doc - Seminario Internacional de Miami

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LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM
Dr. Cornelius (Neal) Hegeman e Alejandro Cid (eds.) e estudantes de MINTS, Miami:
Carlos Ruiz, Rubén Reyes, Alfonso Luis, Felipe González, Luis Pieschacon, Mara Parra,
Curso do:
MINTS [Seminario Internacional de Miami]
14401 Old Cutler Road
Miami, FL 33158
786-573-7001
E-mail, [email protected]
Página Web, http://mintsespanol.byethost12.com
2013
1
ÍNDICE
LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM
COMO ESTUDAR O CURSO
INTRODUÇÃO
LIÇÃO UM:
OS SERVOS DE DEUS (1: 1 - 80)
INTRODUÇÃO
1. LUCAS E TEÓFILO (1: 1 - 4)
2. ZACARIAS, ISABEL, JOÃO O BATISTA E GABRIEL
(1: 5 - 25)
3. GABRIEL, JOSÉ E MARIA (1: 26 - 38)
4. ISABEL W MARIA (1: 39 - 56)
5. NASCIMENTO DE JOÃO (1: 57 - 66)
6. PROFECIA DE ZACARIAS (1: 67 - 80)
CONCLUSÃO
LIÇÃO DOIS:
O NASCIMENTO E A APRESENTAÇÃO DE JESUS (2: 1 - 52)
INTRODUÇÃO
1. O NASCIMENTO DE JESUS (2: 1 - 7)
2. DADO A CONHECER AOS PASTORES (2: 8 - 20)
3. APRESENTAÇÃO DE CRISTO NO TEMPLO (2: 21 38)
4. O REGRESSO A NAZARÉ (2: 39 - 40)
5. O MENINO JESUS NO TEMPLO (2: 41 - 52)
CONCLUSÃO
LIÇÃO TRÊS:
A PREPARAÇÃO DE JESUS PARA SEU MINISTÉRIO
PÚBLICO (3:1 - 4: 44)
INTRODUÇÃO
1. A PREGAÇÃO DE JOÃO (3: 1 - 20)
2. O BATISMO DE JOÃO (3: 21 - 22)
3. A GENEALOGIA DE JESUS (3: 23 - 28)
4. A TENTAÇÃO DE JESUS (4: 1 - 13)
5. O PRINCÍPIO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (4:14-
15)
6. O INÍCIO DO MINISTÉRIO EM NAZARÉ (4:16-30)
7. A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO EM
CAFARNAUM E NA GALILÉIA (4:31-44)
CONCLUSÃO
LIÇÃO QUATRO:
CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (5: 1 - 9:
50)
INTRODUÇÃO
1. A PESCA MILAGROSA E O CHAMADO DE PEDRO,
JACÓ E JOÃO (5: 1 – 11)
2. JESUS CURA UM LEPROSO E UM PARALÍTICO (5:
12 – 16)
3. OS DISCÍPULOS COLHEM ESPIGAS NA DIA DE
REPOUSO (6: 1 – 5)
4. O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA (6: 6 – 11)
2
5. O CHAMADO DOS DOZE APÓSTOLOS (6: 12 – 19)
6. BEM-AVENTURANÇAS E AIS (6: 20 – 26)
7. O AMOR E OS INIMIGOS (6: 27 – 36)
8.
JULGAR,
PRODUZIR
FRUTO
E
ESTAR
FUNDAMENTADO (6: 37 – 48)
9. JESUS CURA O SERVO DE UM CENTURIÃO (7: 1 –
10)
10. JESUS RESSUSCITA O FILHO DE UMA VIÚVA
(7:11-17)
11. OS MENSAGEIROS DE JOÃO BATISTA.
12. JESUS NA CASA DE SIMÃO O FARISEU (7: 36 – 50)
13. MULHERES QUE SERVEM A JESUS (8: 1 – 3)
14. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (7: 18 – 35)
15. A LUZ DEVE BRILHAR (8: 16 – 18)
16. A MÃE E OS IRMÃOS DE JESUS (8: 19 -21)
17. JESUS ACALMA A TEMPESTADE (8: 22-25)
18. LIBERTAÇÃO DE UM ENDEMONIADO (8: 26 – 39)
19. A FILHA DE JAIRO E A MULHER QUE TOCOU O
MANTO DE JESUS (8: 40 – 56)
20. A MISSÃO DOS DOZE (9: 1-6)
21. A MORTE DE JOÃO BATISTA (9: 7 – 9)
22. JESUS ALIMENTA A CINCO MIL (9: 10 – 17)
23. A CONFISSÃO DE PEDRO (9: 18 – 27)
24. A TRANSFIGURAÇÃO (9: 28 – 36)
25. JESUS CURA A UM JOVEM ENDEMONIADO (9: 37 45)
26. QUEM É O MAIOR? (9: 46 – 50)
CONCLUSIÓN
LIÇÃO CINCO:
O MINISTÉRIO EM PERÉIA E JERUSALÉM (9: 51-19: 27)
INTRODUÇÃO
1. JESUS E OS DISCÍPULOS (9: 51 – 10: 24)
2. JESUS ENSINA SOBRE O AMOR (10: 25 - 42)
3. JESUS ENSINA A ORAR (11: 1 - 13)
4. JESUS E OS INIMIGOS DO REINO (11: 14 - 12: 3)
5. JESUS ENSINA COMO SEGUI-LO (12: 4 - 14: 35)
6. JESUS ENSINA COM PARÁBOLAS (15: 1 - 16: 15)
7. JESUS ENSINA SOBRE A LEI (16: 16 - 31)
8. JESUS ENSINA SOBRE A FÉ E A FIDELIDADE (17:119:10)
9. PARÁBOLA DAS DEZ MINAS (19: 11 - 27)
CONCLUSÃO
LIÇÃO SEIS:
A SEMANA DA PAIXÃO (19: 28 - 22: 71)
INTRODUÇÃO
1. ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM (19: 28 - 44)
2. PURIFICAÇÃO DO TEMPLO (19: 45 – 48)
3. A AUTORIDADE DE JESUS (20: 1 – 8)
4. OS LAVRADORES MAUS (20: 9 – 18)
5. A REAÇÃO DOS LÍDERES (20: 19 – 26)
6. A PERGUNTA SOBRE A RESSURREIÇÃO (20: 27 - 40)
6. DE QUEM JESUS É FILHO? (20: 41 – 44)
3
7. JESUS ACUSA AOS ESCRIBAS (20: 45 – 47)
8. A OFERTA DA VIÚVA (21: 1 - 4)
9. SINAIS ANTES DO FIM (21: 5 – 24)
10. A VINDA DO FILHO DO HOMEM (21: 25 – 38)
11. O COMPLÔ PARA MATAR A JESUS (22: 1 – 6)
12. A PÁSCOA E A INSTITUÇÃO DA CEIA DO SENHOR
(22: 7 – 30)
13. PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO E A
QUESTÃO DO SUSTENTO (22: 31 – 38)
14. JESUS ORA NO GETSEMÂNI (22: 39 – 46)
15. A PRISÃO DE JESUS (22: 47 – 71)
16. PEDRO NIEGA A JESÚS (22: 54 – 62)
17. JESUS PERANTE O TRIBUNAL JUDAICO (22: 63 –
71)
CONCLUSÃO
LIÇÃO SETE:
O JUÍZO E A MORTE DE JESUS (23: 1 - 56)
INTRODUÇÃO
1. JESUS E PILATOS (23: 1 – 5)
2. JESUS E HERODES (23: 6 - 12)
3. A SENTENÇA DE JESUS (23: 13 – 25)
4. CRUCIFICAÇÃO E MORTE DE JESUS (23: 26 – 49)
5. JESUS É SEPULTADO (23: 50 – 56)
CONCLUSÃO
LIÇÃO OITO:
A GRANDE COMISÃO SEGUNDO LUCAS (LUCAS 24: 1 - 53)
INTRODUÇÃO
1. A RESSURREIÇÃO DO FILHO DO HOMEM (24: 1 12)
2. NO CAMINHO DE EMAÚS (24: 13 - 35)
3. AS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO FÍSICA DE
JESUS É VISÍVEL E PAUPÁVEL (24: 36 – 49)
4. A CONTINUAÇÃO (24: 50 - 53)
CONCLUSÃO
CONCLUSÃO
MANUAL DO PROFESSOR
APÊNDICE
BIBLIOGRAFIA
BIOGRAFIA
FOLHA DE ESTUDO
4
INTRODUÇÃO
O propósito deste estudo sobre o Evangelho de Lucas é para saber: Por que foi escrito?
Que contribuição apresenta a pesquisa do Evangelho de Lucas sobre a vida e o ensino de
Jesus Cristo?
Nas introduções dos quatro Evangelhos, o foco cristológico destes livros é identificado
no princípio de cada Evangelho.
Mateus 1.1: Jesus com filho de Abraão (verdadeiro crente) e Filho de Davi
(verdadeiro rei).
Marcos 1.1: Jesus Cristo é o Filho de Deusi
Lucas 1.1-4: Jesus é o histórico e humano Filho de Deus.
João: Jesus é divino, ele é Deus.
A identificação do tema principal de Lucas está 4.18 e 19.10. “O Espírito do Senhor
está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres...”. (O Messias, o ungido). E,
“Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Filho do Homem).
Uma estrutura cronológica é:
Lucas: Jesus Cristo é o Filho do Homem e Messias Histórico e Humano
(1.1-4)
1. Prefácio e apresentação dos servos de Deus (Lucas 1.1-80);
2. O nascimentos e a apresentação de Jesus (1.1-52);
3. A preparação de Jesus para seu ministério público na Galiléia (3.1-4.44);
4. O ministério de Jesus na Galiléia (5.1-9.50);
5. O ministério em Samaria e Peréia (9.51-19.27);
6. A semana da paixão (19.28-22.71);
7. O juízo e a morte (23.1-56);
8. Ressurreição, Grande Comissão e ascensão (cap. 24).
A chave hermenêutica para estudar Lucas será examinar 8 passagens que se encontram
nesse Evangelho. Alguns são parcialmente mencionados em outros Evangelhos e alguns são
novos. Cremos que o foco de Lucas pode ser determinando nestas passagens.
5
Material Novo em Lucas1
1.1-4
Prefácio ou Prólogo
1.5-25
Promessa do nascimento de João Batista
1.26-38
O anúncio (Promessa a Maria do nascimento do Salvador)
1.39-45
Visita de Maria a Isabel
1.46-56
O Magnificat (canto de louvor de Maria)
1.57-66
O nascimento de João Batista
1.67-80
O Benedictus (Profecia de Zacarías)
2.1-7
O nascimento de Jesus
2.8-21
O anúncio do nascimento de Salvador aos pastores, “Glória a Deus nas
alturas”, a visita dos pastores, a Jesus é dado um nome.
2.22-38
A aprensentação de Jesus no templo
o Nunc Dimittís de Simão
Ação de graças de Ana
2.39-40
O retorno a Nazaré
2.41-52
O menino Jesus no Templo
3.1-20
O ministério de João Batista
3.23-38
A genealogia de Jesus
4.14-15
O início do grande ministerio na Galiléia
4.16-30
A rejeição de Jesus em Nazaré
5.1-11
Uma pesca milagrosa
7.11-17
A ressurreição do filho da viúva de Naim
7.36-50
Jesus é ungido por uma mulher pecadora
A parábola dos dois credores
1
8.1-3
As mulheres que ministram
9.51-56
Uma aldeia samaritana se nega a receber Jesus
10.1-12
A comissão dada aos setenta (ou setenta e dois)
10.17-20
O retorno dos setenta (ou setenta e dois)
10.25-37
A parábola do samaritano compassivo
10.38-42
Maria de Betância faz uma escolha correta
Guillermo Hendriksen, El Evangelio según San Lucas, pp. 31 - 33.
6
11.1-4
“Ensina-nos a orar” O Pai Nosso
11.5-13
A parábola do amigo importuno
11.27-28
A verdadeira bem-aventurança
11.37-54
Jesus é convidado a comer na casa de um fariseu. Denúncia contra os
fariseus e os intérpretes da lei.
12.13-21
A parábola do rico insensato
12.32-34
“Não temais”. “Vendei os vossos bens e daí esmola”
12.35-40
A parábola dos servos vigilantes
12.49-50
Fogo e Batismo
13.1-5
Arrependei-vos ou perecereis
13.6-9
A parábola da figueira estéril e do viticultor misericordioso
13.10-17
A cura de uma mulher inválida no dia do repouso
13.22-30
A porta estreita
13.31-33
A partida da Galiléia
14.1-6
A cura do hidrópico
14.7-14
Uma lição para os convidados: A parábola dos lugares reservados, e
uma lição para o anfitrião
14.15-24
A parábola do convite rejeitado
14.25-33
O custo do discipulado
A parábola do homem que edificou sem calcular o custo
A parábola do rei razoável
15.1-7
A parábola da ovelha perdida
15.8-10
A parábola da moeda perdida
15.11-32
A parábola do filho pródigo
16.1-13
A parábola do mordomo astuto
16.14-15
Repreensão da justiça própria dos fariseus
16.19-31
A parábola do homem ostentador (o rico) e do mendigo (Lázaro)
17.5-6
“Aumenta-nos a fé”
17.7-10
A parábola do servo inútil
17.11-19
A cura dos dez leprosos, dos quais só um voltou para agradecer
17.20-37
A vinda do reino
18.1-8
A parábola da viúva que perseverou
7
18.9-14
A parábola do fariseu e do publicano
19.1-10
Jesus e Zaqueu
19.11-27
A parábola das minas
19.39-40
“Se estes se calarem as pedras clamarão”
19.41-44
“Quando viu a cidade chorou sobre ela”
21.20-24
O anúncio da destruição de Jerusalém
21.25-28
A vinda do Filho do Homem
21.34-36
Vigiai e orai, lembrando da vinda do Filho do Homem
21.37-38
Resumo do ensino final de Jesus no templo
22.3-6
Satanás entra no coração de Judas
22.14-23
A instituição da Ceia do Senhor
22.24-30
A disputa acerca da grandeza
22.31-34
A oração de Cristo por Pedro
22.35-38
“Porventura vos faltou alguma coisa?”
22.39-46
Jesus no monte das Oliveiras
22.47-53
Traição e Prisão
A orelha cortada e restaurada
“Esta é a vossa hora”
22.54-62
Pedro nega a Jesus
22.63-65
Jesus é zombado e espancado
22.66-71
Jesus é condenado pelo Sinédrio
23.1-5
Jesus perante Pilatos
23.6-12
Jesus perante Herodes
23.13-25
Jesus sentenciado à morte
23.26-43
Simão de Cirene
Choram as filhas de Jerusalém
Jesus crucificado entre dois criminosos
As duas primeiras palavras da cruz
23.44-49
A morte de Jesus
23.50-56
A sepultura de Jesus
24.1-12
A ressurreição de Jesus
24.13-35
A aparição de Cristo aos de Emaús
8
24.36-49
A aparição de Cristo a seus discípulos
24.50–53
A ascensão de Cristo
Nosso estudo se concentrará em oito porções dessas passagens.
9
LIÇÃO UM
OS SERVOS DE DEUS (1.1-80)
INTRODUÇÃO
Enquanto Mateus menciona Maria, José, os magos e João Batista; Marcos adiciona os
quatro discípulos pescadores (Simão, André, Tiago e João), e João menciona os demais
discípulos; Lucas nos fala de Teófilo, Isabel, Zacarias, Gabriel, Simão, Ana e, além disso, nos
dá varias particularidades sobre João Batista, Maria, José e Jesus. Lucas identifica servos de
Deus relacionados com os apóstolos, mas fora do círculo imediato dos apóstolos. Neste
sentido, o Evangelho de Lucas é uma apologia para os “leigos”, os crentes comuns, os pobres
e os servos de Deus.
1. LUCAS E TEÓFILO (1.1-4)
Lucas
Lucas é o autor do Evangelho de Lucas e de Atos. É o “médico amado” (Cl 4.14).
Estima-se que era um judeu grego (da circuncisão). Sua associação é com o apóstolo Paulo
(Cl 4.14; 2 Tm 4.11; Fl) É o primeiro historiados da igreja primitiva (Lucas 1.1-4; Atos 1.1).
Um judeu grego. Lucas era um judeu grego educado e mostra que o Evangelho não se
restringia a judeus hebreus, o evangelho é universal2. “Segundo a voz da tradição, Lucas era
grego. A exatidão, a amplitude e a beleza de seu estilo grego concordam com essa crença”.
Um leigo. Lucas não é contado como um apóstolo. Como “leigo” tem a mesma graça
que tinham os apóstolos para escrever Escritura. Por certo, Lucas estava associado com Paulo
e viajava com ele em algumas viagens missionárias (At 15.36-18.22). Nesse sentido, ele é
testemunha ocular da vida e ensinos dos apóstolos. Ele nos relata o que investigou junto a
testemunhas oculares e fiéis do Senhor Jesus.
2
Hendriksen, p. 23.
10
Um médico. Como médico Luas presta atenção a certos detalhes físicos e emocionais
pelos quais são afetados os enfermos. Hendriksen escreve:
O ponto de vista equilibrado parece ser que o que sustêm tantos estudiosos – entre
eles Berkhof, Harnack, Plummer, Ramsay, Robertson, Zahn – e que é resumido por
G. T. Purves em seu artigo sobre Lucas (Westminster Dictionary of the Bible, pp.
364-366). Sua posição é a seguinte: Dado o fato de que Lucas certamente era médico
(Cl 4.14), certas passagens do terceiro Evangelho (e Atos) coincidem com essa
descrição. Para ver claramente isto, as seguintes passagens deveriam ser comparadas
com suas paralelas em Mateus e/ou Marcos: Compare-se pois, Lc 4.28 com Mt 8.14
e Mc 1.30 (a natureza e o grau da febre da sogra de Pedro); Lc 5.12 com Mt 8.2 e
Mc 1.40 (a lepra); e Lc 8.43 com Mc 5.26 (a mulher e os médicos). Facilmente
podemos adicionar outras. Por exemplo, somente Lucas declara que era a mão
direito que estava ressequida (6.6; cf. Mt 12.10; Mc 3.1), e entre os escritores
sinóticos somente Lucas menciona que a orelha direita do servo do sumo sacerdote
era a que foi cortada (22.50; cf. Mt 26.51 e Mc 14.47). Comparem-se ademais Lc
5.18 com Mt 9.2, 6 e Mc 2.3, 5, 9; e cf. Lc 18.25 com Mt 19.24 e Mc 10.25. Além
disso, aqinda é certo que os quatro Evangelho apresentam a Cristo como o Médico
compassivo de alma e corpo, e ao fazê-lo revelam que seus escritores também eram
homens de terna compaixão, porém em nenhuma parte esse fato é mais
abundantemente notório do que no terceiro Evangelho 3.
Um historiador. Como historiador, Lucas 1.1-4 identifica seu método como o método
de documentar a história. Lucas reconhece outros autores, cita múltiplas testemunhas fiéis e
faz sua própria investigação sobre o que havia acontecido.
Ele reconhece os escritos de outros: “Visto que muitos houve que empreenderam uma
narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram”. Ele toma emprestado dos autores
dos outros Evangelhos e possivelmente de outra fonte que é conhecida como Q. Mas, não é
conhecido com certeza qual dos autores do Evangelho escreveu primeiro, mas há um bom
consenso de que foi Marcos4. Os autores dos Evangelhos conheciam os demais autores e seus
escritos, porém não contradiziam um ao outro, mas tem seus próprios propósitos teológicos e
didáticos.
Seus escritos são baseados em um duplo testemunho: o testemunho ocular (“viram
como seus olhos”) e o testemunho cristão (“ministros da palavra). Além das testemunhas
oculares havia os que tinham ouvido das testemunhas oculares e fielmente haviam
comunicado a Palavra.5 Assim, a primeira e a segunda geração de testemunhas foram
investigadas por Lucas.
3
4
5
Ibíd., p. 18.
Ibíd., p. 38.
Ibíd., p. 71.
11
Os escritos de Lucas são fruto de investigação das coisas que haviam acontecido. Os
escritos de Lucas não caíram do céu, não foram ditados por anjos (ainda que ele faça menção
ao que disseram os anjos), não foi ditado por uma voz divina, foram, porém uma investigação
árdua realizada debaixo da inspiração do Espírito Santo.
Teófilo
Um discípulo gentil. Teófilo, “amado de Deus” é o destinatário dos escritos de Lucas
(1.3; Atos 1.1). Fora dos escritos de Lucas, a Bíblia não fala mais dessa pessoa. Só sabemos
que era “excelentíssimo” e um discípulo que foi instruído no Evangelho de Jesus Cristo. O
que podemos discernir da menção de Teófilo como possível oficial gentil, que amava a Deus
e discípulo de Cristo e que ele necessitava ler a evidência histórica sobre os ensinos e obras de
Cristo. Os escritos de Lucas são uma apologia para os gentios: a verificação do Evangelho de
Jesus Cristo para a igreja universal.
2. ZACARIAS, ISABEL, GABRIEL E JOÃO BATISTA (1.5-25)
Zacarias
Um sacerdote. O anjo Gabriel não aparece ao sumo sacerdote nem aos líderes
superiores de Zacarias, nem ao tirando Herodes, mas a este homem, sacerdote humildes e sua
esposa. Assim é a graça de Deus, ele se revela aos humildes.
Zacarias é sacerdote segundo a ordem de Abias (Lc 1.5; 1 Cr 24.10). O serviço destes
sacerdotes era duas vezes por ano, por uma semana. Neste sentido, não era um sacerdote
servindo em tempo completo, mas um sacerdote “leigo”.
O sacerdócio é necessário para o povo de Deus. Os sacerdotes oram a Deus, são
intercessores perante Deus. A oração é simbolizada pelo incenso. Eles também preparam os
sacrifícios que são necessários para entrar na presença de Deus.
Sem a obra sacerdotal é impossível para o pecador entrar na presença de um Deus
santo e perfeito. O pecado impede tal entrada. Para entrar na presença de Deus o homem deve
reconhecer e crer no Deus verdadeiro, orar, fazer sacrifício pelo pecado e fazer uma oferenda
em gratidão. Deus providenciou o sacerdócio universal (o de Melquisedeque) e o sacerdócio
particular para Israel, o de Arão.
12
Casado. Zacarias era casado com Isabel. Eles não tinham filhos, mas eram fiéis em
seu matrimônio. A família é a instituição pela qual Deus trabalho no mundo. Na criação
original, só estava Deus e a família original: Adão e Eva. Milhares de anos depois, Deus vai
trabalhar por meio desta família humilde.
Os sacerdotes do Antigo Testamento podiam casar. No Novo Testamento, todos os
líderes cristãos tinham direito a casar. Proibir casar era considerado pelos apóstolos uma
apostasia (1 Tm 3.1-5).
O filho de Zacarias e Isabel, como Abel da primeira família, viria a ser martirizado.
Isso aconteceu com Abel, João Batista, os profetas e Jesus que foram perseguidos pelos Caim,
Herodes e Pilatos deste mundo.
Justo. Este homem humilde é identificado como justo. Sua justiça foi vista por suas
vidas irrepreensíveis em todos os mandamentos e ordenanças de Deus. São um contraste aos
líderes religiosos que também tinham os mandamentos e ordenanças de Deus, mas rejeitaram
ao Messias.
A justiça perfeita diante de Deus é uma justiça providenciada por Deus. Por isso, a
participação do povo de Deus no sacerdócio é importante. No sacerdócio, Deus mostra a
maneira como o homem pode reconciliar-se com Deus. Zacarias e Isabel eram fiéis a Deus e
mostram isso obedecendo aos mandamentos e participando nas suas ordenanças.
Homem de oração. Zacarias e Isabel havia orando por um filho, mas Isabel era estéril.
Eles necessitavam de um milagre de Deus. Gabriel anuncia que “a tua oração foi ouvida, e
Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João”. (Lc 1.13).
A oração é parte da vida espiritual dos crentes. A oração não obriga Deus a agir mas é
um apelo à graça e à misericórdia de Deus. Deus é soberano e o crente mostra isso em oração.
Não é o crente que é soberano e Deus deve responder. Deus é soberano e o crente responde à
graça de Deus.
Faltou-lhe fé. Apesar de ser um homem justo e de oração, faltava fé a Zacarias, pois
ele não creu imediatamente nas palavras de Gabriel. Os justos não são perfeitos, mas salvos
13
pela graça de Deus. A justiça dos crentes não depende da fé do justo, mas depende de Deus,
nos qual o justo crer.
Ele ficou mudo. O castigo por não crer nas palavras de Gabriel foi ele ficar mudo até
que fosse cumprida a promessa do nascimento de João. Mathew Henry escreve:
Zacarias ouviu tudo o que disse o anjo, mas falou com incredulidade. Deus
o tratou justamente ao deixá-lo mudo, pois ele tinha objetado a palavra de Deus.
podemos admirar a paciência de Deus para conosco. Deus o tratou amavelmente,
porque assim lhe impediu de falar mais coisas afastadas da fé e em incredulidade.
Assim, também, Deus confirmou sua fé. Se pelas repreensões a que estamos
submetidos por nosso pecado, somos guiados a dar mais crédito à palavra de Deus,
não temos razão para queixar-nos. Ainda os crentes verdadeiros são dados a
desonrar a Deus com incredulidade; e suas bocas são fechadas com silêncio e
confissão, quando pelo contrário, teriam devido estar louvando a Deus com gozo e
gratidão.
Nos tratos da graça de Deus devemos observar suas considerações
bondosas para conosco. Ele nos olhou com compaixão e favor e, portanto, assim nos
tratou.
Foi vindicado. Por fim, Isabel, concebeu e o marido foi vindicado diante do povo. O
ter filho era considerado como uma mostra da graça de Deus. Porém, mais que isso, a
concepção de João era uma mostra da soberania de Deus e evidência de que Deus estava
cumprindo seu plano de redenção. Tal como Sara deu a luz a Isaque, segundo a promessa de
Deus, assim Deus continua mostrando seu poder e propósito. (Gn 21.1 e 2; Hb 11.11 e 12).
Um profeta. Os versos 67-79 relata a profecia de Zacarias. Zacarias cheio do Espírito
Santo, fala do Deus do pacto (1.67-75). O cumprimento das profecias do pacto é importante
para mostra a soberania e a misericórdia de Deus. O anelo deste humilde servo de Deus é
viver em santidade e justiça (v. 75) diante de Deus. O Salvador ia trazer esta santidade e
justiça.
Zacarias profetiza sobre seu filho. O filho ia preparar o caminho do Senhor. O Senhor
(um nome divino!) vem à terra! Jesus não nasce para chegar a ser divino e Deus (crença
mórmon), mas ele é o Filho de Deus que vai ser encarnado como homem.
João Batista foi viver no deserto. Tal como o povo de Israel teve que passar pelo
deserto para ser preparado para servir ao Senhor, assim João foi preparado no deserto para
servir ao Senhor.
14
Isabel
De família sacerdotal. Enquanto Zacarias era “da ordem de Abias”, Isabel era da
família sacerdotal de Arão. Aqui vemos a preservação da família sacerdotal. Apesar de, por
causa do pecado e da corrupção de Israel, os reis e os profetas haviam desaparecido, todavia
havia um remanescente sacerdotal fiel.
Estava fielmente casada com Zacarias. É importante notar que Zacarias e Isabel
observaram a lei e os profetas quanto ao matrimonio monogâmico (Gn 2; Dt 17.7). A
poligamia havia destruído as famílias de grandes reis, tais como Davi e Salomão. Por causa
das mulheres idólatras e homens adúlteros, os reis pecaram e Israel ficou dividido até hoje.
Era estéril, mas concebeu. Tal como Sara (mãe de Isaque), Ana (mão de Samuel) e
logo Maria (mãe de Jesus) ela ia conceber de uma maneira milagrosa. Pois, não foi a primeira
vez e nem a última que Deus iria intervir na história humana por meio de um milagre.
Apesar da esterilidade de Isabel, ela concebeu. “A extrema incapacidade do homem é
a oportunidade de Deus” 6. Aqui se vê o imenso amor e misericórdia de Deus para esse casal.
Uma mulher. É notável que o primeiro capítulo apresente três mulheres servas de
Deus. Elas são Isabel, Maria e Ana.
O livro do médico amado tem sido chamado de Evangelho da mulher,
devido à terna e profunda consideração do Salvador pelas mulheres que se destaca
nesse Evangelho de forma mais clara que em qualquer outro. Por exemplo, note-se a
proeminência que se dá a Maria, a mãe de Jesus, e a Isabel (cap. 1 e 2). Recorde-se
também que somente esse Evangelho menciona Ana, a profetisa e Joana, a leal
seguidora (2.36-28; 8.3; 24.10). A linda história em que Maria (irmã de Marta e
Lázaro) faz uma escolha correta também aparece somente aqui (10.38-42). Issto
também vale para o emocionante relato acerca da bondade de Cristo mostrada para
com a viúva de Naim (7.11-81), e para com a mulher pecadora que ungiu ao Senhor
(7.36-50). Ademais, é inesquecível a parábola da Viúva que perseverou (18.1-8). E
veja-se 11.27, 28; 13.10-17; 23.27)7.
João Batista
6
7
Hendricksen., p. 93.
Ibíd., p. 58.
15
Um grande homem. A grandeza de João Batista é muito diferente da grandeza do
mundo. “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt
11.11). Era, entretanto, muito humilde.
“Com espírito de humildade ele disse: Convém que ele cresça e que eu diminua (Jo
3.30). Em vista do fato de que o próprio Jesus ao descrever a natureza da verdadeira grandeza,
sempre a relaciona com a humildade (Lc 7.6, 9; cf Mt 8.8-10; Lc 9.46-48; cf Mt 18.1-5; Mc
9.33-37; e veja-se também Mt 15.27-28)8.”
Consagrado e separado para Deus. Ainda que todos os homens possam viver como
João, ele foi separado por Deus para preparar o caminho do Senhor. Seu nascimento e
ministério vai trazer muito gozo para os crentes (v.14).
Cheio do Espírito. A primeira menção do Espirito Santo no Novo Testamento está
relacionada com João como um menino não nascido (no ventre da sua mãe).
É importante que o nome Espírito Santos seja com letra maiúscula em português
porque é um nome próprio. Isso mostra que o Espírito não é simplesmente um espírito que
vem de Deus, mas é Deus, a terceira pessoa da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (Mt
28.20).
A obra do Espírito Santo é parte da vida de Jesus como Messias. Jesus, como Messias,
foi ungido pelo mesmo Espírito Santo.
Herodes, o rei da Judéia, ia matar aos meninos em Belém. Aqui vemos um quadro
muito diferente entre os que matam meninos e os que voluntariamente abortam meninos. Aqui
se vê que a vida humana é sagrada e que Deus pode santificar e usar os meninos para sua
glória.
Um ministério santo. O ministério de João seria de chamar os israelitas para
arrependerem-se, para voltar a Deus e para preparar um povo para o Senhor. A unção do
Espírito Santo na vida e no ministério de João Batista mostra-se em santidade: o
arrependimento do pecado e reconciliação uns com os outros e com o Senhor. Hoje em dia,
pela influência dos neocarismáticos, pensa-se que a unção do Espírito Santo é uma
8
Ibíd., p. 85.
16
experiência de êxtase, uma emoção à parte de um arrependimento sincero, de uma
reconciliação autêntica e de um serviço compassivo aos pobres (veja-se Lucas 4.18).
Gabriel e Zacarias
Os anjos do céu são servos e mensageiros de Deus. São parte da equipe de Jesus.
René Zapata escreve:
O anjo Gabriel, cuja autoridade, como a de todos os anjos, provém de sua
relação com Deus. A palavra anjo provém do grego “angelos”, e é mencionada no
Novo Testamento cento e sessenta e cinco vezes. No Antigo Testamento é usada a
palavra “malak” que aparece 108 vezes. Em ambos casos a correta tradução para o
nosso idioma é “mensageiro”. A Bíblia nos declara que são seres criados por Deus.
Em Colossenses 1.6: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados,
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”9.
Os anjos não aparecem todos os dias. Só vêm em tempos especiais quando a história
de redenção está desenvolvendo eventos especiais. No Antigo Testamento encontramos a
“Malak Adonai”, o anjo do Senhor. Consideramos que foi o próprio Filho de Deus préencarnado. Também havia outros anjos tais como Gabriel e Miguel.
No ministério do Senhor Jesus Cristo os anjos desenvolveram muitas tarefas
muito importantes:
1. Anunciaram seu nascimento (Lc 1.35);
2. Anunciaram com um cântico a chegada de Jesus Cristo aos pastores (Lc
2.8-15);
3. Indicaram o perigo para Jesus Cristo a José, seu pai (Mt 2.13);
4. Serviram a Jesus Cristo depois das três tentações (Mt 4.11);
5. Um anjo o ajudou nos momentos mais difíceis na jardim (Lc 22.43);
6. Anunciaram a ressurreição (Lc 24.1-5);
7. Estiveram na ascensão para dar instruções aos discípulos (At 1.10-11)10.
A concepção, o nascimento, a fuga para o Egito, a tentação, a paixão, a ressurreição e
ascensão de Jesus foram tempos quando houve intensas atividades angélicas na primeira
vinda do Senhor.
Gabriel aparece para anunciar a concepção, o nascimento e o ministério de João tal
como estes dados sobre Jesus.
9
10
René Zapata, “Lucas” CBNC, p. 16.
Ibíd., pp. 16-17
17
Gabriel significa “homem poderoso de Deus”, é mencionado na Bíblia em
Daniel 8.16: “Gabriel, dá a entender a este a visão”. E em Daniel 9.21, 2. “Falava eu,
digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na
minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício
da tarde. Ele queria instruir-me, falou comigo e disse: Daniel, agora, saí para fazer-te
entender o sentido”. Gabriel é um dos dois anjos na Bíblia que são nomeados. O
outro é Miguel, o anjo guerreiro. Gabriel como já o havia feito antes e o faria
posteriormente com Maria, tem a grande tarefa de dar a palavra de esperança e de
boas notícias, já que em Lucas 1.19, ele identifica a si mesmo como mensageiro de
boas notícias. Gabriel, o anjo do Senhor, que se dedica a explicar ou revelar, ou
aclarar as visões que Deus mostra ao homem, se apresentou a Zacarias no momento
preciso, o de maior importância em sua função como sacerdote, quando devia
queimar o incenso. O destinatário de sua mensagem era alguém que podia entendêlo porque conhecia sobejamente o ensino de que Elias ou alguém de características
similares precederiam ao Messias tão esperado em sua vinda. A surpresa e temor
característicos tomaram conta de Zacarias”11.
