevas. O reino de Deus, é quando as pessoas recebem e aceitam o governo de Deus em sãs vidas, é o reino da fé, da luz, do amor. O outro reino é o reino onde as pessoas, imitando a Satanás se rebelam contra Deus e não o obedecem, é o reino das trevas, da incredulidade, do ódio. Quando Cristo morreu na cruz teve uma decisiva e definitiva vitória sobre o reino das trevas. No relato de Lucas, Jesus Cristo enfrentou o demônio e liberou ao homem no meio das pessoas e o demônio saiu dele sem fazer-lhe nenhum dano. Todos se assustaram; não estavam frente a uma pessoa que estava dando ensinos bíblicos, estavam frente a alguém que enfrentava aos demônios e estes o obedeciam. Jesus não estava pregando somente doutrinas teológicas inatacáveis, estava trazendo uma poderosa palavra libertadora. Em toda a cidade da Galiléia, as pessoas se deram conta de que o próprio Filho de Deus estava frente a eles. A mensagem do Evangelho está indissoluvelmente unida ao ministério de cura das pessoas. A sogra de Simão foi um exemplo da intervenção de Jesus Cristo nos assuntos da saúde do corpo. O Senhor continuou curando as pessoas, pondo suas mãos sobre cada uma delas. “O ministério de Senhor Jesus no que diz respeito a curar os enfermos já havia sido antecipado quando na sinagoga de Nazaré ele anunciou que veio para sarar os quebrantados 53 A. Estrada, p. 86. 46 de coração; pregar liberdade aos cativos e dá vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a pregar o ano aceitável do Senhor. Neste Evangelho temos a pauta da humanidade e compaixão do Senhor Jesus. A cura dos enfermos e a libertação dos endemoniados são as características mais importantes do ministério de Jesus Cristo e de seus discípulos e também a mais desenvolvida nos textos dos Evangelhos e no livro histórico de Atos”54. CONCLUSÃO Nestes capítulos do Evangelho de Lucas inicia-se o ministério terreno de Jesus Cristo com seu batismo com João. Mostra-se claramente no relato que é o Evangelho das “boas novas” de salvação de Nosso Senhor. Foi uma salvação que não conheceu fronteiras, mas que se estendeu até o último e mais humilde dos homens: o publicano desprezado, o pecador proscrito, o samaritano odiado e até ao ladrão crucificado. Ele continuará conosco, por Sua Palavra, por Seu Espírito e estenderá as mesmas bênçãos a outras nações, até que todo o povo escolhido por Deus seja levado a reconhecê-lo como Cristo, o Filho de Deus e achem redenção por meio do seu sangue, o perdão dos pecados. Por último, o relato de Lucas, está escrito em sua totalidade a partir do ponto de vista de Maria e tem o propósito de mostrar as relações de Nosso Senhor Jesus Cristo com a humanidade, ou seja, mostra a Jesus como o Filho do Homem. 54 W. Hendriksen, p. 88. 47 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 3 1. Quem eram os sumos sacerdotes na época em que o capítulo 3 foi escrito? 2. Qual era o centro da mensagem que João proclamava? 3. Que linha de descendência Lucas mostra na genealogia de Jesus e qual o motivo para isso? 4. Qual foi o motivo principal pelo qual Jesus foi batizado? 5. Quanto tempo durou a tentação de Jesus no deserto? 6. Quantas foram as tentações que Satanás apresentou ou ofereceu a Jesus nessa oportunidade? 7. Em qual cidade Jesus iniciou seu ministério terreno? 8. Por que ele decide começar nesse lugar? 9. Qual livro do Antigo testamento Jesus leu quando chega a sinagoga de Nazaré? 10. Que profecia foi cumprida nessa ocasião? 48 LIÇÃO 4 CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO NA GALILEIA (5.1-9.50) Luis Alfonso Lucero Jaramillo y Rubén Reyes INTRODUÇÃO Nos capítulos seguintes do livro de Lucas encontraremos uma série de acontecimentos que começam com o chamado dos primeiros discípulos e se estende até a polêmica de seus próprios amigos, de quem seria o maior entre eles. Muitos consideram o chamado de seus primeiros discípulos como o começo de um novo período no ministério público de Jesus. Sua obra ia assumir uma forma mais estável. A crescente popularidade da sua pregação indicava que o Evangelho era para o mundo inteiro. Para uma proclamação desta índole era necessário preparar um grupo de obreiros. O crescimento do cristianismo sempre depende de que se consigam homens que queiram confessar e seguir publicamente a Cristo. O cenário deste chamado foi o “lago de Genesaré”. Esta encantadora extensão de água traz à memória tantas cenas da vida de nosso Senhor que muitos estudiosos chegam a opinar, que este, poderia ser chamado de “quinto Evangelho”. Nas margens ocidental e setentrional ficavam as cidades nas quais se levou a cabo a maior parte da obra de Jesus; a parte oriental estava desabitada e para ali ele se retirava para descansar. Os homens aos quais Jesus chamou eram pescadores, vigorosos, independentes, valentes. Jesus não lhes era estranho, nem eles ficaram parados, indiferentes ante as verdades espirituais que Jesus proclamava. Haviam escutado a pregação de João Batista e havia chegado a considerar Jesus como o Messias, mas agora estavam convidados a que deixassem suas casas e ocupações e que se convertessem em companheiros e discípulos constantes, que se atreveriam a levar as boas novas da graça e misericórdia de Deus. 1. A PESCA MARAVILHOSA E O CHAMADO DE PEDRO, TIAGO E JOÃO (5.1-11). Jesus entra na vida vocacional dos quatro discípulos que eram pescadores. Durante a pesca Jesus mostra seu domínio sobre o mar e os peixes. O milagre maior era que os discípulos iam ser pescadores de homens. 49 “O ‘lago de Genesaré’ era o outro nome do mar da Galiléia, também chamado de mar de Tiberíades. É um lago de água doce, de uns 20 quilômetros de largura e 11 quilômetros de cumprimento, e é atravessado pelo rio Jordão. O mar da Galiléia proporcionava abundante pesca. A pesca era a principal ocupação nas cidades e povoados ao redor do lago. Grande parte do ministério de Jesus estava centrado nesta área e quatro dos seus discípulos eram pescadores. Era costume dentro do povo judeu nesse tempo que os mestres religiosos tiveram muitos discípulos, os quais realmente escolhiam o seu mestre. Dos mestres eles aprendiam a Torá e então seguiam estritamente seu ensino. Jesus romperia com esta tradição de ter muitos discípulos já que escolheria somente doze. Este círculo íntimo de discípulos eram os apóstolos, dentro dos quais havia outro círculo constituído de três discípulos: Simão Pedro, Tiago, filho de Zebedeu e seu irmão, João. Os três eram pescadores”. Nesta cena no mar da Galiléia vemos especificamente o chamado de Pedro, que era conhecido de Jesus, já que nesses dias havia curado a sua sogra. Jesus havia solicitado alguns barcos que eram utilizados pelos pescadores, nelas ele pregava sua mensagem de salvação e arrependimento. Seguramente Simão já havia escutado anteriormente a mensagem, mas agora tudo era diferente depois desse milagre de uma pesca tão grande, no lugar onde havia fracassado recentemente. Jesus Cristo lhes disse que voltassem a lançar a rede e eles o fizeram, seguramente por compromisso, como para não desagradar o mestre, que seguramente já conheciam. Para um pescador experimentado como Simão Pedro o milagre foi muito impressionante, já que Pedro conhecia as dificuldades que os pescadores suportavam para extrair uma grande pesca, e ademais, porque havia trabalhado toda a noite sem nenhum resultado55. 2. JESUS CURA A UM LEPROSO E A UM PARALÍTICO (5.12-16) Os milagres de Jesus não eram irreais, Jesus curou os que de verdade tinham enfermidades incuráveis como a lepra e a paralisia. A lepra era considerada como a mais asquerosa e terrível das enfermidades. Ela tinha várias formas, mas sua característica invariável era uma sujeira fétida. O leproso era um pária; era obrigado a viver longe de toda a convivência humana. Lhe era exigido cobrir a boca e advertir aos que se aproximavam com o grito: “Imundo! Imundo!”. Como se considerava que 55 René Zapata, p. 53. 50 não tinham esperança, eles era tidos como mortos. Pelo que tem de asqueroso, de corruptor, de penetrante, de isolador, de contagiosa física e ritualmente, sem dúvida que a lepra é um símbolo adequado do pecado; e este relato tão gráfico oferece uma parábola do poder que Cristo tem para limpar, sarar e restaurar. O quadro que Lucas oferece está cheio de vida; a confiança humildade do pobre enfermo, seu grito lastimoso, o contato compassivo de Jesus, a palavra de ordem e a cura instantânea. Ainda que Jesus o tenha proibido de excitar os ânimos com o relato da sua cura, também lhe ordenou que se apresentasse ao sacerdote, a fim de que as autoridades religiosas supremas tivessem um testemunho indiscutível do poder divino de Cristo, e também a fim de que o homem levasse oferendas que a Lei exigia e com isso expressasse a Deus a sua gratidão. Nosso Mestre segue esperando que todos os que tenham sentido seu contato curador dêem testemunho de sua graça e demonstrem sua gratidão oferecendo-lhe o serviço de suas vidas. Quanto ao paralítico, se a lepra era símbolo da sujeira do pecado, a paralisia o era da impotência e da dor do mesmo. Na ocasião da cura do paralítico, Jesus, fez algo mais supreendente: perdoou pecados. O pobre enfermo havia sido levado por quatro amigos, os quais não desanimaram diante de nenhum obstáculo. Quando não puderam entrar pela porta da casa onde Jesus estava, devido à multidão que lá estava, subiram ao telhado e por entre as telhas o baixaram à presença de Jesus. Seu afinco é uma reprovação para nós os que fazemos tão pouco esforço para levar a nossos companheiros para dentro da esfera da influência curadora de Jesus. Ele viu a fé do homem, bem como a de seus amigos, e respondeu com uma afirmação que produziu em seus ouvintes mais surpresa que o abrir do telhado: “Homem, perdoados estão os teus pecados”. Ele não havia pedido tal perdão, mas Jesus leu seu coração. Viu o anelo que o enfermo tinha de ser curado não só no corpo, mas também na alma. Compreendeu seu pesar pelo pecado que havia causado a enfermidade que o agoniava, e a angústia e o remorso, e de imediato pronunciou a palavra de perdão e de paz. Deste modo Jesus proclamou a mensagem que o mundo parece relutante em aceitar. Afirmou que as enfermidades físicas e os males sociais são menos graves que as perturbações morais e espirituais das quais são sintomas e conseqüências ao mesmo tempo. Além disso, expressou sua pretensão de poder divino para pronunciar o perdão e para remover a culpa. Esta pretensão suscitou de imediato a aguda ira dos escribas e fariseus ali presentes e começaram a arrazoar: “Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” O 51 raciocínio deles era correto. Jesus era um blasfemo merecedor da morte, a não ser que fosse divino56. 3. OS DISCÍPULOS RECOLHEM ESPIGAS NO DIA DE REPOUSO (6.1-5). O sábado, o dia de repouso, é para congregar-se para adorar a Deus, descansar dos labores comuns e servir ao Senhor. Os fariseus sabiam como congregar-se e descansar, mas não apreciaram como servir ao Senhor. Jesus e seus discípulos tinham fome porque estavam servindo e ministrando. Era, pois, lícito comer para se sustentarem. “Evidentemente os fariseus seguiam Jesus de perto, já que até criticavam o que ele fazia quando cruzava os campos. Sua necessidade de encontrar falhas no caminho do Senhor os fazia parece ridículos pelo minucioso desejo de encontrar erro. Lamentavelmente em todas as épocas e também na nossa, encontramos muitas pessoas que em nome da fé ou da sã doutrina não fazem mais que criticar e pouca disposição em concordar em um espírito de boa fé. Era isso o que se passava com os fariseus, que encontraram um tema de confrontação em algo tão particularmente apreciado pelos falsos religiosos como o dia de sábado. O sábado era uma lembrança da criação de Deus, que criou tudo segundo declara a Bíblia para o próprio Senhor Jesus Cristo. Como nos diz em Colossenses 1.16: “Tudo foi feito por meio dele e para ele”. Era este quem cruzava os campos em companhia de seus discípulos. O sábado também é um dos dez mandamentos instituídos por Deus, mandamentos que Jesus Crist veio cumprir e não invalidar. O sábado era um dia de descanso dedicado a que as pessoas pudessem adorar a Deus publicamente. Na realidade o espírito dessa celebração era de alegria e devia ser usado para a restauração física, mental e espiritual. Os fariseus, que tinham uma tendência natural a agregar regras, adicionaram muitas restrições a este mandamento, transformando assim a festa de alegria, a comunhão com Deus e o descanso, em uma pesada carga para as pessoas No Antigo Testamento não se proibia recolher grãos para o próprio consumo, mas os fariseus que exageravam a lei, consideravam que essa ação era colher. 56 Carlos R. Erdman, El Evangelio de Lucas, pp. 75, 76, 77, 78. 52 A contestação de Jesus Cristo tendia a mostra a flexibilidade, o amor e a compreensão de Deus quando chega o momento e é necessário. Esta flexibilidade não existia nos corações duros, rígidos e estruturados dos fariseus esta forma de ser, esta dureza, lhes trazia cansaço moral, espiritual e físico, por isso talvez podia se dizer que os fariseus era a seita das “caras amarradas”. O exemplo que Jesus Cristo lhes mostrou, de Davi e seus companheiros quando tiveram fome, foi o melhor para pessoas tão rígidas que seguramente no lugar de Davi, não haveriam procedido assim. A maneira de Deus trabalhar sempre é surpreendente, como deve ter sido surpreendente a resposta para os fariseus. Em sua resposta Jesus Cristo se apresentou como o “Filho do homem”, que era o título que geralmente usava quando se referia a si mesmo. O tema central do Evangelho de Lucas apresenta Jesus como o “Filho do Homem”. Existe uma referência precisa a este nome em uma visão do profeta Daniel relatada no livro de Daniel 7.13-14: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foilhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído”. Cristo afirmava com sua atitude e resposta que os sacrifícios ou ordenanças não são um fim em si mesmo, mas um meio de mostrar a Jesus, o Filho de Deus, também chamado de Filho do Homem, e que, portanto, o próprio fim ou objeto de todo bem, podia quebrar a ordem dos sacrifícios e ordenanças. Ele o afirmou claramente quando disse que Ele era o Senhor do sábado57. “Vs. 1-5. Cristo justificou seus discípulos em uma obra necessária para eles próprios no dia de repouso; podia colher espigas quando tinham fome, mas devemos cuidar de não confundir esta liberdade com uma permissão para pecar. Cristo quer que saibamos e recordemos que este é seu dia, portanto, devemos dedicá-lo a seu serviço e sua honra58. “Jesus havia provocado a ira dos fariseus ao arrogar para si o direito de perdoar pecados. Ele os havia enfurecido ainda mais com o seu modo de tratar pecadores. Mas o ódio deles chegou a um ponto extremo de fúria ante a atitude que Jesus tomou em relação à observância do sábado. Daí em diante buscaram destruí-lo”. 57 58 Rene C. Zapata, pp. 60-61. Mathew Henry, p. 8. 53 “A questão do sábado nunca “saiu de moda”. Os seguidores de Cristo devem ater-se com firmeza aos princípios que seu Senhor estabeleceu. São poucos porém fundamentais: o sábado é um dia para o culto a Deus e para o descanso e só de pode quebrar essa lei para obras necessárias e de misericórdia”. “A primeira das exceções ao descanso exigido é ilustrada no caso dos discípulos a quem os fariseus acusaram de haver quebrado o sábado porque, ao caminhar pelos caminhos, haviam colhido espigas maduras e por isso, segundo a interpretação de seus inimigos, se haviam tornado culpados de fazer trabalho no sábado. Nosso Senhor não negou que a lei do sábado havia sido quebrada. Simplesmente lembrou a seus inimigos o caso de Davi e de seus companheiros que, pressionados pela fome, quebraram a Lei mosaica ao entrar no tabernáculo e comer “os pães da proposição”. Jesus argumentou que, dada a necessidade de aliviar a fome, seus seguidores estavam justificados em prescindir da lei do descanso59” 4. O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA (6.6-11) Os fariseus havia desenvolvido um conceito legalista acerca do sábado. Jesus, com suas obras, quis expor e corrigi-los publicamente. Eles sempre tinham a intenção de expor ao Senhor Jesus através do aparente não cumprimento deste mandamento. Wenham diz: “O sábado, havia sido feito por causa do homem, e, em conseqüência, o Filho do Homem era seu Senhor”60. Acerca da pergunta que Jesus faz aos escribas e fariseus, de se era lícito, no dia de sábado, fazer o bem ou fazer o mal, Hendriksen comenta: “A pergunta era razoável e pertinente. Não eram os fariseus e escribas os mesmos que sempre estavam pretendendo saber eles o que era “permitido”, “lícito”, e portanto, correto? Que dêem, então, eles sua opinião de especialistas. É claro que a resposta à pergunta de Cristo era tão óbvia que uma criança poderia dar a resposta. Se é lícito fazer o bem – acerca do qual veja-se também Lc 6.33, 35; 1 Pe 2.14, 15, 20; 3.6, 17; 4.19; 3 Jo 11 – qualquer dia ordinário da semana, não será correto fazer o bem no dia de repouso? Além disso, no Antigo Testamento não era exatamente fazer o bem tanto para Deus (amá-lo, servi-lo, deleitar-se nele) como para os homens (livrá-lo da escravidão, dar-lhe de comer, vesti-lo) o que Deus pede e ainda enfatiza? E isto num contexto 59 60 Carlos R. Erdman, p. 84. G. J. Wenham, p. 214. 54 de jejuns e observâncias sabáticas? Que estranho que estes críticos adversos não tenha lembrado o claro e definido ensino de Isaías 56.6; 58.6-14! O Senhor havia instado a Israel a que usasse o dia de repouso para o propósito que Jesus o estava usando agora e sempre o usava. Entretanto, era em Cristo, que aqueles homens que se consideravam experts na lei, encontravam a falta”61. Jamieson expressa: “Com esta forma nova de propor seu caso, nosso Senhor ensina o grande princípio ético de que o deixar de atender alguma oportunidade de fazer o bem, é contrair a culpa de fazer o mal; e por esta lei ele vivia”62. Hendriksen continua: “Nesta tensa situação, o Senhor toma a ofensiva. Conhece os pensamentos deles... Então, pede ao homem que se ponha de pé e fique onde todos possam vê-lo”. “Jesus insistia que seus milagres fossem feitos abertamente, de modo que toda suspeita de engano ou de truque fosse excluída. Compare com os meios modernos de fazer as coisas às ocultas, operações de luzes apagadas, etc. Além disso, Jesus também pode ter desejado provocar a compaixão dos presentes para este homem gravemente limitado... A cura foi instantânea e completa. Cf. 1 Rs 13.6. De um modo demasiado misterioso, como para que qualquer mortal pudesse compreender, o Salvador havia concentrado sua mente na difícil situação deste pobre homem, e por meio de seu poder e compaixão havia querido e realizado a cura”. Ante a pergunta de Jesus e o milagre ante seus olhos, os fariseus e escribas ficaram em silêncio. Havia sido delatados ante o público pelo que realmente eram: dirigentes que consideravam suas rígidas regras e sutilezas mais elevadas do que a lei divina do amor e que estavam mais preocupados com suas “tradições” do que com a saúde e felicidade de um homem tragicamente incapacitado. E se o silêncio que haviam imposto a si mesmos já os havia enfurecido, o milagre que Jesus realizou fez com que tudo fosse muito pior para eles. Oh!Quem dera que eles tivessem se arrependido e confessado sua maldade! Mas, não. Eles discutiram entre si; trocando ideias, sobre o que poderiam fazer a Jesus!... O pecado nos leva a tal profundidade de degradação, a menos que a graça intervenha. 5. A ESCOLHA DOS DOZE DISCÍPULOS (6.12-19) 61 62 William Hendriksen, p. 238. Roberto Jamieson, Comentario Exegético y Explicativo de la Biblia, Tomo II NT, p. 159. 55 Só Lucas dá ênfase ao fato de que Jesus passou toda a noite em oração antes de fazer a escolha dos doze apóstolos. Este seria o primeiro passo dado em direção de uma de suas missões mais importantes, a formação da igreja. Segundo Zapata, os apóstolos “constituíram o fundamento da santa cidade de Jerusalém com as doze portas com os nomes de cada uma das tribos de Israel, guardadas por doze anjos, que teria também doze fundamentos, nos quais estavam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro como consta Apocalipse 21.14”63. Hendriksen expressa: “O apostolado é um ofício, uma comissão divinamente instituída com autoridade para ser levada a cabo. O fato de Jesus escolheu doze homens, nem mais nem menos, indica que estava pensando no novo Israel, porque o antigo Israel tinha doze tribos e doze patriarcas. O novo Israel ia ser reunido dentre todas as nações, judeus e igualmente, gentios (Mt 8.10-12; 16.18; 28.19; Mc 12.9; 16.15; Lc 4.25-27; Jo 3.16; 10.16; Ap 21.12, 14)”64. A palavra apóstolo significa: enviado ou mensageiro. Este representa aquele que o envia, e está revestido de autoridade, a qual é derivada daquele que enviou. A palavra apóstolo limita-se no Novo Testamento aos doze a Paulo, ainda que aqui Paulo não esteja presente. Os doze apóstolos eleitos não tinham uma formação cultural especial, eles já estavam seguindo Jesus e aprenderam diretamente dele. Foram eles: 1. Simão (Pedro), pescador, era líder do círculo íntimo de três apóstolos (junto com Tiago e João); tinha um temperamento muito forte, mas ao mesmo tempo uma fé inquebrantável no Senhor. 2. Tiago, filho de Zebedeu e irmão mais velho de João; foi chamado por Jesus, junto com João, de “filhos do trovão”, por causa do seu caráter tempestuoso. 3. João, o discípulo amado de Jesus; por ser o discípulo mais jovem de Jesus, sua longa vida lhe daria a experiência necessária para escrever seu Evangelho com uma visão global da mensagem do Senhor Jesus Cristo. 4. André, irmão de Simão Pedro, pescador de Betsaida, também havia sido discípulo de João Batista. 63 64 René C. Zapata, p. 61 William Hendriksen, pp. 241, 242. 56 5. Bartolomeu (Natanael), conhecido pelo que é relatado em João 1.44-49, quando ao ser convidado por Felipe para conhecer a Jesus disse: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”. 6. Felipe, nativo de Betsaida, o mesmo lugar de André e Pedro. Foi convidado por Jesus a segui-lo e ele chamou a Natanael. Foi ele que disse: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta”. 7. Mateus (Levi), publicano, coletor de impostos que deixou sua mesa de arrecadação e celebrou um banquete para seus amigos quando se encontrou com Jesus; autor do Evangelho que leva seu nome. 8. Tomé (Dídimo), palavra grega que significa “o gêmeo”, é mais conhecido por suas expressões de dúvida, que foram satisfeitas pela direta intervenção de Jesus. 