3. GABRIEL, JOSÉ E MARIA (1.26-38)
Gabriel e Maria
Enquanto Gabriel fala com Maria, segundo Lucas, Mateus relata como o anjo fala com
José três vezes (em relação a Maria, para escapar de Herodes e para voltar a Israel).
Segundo Mateus, Gabriel dá detalhes importantes sobre a concepção e o nascimento
de Jesus. O nascimento é em cumprimento às profecias de Isaías (7.14; 9.6) e será realizado
pelo Espírito Santo. Gabriel também anuncia os nomes do filho que ia nascer: Jesus
(Salvador) e Emanuel (Deus conosco). Deus enviou seu anjo especial para repetir e afirmar a
profecia de que Jesus é Emanuel, Deus conosco, o Filho de Deus.
Segundo Lucas Gabriel afirma a concepção milagrosa (v. 31) e a explica com detalhes
(v. 35). Jesus será concebido pelo Espírito Santo e assim nasce como Filho de Deus. Assim, a
divindade e a eternidade do Filho de Deus se mantêm na encarnação. Gabriel afirma o nome
humano do menino, Jesus (Salvador). Além disso, identifica Jesus como Filho do Altíssimo e
o Rei terno.
Gabriel apresenta a obra de Deus, o Pai, o Filho, e o Espírito Santos de uma maneira
que nenhum ser humano poderia explicar. Por isso, esta revelação vem diretamente, por meio
de anjos celestiais, para explicá-la aos servos de Deus. Então, Lucas chega a ser “angelio”
mensageiro desta boa notícia e nós, os leitores, somos responsáveis por crer e comunicar essa
mensagem aos demais.
11
Ibíd., p. 17.
18
Maria
Matthwe Henry resume:
Aqui temos um relato da mãe de nosso Senhor; embora não devamos orar a
ela, de todos modos devemos louvar a Deus por ela. Cristo devia nascer
miraculosamente. O discurso do anjo somente significa: "Salve, tu que és a
escolhida e favorecida especial do Altíssimo para ter a honra que as mães judias
desejaram por tanto tempo".
Esta aparição e saudação prodigiosas atordoaram a Maria. O anjo lhe
assegurou então que ela tinha achado favor com Deus e que seria a mãe de um filho
cujo nome ela devia chamar de Jesus, o Filho do Altíssimo, um em natureza e
perfeição com o Senhor Deus. Jesus! o nome que refresca os espíritos desfalecentes
dos pecadores humilhados; doce para pronunciar e doce para ouvir, Jesus, o
Salvador. Não conhecemos sua riqueza e nossa pobreza, portanto, não corremos a
Ele; não percebemos que estamos perdidos e perecendo, em conseqüência, Salvador
é palavra de pouco deleite. Se estivermos convencidos da imensa massa de culpa
que há em nós, e a ira que pende sobre nossas cabeças, preste a cair sobre nós, seria
nosso pensamento contínuo: É meu o Salvador? Para que possamos achá-lo,
devemos pisotear todo o que estorva nosso caminho a Ele. A resposta de Maria ao
anjo foi a linguagem da fé e humilde admiração, e ela não pediu sinal para confirmar
sua fé. Sem controvérsia, grande foi o mistério da santidade, Deus manifestado em
carne (1 Tm 3.16). A natureza humana de Cristo devia produzir-se dessa forma, para
que fosse adequada para Aquele que seria unido com a natureza divina. Devemos,
como Maria aqui, guiar nossos desejos pela palavra de Deus. em todos os conflitos
devemos lembrar que nada é impossível para Deus; e ao lermos e ouvirmos suas
promessas, convertamo-las em orações: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em
mim segundo a tua palavra"12.
José
Lucas quase não menciona José. O sonho de José foi contado em Mateus 1. Mateus 1
também relata a genealogia de Jesus segundo a linhagem de José, ainda que José não seja pai
biológico de Jesus. A genealogia mostra a herança legal de Jesus. Lucas, pois, completa a
informação sobre o anúncio do nascimento de Jesus e mostra a legalidade da genealogia de
Jesus.
Jesus
O primeiro capítulo tem muitos dados importantes sobre Jesus. Vamos mencionar os
mais sobressalentes nomes.
12
Matthew Henry, Op. cit.,
19
Jesus (v. 31). Mateus 1.21 dá a definição: ele salvará seu povo de seus pecados. Ele é
o Salvador de seu povo. Ele vai perdoar os pecados de seu povo. Ele não é o Salvador de
todos os seres humanos no mundo, mas de seu povo que está em todas as partes do mundo e
que vive em todas as classes de pessoas no mundo. Ele não vai perdoar os pecados de todo o
mundo, mas os pecados de seu povo que se encontra no mundo.
Filho do Altíssimo. (v. 32). Ele é o Filho, não de um Deus, como os tinham os gregos
e romanos, mas Filho do único Deus supremo.
Ente Santo. (v. 35). O Filho não terá o pecado de Adão, nem o pecado de sua mãe
Maria, porque é concebido pelo Espírito Santo. Se o Salvador tivesse pecado, não poderia ser
o substituto para seu povo e morrer por eles. O sacrifício do substituto deve ser perfeito.
Filho de Deus. Sendo Ele concebido pelo Espírito Santo, Jesus, diferentemente de
João e de todos os seres humanos, segue sendo o Filho eterno de Deus. A concepção do
Espírito Santo garante a continuação da natureza divina de Jesus e sua relação paternal com
Deus, o Pai.
Salvador. (v. 47) Maria confessa que Jesus é Deus e Salvador. Ela não é a mãe de
Deus, porque como Filho eterno de Deus, ele não tem mãe divina. Jesus é o filho humano de
Maria. Maria é a mãe humana de Jesus como homem.
Poderoso Santo. (v. 49). Além de ser o “ente santo”, ele é o Poderoso Santo. Como
santo, ele tem o poder de pregar sobre a santidade de Deus e perdoar os pecadores que nele
crêem.
Suas vocações. Ele vai reinar sobre o trono de Davi, sobre a casa de Israel e para
sempre. O reino de Jesus Cristo é pela igreja.
Lucas nota como Deus vai tratar com os humildes:
Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração,
alimentavam pensamentos soberbos.
20
Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.
Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia
a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos
nossos pais. (vs. 51-54)
A obra do Senhor para exaltar os humildes e humilhar os ricos é um tema mostrado no
anúncio de seu ministério, nas bem-aventuranças, em sua resposta aos discípulos de João e em
seus milagres e ensinos.
4. ISABEL E MARIA (1.39-56)
A visita de Maria a Isabel confirma a vocação especial de ambas servas de Deus. A
vocação de todas as mães é sagradas, sendo que são os instrumentos de Deus para trazer vidas
humanas ao mundo. Maria e Isabel nos faz recordar a primeira mãe de todos os seres viventes,
Eva. Ainda que Eva tenha sido instrumento do diabo, agora estas duas filhas de Eva serão
servas na restauração e salvação de Deus13.
Isabel está grávida de João. O propósito de João é preparar o caminho do Senhor.
Isabel reconhece que o menino de Maria é o Senhor. Tal como José não era pai do Filho de
Deus – o Filho de Deus foi concebido pelo Espírito Santo para preservar a natureza divina –
assim Maria não é mãe de Deus, mas mãe de Jesus segundo sua humanidade, não segundo sua
divindade. A relação e distinção entre a natureza divina e a natureza humana de Jesus deve ser
preservada. Jesus é uma pessoa com duas naturezas14.
Quando Isabel entrou na presença de Maria, João saltou no ventre daquela. Pelo poder
do Espírito Santo, João estava afirmando seu propósito de vida15. Enquanto Herodes e os
inimigos de Deus estavam planejando a morte de Jesus, até os meninos não nascidos, estavam
cumprindo sua missão. A missão de Deus é cumprida pelo poder do Espírito Santo,
trabalhando pelos servos de Deus, sejam adultos ou meninos não nascidos.
Isabel ficou cheia do Espírito Santo e por isso pode testemunhar e profetizar. O que
era um testemunho e profecia particular para Isabel viria a ser uma experiência para todos os
crentes e seus filhos com a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2.17).
13
É de acordo com esse contexto que podemos entender 1 Tm 2.15. A restauração, a dignidade da vocação de
mã e exaltada.
14
No Concílio de Éfeso (431) Maria foi declarada Mãe de Deus. A distinção entre a natureza humana e a
natureza divina não foi honrada.
15
A vida humana começa na concepção, tal como vida de Jesus (Lucas 1: 31). Por isso, o aborto é um crime
contra Deus e contra a humanidade.
21
Maria profetiza também. A primeira coisa que ela confessa é que ela é pecadora e
necessita de um Salvador: “meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador”. Só um pecador
precisa de um Salvador. Não menção alguma nas Escrituras de que Maria era imaculada sem
pecado.
Maria nota que ela é uma humilde serva que foi exaltada. E nota que não somente ela,
a humilhação dos ricos e a exaltação dos humildes por Deus, iriam acontecer em Israel.
Pelo Espírito Santo, Maria fala de Jesus como Senhor e Salvador. Ela afirma que o
Salvador é Deus. Afirma a divindade e deidade do filho que ia nascer. O Filho de Deus é
Deus desde a eternidade, por isso é concebido pelo Espírito Santo. O Filho de Deus não vem a
ser Deus, como pensam os mórmons, mas é declarado Deus já em seu nascimento.
5. O NASCIMENTO DE JOÃO (1.57-66)
O nome de João é dado pelo anjo Gabriel (1.13). A mão do Senhor está com João
desde antes do seu nascimento. Assim, isso é uma demonstração da soberania e da eleição de
Deus. Desde antes da fundação do mundo, Deus havia planejado e predestinado seus filhos no
plano da salvação. Esta passagem curta afirma de novo a soberania de Deus na vida de João e
seus pais.
6. A PROFECIA DE ZACARIAS (1.67-80)
Na profecia de Zacarias, pai de João, se vê a profissão de fé no Deus verdadeiro, a
confissão da necessidade de um Salvador e uma descrição da obra de redenção de Deus por
meio de Israel. A profecia de Zacarias é fruto da inspiração do Espírito Santo. É um modelo
de como a santidade e a verdade do Espírito viria a funcionar na vida de Jesus e nos crentes
em Jesus.
CONCLUSÃO
Os servos de Deus são o humilde povo de Deus. O anúncio do plano de Deus para o
nascimento de João e de Jesus não foi dado ao sumo sacerdote, aos escribas, aos fariseus ou a
outros líderes religiosos. O anúncio do nascimento de João e Jesus é dado aos leigos, aos
22
sacerdotes de baixo escalão e às mulheres. Deus é capaz de exaltar os humildes e humilhar os
que pensam que são grandes. Deus usa a vocação de pai e mãe e também as vocações
espirituais de profecia e sacerdócio, para trazer salvação e redenção ao povo de Deus.
O plano de salvação apresentado em Lucas 1 não é obra dos líderes políticos ou
religiosos. Não é obra dos seres humanos. É obra de Deus, executado pelos anjos de Deus e
seus humildes servos. É obra de um Deus soberano que presta atenção a detalhes tais como os
nomes e condição espiritual de seus humildes servos e servas.
23
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 1
1. Em comparação com Mateus, Marcos e João, qual é a perspectiva cristológica do
Evangelho segundo Lucas?
2. Quem é Lucas? Quais sãos suas características importantes?
3. Que método é identificado por Lucas de como ele escreveu o Evangelho?
4. Quem é Zacarias? Como sabemos que é um fiel servo de Deus? Era um homem
perfeito?
5. Quem é Isabel? Que papel ela desempenha como serva de Deus?
6. Por que a obra sacerdotal é importante?
7. Que diferença há entre a narrativa de Mateus e Lucas quando ao anúncio do
nascimento de Jesus?
8. Como foi preservada a natureza divina do Filho de Deus no seu nascimento?
9. Maria é mãe de Deus? Como devemos ver a relação entre Maria e Jesus?
24
10. Como notamos o tema da exaltação dos humildes e a humilhação dos grandes no
primeiro capítulo de Lucas?
25
LIÇÃO DOIS
O NASCIMENTO E A APRESENTAÇÃO DE JESUS (2.1-52)
Carlos Ruiz
INTRODUÇÃO
Talvez pudéssemos nos perguntar a razão pela qual Deus decidiu que havia chegado
“a plenitude dos tempos” (Gl 4.4-5) durante a época em que o Império Romano governava o
mundo para a chegada do Seu Filho à terra. Talvez nunca conheçamos todas as razões disso,
mas, o que sabemos é que foi uma época de grande expectativa na comunidade judaica; sem
dúvida não esperavam um Messias nas condições humildes e de pobreza nas quais veio o
Salvador, o Filho do homem. Lucas registra um pouco desta grande expectativa através da
passagem sobre um homem justo e piedoso chamado Simeão, a quem o Espírito Santo havia
dito que não morreria sem ver o Cristo de Deus (Lc 2.25-26).
Neste capítulo Lucas continua sua apologia para aqueles crentes comuns ou “leigos”,
os servos de Deus. Lucas relata a visita do anjo aos pastores, mas se abstém de mencionar os
reis Magos, assim ele cria um retrato perfeito sobre o nascimento humilde de nosso Criador e
se assegura de que o leitor experimente cada um dos detalhes sobre sua humilde condição e
pobreza, sem dúvida aquém do que qualquer rei humano haveria requerido para o nascimento
de seu primogênito. Posteriormente nos apresenta um Jesus consciente do papel que veio
desempenhar nessa terra; mesmo com pouca idade já sabia dos “negócios de Seu Pai” (Lc
2.49)16.
Nesse capítulo estudaremos as seguintes passaagens:
2.1-7 O nascimento de Jesus
2.8-21 O anúncio do nascimento do Salvador aos pastores “Glória a Deus nas alturas”
A visita dos pastores, a Jesus é dado um nome
2. 22-38 A apresentação de Jesus no templo
O Nunc Dimittis de Simeão
Ação de graças de Ana
16
Hendricksen, pp. 109, 110.
26
2.39-40 O retorno a Nazaré
2.41-52 O menino no templo
1. O NASCIMENTO DE JESUS (2.1-7)
Poderíamos dizer que este é o tema central deste capítulo, o nascimento do nosso
Redentor. Lucas começa marcando historicamente os fatos mediante a menção do censo
ordenado por Cesar Augusto (imperador Romano de 27 aC. a 14 dC.), sobrinho de Julio
César, que gozou de uma grande reputação por respeitar os costumes, convicções religiosas e
leis de suas colônias derrotadas, sempre e quando estas não interferiam nos interesses de
Roma17.
Miquéias 5.2-5 estabelece Belém como o lugar onde Jesus haveria de nascer já que
tanto José como Maria pertenciam à cada de Davi. Esta cidade histórica de Davi é
mencionada várias vezes na Bíblia (1 Sm 20.6; 2 Sm 23.15-16). Seu nome significa: “cada do
pão” que tem de certo modo um tom profético já que Jesus chamou a si mesmo de “o pão da
vida” 18.
O padrão do censo era do tipo familiar, segundo Hendriksen e Zapata. Logo, foi
necessário que Maria viajasse à sua cidade natal. As circunstâncias do nascimento de Jesus
foram muito difíceis. Cristo nasceu numa hospedaria; a maioria dos comentaristas bíblicos o
põem numa cova que servia de estábulo nas pousadas já que não havia lugar para José e sua
família. Alegoricamente isso nos mostra que veio ao mundo apenas temporariamente, como
quando se fica em uma pousada, para nos ensinar a fazer o mesmo. Foi assim também sua
vida na terra segundo ele mesmo disse: “As raposas têm os seus covis e as aves do céu têm
seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”.
A menção de Lucas sobre a primogenitura de Jesus é ressaltada, pois Maria não teve
relações com José antes do nascimento de Jesus (Mt 1.15). A citação de Marcos 6.3,4 nos
mostra que sem dúvida Maria teve mais filhos depois do nascimento de Jesus e que seus
irmãos foram: Tiago, José, Judas e Simão e também menciona-se algumas irmãos cujos
nomes não são citados19.
17
18
19
Hendiksen, pp. 111, 112.
Zapata, p. 26.
Ibíd., p. 27.
27
2. DADO A CONHECER AOS PASTORES (2.8-20)
Os anjos fora mensageiro de boas novas sobre o recém-nascido Salvador, mas foram
enviados só a alguns pastores pobres, humildes, piedosos e trabalhadores, que estavam
ocupados em sua vocação, vigiando seus rebanhos20. Os pastores eram pessoas depreciadas
pela sociedade que vigiavam os rebanhos à noite para protegê-los de ladrões e animais. Crê-se
que a aparição angelical foi no “campo dos pastores” a um quilômetro ao leste de Belém. Esse
mesmo campo, que 1.100 anos antes havia pertencido a Boaz, foi o lugar onde se desenrolou
o romance entre Rute e Boaz, antepassados de Jesus21. O relato de Lucas deixa muito claro
que estes pastores, aos quais se fez a proclamação do nascimento do Salvador eram diferentes.
Eram homens devotos, provavelmente conhecedores da profecia messiânica, e como Simeão,
“esperavam a consolação de Israel” (Lc 2.25). Notemos como o anjo de dirigiu a eles em
Lucas 2.10-12, e vejamos também sua reação exemplar (Lc 2.15, 17, 20)22.
O anjo se apresenta ante os pastores de forma repentina. A glória do Senhor
mencionada em várias ocasiões no Antigo Testamento os rodeia (Ex 16.10; 24.16; Lc 9.23; 1
Rs 8.11). No Antigo Testamento a glória do Senhor é a prova da sua presença. A glória do
Senhor, também conhecida como Shekinah ou sinal visível da presença de Deus, é bem
conhecida no Tabernáculo de Moisés como algo tangível, sempre relacionada com a luz, um
resplendor ou uma nuvem; é um dos temas especiais que encontramos na Bíblia, a revelação
de Deus ao homem. Ezequiel foi transladado em uma nuvem para ver, em uma viagem
singular, através do tempo, a glória futura da cidade celestial. Jesus Cristo foi arrebatado ao
céu em uma nuvem e os anjos disseram que voltaria da mesma maneira. No Antigo
Testamento fazem-se muitas referências à Glória do Senhor em uma nuvem. Uma nuvem de
luz iluminou a Jesus Cristo em seu encontro, no monte da transfiguração, com Moisés e Elias,
etc23. Devido ao pecado do povo de Israel, a presença da glória do Senhor estava escondida
atrás do véu do santuário do templo. Mas, o fato de que a glória do Senhor rodeava estes
pastores humildes, significava que agora havia chegado o novo pacto no qual o Senhor vive
junto com seu povo. A reação dos pastores é, inicialmente, de temos. Ninguém pode ver a
glória do Senhor e sobreviver. Mas, o anjo dos Senhor os consola. Esta luz não é mortal para
20
21
22
23
Matthew Henry, p. 3.
Zapata, p. 27.
Henricksen, p. 120.
Zapata, pp. 27, 28.
28
os homens pecadores, pois traz boas novas de grande gozo que será para todo o povo. Isto
quer dizer: o gozo imenso de um povo que foi reconciliado com Deus, e que agora pode ver
viver em sua glória, será efetuado por aquele que acabava de nascer24.
No versículo 11 Lucas menciona: “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o
Salvador, que é Cristo, o Senhor”. A ênfase destas palavras está na palavra “Salvador”. O
menino recém-nascido libertará do pecado; seu objetivo é lograr que o povo possa viver junto
a Deus.
O que os anjos exclamaram ou gritaram no verso 14 causa certa controvérsia quanto a
se usaram a palavra eudokia (boa vontade, beneplácito), ou se disseram eudokias (a mesma
palavra com sigma o “s” ao final de beneplácito). Os textos gregos variam nas opções. Alguns
intérpretes, aceitando a primeira leitura como genuína, adotam o primeiro ponto de vista,
segundo o qual os anjos disseram:
“Glória a Deus nas alturas, e na terra paz, boa vontade para com os homens”25.
Outros, havendo aceitado a segunda leitura, adotam o segundo ponto de vista, segundo
o qual os anjos disseram:
“Glória a Deus nas alturas e sobre a terra paz entre homens de seu beneplácito”26.
O genitivo significa simplesmente “de seu beneplácito”. O beneplácito de quem?
Claramente de Deus. Os anjos não estão se gloriando no homem nem em seus méritos, mas
em Deus e em sua graça (Ver Mt 11.26; Lc 10. 21; Ef 1.4, 5, 9). Logo, quando expressamos
em seu sentido pleno, a interpretação do segundo ponto de vista, é esta: “E sobre a terra paz
entre os homens a quem Deus escolheu por sua graça”. Sua soberana benevolência está neles.
Com eles, ele está satisfeito27.
A boa vontade Deus para com os homens está manifestada no envio do Messias, que
redunda em sua glória. A redenção do mundo é para sua glória nas alturas. A boa vontade de
Deus ao enviar o Messias, trouxe paz a este mundo, como menciona Matthew Henry em seu
comentário.
A passagem nos diz que os pastores não perderam tempo; se foram prontamente,
apressados ao lugar sinalizado pelo anjo. Apressaram-se para chegar em Belém a ver o
cumprimento da Palavra que o Senhor lhes havia dado. Satisfeitos tornaram conhecido por
24
Matthew Henry, p. 4.
A Revista e Corrigida traz uma tradução semelhante da Reina Valera de 1960, usada pelo autor. Nota do
Tradutor.
26
Essa é uma opção mais próxima da Revista e Atualizada, bem como da NVI. Nota do tradutor.
27
Hendricksen, p. 125.
25
29
toda parte acerca do menino, que Ele era o Salvador, Cristo o Senhor. Nos versos 18-20
podemos ver três tipos de reações: a primeira de gozo por parte dos pastores, a segundo de
silencia por parte das pessoas em geral e a terceira de Maria que comparava as palavras que
ouvia com as que anteriormente lhe foram ditas pelo anjo Gabriel e Isabel, tratando de
entender (uma tradução melhor que “meditar”) todas elas; e ao fazer isso, as guardava em seu
coração.
3. APRESENTAÇÃO DE CRISTO NO TEMPO, O NUNC DIMITTIS DE
SIMEÃO E A AÇÃO DE GRAÇAS DE ANA
Nos versículos 21-39 lemos como Jesus foi posto debaixo da lei. No oitavo dia, Ele foi
circuncidado. Através desta circuncisão, Jesus foi incorporado ao povo de Israel no pacto de
Deus com Abraão. A circuncisão também significava que o israelita devia arrepender-se e
viver em um novo estilo de vida. Jesus não necessitava de nenhuma dessas coisas, já que
nasceu sendo Filho de Deus sem pecado. Entretanto, para nós é uma pregação do Evangelho.
Jesus foi circuncidado e desta maneira tratado como pecador, como se necessitasse da graça
de Deus para adquirir graça para nós.
Era um costume judeu levar o menino recém-nascido para ser circuncidar no templo
de Jerusalém quando se cumpriam os oito dias (Gn 17.12; Lv 12.3; cf. Lc 1.59). O nascimento
de um menino era considerado um dom de Deus e um acontecimento muito importante na
vida de uma mulher. Por isso, ela tinha de oferecer dois animais, um para expressar sua
gratidão a Deus e outro para receber o perdão de Deus por qualquer pecado que tivesse
cometido. Maria ofereceu o sacrifício dos pobres, previsto pela lei, duas rolas ou pombos
jovens, em vez de um cordeiro e uma pomba28.
O submeter-se à circuncisão foi um elemento na obediência requerida do Salvador, e
sem esta obediência não poderia ser verdadeiramente Jesus, isto é, Salvador, e foi o nome
dado pelo anjo antes da sua concepção. Tão importante era este nome que tanto José (Mt
1.21) como Maria (Lc 1.31) haviam sido instruídos para darem ao menino.
Jesus não nasceu em pecado e não precisou da mortificação de uma natureza corrupta
ou da renovação para santidade, que era o significado da circuncisão. Esta ordenança foi, no
28
Zapata, p. 30.
30
seu caso, uma garantia de sua futura obediência perfeita de toda a lei, em meio a sofrimentos e
tentações, mesmo até a sua morte por nós.
Nos versículos 22-24 se nos fala da apresentação de Jesus; o trouxeram a Jerusalém
para apresentá-lo no templo. O salvador recém-nascido é levado à casa de Deus pela segunda
vez. Lucas nos comenta que isso aconteceu quando os dias da purificação de Maria se
cumpriram. A apresentação significava na cultura judaica que cada primeiro menino dos
israelitas, o primogênito, tinha que servir a Deus no templo. Mas devido a seu pecado o povo
de Israel havia perdido esse direito; Deus havia designado à Tribo de Levi como a tribo que
lhe serviria na área sacerdotal (Nm 3). Ao final de quarenta dias, Maria foi ao templo para
oferecer os sacrifícios estabelecidos para sua purificação. Jose apresenta também ao santo
menino Jesus, porque como primogênito, tinha que ser apresentado ao Senhor, e ser redimido
conforme a lei.
“Apresentemos nossos filhos ao Senhor que no-los deu, rogando-lhe que os resgate do
pecado e da morte, e os faça santos para Ele” 29.
Simeão e o Nunc Dimittis
Pouco se sabe de Simeão. Esta passagem não estabelece que ele estava investido de
algum ofício específico; por exemplo, o de sacerdote. Parece que era o que hoje chamaríamos
de “leigo”.
A Bíblia nos mostra que a igreja precisa tanto dos leigos como dos ministros
ordenados. Não somente Moisés e Josué ocuparam um lugar de importância nos negócios do
reino, mas também Eldade e Medade que era “leigos” (Nm 11.26-29).
Simeão é descrito como justo. Também o era José, o esposo de Maria (Mt 1.29) e
também assim é descrita Maria, Zacarias e Isabel (Lc 1.60) E não nos esqueçamos de José de
Arimatéia (23.50). Simeão era “justo e piedoso”. Podemos ver outros exemplos de homens
piedosos em Atos 2.5; 8.2; 22.12. Com a máxima prudência estes homens assumiram os
deveres que Deus lhes tinha atribuído. São conscienciosos em seus planos, tendo sempre
como objetivo maior melhorar o bem-estar deles mesmos e o seu próximo, para a glória de
Deus. Esta combinação “justo e devoto” pode muito bem indicar que Simeão se conduzia de
29
Matthew Henry, p. 4.
31
tal modo que sua conduta com respeito aos homens (era justo) e para com Deus (era piedoso)
era objeto da aprovação divina30.
Simeão viu ao menino, o tomou em seus braços e louvou a Deus dizendo as palavras
proféticas que seguramente o Espírito Santo, que lhe havia feito previamente reconhecer ao
menino, pôs em sua boca para que ficasse registrado para todo o mundo, inclusive para nós
hoje31:
Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra;
porque os meus olhos já viram a tua salvação,
a qual preparaste diante de todos os povos:
luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel.
Segundo a enciclopédia britânica o termo Nunc Dimittis provém do latim. Nunc que
significa “agora” e Dimittis que significa “enviar para fora”, na segunda pessoa do singular.
“Nunc Dimittis servum tuum”. “Agora Soberano Senhor, estás despedindo o teu servo”, é
usado como cântico na liturgia católica, e é conhecido como Nunc Dimittis ou cântico de
Simeão32.
O conceito “tua salvação” é definido por Simeão como “luz” e glória”. Para os gentios
a salvação é luz: o verdadeiro conhecimento de Deus, santidade e amor, gozo como nuca
antes havia sido experimentado. Por certo, é também luz para Israel, mas a expressão é
particularmente adequada quando se aplica aos gentios devido a que suas trevas eram mais
profundas. Para Israel a salvação é glória. Também é glória para os gentios, mas ninguém que
conheça a Bíblia deixará de entender porque esta descrição é apropriada especificamente para
Israel, já que é com Israel que nós associamos a Shekinah, isto é, a nuvem de luz, uma das
manifestações da presença do Senhor da qual falamos anteriormente33. “O mesmo Espírito que
proveu para sustentar a esperança de Simeão, proveu para seu gozo”, menciona Matthew
Henry em seu comentário.
AÇÃO DE GRAÇAS DE ANA
30
Hendriksen, p. 131.
Zapata, p. 31.
32
www.britannic.com
33
Hendricksen, p. 134.
31
32
Seu nome significa “Graça”. Era viúva, filha de Fanuel. É a transliteração grega do
nome hebraico mais conhecido Penuel, que também se escreve Peniel. Lembremos que Jacó,
ao voltar para sua terra, foi deixado sozinho junto ao vau de Jaboque. Ali lutou com o Anjo e
seu nome foi mudado para Israel. Em relação a essa passagem vemos o seguinte: “Àquele
lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva” 34.
Ana pertencia à tribo de Aser. Aser era o segundo filho de Zilpa, a escrava de Lia. Foi
chamado Aser (=Feliz) porque seu nascimento deixou Lia feliz. Era o oitavo filho de Jacó. O
fato de Lucas saber a que tribo Ana pertence indica que os judeus estavam conservando os
registros de família, ou genealogias, em dia.
Ana era uma profetisa. Um verdadeiro profeta é aquele que, havendo recebido
revelações do propósito e vontade de Deus, declara aos demais aquilo que recebeu. O
apóstolo Paulo considerava como muito importante o dom da profecia (1 Co 14.1)35.
No aspecto material Ana poderia ter felicidade em sua vida, pois a havia perdido, era
viúva havia muitos anos e anciã, “de idade muito avançada”, segundo o relato de Lucas.
Alguns mencionam que tinha 105 anos aproximadamente. Ela encontrou consolo no serviço a
Deus; sendo já anciã, não se apartava do tempo, mas seguia sendo inspirada pelo serviço ao
Senhor, dia e noite através da oração e jejum (segundo o conceito corrente, o melhor meio
para concentrar-se na oração).
Imaginemos por um momento a situação: ao ficar no tempo, e também mediante a
revelação do Espírito Santo, Ana conheceu a Jesus como o Ungido de Deus recém-nascido, e
dá graças ao Senhor. Sua gratidão se converteu em um testemunho a todos os que esperavam
a redenção em Jerusalém. Veja as palavras de Simeão no seu Nunc Dimittis. Ela ouve
claramente cada palavra. Está convencida de que este menino é verdadeiramente o Messias.
Cheia de gratidão, ela imediatamente expressa sua gratidão a Deus.
Terminada sua oração, ela começa a falar a todas as pessoas que pensam de forma
similar a ela. A partir dali, ela falaria a todo aquele que, sendo de um mesmo espírito com ela,
esperava igualmente e com ansiedade a redenção de Jerusalém (v. 25), sua libertação do
pecado por meio do Salvador. Considerando o fato de que os Evangelho em suas páginas
descrevem a maldade e dureza do coração dos fariseus, dos escribas e de muitos de seus
34
35
Ibid., p. 136.
Zapata, p. 32.
33
seguidores, é interessante saber que, tanto nos tempos de Elias (1 Rs 19.18), como nos dias
Paulo (Rm 11.5), e nos dias do menino Jesus, havia um “remanescente escolhido pela graça.
Assim será sempre. Assim é também agora36.
4. O RETORNO A NAZARÉ (2.39-40)
Outra vez, como nos versos 22, 23, 24 e 27 Lucas enfatiza o fato de que a conduta de
José e Maria estava em harmonia com a lei de Deus. Havendo cumprido todo o que a lei
exigia, eles voltaram para a Galiléia37.
De acordo com Lei dos judeus, o menino estava debaixo da responsabilidade da mãe
até os cinco anos, daí em diante, o pai era encarregado de cuidar de sua formação até os doze
anos quando ele era considerado responsável por si mesmo. Nesse momento ele era
considerado como um filho da lei. Lucas é o único evangelho que nos fala da infância de
Jesus ao nos dizer que crescia e se fortalecia, que crescia em sabedoria e a graça o
acompanhava.
5. O MENINO JESUS NO TEMPLO
A lei obrigava a todos os judeus varões de “idade madura” a ir a Jerusalém três vezes
ao ano para assistir a três grandes festas: páscoa, pentecostes e Tabernáculo (Ex 23.14-17;
34.22-23; Dt 16.16). Tornou-se um costume que muitos assistissem somente uma vez ao ano.
No caso de José e Maria, assim como de muitos outros, a festa escolhida foi a Páscoa que se
celebrava para comemorar a libertação dos judeus da escravidão do Egito. A lei não exigia
que as mulheres assistissem, o mandamento divino refere-se somente aos homens. Não
obstante, o fato de Maria também assistir mostra que era uma esposa muito piedosa.
Não havia unanimidade com respeito à idade exata quando um menino passava a ser
“bar mitzvah” (filho da lei), isto é, quando chegava à idade da maturidade e responsabilidade
quanto ao cumprimento dos mandamentos. A opinião majoritária é de que com a idade de
treze anos, um menino poderia assumir plenamente tal responsabilidade. Sabemos pelo menos
que quando Jesus alcançou os doze anos, José e Maria o levaram consigo a Jerusalém a fim de
36
37
Hendricksen, p. 138.
Ibíd., p. 139.
34
assistir à festa da Páscoa. Segundo a lei, a festa durava sete dias completos (Ex 12.15, 16;
23.15; Lv 23.6; Dt 16.3) 38.
Aparentemente, foi em um dos pórticos do templo onde José e Maria encontraram
Jesus. Estava sendo “no meio do mestres”, escutando-os e às vezes dirigindo perguntas a eles.
Segundo vários comentaristas, estes eram os dias imediatamente seguintes à grande festa, e
posto que Jerusalém era a sede da religião judaica, podemos imaginar que vários mestres
famosos poderiam ser encontrados no templo, porque o ensino não era dado somente
enquanto durasse a festa. Esta era então uma oportunidade para Jesus, que a cidade de Nazaré
não poderia lhe proporcionar. Com suas perguntas e respostas revela uma perspicácia tal que
todos os que o escutavam estavam admirados, todos os olhos deviam está postos nele, de
modo que em um sentido muito real, quando ele falava se tornava o centro das atenções (ver
Mt 1.18-24; 2.13)39.