9. Jacó, filho de Alfeu, também chamado de Tiago. 10. Simão (O Zelote), chamado assim porque antes de seguir ao Senhor pertencia a uma seita religiosa muito fanática chamada “os zelotes”. 11. Tadeu (Judas) filho de Tiago. 12. Judas Iscariotes, que era o único apóstolo não oriundo da Galiléia. Havia nascido na cidade de Kerioth. Sempre é mencionado como “aquele que o traiu”. Era também o tesoureiro do grupo. Hendriksen comenta: “Mesmo quando deixamos de lado a Judas Iscariotes e somente consideramos os demais, não podemos deixar de nos impressionar com a majestade do Salvador, cujo poder de atração, sabedoria incomparável e amor sem igual eram tão assombrosos que podia reunir ao seu redor e unir em uma família homens tão diferentes, às vezes opostos quanto aos antecedentes e temperamentos. Dentro deste pequeno grupo estavam: Pedro, o otimista (Mt 14.28; 26.33, 35), mas também Tomé, o pessimista (Jo 11.16; 20. 24, 25); Simão, o ex-zelote que odiava os impostos e estava ansioso por expulsar o governo romano, mas também estava Mateus que voluntariamente havia oferecido seus serviços de coleta de impostos a esse mesmo império romano; Pedro, João e Mateus, destinados a serem famosos por seus escritos, mas também Tiago, o menos que é desconhecido, que, sem dúvida, deve ter cumprido sua missão. Jesus os atraiu a si com as cordas de sua terna e infalível compaixão . Ele os amou até o fim (Jo 13.1), e na noite antes de ser traído os encomendou a Seu Pai. 57 Depois da escolha dos apóstolos, “Jesus voltou à planura onde as pessoas poderiam escutá-lo mais facilmente quando se amontoavam de todos os arredores da Galiléia. Elas podem ter sido atraídas especialmente por seu poder curador, mas Jesus aproveitou a oportunidade para ensiná-las. Ao contar a história nesta ordem (em contraste com Marcos, onde o chamado dos doze segue a este parágrafo), Lucas mostra que havia uma multidão pronta para ouvir o sermão seguinte (Lucas 7.1) e que esse sermão não era dirigido só aos doze”65. 6. BEM-AVENTURANÇAS E AÍS (6.20-26) As bem-aventuranças apontadas por Lucas são distintas da bem-aventuranças mencionadas por Mateus. Enquanto Mateus fala dos “pobres de espírito” Lucas fala dos pobres. Além disso, no breve resumo de Lucas do Sermão do Monte, Lucas apresenta os “ais”, as maldições associadas com os que não são pobres de espírito. Não é difícil ver que as bem-aventuranças de Lucas são uma adaptação do sermão do monte mais longo mencionado por Mateus. Lucas afirma a realidade da pobreza humana e a perseguição religiosa e política. Os discípulos ia ser destituídos de seus bens pelos fanáticos judeus e pelos militares romanos, por causa do Filho do Homem. Entretanto, os discípulos devem amar seus inimigos. Jesus demonstrou este amor ao receber o centurião romano como filho de Deus (7.1-10). 7. O AMOR E OS INIMIGOS (6.27-36) Hendriksen nota a diferença entre o amor ao próximo e o amor a seu inimigo: “Amai a vossos inimigos não era exatamente o que os escribas estavam ensinando às pessoas. Eles diziam: ‘Amai ao teu próximo e odiai o vosso inimigo’, mudando assim a verdadeiro ênfase da lei; a lei colocava toda a ênfase no amor acima da vingança, note-se Lv 19.18. Sendo como é a natureza humana era muito fácil para as pessoas que viviam intimidadas pelo jugo opressor estrangeiro ceder a seus maus impulsos, e assim, levantava-se uma muralha de separação entre gentios e judeus, mas era difícil deter-se aí; então surgiu outra barreira entre 65 G.J. Wenham, p. 215. 58 os “bons israelitas” como os escribas e fariseus e os “maus israelitas” como os renegados, os publicanos e o povo em geral”66. Zapata nota que o conceito de Cristo quando ao amor era revolucionário, uma revolução de graça. “As palavras de Jesus eram uma verdadeira revolução espiritual e incluíam uma visão mais clara do que Deus espera dos seus filhos. Era uma verdadeira declaração do que a presença de Deus faria na vida das pessoas que vivessem em sua presença. Isto sim, seria um verdadeiro resgate do que se havia perdido com Adão e que Jesus Cristo veio restaurar, por isso é que está escrito: Misericórdia quero e não sacrifício”67. Wenham, et al., observa que Cristo está preparando seus discípulos para a perseguição imposta pelos inimigos de Deus. “A primeira parte do sermão trata sobre as relação dos discípulos com Deus; esta segunda parte trata sobre as relações com os demais. Passa diretamente ao dever para com os inimigos. O princípio básico se estabelece nos versos 2728, onde é claro que os inimigos que tinham em mente são especialmente aqueles que perseguiam aos discípulos. São dados dois breves exemplos de tal amor: a submissão à violência quando se é golpeado por alguém e a disposição de dar ao que lhe tira a capa ainda mais”68. O amor de Deus é revolucionário. É um amor que mostra misericórdia, graça e paciência. Só Deus pode dar este tipo de amor. 8. JULGAR, PRODUZIR FRUTO E ESTÁ FUNDAMENTADO (6.37-49). O ensino sobre amar seu inimigo é radical e consistente. Jesus continua ensinando sobre julgar e a importância de ser frutífero e consistente. Nesta seção sobre as bemaventuranças e ais, o Senhor identifica aos humildes e a seus inimigos. Os inimigos de Deus está cheio de ódio, são hipócritas, são carnais e inconsistentes. Os judeus eram famosos por julgar e condenar aos gentios. Os gentios foram considerados como cachorros. Entretanto, o Filho do Homem mostra que antes de julgar tem de ser puro. É hipocrisia julgar ao outro. O Filho de Deus deve produzir fruto espiritual. Quando os inimigos de Jesus estão cheio de ódio e quando falam mentiras, mostram o que está em seus corações. 66 W. Hendriksen, p, 256. R.Zapata, p. 66. 68 G.J. Wenham, p. 326. 67 59 Os judeus identificaram a Jesus como Senhor, mas não o obedeciam. Só os que confessam ao Senhor, e o seguem estão edificando sua vida sobre a rocha. 9. JESUS CURA O SERVO DE UM CENTURIÃO (7.1-10) A missão do Filho do homem não era somente para os judeus. Lucas apresenta o caso do centurião, um oficial romano. Jesus nota a fé do centurião e o conta como um verdadeiro filho de Deus. Zapata escreve: “Um centurião era um oficial militar romano. O do relato, seguramente pertencia a uma unidade auxiliar que estava debaixo do comando de Herodes Antipas, Governador da Galiléia, no caminho da cidade de Cafarnaum. Quando Jesus passou próximo da sua casa, ele manou dois amigos com a missão de interceptá-lo para que orasse por seu servo que estava muito doente. Evidentemente a fama de Jesus já havia chegado a todos os estratos sociais da Palestina naquele tempo. Os amigos do Centurião foram representá-los já que não se considerava digno de receber Jesus em sua casa. As palavras do centurião estavam tão carregados de fé ao ponto de Jesus ficar tão admirado que exclamou: Nem mesmo em Israel encontrei fé como esta”. Jesus enviou sua palavra e o curou, de maneira que quando chegaram os amigos do centurião, encontram o servo são. A crença em Jesus por parte do centurião salvou a vida do seu servo, pela fé, que é um dom de Deus. A fé pode mudar qualquer situação. Essa é uma das premissas fundamentais da relação com Jesus Cristo que disse: “Tudo é possível ao que crer”. Cafarnaum era a cidade onde Jesus havia estabelecido sua base durante seu ministério na Galiléia. Nesta cidade estava a casa de Pedro e dos demais discípulos, que eram pescadores. Pelo incidente do centurião sabe-se que a cidade estava aguardando com expectativa a chegada de Jesus, que teve ali um ministério muito frutífero69. 10. JESUS RESSUSCITA O FILHO DE UMA VIÚVA (7.11-17) Jesus veio para “trazer as boas novas aos pobres”. Com a ressurreição do filho de uma viúva, Jesus não apenas restaura a vida do jovem, mas o sustento social e emocional desta família humilde. 69 Rene C. Zapata, p. 70. 60 Wenham narra: “A história da cura de uma pessoa a ponto de morrer (7.2) é seguida pela ressurreição de um morto em Naim, uma aldeia ao sul de Nazaré. Jesus sentiu uma simpatia especial porque a mãe era uma viúva que tinha um só filho para sustentá-la. O morto era levado em um ataúde aberto. Deixando de lado o fato de que tocar um cadáver o faria religiosamente impuro, Jesus deteve a procissão fúnebre e ordenou ao jovem que se levantasse. Esta simples palavra de ordem foi suficiente para devolver a vida ao rapaz e as pessoas ficaram cheias de uma mescla de terror e gozo ante o sobrenatural. Recordavam que Elias e Eliseu tinham feito maravilhas semelhantes (1 Rs 17.17-24; 2 Rs 4.18-37) e viram a mão de Deus em ação”70. 11. OS MENSAGEIROS DE JOÃO BATISTA (7.18-35) João Batista envia dois discípulos a Jesus para pedir confirmação de que Jesus era o Messias. Hendriksen nota: “A fama pelos poderosos milagres de Jesus, que incluíam ressuscitar mortos, foi crescendo incontidamente. João Batista, que o havia batizado não muito tempo antes, enviou a dois de seus discípulos para confirmar se Jesus era aquele que ele estava anunciando. A falta de contato direto entre eles, pelo fato de que João esta preso nesse tempo foi seguramente o motivo do envio de seus discípulos, para conhecer o que estava acontecendo, para afirmar sua fé, para assegurar-se, para ter uma confirmação, para poder esperar no cárcere os acontecimentos”71. A confirmação de que Jesus era o Messias era que os sinais do reino de Deus estavam no ministério de Jesus. As profecias de Isaias 61 foram cumpridas. “...os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho”. Além disso isso foi uma referência direta aos líderes e ao povo judeu que rejeitava ao Senhor: “E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço”. O ministério ungido do Messias (Lc 4.18-19) é parte da vinda do reino de Deus. Henry observa: A seus milagres no reino da natureza, Cristo agrega este no reino da graça. Prega-se o evangelho aos pobres. Indica claramente a natureza espiritual do Reino de 70 71 G. J. Wenham, p. 219. Rene C. Zapata, pp. 71-72. 61 Cristo, como o arauto que enviou a preparar seu caminho o fez ao pregar o arrependimento e a mudança de coração e de vida. Aqui se remarca com justiça a responsabilidade dos que não foram atraídos pelo ministério de João Batista ou do próprio Jesus Cristo. Zombaram dos métodos que Deus adotou para fazer-lhes o bem. Esta é a ruína de multidões: não são sérios nos interesses de suas almas. Pensemos no modo de mostrar-nos como filhos da sabedoria atentando às instruções da Palavra de Deus e venerando os mistérios e a boa nova que os infiéis e os fariseus ridicularizam e blasfemam”72. 12. JESUS NA CASA DE SIMÃO, O FARISEU (7.36-50) Lucas continua narrando exemplo após exemplo sobre a verdade de que o Messias veio para trazer boas novas aos pobres. Neste caso, é uma mulher “da cidade”. Zapata comenta: “Esta mulher era considerada como algo sem valor na sociedade judia, entretanto, quando soube que Jesus estava na casa do fariseu Simão, lançou mão de um frasco de alabastro cheio de perfume e foi lavar os pés de Jesus Cristo”73. Lucas presta atenção a como Simão, o fariseu, interpreta a ação da “mulher da cidade”. Pode-se dizer de Simão que ele teve que ser perdoado por não ser pobre de espírito. “Começou a ungi-lo com perfume, muito possivelmente pago com os ganhos de sua vida imoral, mas as lágrimas a impediram de terminar a tarefa. Sem dúvida, essas ações eram indecorosas, mas ela estava sob uma grande tensão emocional para se importar com o que as pessoas pensavam. O fariseu se sentiu muito incomodado pela forma como Jesus aceitou o respeito que lhe dava uma pessoa tão indesejável e de modo tão embaraçoso. A percepção de que Jesus era um profeta se contradisse porque aparentemente ele não tinha consciência de que a pessoa que estava lhe tocando era uma pecadora e, por fim, impura. Mas Jesus sabia o que estava acontecendo e fez Simão notar isso por meio de uma parábola com uma mensagem muito clara: o amor é a prova de que uma pessoa recebeu perdão, e que quanto mais é perdoada mais amará”74. O perdão dos pecados da mulher é acompanhado pelo perdão que Simão, o fariseu, precisava, por não entender a graça de Deus e por não ser, como a mulher arrependida, pobre de espírito. 72 Matthew Henry, p. 10. René C. Zapata, p. 74. 74 G. J. Wenham, p. 221. 73 62 13. MULHERES QUE SERVEM A JESUS (8.1-3) Onde quer que Jesus falava, em qualquer povoado ou aldeia, fosse em uma casa, uma sinagoga, ou ao ar livre, ele proclamava com entusiasmo e ardor as boas novas do “reino de Deus”, o reino da graça no qual Deus é Rei e, no qual a salvação é seu dom gratuito a todos os que confiam nele. Nessa ocasião, Jesus estava com os doze, e também com algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Este grupo de mulheres participava do ministério de Jesus e ajudava a prover suas necessidades e as de seus acompanhantes varões. De acordo com Henry “isto mostra a baixa condição à qual se humilhou o Salvador, a ponto de necessitar da bondade delas, e sua grande humildade em aceitá-las. Sendo rico se fez pobre por nós”75. “Nos alegra ler que além das três mulheres aqui mencionadas havia “muitas outras”. O que temos aqui, portanto, é uma verdadeira sociedade feminina”76. 14. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (8.4-18) Para uma semente crescer, primeiro deve ser semeada, morrer e depois crescer. Os discípulos entenderam as parábolas, mas depois da morte e ressurreição de Jesus e a vinda do Espírito Santo puderam lembrar e aplicar esta parábola. A parábola é um excelente método para lembrar ensinos importantes. “Jesus ensinava usando histórias da vida cotidiana para ilustrar verdades espirituais ou morais. Em geral, estas histórias tinham significados ocultos aos olhos comuns. O nome “parábola” vem da palavra grega “parabole” que significa: pondo ao lado, ou também, comparando. Pode-se dizer que o termo atual paralelismo seria mais adequado”77. “Na parábola do semeador há muitas regras e excelentes advertências mui necessárias para ouvir a palavra e aplicá-la. Bem-aventurados somos, e estamos sempre endividados com a livre graça; o que para os outros é só um conto que os diverte, é uma verdade clara para nós pela qual nos ensina e governa. Devemos tomar cuidado com as coisas que nos impedem de tirar proveito da Palavra que ouvimos; tomar cuidado para que não ouçamos com negligência e sem atenção; tomar 75 Matthew Henry, p. 10. William Hendriksen, p. 303. 77 René C. Zapata, p. 78. 76 63 cuidado para que não abriguemos preconceitos contra a palavra que ouvimos; e cuidar para que nosso espírito, depois de termos ouvido a palavra, não aconteça de perder o que ganhamos. Os dons que temos perdurarão ou não segundo os usemos para a glória de Deus e o bem de nossos irmãos. Tampouco basta sustentar a verdade com injustiça; devemos desejar ter em alta conta a palavra de vida, e que resplandeça iluminando tudo ao redor de nós. Ela dá grande ânimo àqueles que são fiéis ouvintes da Palavra e praticantes. Cristo os reconhecerá como seus familiares”78. 15. A LUZ DEVE BRILHAR (8.16-18) A luz dos ensinos do Senhor deve ser aplicada à vida. Todos os que escutaram a Palavra tinham um dever moral para vivê-la. Não se deve esconder a luz. Os que agem assim vão perder a luz. O ministério da palavra vai ser dado aos outros, aos gentios. “...e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado” (8.18). 16. A MÃE E OS IRMÃOS DE JESUS (8.19-21) “Então”. O ensino sobre ler luz aplica-se também à família de Jesus. A família de Deus se define, não simplesmente pela naturalidade, mas por seguir a Cristo. “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam”. “Não nos é revelado porque a mãe e os irmãos de Jesus estavam tentando fazer contato com ele. Entretanto, é possível que Marcos 3.21-11 lance luz sobre o tema. Se assim é, então a explicação mais benévola e provavelmente a mais natural seria que alguns comentários inquietantes acerca de Jesus, por exemplo, que seus oponentes o consideravam endemoninhado, haviam induzido Maria e aos irmãos de Jesus por afeto natural e preocupação, a tentar tirá-lo da vista do público e provindenciar um lugar de repouso e restauração”79. Num momento tão importante de sua mensagem, apareceu sua mãe Maria e seus irmãos. Evidentemente a intervenção deles era algo inoportuno, já que o que Jesus falava tinha a ver diretamente com a extensão do reino de Deus através das pessoas que recebiam a 78 79 Matthew Henry, pp. 10-11. W. Hendriksen, p. 313. 64 Palavra de Deus em seus corações. Era o momento no qual ele admoestava aos que o seguiam que deviam transformarem-se inevitavelmente em seus porta-vozes e deviam manifestar ao mundo o que haviam visto e ouvido. Não há boas referências na Bíblia acerca das relações entre Jesus e os seus irmãos, que eram filhos de José e Maria”80. “Isto não significa que de alguma maneira Jesus estivesse rejeitando sua família; porém sua presença permitiu uma boa ilustração do que ele estava querendo dizer”81. 17. JESUS ACALMA A TEMPESTADE (8.22-25) A revelação da identidade divina do Filho do Homem é progressiva. Antes Jesus mostrou, pela pesca milagrosa, que ele era o pescador de homens, agora, Jesus vai mostrar, por seus feitos, que ele e Deus. “O lago da Galiléia está rodeado de montanhas com vales estreitos entre elas; estes formam canais por onde o vento sopra de repente com força, produzindo grandes ondas. A resposta de Jesus aos discípulos sugere que eles tinham de se dar conta de que, ainda que estivesse dormindo, nenhum mal poderia sobrevir sobre eles. Não obstante, se levantou e se dirigiu ao vento e ao mar como se fosse seu dono. Esta “parábola em ação” levou os discípulos à pergunta correta: Quem é este? A resposta é que Deus é quem governa o mar e que seu poder estava em ação em Jesus (Salmo 89.8-9; 93.3-4; 106.8-9; 107.23-32; Isaías 51.9-10). Sem dúvida, os discípulos apenas começavam a entendê-lo”82. 18. A LIBERTAÇÃO DE UM ENDEMONINHADO (8.26-39) Jesus mostra seu domínio sobre o mundo sobrenatural e o natural. O homem foi libertado de demônios e os demônios foram enviados a uma manada de porcos. “Quando chegaram ao lado oriental do lago, Jesus veio ao seu encontro um homem que parecia está possuído por demônios, dado que tinha uma visão sobrenatural de quem era Jesus. Num outro aspecto, sua condição era similar ao que agora se descreveria como uma psicose maníaco-depressiva. O cuidado médico daquele tempo não conhecia outro tratamento a não ser manter os enfermos mentais sob restrições, mas este homem havia superado todos os 80 R. Zapata, p. 80. G. J. Wenham, p. 223. 82 Ibíd., pp. 223-224. 81 65 intentos de controlá-lo. Sentia que era dominado por um conjunto de impulsos conflitantes e que estava possuído por tantos demônios quantos soldados romanos haviam em uma legião romana, ou seja uns 5.000. Jesus teve simpatia por ele e o libertou dos demônios. O homem pode comprovar que haviam saído dele porque uma manada de porcos próxima, de repente, mostrou sinais de haver sido possuída pelos demônios. As pessoas que o rodeavam ficaram aterrorizadas pelo ocorrido e pediram a Jesus que fosse embora. Não podiam reconhecer que Deus em sua graça havia libertado ao homem de sua carga. Seguramente foi por isso que Jesus insistiu com aquele homem que fosse para casa. Se as pessoas tinham medo de Jesus, escutariam a uma pessoa conhecida que podia falar da bondade que Deus havia mostrado por meio de Jesus”. Os críticos lamentavam a destruição dos porcos, um grande rebanho do qual as pessoas dependia para seu sustento, mas pode-se replicar que uma pessoa (sã) vale mais que muitos porcos. Outros têm sugerido que a história deve explicar-se racionalmente: os porcos estavam assustados pelos gestos do endemoninhado e saíram correndo para o lago. Porém se admitimos a possibilidade da possessão demoníaca (ver 4.33), não seria sábio descartar a explicação dada pelos evangelistas”83. 19. A FILHA DE JAIRO E A MULHER QUE TOCOU O MANTO DE JESUS (8.40-56). A restauração da filha do chefe da sinagoga e a cura de uma mulher que padecia de fluxo de sangue são apresentadas juntas. Todos têm necessidade e a graça de Jesus não faz acepção de pessoas. “Não nos queixemos das pessoas, nem de uma multidão, nem da urgência se estamos no caminho de nosso dever e fazendo o bem, pelo contrário, todo homem sábio se manterá o mais longe que possa dessas coisas. Mais de uma pobre alma curada, socorrida e salva por Cristo se acha oculta entre as pessoas e ninguém nota. Esta mulher veio trêmula, mas a sua fé a salvou. Pode ser que haja temos onde há fé salvadora. – Observa as consoladoras palavras de Cristo para Jairo: Não temas, tão somente crer, e tua filha será salva. Não era menos duro não chorar a perda de uma filha única, que não temer a continuação dessa dor; mas na fé perfeita não há temor; quanto mais temos, menos cremos. A mão da graça de Cristo vai com o 83 Ibíd., pp. 224. 66 chamado de sua palavra pra fazê-la eficaz. – Cristo mandou dar-lhe somente carne. Como bebês recém-nascidos assim desejam alimento espiritual os recém-ressuscitados do pecado, para crescer”84. 20. A MISSÃO DOS DOZE (9.1-6) Os doze apóstolos receberam uma comissão especial para ministrar entre as pessoas. O ministério dos apóstolos, tal como o de Jesus, é integral e amplo. São enviados para pregar o reino de Deus, curar os enfermos e lançar fora os demônios. Fazem a obra dos evangelistas, mestres, pregadores, pastores, médicos e psicólogos. “Os enviou a pregar o Evangelho do reino de Deus... começou a falar-lhes do reino de Deus. Pregar o reino (ou: reinado, governo real) de Deus significa nada menos que proclamar a absoluta soberania de deus em todas as esferas, o coração, a mente, a vida, a família, a aldeia, a cidade, a nação, o mundo, a educação, a indústria, o comércio, a arte, a ciência, a política, etc. “E a curar enfermos”. Uma vida em harmonia com a regra “confiar e obedecer” produz bênçãos tanto para o corpo como para a alma. Deveríamos dar graças a Deus tanto privada quando publicamente, não somente pelos pastores cristãos, missionários, evangelistas leigos, mas também pelos doutores e enfermeiros cristãos. “Percorriam todas as aldeias”. O ministério cristão deve ser realizado não somente nas cidades, mas também nas aldeias; não somente em espaçosos salões, mas também em capelas. Não atribuiu Spurgeon sua conversão a um sermão pregado (com a bênção de Deus) por um leigo, em uma pequena capela? O que é mui pequeno ante os olhos dos homens pode ser muito importante aos olhos de Deus. Veja-se Miquéias 5.2; Zacarias 4.10; João 1.46”85. 