Está claro na resposta de Jesus sobre onde ele havia estado, que com a idade de 12
anos, ele estava completamente consciente da relação única entre ele mesmo e Seu Pai
celestial. Mas tarde ele vai fazer referência a este maravilhoso tema repetidas vezes. “...Não
sabíeis (note-se o plural – vós, José e Maria) que me cumpria estar na casa de meu Pai?”. É
como se ele dissesse: “Na casa de meu Pai, ali é onde eu estava, e é onde devia está. Não
sabia disso?”.
Notamos que no Evangelho de Lucas, menciona-se várias vezes que: Jesus deve
pregar (4.43), Jesus deve sofrer (9.22), é necessário Jesus seguir o seu caminho (13.33), está
no lar de Zaque (19.5), era necessário ser entregue, ser crucificado e ressuscitar (24.7), sofrer
essas coisas e entrar em sua glória (22.37; 24.26), e cumprir todas as profecias do Antigo
Testamento que se referem a ele (24.44), ou seja, é claramente mostrado que tudo o que
sucede a Jesus é a realização do decreto eterno de Deus (Lc 22.22; cf. At 2.23). Mas José e
Maria não entenderam a declaração que ele lhes fez. Um aspecto do sofrimento de Jesus foi
exatamente isso, que os homens, incluindo seus próprios familiares e seus próprios discípulos,
não o entenderiam: Mt 16.22; Mc 9.10, 32; Jo 7.3-5. “E desceu com eles para Nazaré; e eralhes submisso”. Não pediu para ficar mais tempo na casa de Seu Pai. Sem fazer qualquer
objeção, nem perguntas, desceu a Nazaré com seus “pais”. Note-se “desceu”. Além disso,
rendeu uma contínua obediência a José e Maria apesar de toda debilidade deles e apesar da
38
39
Hendicksen, p. 140.
Zapata, p. 36.
35
falta de entendimento. “Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração”. Ela seguiu
procurando entender o que tanto o Anjo quanto Jesus, como todos os demais lhe falavam
acerca de seu filho. A última frase do verso 52, significa que ele continuou experimentando de
forma crescente a bondade de Seu Pai e também da amizade das pessoas que o rodeavam40.
CONCLUSÃO
No Capítulo dois vemos o cumprimento da promessa de Deus dada através de todo o
Antigo Testamento sobre o nascimento do Messias, o Salvador. Lucas parece deter-se de
propósito neste capítulo dando todos os detalhes de como pessoas “leigas” são as honradas
pelo Pai para dar louvor a seu filho recém-nascido.
Presenteia-nos com uma oração de Simeão, profunda e cheia de amor para o criador
fiel que cumpre suas promessas e nos conta de Ana, chamada a profetisa, que também nos
mostra o papel que um Leigo poderia desempenhar no serviço ao Deus todo-poderoso.
Lucas nos mostra um Jesus menino já consciente de seu papel na terra, conhecedor de
sua relação com seu Pai Celestial, mas humilde. O quadro de humildade que Lucas nos mostra
durante todo o tempo é uma alegoria aos pobres. A pobreza com a qual o Salvador da
humildade chega ao mundo, a pobreza naqueles que vem adorá-lo ao invés da realeza. A
pobreza das ofertas, as duas pombas que era as ofertas dos mais pobres, enfim, todo o quadro
que nos mostra o que realmente Jesus quis nos ensinar através de suas parábolas e, os
apóstolos apesar de conviverem com ele não conseguiram entender facilmente.
40
Hendricksen, p. 141.
36
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 2
1. De qual cidade José partiu e de qual era sua cidade natal?
2. De que tribo José e Maria eram descendentes?
3. Além de Maria e José, a quem o Anjo se apresentou primeiro para anunciar o nascimento
de Jesus?
4. Com que idade Jesus foi apresentado no templo?
5. Quem era Simeão e Nana, filha de Fanuel?
6. Como é comumente chamada a oração de louvor de Simeão?
7. Para que festa José e Maria viajava todos os anos para Jerusalém?
8. Comente sobre a purificação a que Maria devia se submeter de acordo com a Lei mosaica?
(Lv 12.2-5).
9. Que partes Lucas omitiu que são encontradas em Mateus 2.1-18?
10. Poderíamos dizer que Jesus já tinha consciência sobre sua missão e identidade, quando
ainda tinha pouca idade? (2.49). Explique.
37
LIÇÃO TRÊS
A PREPARAÇÃO DE JESUS PARA SEU MINISTÉRIO PÚBLICO
Alejandro Cid
INTRODUÇÃO
O tema principal dos capítulos 3 e 4 do Evangelho de Lucas, da mesma forma que
todo o livro é a mensagem da salvação. Os dois termos favoritos são “pregar o Evangelho” e
“salvação”. O primeiro resume o que Jesus fez: seus atos de ensino, cura e compaixão para
com as pessoas, eram todos parte da proclamação das boas novas de que Deus havia vindo ao
mundo. O segundo termo indica o conteúdo absoluto dessas boas novas. Se a “salvação” é
para os perdidos, então é para todos porque todos estão perdidos. Ainda que sua obra se
limitasse de alguma maneira, aos judeus, deixou bem claro que sua mensagem era para todos,
para os gentios e também para os samaritanos, os odiados inimigos dos judeus, e que essa
mensagem tinha conseqüências para os oprimidos e opressores.
1. A PREGAÇÃO DE JOÃO (3.1-20)
“Lucas relata com uma precisão assombrosa todo o contexto, a vida política e social
do império romano nessa época. Augusto estava já morto e Tibério foi nomeado por ele como
o segundo imperador romano no ano 14 DC”41, em sucessão ao seu padrasto. A Palestina se
encontrava sumamente conturbada pela inquietante presença romana que exercia seu domínio
absoluto, tratando de obter os pagamentos de altos impostos, para sufragar os enormes gastos
que representava um império tão extenso.
Quanto ao governo dos assuntos religiosos da comunidade, estes estavam nas mãos de
Anás e Caifás. O sumo sacerdócio era exercido por um só sumo sacerdote por vez e este era
Caifás, que tinha sido nomeado pelo império romano, em substituição a Anás, que por sua vez
era sogro de Caifás e que já havia deixado de atuar oficialmente como sacerdote, mas ainda
mantinha para si uma forte e determinante influência nos destinos do povo judeu.
Assim, então, toda a estrutura estava já preparada e disposta para que começasse a
ação na região. O governo romano exercido por Tibério, o governo da Judéia por Pilatos, os
41
W. Hendriksen, p. 52.
38
governos locais das províncias eram exercidos pelos filhos de Herodes. Também os religiosos
estavam que estavam no templo são mencionados minuciosamente por Lucas antes da ação
começar a desenrolar. Então como de costume, como quase sempre acontece, a maneira como
chega a Palavra de Deus aos protagonistas, João estava no deserto e a Bíblia nos diz que “veio
a Palavra de Deus a João”.
Assim, João se tornou um mensageiro, uma voz que proclamava ao Grande Rei que já
estava às portas. Sua mensagem era de arrependimento e mudança total de vida. Ele
proclamou isso fortemente, com veemência, chegou a chamar os religiosos da sua época de
“raça de víboras”, não fazia rodeios, não fez do Evangelho “algo doce”, gelatinoso, mas, ao
contrário com todas as suas forças, respaldado por sua atitude, anunciava que preparassem o
caminho porque chegava uma hora muito importante da humanidade. Vemos também ele que
se prestava ao diálogo, caso alguém lhe perguntasse se ele era o Cristo.
“João vestia-se como Elias, o profeta do Antigo Testamento, que da mesma forma que
João havia chamado ao povo de Israel a voltar-se para Deus. Mateus 3.4 diz que as roupas de
João era feitas de pelo de camelo e levava um cinto de couro ao redor da cintura. Se
alimentava com gafanhotos e mel silvestre. Os gafanhotos eram uma das comidas preferidas
nos tempos bíblicos, por sua abundância em vitaminas e minerais. Com um sabor parecido
com o de camarão eram comidos tostados. Segundo Levítico 11.22, os gafanhotos eram
considerados comida pura. A vestimenta e a frugalidade de João estavam de acordo com o
deserto onde ele pregava para as pessoas. A mensagem que ele proclamava era o oferecimento
do perdão por parte de Deus, para todos aqueles sobrecarregados por seus pecados. Um
perdão que era concedido pelo arrependimento”42.
O batismo que João oferecia era uma transição que exigia das pessoas duas coisas:
arrependimento e confissão pública de pecados. Aqueles que o faziam estavam em condições
de serem batizados no rio Jordão para dar testemunho de que realmente haviam se
arrependido de seus pecados e manifestavam seu propósito de encarar o resto de suas vidas de
uma maneira diferente. João lhes pedia que primeiro provassem com seus atos que tiveram
uma mudança real em suas vidas; requeria evidências de arrependimento antes de batizá-los.
Com o batismo de João as pessoas recebiam uma preparação que os dispunha a receber e
responder à mensagem do Evangelho que seria anunciado posteriormente pelo próprio Senhor
Jesus Cristo.
42
R.Zapata, p. 61.
39
“Quando o mundo de Adão sucumbiu pelo dilúvio e toda aquela geração ficou
sepultada pelas águas para sempre, Deus se comprometeu a nunca mais destruir o mundo por
meio da água. O batismo de João representava a morte de uma vida ou de uma geração de
vida que tínhamos em Adão. O batismo do Espírito Santo é o batismo do Senhor Jesus Cristo
e é para estabelecer a presença do Espírito de Deus nas próprias pessoas. Paulo declararia com
respeito a esta recepção da pessoa de Deus em Gálatas 2.20: “Estou crucificado com Cristo;
logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na
carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”43.
João Batista foi o avanço, o progresso do anúncio da rocha que chegaria a romper com
os sistemas humanos de governo. O anúncio de João não foi um anúncio qualquer, foi o
anúncio mais importante da história da humanidade. João teve o raro privilégio de ser morto
por algo que não sua própria culpa, e nisso se assemelhou ao Filho de Deus, ao qual estava
anunciando.
2. O BATISMO DE JESUS (3.21-22)
Todos os viam a João confessavam seus pecados, se consideravam pecadores, se
arrependiam, se purificavam na água e se obrigavam a seguir o sucessor de João que batizaria
com Espírito Santo e com fogo. Qual era o motivo de o próprio Jesus ser batizado também?
No batismo de João havia confissão de pecados. Que pecados Jesus teria para confessar?
Jesus estava representando um povo pecador e ao haver tomado, Ele mesmo, seu lugar ante a
lei, lhe era necessário confessar os pecados desse povo.
Também foi uma maneira de dar honra ao ofício de precursor de João Batista. No
próprio ato do batismo Jesus orou e no momento que saia da água escutou uma voz que dizia:
“Este é meu Filho amado, em quem me comprazo”. O próprio Deus falando sobre seu prazer,
o Espírito Santo visível como uma pomba e o Filho de Deus saindo da água depois de haver
cumprido o que era necessário e justo.
Além do nascimento pela água, também se produziu ali o nascimento oficial do
ministério de Deus pelos homens. Como quando foi necessário que o Espírito Santo fizesse
sombra sobre Maria (Lc 1.35) para o nascimento humano de Jesus, agora simbolicamente
43
G.J Wenham, Comentario Bíblico Siglo XXI, p. 58.
40
também estava fazendo sombra, na pomba, no nascimento do ministério ou serviço humano
de Deus entre os homens”44.
Para João, o momento do batismo de Jesus foi o momento culminante de seu
ministério. João já havia despertado o povo da sua letargia, o próprio Senhor se havia
apresentado, tudo já estava feito. Vemos que o estava acontecendo foi ordenado do céu. João
sai de cena e o próprio Filho de Deus começava agora seu turno, seu caminho para a cruz do
Calvário.
3. A GENEALOGIA DE JESUS (3.23-28)
A genealogia de Jesus é dada imediatamente depois do seu batismo, é estritamente
pessoal e vem por sua ascendência de Maria, já que Lucas nos apresenta a Jesus como o Filho
do Homem, que nasceu de sua mãe virgem Maria. Trata-se da descendência linear de Maria
apresentando a descendência sanguínea de Jesus.
“Em Lucas, a genealogia de Jesus chega até Adão porque procura explicar ou
demonstrar nestes versículos sua ascendência humana. Também era em extremo necessário
confirmar nas Escrituras que o Messias tão esperado devia ser Filho de Davi e também ser
herdeiro real. Isso depreende-se de 2 Sm 7.12-13, Rm 1.3 e At 2.30-31”45.
Pelos costumes judeus a descendência de Maria vinha no nome do esposo, já que José
era “filho de Eli”, ou seja, seu genro, porque sabemos que o pai de José, como nos diz Mateus
se chamava Jacó.
4. A TENTAÇÃO DE JESUS (4.1-13)
Assim como Deus levou seu povo ao deserto, onde foi provado durante 40 anos antes
de poder entrar na terra prometida, também Jesus foi levado ao deserto para ser provado por
quarenta dias antes de iniciar oficialmente seu ministério terreno. Mas ao contrário do que
havia ocorrido com os israelitas, Jesus não cedeu a nenhuma das tentações.
A tentação, como podemos ver, seguiu-se imediatamente ao batismo, quando havia
sido proclamado pelo próprio Deus, que era seu Filho em quem ele tinha prazer. Seguramente,
44
45
A. Estrada, Comentario Bíblico Mundo Hispano, p. 43.
W. Hendriksen, p. 59.
41
foi uma dura batalha espiritual na programação dos três anos que culminaram com amorte de
Jesus Cristo na cruz. Esta batalha já estava programada desde a eternidade, porque foi Jesus
foi conduzido a ela pelo Espírito Santo.
A duração da batalha foi de 40 dias, mas seguramente sua definição foi no final,
quando nos é apresentada as três propostas de satanás, às quais Jesus Cristo não fez nenhuma
consideração nem negociação possível. Satanás encabeçava sempre suas tentações com as
mesmas palavras que foram proclamadas pelo Pai no batismo: “Se és Filho de Deus”. A
palavra grega “tentar” é a mesma que significa “provar”, ou seja, por à prova. Jesus rechaçou
as tentações dando importância definitiva e nível de excelência inapelável às Sagradas
Escrituras.
“Como Jesus que não tem pecado pode ser tentado? Em nosso intento por responder a
esta pergunta muito importante, devemos antes de mais nada fazer notar que foi a natureza
humana que foi tentada. Jesus não somente era Deus; ele era também homem. Por outro lado
sua alma não era dura como pedra ou fria como um cubo de gelo, era uma alma totalmente
humana, profundamente sensível, afetada e comovida pelos sofrimentos de toda espécie. Jesus
foi capaz de expressar carinho, compaixão, piedade, ira, gratidão e ainda grande anelo pela
salvação dos pecadores para a glória do Pai. Sendo não apenas Deus, mas também homem,
ele sabia o que era está cansado e com sede. Portanto, não deve nos surpreender o fato de que
depois do jejum de 40 dias, teve fome, e a proposta de converter as pedras em pão era uma
tentação muito real. Não obstante, não deixa de ser verdade que a possibilidade e a realidade
da tentação de Cristo ultrapassa o nosso entendimento”46.
À tentação relacionada com o pão, Jesus respondeu: “Está escrito: nem só de pão
viverá o homem”. À tentação relacionada com o domínio do mundo, Jesus respondeu: “Está
escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele darás culto”. À tentação relacionada com a
demonstração de poder, Jesus asseverou: “Também está escrito: não tentarás ao Senhor teu
Deus. Todas as possibilidades de debilidade humana estavam compreendidas nas três
tentações; não havia acesso possível por parte de Satanás àquele que veio ao mundo para
despojá-lo de seu poder aqui na terra.
O que realmente ocorreu foi uma batalha espiritual espetacular, que se fossem
utilizados os elementos com os quais contamos hoje em dia para expressar graficamente
coisas espirituais, veríamos raios, tormentas e batalhas difíceis de serem abarcadas por nosso
46
R. Zapata, p. 66.
42
pensamento ou nosso conhecimento. O que está escrito em Lucas é a representação para nossa
compreensão da verdadeira luta espiritual que se desenrolou nesse deserto. Para reafirmar
isto, basta recordar o último versículo da cena onde Lucas nos diz que Satanás esgotou todos
os recursos de tentação. Satanás entrou rapidamente na cena com Adão e Eva e agora chegou
também rapidamente quando veio ao mundo o “segundo Adão”.
Então, Jesus foi tentado para se compadecer de nós. “Pois, naquilo que ele mesmo
sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados”47. Já que Satanás
havia vencido a Adão pela tentação, era necessário passar pelo mesmo processo e não ceder,
para vencer pelas mesmas armas que Ele nos daria para vencer também a Satanás: A Palavra
de Deus escrita e o poder do Espírito Santo em nós.
“As respostas de Jesus afirmaram a autoridade expressa e documental das Sagradas
Escrituras, esta autoridade excede o mero fato de manifestar uma intenção ou lei escrita e se
transforma em uma arma, como está escrito, de dois gumes, que escrita, expressa leis
espirituais que não se podem transgredir sem sofrer as conseqüências. Mas, o principal
propósito da tentação não era meramente saber se Jesus Cristo podia ceder ou não às tentações
de Satanás, mas que Jesus nunca faria nenhuma concessão, nem arranjo, nem trato com
Satanás e estava disposto a enfrentá-lo com a própria Palavra de Deus que Ele encarnava”48.
5. O COMEÇO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (4.14-15)
“Jesus regressou à Galiléia no poder do Espírito Santo; o Salvador começava
rapidamente e com o poder de Deus a desenvolver seu ministério na terra. Qualquer um
poderia dizer que era muito melhor iniciar em Jerusalém, uma cidade de fama mundial, para
onde confluíam todos os transportes da época, rotas importantes e onde estavam as
autoridades mais importantes da Palestina. Mas Jesus voltou para começar seu ministério na
periferia, na parte subdesenvolvida e segregada pelos judeus que se consideravam de boa
linhagem, a tal ponto de Natanael chegou a dizer: ‘Pode vir alguma coisa boa da Galiléia?’”
49
.
A Galiléia era uma região isolada, separada da Judéia por Samaria, que era habitada
especialmente por não-judeus, desde que os Assírios levaram o povo de Israel, propriamente
47
Hebreus 5.18
A. Estrada, p. 71.
49
G.J. Wenham, p. 79.
48
43
dito à Assíria e a partir dali os dispersaram aos quatro pontos cardeais de seu império. A
extensão da Galiléia era aproximadamente de uns 70 km de largura por uns 40 km de
comprimento, com muitos bosques e terras produtivas; ao oriente da Galiléia está o rio Jordão
e o mar da Galiléia. A população era mesclada de judeus e gentios, por isso era chamada de
“Galiléia dos gentios” e os galileus tinham um sotaque muito particular de falar, que os
tornava facilmente reconhecidos por sua maneira de falar.
“Por toda esta região Jesus esteve ensinando sempre nas sinagogas. A sinagoga era
uma instituição herdada do tempo do exílio, quando longe do templo, os judeus se reuniam
para ler as Sagradas Escrituras. Mantinham assim seu culto a Deus e suas tradições. O termo
sinagoga é uma palavra grega que significa “assembléia”. Seu edifício era usado como lugar
de encontro da comunidade para ensino, como uma escola, mas antes de tudo era um lugar de
adoração, onde freqüentemente os líderes convidavam mestres visitantes para participar
ativamente em seus ofícios. O texto bíblico era lido em hebraico, como ainda o é hoje em dia,
mas a pregação ou ensino era transmitido em aramaico, um idioma muito próximo do
hebraico”50.
6. A INAUGURAÇÃO DO MINISTÉRIO EM NAZARÉ (4.16-30)
Jesus percorria então as sinagogas onde sempre havia pessoas dispostas a receber os
ensinamentos. A mensagem de Jesus era que o tempo estava cumprido e o reino de Deus está
próximo, que os homens deviam se arrepender de seus pecados e crer nas boas novas. Sua
mensagem sempre se baseava no que estava profetizado acerca dele mesmo; afirmava que já
era tempo do cumprimento do que estava profetizado. Quando voltou à cidade de Nazaré, a
cidade de sua infância, também se dirigiu à sinagoga, onde seguramente assistiam seus
amigos de infância e também familiares que o haviam visto crescer.
Todos os sábados eram lidos um rolo da lei e outro dos profetas, esse dia entregaram a
Jesus o manuscrito do profeta Isaías. Os rolos da sinagoga eram guardados em cofres de metal
na parte de trás, numa espécie de biblioteca. Jesus leu então Isaias 61 onde o profeta se referia
à época em que restauraria seu povo. A mensagem de Isaias é uma clara demonstração do
objetivo do Senhor Jesus Cristo e seu propósito de vir a ocupar o lugar do homem.
50
W. Hendriksen, p. 78.
44
Quando Jesus Cristo leu, na sinagoga, o texto profético de Isaías 61, deixou bem claro
o propósito de seu ministério, para que não restassem dúvidas. Não se tratava nenhuma
religião nova, nenhuma reforma, nem de uma boa proposta religiosa, mas da resposta às
necessidades que o homem experimenta desde que se separou de Deus, a partir d que, tem
vivido em absoluta solidão e tristeza. A natureza da mensagem de Jesus era especial e era
eterna, estava maravilhosamente resumida no texto que Ele havia acabado de ler. Cristo veio
para: dar boas notícias aos pobres, dar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, liberdade aos
oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor” 51.
Isso deve ter impressionado a todos os que estavam ali presentes que os estava
escutando e quando todos os olhavam assombrados disse: “Hoje se cumpre esta profecia
diante de vocês”. O anúncio estava feito, já não havia como voltar atrás, a salvação estava a
caminho e ia até a cruz, onde haveria de dar a vida por todos nós. O grande libertador já
percorria seu caminho decididamente, dando seus comunicados nos lugares onde as pessoas
se reuniam receber os ensinos sobre a lei e os profetas.
As afirmações de Jesus fizeram que o humor dos que estavam escutando mudasse
rapidamente e começou ali um grande alvoroço. Os que há alguns minutos somente o
admiravam, estavam agora enfurecidos. Jesus havia tocado em uma de suas posses mais
importantes: o orgulho. Jesus foi levado pela multidão ao cume da colina sobre a qual está
construída a cidade de Nazaré. Diz-nos a Bíblia que foi levantado pelo seu próprio povo, mas
não era para exaltá-lo, mas para lançá-lo abaixo.
“O Filho do Homem não havia descoberto nada na realidade, sabia o que havia no
coração do homem; mais adiante ele o denunciaria claramente, quando recordando o episódio
de Nazaré, disse sobre Jerusalém o que está escrito no capítulo 13.34: “Jerusalém, Jerusalém,
que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!”52.
A maneira como ele se desvencilhou dos que o cercavam demonstra a graça que teve
para fazer as coisas por sua própria vontade e também como durante a batalha dos três anos de
seus ministério terreno tinha controle absoluto sobre tudo o que acontecia. A Bíblia nos diz
que Jesus não argumentou, nem lutou para se livrar daqueles que queriam jogá-lo abaixo,
simplesmente passou por eles, porque tinha a intenção de seguir seu caminho de obediência
até a morte e morte de cruz.
51
52
G.J. Wenham, p. 82.
R. Zapata, p. 74.
45
7. A CONTINUÇÃO DO MINISTÉRIO EM CAFARNAUM E NO RESTO DA
GALILÉIA (4.31-44).
Apesar do que havia sucedido anteriormente, Jesus continuou com seu ministério e foi
a outra sinagoga, desta vez na cidade de Cafarnaum. “Nesse lugar havia algo que chama a
atenção de muitos pseudo-cientistas quando falam acerca da possibilidade de que uma pessoa
tenha em si mesmo a possibilidade de que habitem nele outras entidades, que a Bíblia
identifica claramente como ‘demônios’”53.
Em Cafarnaum diz o texto, havia um homem que estava possuído por um espírito
maligno, que gritava contra o Senhor com todas as suas forças: “Ah! Que temos nós contigo,
Jesus Nazareno?”. Aquela não era a hora de um enfrentamento com Satanás como o foi no
deserto, agora era um enfrentamento contra alguns dos demônios que tinham possuído esse
homem, que estava presente na sinagoga.
Já sabemos que o confronto que estava tendo o Senhor Jesus Cristo, era nada menos
que, enfrentar o reino das trevas. O reino de Deus, é quando as pessoas recebem e aceitam o
governo de Deus em sãs vidas, é o reino da fé, da luz, do amor. O outro reino é o reino onde
as pessoas, imitando a Satanás se rebelam contra Deus e não o obedecem, é o reino das trevas,
da incredulidade, do ódio. Quando Cristo morreu na cruz teve uma decisiva e definitiva
vitória sobre o reino das trevas.
No relato de Lucas, Jesus Cristo enfrentou o demônio e liberou ao homem no meio das
pessoas e o demônio saiu dele sem fazer-lhe nenhum dano. Todos se assustaram; não estavam
frente a uma pessoa que estava dando ensinos bíblicos, estavam frente a alguém que
enfrentava aos demônios e estes o obedeciam. Jesus não estava pregando somente doutrinas
teológicas inatacáveis, estava trazendo uma poderosa palavra libertadora. Em toda a cidade da
Galiléia, as pessoas se deram conta de que o próprio Filho de Deus estava frente a eles.
A mensagem do Evangelho está indissoluvelmente unida ao ministério de cura das
pessoas. A sogra de Simão foi um exemplo da intervenção de Jesus Cristo nos assuntos da
saúde do corpo. O Senhor continuou curando as pessoas, pondo suas mãos sobre cada uma
delas.
“O ministério de Senhor Jesus no que diz respeito a curar os enfermos já havia sido
antecipado quando na sinagoga de Nazaré ele anunciou que veio para sarar os quebrantados
53
A. Estrada, p. 86.
46
de coração; pregar liberdade aos cativos e dá vista aos cegos; a por em liberdade os
oprimidos; a pregar o ano aceitável do Senhor. Neste Evangelho temos a pauta da humanidade
e compaixão do Senhor Jesus. A cura dos enfermos e a libertação dos endemoniados são as
características mais importantes do ministério de Jesus Cristo e de seus discípulos e também a
mais desenvolvida nos textos dos Evangelhos e no livro histórico de Atos”54.
CONCLUSÃO
Nestes capítulos do Evangelho de Lucas inicia-se o ministério terreno de Jesus Cristo
com seu batismo com João. Mostra-se claramente no relato que é o Evangelho das “boas
novas” de salvação de Nosso Senhor. Foi uma salvação que não conheceu fronteiras, mas que
se estendeu até o último e mais humilde dos homens: o publicano desprezado, o pecador
proscrito, o samaritano odiado e até ao ladrão crucificado.
Ele continuará conosco, por Sua Palavra, por Seu Espírito e estenderá as mesmas
bênçãos a outras nações, até que todo o povo escolhido por Deus seja levado a reconhecê-lo
como Cristo, o Filho de Deus e achem redenção por meio do seu sangue, o perdão dos
pecados.
Por último, o relato de Lucas, está escrito em sua totalidade a partir do ponto de vista
de Maria e tem o propósito de mostrar as relações de Nosso Senhor Jesus Cristo com a
humanidade, ou seja, mostra a Jesus como o Filho do Homem.
54
W. Hendriksen, p. 88.
47
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 3
1. Quem eram os sumos sacerdotes na época em que o capítulo 3 foi escrito?
2. Qual era o centro da mensagem que João proclamava?
3. Que linha de descendência Lucas mostra na genealogia de Jesus e qual o motivo
para isso?
4. Qual foi o motivo principal pelo qual Jesus foi batizado?
5. Quanto tempo durou a tentação de Jesus no deserto?
6. Quantas foram as tentações que Satanás apresentou ou ofereceu a Jesus nessa
oportunidade?
7. Em qual cidade Jesus iniciou seu ministério terreno?
8. Por que ele decide começar nesse lugar?
9. Qual livro do Antigo testamento Jesus leu quando chega a sinagoga de Nazaré?
10. Que profecia foi cumprida nessa ocasião?
48
LIÇÃO 4
CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO NA GALILEIA (5.1-9.50)
Luis Alfonso Lucero Jaramillo y Rubén Reyes
INTRODUÇÃO
Nos capítulos seguintes do livro de Lucas encontraremos uma série de acontecimentos
que começam com o chamado dos primeiros discípulos e se estende até a polêmica de seus
próprios amigos, de quem seria o maior entre eles. Muitos consideram o chamado de seus
primeiros discípulos como o começo de um novo período no ministério público de Jesus. Sua
obra ia assumir uma forma mais estável. A crescente popularidade da sua pregação indicava
que o Evangelho era para o mundo inteiro. Para uma proclamação desta índole era necessário
preparar um grupo de obreiros. O crescimento do cristianismo sempre depende de que se
consigam homens que queiram confessar e seguir publicamente a Cristo. O cenário deste
chamado foi o “lago de Genesaré”. Esta encantadora extensão de água traz à memória tantas
cenas da vida de nosso Senhor que muitos estudiosos chegam a opinar, que este, poderia ser
chamado de “quinto Evangelho”. Nas margens ocidental e setentrional ficavam as cidades nas
quais se levou a cabo a maior parte da obra de Jesus; a parte oriental estava desabitada e para
ali ele se retirava para descansar.
Os homens aos quais Jesus chamou eram pescadores, vigorosos, independentes,
valentes. Jesus não lhes era estranho, nem eles ficaram parados, indiferentes ante as verdades
espirituais que Jesus proclamava. Haviam escutado a pregação de João Batista e havia
chegado a considerar Jesus como o Messias, mas agora estavam convidados a que deixassem
suas casas e ocupações e que se convertessem em companheiros e discípulos constantes, que
se atreveriam a levar as boas novas da graça e misericórdia de Deus.
1. A PESCA MARAVILHOSA E O CHAMADO DE PEDRO, TIAGO E JOÃO
(5.1-11).
Jesus entra na vida vocacional dos quatro discípulos que eram pescadores. Durante a
pesca Jesus mostra seu domínio sobre o mar e os peixes. O milagre maior era que os
discípulos iam ser pescadores de homens.
49
“O ‘lago de Genesaré’ era o outro nome do mar da Galiléia, também chamado de mar
de Tiberíades. É um lago de água doce, de uns 20 quilômetros de largura e 11 quilômetros de
cumprimento, e é atravessado pelo rio Jordão. O mar da Galiléia proporcionava abundante
pesca. A pesca era a principal ocupação nas cidades e povoados ao redor do lago. Grande
parte do ministério de Jesus estava centrado nesta área e quatro dos seus discípulos eram
pescadores. Era costume dentro do povo judeu nesse tempo que os mestres religiosos tiveram
muitos discípulos, os quais realmente escolhiam o seu mestre. Dos mestres eles aprendiam a
Torá e então seguiam estritamente seu ensino. Jesus romperia com esta tradição de ter muitos
discípulos já que escolheria somente doze. Este círculo íntimo de discípulos eram os
apóstolos, dentro dos quais havia outro círculo constituído de três discípulos: Simão Pedro,
Tiago, filho de Zebedeu e seu irmão, João. Os três eram pescadores”.
Nesta cena no mar da Galiléia vemos especificamente o chamado de Pedro, que era
conhecido de Jesus, já que nesses dias havia curado a sua sogra. Jesus havia solicitado alguns
barcos que eram utilizados pelos pescadores, nelas ele pregava sua mensagem de salvação e
arrependimento. Seguramente Simão já havia escutado anteriormente a mensagem, mas agora
tudo era diferente depois desse milagre de uma pesca tão grande, no lugar onde havia
fracassado recentemente. Jesus Cristo lhes disse que voltassem a lançar a rede e eles o
fizeram, seguramente por compromisso, como para não desagradar o mestre, que seguramente
já conheciam. Para um pescador experimentado como Simão Pedro o milagre foi muito
impressionante, já que Pedro conhecia as dificuldades que os pescadores suportavam para
extrair uma grande pesca, e ademais, porque havia trabalhado toda a noite sem nenhum
resultado55.
2. JESUS CURA A UM LEPROSO E A UM PARALÍTICO (5.12-16)
Os milagres de Jesus não eram irreais, Jesus curou os que de verdade tinham
enfermidades incuráveis como a lepra e a paralisia.
A lepra era considerada como a mais asquerosa e terrível das enfermidades. Ela tinha
várias formas, mas sua característica invariável era uma sujeira fétida. O leproso era um pária;
era obrigado a viver longe de toda a convivência humana. Lhe era exigido cobrir a boca e
advertir aos que se aproximavam com o grito: “Imundo! Imundo!”. Como se considerava que
55
René Zapata, p. 53.
50
não tinham esperança, eles era tidos como mortos. Pelo que tem de asqueroso, de corruptor,
de penetrante, de isolador, de contagiosa física e ritualmente, sem dúvida que a lepra é um
símbolo adequado do pecado; e este relato tão gráfico oferece uma parábola do poder que
Cristo tem para limpar, sarar e restaurar. O quadro que Lucas oferece está cheio de vida; a
confiança humildade do pobre enfermo, seu grito lastimoso, o contato compassivo de Jesus, a
palavra de ordem e a cura instantânea. Ainda que Jesus o tenha proibido de excitar os ânimos
com o relato da sua cura, também lhe ordenou que se apresentasse ao sacerdote, a fim de que
as autoridades religiosas supremas tivessem um testemunho indiscutível do poder divino de
Cristo, e também a fim de que o homem levasse oferendas que a Lei exigia e com isso
expressasse a Deus a sua gratidão. Nosso Mestre segue esperando que todos os que tenham
sentido seu contato curador dêem testemunho de sua graça e demonstrem sua gratidão
oferecendo-lhe o serviço de suas vidas.