21. A MORTE DE JOÃO BATISTA (9.7-9) Herodes, que matou João Batista, tinha ouvido que Jesus era João ressuscitado. Mesmo sendo essa informação incorreta, a ressurreição é uma realidade. A ideia da ressurreição deve aterrorizar a consciência do homem que matou a um homem inocente como João Batista. A ressurreição implica em um dia de juízo onde todas as vítimas de abortos 84 85 Mathew Henry, p. 11. W. Hendriksen, p. 346. 67 provocados, de crianças abusadas, de familiares vítimas de violência e de outras pessoas maltratadas vão ser testemunhas da maldade de alguém. “O grande êxito dos discípulos e a excitação tremenda que produziu sua missão indica o fato de que os relatos de sua obra chegaram até Herodes, o rei, e os fizeram temer no trono. Não é que temesse o que Jesus poderia fazer; era antes, devido a que houve nesses rumores algo que despertou sua consciência adormecida e que o encheu de uma perturbação e temor secretos. “... porque alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos”. Herodes havia decapitado João, mas não pode apagar a memoria de sua vil ação; e agora se perguntava qual seria a verdadeira índole dos milagres que se relatavam e do Homem em cujo nome se realizavam. “E se esforçava para vê-lo”. Era simples curiosidade. Provavelmente queria vê-lo realizando algum milagre. Não muito depois ele iria ter a oportunidade de estar frente a frente ao Homem divino, ainda que fosse numa ocasião inesperada na qual o dito Homem estaria como prisioneiro e na qual Herodes estaria com o poder de oferecer-lhe proteção e ainda, libertação. Mas, chegada a ocasião, o silêncio de Jesus o desapontou e ele o deixou ir para a crucificação e morte. Aquele que havia decapitado João não poderia entender a Jesus. Quem viola sua própria consciência e fecha os ouvidos ás solenes admoestações ao arrependimento, não pode esperar que Cristo se lhe revele em toda sua beleza, graça e poder salvador”86. 22. JESUS ALIMENTA A CINCO MIL (9.10-17) Há uma resposta surpreendente ao ministério dos doze apóstolos. Não foi possível descansar porque as pessoas tinha muita necessidade espiritual e física. Depois de uma grande excursão pregando o Evangelho, Jesus e os apóstolos quiseram fazer um retiro em um povoado chamado Betsaida. Zapata comenta: “Seguramente Jesus sentiu a necessidade de se concentrar em seu treinamento, longe das multidões e dos problemas religiosos ou políticos. Tal tranqüilidade para compartilhar com seus seguidores imediatos teve que ficar para depois, pois quando as pessoas souberam que os apóstolos e Jesus estavam ali, acudiu uma multidão, uns cinco mil, para vê-los e ouvi-los”87. Toda essa multidão comendo junta simbolizava a unidade desta nova comunidade cristã, congregada em torno do Senhor Jesus Cristo. Ele é o pão que desceu do céu, como o 86 87 S.a., Comentario Evangelio de Lucas, p. 52. René C. Zapata, p. 89. 68 maná a seus antepassados, que veio do céu. Todos comeram até ficar satisfeitos, que é a medida que Deus nos dá sempre. Nesta oportunidade sobraram doze cestos. Os cestos cheios davam aos discípulos uma prova material dos poderes supremos de Deus e seus propósitos de alimentar com verdadeiro pão a todos os que têm fome de Deus. Henry expressa: Quando recebemos consolo por meio de criaturas, devemos reconhecer que o recebemos de Deus, e que somos indignos de recebê-lo; que tudo, e todo o consolo que tenhamos nele, o devemos à mediação de Cristo, por meio de quem foi retirada toda a maldição. A bênção de Cristo fará que o pouco sirva de muito. Ele satisfaz a toda alma faminta; a satisfaz abundantemente com a abundância de sua casa. – Recolheram-se as sobras: na casa de nosso Pai, há pão suficiente e ainda pode-se guardar. Não estamos limitados nem temos escassez em Cristo”88. 23. A CONFISSÃO DE PEDRO (9.18-27) A confusão de Herodes e do povo é esclarecida por Jesus. Ela pergunta aos discípulos: “Quem dizem as multidões que sou eu?”. A resposta de Pedro é que Jesus é o Cristo, o Messias, como foi anunciado em Lucas 4.18-19. Mateus adiciona que esta revelação não veio de Pedro, mas pela iluminação de Deus (Mt 16.17). Jesus fala do seu sofrimento, morte e ressurreição. O plano de Deus foi estabelecido antes da fundação do mundo (Ef 1.4). As ameaças de Herodes e a perseguição dos líderes religiosos são parte do plano de Deus para trazer salvação ao mundo. Como Jesus ia morrer na cruz, assim os filhos de Deus devem fazer morrer a si mesmo, “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e sigame”. A morte do Filho do Homem não só é um fato histórico, mas também uma realidade espiritual para o crente. 24. A TRANSFIGURAÇÃO (9.28-36) Três dos discípulos, Tiago, João e Pedro, foram testemunhas da transfiguração. Na transfiguração apareceram Moisés e Elias. Moisés representa a Lei e Elias os profetas. As hostes celestiais estão atentos à história da redenção na terra. 88 Matthew Henry, p. 12. 69 Só Lucas registra que Jesus estava orando e, portanto, estava em contato com o mundo celestial. Talvez a história tenha o propósito de mostrar como os olhos dos discípulos foram abertos para que vissem o que ocorria quando Jesus estava em comunhão com seu Pai (2 Rs 6.17). Sua aparência mudou e suas vestes resplandeceram com uma luz celestial, e junto a ele apareceram dois homens, que estavam mortos há tempos. Moisés e Elias, que representavam a lei e os profetas, tiveram ambos, uma partida pouco comum deste mundo e esperava que ambos reapareceriam ao fim dos tempos. Falavam com Jesus sobre sua partida (gr. êxodos) ou seja, sua morte e ressurreição, e dessa forma confirmavam o que Jesus havia profetizado no v. 22. Pedro sentiu que deviam fazer três tendas para Jesus e os visitantes, para honrá-los ou para prover algum lugar onde pudessem ficar. Mas, o narrador insiste em que Pedro não havia entendido qual era a situação. O verdadeiro significado devia encontrar-se na nuvem (um símbolo da presença de Deus) e na voz celestial que repetiu o que havia sido dito no batismo de Jesus (Lc 3.22), mas desta vez, dirigindo-se aos discípulos. Aquele Jesus a quem Pedro havia confessado como Messias era realmente o Filho de Deus; não apesar de seus iminentes sofrimentos, mas por causa deles. Portanto, os discípulos deviam obedecê-lo, e só a ele”89. O testemunho do Pai é por uma voz que dizia: “Este é meu Filho amando; a ele ouvi”. Deus o Pai, é uma pessoa divina tal como o Filho de Deus é uma pessoa divina. Não são a mesma pessoa. Não é que Deus primeiro se manifesta como Pai e depois como Filho (modalismo), mas cada pessoa da trindade fala por si. 25. JESUS CURA A UM RAPAZ ENDEMONINHADO (9.37-45) Na transfiguração Deus o pai fala de Seu Filho amado. Ao descer do monte, Jesus e os discípulos são encontrados por um pai cujo único filho é atormentado por um demônio. Os discípulos não puderam livrar ao jovem, mas Jesus pode. “Quão deplorável é o caso deste menino” Esta sob o poder de um espírito maligno. As enfermidades dessa natureza são mais aterradoras que as que surgem de simples causas naturais. Quanta maldade Satanás faz quando toma posse de uma pessoa! Mas bemaventurados são os que têm acesso a Cristo! Ele pode fazer por nós o que os discípulos não 89 G. J. Wenham, pp. 228-229. 70 puderam. Uma palavra de Cristo curou ao menino e quando nossos filhos se recobram da enfermidade, nos consola recebê-los como curados pela mão de Cristo” 90. Jesus “repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai”. Libertação, cura e restauração família. Tudo é obra de Deus. Apesar da grandeza da obra de Deus, Jesus menciona pela segunda vez que “o Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens”. Os espíritos maus, ele poderia expulsá-los, porém o pecado dos homens precisa da morte e da ressurreição do Filho do Homem. 26. QUEM É MAIOR? (9.46-50) “Agora suscitou-se entre eles uma disputa sobre quem era o maior; por um lado, um maravilhoso autossacrifício e por outro, egocentrismo baixo. Com o intento de gravar nesses homens a lição que tão desesperadamente precisavam, Jesus toma uma criança junto a si. Em relação a isso não deve escapar-nos que quando Jesus fala de “crianças” está pensando em traços característicos tais como a falta de pretensões e a confiança humilde. Assim, considerados, “os pequeninos do Senhor” não são necessariamente jovens na idade e pequenos da estatura física, mas todos os que revelam as características espirituais mencionadas acima”91. Os filhos dos homens devem receber o Filho do Homem. Ao receber o Filho do Homem, recebem ao Filho de Deus, e “recebe ao que me enviou”. Recebe-se o Filho do Homem por receber sua Palavra (8.14-15) e por fazer brilhar a luz do Evangelho (8.16-21). CONCLUSÃO O Filho do Homem, o Messias, veio para trazer e pregar boas novas aos pobres. Para fazer isso o Senhor preparou seus discípulos. A pesca maravilhosa está relacionada com fazer os discípulos de pescadores de homens. Jesus preparou aos discípulos para serem apóstolos; para serem enviados para pregar; com autoridade sobre demônios e com poder para curar. 90 91 Mathew Henry, p.12. W. Hendriksen, p. 372. 71 O Filho do Homem mostrou sua compaixão pelo ser humano livrando-o de espíritos malignos e curando-os de várias enfermidades. Mesmo assim, os líderes religiosos iam entregar o Filho do Homem para ser crucificado. Os inimigos do Filho do Homem: os líderes religiosos e políticos, os “ricos” que rejeitaram João Batista, rejeitaram ao Senhor e vão rejeitar aos discípulos do Senhor. Por isso, os discípulos devem receber o Filho do Homem, obedecer a Sua Palavra, ser luz num mundo de trevas e assim, receber as bênçãos de Deus. 72 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 4 1. Qual foi a resposta de Pedro ao milagre da pesca maravilhosa? 2. Qual foi a resposta de Jesus aos fariseus quando arrazoavam? 3. Para que Jesus veio, segundo a sua resposta aos fariseus e publicanos? 4. O que os fariseus não tinham lido nas Escrituras segundo o Senhor Jesus? 5. A quem se assemelha aquele que ouve a Palavra de Deus? 6. Quem se recusou a ser batizado por João Batista, rejeitando o propósito de Deus sobre eles? 7. O que foi que salvou a mulher pecadora na casa do fariseu que convidou Jesus para comer e o que foi que convenceu o centurião que seu servo seria curado com apenas uma palavra de Jesus? 8. Segundo o capítulo 8 de Lucas, quem acompanhava Jesus pelos povoados e aldeias, e o que proclamavam? 9. Quando Jesus subiu ao barco com seus discípulos, o que aconteceu no lago? O que sentiram os discípulos? E o que Jesus fazia enquanto isso acontecia? 10. No capítulo 9 de Lucas relata-se que Jesus subiu a um monte para orar. Quem o acompanhava? E, com que Jesus se encontrou e conversou? 73 LIÇÃO CINCO O MINISTÉRIO EM PERÉIA E JERUSALÉM (9.51-19.27) Luis Pieschacon y Mara Parra INTRODUÇÃO Lucas nos mostra que Jesus, como Filho do Homem, veio buscar aos perdidos, humildes e desamparados; Mas, também salvou ricos ou “importantes” como Mateus, Zaqueu, Paulo, etc. O que Lucas deixa claro é que cada uma dessas pessoas com privilégios materiais ou com renome que o Senhor alcançou, reconheceu a pobre condição espiritual em que se encontrava, e sua necessidade de um encontro com o Salvador do mundo. 1. JESUS E SEUS DISCÍPULOS (9.51-10.24) Jesus repreende a Tiago e João (9.51-56) Os judeus habitualmente alongavam o caminho desde a Galiléia até Jerusalém rodeando Samaria porque consideravam os samaritanos impuros. Ainda assim, o Senhor decidiu cruzar a cidade, mas os samaritanos não quiseram recebê-lo, e por isso estes discípulos indignados lhe propuseram carnalmente ao Senhor fazer fogo descer do céu para destrui-los. Jesus os repreendeu. “Nos é muito fácil dizer: Venham, vejam o zelo pelo Senhor! E pensar que somos muito fiéis à sua causa, quando estamos seguindo nossos próprios objetivos e até fazendo mal ao próximo”92. Os que queriam seguir a Jesus (9.57-62) Muitos queriam seguir ao Senhor. Um homem disse: “te seguirei a onde fores”; Jesus o desanimou dizendo-lhe que sua missão era totalmente dependente de Deus. Outro disse que ante tinha que sepultar seu pai. Jesus lhe informou que sua missão não se podia postergar. Outro quis despedir-se de sua família. “Qualquer pessoa que começa a servir a Deus em seu 92 Henry, p. 12. 74 ministério é um soldado total, alistado para sempre, sem uso do próprio critério do que está bem ou mal, pelo contrário, como uma criança, confiante, decidido até à morte”93. Missão dos setenta (10.1-12) Lucas é o único que registra que Jesus mandou outro grupo de discípulos a fazer a obra missionária. Setenta homens deviam ir com simplicidade, sem perder tempo, aceitar a hospitalidade dos que lhe oferecessem, sem impor condições. Sua mensagem: o Reino de Deus havia chegado; os sinais: as obras poderosas que fariam. Se a mensagem não fosse recebida, deveriam dar-lhes uma advertência sobre o juízo de Deus. Ais sobre as cidades impenitentes (10.13-16) Jesus comentou sobre o destino das cidades que haviam rejeitado sua mensagem no dia do juízo. Os judeus consideravam que as cidades pagãs da antiguidade eram absolutamente ímpias. Quando se diz que elas teriam uma resposta mais cálida ao Evangelho, que essas cidades judias era uma forma de declarar a cegueira dos judeus ao Evangelho. Finalmente, Jesus enfatizou que os discípulos deviam ser representantes pessoais e, portanto, representantes de Deus. Regresso dos setenta (10.17-20) Os setenta regressaram com alegria por sua missão cumprida. Mesmo os demônios se submetiam a eles em nome de Cristo. Jesus os corrige. Sua alegria principal não devia fundamentar-se em obras extraordinárias, mas, em participar de sua causa triunfante e receber a salvação. Jesus se regozija (10.21-24) Jesus agradeceu a Deus porque sua revelação fora dada às pessoas comuns, e que não estava ligada à sabedoria humana. Sua oração terminou com uma confissão de que esse 93 Zapata, p. 97. 75 conhecimento lhe havia sido dado pelo Pai. Os discípulos haviam recebido esse conhecimento da parte do Filho. As pessoas do passado podem ter visto com agrado a vinda do Reino, mas só aos discípulos foi concedido ver e ouvir o Filho de Deus. 2. JESUS ENSINA SOBRE O AMOR AO PRÓXIMO E A DEUS (10.25-42) O bom samaritano (10.25-37) Jesus ensinou que não os ouvidores da lei que terão a vida eterna, mas os que a praticam, e é impossível cumprir a lei sem a graça de Deus. Para os religiosos, o próximo era uma minoria integrada por judeus e gentios convertidos ao judaísmo. Muitos, como acontece hoje, evitavam aqueles que tinham um fé ou cultura diferente. “A história que Jesus contou serviu para ampliar o conceito de próximo que os judeus tinham nesse momento, mostrando que as pessoas devem entregar seu amor de todo coração, tal como Deus o faz, enquanto que as ações do sacerdote e do levita mostraram que estavam seguindo a letra e não ao espírito da lei”94. Jesus visita Marta e Maria (10.38-42) Estas duas irmãs adotaram atitudes completamente diferentes. Maria valorizou a magnífica oportunidade de estar ante Jesus e não queria perder seus gestos ou palavras. As obrigações de Marta, entretanto, a retiveram em outras tarefas. Sua indignação crescia até que explodiu, repreendendo também a Jesus. Elas representam dois tipos de atitudes dos que seguem ao Senhor: “Alguns têm um espírito de trabalho e luta, e lhes parece que se eles se movimentam, trabalham com afinco, com muito esforço, então o Reino de Deus verdadeiramente se estenderá sobre a terra. Estes seriam as Martas. Mas, há outros que se animam a confiar e a esperar no Senhor e mais que andar revolucionando tudo, se dedicam a orar, aprender, agradecer e escutar a Deus, em uma atitude melhor, de repouso, fé e confiança. Jesus disse que essa era a melhor parte”95. 94 95 Zapata, pp. 100, 101. Zapata, pp. 101, 102. 76 3. JESUS ENSINA A ORAR (11.1-13) Jesus e a oração (11.1-13) Em Lucas apresenta-se a oração cristã de uma forma mais breve que em Mateus. Esta contém uma invocação e dois pedidos. “Pai traduz o aramaico Abba; Jesus convida seus seguidores a usar o mesmo termo íntimo que ele usava para dirigir-se a Deus. Santificado seja o teu nome é a primeira das duas petições relativas ao próprio Deus. Que seu nome, ou seja, sua pessoa, seja honrado por todo o mundo. Venha o teu reino. Que o governo de Deus, em paz e justiça, chegue a ser uma realidade. Depois as necessidades pessoais são mencionadas, a oração de o pão nosso de cada dia. Esta petição pode ser não só por comida mais também pelo pão da vida, o dom de Deus sem o qual não podemos viver. Depois, há uma oração por perdão diário, concedido só àqueles que perdoam a outros. Finalmente, o que está pedindo, pede para ser preservado da prova que poderia debilitar sua fé. Lucas presta atenção ao ser ativo na oração. “Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á”. Três vezes Jesus repete a mesma verdade: ao pedir, buscar ou clamar Deus vai responder. 4. JESUS E OS INIMIGOS DO REINO DE DEUS (11.14-12.3) Uma casa dividida contra si mesma (11.14-23) Quando Jesus expulsou o demônio que tinha estava no homem mudo, alguns pensaram que ele o fez no poder de Belzebu (príncipe dos demônios). Jesus apelou à racionalidade dizendo-lhes que é impossível que um reino lute contra si mesmo. Como os benefícios recebidos são contrários aos interesses do reino das trevas que consistem em roubar, matar e destruir, aquilo só poderia ter sido pelo reino de Deus. “Tudo o que serve para aproximar as pessoas de Deus, para que pelo novo nascimento entrem no reino de Deus, tudo o que traz ao homem cura, libertação e bênção, nunca será feito pelo Diabo, pelo contrário é o Reino de Deus que está em operação”96. 96 Zapata, p. 105. 77 O Espírito imundo que volta (11.24-26) O objetivo dessa passagem não é satisfazer a curiosidade sobre os demônios, mas advertir sobre o perigo de um falso arrependimento. Essa é a condição do hipócrita. A casa é varrida superficialmente por uma confissão forçada, como a de Faraó; por uma contrição fingida como a de Acabe; ou por uma reforma parcial como a de Herodes. “A casa está varrida, mas não lavada; o coração não está santificado... Nunca foi entregue a Cristo nem habitado pelo Espírito”97. Os que na verdade são bem-aventurados (11.27-28) Enquanto os escribas e fariseus blasfemavam dos discursos de Jesus, a mulher dessa passagem o admirava. Daí surgiu sua bênção sentimental: “Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te amamentaram!” Mas Cristo conduziu a esta mulher a uma consideração mais elevada. Ainda que seja um grande privilégio ouvir a Palavra de Deus, só são abençoados de verdade, os que a obedecem. A geração perversa pede um sinal (11.29-32) Ante os que seguiam o Senhor para ver milagres e sinais, ele disse que o único sinal que lhe seria dado era o sinal do profetas Jonas, que esteve três dias nas profundidades do corpo de um grande animal marinho. A missão do Senhor foi tão importante que é um sacrilégio minimizar a mensagem do Evangelho, reduzindo-a à exibição de manifestações divinas. A Lâmpada do corpo (11.33-36) Quando se acende uma lâmpada não é para ver algo escondido. Jesus denuncia os fariseus que o viam sempre com má predisposição, e que viviam completamente em escuridão. “O olho deve ter uma visão equânime, imparcial, e ver a realidade com honestidade, já que o ponto de vista preconceituoso, como tinham os fariseus e muitos 97 Henry, p. 15. 78 também na atualidade, impede uma visão clara da realidade”98. Como diz o ditado popular: “O pior cego é o que não quer ver”. Jesus acusa aos fariseus e intérpretes da lei (11.37-54) Jesus visitou a casa de um fariseu para uma refeição. Os fariseus se lavavam antes de comer, não para limpar o corpo, mas para remover a impureza do pecado pelo contato com pecadores. Jesus os criticou. Se Deus fez o exterior e o interior das pessoas, o interior também deveria ser limpo. Os mestres da lei haviam criado as regras triviais da lei e punham carga aos demais, mas eles mesmo não podiam carregá-las. Ainda que construíssem tumbas com muitos ornamentos para os profetas, eram semelhantes aos seus antepassados que os haviam matado, ignorando sua mensagem. O fermento dos fariseus (12.1-3) Jesus disse a seus discípulos cuidassem para não se contaminar com os fariseus e com suas hipocrisias. Os fariseus sabiam claramente seu sistema de doutrina, mas o que lhes faltava era a graça de Deus, a relação com Deus, a humildade; estavam atados a suas crenças judias, mas não tinham o Espírito de Deus dirigindo suas vidas. O fermento irritante para Jesus era a hipocrisia. A transparência é o requisito mais importante de um homem que segue a Deus. Tudo o que é oculto, mesmo que pensamento, será exposto à luz. 5. JESUS ENSINA SOBRE COMO RECEBÊ-LO E SEGUI-LO (12.4-14.35) A quem se deve temer (12.4-7) Jesus ensinou que não se devia ter medo nem mesmo daqueles que matam o corpo, pois nada mais podem fazer. Nada sucederá a um cristão que Deus não permita, pois tudo está debaixo de seu controle, e Ele valora a cada um muito mais do que a qualquer pardal. A exortação implícita é “Confiai e temei”. 98 Zapata, p.108. 79 O que me confessar diante dos homens (12.8-12) Jesus promete que confessará ou conhecerá ante os anjos de Deus aqueles que o confessam. “A mensagem levada pelos discípulos não devia ser uma mera recitação de palavras memorizadas. Ao contrário, os corações deviam está nessa mensagem. Sua pregação devia consistir em dar testemunho”99. O Espírito Santo é o que se encarrega de formar em nós a imagem de Jesus e quem nos relaciona com o Pai. Por isso, é impossível que seja perdoada a blasfêmia contra Ele. O rico insensato (12.13-21) Ainda que a igreja ofereça princípios morais ao ser humano, o âmbito da igreja é espiritual. Por isso Jesus se negou a partir a herança, pois viu que o homem deixou de lado a lei civil e buscou, com avareza, o seu apoio. Jesus admoestou a multidão sobre a avareza, contando-lhes a história de um rico que acumulava bens para desfrutar deles em anos posteriores, e que de repente, se viu ante a morte e o fato de deixar para outros aquilo que possuía. Sua loucura foi esquecer que a fortuna e a própria vida dependem da vontade e da bondade de Deus. A ansiedade (12.22-31) A comida, o vestir e a casa são necessidades humanas básicas. Jesus não desconsiderou essas necessidades, senão que colocou em primeiro lugar o que vem de cima. Ele exige uma atitude de fé que rompe com as estruturas humanas internas. As pessoas alcançadas pelo Evangelho perdem primeiramente o medo, já que Deus não nos dá espírito de temos, mas de poder, amor e domínio próprio. Quem busca em primeiro lugar ter atendidas todas as suas necessidades, nunca terá uma boa relação com Deus nem uma participação mais eficaz na extensão do Seu Reino. Tesouros no céu (12.32-34) 99 Hendriksen, p. 468. 