Quanto ao paralítico, se a lepra era símbolo da sujeira do pecado, a paralisia o era da
impotência e da dor do mesmo. Na ocasião da cura do paralítico, Jesus, fez algo mais
supreendente: perdoou pecados. O pobre enfermo havia sido levado por quatro amigos, os
quais não desanimaram diante de nenhum obstáculo. Quando não puderam entrar pela porta
da casa onde Jesus estava, devido à multidão que lá estava, subiram ao telhado e por entre as
telhas o baixaram à presença de Jesus. Seu afinco é uma reprovação para nós os que fazemos
tão pouco esforço para levar a nossos companheiros para dentro da esfera da influência
curadora de Jesus. Ele viu a fé do homem, bem como a de seus amigos, e respondeu com uma
afirmação que produziu em seus ouvintes mais surpresa que o abrir do telhado: “Homem,
perdoados estão os teus pecados”. Ele não havia pedido tal perdão, mas Jesus leu seu coração.
Viu o anelo que o enfermo tinha de ser curado não só no corpo, mas também na alma.
Compreendeu seu pesar pelo pecado que havia causado a enfermidade que o agoniava, e a
angústia e o remorso, e de imediato pronunciou a palavra de perdão e de paz. Deste modo
Jesus proclamou a mensagem que o mundo parece relutante em aceitar. Afirmou que as
enfermidades físicas e os males sociais são menos graves que as perturbações morais e
espirituais das quais são sintomas e conseqüências ao mesmo tempo. Além disso, expressou
sua pretensão de poder divino para pronunciar o perdão e para remover a culpa. Esta
pretensão suscitou de imediato a aguda ira dos escribas e fariseus ali presentes e começaram a
arrazoar: “Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” O
51
raciocínio deles era correto. Jesus era um blasfemo merecedor da morte, a não ser que fosse
divino56.
3. OS DISCÍPULOS RECOLHEM ESPIGAS NO DIA DE REPOUSO (6.1-5).
O sábado, o dia de repouso, é para congregar-se para adorar a Deus, descansar dos
labores comuns e servir ao Senhor. Os fariseus sabiam como congregar-se e descansar, mas
não apreciaram como servir ao Senhor. Jesus e seus discípulos tinham fome porque estavam
servindo e ministrando. Era, pois, lícito comer para se sustentarem.
“Evidentemente os fariseus seguiam Jesus de perto, já que até criticavam o que ele
fazia quando cruzava os campos. Sua necessidade de encontrar falhas no caminho do Senhor
os fazia parece ridículos pelo minucioso desejo de encontrar erro.
Lamentavelmente em todas as épocas e também na nossa, encontramos muitas pessoas
que em nome da fé ou da sã doutrina não fazem mais que criticar e pouca disposição em
concordar em um espírito de boa fé. Era isso o que se passava com os fariseus, que
encontraram um tema de confrontação em algo tão particularmente apreciado pelos falsos
religiosos como o dia de sábado.
O sábado era uma lembrança da criação de Deus, que criou tudo segundo declara a
Bíblia para o próprio Senhor Jesus Cristo. Como nos diz em Colossenses 1.16: “Tudo foi feito
por meio dele e para ele”. Era este quem cruzava os campos em companhia de seus
discípulos.
O sábado também é um dos dez mandamentos instituídos por Deus, mandamentos que
Jesus Crist veio cumprir e não invalidar.
O sábado era um dia de descanso dedicado a que as pessoas pudessem adorar a Deus
publicamente. Na realidade o espírito dessa celebração era de alegria e devia ser usado para a
restauração física, mental e espiritual. Os fariseus, que tinham uma tendência natural a
agregar regras, adicionaram muitas restrições a este mandamento, transformando assim a festa
de alegria, a comunhão com Deus e o descanso, em uma pesada carga para as pessoas No
Antigo Testamento não se proibia recolher grãos para o próprio consumo, mas os fariseus que
exageravam a lei, consideravam que essa ação era colher.
56
Carlos R. Erdman, El Evangelio de Lucas, pp. 75, 76, 77, 78.
52
A contestação de Jesus Cristo tendia a mostra a flexibilidade, o amor e a compreensão
de Deus quando chega o momento e é necessário. Esta flexibilidade não existia nos corações
duros, rígidos e estruturados dos fariseus esta forma de ser, esta dureza, lhes trazia cansaço
moral, espiritual e físico, por isso talvez podia se dizer que os fariseus era a seita das “caras
amarradas”. O exemplo que Jesus Cristo lhes mostrou, de Davi e seus companheiros quando
tiveram fome, foi o melhor para pessoas tão rígidas que seguramente no lugar de Davi, não
haveriam procedido assim.
A maneira de Deus trabalhar sempre é surpreendente, como deve ter sido
surpreendente a resposta para os fariseus. Em sua resposta Jesus Cristo se apresentou como o
“Filho do homem”, que era o título que geralmente usava quando se referia a si mesmo. O
tema central do Evangelho de Lucas apresenta Jesus como o “Filho do Homem”. Existe uma
referência precisa a este nome em uma visão do profeta Daniel relatada no livro de Daniel
7.13-14: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu
um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foilhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas
o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será
destruído”.
Cristo afirmava com sua atitude e resposta que os sacrifícios ou ordenanças não são
um fim em si mesmo, mas um meio de mostrar a Jesus, o Filho de Deus, também chamado de
Filho do Homem, e que, portanto, o próprio fim ou objeto de todo bem, podia quebrar a
ordem dos sacrifícios e ordenanças.
Ele o afirmou claramente quando disse que Ele era o Senhor do sábado57.
“Vs. 1-5. Cristo justificou seus discípulos em uma obra necessária para eles próprios
no dia de repouso; podia colher espigas quando tinham fome, mas devemos cuidar de não
confundir esta liberdade com uma permissão para pecar. Cristo quer que saibamos e
recordemos que este é seu dia, portanto, devemos dedicá-lo a seu serviço e sua honra58.
“Jesus havia provocado a ira dos fariseus ao arrogar para si o direito de perdoar
pecados. Ele os havia enfurecido ainda mais com o seu modo de tratar pecadores. Mas o ódio
deles chegou a um ponto extremo de fúria ante a atitude que Jesus tomou em relação à
observância do sábado. Daí em diante buscaram destruí-lo”.
57
58
Rene C. Zapata, pp. 60-61.
Mathew Henry, p. 8.
53
“A questão do sábado nunca “saiu de moda”. Os seguidores de Cristo devem ater-se
com firmeza aos princípios que seu Senhor estabeleceu. São poucos porém fundamentais: o
sábado é um dia para o culto a Deus e para o descanso e só de pode quebrar essa lei para obras
necessárias e de misericórdia”.
“A primeira das exceções ao descanso exigido é ilustrada no caso dos discípulos a
quem os fariseus acusaram de haver quebrado o sábado porque, ao caminhar pelos caminhos,
haviam colhido espigas maduras e por isso, segundo a interpretação de seus inimigos, se
haviam tornado culpados de fazer trabalho no sábado. Nosso Senhor não negou que a lei do
sábado havia sido quebrada. Simplesmente lembrou a seus inimigos o caso de Davi e de seus
companheiros que, pressionados pela fome, quebraram a Lei mosaica ao entrar no tabernáculo
e comer “os pães da proposição”. Jesus argumentou que, dada a necessidade de aliviar a fome,
seus seguidores estavam justificados em prescindir da lei do descanso59”
4. O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA (6.6-11)
Os fariseus havia desenvolvido um conceito legalista acerca do sábado. Jesus, com
suas obras, quis expor e corrigi-los publicamente. Eles sempre tinham a intenção de expor ao
Senhor Jesus através do aparente não cumprimento deste mandamento. Wenham diz: “O
sábado, havia sido feito por causa do homem, e, em conseqüência, o Filho do Homem era seu
Senhor”60.
Acerca da pergunta que Jesus faz aos escribas e fariseus, de se era lícito, no dia de
sábado, fazer o bem ou fazer o mal, Hendriksen comenta: “A pergunta era razoável e
pertinente. Não eram os fariseus e escribas os mesmos que sempre estavam pretendendo saber
eles o que era “permitido”, “lícito”, e portanto, correto? Que dêem, então, eles sua opinião de
especialistas. É claro que a resposta à pergunta de Cristo era tão óbvia que uma criança
poderia dar a resposta. Se é lícito fazer o bem – acerca do qual veja-se também Lc 6.33, 35; 1
Pe 2.14, 15, 20; 3.6, 17; 4.19; 3 Jo 11 – qualquer dia ordinário da semana, não será correto
fazer o bem no dia de repouso? Além disso, no Antigo Testamento não era exatamente fazer o
bem tanto para Deus (amá-lo, servi-lo, deleitar-se nele) como para os homens (livrá-lo da
escravidão, dar-lhe de comer, vesti-lo) o que Deus pede e ainda enfatiza? E isto num contexto
59
60
Carlos R. Erdman, p. 84.
G. J. Wenham, p. 214.
54
de jejuns e observâncias sabáticas? Que estranho que estes críticos adversos não tenha
lembrado o claro e definido ensino de Isaías 56.6; 58.6-14! O Senhor havia instado a Israel a
que usasse o dia de repouso para o propósito que Jesus o estava usando agora e sempre o
usava. Entretanto, era em Cristo, que aqueles homens que se consideravam experts na lei,
encontravam a falta”61.
Jamieson expressa: “Com esta forma nova de propor seu caso, nosso Senhor ensina o
grande princípio ético de que o deixar de atender alguma oportunidade de fazer o bem, é
contrair a culpa de fazer o mal; e por esta lei ele vivia”62.
Hendriksen continua: “Nesta tensa situação, o Senhor toma a ofensiva. Conhece os
pensamentos deles... Então, pede ao homem que se ponha de pé e fique onde todos possam
vê-lo”.
“Jesus insistia que seus milagres fossem feitos abertamente, de modo que toda suspeita
de engano ou de truque fosse excluída. Compare com os meios modernos de fazer as coisas às
ocultas, operações de luzes apagadas, etc. Além disso, Jesus também pode ter desejado
provocar a compaixão dos presentes para este homem gravemente limitado... A cura foi
instantânea e completa. Cf. 1 Rs 13.6. De um modo demasiado misterioso, como para que
qualquer mortal pudesse compreender, o Salvador havia concentrado sua mente na difícil
situação deste pobre homem, e por meio de seu poder e compaixão havia querido e realizado a
cura”.
Ante a pergunta de Jesus e o milagre ante seus olhos, os fariseus e escribas ficaram em
silêncio. Havia sido delatados ante o público pelo que realmente eram: dirigentes que
consideravam suas rígidas regras e sutilezas mais elevadas do que a lei divina do amor e que
estavam mais preocupados com suas “tradições” do que com a saúde e felicidade de um
homem tragicamente incapacitado. E se o silêncio que haviam imposto a si mesmos já os
havia enfurecido, o milagre que Jesus realizou fez com que tudo fosse muito pior para eles.
Oh!Quem dera que eles tivessem se arrependido e confessado sua maldade! Mas, não. Eles
discutiram entre si; trocando ideias, sobre o que poderiam fazer a Jesus!... O pecado nos leva
a tal profundidade de degradação, a menos que a graça intervenha.
5. A ESCOLHA DOS DOZE DISCÍPULOS (6.12-19)
61
62
William Hendriksen, p. 238.
Roberto Jamieson, Comentario Exegético y Explicativo de la Biblia, Tomo II NT, p. 159.
55
Só Lucas dá ênfase ao fato de que Jesus passou toda a noite em oração antes de fazer a
escolha dos doze apóstolos. Este seria o primeiro passo dado em direção de uma de suas
missões mais importantes, a formação da igreja. Segundo Zapata, os apóstolos “constituíram o
fundamento da santa cidade de Jerusalém com as doze portas com os nomes de cada uma das
tribos de Israel, guardadas por doze anjos, que teria também doze fundamentos, nos quais
estavam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro como consta Apocalipse 21.14”63.
Hendriksen expressa: “O apostolado é um ofício, uma comissão divinamente instituída com
autoridade para ser levada a cabo. O fato de Jesus escolheu doze homens, nem mais nem
menos, indica que estava pensando no novo Israel, porque o antigo Israel tinha doze tribos e
doze patriarcas. O novo Israel ia ser reunido dentre todas as nações, judeus e igualmente,
gentios (Mt 8.10-12; 16.18; 28.19; Mc 12.9; 16.15; Lc 4.25-27; Jo 3.16; 10.16; Ap 21.12,
14)”64.
A palavra apóstolo significa: enviado ou mensageiro. Este representa aquele que o
envia, e está revestido de autoridade, a qual é derivada daquele que enviou. A palavra
apóstolo limita-se no Novo Testamento aos doze a Paulo, ainda que aqui Paulo não esteja
presente. Os doze apóstolos eleitos não tinham uma formação cultural especial, eles já
estavam seguindo Jesus e aprenderam diretamente dele. Foram eles:
1. Simão (Pedro), pescador, era líder do círculo íntimo de três apóstolos (junto com
Tiago e João); tinha um temperamento muito forte, mas ao mesmo tempo uma fé
inquebrantável no Senhor.
2. Tiago, filho de Zebedeu e irmão mais velho de João; foi chamado por Jesus, junto
com João, de “filhos do trovão”, por causa do seu caráter tempestuoso.
3. João, o discípulo amado de Jesus; por ser o discípulo mais jovem de Jesus, sua
longa vida lhe daria a experiência necessária para escrever seu Evangelho com uma visão
global da mensagem do Senhor Jesus Cristo.
4. André, irmão de Simão Pedro, pescador de Betsaida, também havia sido discípulo
de João Batista.
63
64
René C. Zapata, p. 61
William Hendriksen, pp. 241, 242.
56
5. Bartolomeu (Natanael), conhecido pelo que é relatado em João 1.44-49, quando ao
ser convidado por Felipe para conhecer a Jesus disse: “De Nazaré pode sair alguma coisa
boa?”.
6. Felipe, nativo de Betsaida, o mesmo lugar de André e Pedro. Foi convidado por
Jesus a segui-lo e ele chamou a Natanael. Foi ele que disse: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso
nos basta”.
7. Mateus (Levi), publicano, coletor de impostos que deixou sua mesa de arrecadação
e celebrou um banquete para seus amigos quando se encontrou com Jesus; autor do
Evangelho que leva seu nome.
8. Tomé (Dídimo), palavra grega que significa “o gêmeo”, é mais conhecido por suas
expressões de dúvida, que foram satisfeitas pela direta intervenção de Jesus.
9. Jacó, filho de Alfeu, também chamado de Tiago.
10. Simão (O Zelote), chamado assim porque antes de seguir ao Senhor pertencia a
uma seita religiosa muito fanática chamada “os zelotes”.
11. Tadeu (Judas) filho de Tiago.
12. Judas Iscariotes, que era o único apóstolo não oriundo da Galiléia. Havia nascido
na cidade de Kerioth. Sempre é mencionado como “aquele que o traiu”. Era também o
tesoureiro do grupo.
Hendriksen comenta: “Mesmo quando deixamos de lado a Judas Iscariotes e somente
consideramos os demais, não podemos deixar de nos impressionar com a majestade do
Salvador, cujo poder de atração, sabedoria incomparável e amor sem igual eram tão
assombrosos que podia reunir ao seu redor e unir em uma família homens tão diferentes, às
vezes opostos quanto aos antecedentes e temperamentos. Dentro deste pequeno grupo
estavam: Pedro, o otimista (Mt 14.28; 26.33, 35), mas também Tomé, o pessimista (Jo 11.16;
20. 24, 25); Simão, o ex-zelote que odiava os impostos e estava ansioso por expulsar o
governo romano, mas também estava Mateus que voluntariamente havia oferecido seus
serviços de coleta de impostos a esse mesmo império romano; Pedro, João e Mateus,
destinados a serem famosos por seus escritos, mas também Tiago, o menos que é
desconhecido, que, sem dúvida, deve ter cumprido sua missão. Jesus os atraiu a si com as
cordas de sua terna e infalível compaixão . Ele os amou até o fim (Jo 13.1), e na noite antes de
ser traído os encomendou a Seu Pai.
57
Depois da escolha dos apóstolos, “Jesus voltou à planura onde as pessoas poderiam
escutá-lo mais facilmente quando se amontoavam de todos os arredores da Galiléia. Elas
podem ter sido atraídas especialmente por seu poder curador, mas Jesus aproveitou a
oportunidade para ensiná-las. Ao contar a história nesta ordem (em contraste com Marcos,
onde o chamado dos doze segue a este parágrafo), Lucas mostra que havia uma multidão
pronta para ouvir o sermão seguinte (Lucas 7.1) e que esse sermão não era dirigido só aos
doze”65.
6. BEM-AVENTURANÇAS E AÍS (6.20-26)
As bem-aventuranças apontadas por Lucas são distintas da bem-aventuranças
mencionadas por Mateus. Enquanto Mateus fala dos “pobres de espírito” Lucas fala dos
pobres. Além disso, no breve resumo de Lucas do Sermão do Monte, Lucas apresenta os
“ais”, as maldições associadas com os que não são pobres de espírito.
Não é difícil ver que as bem-aventuranças de Lucas são uma adaptação do sermão do
monte mais longo mencionado por Mateus. Lucas afirma a realidade da pobreza humana e a
perseguição religiosa e política. Os discípulos ia ser destituídos de seus bens pelos fanáticos
judeus e pelos militares romanos, por causa do Filho do Homem. Entretanto, os discípulos
devem amar seus inimigos. Jesus demonstrou este amor ao receber o centurião romano como
filho de Deus (7.1-10).
7. O AMOR E OS INIMIGOS (6.27-36)
Hendriksen nota a diferença entre o amor ao próximo e o amor a seu inimigo: “Amai a
vossos inimigos não era exatamente o que os escribas estavam ensinando às pessoas. Eles
diziam: ‘Amai ao teu próximo e odiai o vosso inimigo’, mudando assim a verdadeiro ênfase
da lei; a lei colocava toda a ênfase no amor acima da vingança, note-se Lv 19.18. Sendo como
é a natureza humana era muito fácil para as pessoas que viviam intimidadas pelo jugo
opressor estrangeiro ceder a seus maus impulsos, e assim, levantava-se uma muralha de
separação entre gentios e judeus, mas era difícil deter-se aí; então surgiu outra barreira entre
65
G.J. Wenham, p. 215.
58
os “bons israelitas” como os escribas e fariseus e os “maus israelitas” como os renegados, os
publicanos e o povo em geral”66.
Zapata nota que o conceito de Cristo quando ao amor era revolucionário, uma
revolução de graça. “As palavras de Jesus eram uma verdadeira revolução espiritual e
incluíam uma visão mais clara do que Deus espera dos seus filhos. Era uma verdadeira
declaração do que a presença de Deus faria na vida das pessoas que vivessem em sua
presença. Isto sim, seria um verdadeiro resgate do que se havia perdido com Adão e que Jesus
Cristo veio restaurar, por isso é que está escrito: Misericórdia quero e não sacrifício”67.
Wenham, et al., observa que Cristo está preparando seus discípulos para a perseguição
imposta pelos inimigos de Deus. “A primeira parte do sermão trata sobre as relação dos
discípulos com Deus; esta segunda parte trata sobre as relações com os demais. Passa
diretamente ao dever para com os inimigos. O princípio básico se estabelece nos versos 2728, onde é claro que os inimigos que tinham em mente são especialmente aqueles que
perseguiam aos discípulos. São dados dois breves exemplos de tal amor: a submissão à
violência quando se é golpeado por alguém e a disposição de dar ao que lhe tira a capa ainda
mais”68.
O amor de Deus é revolucionário. É um amor que mostra misericórdia, graça e
paciência. Só Deus pode dar este tipo de amor.
8. JULGAR, PRODUZIR FRUTO E ESTÁ FUNDAMENTADO (6.37-49).
O ensino sobre amar seu inimigo é radical e consistente. Jesus continua ensinando
sobre julgar e a importância de ser frutífero e consistente. Nesta seção sobre as bemaventuranças e ais, o Senhor identifica aos humildes e a seus inimigos. Os inimigos de Deus
está cheio de ódio, são hipócritas, são carnais e inconsistentes.
Os judeus eram famosos por julgar e condenar aos gentios. Os gentios foram
considerados como cachorros. Entretanto, o Filho do Homem mostra que antes de julgar tem
de ser puro. É hipocrisia julgar ao outro.
O Filho de Deus deve produzir fruto espiritual. Quando os inimigos de Jesus estão
cheio de ódio e quando falam mentiras, mostram o que está em seus corações.
66
W. Hendriksen, p, 256.
R.Zapata, p. 66.
68
G.J. Wenham, p. 326.
67
59
Os judeus identificaram a Jesus como Senhor, mas não o obedeciam. Só os que
confessam ao Senhor, e o seguem estão edificando sua vida sobre a rocha.
9. JESUS CURA O SERVO DE UM CENTURIÃO (7.1-10)
A missão do Filho do homem não era somente para os judeus. Lucas apresenta o caso
do centurião, um oficial romano. Jesus nota a fé do centurião e o conta como um verdadeiro
filho de Deus.
Zapata escreve: “Um centurião era um oficial militar romano. O do relato,
seguramente pertencia a uma unidade auxiliar que estava debaixo do comando de Herodes
Antipas, Governador da Galiléia, no caminho da cidade de Cafarnaum. Quando Jesus passou
próximo da sua casa, ele manou dois amigos com a missão de interceptá-lo para que orasse
por seu servo que estava muito doente. Evidentemente a fama de Jesus já havia chegado a
todos os estratos sociais da Palestina naquele tempo. Os amigos do Centurião foram
representá-los já que não se considerava digno de receber Jesus em sua casa. As palavras do
centurião estavam tão carregados de fé ao ponto de Jesus ficar tão admirado que exclamou:
Nem mesmo em Israel encontrei fé como esta”. Jesus enviou sua palavra e o curou, de
maneira que quando chegaram os amigos do centurião, encontram o servo são. A crença em
Jesus por parte do centurião salvou a vida do seu servo, pela fé, que é um dom de Deus. A fé
pode mudar qualquer situação. Essa é uma das premissas fundamentais da relação com Jesus
Cristo que disse: “Tudo é possível ao que crer”. Cafarnaum era a cidade onde Jesus havia
estabelecido sua base durante seu ministério na Galiléia. Nesta cidade estava a casa de Pedro
e dos demais discípulos, que eram pescadores. Pelo incidente do centurião sabe-se que a
cidade estava aguardando com expectativa a chegada de Jesus, que teve ali um ministério
muito frutífero69.
10. JESUS RESSUSCITA O FILHO DE UMA VIÚVA (7.11-17)
Jesus veio para “trazer as boas novas aos pobres”. Com a ressurreição do filho de uma
viúva, Jesus não apenas restaura a vida do jovem, mas o sustento social e emocional desta
família humilde.
69
Rene C. Zapata, p. 70.
60
Wenham narra: “A história da cura de uma pessoa a ponto de morrer (7.2) é seguida
pela ressurreição de um morto em Naim, uma aldeia ao sul de Nazaré. Jesus sentiu uma
simpatia especial porque a mãe era uma viúva que tinha um só filho para sustentá-la. O morto
era levado em um ataúde aberto. Deixando de lado o fato de que tocar um cadáver o faria
religiosamente impuro, Jesus deteve a procissão fúnebre e ordenou ao jovem que se
levantasse. Esta simples palavra de ordem foi suficiente para devolver a vida ao rapaz e as
pessoas ficaram cheias de uma mescla de terror e gozo ante o sobrenatural. Recordavam que
Elias e Eliseu tinham feito maravilhas semelhantes (1 Rs 17.17-24; 2 Rs 4.18-37) e viram a
mão de Deus em ação”70.
11. OS MENSAGEIROS DE JOÃO BATISTA (7.18-35)
João Batista envia dois discípulos a Jesus para pedir confirmação de que Jesus era o
Messias.
Hendriksen nota: “A fama pelos poderosos milagres de Jesus, que incluíam ressuscitar
mortos, foi crescendo incontidamente. João Batista, que o havia batizado não muito tempo
antes, enviou a dois de seus discípulos para confirmar se Jesus era aquele que ele estava
anunciando. A falta de contato direto entre eles, pelo fato de que João esta preso nesse tempo
foi seguramente o motivo do envio de seus discípulos, para conhecer o que estava
acontecendo, para afirmar sua fé, para assegurar-se, para ter uma confirmação, para poder
esperar no cárcere os acontecimentos”71.
A confirmação de que Jesus era o Messias era que os sinais do reino de Deus estavam
no ministério de Jesus. As profecias de Isaias 61 foram cumpridas. “...os cegos vêem, os
coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e
aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho”. Além disso isso foi uma referência direta aos
líderes e ao povo judeu que rejeitava ao Senhor: “E bem-aventurado é aquele que não achar
em mim motivo de tropeço”.
O ministério ungido do Messias (Lc 4.18-19) é parte da vinda do reino de Deus.
Henry observa: A seus milagres no reino da natureza, Cristo agrega este no reino da
graça. Prega-se o evangelho aos pobres. Indica claramente a natureza espiritual do Reino de
70
71
G. J. Wenham, p. 219.
Rene C. Zapata, pp. 71-72.
61
Cristo, como o arauto que enviou a preparar seu caminho o fez ao pregar o arrependimento e a
mudança de coração e de vida. Aqui se remarca com justiça a responsabilidade dos que não
foram atraídos pelo ministério de João Batista ou do próprio Jesus Cristo. Zombaram dos
métodos que Deus adotou para fazer-lhes o bem. Esta é a ruína de multidões: não são sérios
nos interesses de suas almas. Pensemos no modo de mostrar-nos como filhos da sabedoria
atentando às instruções da Palavra de Deus e venerando os mistérios e a boa nova que os
infiéis e os fariseus ridicularizam e blasfemam”72.
12. JESUS NA CASA DE SIMÃO, O FARISEU (7.36-50)
Lucas continua narrando exemplo após exemplo sobre a verdade de que o Messias
veio para trazer boas novas aos pobres. Neste caso, é uma mulher “da cidade”. Zapata
comenta: “Esta mulher era considerada como algo sem valor na sociedade judia, entretanto,
quando soube que Jesus estava na casa do fariseu Simão, lançou mão de um frasco de
alabastro cheio de perfume e foi lavar os pés de Jesus Cristo”73.
Lucas presta atenção a como Simão, o fariseu, interpreta a ação da “mulher da
cidade”. Pode-se dizer de Simão que ele teve que ser perdoado por não ser pobre de espírito.
“Começou a ungi-lo com perfume, muito possivelmente pago com os ganhos de sua
vida imoral, mas as lágrimas a impediram de terminar a tarefa. Sem dúvida, essas ações eram
indecorosas, mas ela estava sob uma grande tensão emocional para se importar com o que as
pessoas pensavam. O fariseu se sentiu muito incomodado pela forma como Jesus aceitou o
respeito que lhe dava uma pessoa tão indesejável e de modo tão embaraçoso. A percepção de
que Jesus era um profeta se contradisse porque aparentemente ele não tinha consciência de
que a pessoa que estava lhe tocando era uma pecadora e, por fim, impura. Mas Jesus sabia o
que estava acontecendo e fez Simão notar isso por meio de uma parábola com uma mensagem
muito clara: o amor é a prova de que uma pessoa recebeu perdão, e que quanto mais é
perdoada mais amará”74.
O perdão dos pecados da mulher é acompanhado pelo perdão que Simão, o fariseu,
precisava, por não entender a graça de Deus e por não ser, como a mulher arrependida, pobre
de espírito.
72
Matthew Henry, p. 10.
René C. Zapata, p. 74.
74
G. J. Wenham, p. 221.
73
62
13. MULHERES QUE SERVEM A JESUS (8.1-3)
Onde quer que Jesus falava, em qualquer povoado ou aldeia, fosse em uma casa, uma
sinagoga, ou ao ar livre, ele proclamava com entusiasmo e ardor as boas novas do “reino de
Deus”, o reino da graça no qual Deus é Rei e, no qual a salvação é seu dom gratuito a todos os
que confiam nele. Nessa ocasião, Jesus estava com os doze, e também com algumas mulheres
que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Este grupo de mulheres
participava do ministério de Jesus e ajudava a prover suas necessidades e as de seus
acompanhantes varões. De acordo com Henry “isto mostra a baixa condição à qual se
humilhou o Salvador, a ponto de necessitar da bondade delas, e sua grande humildade em
aceitá-las. Sendo rico se fez pobre por nós”75.
“Nos alegra ler que além das três mulheres aqui mencionadas havia “muitas outras”. O
que temos aqui, portanto, é uma verdadeira sociedade feminina”76.
14. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (8.4-18)
Para uma semente crescer, primeiro deve ser semeada, morrer e depois crescer. Os
discípulos entenderam as parábolas, mas depois da morte e ressurreição de Jesus e a vinda do
Espírito Santo puderam lembrar e aplicar esta parábola. A parábola é um excelente método
para lembrar ensinos importantes.
“Jesus ensinava usando histórias da vida cotidiana para ilustrar verdades espirituais ou
morais. Em geral, estas histórias tinham significados ocultos aos olhos comuns. O nome
“parábola” vem da palavra grega “parabole” que significa: pondo ao lado, ou também,
comparando. Pode-se dizer que o termo atual paralelismo seria mais adequado”77.
“Na parábola do semeador há muitas regras e excelentes advertências mui necessárias
para ouvir a palavra e aplicá-la. Bem-aventurados somos, e estamos sempre endividados com
a livre graça; o que para os outros é só um conto que os diverte, é uma verdade clara para nós
pela qual nos ensina e governa.
Devemos tomar cuidado com as coisas que nos impedem de tirar proveito da Palavra
que ouvimos; tomar cuidado para que não ouçamos com negligência e sem atenção; tomar
75
Matthew Henry, p. 10.
William Hendriksen, p. 303.
77
René C. Zapata, p. 78.
76
63
cuidado para que não abriguemos preconceitos contra a palavra que ouvimos; e cuidar para
que nosso espírito, depois de termos ouvido a palavra, não aconteça de perder o que
ganhamos. Os dons que temos perdurarão ou não segundo os usemos para a glória de Deus e
o bem de nossos irmãos. Tampouco basta sustentar a verdade com injustiça; devemos desejar
ter em alta conta a palavra de vida, e que resplandeça iluminando tudo ao redor de nós. Ela dá
grande ânimo àqueles que são fiéis ouvintes da Palavra e praticantes. Cristo os reconhecerá
como seus familiares”78.
15. A LUZ DEVE BRILHAR (8.16-18)
A luz dos ensinos do Senhor deve ser aplicada à vida. Todos os que escutaram a
Palavra tinham um dever moral para vivê-la. Não se deve esconder a luz. Os que agem assim
vão perder a luz. O ministério da palavra vai ser dado aos outros, aos gentios. “...e ao que não
tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado” (8.18).
16. A MÃE E OS IRMÃOS DE JESUS (8.19-21)
“Então”. O ensino sobre ler luz aplica-se também à família de Jesus. A família de
Deus se define, não simplesmente pela naturalidade, mas por seguir a Cristo. “Minha mãe e
meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam”.
“Não nos é revelado porque a mãe e os irmãos de Jesus estavam tentando fazer contato
com ele. Entretanto, é possível que Marcos 3.21-11 lance luz sobre o tema. Se assim é, então
a explicação mais benévola e provavelmente a mais natural seria que alguns comentários
inquietantes acerca de Jesus, por exemplo, que seus oponentes o consideravam
endemoninhado, haviam induzido Maria e aos irmãos de Jesus por afeto natural e
preocupação, a tentar tirá-lo da vista do público e provindenciar um lugar de repouso e
restauração”79.
Num momento tão importante de sua mensagem, apareceu sua mãe Maria e seus
irmãos. Evidentemente a intervenção deles era algo inoportuno, já que o que Jesus falava
tinha a ver diretamente com a extensão do reino de Deus através das pessoas que recebiam a
78
79
Matthew Henry, pp. 10-11.
W. Hendriksen, p. 313.
64
Palavra de Deus em seus corações. Era o momento no qual ele admoestava aos que o seguiam
que deviam transformarem-se inevitavelmente em seus porta-vozes e deviam manifestar ao
mundo o que haviam visto e ouvido. Não há boas referências na Bíblia acerca das relações
entre Jesus e os seus irmãos, que eram filhos de José e Maria”80.
“Isto não significa que de alguma maneira Jesus estivesse rejeitando sua família;
porém sua presença permitiu uma boa ilustração do que ele estava querendo dizer”81.
17. JESUS ACALMA A TEMPESTADE (8.22-25)
A revelação da identidade divina do Filho do Homem é progressiva. Antes Jesus
mostrou, pela pesca milagrosa, que ele era o pescador de homens, agora, Jesus vai mostrar,
por seus feitos, que ele e Deus.
“O lago da Galiléia está rodeado de montanhas com vales estreitos entre elas; estes
formam canais por onde o vento sopra de repente com força, produzindo grandes ondas. A
resposta de Jesus aos discípulos sugere que eles tinham de se dar conta de que, ainda que
estivesse dormindo, nenhum mal poderia sobrevir sobre eles. Não obstante, se levantou e se
dirigiu ao vento e ao mar como se fosse seu dono. Esta “parábola em ação” levou os
discípulos à pergunta correta: Quem é este? A resposta é que Deus é quem governa o mar e
que seu poder estava em ação em Jesus (Salmo 89.8-9; 93.3-4; 106.8-9; 107.23-32; Isaías
51.9-10). Sem dúvida, os discípulos apenas começavam a entendê-lo”82.
18. A LIBERTAÇÃO DE UM ENDEMONINHADO (8.26-39)
Jesus mostra seu domínio sobre o mundo sobrenatural e o natural. O homem foi
libertado de demônios e os demônios foram enviados a uma manada de porcos.
“Quando chegaram ao lado oriental do lago, Jesus veio ao seu encontro um homem
que parecia está possuído por demônios, dado que tinha uma visão sobrenatural de quem era
Jesus. Num outro aspecto, sua condição era similar ao que agora se descreveria como uma
psicose maníaco-depressiva. O cuidado médico daquele tempo não conhecia outro tratamento
a não ser manter os enfermos mentais sob restrições, mas este homem havia superado todos os
80
R. Zapata, p. 80.
G. J. Wenham, p. 223.
82
Ibíd., pp. 223-224.
81
65
intentos de controlá-lo. Sentia que era dominado por um conjunto de impulsos conflitantes e
que estava possuído por tantos demônios quantos soldados romanos haviam em uma legião
romana, ou seja uns 5.000. Jesus teve simpatia por ele e o libertou dos demônios. O homem
pode comprovar que haviam saído dele porque uma manada de porcos próxima, de repente,
mostrou sinais de haver sido possuída pelos demônios. As pessoas que o rodeavam ficaram
aterrorizadas pelo ocorrido e pediram a Jesus que fosse embora. Não podiam reconhecer que
Deus em sua graça havia libertado ao homem de sua carga. Seguramente foi por isso que
Jesus insistiu com aquele homem que fosse para casa. Se as pessoas tinham medo de Jesus,
escutariam a uma pessoa conhecida que podia falar da bondade que Deus havia mostrado por
meio de Jesus”.
Os críticos lamentavam a destruição dos porcos, um grande rebanho do qual as
pessoas dependia para seu sustento, mas pode-se replicar que uma pessoa (sã) vale mais que
muitos porcos. Outros têm sugerido que a história deve explicar-se racionalmente: os porcos
estavam assustados pelos gestos do endemoninhado e saíram correndo para o lago. Porém se
admitimos a possibilidade da possessão demoníaca (ver 4.33), não seria sábio descartar a
explicação dada pelos evangelistas”83.
19. A FILHA DE JAIRO E A MULHER QUE TOCOU O MANTO DE JESUS
(8.40-56).
A restauração da filha do chefe da sinagoga e a cura de uma mulher que padecia de
fluxo de sangue são apresentadas juntas. Todos têm necessidade e a graça de Jesus não faz
acepção de pessoas.
“Não nos queixemos das pessoas, nem de uma multidão, nem da urgência se estamos
no caminho de nosso dever e fazendo o bem, pelo contrário, todo homem sábio se manterá o
mais longe que possa dessas coisas. Mais de uma pobre alma curada, socorrida e salva por
Cristo se acha oculta entre as pessoas e ninguém nota. Esta mulher veio trêmula, mas a sua fé
a salvou. Pode ser que haja temos onde há fé salvadora. – Observa as consoladoras palavras
de Cristo para Jairo: Não temas, tão somente crer, e tua filha será salva. Não era menos duro
não chorar a perda de uma filha única, que não temer a continuação dessa dor; mas na fé
perfeita não há temor; quanto mais temos, menos cremos. A mão da graça de Cristo vai com o
83
Ibíd., pp. 224.
66
chamado de sua palavra pra fazê-la eficaz. – Cristo mandou dar-lhe somente carne. Como
bebês recém-nascidos assim desejam alimento espiritual os recém-ressuscitados do pecado,
para crescer”84.
20. A MISSÃO DOS DOZE (9.1-6)
Os doze apóstolos receberam uma comissão especial para ministrar entre as pessoas. O
ministério dos apóstolos, tal como o de Jesus, é integral e amplo. São enviados para pregar o
reino de Deus, curar os enfermos e lançar fora os demônios. Fazem a obra dos evangelistas,
mestres, pregadores, pastores, médicos e psicólogos.
“Os enviou a pregar o Evangelho do reino de Deus... começou a falar-lhes do reino de
Deus. Pregar o reino (ou: reinado, governo real) de Deus significa nada menos que proclamar
a absoluta soberania de deus em todas as esferas, o coração, a mente, a vida, a família, a
aldeia, a cidade, a nação, o mundo, a educação, a indústria, o comércio, a arte, a ciência, a
política, etc. “E a curar enfermos”. Uma vida em harmonia com a regra “confiar e obedecer”
produz bênçãos tanto para o corpo como para a alma. Deveríamos dar graças a Deus tanto
privada quando publicamente, não somente pelos pastores cristãos, missionários, evangelistas
leigos, mas também pelos doutores e enfermeiros cristãos. “Percorriam todas as aldeias”. O
ministério cristão deve ser realizado não somente nas cidades, mas também nas aldeias; não
somente em espaçosos salões, mas também em capelas. Não atribuiu Spurgeon sua conversão
a um sermão pregado (com a bênção de Deus) por um leigo, em uma pequena capela? O que é
mui pequeno ante os olhos dos homens pode ser muito importante aos olhos de Deus. Veja-se
Miquéias 5.2; Zacarias 4.10; João 1.46”85.
21. A MORTE DE JOÃO BATISTA (9.7-9)
Herodes, que matou João Batista, tinha ouvido que Jesus era João ressuscitado.
Mesmo sendo essa informação incorreta, a ressurreição é uma realidade. A ideia da
ressurreição deve aterrorizar a consciência do homem que matou a um homem inocente como
João Batista. A ressurreição implica em um dia de juízo onde todas as vítimas de abortos
84
85
Mathew Henry, p. 11.
W. Hendriksen, p. 346.
67
provocados, de crianças abusadas, de familiares vítimas de violência e de outras pessoas
maltratadas vão ser testemunhas da maldade de alguém.
“O grande êxito dos discípulos e a excitação tremenda que produziu sua missão indica
o fato de que os relatos de sua obra chegaram até Herodes, o rei, e os fizeram temer no trono.
Não é que temesse o que Jesus poderia fazer; era antes, devido a que houve nesses rumores
algo que despertou sua consciência adormecida e que o encheu de uma perturbação e temor
secretos. “... porque alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos”. Herodes havia
decapitado João, mas não pode apagar a memoria de sua vil ação; e agora se perguntava qual
seria a verdadeira índole dos milagres que se relatavam e do Homem em cujo nome se
realizavam. “E se esforçava para vê-lo”. Era simples curiosidade. Provavelmente queria vê-lo
realizando algum milagre. Não muito depois ele iria ter a oportunidade de estar frente a frente
ao Homem divino, ainda que fosse numa ocasião inesperada na qual o dito Homem estaria
como prisioneiro e na qual Herodes estaria com o poder de oferecer-lhe proteção e ainda,
libertação. Mas, chegada a ocasião, o silêncio de Jesus o desapontou e ele o deixou ir para a
crucificação e morte. Aquele que havia decapitado João não poderia entender a Jesus. Quem
viola sua própria consciência e fecha os ouvidos ás solenes admoestações ao arrependimento,
não pode esperar que Cristo se lhe revele em toda sua beleza, graça e poder salvador”86.
22. JESUS ALIMENTA A CINCO MIL (9.10-17)
Há uma resposta surpreendente ao ministério dos doze apóstolos. Não foi possível
descansar porque as pessoas tinha muita necessidade espiritual e física.
Depois de uma grande excursão pregando o Evangelho, Jesus e os apóstolos quiseram
fazer um retiro em um povoado chamado Betsaida. Zapata comenta: “Seguramente Jesus
sentiu a necessidade de se concentrar em seu treinamento, longe das multidões e dos
problemas religiosos ou políticos. Tal tranqüilidade para compartilhar com seus seguidores
imediatos teve que ficar para depois, pois quando as pessoas souberam que os apóstolos e
Jesus estavam ali, acudiu uma multidão, uns cinco mil, para vê-los e ouvi-los”87.
Toda essa multidão comendo junta simbolizava a unidade desta nova comunidade
cristã, congregada em torno do Senhor Jesus Cristo. Ele é o pão que desceu do céu, como o
86
87
S.a., Comentario Evangelio de Lucas, p. 52.
René C. Zapata, p. 89.
68
maná a seus antepassados, que veio do céu. Todos comeram até ficar satisfeitos, que é a
medida que Deus nos dá sempre. Nesta oportunidade sobraram doze cestos. Os cestos cheios
davam aos discípulos uma prova material dos poderes supremos de Deus e seus propósitos de
alimentar com verdadeiro pão a todos os que têm fome de Deus. Henry expressa: Quando
recebemos consolo por meio de criaturas, devemos reconhecer que o recebemos de Deus, e
que somos indignos de recebê-lo; que tudo, e todo o consolo que tenhamos nele, o devemos à
mediação de Cristo, por meio de quem foi retirada toda a maldição. A bênção de Cristo fará
que o pouco sirva de muito. Ele satisfaz a toda alma faminta; a satisfaz abundantemente com a
abundância de sua casa. – Recolheram-se as sobras: na casa de nosso Pai, há pão suficiente e
ainda pode-se guardar. Não estamos limitados nem temos escassez em Cristo”88.
23. A CONFISSÃO DE PEDRO (9.18-27)
A confusão de Herodes e do povo é esclarecida por Jesus. Ela pergunta aos discípulos:
“Quem dizem as multidões que sou eu?”. A resposta de Pedro é que Jesus é o Cristo, o
Messias, como foi anunciado em Lucas 4.18-19. Mateus adiciona que esta revelação não veio
de Pedro, mas pela iluminação de Deus (Mt 16.17).
Jesus fala do seu sofrimento, morte e ressurreição. O plano de Deus foi estabelecido
antes da fundação do mundo (Ef 1.4). As ameaças de Herodes e a perseguição dos líderes
religiosos são parte do plano de Deus para trazer salvação ao mundo.
Como Jesus ia morrer na cruz, assim os filhos de Deus devem fazer morrer a si
mesmo, “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e sigame”. A morte do Filho do Homem não só é um fato histórico, mas também uma realidade
espiritual para o crente.
24. A TRANSFIGURAÇÃO (9.28-36)
Três dos discípulos, Tiago, João e Pedro, foram testemunhas da transfiguração. Na
transfiguração apareceram Moisés e Elias. Moisés representa a Lei e Elias os profetas. As
hostes celestiais estão atentos à história da redenção na terra.
88
Matthew Henry, p. 12.
69
Só Lucas registra que Jesus estava orando e, portanto, estava em contato com o mundo
celestial. Talvez a história tenha o propósito de mostrar como os olhos dos discípulos foram
abertos para que vissem o que ocorria quando Jesus estava em comunhão com seu Pai (2 Rs
6.17). Sua aparência mudou e suas vestes resplandeceram com uma luz celestial, e junto a ele
apareceram dois homens, que estavam mortos há tempos. Moisés e Elias, que representavam a
lei e os profetas, tiveram ambos, uma partida pouco comum deste mundo e esperava que
ambos reapareceriam ao fim dos tempos. Falavam com Jesus sobre sua partida (gr. êxodos) ou
seja, sua morte e ressurreição, e dessa forma confirmavam o que Jesus havia profetizado no v.
22. Pedro sentiu que deviam fazer três tendas para Jesus e os visitantes, para honrá-los ou para
prover algum lugar onde pudessem ficar. Mas, o narrador insiste em que Pedro não havia
entendido qual era a situação. O verdadeiro significado devia encontrar-se na nuvem (um
símbolo da presença de Deus) e na voz celestial que repetiu o que havia sido dito no batismo
de Jesus (Lc 3.22), mas desta vez, dirigindo-se aos discípulos. Aquele Jesus a quem Pedro
havia confessado como Messias era realmente o Filho de Deus; não apesar de seus iminentes
sofrimentos, mas por causa deles. Portanto, os discípulos deviam obedecê-lo, e só a ele”89.
O testemunho do Pai é por uma voz que dizia: “Este é meu Filho amando; a ele ouvi”.
Deus o Pai, é uma pessoa divina tal como o Filho de Deus é uma pessoa divina. Não são a
mesma pessoa. Não é que Deus primeiro se manifesta como Pai e depois como Filho
(modalismo), mas cada pessoa da trindade fala por si.
25. JESUS CURA A UM RAPAZ ENDEMONINHADO (9.37-45)
Na transfiguração Deus o pai fala de Seu Filho amado. Ao descer do monte, Jesus e os
discípulos são encontrados por um pai cujo único filho é atormentado por um demônio. Os
discípulos não puderam livrar ao jovem, mas Jesus pode.
“Quão deplorável é o caso deste menino” Esta sob o poder de um espírito maligno. As
enfermidades dessa natureza são mais aterradoras que as que surgem de simples causas
naturais. Quanta maldade Satanás faz quando toma posse de uma pessoa! Mas bemaventurados são os que têm acesso a Cristo! Ele pode fazer por nós o que os discípulos não
89
G. J. Wenham, pp. 228-229.
70
puderam. Uma palavra de Cristo curou ao menino e quando nossos filhos se recobram da
enfermidade, nos consola recebê-los como curados pela mão de Cristo” 90.
Jesus “repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai”.
Libertação, cura e restauração família. Tudo é obra de Deus.
Apesar da grandeza da obra de Deus, Jesus menciona pela segunda vez que “o Filho
do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens”. Os espíritos maus, ele poderia
expulsá-los, porém o pecado dos homens precisa da morte e da ressurreição do Filho do
Homem.
26. QUEM É MAIOR? (9.46-50)
“Agora suscitou-se entre eles uma disputa sobre quem era o maior; por um lado, um
maravilhoso autossacrifício e por outro, egocentrismo baixo. Com o intento de gravar nesses
homens a lição que tão desesperadamente precisavam, Jesus toma uma criança junto a si. Em
relação a isso não deve escapar-nos que quando Jesus fala de “crianças” está pensando em
traços característicos tais como a falta de pretensões e a confiança humilde. Assim,
considerados, “os pequeninos do Senhor” não são necessariamente jovens na idade e
pequenos da estatura física, mas todos os que revelam as características espirituais
mencionadas acima”91.
Os filhos dos homens devem receber o Filho do Homem. Ao receber o Filho do
Homem, recebem ao Filho de Deus, e “recebe ao que me enviou”. Recebe-se o Filho do
Homem por receber sua Palavra (8.14-15) e por fazer brilhar a luz do Evangelho (8.16-21).
CONCLUSÃO
O Filho do Homem, o Messias, veio para trazer e pregar boas novas aos pobres. Para
fazer isso o Senhor preparou seus discípulos. A pesca maravilhosa está relacionada com fazer
os discípulos de pescadores de homens. Jesus preparou aos discípulos para serem apóstolos;
para serem enviados para pregar; com autoridade sobre demônios e com poder para curar.
90
91
Mathew Henry, p.12.
W. Hendriksen, p. 372.
71
O Filho do Homem mostrou sua compaixão pelo ser humano livrando-o de espíritos
malignos e curando-os de várias enfermidades. Mesmo assim, os líderes religiosos iam
entregar o Filho do Homem para ser crucificado.
Os inimigos do Filho do Homem: os líderes religiosos e políticos, os “ricos” que
rejeitaram João Batista, rejeitaram ao Senhor e vão rejeitar aos discípulos do Senhor. Por isso,
os discípulos devem receber o Filho do Homem, obedecer a Sua Palavra, ser luz num mundo
de trevas e assim, receber as bênçãos de Deus.
72
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 4
1. Qual foi a resposta de Pedro ao milagre da pesca maravilhosa?
2. Qual foi a resposta de Jesus aos fariseus quando arrazoavam?
3. Para que Jesus veio, segundo a sua resposta aos fariseus e publicanos?
4. O que os fariseus não tinham lido nas Escrituras segundo o Senhor Jesus?
5. A quem se assemelha aquele que ouve a Palavra de Deus?
6. Quem se recusou a ser batizado por João Batista, rejeitando o propósito de Deus
sobre eles?
7. O que foi que salvou a mulher pecadora na casa do fariseu que convidou Jesus para
comer e o que foi que convenceu o centurião que seu servo seria curado com apenas uma
palavra de Jesus?
8. Segundo o capítulo 8 de Lucas, quem acompanhava Jesus pelos povoados e aldeias,
e o que proclamavam?
9. Quando Jesus subiu ao barco com seus discípulos, o que aconteceu no lago? O que
sentiram os discípulos? E o que Jesus fazia enquanto isso acontecia?
10. No capítulo 9 de Lucas relata-se que Jesus subiu a um monte para orar. Quem o
acompanhava? E, com que Jesus se encontrou e conversou?
73
LIÇÃO CINCO
O MINISTÉRIO EM PERÉIA E JERUSALÉM (9.51-19.27)
Luis Pieschacon y Mara Parra
INTRODUÇÃO
Lucas nos mostra que Jesus, como Filho do Homem, veio buscar aos perdidos,
humildes e desamparados; Mas, também salvou ricos ou “importantes” como Mateus,
Zaqueu, Paulo, etc. O que Lucas deixa claro é que cada uma dessas pessoas com privilégios
materiais ou com renome que o Senhor alcançou, reconheceu a pobre condição espiritual em
que se encontrava, e sua necessidade de um encontro com o Salvador do mundo.
1. JESUS E SEUS DISCÍPULOS (9.51-10.24)
Jesus repreende a Tiago e João (9.51-56)
Os judeus habitualmente alongavam o caminho desde a Galiléia até Jerusalém
rodeando Samaria porque consideravam os samaritanos impuros. Ainda assim, o Senhor
decidiu cruzar a cidade, mas os samaritanos não quiseram recebê-lo, e por isso estes
discípulos indignados lhe propuseram carnalmente ao Senhor fazer fogo descer do céu para
destrui-los. Jesus os repreendeu. “Nos é muito fácil dizer: Venham, vejam o zelo pelo Senhor!
E pensar que somos muito fiéis à sua causa, quando estamos seguindo nossos próprios
objetivos e até fazendo mal ao próximo”92.
Os que queriam seguir a Jesus (9.57-62)
Muitos queriam seguir ao Senhor. Um homem disse: “te seguirei a onde fores”; Jesus
o desanimou dizendo-lhe que sua missão era totalmente dependente de Deus. Outro disse que
ante tinha que sepultar seu pai. Jesus lhe informou que sua missão não se podia postergar.
Outro quis despedir-se de sua família. “Qualquer pessoa que começa a servir a Deus em seu
92
Henry, p. 12.
74
ministério é um soldado total, alistado para sempre, sem uso do próprio critério do que está
bem ou mal, pelo contrário, como uma criança, confiante, decidido até à morte”93.
Missão dos setenta (10.1-12)
Lucas é o único que registra que Jesus mandou outro grupo de discípulos a fazer a
obra missionária. Setenta homens deviam ir com simplicidade, sem perder tempo, aceitar a
hospitalidade dos que lhe oferecessem, sem impor condições. Sua mensagem: o Reino de
Deus havia chegado; os sinais: as obras poderosas que fariam. Se a mensagem não fosse
recebida, deveriam dar-lhes uma advertência sobre o juízo de Deus.
Ais sobre as cidades impenitentes (10.13-16)
Jesus comentou sobre o destino das cidades que haviam rejeitado sua mensagem no
dia do juízo. Os judeus consideravam que as cidades pagãs da antiguidade eram
absolutamente ímpias. Quando se diz que elas teriam uma resposta mais cálida ao Evangelho,
que essas cidades judias era uma forma de declarar a cegueira dos judeus ao Evangelho.
Finalmente, Jesus enfatizou que os discípulos deviam ser representantes pessoais e, portanto,
representantes de Deus.
Regresso dos setenta (10.17-20)
Os setenta regressaram com alegria por sua missão cumprida. Mesmo os demônios se
submetiam a eles em nome de Cristo. Jesus os corrige. Sua alegria principal não devia
fundamentar-se em obras extraordinárias, mas, em participar de sua causa triunfante e receber
a salvação.
Jesus se regozija (10.21-24)
Jesus agradeceu a Deus porque sua revelação fora dada às pessoas comuns, e que não
estava ligada à sabedoria humana. Sua oração terminou com uma confissão de que esse
93
Zapata, p. 97.
75
conhecimento lhe havia sido dado pelo Pai. Os discípulos haviam recebido esse conhecimento
da parte do Filho. As pessoas do passado podem ter visto com agrado a vinda do Reino, mas
só aos discípulos foi concedido ver e ouvir o Filho de Deus.
2. JESUS ENSINA SOBRE O AMOR AO PRÓXIMO E A DEUS (10.25-42)
O bom samaritano (10.25-37)
Jesus ensinou que não os ouvidores da lei que terão a vida eterna, mas os que a
praticam, e é impossível cumprir a lei sem a graça de Deus. Para os religiosos, o próximo era
uma minoria integrada por judeus e gentios convertidos ao judaísmo. Muitos, como acontece
hoje, evitavam aqueles que tinham um fé ou cultura diferente. “A história que Jesus contou
serviu para ampliar o conceito de próximo que os judeus tinham nesse momento, mostrando
que as pessoas devem entregar seu amor de todo coração, tal como Deus o faz, enquanto que
as ações do sacerdote e do levita mostraram que estavam seguindo a letra e não ao espírito da
lei”94.
Jesus visita Marta e Maria (10.38-42)
Estas duas irmãs adotaram atitudes completamente diferentes. Maria valorizou a
magnífica oportunidade de estar ante Jesus e não queria perder seus gestos ou palavras. As
obrigações de Marta, entretanto, a retiveram em outras tarefas. Sua indignação crescia até que
explodiu, repreendendo também a Jesus. Elas representam dois tipos de atitudes dos que
seguem ao Senhor: “Alguns têm um espírito de trabalho e luta, e lhes parece que se eles se
movimentam, trabalham com afinco, com muito esforço, então o Reino de Deus
verdadeiramente se estenderá sobre a terra. Estes seriam as Martas. Mas, há outros que se
animam a confiar e a esperar no Senhor e mais que andar revolucionando tudo, se dedicam a
orar, aprender, agradecer e escutar a Deus, em uma atitude melhor, de repouso, fé e confiança.
Jesus disse que essa era a melhor parte”95.
94
95
Zapata, pp. 100, 101.
Zapata, pp. 101, 102.
76
3. JESUS ENSINA A ORAR (11.1-13)
Jesus e a oração (11.1-13)
Em Lucas apresenta-se a oração cristã de uma forma mais breve que em Mateus. Esta
contém uma invocação e dois pedidos. “Pai traduz o aramaico Abba; Jesus convida seus
seguidores a usar o mesmo termo íntimo que ele usava para dirigir-se a Deus. Santificado seja
o teu nome é a primeira das duas petições relativas ao próprio Deus. Que seu nome, ou seja,
sua pessoa, seja honrado por todo o mundo. Venha o teu reino. Que o governo de Deus, em
paz e justiça, chegue a ser uma realidade. Depois as necessidades pessoais são mencionadas, a
oração de o pão nosso de cada dia. Esta petição pode ser não só por comida mais também
pelo pão da vida, o dom de Deus sem o qual não podemos viver. Depois, há uma oração por
perdão diário, concedido só àqueles que perdoam a outros. Finalmente, o que está pedindo,
pede para ser preservado da prova que poderia debilitar sua fé.
Lucas presta atenção ao ser ativo na oração. “Pois todo o que pede recebe; o que busca
encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á”. Três vezes Jesus repete a mesma verdade: ao pedir,
buscar ou clamar Deus vai responder.
4. JESUS E OS INIMIGOS DO REINO DE DEUS (11.14-12.3)
Uma casa dividida contra si mesma (11.14-23)
Quando Jesus expulsou o demônio que tinha estava no homem mudo, alguns pensaram
que ele o fez no poder de Belzebu (príncipe dos demônios). Jesus apelou à racionalidade
dizendo-lhes que é impossível que um reino lute contra si mesmo. Como os benefícios
recebidos são contrários aos interesses do reino das trevas que consistem em roubar, matar e
destruir, aquilo só poderia ter sido pelo reino de Deus. “Tudo o que serve para aproximar as
pessoas de Deus, para que pelo novo nascimento entrem no reino de Deus, tudo o que traz ao
homem cura, libertação e bênção, nunca será feito pelo Diabo, pelo contrário é o Reino de
Deus que está em operação”96.
96
Zapata, p. 105.
77
O Espírito imundo que volta (11.24-26)
O objetivo dessa passagem não é satisfazer a curiosidade sobre os demônios, mas
advertir sobre o perigo de um falso arrependimento. Essa é a condição do hipócrita. A casa é
varrida superficialmente por uma confissão forçada, como a de Faraó; por uma contrição
fingida como a de Acabe; ou por uma reforma parcial como a de Herodes. “A casa está
varrida, mas não lavada; o coração não está santificado... Nunca foi entregue a Cristo nem
habitado pelo Espírito”97.
Os que na verdade são bem-aventurados (11.27-28)
Enquanto os escribas e fariseus blasfemavam dos discursos de Jesus, a mulher dessa
passagem o admirava. Daí surgiu sua bênção sentimental: “Bem-aventurada aquela que te
concebeu, e os seios que te amamentaram!” Mas Cristo conduziu a esta mulher a uma
consideração mais elevada. Ainda que seja um grande privilégio ouvir a Palavra de Deus, só
são abençoados de verdade, os que a obedecem.
A geração perversa pede um sinal (11.29-32)
Ante os que seguiam o Senhor para ver milagres e sinais, ele disse que o único sinal
que lhe seria dado era o sinal do profetas Jonas, que esteve três dias nas profundidades do
corpo de um grande animal marinho. A missão do Senhor foi tão importante que é um
sacrilégio minimizar a mensagem do Evangelho, reduzindo-a à exibição de manifestações
divinas.
A Lâmpada do corpo (11.33-36)
Quando se acende uma lâmpada não é para ver algo escondido. Jesus denuncia os
fariseus que o viam sempre com má predisposição, e que viviam completamente em
escuridão. “O olho deve ter uma visão equânime, imparcial, e ver a realidade com
honestidade, já que o ponto de vista preconceituoso, como tinham os fariseus e muitos
97
Henry, p. 15.
78
também na atualidade, impede uma visão clara da realidade”98. Como diz o ditado popular:
“O pior cego é o que não quer ver”.
Jesus acusa aos fariseus e intérpretes da lei (11.37-54)
Jesus visitou a casa de um fariseu para uma refeição. Os fariseus se lavavam antes de
comer, não para limpar o corpo, mas para remover a impureza do pecado pelo contato com
pecadores. Jesus os criticou. Se Deus fez o exterior e o interior das pessoas, o interior também
deveria ser limpo. Os mestres da lei haviam criado as regras triviais da lei e punham carga aos
demais, mas eles mesmo não podiam carregá-las. Ainda que construíssem tumbas com muitos
ornamentos para os profetas, eram semelhantes aos seus antepassados que os haviam matado,
ignorando sua mensagem.
O fermento dos fariseus (12.1-3)
Jesus disse a seus discípulos cuidassem para não se contaminar com os fariseus e com
suas hipocrisias. Os fariseus sabiam claramente seu sistema de doutrina, mas o que lhes
faltava era a graça de Deus, a relação com Deus, a humildade; estavam atados a suas crenças
judias, mas não tinham o Espírito de Deus dirigindo suas vidas. O fermento irritante para
Jesus era a hipocrisia. A transparência é o requisito mais importante de um homem que segue
a Deus. Tudo o que é oculto, mesmo que pensamento, será exposto à luz.
5. JESUS ENSINA SOBRE COMO RECEBÊ-LO E SEGUI-LO (12.4-14.35)
A quem se deve temer (12.4-7)
Jesus ensinou que não se devia ter medo nem mesmo daqueles que matam o corpo,
pois nada mais podem fazer. Nada sucederá a um cristão que Deus não permita, pois tudo está
debaixo de seu controle, e Ele valora a cada um muito mais do que a qualquer pardal. A
exortação implícita é “Confiai e temei”.
98
Zapata, p.108.
79
O que me confessar diante dos homens (12.8-12)
Jesus promete que confessará ou conhecerá ante os anjos de Deus aqueles que o
confessam. “A mensagem levada pelos discípulos não devia ser uma mera recitação de
palavras memorizadas. Ao contrário, os corações deviam está nessa mensagem. Sua pregação
devia consistir em dar testemunho”99. O Espírito Santo é o que se encarrega de formar em nós
a imagem de Jesus e quem nos relaciona com o Pai. Por isso, é impossível que seja perdoada a
blasfêmia contra Ele.
O rico insensato (12.13-21)
Ainda que a igreja ofereça princípios morais ao ser humano, o âmbito da igreja é
espiritual. Por isso Jesus se negou a partir a herança, pois viu que o homem deixou de lado a
lei civil e buscou, com avareza, o seu apoio. Jesus admoestou a multidão sobre a avareza,
contando-lhes a história de um rico que acumulava bens para desfrutar deles em anos
posteriores, e que de repente, se viu ante a morte e o fato de deixar para outros aquilo que
possuía. Sua loucura foi esquecer que a fortuna e a própria vida dependem da vontade e da
bondade de Deus.
A ansiedade (12.22-31)
A comida, o vestir e a casa são necessidades humanas básicas. Jesus não
desconsiderou essas necessidades, senão que colocou em primeiro lugar o que vem de cima.
Ele exige uma atitude de fé que rompe com as estruturas humanas internas. As pessoas
alcançadas pelo Evangelho perdem primeiramente o medo, já que Deus não nos dá espírito de
temos, mas de poder, amor e domínio próprio. Quem busca em primeiro lugar ter atendidas
todas as suas necessidades, nunca terá uma boa relação com Deus nem uma participação mais
eficaz na extensão do Seu Reino.
Tesouros no céu (12.32-34)
99
Hendriksen, p. 468.
80
Os tesouros celestiais não perdem seu esplendor: “uma fidelidade que jamais será
tirada” (Sl 89.33; 138.8), uma vida que nunca terminará (Jo 3.16), uma fonte de água que
nunca cessará de fluir dentro daquele que bebe dela (Jo 4.14), uma dádiva que jamais se
perderá (Jo 6.37, 39); uma mão da qual ninguém poderá jamais arrebatar uma ovelha do Bom
Pastor (Jo 10.28), uma cadeia que não poderá ser quebrada jamais (Rm 8.29, 30), um amor do
qual nunca poderemos ser separados (Rm 8.39), um chamado que não será revogado jamais
(Rm 11.29), uma fundamento que nunca será destruído (2 Tm 2.19) e uma herança que não se
manchará jamais (1 Pe 1.4, 5)”100.
Jesus, causa de divisão (12.49-53)
Jesus não queria que seus seguidores pensassem que seu Reino poderia ser
estabelecido sem conflitos. A era presente é de lutas e divisões, e o próprio Mestre seria a
causa das mesmas. Sua obra necessariamente provoca oposição, mesmo no interior das
famílias.
Como não reconheceis este tempo (12.54-56)
As multidões seguiam-no sem crer, e Jesus recriminou sua ignorância. Eles sabiam
interpretar os sinais do tempo, predizer com acerto se choveria ou faria sol, mas não pôde ver
que Ele era o Cristo, o Salvador do mundo. Ele os exorta a que se arrependam antes que seja
tarde.
Acerta-te com o teu adversário (12.57-59)
As pessoas deveriam ser suficientemente prudentes para chegar a um acordo com o
adversário enquanto se dirigiam para a sala do tribunal, antes que fosse pronunciada a
sentença; deveriam ver que seria sábio buscar a paz com Deus antes de que o dia de
misericórdia e graça passe.
Arrependei-vos ou perecereis (13.1-5)
100
Hendriksen, p. 479.
81
A torre de Siloé havia sido derrubada matando dezoito pessoas. O conceito do desastre
pessoal como resultado do pecado estava profundamente arraigado nos judeus. Jesus não só
refutou isso, mas também enfatizou que sem uma conversão genuína ninguém se salva, todos
perecem. Isto aplica-se não só aos galileus do acidente, mas a todos. “Cada pessoa deveria
examinar seu coração e vida e fazer-se a pergunta: ‘Tenho me arrependido verdadeiramente e
ponho toda a minha confiança em Deus, servindo só a ele?’. Se não, que peça misericórdia a
Deus, porque ‘se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis’”101.
Jesus cura a uma mulher no dia de repouso (13.10-17)
Jesus curou uma mulher no sábado. O chefe da sinagoga argumentou que, como a vida
não estava em jogo, a cura poderia ter sido realizada em outro dia da semana. Com isso, ele
pretendia velar pelo cumprimento da lei, mesmo que negasse seu princípio essencial, o amor.
Sua interpretação da lei era absurda, porque impedia uma obra de misericórdia que, no
sábado, não só era permitida, mas também necessária. Jesus não insinuou que ia abolir o dia
de repouso; só quis devolver ao sábado o verdadeiro espírito de adoração, amor, liberdade e
gozo.
Lamento de Jesus sobre Jerusalém (13.31-35)
Alguns fariseus advertiram a Jesus que fugisse dos domínios de Herodes. Herodes não
podia fazer mal a Jesus, porque no momento, ele continuaria seu ministério. A cidade que
havia rejeitado os mensageiros de Deus, fez Jesus lamentar. Mesmo frente ao amor e a
compaixão de Jesus, Jerusalém seguia em sua rejeição. Portanto, seu templo estaria vazio da
presença de Deus e não veria Jesus senão até que o recebesse como o Messias, ou como Juiz.
No ano 70, cerca de 37 anos depois da morte de Jesus, o templo foi destruído pelos romanos.
Jesus cura um hidrópico (14.1-6)
101
Hendriksen, pp. 492, 494.
82
Jesus foi comer na casa de um fariseu importante, num dia de sábado. Na casa do
fariseu, achou-se um enfermo que sofria de hidropisia. Como havia outros convidados que era
experts da lei, Jesus lhes perguntou se era permitido curar o enfermo ou não. Todos ficaram
calados, então Jesus o curou e o despediu. O Senhor enfrentou a hipocrisia dos religiosos e
lhes mostrou a necessidade de ajudar aos demais ainda que fosse no dia de sábado.
O que custa seguir a Jesus (14.25-33)
Em sua viagem a Jerusalém, Jesus se volta para as multidões e lhe diz que a devoção a
ele deve ser tão completa e de coração que nem mesmo a lealdade aos pais e aos outros
membros da família deve se interpor nisso. Na passagem de Mateus 10.37 fica claro que o
sentido de odiar na passagem de Lucas é amar menos. Em todas as coisas Cristo sempre deve
ter a preeminência (Cl 1.18). Jesus convida-os a calcular este custo e depois, considerar se
devem segui-lo.
Como o sal perde seu sabor (14.34-35)
O discípulo de Cristo será posto a prova de alguma forma. Como discípulos
procuremos ser cuidadosos para não relaxar quanto a nossa profissão de fé; que possamos ser
o bom sal da terra, para salgar aqueles que nos rodeiam com o sabor de Cristo.
6. JESUS ENSINA COM PARÁBOLOAS (15.1-16.15)
Lucas apresenta uma série de parábolas que apóia o ensino de Jesus de que o reino do
céu é para os humildes que recebem a palavra de Deus e a põe em prática.