80 Os tesouros celestiais não perdem seu esplendor: “uma fidelidade que jamais será tirada” (Sl 89.33; 138.8), uma vida que nunca terminará (Jo 3.16), uma fonte de água que nunca cessará de fluir dentro daquele que bebe dela (Jo 4.14), uma dádiva que jamais se perderá (Jo 6.37, 39); uma mão da qual ninguém poderá jamais arrebatar uma ovelha do Bom Pastor (Jo 10.28), uma cadeia que não poderá ser quebrada jamais (Rm 8.29, 30), um amor do qual nunca poderemos ser separados (Rm 8.39), um chamado que não será revogado jamais (Rm 11.29), uma fundamento que nunca será destruído (2 Tm 2.19) e uma herança que não se manchará jamais (1 Pe 1.4, 5)”100. Jesus, causa de divisão (12.49-53) Jesus não queria que seus seguidores pensassem que seu Reino poderia ser estabelecido sem conflitos. A era presente é de lutas e divisões, e o próprio Mestre seria a causa das mesmas. Sua obra necessariamente provoca oposição, mesmo no interior das famílias. Como não reconheceis este tempo (12.54-56) As multidões seguiam-no sem crer, e Jesus recriminou sua ignorância. Eles sabiam interpretar os sinais do tempo, predizer com acerto se choveria ou faria sol, mas não pôde ver que Ele era o Cristo, o Salvador do mundo. Ele os exorta a que se arrependam antes que seja tarde. Acerta-te com o teu adversário (12.57-59) As pessoas deveriam ser suficientemente prudentes para chegar a um acordo com o adversário enquanto se dirigiam para a sala do tribunal, antes que fosse pronunciada a sentença; deveriam ver que seria sábio buscar a paz com Deus antes de que o dia de misericórdia e graça passe. Arrependei-vos ou perecereis (13.1-5) 100 Hendriksen, p. 479. 81 A torre de Siloé havia sido derrubada matando dezoito pessoas. O conceito do desastre pessoal como resultado do pecado estava profundamente arraigado nos judeus. Jesus não só refutou isso, mas também enfatizou que sem uma conversão genuína ninguém se salva, todos perecem. Isto aplica-se não só aos galileus do acidente, mas a todos. “Cada pessoa deveria examinar seu coração e vida e fazer-se a pergunta: ‘Tenho me arrependido verdadeiramente e ponho toda a minha confiança em Deus, servindo só a ele?’. Se não, que peça misericórdia a Deus, porque ‘se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis’”101. Jesus cura a uma mulher no dia de repouso (13.10-17) Jesus curou uma mulher no sábado. O chefe da sinagoga argumentou que, como a vida não estava em jogo, a cura poderia ter sido realizada em outro dia da semana. Com isso, ele pretendia velar pelo cumprimento da lei, mesmo que negasse seu princípio essencial, o amor. Sua interpretação da lei era absurda, porque impedia uma obra de misericórdia que, no sábado, não só era permitida, mas também necessária. Jesus não insinuou que ia abolir o dia de repouso; só quis devolver ao sábado o verdadeiro espírito de adoração, amor, liberdade e gozo. Lamento de Jesus sobre Jerusalém (13.31-35) Alguns fariseus advertiram a Jesus que fugisse dos domínios de Herodes. Herodes não podia fazer mal a Jesus, porque no momento, ele continuaria seu ministério. A cidade que havia rejeitado os mensageiros de Deus, fez Jesus lamentar. Mesmo frente ao amor e a compaixão de Jesus, Jerusalém seguia em sua rejeição. Portanto, seu templo estaria vazio da presença de Deus e não veria Jesus senão até que o recebesse como o Messias, ou como Juiz. No ano 70, cerca de 37 anos depois da morte de Jesus, o templo foi destruído pelos romanos. Jesus cura um hidrópico (14.1-6) 101 Hendriksen, pp. 492, 494. 82 Jesus foi comer na casa de um fariseu importante, num dia de sábado. Na casa do fariseu, achou-se um enfermo que sofria de hidropisia. Como havia outros convidados que era experts da lei, Jesus lhes perguntou se era permitido curar o enfermo ou não. Todos ficaram calados, então Jesus o curou e o despediu. O Senhor enfrentou a hipocrisia dos religiosos e lhes mostrou a necessidade de ajudar aos demais ainda que fosse no dia de sábado. O que custa seguir a Jesus (14.25-33) Em sua viagem a Jerusalém, Jesus se volta para as multidões e lhe diz que a devoção a ele deve ser tão completa e de coração que nem mesmo a lealdade aos pais e aos outros membros da família deve se interpor nisso. Na passagem de Mateus 10.37 fica claro que o sentido de odiar na passagem de Lucas é amar menos. Em todas as coisas Cristo sempre deve ter a preeminência (Cl 1.18). Jesus convida-os a calcular este custo e depois, considerar se devem segui-lo. Como o sal perde seu sabor (14.34-35) O discípulo de Cristo será posto a prova de alguma forma. Como discípulos procuremos ser cuidadosos para não relaxar quanto a nossa profissão de fé; que possamos ser o bom sal da terra, para salgar aqueles que nos rodeiam com o sabor de Cristo. 6. JESUS ENSINA COM PARÁBOLOAS (15.1-16.15) Lucas apresenta uma série de parábolas que apóia o ensino de Jesus de que o reino do céu é para os humildes que recebem a palavra de Deus e a põe em prática. PARÁBOLAS ENSINO Exortação à Jesus ordenou os seus discípulos a vigiar. Ilustrou esta atitude com vigilância: O duas parábolas, a do senhor que regressa e a do ladrão. Na primeira, o Servo vigilante e senhor foi a um casamento, seus empregados estão atentos e tudo está O servo infiel preparado para recebê-lo. Ao chegar, fica tão prazeroso com a (12.35-48) fidelidade que deseja compartilhar o banquete com eles. 83 A outra parábola ilustra que não se sabe quando o ladrão vai chegar; pelo que devem está preparados. Se o servo tira vantagem da ausência de seu senhor, será surpreendido com seu retorno, e descobrirá que seu destino é com os infiéis. No juízo celestial, ser ou não culpável, não é um simples assunto; há vários graus de juízo e de recompensa. Da figueira A advertência é clara: a figueira, a menos que dê fruto, será cortada. estéril (13.6-9) Esta parábola refere-se em primeiro lugar, ao povo judeu, mas, sem dúvida é para despertar a igreja visível. Deus tolerará por muito tempo, mas nem sempre o fará. Da semente de A planta que nasce da semente de mostarda chega a crescer tanto como mostarda (13.18- uma árvore. Seus ramos adquirem rigidez e muitas aves encontram 19) nela abrigo e sombra. De forma similar, o Reino de Deus cobre com sua graça a todo o que crer em Jesus Cristo, o qual se estenderá por toda a terra. Do fermento O reino dos céus também é como uma pequena porção de fermento (13.20-21) que ao misturar-se com a massa a faz crescer. Não é uma instituição humana, mas espiritual, que abarca as pessoas em todo o mundo. Seu agir se vê em todos os âmbitos da vida e da cultura. A porta estreita Jesus comparou as bênçãos de seu Reino a um banquete em um (13.22-30) palácio. A porte de entrada do palácio é estreita, e muitos convidados não querem entrar. Quando a porta se fecha, os que antes não haviam querido entrar suplicam, em vão, ao Dono da casa que volte a abrir a porta. Ficam excluídos para sempre, e o remorso e o pesar os oprimem. A porta estreita é a do arrependimento e fé em Cristo; a oportunidade para entrar é atual, mas não é perpétua. Os convidados Na festa das bodas seria melhor sentar-se em um lugar inferior e para as bodas esperar ser convidado a ocupar um assento de maior posição. Deus (14.7-14) exalta aos humildes e humilha aos orgulhosos. Jesus está condenando a atitude de fazer o bem para receber uma recompensa tangível ou uma recompensa celestial maior e mais duradoura. Devemos fazer o bem aqueles que não nos podem dar nada em troca, e deixar o reconhecimento e as recompensas com Deus. 84 Parábola da Um homem convidou muitas pessoas para um banquete, mas os grande ceia convidados começaram a desculparem-se e romper o compromisso (14.15-24) assumido. Ante as desculpas dos convidados, o homem convidou os pobres, desvalidos e estranhos. O servo que os contatou representa Jesus, os fariseus e mestres da lei seriam os primeiros convidados ao banquete celestial, mas ao rejeitar o convite de Deus, aqueles que estão à margem da sociedade seriam os beneficiados. Quando o sal O discípulo de Cristo será posto à prova de alguma forma. Sem vacilar perde seu sabor procuremos ser discípulos e sejamos cuidados para não relaxarmos (14.34-35) nem nossa profissão de fé; que possamos ser o bom sal da terra, para salgar aqueles que nos rodeiam com o sabor de Cristo. Da ovelha A ovelha perdida representa o pecador separado de Deus e exposto à perdida (15.1-7) ruína. Jesus declara seu papel de Pastor, com sua missão de cuidar de cada uma de suas ovelhas. Ele se preocupa com o destino de cada individuo sob seu cuidado. Não significa que Deus valore a uma ovelha mais do que a noventa e nove, mas que compreende e perdoa àqueles que saem de seu caminho. Da moeda Se uma mulher perde uma moeda e a busca, muito mais o Pastor de perdida ovelhas fará com cada pessoa que tem sob seu cuidado. “Os anjos têm (15.8-10) acesso direto a Deus e estão atentos às vicissitudes das pessoas, igrejas e nações e celebram com o Pai cada triunfo obtido na terra com expressões de alegria”102. Parábola do Esta parábola mostra a natureza do arrependimento e a prontidão do filho pródigo Senhor para acolher bem e abençoar a todos os que voltam-se para Ele. (Lucas 15.11- Depois que o filho mais novo gastou sua parte da herança, sua pobreza 32) e solidão produziram nele desespero e arrependimento sincero. Seu pai, lhe deu boas-vindas, e deu ordens para celebrar. O irmão mais velho representa a todos os que carecem de misericórdia para com os perdidos, e agem com egoísmo e acusação. Do mordomo 102 O mordomo dessa passagem defraudou os bens de seu senhor. Todos Zapata, p. 129. 85 infiel (16.1-15) somos passíveis da mesma acusação; não tiramos o proveito devido do que Deus nos tem encarregado. A astúcia do mordomo não nos é colocado como um exemplo, nem para justificar a desonestidade, mas para sinalizar o cuidado que têm os homens mundanos. Bom seria que os filhos da luz aprendessem dos homens do mundo e com igual diligência, trabalhassem por um melhor objetivo. Parábola da Se um juiz que não honra as leis de Deus pode ser induzido a agir viúva e do juiz pelos clamores incessantes de uma viúva, quanto mais agirá Deus para iníquo (Lucas ajudar o seu povo quando clamar a ele. “Não pode haver dúvidas do 18.1-8) fato de que ainda haverá crentes na terra quando o Filho do Homem regresse. Mas, haverá essa fé, a fé perseverante como a dessa viúva?”103. Parábola do O cobrador de impostos era considerado demasiadamente impuro para fariseu e do aproximar-se de Deus. Jesus falou sobre a atitude de autossuficiência, publicano (18.9- justiça própria e condenação para com os demais que tinha o fariseu, 14) que contrastava com a atitude do cobrador de impostos, que consciente de suas falhas e da condenação que em geral recebia da comunidade, orava sinceramente a Deus, pedindo-lhe perdão por seus pecados. Jesus deixou claramente estabelecida uma das leis mais importantes do Reino de Deus, que é a humildade e o não exaltar a si mesmo104. Parábola das dez O relato recorda a parábola dos talentos, e sinaliza o castigo dos minas (19.11- inimigos juramentados de Cristo e dos fariseus professos. A diferença 27) principal está em que a mina dada a cada um parece apontar a dádiva do Evangelho, que é a mesma para todos os que o ouvem; mas os talentos parece indicar que Deus dá diferentes capacidades e vantagens aos homens, pelas quais podem melhorar de maneira diferente este dom único do Evangelho. As parábolas de Jesus afirma o tema do livro: que o Filho do Homem vem, por graça (pai bondoso, juiz justo, mordomo fiel) para buscar aos perdidos (ovelha perdida, moeda 103 104 Hendriksen, pp. 564, 565. Zapata, p. 143. 86 perdida, filho pródigo, publicano) e os discípulos devem ser semelhantes ao Filho do Homem (servo fiel, porta estreita, árvore com fruto, semente, a grande ceia, convite para as bodas, dez minas). 7. JESUS ENSINA SOBRE A LEI (16.16-31) A lei e o Reino de Deus (16.16-17) Jesus anuncia um novo pacto, uma nova época na relação entre Deus e o homem. Desde a vinda de João há boas notícias do Reino de Deus e todos se esforçam por entrar nele. “Neste reino as leis se cumpriram de uma maneira diferente, com o próprio Deus vivendo no coração dos homens pelo Espírito Santo”105. Jesus ensina sobre o divórcio (16.18) Jesus dá um exemplo do caráter permanente da lei moral, em oposição aos intentos dos fariseus de se esquivar dela. Jesus declara que todo aquele que se divorcia de sua esposa e se casa com outra comete adultério e o homem que se casa com uma divorciada também comete adultério. Seguindo o conceito de que os seguidores de Cristo têm o Espírito de Deus e que seus corpos são templos do Espírito Santo, seriam impossível levar uma vida motivada pelos próprios gostos ou prazeres. Neste entendimento, o divórcio é impensável para um cristão. O rico e Lázaro (16.19-31) O pecado deste rico era que só pensava em si mesmo. Nunca se interessou por Lázaro. Nem no inferno pede perdão. O condenado ao inferno não terá o mínimo alívio de seu tormento. Os pecadores são chamados agora a se reavaliarem, mas se morrerem em seus pecados, não há saída porque acabaram do mesmo modo. O rico tinha cinco irmãos e queria detê-los em seu rumo pecaminoso; entretanto, um mensageiro vindo dos mortos não poderia 105 Zapata, p. 134. 87 dizer mais do que é dito nas Escrituras. A mensagem do Cristo ressuscitado não ia mudá-los, como não mudou aos judeus obstinados antes e depois da ressurreição de Cristo. 8. JESUS ENSINA SOBRE A FÉ E A FIDELIDADE (17.1-19.27) Inevitabilidade do escândalo (17.1-6) Jesus advertiu seriamente a seus discípulos sobre a possibilidade de se tornarem a causa de outros pecarem. Seria melhor que tais pessoas fossem afogadas antes de poder realizar sua má ação e sofrer o destino reservado para os tentadores. Pelo contrário, os discípulos deviam ajudar a qualquer membro de seu grupo que caiu em pecado mostrando-lhe seu erro e estando dispostos a perdoar, com a freqüência que seja necessária106. Aumenta-nos a fé (17.5-6) Como conseqüência da advertência que Jesus fez aos discípulos, estes pediram que Jesus lhes aumentasse a fé. A fé não é somente para fazer milagres, a fé é sumamente necessária para a vida cristã cotidiana. É fruto do Espírito Santo, é um dom de Deus, segundo a Bíblia. O dever do servo (17.7-10) “O Senhor tem direito sobre toda criatura como nenhum homem pode ter sobre outro; Ele não tem nenhuma obrigação com eles por seus serviços, nem os servos merecem nenhuma recompensa sua”107. Dez leprosos são curados 106 107 Wenham, p. 253. Henry, p. 21. 88 Esta passagem está relacionada com o poder de Deus e com o agradecimento que devem experimentar as pessoas pelos dons recebidos de Deus. É interessante a afirmação de Jesus, que depois de haver perguntado pelos outros nove, disse ao único agradecido: “vai a tua fé te salvou”. Esta aparente contradição é pelo fato de que o doador e consumador da fé, mesmo da que nós temos, é o mesmo Deus. A vinda do Reino (17.20-37) O reino de Deus está sendo estabelecido desde a chegada de Jesus. Trata-se de nascer de novo, receber a vida de Deus e experimentar a libertação do reino das trevas. “Quando Jesus vier julgar o mundo, os pecadores serão achados totalmente descuidados, porque, de forma semelhante, os pecadores da época andarão em seus maus caminhos achando-se seguros, sem lembrar do seu fim próximo. Onde que se que achem os ímpios, marcados para a ruína eterna, serão alcançados pelos juízos de Deus”108. Jesus abençoa as crianças (18.15-17) Ninguém é demasiado jovem para ser levado a Cristo. Ele sabe mostrar bondade aos incapazes de prestar-lhe um serviço. A promessa é para nós e para nossa descendência. Ele os receberá conosco. “Devemos receber seu reino como crianças, não comprá-lo, e devemos considerá-lo um presente de nosso Pai”109. O jovem rico (18.18-30) Este rico não podia aceitar a condição de Cristo de abrir mão de seu patrimônio Muitos, depois de lutar com suas convicções e corrupções, deixam as últimas vencerem. Como eles devem deixar um deles, deixarão a Deus, não a sua ganância mundana. Os homens são dados a falar muito do que abandonaram e perderam, do que fizeram e sofreram por Cristo, como fez Pedro. Mas, devemos nos envergonhar de que haja dificuldade para fazer isso. 108 109 Ibíd., p. 22. Ibíd., p. 23 89 Novamente Jesus anuncia sua morte (18.31-34) O Espírito de Cristo nos profetas do Antigo Testamento testificava de antemão de seus sofrimentos e da glória que se seguiria. O preconceito dos discípulos era tão forte que não entendiam literalmente estas coisas. Estavam tão concentrados nas profecias que falavam da glória de Cristo, que esqueceram as que falavam dos seus sofrimentos. Somos tão relutantes em aprender as lições dos sofrimentos de Cristo como o eram os discípulos. Através do cumprimento, estas predições feitas pelos profetas, regressariam às mentes dos apóstolos e a fé deles seria fortalecida. Um cego de Jericó é curado (18.35-43) Jesus estava passando pelo único caminho que os peregrinos utilizavam em sua rota a Jerusalém, por isso, nesse caminho era habitual encontrar mendigos. “O que comoveu o Senhor foi o pedido de compaixão de alguém que estava ali à beira do caminho e talvez já tivesse ouvido falar muito daquele que agora está próximo, o Filho de Davi, sim, mas também o Filho do Homem e o Filho de Deus, que chamaria a si mesmo: ‘A Resplandecente Estrela da Manhã’. Essa pessoa especial era quem ia dar ao necessitado a manhã mais gloriosa que qualquer homem pode ter, estava para dar a ele não só a visão, mas a manhã da eternidade. Que queres que eu te faça? Senhor que eu torne a ver! A pergunta ficou vibrando e continua vigente para todos os cegos do mundo: Que queres que eu te faça? A resposta que deve ser um pedido, que certamente será respondida, está muito perto. “Perto de ti está a palavra, esta é a verdade que pregamos”110. Jesus e Zaqueu (19.1-9) Os que, como Zaqueu, desejam sinceramente ver a Cristo, vencerão quaisquer obstáculos e se esforçarão para vê-lo. Aquele que quer conhecer a Cristo será conhecido por ele. Aqueles a quem Cristo chama, devem humilhar-se e descer. Zaqueu publicamente deu provas de haver chegado a ser um verdadeiro convertido. Não buscou ser justificado por suas 110 Zapata, p. 146. 90 obras como fariseu, mas por suas boas obras demonstrará a sinceridade de sua fé e do arrependimento pela graça de Deus. Zaqueu, agora que é salvo de seus pecados, de sua culpa, do poder deles, tem todos os benefícios da salvação. Cristo foi à sua casa, e onde Cristo vai, leva consigo a salvação. Ele veio a este mundo perdido para buscá-lo e salvá-lo. Seu objetivo era salvar, e não há salvação em nenhum outro. Ele busca aos que não o buscam e nem perguntam por Ele. Parábola das dez minas (19.11-27) O discípulo deve semear. Tem que semear o que Deus lhe tem dado. É melhor dar do que receber. A parábola das dez moedas fala diretamente aos que haviam preservado a Lei e as tradições e haviam se esquecido de mostrar misericórdia e graça aos necessitados. CONCLUSÃO Jesus, na Judéia, confrontou de muitas maneiras os fariseus, escribas e intérpretes da lei. Expôs com testemunho e ensinos o caráter humilde de um filho de Deus, em contraposição ao orgulho desses judeus recalcitrantes e cheio de engano. Jesus ensinou a seus discípulos e a todos os que o seguiam, de diversas maneiras: confrontando, usando parábolas, exemplos reais, e a quem Ele queria, de forma direta. Este foi outro aspecto fundamental no ministério de Jesus que Lucas mostrou: o labor do ensino é mais importante que fazer milagres e sinais. 91 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 5 1. Quem respondeu à pergunta de Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou? E qual foi sua resposta? 2. O que disseram, quando regressaram os setentas discípulos enviados por Jesus na missão a cada cidade que Ele haveria de ir? E o que respondeu o Senhor? 3. O que Jesus disse aos fariseus e intérpretes da lei a respeito da demanda de Deus com essa geração, logo depois que Ele enviou seus profetas e apóstolos? 4. A quem Jesus se refere quando disse: “...Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer”? 5. Em seu caminho para Jerusalém, alguém lhe perguntou: “São poucos os que serão salvos?”. Qual foi a resposta de Jesus? 6. Qual condição Jesus impõe para aqueles que querem segui-lo ou ser seu discípulo? 7. Nas três parábolas do capítulo 15, qual ensino Jesus enfatiza e o que ocorre no seu quando os perdidos são encontrados? 8. Até onde foi a lei e os profetas? 9. De acordo com a passagem dos dez leprosos que foram curados, pode-se dizer que quando Jesus fez milagres de cura, ele sempre concede salvação também? 10. De acordo com a passagem de Lucas 19, Zaqueu era um homem justo? Por que ele precisava da salvação do Filho do Homem? Explique. 92 LIÇÃO 6 A SEMANA DA PAIXÃO Felipe González y Alejandro Cid INTRODUÇÃO Jesus foi a Betânia, a três quilômetros da cidade de Jerusalém. Apenas uma semana antes, Jesus tinha devolvido a vida a seu amigo Lázaro (Jo 12.9), mas mostrando em seu rosto que ia para Jerusalém onde entregaria sua própria vida. Esse é o contraste de Jesus: entrega sua vida à morte para dar vida a outros. A Semana da Paixão é contada da entrada de Jesus na cidade de Jerusalém. Foi uma semana e foi de pura paixão. Paixão pela cidade: choro sobre ela. Paixão pelo templo: expulsou àqueles que o contaminavam com suas mercadorias. Paixão pela defesa da Sá doutrina: respondeu com autoridade e sabedoria a várias tentativa de desacreditá-lo e surpreendê-lo em alguma falta. Paixão pelos pobres que são ricos para o Reino: foi com paixão que ficou observando a viúva que lançou suas duas únicas moedas. Paixão em preparar até o mínimo detalhe a última páscoa com seus discípulos; paixão em expor o traidor frente a todos provocando assim que seus inimigos tivessem que agir na festa como não queriam. Paixão ao ter que anunciar a seu querido amigo e discípulo Pedro, aquele que havia declarado que Ele era o Cristo de Deus, que este o negaria três vezes. Paixão sobre os joelhos, no Getsêmani onde suou gotas de sangue, esmagado pela hora difícil que iria viver pela vontade do Pai. Foi sem dúvida a semana mais intensa na vida de nosso Senhor. Os sentimentos lhe golpeavam o peito. Por um lado, o amor tão grande pelos seus, aos quais amou até ao fim; por outro a profunda reverência e obediência em cumprir a vontade do Pai até o mais mínimo detalhe. Por um lado, a responsabilidade tão grande de ser o Ungido de Deus, por outro o peso tão grande de levar sobre si mesmo o pecado dos transgressores. Foi a paixão do Filho do Homem em sua última semana. 