PARÁBOLAS
ENSINO
Exortação à
Jesus ordenou os seus discípulos a vigiar. Ilustrou esta atitude com
vigilância: O
duas parábolas, a do senhor que regressa e a do ladrão. Na primeira, o
Servo vigilante e senhor foi a um casamento, seus empregados estão atentos e tudo está
O servo infiel
preparado para recebê-lo. Ao chegar, fica tão prazeroso com a
(12.35-48)
fidelidade que deseja compartilhar o banquete com eles.
83
A outra parábola ilustra que não se sabe quando o ladrão vai chegar;
pelo que devem está preparados. Se o servo tira vantagem da ausência
de seu senhor, será surpreendido com seu retorno, e descobrirá que seu
destino é com os infiéis. No juízo celestial, ser ou não culpável, não é
um simples assunto; há vários graus de juízo e de recompensa.
Da figueira
A advertência é clara: a figueira, a menos que dê fruto, será cortada.
estéril (13.6-9)
Esta parábola refere-se em primeiro lugar, ao povo judeu, mas, sem
dúvida é para despertar a igreja visível. Deus tolerará por muito tempo,
mas nem sempre o fará.
Da semente de
A planta que nasce da semente de mostarda chega a crescer tanto como
mostarda (13.18- uma árvore. Seus ramos adquirem rigidez e muitas aves encontram
19)
nela abrigo e sombra. De forma similar, o Reino de Deus cobre com
sua graça a todo o que crer em Jesus Cristo, o qual se estenderá por
toda a terra.
Do fermento
O reino dos céus também é como uma pequena porção de fermento
(13.20-21)
que ao misturar-se com a massa a faz crescer. Não é uma instituição
humana, mas espiritual, que abarca as pessoas em todo o mundo. Seu
agir se vê em todos os âmbitos da vida e da cultura.
A porta estreita
Jesus comparou as bênçãos de seu Reino a um banquete em um
(13.22-30)
palácio. A porte de entrada do palácio é estreita, e muitos convidados
não querem entrar. Quando a porta se fecha, os que antes não haviam
querido entrar suplicam, em vão, ao Dono da casa que volte a abrir a
porta. Ficam excluídos para sempre, e o remorso e o pesar os oprimem.
A porta estreita é a do arrependimento e fé em Cristo; a oportunidade
para entrar é atual, mas não é perpétua.
Os convidados
Na festa das bodas seria melhor sentar-se em um lugar inferior e
para as bodas
esperar ser convidado a ocupar um assento de maior posição. Deus
(14.7-14)
exalta aos humildes e humilha aos orgulhosos. Jesus está condenando a
atitude de fazer o bem para receber uma recompensa tangível ou uma
recompensa celestial maior e mais duradoura. Devemos fazer o bem
aqueles que não nos podem dar nada em troca, e deixar o
reconhecimento e as recompensas com Deus.
84
Parábola da
Um homem convidou muitas pessoas para um banquete, mas os
grande ceia
convidados começaram a desculparem-se e romper o compromisso
(14.15-24)
assumido. Ante as desculpas dos convidados, o homem convidou os
pobres, desvalidos e estranhos. O servo que os contatou representa
Jesus, os fariseus e mestres da lei seriam os primeiros convidados ao
banquete celestial, mas ao rejeitar o convite de Deus, aqueles que estão
à margem da sociedade seriam os beneficiados.
Quando o sal
O discípulo de Cristo será posto à prova de alguma forma. Sem vacilar
perde seu sabor
procuremos ser discípulos e sejamos cuidados para não relaxarmos
(14.34-35)
nem nossa profissão de fé; que possamos ser o bom sal da terra, para
salgar aqueles que nos rodeiam com o sabor de Cristo.
Da ovelha
A ovelha perdida representa o pecador separado de Deus e exposto à
perdida (15.1-7)
ruína. Jesus declara seu papel de Pastor, com sua missão de cuidar de
cada uma de suas ovelhas. Ele se preocupa com o destino de cada
individuo sob seu cuidado. Não significa que Deus valore a uma
ovelha mais do que a noventa e nove, mas que compreende e perdoa
àqueles que saem de seu caminho.
Da moeda
Se uma mulher perde uma moeda e a busca, muito mais o Pastor de
perdida
ovelhas fará com cada pessoa que tem sob seu cuidado. “Os anjos têm
(15.8-10)
acesso direto a Deus e estão atentos às vicissitudes das pessoas, igrejas
e nações e celebram com o Pai cada triunfo obtido na terra com
expressões de alegria”102.
Parábola do
Esta parábola mostra a natureza do arrependimento e a prontidão do
filho pródigo
Senhor para acolher bem e abençoar a todos os que voltam-se para Ele.
(Lucas 15.11-
Depois que o filho mais novo gastou sua parte da herança, sua pobreza
32)
e solidão produziram nele desespero e arrependimento sincero. Seu
pai, lhe deu boas-vindas, e deu ordens para celebrar. O irmão mais
velho representa a todos os que carecem de misericórdia para com os
perdidos, e agem com egoísmo e acusação.
Do mordomo
102
O mordomo dessa passagem defraudou os bens de seu senhor. Todos
Zapata, p. 129.
85
infiel (16.1-15)
somos passíveis da mesma acusação; não tiramos o proveito devido do
que Deus nos tem encarregado. A astúcia do mordomo não nos é
colocado como um exemplo, nem para justificar a desonestidade, mas
para sinalizar o cuidado que têm os homens mundanos. Bom seria que
os filhos da luz aprendessem dos homens do mundo e com igual
diligência, trabalhassem por um melhor objetivo.
Parábola da
Se um juiz que não honra as leis de Deus pode ser induzido a agir
viúva e do juiz
pelos clamores incessantes de uma viúva, quanto mais agirá Deus para
iníquo (Lucas
ajudar o seu povo quando clamar a ele. “Não pode haver dúvidas do
18.1-8)
fato de que ainda haverá crentes na terra quando o Filho do Homem
regresse. Mas, haverá essa fé, a fé perseverante como a dessa
viúva?”103.
Parábola do
O cobrador de impostos era considerado demasiadamente impuro para
fariseu e do
aproximar-se de Deus. Jesus falou sobre a atitude de autossuficiência,
publicano (18.9-
justiça própria e condenação para com os demais que tinha o fariseu,
14)
que contrastava com a atitude do cobrador de impostos, que consciente
de suas falhas e da condenação que em geral recebia da comunidade,
orava sinceramente a Deus, pedindo-lhe perdão por seus pecados.
Jesus deixou claramente estabelecida uma das leis mais importantes do
Reino de Deus, que é a humildade e o não exaltar a si mesmo104.
Parábola das dez
O relato recorda a parábola dos talentos, e sinaliza o castigo dos
minas (19.11-
inimigos juramentados de Cristo e dos fariseus professos. A diferença
27)
principal está em que a mina dada a cada um parece apontar a dádiva
do Evangelho, que é a mesma para todos os que o ouvem; mas os
talentos parece indicar que Deus dá diferentes capacidades e vantagens
aos homens, pelas quais podem melhorar de maneira diferente este
dom único do Evangelho.
As parábolas de Jesus afirma o tema do livro: que o Filho do Homem vem, por graça
(pai bondoso, juiz justo, mordomo fiel) para buscar aos perdidos (ovelha perdida, moeda
103
104
Hendriksen, pp. 564, 565.
Zapata, p. 143.
86
perdida, filho pródigo, publicano) e os discípulos devem ser semelhantes ao Filho do Homem
(servo fiel, porta estreita, árvore com fruto, semente, a grande ceia, convite para as bodas, dez
minas).
7. JESUS ENSINA SOBRE A LEI (16.16-31)
A lei e o Reino de Deus (16.16-17)
Jesus anuncia um novo pacto, uma nova época na relação entre Deus e o homem.
Desde a vinda de João há boas notícias do Reino de Deus e todos se esforçam por entrar nele.
“Neste reino as leis se cumpriram de uma maneira diferente, com o próprio Deus vivendo no
coração dos homens pelo Espírito Santo”105.
Jesus ensina sobre o divórcio (16.18)
Jesus dá um exemplo do caráter permanente da lei moral, em oposição aos intentos
dos fariseus de se esquivar dela. Jesus declara que todo aquele que se divorcia de sua esposa e
se casa com outra comete adultério e o homem que se casa com uma divorciada também
comete adultério. Seguindo o conceito de que os seguidores de Cristo têm o Espírito de Deus
e que seus corpos são templos do Espírito Santo, seriam impossível levar uma vida motivada
pelos próprios gostos ou prazeres. Neste entendimento, o divórcio é impensável para um
cristão.
O rico e Lázaro (16.19-31)
O pecado deste rico era que só pensava em si mesmo. Nunca se interessou por Lázaro.
Nem no inferno pede perdão. O condenado ao inferno não terá o mínimo alívio de seu
tormento. Os pecadores são chamados agora a se reavaliarem, mas se morrerem em seus
pecados, não há saída porque acabaram do mesmo modo. O rico tinha cinco irmãos e queria
detê-los em seu rumo pecaminoso; entretanto, um mensageiro vindo dos mortos não poderia
105
Zapata, p. 134.
87
dizer mais do que é dito nas Escrituras. A mensagem do Cristo ressuscitado não ia mudá-los,
como não mudou aos judeus obstinados antes e depois da ressurreição de Cristo.
8. JESUS ENSINA SOBRE A FÉ E A FIDELIDADE (17.1-19.27)
Inevitabilidade do escândalo (17.1-6)
Jesus advertiu seriamente a seus discípulos sobre a possibilidade de se tornarem a
causa de outros pecarem. Seria melhor que tais pessoas fossem afogadas antes de poder
realizar sua má ação e sofrer o destino reservado para os tentadores. Pelo contrário, os
discípulos deviam ajudar a qualquer membro de seu grupo que caiu em pecado mostrando-lhe
seu erro e estando dispostos a perdoar, com a freqüência que seja necessária106.
Aumenta-nos a fé (17.5-6)
Como conseqüência da advertência que Jesus fez aos discípulos, estes pediram que
Jesus lhes aumentasse a fé. A fé não é somente para fazer milagres, a fé é sumamente
necessária para a vida cristã cotidiana. É fruto do Espírito Santo, é um dom de Deus, segundo
a Bíblia.
O dever do servo (17.7-10)
“O Senhor tem direito sobre toda criatura como nenhum homem pode ter sobre outro;
Ele não tem nenhuma obrigação com eles por seus serviços, nem os servos merecem nenhuma
recompensa sua”107.
Dez leprosos são curados
106
107
Wenham, p. 253.
Henry, p. 21.
88
Esta passagem está relacionada com o poder de Deus e com o agradecimento que
devem experimentar as pessoas pelos dons recebidos de Deus. É interessante a afirmação de
Jesus, que depois de haver perguntado pelos outros nove, disse ao único agradecido: “vai a tua
fé te salvou”. Esta aparente contradição é pelo fato de que o doador e consumador da fé,
mesmo da que nós temos, é o mesmo Deus.
A vinda do Reino (17.20-37)
O reino de Deus está sendo estabelecido desde a chegada de Jesus. Trata-se de nascer
de novo, receber a vida de Deus e experimentar a libertação do reino das trevas. “Quando
Jesus vier julgar o mundo, os pecadores serão achados totalmente descuidados, porque, de
forma semelhante, os pecadores da época andarão em seus maus caminhos achando-se
seguros, sem lembrar do seu fim próximo. Onde que se que achem os ímpios, marcados para a
ruína eterna, serão alcançados pelos juízos de Deus”108.
Jesus abençoa as crianças (18.15-17)
Ninguém é demasiado jovem para ser levado a Cristo. Ele sabe mostrar bondade aos
incapazes de prestar-lhe um serviço. A promessa é para nós e para nossa descendência. Ele os
receberá conosco. “Devemos receber seu reino como crianças, não comprá-lo, e devemos
considerá-lo um presente de nosso Pai”109.
O jovem rico (18.18-30)
Este rico não podia aceitar a condição de Cristo de abrir mão de seu patrimônio
Muitos, depois de lutar com suas convicções e corrupções, deixam as últimas vencerem.
Como eles devem deixar um deles, deixarão a Deus, não a sua ganância mundana. Os homens
são dados a falar muito do que abandonaram e perderam, do que fizeram e sofreram por
Cristo, como fez Pedro. Mas, devemos nos envergonhar de que haja dificuldade para fazer
isso.
108
109
Ibíd., p. 22.
Ibíd., p. 23
89
Novamente Jesus anuncia sua morte (18.31-34)
O Espírito de Cristo nos profetas do Antigo Testamento testificava de antemão de seus
sofrimentos e da glória que se seguiria. O preconceito dos discípulos era tão forte que não
entendiam literalmente estas coisas. Estavam tão concentrados nas profecias que falavam da
glória de Cristo, que esqueceram as que falavam dos seus sofrimentos. Somos tão relutantes
em aprender as lições dos sofrimentos de Cristo como o eram os discípulos. Através do
cumprimento, estas predições feitas pelos profetas, regressariam às mentes dos apóstolos e a
fé deles seria fortalecida.
Um cego de Jericó é curado (18.35-43)
Jesus estava passando pelo único caminho que os peregrinos utilizavam em sua rota a
Jerusalém, por isso, nesse caminho era habitual encontrar mendigos. “O que comoveu o
Senhor foi o pedido de compaixão de alguém que estava ali à beira do caminho e talvez já
tivesse ouvido falar muito daquele que agora está próximo, o Filho de Davi, sim, mas também
o Filho do Homem e o Filho de Deus, que chamaria a si mesmo: ‘A Resplandecente Estrela
da Manhã’. Essa pessoa especial era quem ia dar ao necessitado a manhã mais gloriosa que
qualquer homem pode ter, estava para dar a ele não só a visão, mas a manhã da eternidade.
Que queres que eu te faça? Senhor que eu torne a ver! A pergunta ficou vibrando e continua
vigente para todos os cegos do mundo: Que queres que eu te faça? A resposta que deve ser
um pedido, que certamente será respondida, está muito perto. “Perto de ti está a palavra, esta é
a verdade que pregamos”110.
Jesus e Zaqueu (19.1-9)
Os que, como Zaqueu, desejam sinceramente ver a Cristo, vencerão quaisquer
obstáculos e se esforçarão para vê-lo. Aquele que quer conhecer a Cristo será conhecido por
ele. Aqueles a quem Cristo chama, devem humilhar-se e descer. Zaqueu publicamente deu
provas de haver chegado a ser um verdadeiro convertido. Não buscou ser justificado por suas
110
Zapata, p. 146.
90
obras como fariseu, mas por suas boas obras demonstrará a sinceridade de sua fé e do
arrependimento pela graça de Deus. Zaqueu, agora que é salvo de seus pecados, de sua culpa,
do poder deles, tem todos os benefícios da salvação. Cristo foi à sua casa, e onde Cristo vai,
leva consigo a salvação. Ele veio a este mundo perdido para buscá-lo e salvá-lo. Seu objetivo
era salvar, e não há salvação em nenhum outro. Ele busca aos que não o buscam e nem
perguntam por Ele.
Parábola das dez minas (19.11-27)
O discípulo deve semear. Tem que semear o que Deus lhe tem dado. É melhor dar do
que receber. A parábola das dez moedas fala diretamente aos que haviam preservado a Lei e
as tradições e haviam se esquecido de mostrar misericórdia e graça aos necessitados.
CONCLUSÃO
Jesus, na Judéia, confrontou de muitas maneiras os fariseus, escribas e intérpretes da
lei. Expôs com testemunho e ensinos o caráter humilde de um filho de Deus, em
contraposição ao orgulho desses judeus recalcitrantes e cheio de engano. Jesus ensinou a seus
discípulos e a todos os que o seguiam, de diversas maneiras: confrontando, usando parábolas,
exemplos reais, e a quem Ele queria, de forma direta. Este foi outro aspecto fundamental no
ministério de Jesus que Lucas mostrou: o labor do ensino é mais importante que fazer
milagres e sinais.
91
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 5
1. Quem respondeu à pergunta de Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou? E qual foi sua
resposta?
2. O que disseram, quando regressaram os setentas discípulos enviados por Jesus na
missão a cada cidade que Ele haveria de ir? E o que respondeu o Senhor?
3. O que Jesus disse aos fariseus e intérpretes da lei a respeito da demanda de Deus
com essa geração, logo depois que Ele enviou seus profetas e apóstolos?
4. A quem Jesus se refere quando disse: “...Temei aquele que, depois de matar, tem
poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer”?
5. Em seu caminho para Jerusalém, alguém lhe perguntou: “São poucos os que serão
salvos?”. Qual foi a resposta de Jesus?
6. Qual condição Jesus impõe para aqueles que querem segui-lo ou ser seu discípulo?
7. Nas três parábolas do capítulo 15, qual ensino Jesus enfatiza e o que ocorre no seu
quando os perdidos são encontrados?
8. Até onde foi a lei e os profetas?
9. De acordo com a passagem dos dez leprosos que foram curados, pode-se dizer que
quando Jesus fez milagres de cura, ele sempre concede salvação também?
10. De acordo com a passagem de Lucas 19, Zaqueu era um homem justo? Por que ele
precisava da salvação do Filho do Homem? Explique.
92
LIÇÃO 6
A SEMANA DA PAIXÃO
Felipe González y Alejandro Cid
INTRODUÇÃO
Jesus foi a Betânia, a três quilômetros da cidade de Jerusalém. Apenas uma semana
antes, Jesus tinha devolvido a vida a seu amigo Lázaro (Jo 12.9), mas mostrando em seu rosto
que ia para Jerusalém onde entregaria sua própria vida. Esse é o contraste de Jesus: entrega
sua vida à morte para dar vida a outros. A Semana da Paixão é contada da entrada de Jesus na
cidade de Jerusalém. Foi uma semana e foi de pura paixão. Paixão pela cidade: choro sobre
ela. Paixão pelo templo: expulsou àqueles que o contaminavam com suas mercadorias. Paixão
pela defesa da Sá doutrina: respondeu com autoridade e sabedoria a várias tentativa de
desacreditá-lo e surpreendê-lo em alguma falta. Paixão pelos pobres que são ricos para o
Reino: foi com paixão que ficou observando a viúva que lançou suas duas únicas moedas.
Paixão em preparar até o mínimo detalhe a última páscoa com seus discípulos; paixão em
expor o traidor frente a todos provocando assim que seus inimigos tivessem que agir na festa
como não queriam. Paixão ao ter que anunciar a seu querido amigo e discípulo Pedro, aquele
que havia declarado que Ele era o Cristo de Deus, que este o negaria três vezes. Paixão sobre
os joelhos, no Getsêmani onde suou gotas de sangue, esmagado pela hora difícil que iria viver
pela vontade do Pai. Foi sem dúvida a semana mais intensa na vida de nosso Senhor. Os
sentimentos lhe golpeavam o peito. Por um lado, o amor tão grande pelos seus, aos quais
amou até ao fim; por outro a profunda reverência e obediência em cumprir a vontade do Pai
até o mais mínimo detalhe. Por um lado, a responsabilidade tão grande de ser o Ungido de
Deus, por outro o peso tão grande de levar sobre si mesmo o pecado dos transgressores. Foi a
paixão do Filho do Homem em sua última semana.
1. ENTRADA TRIUNFAL A JERUSALÉM (19.28-44)
93
“Subindo a Jerusalém” (Lucas 19.28). A cidade de Jerusalém está sobre as montanhas
de Judéia, a uma altura de 600 a 880 metros sobre o nível do mar. Ir para Jerusalém é subir.
Jesus vai subindo a Jerusalém, mas sua visão está mais além. A partir dali também vai
subindo ao Pai (Jo 20.17).
“...achareis preso um jumentinho... o Senhor precisa dele.” (Lucas 19.30). Jesus envia
dois de seus discípulos a buscar um jumentinho. A forma como se dão esses fatos divide os
comentaristas em duas opiniões: a primeira é que Jesus sabia de todos os detalhes por sua
onisciência como Deus. “Ele sabia de tudo, e tinha a chave do coração humano”111. E a
segunda é que aquela família era conhecida de Jesus, e o reconhecia como o Senhor, cedendo
o jumentinho sem nenhuma reclamação. “Disso podemos tirar a conclusão que os donos (v.
33) eram amigos de Jesus. Deve ter sido pessoas que reconheciam Jesus como seu Senhor”112.
A forma como estes fatos se desenrolaram nos dá a ideia de como Deus, em sua
soberania e propósito eterno, move os fios dos acontecimentos e estes se cumprem dentro da
vontade de Deus já que a profecia de Zacarias 9.9 havia anunciado, muitos anos antes que o
Messias entraria em Jerusalém montado em um jumentinho, cria de jumenta: “Alegra-te
muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador,
humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta”.
Tem-se dito que o fato de Jesus montar o jumentinho para entrar em Jerusalém é
tomado como símbolo de humildade, mas isto não é correto. Pessoas ricas e/ou de posição
usaram asnos como é o caso de Abraão, “Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo
preparado o seu jumento...” (Gn 22.3). O caso de Juízes, “Depois dele, se levantou Jair,
gileadita, e julgou a Israel vinte e dois anos. Tinha este trinta filhos, que cavalgavam trinta
jumentos; e tinham trinta cidades, a que chamavam Havote-Jair, até ao dia de hoje, as quais
estão na terra de Gileade”. (Jz 10.3-4). Também o caso de Acsa, filha de Calebe, “Esta,
quando se foi a ele, insistiu com ele para que pedisse um campo ao pai dela; e ela apeou do
jumento; então, Calebe lhe perguntou: Que desejas? (Jz 1.14); também Abigail, a esposa do
rico Nabal, “Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, desceu do jumento e prostrou-se sobre
o rosto diante de Davi, inclinando-se até à terra”. (1 Sm 25.23)113.
O uso do jumentinho para Jesus entrar em Jerusalém tem outro significado. O cavalo é
símbolo dos tempos de guerra, mas o jumento, o tempo de paz. O uso que Jesus fez de um
111
Jamieson-Fausset-Brown, v. 31, p. 184.
Hendriksen, v. 31, p. 598.
113
Jamieson, et. al., Op. Cit.
112
94
jumento foi para significar que Ele era o Príncipe da Paz (Is 9.6), mas que um capitão de um
exército.
A expressão “o Senhor precisa dele...” não quer dizer que o Senhor não pode fazer
algo sem nós, mas precisamente que ele, por sua vontade, deseja fazer por nosso intermédio.
“...toda a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por
todos os milagres que tinham visto...” (Lc 19.37). A multidão que em alta voz aclamava Jesus
entrando na cidade de Jerusalém era mista. Estavam os que vinham com Ele desde Betânia, e
que havia visto a ressurreição de Lázaro, que o seguiam como discípulos, tal como nos
informa Lucas. E estavam também os peregrinos que vinham para a festa da páscoa e já
estavam em Jerusalém, mas ao escutar as notícias que vinham de Betânia, e saber que aquele
que ressuscitou a Lázaro vinha entrando na cidade, se lançaram para a porta oriental para com
curiosidade, ver ao que estava entrando no jumentinho (Jo 12.12-13). O detalhe de Lucas nos
que a aclamação de “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas
maiores alturas!” partiu dos discípulos, aqueles que o seguiam de perto. Entre a multidão
vieram também fariseus (v. 39); dentro da igreja também estarão aqueles que não vêm para
louvar e adorar a Cristo, mas para intrometer-se no que se faz, e para desaguar sua raiva por
causa dos louvores ao Rei. Tal foi seu ódio e incômodo por ver aquele que entrava sendo
objeto dos louvores que só eram devidos a Deus, que em vez de tentar eles mesmo calar as
pessoas, pediram a Jesus que o fizesse! Os louvores ao Senhor sempre vão incomodar os seus
inimigos114!
“Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou...” (Lc 19.41). Este é outro dos
momentos da paixão de Jesus. Ainda se escutava o eco dos louvores de sua entrada, e já chora
sobre a cidade de Davi. Jesus sabe que diante dos olhos de todos os habitantes da cidade está
o Ungido de Deus, Aquele que foi enviado de Deus para trazer paz e bênção a seu povo, isso,
entretanto, estava encoberto aos olhos deles. Os louvores partiram dos corações de seus
discípulos, aqueles que lhe reconheciam como o Messias, mas Jesus sabe que essa não é a
opinião de toda Jerusalém. Eles não queriam “esse Messias”, queriam um Messias à sua
própria maneira de ver as coisas.
“...não deixarão em ti pedra sobre pedra...”. As palavras proféticas de Jesus sobre
Jerusalém se cumpriram ao pé da letra. No ano 70 dC, o general romano Tito e suas legiões
114
Ibíd.
95
romanas literalmente arrasaram com a cidade. Os dados históricos são recolhidos por Josefo
em sua obra: “Guerra dos Judeus”.
“Enquanto o santuário está queimando... não houve piedade por causa da idade, nem
respeito por classe. Pelo contrário, as crianças e os anciãos, leigos e sacerdotes foram
igualmente mortos”115.
“O imperador ordenou que a cidade inteira e o templo foram arrasados. Deixando
somente as mais altas torres... e a porção do muro que cercava a cidade pelo ocidente... Todo
o resto do muro que rodeava a cidade foi tão completamente destruído que os visitantes do
lugar no futuro não teriam nenhuma razão para pensar que a cidade tenha sido alguma vez
habitada”116.
2. PURIFICAÇÃO DO TEMPO (19.45-48)
A purificação do templo que é relatada aqui em Lucas não se pode identificar com a
que é narrada em João 2.13-17. São duas purificações que Jesus fez no templo. Uma no
princípio de seu ministério e a outra no final, na semana da sua paixão. Lucas não dá muitos
detalhes sobre este feito, a leitura de Marcos 11.15-19 lança mais luz sobre o incidente. Este
feito ocorreu no átrio do templo, chamado “átrio dos gentios”. Jesus nunca entrou no
santuário do templo, porque não era nesse santuário terreno que Ele tinha que entrar, mas no
celestial, onde entrou como Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e com seu
próprio sangue, ou seja, sendo sacerdote e vítima, a fim de apresentar o Sumo Sacrifício pelos
pecados do seu povo (Hebreus 4.13; 9.11-12).
É verdade que alguém que fosse ao templo para oferecer sacrifício poderia levar seu
próprio animal, mas corria o risco de ao ser examinado pelos sacerdotes, ser reprovado. Os
mercadores do tempo pagavam aos sacerdotes para que “desaprovassem” os animais trazidos
a fim de que as pessoas se vissem na necessidade de comprara ali os animais que já estavam
aprovados pelo sacerdócio para os sacrifícios. Era um negócio entre os sacerdotes e os
vendedores de animais.
Jesus vê todo o negócio entre a casta sacerdotal e os mercadores e sente o mau cheiro
dos excrementos dos animais ali apinhados, aquilo era adoração a Deus? Sem dúvida, esta é
115
116
Josefo, “Guerra de los Judíos,” VI. 271.
Ibíd. VII. 1-3.
96
outra das manifestações de sua paixão. “O zelo pela tua casa me consumirá” (Salmo 69.9).
Quando as mesas dos cambistas foram viradas, e as jaulas dos animais abertas ficou claro que
Jesus era o verdadeiro Senhor do tempo (Mateus 12.6);
3. A AUTORIDADE DE JESUS (20.1-8)
“Estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar...” (Lucas 20.1). Jesus
tinha acabado de virar as mesas dos cambistas, e de acabar com o negócio dos mercadores do
templo, agora ali mesmo ensina e anuncia ao povo o Evangelho do Reino. Não se trata só de
parar o que está mal feito na igreja, mas de ensinar ao povo a verdade da Palavra do
Evangelho. Se não se ensina e anuncia a verdade na igreja, logo as mesas dos cambistas e as
jaulas dos fraudulentos vendedores de animais estarão de novo postas ali, e em vez de sentirse o gratificante aroma de seu conhecimento (2 Co 2.14), volta-se a sentir o nauseabundo odor
dos que convertem a casa de Deus em covil de salteadores, e usam as coisas sagradas para
manipular aos pobres. Jesus, o Filho do Homem, veio para pregar o Evangelho aos pobres,
hoje muitos dos que se dizem serem seus ministros usam os pobres para enriquecer.
“...sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos...”.
Estas eram as três partes integrantes do Sinédrio. Os que se aproximaram de Jesus e
questionaram sua autoridade eram do Sinédrio. Esta foi uma tentativa de desacreditar Jesus.
Com sua pergunta “com que autoridade fazes estas coisas?” ele estavam pedindo as
credenciais de Jesus. Se tivesse êxito em desacreditar Jesus em público, as pessoas perderiam
o respeito. Por outro lado, se ele considerava autorizado a fazê-las, poderia ser acusado de
blasfêmia, porque estaria fazendo coisas que só Deus poderia fazer. Jesus lhes respondeu com
outra pergunta, algo que era comum nos ensinos rabínicos do momento. Ao verem-se presos
na sua própria astúcia, disseram a Jesus que não sabiam de onde vinha o batismo de João. Ao
responder Jesus deixa claro que não é que eles não soubessem, mas que não queriam
responder, para não verem-se descobertos em sua má intenção. Se hoje alguém nos pergunta
com que autoridade ensinamos as Escrituras, ou pregamos a mensagem do Evangelho, que lhe
responderíamos?
4. OS LAVRADORES MAUS (Lucas 20.9-18)
97
“A seguir, passou Jesus a proferir ao povo...”. Jesus foi interpelado e agredido pelos
líderes maus do Sinédrio. Agora ele se volta para o povo para adverti-lo sobre este tipo de
pessoa. Para entender essa parábola que Jesus usa como ilustração para mostrar ao povo sobre
o que havia acontecido com seus profetas, e finalmente com o Filho temos de entender que
naquele tempo a parte alta do vale do Jordão e as ribeiras ocidental e norte do mar da Galiléia
continham extensas propriedades que pertenciam a estrangeiros. Era comum que proprietários
de fazendas vivessem longe de suas propriedades e comissionassem pessoas para que
cuidassem e lhe enviassem os frutos do lucro.
Na parábola, o dono é Deus, o filho do dono é Cristo, seus servos enviados foram os
profetas com a mensagem para o povo de Israel, os lavradores maus representam os líderes
judeus e todo Israel que rejeita a Jesus como o Ungido de Deus, que depois de rejeitar as
várias mensagens enviadas por Deus através de seus profetas, mataram o seu próprio Filho.
“...Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros” (v. 16). A
destruição dos lavradores maus viu-se no ano 70 dC. com a destruição de Jerusalém, mas que
aponta também o castigo eterno que terão todos aqueles que rejeitam o Filho. Os que estavam
ali estavam muito seguros de que os privilégios dados a Israel nunca seriam tirados e muito
menos dados a outros, mas isso ocorreu exatamente como disse Jesus na parábola (Mateus
21.43; 28.19; Atos 13.46). Não há nenhum privilégio étnico para receber a bênção de Deus. É
dentro da cidadania da igreja universal que se recebem os benefícios do pacto de Deus. O
pacto dado a Abraão como depositário até que chegasse o Mediador (Cristo) é o mesmo pacto
que cobre a igreja universal de Cristo com suas bênçãos e promessas; as quais, nas palavras
do Apóstolo Pedro são “para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que
ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2.39).
É uma bênção total, que “a vinha” não seja recuperada, nem destruída completamente,
mas que é dada a outros para produzam seu fruto! As bênçãos são tiradas dos judeus como
nação, e são dadas à igreja universal (formada por judeus e gentios) a qual não substitui Israel,
mas é “o Israel de Deus” (Gálatas 6.16). Por isso somos contra a doutrina da substituição, na
qual se crer que a igreja substitui Israel. Não há substituição, há um alargamento do “espaço
da tua tenda” (Isaías 54.2-3). De dois povos fez um maior, derrubando a parede da separação
(Efésios 2.14). Os que crêem que Deus tem dois planos, e dois povos distintos (Israel e a
igreja) não entenderam a parábola dos lavradores maus ensinada por Jesus neste capítulo do
Evangelho de Lucas. Antes a igreja era nacional (Israel como povo), agora é universal
98
(formada por homens de todos os povos, língua, raça, cor e nação... incluindo os judeus do
remanescente da graça).
“Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair
ficará reduzido a pó” (v. 18). Jesus reprova aos líderes judeus que rejeitaram ao Messias, o
Ungido de Deus, e lhes cita as palavras do Salmo 118.22 sobre “a pedra que os construtores
rejeitaram”. Todo aquele que persista em sua rejeição e oposição a Cristo será literalmente
esmigalhado em juízo debaixo da pedra. Todo aquele que cair sobre a pedra angular, ficará
em pedaços; da mesma forma que a pedra principal de um edifício é a que marca a linha,
fazendo com que todas as outras venham a ser colocadas ao seu lado e tenham de ser
alinhadas por ela, assim Cristo é quem marca a linha e está construindo uma casa espiritual
com pedras com pedras vivas: a sua igreja!
5. REAÇÃO DOS LÍDERES JUDEUS À QUESTÃO DO TRIBUTO (20.19-26)
“Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe
as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o
povo”. (v. 19). Os líderes judeus compreenderam muito bem que aquela parábola sobre os
lavradores maus era um referência a eles. Eles conheciam muito bem as palavras de Isaías 5.7:
“Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel...”. Também se deram conta
que Jesus os identificou com os edificadores que descartaram a pedra angular ao citar as
palavras do Salmo 118.22, então, seu ódio contra Jesus foi maior, e os desejos de lançar Mao
dele e prendê-lo ia crescendo, mas eles temiam o povo. Assim acontece com todos os que não
tem uma conduta honesta e reta: eles temem ser vistos. Aquele que anda corretamente não
teme o escrutínio público.
“Observando-o subornaram emissários que se fingiam de justos para verem se o
apanhavam em alguma palavra...”. O Sinédrio havia questionado a autoridade de Jesus, mas
ele os rechaçou com a pergunta que lhes fez sobre o batismo de João. Ele deitou por terra o
plano deles, agora eles mudaram a tática usando emissários que fingiam ser honestos e
sinceros; ele o adulam por meio da lisonja para levá-lo a questões capciosas a fim de
surpreendê-lo em alguma falta e desacreditá-lo frente aos seus seguidores. O grupo de
emissários estava composto de fariseus e herodianos (Marcos 12.13) partido político que
simpatizava com a dinastia de Herodes e queriam manter-se no poder. Fariseus e herodianos
99
eram inimigos porque tinham ideias completamente opostas, mas, agora se tinham juntado
nesse ataque contra Jesus. A pergunta sobre o tributo feita a Jesus era uma “intriga muito
astuta”117 porque se ele respondesse afirmativamente não apresentaria o sentimento patriótico
da maioria do povo e seus líderes; por outro lado, se respondesse negativamente, então seria
um confronto direto com as autoridades romanas. Jesus pediu que eles mostrassem uma
moeda, “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (v. 25). “O denário do tempo
do reinado do então imperador Tibério, representava no anverso a cabeça do imperador. No
reverso aparece ele sentado no trono. Ele usava um diadema e estava vestido como
sacerdote”118.
“Não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua
resposta, calaram-se”. (v. 26). Com esta resposta, Jesus lhes disse que paguem imposto a
César, mas disse também que César não é a autoridade suprema, mas, o Deus soberano, e que
eles está sentado no seu trono. Aqueles emissários hipócritas e astutos haviam sido detidos
uma vez mais em seus planos perversos pela sabedoria das respostas do Mestre, porque “a
sabedoria que é do alto dirigirá a todos os que ensinem verdadeiramente o caminho de Deus
para que evitem armadilhas feitas contras eles pelos homens ímpios; e ensinarão nosso deve a
Deus, a nossos governantes e a todos os homens tão claramente que os opositores não terão
nada mal que dizer de nós”119.
6. A PERGUNTA SOBRE A RESSURREIÇÃO (20.27-40)
“Chegando alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição...” (v.
27). Jesus é atacado por todos os seus inimigos. Já o haviam atacado os principais dos
sacerdotes, os escribas, os anciãos, os fariseus, os herodianos e agora veio uma representação
dos saduceus, os quais eram contrários aos fariseus, mas ante um inimigo comum se aliaram
para combatê-lo. Quem era os saduceus? Não se sabe exatamente a sua origem, mas eles se
vangloriavam de traçar sua história até o sacerdote Zadoque que durante o reinado de Davi
exercia o sacerdócio com Abiatar (2 Sm 8.17; 15.24; 1 Rs 1.35), o qual foi deixado
posteriormente como único sacerdote por Salomão (1 Rs 2.35).
As crenças dos saduceus eram as seguintes:
117
Hendriksen, p. 616.
Ibíd., p. 617.
119
Matthew Henry, vv. 20 - 26, p. 25.
118
100
“Aceitavam somente a palavra escrita, não eram como os fariseus que também
aceitavam as tradições orais. Negavam a imortalidade da alma, criam que a alma morria
juntamente com o corpo. Rejeitavam o decreto eterno de Deus, o qual chamava de “destino” e
aceitavam o livre arbítrio”120.
Politicamente os saduceus aceitavam o status quo, o qual os fazia, de certa maneira,
simpatizantes políticos do império, e eram apoiados pelas classes mais ricas da sociedade
romana. O ataque de Satanás contra o Filho do Homem foi astutamente planejado,
observemos a estratégia usada: enviaram os mais “religiosos” (principalmente sacerdotes,
escribas e fariseus) a fazer perguntas ardilosas de tipo ético-políticas (o tributo); e enviaram
aos comprometidos politicamente com Roma (saduceus) a fazer perguntas teológicas. Fogo
cruzado da parte de Satanás!
“Esta mulher, pois, no dia da ressurreição, de qual deles será esposa? Porque os sete
a desposaram? (v. 33). Os saduceus com este ataque a Jesus pretendiam “matar dois coelhos
com uma cajadada só”, porque colocariam numa posição ridícula com esta pergunta teológica
sobre a ressurreição e também venceriam seus arqui-inimigos, os fariseus, que criam que
havia vida depois da morte. A resposta de Jesus, mas uma vez, é dirigida pela sabedoria
divina. Depois de deixar claro os detalhes quanto às relações no século vindouro (vs. 35-36)
onde o sexo não tem a dimensão que tem neste século, Jesus passa a responder aos saduceus
quanto à sua crença: a vida após a morte. E ele o faz com a parte das Escrituras que eles
davam maior valor: o Pentateuco. Jesus usa o texto de Êxodo 3.1-6 para refutar o argumento
deles. Aqueles com os quais Deus fez um pacto, não estão mortos, estão vivos. Abraão,
Isaque e Jacó não estão mortos, porque Deus não é Deus de mortos, mas de vivos. Com que
sabedoria Jesus responde aos seus detratores usando as próprias Escrituras que eles mais
valorizavam. Que Ele nos ajude a estudar a Palavra de Deus para saber fazer frente aos
inimigos do Reino!
Há outro fator digno de ser notado nesta parte do Evangelho de Lucas. Jesus está
lançando por terra conceitos filosóficos gregos que também estavam sendo incorporados pelos
romanos. Segundo a filosofia grega, o corpo era a prisão da alma. O conceito hebraico, de
acordo com a revelação especial, é diferente. Deus trata com o homem como um todo, não
somente com sua alma, ou com seu corpo. Deus ama seus filhos em corpo e alma. A alma
participa com o corpo da honra de ser templo do Espírito Santo (1 Co 6.19-20), assim como o
120
Ver la siguiente fuente: Josefo, Antigüedades XIII. 171–173, 297, 298, XVIII. 16, 17.
101
corpo é “para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1 Co 6.13). Ao dizer “eu sou o Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó” com uma ênfase em repetir três vezes a palavra Deus para
denotar a relação com cada um deles, está dizendo que estão vivos, não mortos, o que indica
que seus corpos não serão deixados aos vermes, mas que um dia serão ressuscitados
gloriosamente! O Deus do Pacto não é Deus de gente morta, mas de gente viva!
“Então, disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem! Dali por diante, não
ousaram mais interrogá-lo” (vs. 39-40). Sem dúvidas, este texto nos diz que aquele diálogo
entre Jesus e os representantes dos saduceus atraiu alguns dos escribas que eram seus rivais e
ao ver seus oponentes sendo vencidos pelas respostas de Jesus o felicitaram quando eles
mesmos o haviam atacado da mesma maneira. Tal é a hipocrisia dos inimigos do Senhor! As
sábias respostas de Jesus a todos os seus inimigos tanto de um lado como do outro os fizeram
calar. Já não ousaram perguntar-lhe mais nada. Foram desarmados, não tinham mais
argumentos. Cumpre-se o dito em Romanos 3.4: “e venhas a vencer quando fores julgado”.
7. DE QUEM É FILHO O CRISTO? (20.41-44)
“Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi?” (v. 44). Ao ver Jesus a todos os
oponentes derrotados pelos peso e sabedoria de sua Palavra, então passa a responder a
pergunta que lhe fizeram depois de limpar o purificar o templo: “com que autoridade faze
estas coisas?” e a responde usando nada mais, nada menos, que ao Rei Davi, que junto com
Abraão eram figuras quase idolatradas pelos judeus.
Em outras ocasiões o haviam chamado de “Filho de Davi”. Por exemplo: O mendigo
cego em Lucas 18.38, as multidões que o receberam na entrada de Jerusalém e gritaram:
“Hosana ao Filho de Davi, em Mateus 21.9.
Usando as mesmas palavras de Davi no Salmo 110, ele deixa claro que “o doce cantor
de Israel”, lhe chama de “Senhor”, e, portanto, ainda que seja filho, por ser descendente, é
mais que isso, é Senhor de Davi. Com isso deixa claro que até o próprio rei Davi lhe dá
autoridade, algo que eles não estava reconhecendo. Ao dizer-lhes isso, Ele queria que eles
aceitassem três coisas:
“1. O Filho de Davi não é somente um descendente de Davi; é Senhor de Davi.
2. Sendo Senhor de Davi, é o Filho de Deus.
102
3. Posto que é Filho de Deus, todos devem pôr sua confiança nele”121.
Jesus deixou claro a seus inimigos com que autoridade fez e disse: por ser o Senhor de
Davi.
8. JESUS ACUSA OS ESCRIBAS (20.45-47)
“Ouvindo-o todo o povo, recomendou Jesus a seus discípulos:Guardai-vos dos
escribas...” (v. 45). Uma vez que derrotou seus inimigos de todas as suas armadilhas, e tendo
deixado claro qual era a sua autoridade, agora vai advertir ao povo sobre o perigo dos ensinos
e condutas daqueles inimigos. Os fariseus e escribas andavam entre o povo para buscar
seguidores, de fato, os tinham, por isso Jesus os desmascara diante do povo. E o faz em seis
pontos, que listamos abaixo:
1. “Que gostam de andar com vestes talares...”. Estes homens gostavam de darem a si
mesmos ares de grandeza; andavam por aí vestidos como reis ou sacerdotes a ponto de
cumprir funções oficiais.
2. “...das saudações nas praças” cf 11.43b. Ainda que a Palavra usada aqui para
saudação pudesse indicar uma saudação amistosa oral ou uma mensagem escrita de
felicitações (1 Co 16.21; Co 4.18; 2 Ts 3.17), neste caso tem uma conotação mais formidável,
igual ao contexto imediato na passagem paralela de Mateus 23.7: “...as saudações nas praças e
o serem chamados mestres pelos homens”. Os homens aqui descritos anelavam, não por uma
simples mostra de amizade, mas por uma demonstração de respeito, um reconhecimento
público de sua proeminência.
3. “...as primeiras cadeiras na sinagira...” (v. 46). Estes eram assentos postos sobre a
plataforma onde ficava a pessoa que dirigia as orações e a leitura da Escritura. Nesse assento,
o individuo tinha a dupla vantagem de estar perto da pessoa que orava ou lia a Escritura e de
estar de frente para a congregação, e portanto, poder ver a todos os presentes. Além disso, ser
conduzido até esse assento era considerado como um sinal de honra.
4. “...os primeiros lugares nos banquetes”. Jesus havia pronunciado uma advertência
contra esse mesmo pecado de buscar os melhores assentos em um banquete ou ceia (Lc 14.8).
121
Hendriksen, v. 41. p. 622.
103
Tiago condena o pecado de reservar os melhores lugares aos ricos, enquanto se diz ao pobre
que fique em pé ou que se sente no chão juntos ao estrado dos pés de outra pessoa.
5. “...os quais devoram as casas das viúvas”. Jesus apresenta os escribas como aqueles
que devoram – engordam com base em – as casas destas mulheres solitárias.
Como fazem isto? Esta pergunta tem sido respondida de várias formas. Algumas
respostas sugeridas são: pediam as viúvas que contribuíssem mais do que podiam para fundos
que estavam debaixo do controle dos escribas e dos quais eles podiam usar; ou, ofereciam
ajuda para administrar os bens que a viúva havia recebido, enquanto eles ficavam com um
montante maior do que entregavam à viúva; ou se aproveitavam injustamente do sustento
material que inicialmente havia sido oferecido voluntariamente pelas viúvas. Seja qual for o
método usado, é claro que Jesus está condenando com estas palavras o delito de extorsão que
se praticava com as viúvas, delito nefasto de acordo com as Escrituras. A história da igreja
oferece muitos exemplos desse mal122. (Para saber mais sobre isso pode-se ler e C. Chiniquy,
“The Priest, Purgatory, and the Poor Widow’s Cow”).
6. Os louvores dos homens. “...para o justificar, fazem longas orações”. Os escribas
ofereciam estas largas e quase intermináveis orações com o propósito de atrair a atenção para
si mesmos (cf 1 Ts 2. 5, 6). Tudo o que estavam buscando era a honra dos homens... Ou isso
era tudo realmente? A justaposição gramatical de “devorando as casas das viúvas “e” fazem
longas orações” tem levado a alguns a sugerir que entre estas duas atividades havia uma
relação muito estreita, sendo o significado o seguinte: eles devoram as casas das viúvas e para
dissimular sua perversidade faziam largas orações. Quanto mais longamente oram pelas
viúvas (ou pelo menos na presença delas) maior é o que eles podem devorar. Cada um decida
por si mesmo se há suficiente evidência para esta interpretação. Mesmo sem isso, o mal aqui
condenado é escandaloso123.
“...estes sofrerão juízo muito mais severo” (v. 47). Os escribas eram os que passavam
tempo estudando e copiando as Escrituras, e tinha o dever de ensinar ao povo. Ao denunciar
sua má conduta como líderes, Jesus anuncia que eles terão maior condenação. O que foi dito
ao grupo de escribas fica para todos aqueles que devendo ensinar a igreja de Deus, a corrompe
com seus maus exemplos.
122
123
Fifty Years in the Church of Rome, Nueva York, 1886, pp. 41–48.
Hendriksen, p. 624.
104
9. A OFERTA DA VIÚVA (21.1-4)
Havendo manifestado publicamente a hipocrisia dos escribas e fariseus, Jesus passa
agora a revelar a sinceridade de certa viúva. Nesta passagem ele coloca em contraste a
religião genuína com a religião fingida. Ao observar Jesus notou que os ricos lançavam suas
ofertas no gazofilácio do templo de forma separada, para diferentes propósitos, mas o
importante aqui não era a soma depositada, mas o coração. Segundo o modo humano de
calcular, a oferta da viúva era insignificante, mas segundo as normas divinas era incalculável.
“O que esta viúva fez era tão importante aos olhos de Jesus, que de acordo com
Marcos 12.43, ele reuniu todos os discípulos a fim de chamar sua atenção para isso. Este
mesmo tipo de convocatória dos Doze havia ocorrido antes, ou seja, em ocasiões muito
importantes e esta era um delas. Em harmonia com isto está o fato de que o Mestre introduziu
este ensino com a frase: “Verdadeiramente vos digo”, mostrado que o que está por dizer era
da mais alta importância e devia ser levado a sério”124.
10. SINAIS ANTES DO FIM (21.5-24)
Jesus, em seguida, prediz a destruição do templo de Jerusalém e ante isso os discípulos
lhe perguntam acerca dos sinais que deviam esperar e fazem uma relação da destruição do
templo com o fim do mundo. De um modo geral Jesus respondeu a sua pergunta e lhe falou
do “sinal” que eles deviam procurar. Jesus para corrigir a inferência equivocada dos seus
seguidores explica-lhes que nem todo o que parece ser um sinal do fim do mundo é realmente
um sinal, mas por certo que os acontecimentos listados aqui têm importância, são etapas que
conduzem para a meta final, por meio deles se prefigura e se aproxima o fim da era e o plano
de Deus é concretizado.
O importante é que Jesus disse que esta perseguição virá por “causa do meu nome”.
Quando alguém persegue aos discípulos de Cristo, está perseguindo ao próprio Cristo, fato
que ficou estampado indelevelmente na mente e no coração de Paulo que apesar das variações
que ele deu ao relato de sua conversão, as palavras: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”, se
encontram nos três relatos (Atos 9.4-5; 22.7-8; 26.14-15). O perseguido sofria os maltratos
124
Hendricksen, p. 628.
105
por causa da sua lealdade a Cristo. E ninguém foi capaz jamais de separá-lo do amor de Cristo
e do consolo que ele traz125.
O acontecimento que cumpriu a profecia de Jesus nessa passagem foi que anos antes
da guerra, o jugo do império romano havia se aguçado e esta ação provavelmente produziu
uma reação. O imperador Nero enviou o general Vespasiano e a rebelião foi dominada com
um grande custo de vidas. O sítio final da cidade de Jerusalém foi no ano 70 dC e o
historiador Josefo, em seu livro “Guerra Judaica” indica que o número de prisioneiros foi de
97.000 e os mortos passaram de 1.100.000126.
11. A VINDA DO FILHO DO HOMEM (21.25-38)
Jesus continua seu relato relacionando a profecia anterior com sua segunda vinda e o
quadro é certamente muito vívido: o sol se escurece, a lua também deixa de dar sua luz e
como estes astros têm forte influência no clima da terra, aparecem as marés, se ouvem sons
terríveis e as pessoas sentem medo.
No versículo 27, quando Jesus usa a palavra “verão” é evidente que se refere ao
pronome “eles”, dando a entender aqui que toda a humanidade poderá ver com clareza ao
Filho do Homem e também observamos que tanto Lucas quando Marcos omitem
deliberadamente a palavra chave “sinal”, apenas dizem: “verão o Filho do Homem”, ou seja,
apresentam Cristo majestosamente, porque a própria aparição do Filho do Homem é o próprio
sinal, o único sinal que se deve esperar.
No versículo 28 encontramos a frase: “quando estas coisas começarem a acontecer”.
Aqui Cristo mostra a seus discípulos que quando os sinais que aparecerão e que produzirão
terror e desconforto na humanidade, essas mesmas coisas serão para os filhos de Deus o sinal
de que se aproxima sua iminente liberação, para eles significará que essas alarmantes
perturbações só significará que seus dias de sofrimentos logo terão acabado. “Junto com a
volta de Cristo virá a redenção. Essa redenção, que já foi conquistada em favor dos eleitos na
cruz e que já a terão experimentado em suas almas, será então compartilhada a seus corpos.
Juntamente com os filhos de Deus que já haviam morrido e cujas almas, então, se reunião
com seus corpos maravilhosamente transformados, eles subirão para encontrarem-se com
125
126
Hendricksen, p. 637.
Josefo, p. 420.
106
Jesus, nos ares, para permanecer com Ele para sempre; agora em plena possessão de sua
salvação, para a glória de Deus”127.
Havendo terminado o discurso de Jesus, Lucas agrega que durante esta estadia mui
breve, em Jerusalém, Cristo ensinava no templo durante o dia e pernoitava no monte das
Oliveiras. Lucas termina seu relato dizendo no verso 38: “E todo o povo ia ter com ele ao
templo, de manhã cedo, para o ouvir”.
12. O COMPLÔ PARA MATAR JESUS (22.1-6)
O plano para matar Jesus existia, na realidade, há muito tempo. Várias passagens nos
mostra claramente isso, como por exemplo: Mc 3.6; 11.18; 12.7; Jo 5;18; 7.1, 19, 25; 8.37,
40; 11.53 e em Lucas 19.47; 20.19 especialmente. Na realidade esta passagem é uma
repetição de situações anteriores, deixando implícito que os conspiradores: “temiam ao povo”.
Temos que lembrar que Cristo tinha um número importante de seguidores entre os galileus, e
deve-se somar a isso que durante a festa da páscoa predominava na nação judaica a ideia da
libertação do império romano, era portanto, evidente que nos corações dos inimigos de Jesus
existisse um certo temor quanto a isso.
Então, os inimigos de Jesus esperavam o momento de prendê-lo e Judas lhe facilitou a
tarefa, oferecendo-se voluntariamente para entregar Jesus a seus inimigos de forma secreta, ou
seja, sem provocar nenhum distúrbio público. Os principais sacerdotes e os capitães da guarda
romana ficaram satisfeitos e concordaram em dar-lhe dinheiro por seu trabalho.
13. A PÁSCOA E A INSTITUIÇÃO DA CEIA DO SENHOR (22.7-30)
Esta passagem começa com Jesus dando instruções precisas a Pedro e a João sobre
como preparar o necessário para celebrar a festa da páscoa com seus discípulos. Cristo lhes
mostra como localizar o lugar onde se celebrará a ceia e é evidente, por suas palavras, que o
proprietário da cada onde se celebraria a páscoa era um seguidor de Cristo.
“Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça!” Jesus fez referência
de comer “esta páscoa” mas acrescenta: “convosco”. Não é isto o que nos lembra Jo 13.1:
“Tendo amado os seus amou-os até ao fim”? Jesus sabia o que sua morte, que ocorreria em
127
Hendricksen, p. 643.
107
poucas horas, faria por eles e por milhões de pessoas mais, ele os amava com um amor
impossível ser expressado em palavras”128.
Posteriormente Cristo toma um copo de vinho e o ato de tomar esse copo era parte do
ritual da ceia pascal. Note-se algo importante: a ação de graças que deve preceder ao ato de
beber o vinho. Ao dar a ordem de distribuir o conteúdo do copo entre todos os presentes,
Jesus, atuando como anfitrião, enfatiza a unidade que existe entre todos os participantes e que
é experimentada por cada um deles, e depois, volta a reiterar: “porque vos digo que já não
beberei do fruto da vide, até que venha o Reino de Deus”. Estas palavras não tem um sentido
pessimista, pelo contrário, são totalmente otimistas. Jesus não está dizendo aqui: “minha
jornada chegou ao fim, já não voltaremos a nos ver mais”; o que ele está dizendo na realidade
é: “Mesmo que nossa comunhão nesta terra esteja próximo de terminar, vai ser renovada
gloriosamente no reino de Deus, reino de luz e de amor, de triunfo e de louvor”.
Depois disso, Jesus toma "fatia" ou pedaço de pão e começa a parti-lo em pedaços
pequenos e entregá-lo aos seus discípulos. Quando mencionou a frase: “Isto é o meu corpo,
que é dado por vós...” significa que realmente Cristo está dizendo que os pedaços de pão que
está entregando a seus discípulos simbolizam nesse momento o seu corpo físico, ou seja, não
era literalmente o corpo de Cristo, não se transformavam em sua substância; um não se
transformou no outro nem tomou as propriedades ou características físicas do outro. Se
atentarmos para o ministério do Senhor, podemos comprovar que ele sempre utilizou
mensagem simbólica.
Cristo acrescenta finalmente a frase: “Fazei isso em memória de mim”. Era o desejo
de nosso Senhor que por meio da ceia aqui instituída, a igreja comemorasse seu sacrifício e o
amasse, refletisse sobre seu sacrifício e o abraçasse com fé, olhando para frente com viva
esperança de sua gloriosa segunda vinda. Por certo, a celebração adequada da Santa Ceia é
uma lembrança de amor, mas é muito mais que isso, porque Cristo está presente e ativo em
Seu Espírito; seus seguidores “tomam e comem”, se apropriam de Cristo por meio de uma fé
viva e são fortalecidos nesta fé”129.
Finalizada a ceia, inicia-se entre os discípulos uma disputa sobre quem seria o maior.
Imaginemos por um instante a cena: ali estava Jesus, próximo de dar sua vida por estes
homens, centrando toda sua atenção neles e amando-os terna e intensamente, e eles, enquanto
128
129
Hendricksen, p. 656.
Hendricksen, p. 658.
108
isso, estavam discutindo entre si, com uma atitude totalmente egoísta. Jesus quer que seus
discípulos tenham um espírito muito diferente dessa forma de pensar e, portanto, mostrem
uma disposição oposta, por isso lhes disse que o maior deles deveria chegar a ser como o
“menor”, ou seja, como o de menos honra.
14. PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO E A QUESTÃO DO SUSTENTO
(22.31-38)
A tripla negação de Pedro é predita. Pedro não reconhece a condição de seu coração e
continua pensando que iria defender Jesus.
Surge um diálogo sobre o sustento dos discípulos. A partir de agora ele vão precisar de
comida, roupa e proteção.
15. JESUS ORA NO GETSÊMANI (22.39-46)
Vemos no versículo 39 que diz: “E, saindo, foi, como costumava, para o monte das
Oliveiras” e, se pensarmos na reação de qualquer pessoa que se encontre em perigo de ser
preso, sabemos que ele nunca se dirigiria a um lugar que sempre freqüenta, porque
obviamente seria o primeiro lugar onde seria procurado por seus inimigos. Cristo sabe
perfeitamente que Judas estava fazendo arranjos para sua prisão com seus cúmplices; sabe
também que Judas conhece perfeitamente o lugar onde achá-lo e que iriam diretamente para o
Getsêmani; o pastor está em vias de entregar sua vida por suas ovelhas, deve fazê-lo, quer
fazer um sacrifício voluntário, o único tipo de sacrifício que será suficiente como expiação de
todos os pecados de todos aqueles que põem sua fé e sua confiança nele.
16. A PRISÃO DE JESUS (22.47-53)
O versículo 47 começa dizendo: “...surgiu uma multidão...”, ou seja, um grupo
importante de pessoas, entre as quais estava Judas que se aproxima de Jesus para beijá-lo e há
quem afirme que o beijo era a forma habitual da época de saudar um rabi, seja como for,
devemos convir que o beijo era uma expressão de amor e de amizade, de suma confiança, de
109
relação estreita, entretanto, nesse caso específico era o sinal acertado entre os inimigos de
Jesus para prendê-lo.
Ato seguido, nos versículos 49 e 50, Lucas relatada que um dos discípulos feriu com a
sua espada a um servo do sumo sacerdote cortando-lhe a orelha. Mesmo que o acontecido seja
relatado nos quatro Evangelhos, somente João menciona o nome destas duas pessoas: Pedro e
Malco, o servo do Sumo sacerdote; e a razão possivelmente é que quando João escreveu seu
Evangelho já não era possível castigar o que atacou. O relato continua dizendo que o Senhor
tocou a orelha do servo e a curou.
Por último, Cristo sinaliza aos que haviam chegado para prender-lhe, a forma tão
covarde e pérfida como estavam se comportando, porque vieram com um exército contra ele,
equipados de espadas e porretes como se fossem lidar com um assaltante, um revolucionário,
um rebelde ou um provocador de badernas.
17. PEDRO NEGA A JESUS (22.54-62)
Nos versículos 54 a 62 Lucas relata a história das três negações de Pedro, as quais
também são relatadas nos outros três Evangelhos.
Pedro provavelmente tenha seguido de perto a Jesus, enquanto ele era conduzido para
a cada do sumo sacerdote, por curiosidade, ou encorajado pelas palavras que havia dito a
Jesus anteriormente com respeito a segui-lo até a morte, mas seguramente cheio de medo e de
preocupação, a tal ponto de sua atitude levantar suspeitas.
Em primeiro lugar, uma criada suspeitou dele e disse: “Também este estava com ele” e
evidentemente Pedro ficou agoniado ante essas palavras e realiza ali a primeira de suas
negações, afirmando: “Mulher, não o conheço”.
Quase imediatamente, em um espaço muito curto de tempo, Pedro é increpado outras
duas vezes, sendo acusado diretamente de ser um dos seguidores de Jesus e ele frustrado e
provavelmente em pânico, o nega outras duas vezes, tal como o Senhor o havia profetizado
anteriormente.
Depois disso um galo cantou e quando Pedro ouviu o canto do galo, viu Jesus que
estava sendo transferido e o olha diretamente nos olhos, cheio de pesar, mas também cheio de
perdão e misericórdia; e saindo do palácio chorou amargamente, estando seu coração cheio de
um genuíno arrependimento pelo que havia feito.
110
18. JESUS PERANTE O CONCÍLIO (22.63-71)
Os membros do Sinédrio mostram seu verdadeiro caráter e coração, Ainda que possa
deduzir que as torturas às quais Jesus foi submetido vieram dos subordinados dos principais
sacerdotes, devemos lembrar que eles consentiam diretamente com a situação, e que
cooperavam com isso. A crueldade humana somada à zombaria alcança seu clímax quando os
torturadores golpeavam o rosto do prisioneiro, que estavam vendados, dizendo-lhe:
“Profetiza-nos, quem é que te feriu?”, enquanto também o insultavam ferozmente.
A razão, com certeza, pela qual rapidamente se reuniu os integrantes do Sinédrio, era
para dar certa aparência de legalidade ao ato vergonhoso que fariam logo depois. Quando um
corpo oficial judeu, como o Sinédrio, por meio de uma ação ilegal “busca testemunhas” falsas
para acusar Jesus, quando o levaram a Anás, (um homem que já não tinha nenhuma
autoridade oficial); quando o sumo sacerdote pretende forçar o prisioneiro a que declare algo
contra si mesmo, a única conclusão justa a que podemos chegar é que estamos frente não a
um ato de justiça, mas de perversão.
Caifás, desesperado porque as testemunhas falsas apresentadas não podiam oferecer
um testemunho confiável, tenta por todos os meios “arrancar” de Jesus uma confissão
incriminatória que permitisse acusá-lo e apresentá-lo ante as autoridades romanas para matálo.
Os membros do Sinédrio não tiveram nenhuma dúvida que quando Jesus disse: “O
Filho do Homem” ele estava se referindo a si mesmo e sabiam também que aquele a quem Ele
estava se referindo de acordo com Daniel 7.13 era na realidade divino. O sumo sacerdote e os
demais que estavam presentes consideraram imediatamente essa afirmação como uma
pretensão de usurpação de honra divina reservada somente a Deus, por parte de um homem
comum, em outras palavras era uma blasfêmia. Diante disso o sumo sacerdote rasgou suas
vestes e todos foram de acordo que não precisava de nenhum outro testemunho para acusá-lo.
111
CONCLUSÃO
Tendo denunciado a hipocrisia dos escribas, ao elogiar a entrega total de uma viúva de
tudo o que tinha, Jesus não somente estabeleceu um contraste entre a hipocrisia e a
sinceridade, mas também mostrou a forma como devem ser tratadas as viúvas.
Posteriormente Jesus predisse a destruição do templo de Jerusalém e seus discípulos
tomaram isso como um presságio do fim do mundo e Cristo os acalma com palavras de amor
e segurança, acrescentando que a contemplação destes sinais deve conduzir a uma atitude de
vigilância, uma vida de santificação. Quando finaliza o discurso de Cristo, Lucas relata que
durante essa breve estadia do Senhor em Jerusalém, ele ensinava durante o dia no templo e
pernoitava no Monte das Oliveiras, e que todo o povo se levantava cedo para ouvi-lo.
É compreensível que esta “fama” de Jesus, que sempre aumentava, fez com que os
dirigentes de irassem, de tal maneira que estavam planejando desfazer-se dele sem causar
tumulto. Nesta situação comprometedora, receberam a ajuda inesperada de um homem, que
pertencia nem mais nem menos aos discípulos de Jesus, que estava disposto a entregá-lo em
troca de dinheiro.
Na páscoa, Cristo instituiu com seus discípulos, sem a presença de Judas, a Ceia do
Senhor, para ser observada perpetuamente “em memória” dele. Depois da ceia saíram para o
Monte das Oliveiras, onde Jesus instruiu seus discípulos a que orassem para não caírem em
tentação. Enquanto estavam orando chegou uma turba encabeçada por Judas, que prendeu
Jesus e o transferiu para a residência do sumo sacerdote. No pátio desse local Pedro negou
três vezes ao seu Senhor. Numa reunião convocada apressadamente, no meio da madrugada,
Cristo é apresentado diante do Sinédrio, onde é acusado de blasfêmia e sentenciado à morte.
112
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 6
1. Para onde Jesus enviou dois dos seus discípulos e o que lhes pediu?
2. O que Jesus fez ao entrar no templo e o que disse aos que estavam ali?
3. O que discutiam entre si os escribas, os anciãos e os principais sacerdotes? Explique
o dilema deles.
4. Qual o propósito dos emissários enviados a Jesus, e qual o tema que abordaram?
Explique brevemente.
5. Segundo o texto, como se chama os que se aproximaram de Jesus, que não criam na
ressurreição e com que pergunta abordaram Jesus?
6. O que Jesus disse acerca da destruição do templo?
7. O que acontecerá com os astros do céu antes da vinda do Senhor?
8. Quem entrou em Judas e qual é o seu (de Judas) sobrenome?
9. No reino de Deus ou no serviço dele, quem é o maior, o que senta na mesa ou o que
serve?
10. Quando bateram no Senhor, depois da sua prisão, o que lhe pediram que
profetizasse?
113
LIÇÃO SETE
O JUIZO E A MORTE DE JESUS
Alejandro Cid
INTRODUÇÃO
“Lucas só oferece um esquema simples do episódio que o apóstolo João escreve
melhor. Ele nos dá porém, o suficiente para mostrar a indignidade infame dos judeus e os
vãos esforços de Pilatos para se desculpar do crime que finalmente cometeu. Lucas nos faz
ver que no julgamento e na condenação de Jesus, os judeus tão habilmente manipularam a
acusação, que Pilatos não teve outra alternativa senão satisfazer suas demandas e com que
violência apresentaram o trataram. A degradação dos dirigentes judeus foi total, com todo o
comhecimento que eles tinham acerca da lei moral, os que professavam ser representantes de
Deus, levaram à morte o Seu Filho130.
1. JESUS E PILATOS (23.1-5)
A frase: “toda a assembléia” significa o Sinédrio. A razão pela qual a assembléia fez
isso é porque para os judeus teria sido uma violação do direito romano ter, eles mesmos,
pronunciado uma sentença. Pôncio Pilatos era o quinto procurador de Samaria e Judéia, estava
debaixo da autoridade do legado da Síria e com respeito a seu caráter existem muitas
informações. Um exemplo é Filo, que citando uma carta de Agripa I a Calígula o chama:
“inflexível, sem compaixão e obstinado”, mas uma coisa é certa: usou com bem pouco bom
senso as relações, já deterioradas, dos judeus com os opressores romanos.
“A ocasião que conduziu Pilatos a perder sua função foi sua interferência com uma
turba de fanáticos que, sob da liderança de um falso profeta, estava a ponto de subir ao monte
Gerizim com a finalidade de buscar os vasos sagrados, que segundo criam, Moisés havia
escondido ali. Viajou para Roma a fim de responder às acusações que haviam sido
apresentadas contra ele, mas antes de chegar a Roma, o imperador Tibério morreu. Uma
130
W. Hendriksen, p. 122.
114
história não confirmada, relatada por Eusébio, afirma que Pilatos ‘foi forçado a tirar sua
própria vida’”131.
Ao combinar o relato dos Evangelhos, alguns chegam à impressão de que do princípio
ao fim Pilatos fez todo o possível para desfazer-se do caso de Jesus. Ele não gostava dos
judeus e não quero agradá-los nem conceder-lhes sua petição. Entretanto, no fundo do seu
coração, temia que eles usassem a ocasião para lhe prejudicar. Até certo ponto estava disposto
a fazer o que a justiça exigia, mas somente até certo ponto, quando sua posição de poder
ficava ameaçada, então, ele se rendia.