1. ENTRADA TRIUNFAL A JERUSALÉM (19.28-44) 93 “Subindo a Jerusalém” (Lucas 19.28). A cidade de Jerusalém está sobre as montanhas de Judéia, a uma altura de 600 a 880 metros sobre o nível do mar. Ir para Jerusalém é subir. Jesus vai subindo a Jerusalém, mas sua visão está mais além. A partir dali também vai subindo ao Pai (Jo 20.17). “...achareis preso um jumentinho... o Senhor precisa dele.” (Lucas 19.30). Jesus envia dois de seus discípulos a buscar um jumentinho. A forma como se dão esses fatos divide os comentaristas em duas opiniões: a primeira é que Jesus sabia de todos os detalhes por sua onisciência como Deus. “Ele sabia de tudo, e tinha a chave do coração humano”111. E a segunda é que aquela família era conhecida de Jesus, e o reconhecia como o Senhor, cedendo o jumentinho sem nenhuma reclamação. “Disso podemos tirar a conclusão que os donos (v. 33) eram amigos de Jesus. Deve ter sido pessoas que reconheciam Jesus como seu Senhor”112. A forma como estes fatos se desenrolaram nos dá a ideia de como Deus, em sua soberania e propósito eterno, move os fios dos acontecimentos e estes se cumprem dentro da vontade de Deus já que a profecia de Zacarias 9.9 havia anunciado, muitos anos antes que o Messias entraria em Jerusalém montado em um jumentinho, cria de jumenta: “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta”. Tem-se dito que o fato de Jesus montar o jumentinho para entrar em Jerusalém é tomado como símbolo de humildade, mas isto não é correto. Pessoas ricas e/ou de posição usaram asnos como é o caso de Abraão, “Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento...” (Gn 22.3). O caso de Juízes, “Depois dele, se levantou Jair, gileadita, e julgou a Israel vinte e dois anos. Tinha este trinta filhos, que cavalgavam trinta jumentos; e tinham trinta cidades, a que chamavam Havote-Jair, até ao dia de hoje, as quais estão na terra de Gileade”. (Jz 10.3-4). Também o caso de Acsa, filha de Calebe, “Esta, quando se foi a ele, insistiu com ele para que pedisse um campo ao pai dela; e ela apeou do jumento; então, Calebe lhe perguntou: Que desejas? (Jz 1.14); também Abigail, a esposa do rico Nabal, “Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, desceu do jumento e prostrou-se sobre o rosto diante de Davi, inclinando-se até à terra”. (1 Sm 25.23)113. O uso do jumentinho para Jesus entrar em Jerusalém tem outro significado. O cavalo é símbolo dos tempos de guerra, mas o jumento, o tempo de paz. O uso que Jesus fez de um 111 Jamieson-Fausset-Brown, v. 31, p. 184. Hendriksen, v. 31, p. 598. 113 Jamieson, et. al., Op. Cit. 112 94 jumento foi para significar que Ele era o Príncipe da Paz (Is 9.6), mas que um capitão de um exército. A expressão “o Senhor precisa dele...” não quer dizer que o Senhor não pode fazer algo sem nós, mas precisamente que ele, por sua vontade, deseja fazer por nosso intermédio. “...toda a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que tinham visto...” (Lc 19.37). A multidão que em alta voz aclamava Jesus entrando na cidade de Jerusalém era mista. Estavam os que vinham com Ele desde Betânia, e que havia visto a ressurreição de Lázaro, que o seguiam como discípulos, tal como nos informa Lucas. E estavam também os peregrinos que vinham para a festa da páscoa e já estavam em Jerusalém, mas ao escutar as notícias que vinham de Betânia, e saber que aquele que ressuscitou a Lázaro vinha entrando na cidade, se lançaram para a porta oriental para com curiosidade, ver ao que estava entrando no jumentinho (Jo 12.12-13). O detalhe de Lucas nos que a aclamação de “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!” partiu dos discípulos, aqueles que o seguiam de perto. Entre a multidão vieram também fariseus (v. 39); dentro da igreja também estarão aqueles que não vêm para louvar e adorar a Cristo, mas para intrometer-se no que se faz, e para desaguar sua raiva por causa dos louvores ao Rei. Tal foi seu ódio e incômodo por ver aquele que entrava sendo objeto dos louvores que só eram devidos a Deus, que em vez de tentar eles mesmo calar as pessoas, pediram a Jesus que o fizesse! Os louvores ao Senhor sempre vão incomodar os seus inimigos114! “Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou...” (Lc 19.41). Este é outro dos momentos da paixão de Jesus. Ainda se escutava o eco dos louvores de sua entrada, e já chora sobre a cidade de Davi. Jesus sabe que diante dos olhos de todos os habitantes da cidade está o Ungido de Deus, Aquele que foi enviado de Deus para trazer paz e bênção a seu povo, isso, entretanto, estava encoberto aos olhos deles. Os louvores partiram dos corações de seus discípulos, aqueles que lhe reconheciam como o Messias, mas Jesus sabe que essa não é a opinião de toda Jerusalém. Eles não queriam “esse Messias”, queriam um Messias à sua própria maneira de ver as coisas. “...não deixarão em ti pedra sobre pedra...”. As palavras proféticas de Jesus sobre Jerusalém se cumpriram ao pé da letra. No ano 70 dC, o general romano Tito e suas legiões 114 Ibíd. 95 romanas literalmente arrasaram com a cidade. Os dados históricos são recolhidos por Josefo em sua obra: “Guerra dos Judeus”. “Enquanto o santuário está queimando... não houve piedade por causa da idade, nem respeito por classe. Pelo contrário, as crianças e os anciãos, leigos e sacerdotes foram igualmente mortos”115. “O imperador ordenou que a cidade inteira e o templo foram arrasados. Deixando somente as mais altas torres... e a porção do muro que cercava a cidade pelo ocidente... Todo o resto do muro que rodeava a cidade foi tão completamente destruído que os visitantes do lugar no futuro não teriam nenhuma razão para pensar que a cidade tenha sido alguma vez habitada”116. 2. PURIFICAÇÃO DO TEMPO (19.45-48) A purificação do templo que é relatada aqui em Lucas não se pode identificar com a que é narrada em João 2.13-17. São duas purificações que Jesus fez no templo. Uma no princípio de seu ministério e a outra no final, na semana da sua paixão. Lucas não dá muitos detalhes sobre este feito, a leitura de Marcos 11.15-19 lança mais luz sobre o incidente. Este feito ocorreu no átrio do templo, chamado “átrio dos gentios”. Jesus nunca entrou no santuário do templo, porque não era nesse santuário terreno que Ele tinha que entrar, mas no celestial, onde entrou como Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e com seu próprio sangue, ou seja, sendo sacerdote e vítima, a fim de apresentar o Sumo Sacrifício pelos pecados do seu povo (Hebreus 4.13; 9.11-12). É verdade que alguém que fosse ao templo para oferecer sacrifício poderia levar seu próprio animal, mas corria o risco de ao ser examinado pelos sacerdotes, ser reprovado. Os mercadores do tempo pagavam aos sacerdotes para que “desaprovassem” os animais trazidos a fim de que as pessoas se vissem na necessidade de comprara ali os animais que já estavam aprovados pelo sacerdócio para os sacrifícios. Era um negócio entre os sacerdotes e os vendedores de animais. Jesus vê todo o negócio entre a casta sacerdotal e os mercadores e sente o mau cheiro dos excrementos dos animais ali apinhados, aquilo era adoração a Deus? Sem dúvida, esta é 115 116 Josefo, “Guerra de los Judíos,” VI. 271. Ibíd. VII. 1-3. 96 outra das manifestações de sua paixão. “O zelo pela tua casa me consumirá” (Salmo 69.9). Quando as mesas dos cambistas foram viradas, e as jaulas dos animais abertas ficou claro que Jesus era o verdadeiro Senhor do tempo (Mateus 12.6); 3. A AUTORIDADE DE JESUS (20.1-8) “Estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar...” (Lucas 20.1). Jesus tinha acabado de virar as mesas dos cambistas, e de acabar com o negócio dos mercadores do templo, agora ali mesmo ensina e anuncia ao povo o Evangelho do Reino. Não se trata só de parar o que está mal feito na igreja, mas de ensinar ao povo a verdade da Palavra do Evangelho. Se não se ensina e anuncia a verdade na igreja, logo as mesas dos cambistas e as jaulas dos fraudulentos vendedores de animais estarão de novo postas ali, e em vez de sentirse o gratificante aroma de seu conhecimento (2 Co 2.14), volta-se a sentir o nauseabundo odor dos que convertem a casa de Deus em covil de salteadores, e usam as coisas sagradas para manipular aos pobres. Jesus, o Filho do Homem, veio para pregar o Evangelho aos pobres, hoje muitos dos que se dizem serem seus ministros usam os pobres para enriquecer. “...sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos...”. Estas eram as três partes integrantes do Sinédrio. Os que se aproximaram de Jesus e questionaram sua autoridade eram do Sinédrio. Esta foi uma tentativa de desacreditar Jesus. Com sua pergunta “com que autoridade fazes estas coisas?” ele estavam pedindo as credenciais de Jesus. Se tivesse êxito em desacreditar Jesus em público, as pessoas perderiam o respeito. Por outro lado, se ele considerava autorizado a fazê-las, poderia ser acusado de blasfêmia, porque estaria fazendo coisas que só Deus poderia fazer. Jesus lhes respondeu com outra pergunta, algo que era comum nos ensinos rabínicos do momento. Ao verem-se presos na sua própria astúcia, disseram a Jesus que não sabiam de onde vinha o batismo de João. Ao responder Jesus deixa claro que não é que eles não soubessem, mas que não queriam responder, para não verem-se descobertos em sua má intenção. Se hoje alguém nos pergunta com que autoridade ensinamos as Escrituras, ou pregamos a mensagem do Evangelho, que lhe responderíamos? 4. OS LAVRADORES MAUS (Lucas 20.9-18) 97 “A seguir, passou Jesus a proferir ao povo...”. Jesus foi interpelado e agredido pelos líderes maus do Sinédrio. Agora ele se volta para o povo para adverti-lo sobre este tipo de pessoa. Para entender essa parábola que Jesus usa como ilustração para mostrar ao povo sobre o que havia acontecido com seus profetas, e finalmente com o Filho temos de entender que naquele tempo a parte alta do vale do Jordão e as ribeiras ocidental e norte do mar da Galiléia continham extensas propriedades que pertenciam a estrangeiros. Era comum que proprietários de fazendas vivessem longe de suas propriedades e comissionassem pessoas para que cuidassem e lhe enviassem os frutos do lucro. Na parábola, o dono é Deus, o filho do dono é Cristo, seus servos enviados foram os profetas com a mensagem para o povo de Israel, os lavradores maus representam os líderes judeus e todo Israel que rejeita a Jesus como o Ungido de Deus, que depois de rejeitar as várias mensagens enviadas por Deus através de seus profetas, mataram o seu próprio Filho. “...Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros” (v. 16). A destruição dos lavradores maus viu-se no ano 70 dC. com a destruição de Jerusalém, mas que aponta também o castigo eterno que terão todos aqueles que rejeitam o Filho. Os que estavam ali estavam muito seguros de que os privilégios dados a Israel nunca seriam tirados e muito menos dados a outros, mas isso ocorreu exatamente como disse Jesus na parábola (Mateus 21.43; 28.19; Atos 13.46). Não há nenhum privilégio étnico para receber a bênção de Deus. É dentro da cidadania da igreja universal que se recebem os benefícios do pacto de Deus. O pacto dado a Abraão como depositário até que chegasse o Mediador (Cristo) é o mesmo pacto que cobre a igreja universal de Cristo com suas bênçãos e promessas; as quais, nas palavras do Apóstolo Pedro são “para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2.39). É uma bênção total, que “a vinha” não seja recuperada, nem destruída completamente, mas que é dada a outros para produzam seu fruto! As bênçãos são tiradas dos judeus como nação, e são dadas à igreja universal (formada por judeus e gentios) a qual não substitui Israel, mas é “o Israel de Deus” (Gálatas 6.16). Por isso somos contra a doutrina da substituição, na qual se crer que a igreja substitui Israel. Não há substituição, há um alargamento do “espaço da tua tenda” (Isaías 54.2-3). De dois povos fez um maior, derrubando a parede da separação (Efésios 2.14). Os que crêem que Deus tem dois planos, e dois povos distintos (Israel e a igreja) não entenderam a parábola dos lavradores maus ensinada por Jesus neste capítulo do Evangelho de Lucas. Antes a igreja era nacional (Israel como povo), agora é universal 98 (formada por homens de todos os povos, língua, raça, cor e nação... incluindo os judeus do remanescente da graça). “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó” (v. 18). Jesus reprova aos líderes judeus que rejeitaram ao Messias, o Ungido de Deus, e lhes cita as palavras do Salmo 118.22 sobre “a pedra que os construtores rejeitaram”. Todo aquele que persista em sua rejeição e oposição a Cristo será literalmente esmigalhado em juízo debaixo da pedra. Todo aquele que cair sobre a pedra angular, ficará em pedaços; da mesma forma que a pedra principal de um edifício é a que marca a linha, fazendo com que todas as outras venham a ser colocadas ao seu lado e tenham de ser alinhadas por ela, assim Cristo é quem marca a linha e está construindo uma casa espiritual com pedras com pedras vivas: a sua igreja! 5. REAÇÃO DOS LÍDERES JUDEUS À QUESTÃO DO TRIBUTO (20.19-26) “Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o povo”. (v. 19). Os líderes judeus compreenderam muito bem que aquela parábola sobre os lavradores maus era um referência a eles. Eles conheciam muito bem as palavras de Isaías 5.7: “Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel...”. Também se deram conta que Jesus os identificou com os edificadores que descartaram a pedra angular ao citar as palavras do Salmo 118.22, então, seu ódio contra Jesus foi maior, e os desejos de lançar Mao dele e prendê-lo ia crescendo, mas eles temiam o povo. Assim acontece com todos os que não tem uma conduta honesta e reta: eles temem ser vistos. Aquele que anda corretamente não teme o escrutínio público. “Observando-o subornaram emissários que se fingiam de justos para verem se o apanhavam em alguma palavra...”. O Sinédrio havia questionado a autoridade de Jesus, mas ele os rechaçou com a pergunta que lhes fez sobre o batismo de João. Ele deitou por terra o plano deles, agora eles mudaram a tática usando emissários que fingiam ser honestos e sinceros; ele o adulam por meio da lisonja para levá-lo a questões capciosas a fim de surpreendê-lo em alguma falta e desacreditá-lo frente aos seus seguidores. O grupo de emissários estava composto de fariseus e herodianos (Marcos 12.13) partido político que simpatizava com a dinastia de Herodes e queriam manter-se no poder. Fariseus e herodianos 99 eram inimigos porque tinham ideias completamente opostas, mas, agora se tinham juntado nesse ataque contra Jesus. A pergunta sobre o tributo feita a Jesus era uma “intriga muito astuta”117 porque se ele respondesse afirmativamente não apresentaria o sentimento patriótico da maioria do povo e seus líderes; por outro lado, se respondesse negativamente, então seria um confronto direto com as autoridades romanas. Jesus pediu que eles mostrassem uma moeda, “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (v. 25). “O denário do tempo do reinado do então imperador Tibério, representava no anverso a cabeça do imperador. No reverso aparece ele sentado no trono. Ele usava um diadema e estava vestido como sacerdote”118. “Não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua resposta, calaram-se”. (v. 26). Com esta resposta, Jesus lhes disse que paguem imposto a César, mas disse também que César não é a autoridade suprema, mas, o Deus soberano, e que eles está sentado no seu trono. Aqueles emissários hipócritas e astutos haviam sido detidos uma vez mais em seus planos perversos pela sabedoria das respostas do Mestre, porque “a sabedoria que é do alto dirigirá a todos os que ensinem verdadeiramente o caminho de Deus para que evitem armadilhas feitas contras eles pelos homens ímpios; e ensinarão nosso deve a Deus, a nossos governantes e a todos os homens tão claramente que os opositores não terão nada mal que dizer de nós”119. 6. A PERGUNTA SOBRE A RESSURREIÇÃO (20.27-40) “Chegando alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição...” (v. 27). Jesus é atacado por todos os seus inimigos. Já o haviam atacado os principais dos sacerdotes, os escribas, os anciãos, os fariseus, os herodianos e agora veio uma representação dos saduceus, os quais eram contrários aos fariseus, mas ante um inimigo comum se aliaram para combatê-lo. Quem era os saduceus? Não se sabe exatamente a sua origem, mas eles se vangloriavam de traçar sua história até o sacerdote Zadoque que durante o reinado de Davi exercia o sacerdócio com Abiatar (2 Sm 8.17; 15.24; 1 Rs 1.35), o qual foi deixado posteriormente como único sacerdote por Salomão (1 Rs 2.35). As crenças dos saduceus eram as seguintes: 117 Hendriksen, p. 616. Ibíd., p. 617. 119 Matthew Henry, vv. 20 - 26, p. 25. 118 100 “Aceitavam somente a palavra escrita, não eram como os fariseus que também aceitavam as tradições orais. Negavam a imortalidade da alma, criam que a alma morria juntamente com o corpo. Rejeitavam o decreto eterno de Deus, o qual chamava de “destino” e aceitavam o livre arbítrio”120. Politicamente os saduceus aceitavam o status quo, o qual os fazia, de certa maneira, simpatizantes políticos do império, e eram apoiados pelas classes mais ricas da sociedade romana. O ataque de Satanás contra o Filho do Homem foi astutamente planejado, observemos a estratégia usada: enviaram os mais “religiosos” (principalmente sacerdotes, escribas e fariseus) a fazer perguntas ardilosas de tipo ético-políticas (o tributo); e enviaram aos comprometidos politicamente com Roma (saduceus) a fazer perguntas teológicas. Fogo cruzado da parte de Satanás! “Esta mulher, pois, no dia da ressurreição, de qual deles será esposa? Porque os sete a desposaram? (v. 33). Os saduceus com este ataque a Jesus pretendiam “matar dois coelhos com uma cajadada só”, porque colocariam numa posição ridícula com esta pergunta teológica sobre a ressurreição e também venceriam seus arqui-inimigos, os fariseus, que criam que havia vida depois da morte. A resposta de Jesus, mas uma vez, é dirigida pela sabedoria divina. Depois de deixar claro os detalhes quanto às relações no século vindouro (vs. 35-36) onde o sexo não tem a dimensão que tem neste século, Jesus passa a responder aos saduceus quanto à sua crença: a vida após a morte. E ele o faz com a parte das Escrituras que eles davam maior valor: o Pentateuco. Jesus usa o texto de Êxodo 3.1-6 para refutar o argumento deles. Aqueles com os quais Deus fez um pacto, não estão mortos, estão vivos. Abraão, Isaque e Jacó não estão mortos, porque Deus não é Deus de mortos, mas de vivos. Com que sabedoria Jesus responde aos seus detratores usando as próprias Escrituras que eles mais valorizavam. Que Ele nos ajude a estudar a Palavra de Deus para saber fazer frente aos inimigos do Reino! Há outro fator digno de ser notado nesta parte do Evangelho de Lucas. Jesus está lançando por terra conceitos filosóficos gregos que também estavam sendo incorporados pelos romanos. Segundo a filosofia grega, o corpo era a prisão da alma. O conceito hebraico, de acordo com a revelação especial, é diferente. Deus trata com o homem como um todo, não somente com sua alma, ou com seu corpo. Deus ama seus filhos em corpo e alma. A alma participa com o corpo da honra de ser templo do Espírito Santo (1 Co 6.19-20), assim como o 120 Ver la siguiente fuente: Josefo, Antigüedades XIII. 171–173, 297, 298, XVIII. 16, 17. 101 corpo é “para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1 Co 6.13). Ao dizer “eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” com uma ênfase em repetir três vezes a palavra Deus para denotar a relação com cada um deles, está dizendo que estão vivos, não mortos, o que indica que seus corpos não serão deixados aos vermes, mas que um dia serão ressuscitados gloriosamente! O Deus do Pacto não é Deus de gente morta, mas de gente viva! “Então, disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem! Dali por diante, não ousaram mais interrogá-lo” (vs. 39-40). Sem dúvidas, este texto nos diz que aquele diálogo entre Jesus e os representantes dos saduceus atraiu alguns dos escribas que eram seus rivais e ao ver seus oponentes sendo vencidos pelas respostas de Jesus o felicitaram quando eles mesmos o haviam atacado da mesma maneira. Tal é a hipocrisia dos inimigos do Senhor! As sábias respostas de Jesus a todos os seus inimigos tanto de um lado como do outro os fizeram calar. Já não ousaram perguntar-lhe mais nada. Foram desarmados, não tinham mais argumentos. Cumpre-se o dito em Romanos 3.4: “e venhas a vencer quando fores julgado”. 7. DE QUEM É FILHO O CRISTO? (20.41-44) “Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi?” (v. 44). Ao ver Jesus a todos os oponentes derrotados pelos peso e sabedoria de sua Palavra, então passa a responder a pergunta que lhe fizeram depois de limpar o purificar o templo: “com que autoridade faze estas coisas?” e a responde usando nada mais, nada menos, que ao Rei Davi, que junto com Abraão eram figuras quase idolatradas pelos judeus. Em outras ocasiões o haviam chamado de “Filho de Davi”. Por exemplo: O mendigo cego em Lucas 18.38, as multidões que o receberam na entrada de Jerusalém e gritaram: “Hosana ao Filho de Davi, em Mateus 21.9. Usando as mesmas palavras de Davi no Salmo 110, ele deixa claro que “o doce cantor de Israel”, lhe chama de “Senhor”, e, portanto, ainda que seja filho, por ser descendente, é mais que isso, é Senhor de Davi. Com isso deixa claro que até o próprio rei Davi lhe dá autoridade, algo que eles não estava reconhecendo. Ao dizer-lhes isso, Ele queria que eles aceitassem três coisas: “1. O Filho de Davi não é somente um descendente de Davi; é Senhor de Davi. 2. Sendo Senhor de Davi, é o Filho de Deus. 102 3. Posto que é Filho de Deus, todos devem pôr sua confiança nele”121. Jesus deixou claro a seus inimigos com que autoridade fez e disse: por ser o Senhor de Davi. 8. JESUS ACUSA OS ESCRIBAS (20.45-47) “Ouvindo-o todo o povo, recomendou Jesus a seus discípulos:Guardai-vos dos escribas...” (v. 45). Uma vez que derrotou seus inimigos de todas as suas armadilhas, e tendo deixado claro qual era a sua autoridade, agora vai advertir ao povo sobre o perigo dos ensinos e condutas daqueles inimigos. Os fariseus e escribas andavam entre o povo para buscar seguidores, de fato, os tinham, por isso Jesus os desmascara diante do povo. E o faz em seis pontos, que listamos abaixo: 1. “Que gostam de andar com vestes talares...”. Estes homens gostavam de darem a si mesmos ares de grandeza; andavam por aí vestidos como reis ou sacerdotes a ponto de cumprir funções oficiais. 2. “...das saudações nas praças” cf 11.43b. Ainda que a Palavra usada aqui para saudação pudesse indicar uma saudação amistosa oral ou uma mensagem escrita de felicitações (1 Co 16.21; Co 4.18; 2 Ts 3.17), neste caso tem uma conotação mais formidável, igual ao contexto imediato na passagem paralela de Mateus 23.7: “...as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens”. Os homens aqui descritos anelavam, não por uma simples mostra de amizade, mas por uma demonstração de respeito, um reconhecimento público de sua proeminência. 3. “...as primeiras cadeiras na sinagira...” (v. 46). Estes eram assentos postos sobre a plataforma onde ficava a pessoa que dirigia as orações e a leitura da Escritura. Nesse assento, o individuo tinha a dupla vantagem de estar perto da pessoa que orava ou lia a Escritura e de estar de frente para a congregação, e portanto, poder ver a todos os presentes. Além disso, ser conduzido até esse assento era considerado como um sinal de honra. 4. “...os primeiros lugares nos banquetes”. Jesus havia pronunciado uma advertência contra esse mesmo pecado de buscar os melhores assentos em um banquete ou ceia (Lc 14.8). 121 Hendriksen, v. 41. p. 622. 103 Tiago condena o pecado de reservar os melhores lugares aos ricos, enquanto se diz ao pobre que fique em pé ou que se sente no chão juntos ao estrado dos pés de outra pessoa. 5. “...os quais devoram as casas das viúvas”. Jesus apresenta os escribas como aqueles que devoram – engordam com base em – as casas destas mulheres solitárias. Como fazem isto? Esta pergunta tem sido respondida de várias formas. Algumas respostas sugeridas são: pediam as viúvas que contribuíssem mais do que podiam para fundos que estavam debaixo do controle dos escribas e dos quais eles podiam usar; ou, ofereciam ajuda para administrar os bens que a viúva havia recebido, enquanto eles ficavam com um montante maior do que entregavam à viúva; ou se aproveitavam injustamente do sustento material que inicialmente havia sido oferecido voluntariamente pelas viúvas. Seja qual for o método usado, é claro que Jesus está condenando com estas palavras o delito de extorsão que se praticava com as viúvas, delito nefasto de acordo com as Escrituras. A história da igreja oferece muitos exemplos desse mal122. (Para saber mais sobre isso pode-se ler e C. Chiniquy, “The Priest, Purgatory, and the Poor Widow’s Cow”). 6. Os louvores dos homens. “...para o justificar, fazem longas orações”. Os escribas ofereciam estas largas e quase intermináveis orações com o propósito de atrair a atenção para si mesmos (cf 1 Ts 2. 5, 6). Tudo o que estavam buscando era a honra dos homens... Ou isso era tudo realmente? A justaposição gramatical de “devorando as casas das viúvas “e” fazem longas orações” tem levado a alguns a sugerir que entre estas duas atividades havia uma relação muito estreita, sendo o significado o seguinte: eles devoram as casas das viúvas e para dissimular sua perversidade faziam largas orações. Quanto mais longamente oram pelas viúvas (ou pelo menos na presença delas) maior é o que eles podem devorar. Cada um decida por si mesmo se há suficiente evidência para esta interpretação. Mesmo sem isso, o mal aqui condenado é escandaloso123. “...estes sofrerão juízo muito mais severo” (v. 47). Os escribas eram os que passavam tempo estudando e copiando as Escrituras, e tinha o dever de ensinar ao povo. Ao denunciar sua má conduta como líderes, Jesus anuncia que eles terão maior condenação. O que foi dito ao grupo de escribas fica para todos aqueles que devendo ensinar a igreja de Deus, a corrompe com seus maus exemplos. 122 123 Fifty Years in the Church of Rome, Nueva York, 1886, pp. 41–48. Hendriksen, p. 624. 104 9. A OFERTA DA VIÚVA (21.1-4) Havendo manifestado publicamente a hipocrisia dos escribas e fariseus, Jesus passa agora a revelar a sinceridade de certa viúva. Nesta passagem ele coloca em contraste a religião genuína com a religião fingida. Ao observar Jesus notou que os ricos lançavam suas ofertas no gazofilácio do templo de forma separada, para diferentes propósitos, mas o importante aqui não era a soma depositada, mas o coração. Segundo o modo humano de calcular, a oferta da viúva era insignificante, mas segundo as normas divinas era incalculável. “O que esta viúva fez era tão importante aos olhos de Jesus, que de acordo com Marcos 12.43, ele reuniu todos os discípulos a fim de chamar sua atenção para isso. Este mesmo tipo de convocatória dos Doze havia ocorrido antes, ou seja, em ocasiões muito importantes e esta era um delas. Em harmonia com isto está o fato de que o Mestre introduziu este ensino com a frase: “Verdadeiramente vos digo”, mostrado que o que está por dizer era da mais alta importância e devia ser levado a sério”124. 10. SINAIS ANTES DO FIM (21.5-24) Jesus, em seguida, prediz a destruição do templo de Jerusalém e ante isso os discípulos lhe perguntam acerca dos sinais que deviam esperar e fazem uma relação da destruição do templo com o fim do mundo. De um modo geral Jesus respondeu a sua pergunta e lhe falou do “sinal” que eles deviam procurar. Jesus para corrigir a inferência equivocada dos seus seguidores explica-lhes que nem todo o que parece ser um sinal do fim do mundo é realmente um sinal, mas por certo que os acontecimentos listados aqui têm importância, são etapas que conduzem para a meta final, por meio deles se prefigura e se aproxima o fim da era e o plano de Deus é concretizado. O importante é que Jesus disse que esta perseguição virá por “causa do meu nome”. Quando alguém persegue aos discípulos de Cristo, está perseguindo ao próprio Cristo, fato que ficou estampado indelevelmente na mente e no coração de Paulo que apesar das variações que ele deu ao relato de sua conversão, as palavras: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”, se encontram nos três relatos (Atos 9.4-5; 22.7-8; 26.14-15). O perseguido sofria os maltratos 124 Hendricksen, p. 628. 105 por causa da sua lealdade a Cristo. E ninguém foi capaz jamais de separá-lo do amor de Cristo e do consolo que ele traz125. O acontecimento que cumpriu a profecia de Jesus nessa passagem foi que anos antes da guerra, o jugo do império romano havia se aguçado e esta ação provavelmente produziu uma reação. O imperador Nero enviou o general Vespasiano e a rebelião foi dominada com um grande custo de vidas. O sítio final da cidade de Jerusalém foi no ano 70 dC e o historiador Josefo, em seu livro “Guerra Judaica” indica que o número de prisioneiros foi de 97.000 e os mortos passaram de 1.100.000126. 11. A VINDA DO FILHO DO HOMEM (21.25-38) Jesus continua seu relato relacionando a profecia anterior com sua segunda vinda e o quadro é certamente muito vívido: o sol se escurece, a lua também deixa de dar sua luz e como estes astros têm forte influência no clima da terra, aparecem as marés, se ouvem sons terríveis e as pessoas sentem medo. No versículo 27, quando Jesus usa a palavra “verão” é evidente que se refere ao pronome “eles”, dando a entender aqui que toda a humanidade poderá ver com clareza ao Filho do Homem e também observamos que tanto Lucas quando Marcos omitem deliberadamente a palavra chave “sinal”, apenas dizem: “verão o Filho do Homem”, ou seja, apresentam Cristo majestosamente, porque a própria aparição do Filho do Homem é o próprio sinal, o único sinal que se deve esperar. No versículo 28 encontramos a frase: “quando estas coisas começarem a acontecer”. Aqui Cristo mostra a seus discípulos que quando os sinais que aparecerão e que produzirão terror e desconforto na humanidade, essas mesmas coisas serão para os filhos de Deus o sinal de que se aproxima sua iminente liberação, para eles significará que essas alarmantes perturbações só significará que seus dias de sofrimentos logo terão acabado. “Junto com a volta de Cristo virá a redenção. Essa redenção, que já foi conquistada em favor dos eleitos na cruz e que já a terão experimentado em suas almas, será então compartilhada a seus corpos. Juntamente com os filhos de Deus que já haviam morrido e cujas almas, então, se reunião com seus corpos maravilhosamente transformados, eles subirão para encontrarem-se com 125 126 Hendricksen, p. 637. Josefo, p. 420. 106 Jesus, nos ares, para permanecer com Ele para sempre; agora em plena possessão de sua salvação, para a glória de Deus”127. Havendo terminado o discurso de Jesus, Lucas agrega que durante esta estadia mui breve, em Jerusalém, Cristo ensinava no templo durante o dia e pernoitava no monte das Oliveiras. Lucas termina seu relato dizendo no verso 38: “E todo o povo ia ter com ele ao templo, de manhã cedo, para o ouvir”. 12. O COMPLÔ PARA MATAR JESUS (22.1-6) O plano para matar Jesus existia, na realidade, há muito tempo. Várias passagens nos mostra claramente isso, como por exemplo: Mc 3.6; 11.18; 12.7; Jo 5;18; 7.1, 19, 25; 8.37, 40; 11.53 e em Lucas 19.47; 20.19 especialmente. Na realidade esta passagem é uma repetição de situações anteriores, deixando implícito que os conspiradores: “temiam ao povo”. Temos que lembrar que Cristo tinha um número importante de seguidores entre os galileus, e deve-se somar a isso que durante a festa da páscoa predominava na nação judaica a ideia da libertação do império romano, era portanto, evidente que nos corações dos inimigos de Jesus existisse um certo temor quanto a isso. Então, os inimigos de Jesus esperavam o momento de prendê-lo e Judas lhe facilitou a tarefa, oferecendo-se voluntariamente para entregar Jesus a seus inimigos de forma secreta, ou seja, sem provocar nenhum distúrbio público. Os principais sacerdotes e os capitães da guarda romana ficaram satisfeitos e concordaram em dar-lhe dinheiro por seu trabalho. 13. A PÁSCOA E A INSTITUIÇÃO DA CEIA DO SENHOR (22.7-30) Esta passagem começa com Jesus dando instruções precisas a Pedro e a João sobre como preparar o necessário para celebrar a festa da páscoa com seus discípulos. Cristo lhes mostra como localizar o lugar onde se celebrará a ceia e é evidente, por suas palavras, que o proprietário da cada onde se celebraria a páscoa era um seguidor de Cristo. “Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça!” Jesus fez referência de comer “esta páscoa” mas acrescenta: “convosco”. Não é isto o que nos lembra Jo 13.1: “Tendo amado os seus amou-os até ao fim”? Jesus sabia o que sua morte, que ocorreria em 127 Hendricksen, p. 643. 107 poucas horas, faria por eles e por milhões de pessoas mais, ele os amava com um amor impossível ser expressado em palavras”128. Posteriormente Cristo toma um copo de vinho e o ato de tomar esse copo era parte do ritual da ceia pascal. Note-se algo importante: a ação de graças que deve preceder ao ato de beber o vinho. Ao dar a ordem de distribuir o conteúdo do copo entre todos os presentes, Jesus, atuando como anfitrião, enfatiza a unidade que existe entre todos os participantes e que é experimentada por cada um deles, e depois, volta a reiterar: “porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o Reino de Deus”. Estas palavras não tem um sentido pessimista, pelo contrário, são totalmente otimistas. Jesus não está dizendo aqui: “minha jornada chegou ao fim, já não voltaremos a nos ver mais”; o que ele está dizendo na realidade é: “Mesmo que nossa comunhão nesta terra esteja próximo de terminar, vai ser renovada gloriosamente no reino de Deus, reino de luz e de amor, de triunfo e de louvor”. Depois disso, Jesus toma "fatia" ou pedaço de pão e começa a parti-lo em pedaços pequenos e entregá-lo aos seus discípulos. Quando mencionou a frase: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós...” significa que realmente Cristo está dizendo que os pedaços de pão que está entregando a seus discípulos simbolizam nesse momento o seu corpo físico, ou seja, não era literalmente o corpo de Cristo, não se transformavam em sua substância; um não se transformou no outro nem tomou as propriedades ou características físicas do outro. Se atentarmos para o ministério do Senhor, podemos comprovar que ele sempre utilizou mensagem simbólica. Cristo acrescenta finalmente a frase: “Fazei isso em memória de mim”. Era o desejo de nosso Senhor que por meio da ceia aqui instituída, a igreja comemorasse seu sacrifício e o amasse, refletisse sobre seu sacrifício e o abraçasse com fé, olhando para frente com viva esperança de sua gloriosa segunda vinda. Por certo, a celebração adequada da Santa Ceia é uma lembrança de amor, mas é muito mais que isso, porque Cristo está presente e ativo em Seu Espírito; seus seguidores “tomam e comem”, se apropriam de Cristo por meio de uma fé viva e são fortalecidos nesta fé”129. Finalizada a ceia, inicia-se entre os discípulos uma disputa sobre quem seria o maior. Imaginemos por um instante a cena: ali estava Jesus, próximo de dar sua vida por estes homens, centrando toda sua atenção neles e amando-os terna e intensamente, e eles, enquanto 128 129 Hendricksen, p. 656. Hendricksen, p. 658. 108 isso, estavam discutindo entre si, com uma atitude totalmente egoísta. Jesus quer que seus discípulos tenham um espírito muito diferente dessa forma de pensar e, portanto, mostrem uma disposição oposta, por isso lhes disse que o maior deles deveria chegar a ser como o “menor”, ou seja, como o de menos honra. 14. PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO E A QUESTÃO DO SUSTENTO (22.31-38) A tripla negação de Pedro é predita. Pedro não reconhece a condição de seu coração e continua pensando que iria defender Jesus. Surge um diálogo sobre o sustento dos discípulos. A partir de agora ele vão precisar de comida, roupa e proteção. 15. JESUS ORA NO GETSÊMANI (22.39-46) Vemos no versículo 39 que diz: “E, saindo, foi, como costumava, para o monte das Oliveiras” e, se pensarmos na reação de qualquer pessoa que se encontre em perigo de ser preso, sabemos que ele nunca se dirigiria a um lugar que sempre freqüenta, porque obviamente seria o primeiro lugar onde seria procurado por seus inimigos. Cristo sabe perfeitamente que Judas estava fazendo arranjos para sua prisão com seus cúmplices; sabe também que Judas conhece perfeitamente o lugar onde achá-lo e que iriam diretamente para o Getsêmani; o pastor está em vias de entregar sua vida por suas ovelhas, deve fazê-lo, quer fazer um sacrifício voluntário, o único tipo de sacrifício que será suficiente como expiação de todos os pecados de todos aqueles que põem sua fé e sua confiança nele. 16. A PRISÃO DE JESUS (22.47-53) O versículo 47 começa dizendo: “...surgiu uma multidão...”, ou seja, um grupo importante de pessoas, entre as quais estava Judas que se aproxima de Jesus para beijá-lo e há quem afirme que o beijo era a forma habitual da época de saudar um rabi, seja como for, devemos convir que o beijo era uma expressão de amor e de amizade, de suma confiança, de 109 relação estreita, entretanto, nesse caso específico era o sinal acertado entre os inimigos de Jesus para prendê-lo. Ato seguido, nos versículos 49 e 50, Lucas relatada que um dos discípulos feriu com a sua espada a um servo do sumo sacerdote cortando-lhe a orelha. Mesmo que o acontecido seja relatado nos quatro Evangelhos, somente João menciona o nome destas duas pessoas: Pedro e Malco, o servo do Sumo sacerdote; e a razão possivelmente é que quando João escreveu seu Evangelho já não era possível castigar o que atacou. O relato continua dizendo que o Senhor tocou a orelha do servo e a curou. Por último, Cristo sinaliza aos que haviam chegado para prender-lhe, a forma tão covarde e pérfida como estavam se comportando, porque vieram com um exército contra ele, equipados de espadas e porretes como se fossem lidar com um assaltante, um revolucionário, um rebelde ou um provocador de badernas. 17. PEDRO NEGA A JESUS (22.54-62) Nos versículos 54 a 62 Lucas relata a história das três negações de Pedro, as quais também são relatadas nos outros três Evangelhos. Pedro provavelmente tenha seguido de perto a Jesus, enquanto ele era conduzido para a cada do sumo sacerdote, por curiosidade, ou encorajado pelas palavras que havia dito a Jesus anteriormente com respeito a segui-lo até a morte, mas seguramente cheio de medo e de preocupação, a tal ponto de sua atitude levantar suspeitas. Em primeiro lugar, uma criada suspeitou dele e disse: “Também este estava com ele” e evidentemente Pedro ficou agoniado ante essas palavras e realiza ali a primeira de suas negações, afirmando: “Mulher, não o conheço”. Quase imediatamente, em um espaço muito curto de tempo, Pedro é increpado outras duas vezes, sendo acusado diretamente de ser um dos seguidores de Jesus e ele frustrado e provavelmente em pânico, o nega outras duas vezes, tal como o Senhor o havia profetizado anteriormente. Depois disso um galo cantou e quando Pedro ouviu o canto do galo, viu Jesus que estava sendo transferido e o olha diretamente nos olhos, cheio de pesar, mas também cheio de perdão e misericórdia; e saindo do palácio chorou amargamente, estando seu coração cheio de um genuíno arrependimento pelo que havia feito. 110 18. JESUS PERANTE O CONCÍLIO (22.63-71) Os membros do Sinédrio mostram seu verdadeiro caráter e coração, Ainda que possa deduzir que as torturas às quais Jesus foi submetido vieram dos subordinados dos principais sacerdotes, devemos lembrar que eles consentiam diretamente com a situação, e que cooperavam com isso. A crueldade humana somada à zombaria alcança seu clímax quando os torturadores golpeavam o rosto do prisioneiro, que estavam vendados, dizendo-lhe: “Profetiza-nos, quem é que te feriu?”, enquanto também o insultavam ferozmente. A razão, com certeza, pela qual rapidamente se reuniu os integrantes do Sinédrio, era para dar certa aparência de legalidade ao ato vergonhoso que fariam logo depois. Quando um corpo oficial judeu, como o Sinédrio, por meio de uma ação ilegal “busca testemunhas” falsas para acusar Jesus, quando o levaram a Anás, (um homem que já não tinha nenhuma autoridade oficial); quando o sumo sacerdote pretende forçar o prisioneiro a que declare algo contra si mesmo, a única conclusão justa a que podemos chegar é que estamos frente não a um ato de justiça, mas de perversão. Caifás, desesperado porque as testemunhas falsas apresentadas não podiam oferecer um testemunho confiável, tenta por todos os meios “arrancar” de Jesus uma confissão incriminatória que permitisse acusá-lo e apresentá-lo ante as autoridades romanas para matálo. Os membros do Sinédrio não tiveram nenhuma dúvida que quando Jesus disse: “O Filho do Homem” ele estava se referindo a si mesmo e sabiam também que aquele a quem Ele estava se referindo de acordo com Daniel 7.13 era na realidade divino. O sumo sacerdote e os demais que estavam presentes consideraram imediatamente essa afirmação como uma pretensão de usurpação de honra divina reservada somente a Deus, por parte de um homem comum, em outras palavras era uma blasfêmia. Diante disso o sumo sacerdote rasgou suas vestes e todos foram de acordo que não precisava de nenhum outro testemunho para acusá-lo. 111 CONCLUSÃO Tendo denunciado a hipocrisia dos escribas, ao elogiar a entrega total de uma viúva de tudo o que tinha, Jesus não somente estabeleceu um contraste entre a hipocrisia e a sinceridade, mas também mostrou a forma como devem ser tratadas as viúvas. Posteriormente Jesus predisse a destruição do templo de Jerusalém e seus discípulos tomaram isso como um presságio do fim do mundo e Cristo os acalma com palavras de amor e segurança, acrescentando que a contemplação destes sinais deve conduzir a uma atitude de vigilância, uma vida de santificação. Quando finaliza o discurso de Cristo, Lucas relata que durante essa breve estadia do Senhor em Jerusalém, ele ensinava durante o dia no templo e pernoitava no Monte das Oliveiras, e que todo o povo se levantava cedo para ouvi-lo. É compreensível que esta “fama” de Jesus, que sempre aumentava, fez com que os dirigentes de irassem, de tal maneira que estavam planejando desfazer-se dele sem causar tumulto. Nesta situação comprometedora, receberam a ajuda inesperada de um homem, que pertencia nem mais nem menos aos discípulos de Jesus, que estava disposto a entregá-lo em troca de dinheiro. Na páscoa, Cristo instituiu com seus discípulos, sem a presença de Judas, a Ceia do Senhor, para ser observada perpetuamente “em memória” dele. Depois da ceia saíram para o Monte das Oliveiras, onde Jesus instruiu seus discípulos a que orassem para não caírem em tentação. Enquanto estavam orando chegou uma turba encabeçada por Judas, que prendeu Jesus e o transferiu para a residência do sumo sacerdote. No pátio desse local Pedro negou três vezes ao seu Senhor. Numa reunião convocada apressadamente, no meio da madrugada, Cristo é apresentado diante do Sinédrio, onde é acusado de blasfêmia e sentenciado à morte. 112 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 6 1. Para onde Jesus enviou dois dos seus discípulos e o que lhes pediu? 2. O que Jesus fez ao entrar no templo e o que disse aos que estavam ali? 3. O que discutiam entre si os escribas, os anciãos e os principais sacerdotes? Explique o dilema deles. 4. Qual o propósito dos emissários enviados a Jesus, e qual o tema que abordaram? Explique brevemente. 5. Segundo o texto, como se chama os que se aproximaram de Jesus, que não criam na ressurreição e com que pergunta abordaram Jesus? 6. O que Jesus disse acerca da destruição do templo? 7. O que acontecerá com os astros do céu antes da vinda do Senhor? 8. Quem entrou em Judas e qual é o seu (de Judas) sobrenome? 9. No reino de Deus ou no serviço dele, quem é o maior, o que senta na mesa ou o que serve? 10. Quando bateram no Senhor, depois da sua prisão, o que lhe pediram que profetizasse? 113 LIÇÃO SETE O JUIZO E A MORTE DE JESUS Alejandro Cid INTRODUÇÃO “Lucas só oferece um esquema simples do episódio que o apóstolo João escreve melhor. Ele nos dá porém, o suficiente para mostrar a indignidade infame dos judeus e os vãos esforços de Pilatos para se desculpar do crime que finalmente cometeu. Lucas nos faz ver que no julgamento e na condenação de Jesus, os judeus tão habilmente manipularam a acusação, que Pilatos não teve outra alternativa senão satisfazer suas demandas e com que violência apresentaram o trataram. A degradação dos dirigentes judeus foi total, com todo o comhecimento que eles tinham acerca da lei moral, os que professavam ser representantes de Deus, levaram à morte o Seu Filho130. 1. JESUS E PILATOS (23.1-5) A frase: “toda a assembléia” significa o Sinédrio. A razão pela qual a assembléia fez isso é porque para os judeus teria sido uma violação do direito romano ter, eles mesmos, pronunciado uma sentença. Pôncio Pilatos era o quinto procurador de Samaria e Judéia, estava debaixo da autoridade do legado da Síria e com respeito a seu caráter existem muitas informações. Um exemplo é Filo, que citando uma carta de Agripa I a Calígula o chama: “inflexível, sem compaixão e obstinado”, mas uma coisa é certa: usou com bem pouco bom senso as relações, já deterioradas, dos judeus com os opressores romanos. “A ocasião que conduziu Pilatos a perder sua função foi sua interferência com uma turba de fanáticos que, sob da liderança de um falso profeta, estava a ponto de subir ao monte Gerizim com a finalidade de buscar os vasos sagrados, que segundo criam, Moisés havia escondido ali. Viajou para Roma a fim de responder às acusações que haviam sido apresentadas contra ele, mas antes de chegar a Roma, o imperador Tibério morreu. Uma 130 W. Hendriksen, p. 122. 114 história não confirmada, relatada por Eusébio, afirma que Pilatos ‘foi forçado a tirar sua própria vida’”131. Ao combinar o relato dos Evangelhos, alguns chegam à impressão de que do princípio ao fim Pilatos fez todo o possível para desfazer-se do caso de Jesus. Ele não gostava dos judeus e não quero agradá-los nem conceder-lhes sua petição. Entretanto, no fundo do seu coração, temia que eles usassem a ocasião para lhe prejudicar. Até certo ponto estava disposto a fazer o que a justiça exigia, mas somente até certo ponto, quando sua posição de poder ficava ameaçada, então, ele se rendia. Pilatos começa perguntando aos judeus porque trouxeram Jesus a ele: “Que acusações trazeis contra esse homem?”. Eles responderam: “Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos”, em outras palavras: “Não faças perguntas, somente confirme a sentença que nós já damos”. Mas Pilatos se nega a conceder-lhes esse favor e como eles não puderam fazer nenhuma acusação, trata de devolver-lhes o prisioneiro, dizendo: “Tomai-o vós outros e julgai-o segundo a vossa lei”. Então, os judeus esclareceram que eles desejam nada menos do que a morte do prisioneiro. “É claro que mesmo o Sinédrio acusando Jesus de blasfêmia, diante de Pilatos os líderes judeus não apresentaram imediatamente essa acusação. Devem ter pensado e com justa razão, que uma acusação especificamente política teria melhor possibilidade de ser considerada legalmente válida do ponto de vista da jurisprudência romana. Além disso, podem ter pensado que uma acusação estritamente religiosa causaria mui pouca impressão a um pagão. Entretanto, isso não significa que a acusação religiosa não tivesse lugar no tribunal. Sim, teria, mas não imediatamente, por isso foi reservada para mais tarde”132. Ante a acusação, Pilatos perguntou a Jesus: “És tu o rei dos judeus?”. Ele fez essa pergunta para sua própria proteção e Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes!”. Ante a resposta e com intenções evidentes de livrar-se do problema, Pilatos disse aos sacerdotes e às pessoas, que não encontrava nenhum delito no prisioneiro. No versículo cinco, a multidão presente, diante da resposta de Pilatos acerca da inocência de Jesus, se alvoroçou e começou a gritar, insistindo com sua acusação, mas o que deve ter despertado, de forma especial, o interesse de Pilatos, foi outra coisa. De acordo com os gritos e as acusações, Jesus provinha da Galiléia e o tetrarca da Galiléia era Herodes 131 132 Ibid. R. Zapata, p. 216. 115 Antipas e justamente nesse momento, este se encontrava em Jerusalém. Pilatos considerou esta circunstância como uma maravilhosa coincidência e possivelmente a possibilidade de se desfazer do problema. 2. JESUS E HERODES (23.6-12) Os acusadores seguramente devem ter ouvido o comentário de Pilatos de que Jesus era da Galiléia como um golpe de mestre para sua acusação. Isso era devido a que Galiléia sempre fora um berço da revolução. Dali saíram os zelotes e os patriotas que eram literalmente guerrilheiros dessa época, causando continuamente problemas ao governo romano. Logo descobriram que na realidade estavam sendo derrotados, porque Pilatos, no seu propósito de desfazer-se do problema, viu nesse vínculo entre Jesus e a Galiléia, a oportunidade perfeita, já que o governante da Galiléia era Herodes Antipas, dado que a lei romana permitia que uma pessoa pudesse ser julgada na província a que pertencia ou onde havia nascido. Jesus foi então, remetido à presença de Herodes Antipas, que acreditava que se tratava de João Batista ressuscitado dentre os mortos e tinha muita curiosidade de conhecer Jesus, esperando vê-lo realizar algum milagre e assim divertir-se um pouco com ele. Mesmo que Jesus não tenha realizado nenhum milagre diante de Herodes, este pensou que ao menos o prisioneiro conversaria com ele e responderia suas perguntas. Mas, Jesus não respondeu de forma nenhuma e quando Jesus se negou a falar, seus inimigos, seus principais acusadores, os sacerdotes e escribas falaram ainda com mais força acusando-o veementemente diante de Herodes. Ante o silêncio de Jesus, e apesar de não pode achar nenhuma culpabilidade nele, Herodes, irritado porque a situação o ridicularizou, disse-nos o versículo 11: “Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos”. “Provavelmente Herodes estava bastante assustado para condenar Jesus à morte, sua consciência não lhe permitia esquecer o que havia feito com outra pessoa inocente: João Batista; estava cheio de uma horrível superstição. Mas, além disso, provavelmente estava irado com Jesus para deixá-lo livre, porque sua curiosidade 116 não havia sido satisfeita. Do palácio onde Herodes provavelmente estava hospedado, o cortejo regressou ao pretório”133. 3. A SENTENÇA DE JESUS (23.13-25) Quando regressaram com Jesus a Pilatos, este convocou não somente os membros do Sinédrio mas também ao povo em geral, porque deseja fazer um anúncio público. Em relação à acusação de que Jesus era um revolucionário, Pilatos declara: “...tendo-o interrogado na vossa presença...”; isto indica que Lucas nos está entregando somente um breve resumo do ocorrido, porque em seu relato lemos pouco acerca de um interrogatório público. Então Pilatos faz esses assombrosos anúncios: “...nada verifiquei contra ele dos crimes de que o acusais”. Estas são duas afirmações notáveis e se somamos a elas as que se encontram nos versos 4 e 22 deste mesmo capítulo 23 e as registradas em João 13.38; 19.6, pode-se ver claramente que em não menos de cinco ocasiões Pilatos declarou publicamente a inocência de Jesus. “Temos direito de esperar, então, que Pilatos dissesse: Portanto o colocarei em liberdade! Por que não disse isso? Com toda certeza, como o demonstra sua conduta posterior, era devido ao medo que ele tinha do que poderiam fazer o Sinédrio e as pessoas que se haviam deixado convencer por ele. Está sendo motivado não pelos princípios morais, mas pela conveniência política. Então o que Pilatos realmente disse foi: “Portanto, após castigá-lo, soltá-lo-ei”134. Pilatos estava começando já a desesperar-se, estava desejoso, mui desejoso de desfazer-se desse problema. Primeiro havia tratado de devolver Jesus ao Sinédrio, mas isso não aconteceu. Depois resolveu mandá-lo a Herodes para que este tomasse a decisão, mas novamente não teve êxito. Agora havia feito uma tentativa de chegar a um acordo: primeiro castigar Jesus e depois colocá-lo em liberdade, isso tampouco satisfez as pessoas. “Uma nova oportunidade para a solução do problema de Pilatos parece que agora se apresenta. Visto que aqui, uma vez mais, Lucas abrevia, pare seu esclarecimento voltemos à passagem paralela em Marcos: “Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores, 133 134 M. Henry, p. 324. G.J. Wenham, p. 357. 117 os quais em um tumulto haviam cometido homicídio. Vindo a multidão, começou a pedir que lhes fizesse como de costume. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus? Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado. Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência, Barrabás”135. Foi a resposta da multidão. Nos versos 22 e 23 encontramos virtualmente uma repetição do que Pilatos vinha dizendo anteriormente, a única exceção é que finalmente Pilatos pergunta: “Que mal fez este?”, reconhecendo mais uma vez que não existia delito algum pelo qual Jesus pudesse merecer a pena de morte. As palavras “...portanto, depois de o castigar, soltá-lo-ei”, mostram que Pilatos está novamente violando as demandas da justiça, porque certamente Jesus não merecia castigo algum, nem mesmo um castigo suave. Entretanto, a essas alturas, as pessoas estava completamente consciente do fato de que só se persistissem em sua demanda, poderiam fazer o obstinado ceder. O sentido do verso 23 seria então, que devido à incitação constante dos principais sacerdotes, escribas e anciãos, os gritos da multidão exigindo que Jesus fosse crucificado, se tornaram mais e mais fortes até que por fim, acabaram com qualquer oposição que pudessem ter. Mas, qualquer das traduções que possamos pesquisar a respeito chega à mesma conclusão: foi a vitória dos que gritavam, do Sinédrio, da injustiça cruel e sádica, mas também da providência soberana de Deus e da salvação de seu povo do pecado. 4. A CRUCIFICAÇÃO E A MORTE DE JESUS (23.26-49) Finalmente o desejo da turba fanática, que se expressou de forma mais e mais insistente para que Jesus fosse crucificado, unida à ameaça: “Se soltas a este, não és amigo de César!”, fez com que Pilatos se rendesse, de modo que ditou a sentença de Jesus; que fosse crucificado. Este pronunciamento, da parte de um juiz que repetidamente havia estabelecido que Jesus era completamente inocente, acaba sendo a mais espantosa tergiversação da justiça que a história jamais registrou. “O que Lucas diz é isto: “Jesus porém, foi rendido (ou entregue à vontade deles)”. Quao significativa é essa expressão! Não podemos deixar de pensar em Isaías 53.6, 12: “...mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”; “...porquanto derramou sua 135 W. Hendriksen. p. 692. 118 alma na morte...”. Não devemos jamais esquecer que Lucas está escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo. O próprio Espirito, portanto, nos está dizendo que aquele que foi entregue é o cumprimento da profecia, o Messias, o Salvador do pecado. Aleluia!”136. O verso 26 nos relata que segundo o costume e de acordo com a lei, a execução devia ser realizada fora da cidade. Os condenados à crucificação deviam carregar sua própria cruz e Jesus também carrega a sua, mas não foi por muito tempo. O tremendo cansaço, a tortura que havia sofrido, a importante quantidade de sangue que havia perdido fizeram que se tornasse difícil carregar a cruz por muito tempo, e quando Jesus sucumbiu sob a carga, os legionários, exercendo o direito de “requisição” ou de “”fazer exigências” ao povo, obrigaram Simão, um cirineu ou um homem de Cirene, a levar a cruz de Cristo pelo resto do caminho. A passagem compreendida entre os versos 27 a 31 nos descreve o caminho de Jesus rumo a seu lugar de crucificação. Descobrimos que nem todos em Jerusalém estavam contra Jesus, havia aqueles que eram seguidores fiéis e havia também aqueles que pelo menos simpatizavam com ele. Naquela multidão que seguia Jesus se encontravam algumas mulheres que sentiam grande pesar pelo que estava acontecendo. Jesus ao vê-las, se volta para elas e lhes diz: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos!”. Para Jesus, mesmo que agora ele estivesse sofrendo, e ainda que nas próximas horas fosse sofrer ainda mais, o seu futuro é seguro. Mas, a menos que estas mulheres se arrependessem, o futuro delas não seria seguro, nem tampouco o de seus filhos. Tão terrível sofrimento viria sobre a cidade, que se considerariam bem-aventuradas aquelas mulheres que não tivessem gerado filhos. “No verso 31, Jesus está fazendo uso de um provérbio muito comum. Está traçando um contraste entre o “lenho verde” e a “lenho seco”. A madeira verde arde e se consome rapidamente; quando a madeira ainda está verde e úmida, isso não ocorre. A madeira verde representa Jesus e a madeira seca representa seus inimigos que não se arrependerem” 137. João Calvino tinha razão quando interpretou esse versículo da seguinte maneira: “Sabemos que a madeira seca geralmente se lança primeiro ao fogo... O lamento das mulheres é néscio se não esperam e temem também o terrível castigo de Deus que está sobre os ímpios”138. 136 W.Hendriksen, p. 694. Mathew Henry, p. 556. 138 Juan Calvino, Harmony, Vol. III, pp. 294, 295. 137 119 Nos versículos 32 e 33 deste capítulo 23, menciona-se que “quando chegaram ao lugar chamado Calvário”... Por que deram esse nome a esse lugar? Por que parecia uma caveira? Por que encontraram ali uma caveira? Só podemos fazer suposições. O que realmente sabemos é que Jesus foi crucificado fora dos muros da cidade. Note-se quão poucas palavras são usadas em seguida, no original são somente três: “ali o crucificaram”. Essas palavras são usadas para indicar este acontecimento tão relevante para toda a humanidade. O pronome “eles” refere-se aos soldados romanos, como é claro na passagem paralela de Marcos 15.1624. Bem se diz nos livros de história que a pessoa que morria crucificada “morria mil vezes”. Através de suas mãos e pés se cravavam grossos pregos. Entre os horrores que sofriam a pessoa enquanto estava sendo suspensa praticamente no ar, estavam os seguintes: inflamação, a supuração das feridas na região dos pregos, a dor insuportável dos tendões partidos e rasgados, uma angústia espantosa devido à posição na qual se encontrava o corpo, uma dor de cabeça insuportável e uma sede profunda. “Foi uma tremenda injustiça que Jesus tenha sido crucificado entre dois criminosos, como se ele também fosse um criminosos. Não obstante, visto à luz da providência divina, foi também uma honra. Não é verdade que Jesus veio à terra com o fim de buscar e salvar o que estava perdido (19.10)? Não era ele “amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11.19)? Ao crucificar Jesus entre esses dois criminosos, a intenção de Pilatos teria sido a de insultar ainda mais os judeus? Era sua intenção dizer: “É este seu rei, ó judeus, um rei que nem mesmo é melhor que um bandido, e que por isso merece ser crucificado entre dois deles?” Seja como for, uma coisa é certa: a profecia de Isaías 53.12 – “Foi contado com os transgressores” – estava se cumprindo aqui. E, à luz de Lucas 23.39-43, se cumpriu de forma gloriosa”139. Continuando com a análise do capítulo, no versículo 34 encontramos a primeira das sete frases que Jesus disse enquanto estava pendurado na cruz. “Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem”. E é deplorável que se tenha levantado tanta oposição com respeito à esta primeira frase. Há alguns que quiseram excluí-la diretamente e outros tratam de degradá-lo. Há pensamento que diz que os que mataram Jesus eram todos réprobos e que Deus em nenhum sentido abençoa aos réprobos, portanto Jesus quis dizer realmente: “Pai, retém a tua ira; não a derrames imediatamente em plena medida sobre eles”. Para o autor esta fervorosa súplica tem o seguinte verdadeiro sentido: a palavra “perdoa-os”, significa exatamente isso: “retira suas transgressões completamente”. Em tua 139 W. Hendriksen, p. 700. 120 soberana graça faz com que eles se arrependam de verdade, de modo que possam ser perdoados completamente. O sentido da frase está claro, porquanto é a mesma construção gramatical da frase que Jesus disse: “E perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11.4) e “se ele se arrepender, perdoa-lhe” em Lc 17.3. Isso mostra ser inconcebível que aquele que insiste enfaticamente que seus seguidores devem perdoar a todos os devedores e que devem ainda amar seus inimigos, não dê o exemplo ele mesmo. “O Pai ouviu esta oração e a respondeu? Parte da resposta bem poderia ser o fato de que a queda de Jerusalém não ocorreu imediatamente. Através de um período de quarenta anos, o Evangelho da livre e plena salvação estava sendo proclamado aos judeus. Não só isso, mas também muitos foram realmente conduzidos ao Senhor. No dia de Pentecostes se converteram três mil; mais adiante mais de mil (Atos 4.4) Ainda: “...também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6.7). Não se converteram todas as pessoas, mas muitas pessoas e famílias, sim”140. Havendo crucificado a Jesus, os legionários ali presentes, como era costume entre eles, dividiram as vestes de Jesus lançando sortes. Com toda probabilidade repartiram entre quanto as vestes, lançando dados para entregar o manto que cobria a cabeça, as sandálias, o cinto e a capa, tudo isto de acordo com a profecia do Salmo 22.18, a qual Lucas pode ter levando em conta ao descrever isto. Milhares e milhares de pessoas devem ter se reunido no lugar da festa da Páscoa e agora estavam ali parados observando a cena. As Escrituras continuam relatando que os governantes e líderes judeus não estavam satisfeitos com o fato de que haviam triunfado sobre Pilatos, e de acordo com o que eles pensavam, também sobre Jesus. Eles também não mostraram piedade com a miséria da sua vítima, e se alegraram maliciosamente por causa da sua condição aparentemente desesperada. Gritavam que ele que havia salvado outros deveria salvar a si mesmo. Dizem os versículos 36 e 37 que os soldados romanos faziam exatamente o mesmo e que utilizavam a informação que haviam recebido com respeito à acusação apresentada contra Jesus para zombar dele e ridicularizá-lo. No parágrafo compreendido entre os versículos 39 a 41 podemos ler: “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez”. 140 R. Zapata, p. 612. 121 Esta história é relatada somente por Lucas. No princípio os delinqüentes zombavam, eles blasfemavam de Jesus, repetiam as palavras e os sentimentos dos governantes e líderes religiosos. Por fim, um dos delinqüentes ficou em silêncio e se arrependeu; sem sua breve intervenção ele: a) Repreendeu seu companheiro; b) Reconheceu sua própria culpa; c) Reconheceu Jesus como vindo de Deus. No versículo 42 ele disse a Jesus: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Ele se dirige a Jesus como seu Salvador. O que quis dizer o ladrão arrependido? Estava pedindo que no final dos tempos, quando regressasse em glória, Jesus se lembrasse deste suplicante agora convertido. O homem está pedindo a Jesus, portanto, que se lembre dele naquele tempo. Não pede um lugar de honra, mas se lança completamente sobre a graça do Salvador, pedindo somente que se lembre dele. No versículo 43, Jesus lhe responde e diz: “Te digo, que hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Este delinqüente recebeu muito mais do que realmente havia pedido. O homem havia pedido uma bênção num futuro remoto e recebe uma promessa para este mesmo dia, Jesus lhe disse: “hoje...”. Ele havia pedido que “se lembrasse dele” e recebe muito mais que isso, recebe a segurança de que “estarás comigo” e a pergunta é: onde? Não é nenhuma região mística de fantasmas, nem no purgatório, mas no paraíso e o paraíso nada mais é do que o céu, tão simples assim! Posteriormente nos é dito que repentinamente na terra fez-se trevas e o fato de se mencionar esta escuridão na Bíblia mostra que deve ter sido intensas e inesquecíveis. Além disso, ocorreu quando ninguém esperava, à plena luz do dia e duraram três horas. “Esta escuridão significou o juízo de Deus sobre os pecados. Este castigo foi recebido por Jesus, de modo que Ele, como nosso substituto sofreu a mais intensa agonia, a dor mais indescritível, um terrível isolamento ou abandono. Esse dia, o inferno chegou até o Calvário e o Salvador desceu até ao inferno e levou seus horrores nesse lugar”141. O próprio versículo 45, o texto diz: “E rasgou-se pelo meio o véu do santuário”. No momento da morte de Cristo, esta cortina se rasgou, repentinamente, em duas partes, de cima a baixo, como narram Mateus e Marcos, e isto ocorreu às três da tarde, à hora em que os sacerdotes devem está oficiando no templo. Como aconteceu? Não foi por desgaste natural, pelo uso, porque em tal caso haveria tido rompimentos por todas as partes e a ruptura principal teria sido produzida, com maior probabilidade, de baixo para cima. Tampouco deve-se tem em conta a possibilidade de um terremoto. O acontecimento deve ser atribuído a um milagre. 141 G. Wenham, p. 578. 122 Vemos no versículo 46 que depois disso, Jesus exclamou: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. “A palavra final, por meio do qual o Salvador, com as palavras do Salmo 31.5, entrega sua alma ao cuidado de seu Pai, é muito bonita por: a) o que retém do Salmo 31.5; b) O que lhe acrescenta; c) o que omite. Retém: “Encomendo meu espírito”, isto é significativo, porque indica que o Salvador sofreu o único tipo de morte que podia satisfazer a justiça de Deus e salvar os homens. Tinha que ser um sacrifício voluntário. Acrescenta: a palavra significativa “Pai” que não se encontra no Salmo. Omite: a oração que segue imediatamente no Salmo: “Tu me remiste”, no caso de Cristo, o Santo, sem pecado, não era necessário e nem sequer possível a redenção”142. O versículo 47 diz: “Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo”. O centurião tinha visto como Jesus havia se comportado em meio a tantas provocações e zombarias, e além disso a dor que suportava. Com toda probabilidade, o legionário não era judeu, ou seja, seu coração não havia sido endurecido. Assim, começou a adorar e glorificar a Deus, reconhecendo a justiça de Jesus. A passagem finaliza, nos narrando nos versículos 48 e 49 que, como mencionado anteriormente, havia se reunido uma multidão e que esta multidão seguramente, devido a tudo o que haviam presenciado até ali, regressava a seus lares, golpeando-se no peito em sinal de autorreprovação, dizendo: “Nós fizemos isso”. E continua dizendo que todos os seus conhecidos, incluindo as mulheres estavam próximos da cruz. 5. JESUS É SEPULTADO (23.50-56) José era membro do concílio, isto é, da Corte Suprema dos judeus, o Sinédrio, ou seja, era um membro altamente distinto e respeitado, proeminente, alguém cujo conselho era buscado ansiosamente, pessoa cuja palavra tinha muito peso. Pois bem, este homem foi a Pilatos para pedir o corpo de Jesus a fim de que recebesse um sepultamento honroso. Foi preciso coragem para fazer isso. Primeiro, porque de acordo com a lei romana, os crucificados perdiam o direito de serem sepultados. Em segundo lugar, Pilatos odiava os judeus e, somado a isso, com sua atitude José de Arimatéia estava professando abertamente, que era crente em Jesus. Indubitavelmente é necessário muita 142 Mathew Henry, p. 598. 123 valentia. José havia sido um discípulo de Jesus em secreto, alguém que por temor aos judeus não se atrevia a tomar partido por Jesus de forma direta e aberta. Lemos posteriormente nos versículos 53 e 54 a frase: “e tirando-o do madeiro”. Esta frase não pode significar que José fez isso sozinho, evidentemente tinha ajudantes, um deles era Nicodemos e provavelmente tinha outros mais, porque temos de levar em conta que José era rico. Então, uma vez o corpo retirado foi levado para o túmulo, que era propriedade de José e foi tratado segundo era costume dos judeus ao sepultar seus mortos. Isso provavelmente incluía a lavagem do corpo, envolvê-lo numa tela de linho e enquanto era envolvido ajustadamente ao redor do corpo, se untava o corpo com a mistura de mirra e aloés fornecidos por Nicodemos. Mesmo que não haja nada que indique que as mulheres tenham ajudado de alguma forma em retirar o corpo e no enterro, nos é dito que estiveram altamente interessadas no que estava ocorrendo. Elas seguiram de perto, de modo que puderam ver exatamente onde ficava o túmulo e como foi posto o corpo dentro dele. Então regressaram a suas casas e prepararam essências e perfumes para a ocasião, mas como o dia de repouso estava próximo não chegaram a realizar todos os preparativos antes. “Terminado o dia de repouso, e sendo agora mais de seis da tarde, os bazares já estavam abertos novamente. E assim, como lemos em Marcos 16.1, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e Salomé compraram especiarias para ir sem mais tardança ao túmulo de manhã bem cedo e ungir o corpo de Jesus”143. CONCLUSÃO Quando Jesus confessou francamente ante o Sinédrio que era o Messias, o próprio Filho de Deus, o Sinédrio o condenou à morte. Mas o direito romano não permitia aos judeus executar a sentença. Assim toda a assembléia em plenário levou Jesus à presença do procurador geral, Pôncio Pilatos. As autoridades judias sendo obrigadas por Pilatos a apresentar uma acusação formal, apresentaram várias acusações, equivalentes a: “Jesus é culpado de alta traição, ele se considera um rei”. No final do interrogatório Pilatos disse aos líderes religiosos que não 143 W. Hendriksen, p. 712. 124 encontrava nenhum delito na conduta de Jesus e como soube que ele era da Galiléia, desejoso de livrar-se do caso decidiu remetê-lo a Herodes, tetrarca da Galiléia. Jesus na presença deste, se negou a pronunciar qualquer palavra e então Herodes o vestiu com uma túnica e o devolveu a Pilatos. Diante disso, Pilatos pensou em outro modo de livra-se do problema e propôs castigar a Jesus e depois liberá-lo. Mas a multidão não aceitou a proposta e começou a exigir de Pilatos a liberação de um perigoso delinqüente e assassino de nome Barrabás e a crucificação de Jesus. Finalmente Pilatos constrangido pelas circunstâncias cede diante das autoridades judias e entrega Jesus para ser crucificado. Foi assim que Jesus foi crucificado no Monte Calvário, fora dos muros da cidade de Jerusalém como exigia a lei, juntamente com dois delinqüentes, um de cada lado dele. Uma vez efetuada sua morte, José de Arimatéia se apresenta a Pilatos e solicita a entrega do corpo de Jesus; pedido que é concedido por Pilatos e se processa então, o sepultamento em um túmulo de propriedade de José. 125 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO SETE 1. Por que o Sinédrio não pode executar a sentença contra Jesus? 2. Que era o tetrarca da Galiléia perante quem Jesus compareceu? 3. Quem o povo judeu pediu para ser libertado no lugar de Cristo? 4. Que profecia foi cumprida quando Jesus foi entregue para ser crucificado? 5. Que comparação Jesus faz quando no verso 31 fala de “lenho seco” e “lenho verde”? 6. Como se chamava a pessoa que foi obrigada a levar a cruz em lugar de Jesus? 7. Qual foi a primeira frase que Jesus disse estando crucificado? 8. Quando os soldados romanos lançaram sortes aos pertences de Cristo, que profecia foi cumprida? 9. Quando Jesus exclamou: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”, a que outro texto bíblico fazia referência? 10. Quem era proprietário do túmulo onde Cristo foi sepultado? 126 LIÇÃO OITO A GRANDE COMISSÃO SEGUNDO LUCAS (24.1-53) INTRODUÇÃO Cada um dos quatro Evangelhos, tem a Grande Comissão de Jesus Cristo ao final do escrito. Cada Grande Comissão tem imperativos que mostram uma ênfase importante. Mateus 28.19-20 – Façam discípulos Marcos 16.15 – Preguem. Lucas 24.39 – Vejam, apalpem, verifiquem. João 20.21-22 – Recebam. Para Mateus, Jesus Cristo é o verdadeiro israelita (Mt 1.1, filho de Abraão) e discípulo e digno de ser obedecido como Rei (Mt 1.1, filho de Davi). Na Grande Comissão de acordo com Mateus, Jesus Cristo anuncia que tem toda autoridade divina e universal para fazer discípulos (Mt 28.16-20). O tema de Marcos, anunciado em Marcos 1.1, é o Evangelho do Filho de Deus. Este Evangelho deve ser pregado a toda criatura (16.15). Sinais divinos acompanharão os que pregam o Evangelho do Filho de Deus. O Evangelho de João ensina sobre a divindade do Filho de Deus (1.1) e os discípulos receberão o Espírito Santo para poder perdoar e não perdoar pecados (20.21-23). O propósito do Evangelho de Lucas é mostrar que Jesus é o Filho do Homem (4.18; 19.10) que veio resgatar os perdidos. O Filho do Homem ressuscitou fisicamente (24.7). Os imperativos da Grande Comissão de Lucas mostram as evidências visíveis da ressurreição física do Filho do Homem. Como Filho do Homem, Jesus é o segundo Adão, o representante do homem diante de Deus, o Pai. Como Filho de Deus todas as coisas foram feitas por ele (Jo 1.2). Como Filho do Homem ele se encarnou como homem, ele participou da vida humana, ele chegou a ser substituto para o povo de Deus na cruz e na ressurreição (1 Co 15.22). Lucas 24 começa com o relato das mulheres que não encontraram o corpo de Cristo no sepulcro (1-3). Dois anjos aparecem e anunciam que o Filho do Homem havia ressuscitado (4- 127 7). As mulheres informaram aos discípulos, mas eles não acreditaram (8-11). Pedro, então, foi ver o túmulo e o encontrou vazio (v. 12). Lucas conta a história dos dois discípulos não apostólicos, que conheceram ao Cristo ressuscitado no caminho de Emaús. Tal como no capítulo um, a ênfase é a revelação a todo o povo de Deus, incluindo as mulheres, os não-apóstolos e aos futuros apóstolos. Neste sentido, a ressurreição não é somente conhecida pelos líderes cristãos, mas é uma revelação a todo o povo de Deus. O versículo 39 é a chave para entender a ressurreição física do Filho do Homem. Lucas menciona duas evidências de como a ressurreição física é conhecida: por ver e apalpar; Estes dois sentidos afirmam a ressurreição do Filho do Homem. 1. A RESSURREIÇÃO DO FILHO DO HOMEM (24.1-12) O Filho do Homem ressuscitou! (v. 7). É uma realidade histórica, necessária e sobrenatural. A realidade histórica da ressurreição é descrita de acordo com o tempo, de acordo com muitas testemunhas e registrada socialmente. A ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana, um domingo. Jesus ressuscitou como o primogênito da nova criação. O Filho do Homem venceu a morte, pagou pelos pecados de seu povo e agora é ressuscitado pelo Espírito de Deus. Lucas menciona várias testemunhas deste primeiro dia da semana. Eram Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e Pedro. João menciona também a João (Jo 20.2-4). Também há testemunhas celestiais. Lucas menciona a dois anjos. Assim, como o livro de Lucas começa com a aparição de anjos, o capítulo 24 termina com o testemunho dos anjos. 2. NO CAMINHO DE EMAÚS (24.13-35) A aparição do Cristo ressuscitado aos dois discípulos no caminho de Emaús só é mencionado por Lucas. De acordo com o capítulo, a aparição é a dois crentes comuns, não são líderes, nem apóstolos. A historicidade do relato é afirmada por mencionar o nome do lugar, o nome de um dos crentes, Cleopas, e por dar detalhes sobre o ensino dado por Jesus a eles. 128 3. AS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO FÍSICA DE JESUS É VISÍVEL E TOCÁVEL (24.36-49) A necessidade de revelar a verdade sobre a ressurreição física existe porque o ser humano não tem capacidade própria para entender e crer nisso. Por que foi necessário apresentar evidências físicas da ressurreição do Senhor? A resposta é porque os cristãos não iam crer sem estas evidências. Os discípulos pensaram que estavam vendo um espírito. “Os discípulos precisavam ser convencidos de que estavam vendo uma pessoa autêntica e que realmente era Jesus, e que tivessem seus temores acalmados ante esta manifestação sobrenatural. Por isso, Jesus lhes mostrou seu corpo físico de carne e osso, e suas mãos e pés com os sinais dos cravos. Para dar mais provas da realidade de sua presença, comeu algo enquanto estava com eles”144. A incredulidade dos crentes. Em Lucas 24.37, os discípulos ainda tinham dificuldades em crer que Jesus havia ressuscitado. As evidências são apresentadas, mas ainda tinha problemas com isso. Por isso, a necessidade do imperativo de Jesus: Vede e apalpai-me. Jesus manda os discípulos e também a nós, crermos em sua ressurreição física. A mesma prova foi dada a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20.27). Dado o fato de que os crentes são imperfeitos, eles necessitam, constantemente, da pregação da Palavra de Deus e dos ensinos dos imperativos da Grande Comissão. O conhecimento da ressurreição física do Senhor não pode ser entendida simplesmente pela lógica e racionalidade humana. É um conhecimento que deve ser revelado, seja pelos anjos, pelo Senhor, pelo Espírito da verdade e pela Bíblia. Deus deve abrir a nosso entendimento. “Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras”. A incredulidade dos não-crentes. Há os que crêem que a ressurreição é espiritual. Incrédulos! Se alguém crer que Jesus ressuscitou espiritualmente, não crer, pois, na ressurreição. Jesus não morreu espiritualmente. Jesus morreu fisicamente. Seu espírito foi entregue ao Pai (Lucas 23.46). Por isso testificamos que a ressurreição é corporal ou física. O artigo XI do Credo Apostólico afirmam: “Creio na ressurreição do corpo”. 144 Comentario Siglo XXI , e-sword. 129 As Testemunhas de Jeová, os mórmons e os liberais que crêem na ressurreição espiritual não crêem na ressurreição histórica e real de Jesus Cristo. Aqueles que negam a ressurreição, disse Paulo são condenados por Deus (1 Co 15) e são parte do espírito do Anticristo (1 Jo 5). A rejeição da ressurreição de Jesus vai nos causar problemas graves. A rejeição do Messias ressuscitado chegou ao ponto de Deus entregar os judeus aos romanos. Lucas menciona detalhes sobre a destruição do templo em Jerusalém145. O historiador, Josefo, escreve que nenhum cristão morreu na defesa do templo quando os romanos o destruíram no ano 70 dC. Os cristãos não defenderam o templo porque o Cristo ressuscitado é seu templo e eles como crentes são parte do templo do Espírito Santo. É imperativo que todos creiam que Jesus ressuscitou fisicamente porque um dia os justos e os injustos vão morrer e ressuscitar fisicamente (1 Co 15.17-22). Cada um deve prestar contas ao Filho do Homem ou porque creram e serviram ao Deus verdadeiro ou não. Por isso, cada pessoa deve considerar com toda seriedade, as razões para crer na ressurreição física. Jesus enviou seus discípulos para serem testemunhas de sua ressurreição (v. 48). 4. RAZÕES PARA SE CRER NA RESSURREIÇÃO FÍSICA Há testemunhas oculares. Os discípulos foram testemunhas oculares da ressurreição de Jesus e que Ele não era simplesmente um espírito. Em 1.1-4, Lucas indica que está fazendo uma pesquisa entre as testemunhas oculares e os ministros fiéis do Senhor. Aqui Lucas mostra como eles viram a Jesus. Há múltiplas testemunhas. John Gill observa que a visão poderia enganar aos discípulos, mas a verificação de outro sentido, o tato, confirmará o que foi visto 146. É o princípio da dupla verificação. A verdade é verificada pelo testemunho de duas ou mais testemunhas. 145 146 Hendricksen, Op. cit., Vease Lucas 19: 39 - 44; 21: 20 – 38. John Gill, Comentario, e-sword 130 Há uma relação entre a crucificação histórica e a ressurreição histórica do Senhor. As marcas físicas no corpo ressuscitado de Jesus são evidências de que ele foi histórica e fisicamente torturado e morto na cruz do Calvário. As marcas preservadas no corpo de Jesus mostram a razão de sua morte. Há evidências no corpo ressuscitado de Jesus Cristo da necessidade de morrer por nosso pecados. E isso foi necessário para perdoar “a seu povo dos seus pecados”. Alguém teve que pagar com sangue e vida pelas ofensas do povo de Deus. Só Jesus, como homem perfeito, pode ser um sacrifício e substituto perfeito para nós. Ele que morreu na cruz é o substituto para os filhos de Deus. Ele que morreu na cruz por nós é 100% humano e 100% Deus. Como ser humano, ele é o segundo Adão. Ele teve que ser exatamente igual ao primeiro Adão e exatamente igual a nós. O segundo Adão não era mais evoluído que o primeiro Adão e nós não somos mais evoluídos que o segundo Adão. Por isso, se a evolução humana for considerada verdadeira, não há doutrina da substituição expiatória por nossos pecados e Jesus ressurreto não pode ser nosso substituto na ressurreição. A ressurreição física do Filho do Homem, o segundo Adão, é diferente da teoria da evolução do super-homem do século XXI. A expressão máxima da humanidade é o Filho do Homem que ressuscitou. Leia Hebreus 2. As marcas no corpo do Filho do Homem são parte do “caso moral” que Deus o Pai, tem contra nós que será manifestado no dia do juízo. A ressurreição do Filho do Homem e de todos os homens implica que todos os homens devem dar conta ao Filho do Homem do que fizeram nessa vida. A justiça de Deus vai ser cumprida. Não há escape. Nossa única resposta adequada ante a morte do Filho do Homem é humilharmo-nos e pedir perdão ao Pai por haver sido parte da necessidade de crucificar o Filho do Homem por causa de nossos pecados. Talvez você pense que, por não está na multidão que gritava pedindo o sangue a vida de Cristo, seja inocente. Engano. Cada vez que pecamos, como seres humanos, estamos ofendendo ao Filho do Homem que vive para sempre. As marcas são uma evidência de nossa depravação total. As marcas da crucificação no corpo de Cristo nos fazem lembrar quem somos. Somos tão maus que somos capazes de 131 matar ao Filho do Homem. Isso deve nos ajudar a não nos exaltarmos, mas deve nos humilhar completamente e nos fazer clamar pela misericórdia e graça de Deus. A ressurreição do corpo de Cristo dá esperança aos pobres. Os pobres são os que tem necessidades. São enfermos, cegos, encarcerados, oprimidos, quebrantados de coração. Seus sofrimentos são causados pelas conseqüências do pecado no mundo. Os pobres que são de Deus vão buscar seu socorro com Deus. Lucas 7.20-23 mostra os primeiros frutos da chegada do Reino de Deus entre os pobres. Um dia, quando os pobres de Deus forem ressuscitados, sua restauração será completa. A ressurreição vai trazer justiça aos pobres. Os que oprimiram e perseguiram os justos vão ser julgados quando os justos e injustos forem ressuscitados. O Filho do Homem vai julgar a todos os filhos do homem. 5. A CONTINUAÇÃO (24.50-53) Lucas narra que o Filho do Homem subiu fisicamente ao céu. Isso tem muitas implicações. O fato de o Filho do Homem subir fisicamente ao céu para reinar à destra do Pai significa que ele não é um espírito que vai aparecer aqui e ali e vir muitas vezes ao mundo. Sendo que a ascensão é física e o Filho do Homem só pode estar em um lugar por vez, seu reinado é estendido espiritualmente à igreja por seu Espírito Santo e pela Palavra de Deus, Sua volta física é única. Em Atos, Lucas narra de novo como foi a ascensão e o que aconteceu depois. Deus, o Pai, e o Filho enviaram o Espírito Santo no dia de Pentecostes. Aqui se nota a continuação do ministério de Jesus, que agora vai reinar por sua igreja a partir da sede principal do universo. Qual é a sede principal? Jerusalém? O Vaticano? Genebra? Orlando? Cristo no céu é a sede principal e a igreja fiel é a agência principal para a continuação dos ministérios e da missão do Filho do Homem. Ele está reinando espiritualmente pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus usando a igreja como sua agência principal. 132 CONCLUSÃO A conclusão do Evangelho segundo Lucas é semelhante às conclusões de Marcos, Mateus e João. Há um testemunho da ressurreição história de Jesus e um testemunho da Grande Comissão. O que é peculiar em Lucas é a menção dos “leigos”, os dois discípulos a caminho de Emaús e o relato extenso do encontro de Jesus com os discípulos que haviam regressado a seu trabalho. O Filho do Homem ressuscitou (24.7), sua ressurreição é histórica (v. 39) e agora a história da redenação vai continuar com a ascensão (v. 51) e com o futuro Dia de Pentecostes. 133 PERGUNTAS PARA A LIÇÃO OITO 1. Quais são os imperativos na Grande Comissão ao final de Cada Evangelho? 2. Como estão relacionados os dois imperativos em Lucas 24.39? 3. Que relação há entre o tema do Filho do Homem com a Grande Comissão segundo Lucas? 4. Porque se alguém crer só na ressurreição espiritual de Jesus, está negando a ressurreição? 5. Que conseqüências teria para a nação de Israel, no primeiro século, a rejeição de Jesus Cristo? Onde o Senhor profetizou isso? 6. De que maneira a ressurreição de Jesus afirma que Ele foi historicamente crucificado? 7. Por que a testemunha ocular é importante para se crer na ressurreição de Jesus? 8. De que maneira se ver o múltiplo testemunho da ressurreição de Jesus? 9. Por que Deus, tem um “caso moral” contra a humanidade? 10. Você tem alguma pergunta quando à Grande Comissão segundo o Evangelho de Lucas? 134 BIBLIOGRAFÍA Juan Calvino, Harmony, Vol. 111, cehel. Comentario Siglo XXI. e-sword Estrada, Comentario Bíblico Mundo Hispano. Carlos R. Erdman, El Evangelio de Lucas. Grand Rapids, Libros Desafíos. Fifty Years in the Church of Rome, Nueva York, Toronto, 1886. John Gill. Cometario. e-sword Guillermo Hendriksen. Comentario al Nuevo Testamento. Exposición del Evangelio según San Lucas. Grand Rapids: Libros Desafío, 2002. Roberto Jamieson, Comentario exegético y explicativo de la Biblia, Tomo II NT, Jamieson-Fausset-Brown, Comentario del NT, e-sword Josefo, Antigüedades XIII, XVIII. Josefo, Guerra Judaica. Matthew Henry. Comentario, “Lucas.” e-sword G.J. Wenham, J.A. Motyer, D.A. Carson, R.T. France. Nuevo Comentario Bíblico Siglo Veintiuno. Nuevo Testamento. El Paso: Editorial Mundo Hispano, 2003. René Zapata. Comentario Bíblico del Nuevo Continente. “San Lucas.” Miami: UNILIT, 1986. www.britannic.com 135 FOLHA DE ESTUDO BÍBLICO147 Texto: Título: MÉTODO TEOLÓGICO Relação do texto com Deus o Pai. Relação do texto com Deus, o Filho. Relação do texto com Deus, o Espírito Santo. Identificação de ídolos. MÉTODO CRÍTICO Identificação dos manuscritos usados Compreensão das diferenças que há entre os manuscritos Versão Bíblica Idioma do texto Idioma usado na interpretação MÉTODO INDUTIVO (Textos de referência) (Explicações de dados importantes) Palavras importantes: Anotações gramaticais: Comparação de traduções: Gênero literário: Autor e ouvintes originais: Contexto cultural: Contexto histórico: Contexto bíblico: 147 O formato desta folha de trabalho é uma adaptação da Folha de Trabalho de uma Passagem Bíblica do curso do dr. Neal Hegeman: Introdução ao Estudo Bíblico, Miami: MINTS, 2009. 136 Título e Tema da passagem: MÉTODO EXPOSITIVO (observações sobre cada versículo) MÉTODO LITERÁRIO (formular uma estrutura temática da passagem) Identificar o gênero da passagem e texto. Identificar o tema do livro e sub-tema da passagem onde está inserido. MÉTODO ANALÍTICO Verdade(s) Mentira(s) Evangelho Idolatria MÉTODO DOUTRINÁRIO Sua igreja tem uma interpretação quando ao texto que estamos considerando? Onde está escrito? MÉTODO PESSOAL Que importância tem seu estudo da Bíblia com sua relação com Deus? Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com outros? Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com você mesmo? Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com os pobres? Qual é seu costume de ler a Bíblia? Qual é seu hábito para recordar o que a Bíblia diz? MÉTODO CONTEXTUALIZADO 137 Qual é a condição social do intérprete ou ouvinte? Estão em que condição? Há pobreza? MÉTODO DEVOCIONAL Oração e Ação Louvor: Confissão de pecado: Petições especiais: Ação de graças: MÉTODO DO CÍRCULO HERMENÊUTICO 1. O que o texto diz sobre Deus? 2. O que diz o texto acerca da revelação de Deus? 3. Que relação tem o texto com o resto da Bíblia? 4. Como o Evangelho é comunicado (Cristo)? 5. O que o texto diz sobre o coração de Deus, o coração humano, o coração do ouvinte? 6. Que relação tem o texto com o contexto do autor humano, o contexto dos ouvintes ou leitores originais e o contexto do ouvinte agora? 7. Como este texto traz glória a Deus? MÉTODO DE TEMA E ENSINOS 138 Tema: Aplicações: 1. 2. 3. REGISTRO DE CLASSE FREQUENCIA TAREFAS LEITURA DE ESCREVER PROVA NOTA COMENTÁRIOS UM FINAL FINAL 10% 100% TRABALHO 15% 25% 25% 25% Um ponto para Responder No nível de A prova cada hora e um ás perguntas Bacharelado 300 deverá ponto extra para ao final de páginas e no constar de cada hora de cada lição. Mestrado 600 perguntas aula com o São 3 páginas. que foram grupo. pontos para No trabalho de respondidas cada lição e mestrado o aluno na lição. se todas são deve citar ao respondidas menos seis a tempo, um comentários em ponto a seu trabalho e no mais de de bacharel três. bônus. 139 140