Pilatos começa perguntando aos judeus porque trouxeram Jesus a ele: “Que acusações
trazeis contra esse homem?”. Eles responderam: “Se este não fosse malfeitor, não to
entregaríamos”, em outras palavras: “Não faças perguntas, somente confirme a sentença que
nós já damos”. Mas Pilatos se nega a conceder-lhes esse favor e como eles não puderam fazer
nenhuma acusação, trata de devolver-lhes o prisioneiro, dizendo: “Tomai-o vós outros e
julgai-o segundo a vossa lei”. Então, os judeus esclareceram que eles desejam nada menos do
que a morte do prisioneiro.
“É claro que mesmo o Sinédrio acusando Jesus de blasfêmia, diante de Pilatos os
líderes judeus não apresentaram imediatamente essa acusação. Devem ter pensado e com justa
razão, que uma acusação especificamente política teria melhor possibilidade de ser
considerada legalmente válida do ponto de vista da jurisprudência romana. Além disso,
podem ter pensado que uma acusação estritamente religiosa causaria mui pouca impressão a
um pagão. Entretanto, isso não significa que a acusação religiosa não tivesse lugar no tribunal.
Sim, teria, mas não imediatamente, por isso foi reservada para mais tarde”132.
Ante a acusação, Pilatos perguntou a Jesus: “És tu o rei dos judeus?”. Ele fez essa
pergunta para sua própria proteção e Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes!”. Ante a resposta e
com intenções evidentes de livrar-se do problema, Pilatos disse aos sacerdotes e às pessoas,
que não encontrava nenhum delito no prisioneiro.
No versículo cinco, a multidão presente, diante da resposta de Pilatos acerca da
inocência de Jesus, se alvoroçou e começou a gritar, insistindo com sua acusação, mas o que
deve ter despertado, de forma especial, o interesse de Pilatos, foi outra coisa. De acordo com
os gritos e as acusações, Jesus provinha da Galiléia e o tetrarca da Galiléia era Herodes
131
132
Ibid.
R. Zapata, p. 216.
115
Antipas e justamente nesse momento, este se encontrava em Jerusalém. Pilatos considerou
esta circunstância como uma maravilhosa coincidência e possivelmente a possibilidade de se
desfazer do problema.
2. JESUS E HERODES (23.6-12)
Os acusadores seguramente devem ter ouvido o comentário de Pilatos de que Jesus era
da Galiléia como um golpe de mestre para sua acusação. Isso era devido a que Galiléia
sempre fora um berço da revolução. Dali saíram os zelotes e os patriotas que eram
literalmente guerrilheiros dessa época, causando continuamente problemas ao governo
romano.
Logo descobriram que na realidade estavam sendo derrotados, porque Pilatos, no seu
propósito de desfazer-se do problema, viu nesse vínculo entre Jesus e a Galiléia, a
oportunidade perfeita, já que o governante da Galiléia era Herodes Antipas, dado que a lei
romana permitia que uma pessoa pudesse ser julgada na província a que pertencia ou onde
havia nascido.
Jesus foi então, remetido à presença de Herodes Antipas, que acreditava que se tratava
de João Batista ressuscitado dentre os mortos e tinha muita curiosidade de conhecer Jesus,
esperando vê-lo realizar algum milagre e assim divertir-se um pouco com ele.
Mesmo que Jesus não tenha realizado nenhum milagre diante de Herodes, este pensou
que ao menos o prisioneiro conversaria com ele e responderia suas perguntas. Mas, Jesus não
respondeu de forma nenhuma e quando Jesus se negou a falar, seus inimigos, seus principais
acusadores, os sacerdotes e escribas falaram ainda com mais força acusando-o
veementemente diante de Herodes.
Ante o silêncio de Jesus, e apesar de não pode achar nenhuma culpabilidade nele,
Herodes, irritado porque a situação o ridicularizou, disse-nos o versículo 11: “Mas Herodes,
juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se
de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos”. “Provavelmente Herodes estava bastante
assustado para condenar Jesus à morte, sua consciência não lhe permitia esquecer o que havia
feito com outra pessoa inocente: João Batista; estava cheio de uma horrível superstição. Mas,
além disso, provavelmente estava irado com Jesus para deixá-lo livre, porque sua curiosidade
116
não havia sido satisfeita. Do palácio onde Herodes provavelmente estava hospedado, o cortejo
regressou ao pretório”133.
3. A SENTENÇA DE JESUS (23.13-25)
Quando regressaram com Jesus a Pilatos, este convocou não somente os membros do
Sinédrio mas também ao povo em geral, porque deseja fazer um anúncio público. Em relação
à acusação de que Jesus era um revolucionário, Pilatos declara: “...tendo-o interrogado na
vossa presença...”; isto indica que Lucas nos está entregando somente um breve resumo do
ocorrido, porque em seu relato lemos pouco acerca de um interrogatório público.
Então Pilatos faz esses assombrosos anúncios: “...nada verifiquei contra ele dos crimes
de que o acusais”. Estas são duas afirmações notáveis e se somamos a elas as que se
encontram nos versos 4 e 22 deste mesmo capítulo 23 e as registradas em João 13.38; 19.6,
pode-se ver claramente que em não menos de cinco ocasiões Pilatos declarou publicamente a
inocência de Jesus.
“Temos direito de esperar, então, que Pilatos dissesse: Portanto o colocarei em
liberdade! Por que não disse isso? Com toda certeza, como o demonstra sua conduta posterior,
era devido ao medo que ele tinha do que poderiam fazer o Sinédrio e as pessoas que se
haviam deixado convencer por ele. Está sendo motivado não pelos princípios morais, mas
pela conveniência política. Então o que Pilatos realmente disse foi: “Portanto, após castigá-lo,
soltá-lo-ei”134.
Pilatos estava começando já a desesperar-se, estava desejoso, mui desejoso de
desfazer-se desse problema. Primeiro havia tratado de devolver Jesus ao Sinédrio, mas isso
não aconteceu. Depois resolveu mandá-lo a Herodes para que este tomasse a decisão, mas
novamente não teve êxito. Agora havia feito uma tentativa de chegar a um acordo: primeiro
castigar Jesus e depois colocá-lo em liberdade, isso tampouco satisfez as pessoas.
“Uma nova oportunidade para a solução do problema de Pilatos parece que agora se
apresenta. Visto que aqui, uma vez mais, Lucas abrevia, pare seu esclarecimento voltemos à
passagem paralela em Marcos: “Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos
presos, qualquer que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores,
133
134
M. Henry, p. 324.
G.J. Wenham, p. 357.
117
os quais em um tumulto haviam cometido homicídio. Vindo a multidão, começou a pedir que
lhes fizesse como de costume. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o
rei dos judeus? Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam
entregado. Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência,
Barrabás”135. Foi a resposta da multidão.
Nos versos 22 e 23 encontramos virtualmente uma repetição do que Pilatos vinha
dizendo anteriormente, a única exceção é que finalmente Pilatos pergunta: “Que mal fez
este?”, reconhecendo mais uma vez que não existia delito algum pelo qual Jesus pudesse
merecer a pena de morte. As palavras “...portanto, depois de o castigar, soltá-lo-ei”, mostram
que Pilatos está novamente violando as demandas da justiça, porque certamente Jesus não
merecia castigo algum, nem mesmo um castigo suave. Entretanto, a essas alturas, as pessoas
estava completamente consciente do fato de que só se persistissem em sua demanda,
poderiam fazer o obstinado ceder.
O sentido do verso 23 seria então, que devido à incitação constante dos principais
sacerdotes, escribas e anciãos, os gritos da multidão exigindo que Jesus fosse crucificado, se
tornaram mais e mais fortes até que por fim, acabaram com qualquer oposição que pudessem
ter. Mas, qualquer das traduções que possamos pesquisar a respeito chega à mesma conclusão:
foi a vitória dos que gritavam, do Sinédrio, da injustiça cruel e sádica, mas também da
providência soberana de Deus e da salvação de seu povo do pecado.
4. A CRUCIFICAÇÃO E A MORTE DE JESUS (23.26-49)
Finalmente o desejo da turba fanática, que se expressou de forma mais e mais
insistente para que Jesus fosse crucificado, unida à ameaça: “Se soltas a este, não és amigo de
César!”, fez com que Pilatos se rendesse, de modo que ditou a sentença de Jesus; que fosse
crucificado. Este pronunciamento, da parte de um juiz que repetidamente havia estabelecido
que Jesus era completamente inocente, acaba sendo a mais espantosa tergiversação da justiça
que a história jamais registrou.
“O que Lucas diz é isto: “Jesus porém, foi rendido (ou entregue à vontade deles)”.
Quao significativa é essa expressão! Não podemos deixar de pensar em Isaías 53.6, 12:
“...mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos”; “...porquanto derramou sua
135
W. Hendriksen. p. 692.
118
alma na morte...”. Não devemos jamais esquecer que Lucas está escrevendo sob a inspiração
do Espírito Santo. O próprio Espirito, portanto, nos está dizendo que aquele que foi entregue é
o cumprimento da profecia, o Messias, o Salvador do pecado. Aleluia!”136.
O verso 26 nos relata que segundo o costume e de acordo com a lei, a execução devia
ser realizada fora da cidade. Os condenados à crucificação deviam carregar sua própria cruz e
Jesus também carrega a sua, mas não foi por muito tempo. O tremendo cansaço, a tortura que
havia sofrido, a importante quantidade de sangue que havia perdido fizeram que se tornasse
difícil carregar a cruz por muito tempo, e quando Jesus sucumbiu sob a carga, os legionários,
exercendo o direito de “requisição” ou de “”fazer exigências” ao povo, obrigaram Simão, um
cirineu ou um homem de Cirene, a levar a cruz de Cristo pelo resto do caminho.
A passagem compreendida entre os versos 27 a 31 nos descreve o caminho de Jesus
rumo a seu lugar de crucificação. Descobrimos que nem todos em Jerusalém estavam contra
Jesus, havia aqueles que eram seguidores fiéis e havia também aqueles que pelo menos
simpatizavam com ele. Naquela multidão que seguia Jesus se encontravam algumas mulheres
que sentiam grande pesar pelo que estava acontecendo. Jesus ao vê-las, se volta para elas e
lhes diz: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por
vossos filhos!”. Para Jesus, mesmo que agora ele estivesse sofrendo, e ainda que nas próximas
horas fosse sofrer ainda mais, o seu futuro é seguro. Mas, a menos que estas mulheres se
arrependessem, o futuro delas não seria seguro, nem tampouco o de seus filhos. Tão terrível
sofrimento viria sobre a cidade, que se considerariam bem-aventuradas aquelas mulheres que
não tivessem gerado filhos.
“No verso 31, Jesus está fazendo uso de um provérbio muito comum. Está traçando
um contraste entre o “lenho verde” e a “lenho seco”. A madeira verde arde e se consome
rapidamente; quando a madeira ainda está verde e úmida, isso não ocorre. A madeira verde
representa Jesus e a madeira seca representa seus inimigos que não se arrependerem” 137.
João Calvino tinha razão quando interpretou esse versículo da seguinte maneira:
“Sabemos que a madeira seca geralmente se lança primeiro ao fogo... O lamento das mulheres
é néscio se não esperam e temem também o terrível castigo de Deus que está sobre os
ímpios”138.
136
W.Hendriksen, p. 694.
Mathew Henry, p. 556.
138
Juan Calvino, Harmony, Vol. III, pp. 294, 295.
137
119
Nos versículos 32 e 33 deste capítulo 23, menciona-se que “quando chegaram ao lugar
chamado Calvário”... Por que deram esse nome a esse lugar? Por que parecia uma caveira?
Por que encontraram ali uma caveira? Só podemos fazer suposições. O que realmente
sabemos é que Jesus foi crucificado fora dos muros da cidade. Note-se quão poucas palavras
são usadas em seguida, no original são somente três: “ali o crucificaram”. Essas palavras são
usadas para indicar este acontecimento tão relevante para toda a humanidade. O pronome
“eles” refere-se aos soldados romanos, como é claro na passagem paralela de Marcos 15.1624. Bem se diz nos livros de história que a pessoa que morria crucificada “morria mil vezes”.
Através de suas mãos e pés se cravavam grossos pregos. Entre os horrores que sofriam a
pessoa enquanto estava sendo suspensa praticamente no ar, estavam os seguintes: inflamação,
a supuração das feridas na região dos pregos, a dor insuportável dos tendões partidos e
rasgados, uma angústia espantosa devido à posição na qual se encontrava o corpo, uma dor de
cabeça insuportável e uma sede profunda.
“Foi uma tremenda injustiça que Jesus tenha sido crucificado entre dois criminosos,
como se ele também fosse um criminosos. Não obstante, visto à luz da providência divina, foi
também uma honra. Não é verdade que Jesus veio à terra com o fim de buscar e salvar o que
estava perdido (19.10)? Não era ele “amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11.19)? Ao
crucificar Jesus entre esses dois criminosos, a intenção de Pilatos teria sido a de insultar ainda
mais os judeus? Era sua intenção dizer: “É este seu rei, ó judeus, um rei que nem mesmo é
melhor que um bandido, e que por isso merece ser crucificado entre dois deles?” Seja como
for, uma coisa é certa: a profecia de Isaías 53.12 – “Foi contado com os transgressores” –
estava se cumprindo aqui. E, à luz de Lucas 23.39-43, se cumpriu de forma gloriosa”139.
Continuando com a análise do capítulo, no versículo 34 encontramos a primeira das
sete frases que Jesus disse enquanto estava pendurado na cruz. “Pai, perdoa-os porque não
sabem o que fazem”. E é deplorável que se tenha levantado tanta oposição com respeito à esta
primeira frase. Há alguns que quiseram excluí-la diretamente e outros tratam de degradá-lo.
Há pensamento que diz que os que mataram Jesus eram todos réprobos e que Deus em
nenhum sentido abençoa aos réprobos, portanto Jesus quis dizer realmente: “Pai, retém a tua
ira; não a derrames imediatamente em plena medida sobre eles”.
Para o autor esta fervorosa súplica tem o seguinte verdadeiro sentido: a palavra
“perdoa-os”, significa exatamente isso: “retira suas transgressões completamente”. Em tua
139
W. Hendriksen, p. 700.
120
soberana graça faz com que eles se arrependam de verdade, de modo que possam ser
perdoados completamente. O sentido da frase está claro, porquanto é a mesma construção
gramatical da frase que Jesus disse: “E perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11.4) e “se ele se
arrepender, perdoa-lhe” em Lc 17.3. Isso mostra ser inconcebível que aquele que insiste
enfaticamente que seus seguidores devem perdoar a todos os devedores e que devem ainda
amar seus inimigos, não dê o exemplo ele mesmo.
“O Pai ouviu esta oração e a respondeu? Parte da resposta bem poderia ser o fato de
que a queda de Jerusalém não ocorreu imediatamente. Através de um período de quarenta
anos, o Evangelho da livre e plena salvação estava sendo proclamado aos judeus. Não só isso,
mas também muitos foram realmente conduzidos ao Senhor. No dia de Pentecostes se
converteram três mil; mais adiante mais de mil (Atos 4.4) Ainda: “...também muitíssimos
sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6.7). Não se converteram todas as pessoas, mas muitas
pessoas e famílias, sim”140.
Havendo crucificado a Jesus, os legionários ali presentes, como era costume entre eles,
dividiram as vestes de Jesus lançando sortes. Com toda probabilidade repartiram entre quanto
as vestes, lançando dados para entregar o manto que cobria a cabeça, as sandálias, o cinto e a
capa, tudo isto de acordo com a profecia do Salmo 22.18, a qual Lucas pode ter levando em
conta ao descrever isto. Milhares e milhares de pessoas devem ter se reunido no lugar da festa
da Páscoa e agora estavam ali parados observando a cena.
As Escrituras continuam relatando que os governantes e líderes judeus não estavam
satisfeitos com o fato de que haviam triunfado sobre Pilatos, e de acordo com o que eles
pensavam, também sobre Jesus. Eles também não mostraram piedade com a miséria da sua
vítima, e se alegraram maliciosamente por causa da sua condição aparentemente desesperada.
Gritavam que ele que havia salvado outros deveria salvar a si mesmo. Dizem os versículos 36
e 37 que os soldados romanos faziam exatamente o mesmo e que utilizavam a informação que
haviam recebido com respeito à acusação apresentada contra Jesus para zombar dele e
ridicularizá-lo.
No parágrafo compreendido entre os versículos 39 a 41 podemos ler: “Não és tu o
Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o,
dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com
justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez”.
140
R. Zapata, p. 612.
121
Esta história é relatada somente por Lucas. No princípio os delinqüentes zombavam, eles
blasfemavam de Jesus, repetiam as palavras e os sentimentos dos governantes e líderes
religiosos. Por fim, um dos delinqüentes ficou em silêncio e se arrependeu; sem sua breve
intervenção ele: a) Repreendeu seu companheiro; b) Reconheceu sua própria culpa; c)
Reconheceu Jesus como vindo de Deus. No versículo 42 ele disse a Jesus: “Lembra-te de mim
quando entrares no teu reino”. Ele se dirige a Jesus como seu Salvador. O que quis dizer o
ladrão arrependido? Estava pedindo que no final dos tempos, quando regressasse em glória,
Jesus se lembrasse deste suplicante agora convertido. O homem está pedindo a Jesus,
portanto, que se lembre dele naquele tempo. Não pede um lugar de honra, mas se lança
completamente sobre a graça do Salvador, pedindo somente que se lembre dele.
No versículo 43, Jesus lhe responde e diz: “Te digo, que hoje mesmo estarás comigo
no paraíso”. Este delinqüente recebeu muito mais do que realmente havia pedido. O homem
havia pedido uma bênção num futuro remoto e recebe uma promessa para este mesmo dia,
Jesus lhe disse: “hoje...”. Ele havia pedido que “se lembrasse dele” e recebe muito mais que
isso, recebe a segurança de que “estarás comigo” e a pergunta é: onde? Não é nenhuma região
mística de fantasmas, nem no purgatório, mas no paraíso e o paraíso nada mais é do que o
céu, tão simples assim!
Posteriormente nos é dito que repentinamente na terra fez-se trevas e o fato de se
mencionar esta escuridão na Bíblia mostra que deve ter sido intensas e inesquecíveis. Além
disso, ocorreu quando ninguém esperava, à plena luz do dia e duraram três horas. “Esta
escuridão significou o juízo de Deus sobre os pecados. Este castigo foi recebido por Jesus, de
modo que Ele, como nosso substituto sofreu a mais intensa agonia, a dor mais indescritível,
um terrível isolamento ou abandono. Esse dia, o inferno chegou até o Calvário e o Salvador
desceu até ao inferno e levou seus horrores nesse lugar”141. O próprio versículo 45, o texto
diz: “E rasgou-se pelo meio o véu do santuário”. No momento da morte de Cristo, esta cortina
se rasgou, repentinamente, em duas partes, de cima a baixo, como narram Mateus e Marcos, e
isto ocorreu às três da tarde, à hora em que os sacerdotes devem está oficiando no templo.
Como aconteceu? Não foi por desgaste natural, pelo uso, porque em tal caso haveria tido
rompimentos por todas as partes e a ruptura principal teria sido produzida, com maior
probabilidade, de baixo para cima. Tampouco deve-se tem em conta a possibilidade de um
terremoto. O acontecimento deve ser atribuído a um milagre.
141
G. Wenham, p. 578.
122
Vemos no versículo 46 que depois disso, Jesus exclamou: “Pai, em tuas mãos entrego
o meu espírito”. “A palavra final, por meio do qual o Salvador, com as palavras do Salmo
31.5, entrega sua alma ao cuidado de seu Pai, é muito bonita por: a) o que retém do Salmo
31.5; b) O que lhe acrescenta; c) o que omite. Retém: “Encomendo meu espírito”, isto é
significativo, porque indica que o Salvador sofreu o único tipo de morte que podia satisfazer a
justiça de Deus e salvar os homens. Tinha que ser um sacrifício voluntário. Acrescenta: a
palavra significativa “Pai” que não se encontra no Salmo. Omite: a oração que segue
imediatamente no Salmo: “Tu me remiste”, no caso de Cristo, o Santo, sem pecado, não era
necessário e nem sequer possível a redenção”142.
O versículo 47 diz: “Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus,
dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo”. O centurião tinha visto como Jesus havia
se comportado em meio a tantas provocações e zombarias, e além disso a dor que suportava.
Com toda probabilidade, o legionário não era judeu, ou seja, seu coração não havia sido
endurecido. Assim, começou a adorar e glorificar a Deus, reconhecendo a justiça de Jesus.
A passagem finaliza, nos narrando nos versículos 48 e 49 que, como mencionado
anteriormente, havia se reunido uma multidão e que esta multidão seguramente, devido a tudo
o que haviam presenciado até ali, regressava a seus lares, golpeando-se no peito em sinal de
autorreprovação, dizendo: “Nós fizemos isso”. E continua dizendo que todos os seus
conhecidos, incluindo as mulheres estavam próximos da cruz.
5. JESUS É SEPULTADO (23.50-56)
José era membro do concílio, isto é, da Corte Suprema dos judeus, o Sinédrio, ou seja,
era um membro altamente distinto e respeitado, proeminente, alguém cujo conselho era
buscado ansiosamente, pessoa cuja palavra tinha muito peso.
Pois bem, este homem foi a Pilatos para pedir o corpo de Jesus a fim de que recebesse
um sepultamento honroso. Foi preciso coragem para fazer isso. Primeiro, porque de acordo
com a lei romana, os crucificados perdiam o direito de serem sepultados. Em segundo lugar,
Pilatos odiava os judeus e, somado a isso, com sua atitude José de Arimatéia estava
professando abertamente, que era crente em Jesus. Indubitavelmente é necessário muita
142
Mathew Henry, p. 598.
123
valentia. José havia sido um discípulo de Jesus em secreto, alguém que por temor aos judeus
não se atrevia a tomar partido por Jesus de forma direta e aberta.
Lemos posteriormente nos versículos 53 e 54 a frase: “e tirando-o do madeiro”. Esta
frase não pode significar que José fez isso sozinho, evidentemente tinha ajudantes, um deles
era Nicodemos e provavelmente tinha outros mais, porque temos de levar em conta que José
era rico.
Então, uma vez o corpo retirado foi levado para o túmulo, que era propriedade de José
e foi tratado segundo era costume dos judeus ao sepultar seus mortos. Isso provavelmente
incluía a lavagem do corpo, envolvê-lo numa tela de linho e enquanto era envolvido
ajustadamente ao redor do corpo, se untava o corpo com a mistura de mirra e aloés fornecidos
por Nicodemos.
Mesmo que não haja nada que indique que as mulheres tenham ajudado de alguma
forma em retirar o corpo e no enterro, nos é dito que estiveram altamente interessadas no que
estava ocorrendo. Elas seguiram de perto, de modo que puderam ver exatamente onde ficava
o túmulo e como foi posto o corpo dentro dele. Então regressaram a suas casas e prepararam
essências e perfumes para a ocasião, mas como o dia de repouso estava próximo não
chegaram a realizar todos os preparativos antes.
“Terminado o dia de repouso, e sendo agora mais de seis da tarde, os bazares já
estavam abertos novamente. E assim, como lemos em Marcos 16.1, Maria Madalena e Maria,
mãe de Tiago e Salomé compraram especiarias para ir sem mais tardança ao túmulo de manhã
bem cedo e ungir o corpo de Jesus”143.
CONCLUSÃO
Quando Jesus confessou francamente ante o Sinédrio que era o Messias, o próprio
Filho de Deus, o Sinédrio o condenou à morte. Mas o direito romano não permitia aos judeus
executar a sentença. Assim toda a assembléia em plenário levou Jesus à presença do
procurador geral, Pôncio Pilatos.
As autoridades judias sendo obrigadas por Pilatos a apresentar uma acusação formal,
apresentaram várias acusações, equivalentes a: “Jesus é culpado de alta traição, ele se
considera um rei”. No final do interrogatório Pilatos disse aos líderes religiosos que não
143
W. Hendriksen, p. 712.
124
encontrava nenhum delito na conduta de Jesus e como soube que ele era da Galiléia, desejoso
de livrar-se do caso decidiu remetê-lo a Herodes, tetrarca da Galiléia. Jesus na presença deste,
se negou a pronunciar qualquer palavra e então Herodes o vestiu com uma túnica e o
devolveu a Pilatos.
Diante disso, Pilatos pensou em outro modo de livra-se do problema e propôs castigar
a Jesus e depois liberá-lo. Mas a multidão não aceitou a proposta e começou a exigir de
Pilatos a liberação de um perigoso delinqüente e assassino de nome Barrabás e a crucificação
de Jesus. Finalmente Pilatos constrangido pelas circunstâncias cede diante das autoridades
judias e entrega Jesus para ser crucificado.
Foi assim que Jesus foi crucificado no Monte Calvário, fora dos muros da cidade de
Jerusalém como exigia a lei, juntamente com dois delinqüentes, um de cada lado dele. Uma
vez efetuada sua morte, José de Arimatéia se apresenta a Pilatos e solicita a entrega do corpo
de Jesus; pedido que é concedido por Pilatos e se processa então, o sepultamento em um
túmulo de propriedade de José.
125
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO SETE
1. Por que o Sinédrio não pode executar a sentença contra Jesus?
2. Que era o tetrarca da Galiléia perante quem Jesus compareceu?
3. Quem o povo judeu pediu para ser libertado no lugar de Cristo?
4. Que profecia foi cumprida quando Jesus foi entregue para ser crucificado?
5. Que comparação Jesus faz quando no verso 31 fala de “lenho seco” e “lenho
verde”?
6. Como se chamava a pessoa que foi obrigada a levar a cruz em lugar de Jesus?
7. Qual foi a primeira frase que Jesus disse estando crucificado?
8. Quando os soldados romanos lançaram sortes aos pertences de Cristo, que profecia
foi cumprida?
9. Quando Jesus exclamou: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”, a que outro
texto bíblico fazia referência?
10. Quem era proprietário do túmulo onde Cristo foi sepultado?
126
LIÇÃO OITO
A GRANDE COMISSÃO SEGUNDO LUCAS (24.1-53)
INTRODUÇÃO
Cada um dos quatro Evangelhos, tem a Grande Comissão de Jesus Cristo ao final do
escrito. Cada Grande Comissão tem imperativos que mostram uma ênfase importante.
Mateus 28.19-20 – Façam discípulos
Marcos 16.15 – Preguem.
Lucas 24.39 – Vejam, apalpem, verifiquem.
João 20.21-22 – Recebam.
Para Mateus, Jesus Cristo é o verdadeiro israelita (Mt 1.1, filho de Abraão) e discípulo
e digno de ser obedecido como Rei (Mt 1.1, filho de Davi). Na Grande Comissão de acordo
com Mateus, Jesus Cristo anuncia que tem toda autoridade divina e universal para fazer
discípulos (Mt 28.16-20).
O tema de Marcos, anunciado em Marcos 1.1, é o Evangelho do Filho de Deus. Este
Evangelho deve ser pregado a toda criatura (16.15). Sinais divinos acompanharão os que
pregam o Evangelho do Filho de Deus.
O Evangelho de João ensina sobre a divindade do Filho de Deus (1.1) e os discípulos
receberão o Espírito Santo para poder perdoar e não perdoar pecados (20.21-23).
O propósito do Evangelho de Lucas é mostrar que Jesus é o Filho do Homem (4.18;
19.10) que veio resgatar os perdidos. O Filho do Homem ressuscitou fisicamente (24.7). Os
imperativos da Grande Comissão de Lucas mostram as evidências visíveis da ressurreição
física do Filho do Homem.
Como Filho do Homem, Jesus é o segundo Adão, o representante do homem diante de
Deus, o Pai. Como Filho de Deus todas as coisas foram feitas por ele (Jo 1.2). Como Filho do
Homem ele se encarnou como homem, ele participou da vida humana, ele chegou a ser
substituto para o povo de Deus na cruz e na ressurreição (1 Co 15.22).
Lucas 24 começa com o relato das mulheres que não encontraram o corpo de Cristo no
sepulcro (1-3). Dois anjos aparecem e anunciam que o Filho do Homem havia ressuscitado (4-
127
7). As mulheres informaram aos discípulos, mas eles não acreditaram (8-11). Pedro, então, foi
ver o túmulo e o encontrou vazio (v. 12).
Lucas conta a história dos dois discípulos não apostólicos, que conheceram ao Cristo
ressuscitado no caminho de Emaús. Tal como no capítulo um, a ênfase é a revelação a todo o
povo de Deus, incluindo as mulheres, os não-apóstolos e aos futuros apóstolos. Neste sentido,
a ressurreição não é somente conhecida pelos líderes cristãos, mas é uma revelação a todo o
povo de Deus.
O versículo 39 é a chave para entender a ressurreição física do Filho do Homem.
Lucas menciona duas evidências de como a ressurreição física é conhecida: por ver e apalpar;
Estes dois sentidos afirmam a ressurreição do Filho do Homem.
1. A RESSURREIÇÃO DO FILHO DO HOMEM (24.1-12)
O Filho do Homem ressuscitou! (v. 7). É uma realidade histórica, necessária e
sobrenatural. A realidade histórica da ressurreição é descrita de acordo com o tempo, de
acordo com muitas testemunhas e registrada socialmente.
A ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana, um domingo. Jesus ressuscitou
como o primogênito da nova criação. O Filho do Homem venceu a morte, pagou pelos
pecados de seu povo e agora é ressuscitado pelo Espírito de Deus.
Lucas menciona várias testemunhas deste primeiro dia da semana. Eram Maria
Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e Pedro. João menciona também a João (Jo 20.2-4).
Também há testemunhas celestiais. Lucas menciona a dois anjos. Assim, como o livro de
Lucas começa com a aparição de anjos, o capítulo 24 termina com o testemunho dos anjos.
2. NO CAMINHO DE EMAÚS (24.13-35)
A aparição do Cristo ressuscitado aos dois discípulos no caminho de Emaús só é
mencionado por Lucas. De acordo com o capítulo, a aparição é a dois crentes comuns, não são
líderes, nem apóstolos. A historicidade do relato é afirmada por mencionar o nome do lugar, o
nome de um dos crentes, Cleopas, e por dar detalhes sobre o ensino dado por Jesus a eles.
128
3. AS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO FÍSICA DE JESUS É VISÍVEL E
TOCÁVEL (24.36-49)
A necessidade de revelar a verdade sobre a ressurreição física existe porque o ser
humano não tem capacidade própria para entender e crer nisso. Por que foi necessário
apresentar evidências físicas da ressurreição do Senhor? A resposta é porque os cristãos não
iam crer sem estas evidências. Os discípulos pensaram que estavam vendo um espírito.
“Os discípulos precisavam ser convencidos de que estavam vendo uma pessoa
autêntica e que realmente era Jesus, e que tivessem seus temores acalmados ante esta
manifestação sobrenatural. Por isso, Jesus lhes mostrou seu corpo físico de carne e osso, e
suas mãos e pés com os sinais dos cravos. Para dar mais provas da realidade de sua presença,
comeu algo enquanto estava com eles”144.
A incredulidade dos crentes. Em Lucas 24.37, os discípulos ainda tinham dificuldades
em crer que Jesus havia ressuscitado. As evidências são apresentadas, mas ainda tinha
problemas com isso. Por isso, a necessidade do imperativo de Jesus: Vede e apalpai-me. Jesus
manda os discípulos e também a nós, crermos em sua ressurreição física. A mesma prova foi
dada a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20.27).
Dado o fato de que os crentes são imperfeitos, eles necessitam, constantemente, da
pregação da Palavra de Deus e dos ensinos dos imperativos da Grande Comissão. O
conhecimento da ressurreição física do Senhor não pode ser entendida simplesmente pela
lógica e racionalidade humana. É um conhecimento que deve ser revelado, seja pelos anjos,
pelo Senhor, pelo Espírito da verdade e pela Bíblia. Deus deve abrir a nosso entendimento.
“Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras”.
A incredulidade dos não-crentes. Há os que crêem que a ressurreição é espiritual.
Incrédulos! Se alguém crer que Jesus ressuscitou espiritualmente, não crer, pois, na
ressurreição. Jesus não morreu espiritualmente. Jesus morreu fisicamente. Seu espírito foi
entregue ao Pai (Lucas 23.46). Por isso testificamos que a ressurreição é corporal ou física. O
artigo XI do Credo Apostólico afirmam: “Creio na ressurreição do corpo”.
144
Comentario Siglo XXI , e-sword.
129
As Testemunhas de Jeová, os mórmons e os liberais que crêem na ressurreição
espiritual não crêem na ressurreição histórica e real de Jesus Cristo. Aqueles que negam a
ressurreição, disse Paulo são condenados por Deus (1 Co 15) e são parte do espírito do
Anticristo (1 Jo 5).
A rejeição da ressurreição de Jesus vai nos causar problemas graves. A rejeição do
Messias ressuscitado chegou ao ponto de Deus entregar os judeus aos romanos. Lucas
menciona detalhes sobre a destruição do templo em Jerusalém145.
O historiador, Josefo, escreve que nenhum cristão morreu na defesa do templo quando
os romanos o destruíram no ano 70 dC. Os cristãos não defenderam o templo porque o Cristo
ressuscitado é seu templo e eles como crentes são parte do templo do Espírito Santo.
É imperativo que todos creiam que Jesus ressuscitou fisicamente porque um dia os
justos e os injustos vão morrer e ressuscitar fisicamente (1 Co 15.17-22). Cada um deve
prestar contas ao Filho do Homem ou porque creram e serviram ao Deus verdadeiro ou não.
Por isso, cada pessoa deve considerar com toda seriedade, as razões para crer na ressurreição
física.
Jesus enviou seus discípulos para serem testemunhas de sua ressurreição (v. 48).
4. RAZÕES PARA SE CRER NA RESSURREIÇÃO FÍSICA
Há testemunhas oculares. Os discípulos foram testemunhas oculares da ressurreição
de Jesus e que Ele não era simplesmente um espírito. Em 1.1-4, Lucas indica que está fazendo
uma pesquisa entre as testemunhas oculares e os ministros fiéis do Senhor. Aqui Lucas mostra
como eles viram a Jesus.
Há múltiplas testemunhas. John Gill observa que a visão poderia enganar aos
discípulos, mas a verificação de outro sentido, o tato, confirmará o que foi visto 146. É o
princípio da dupla verificação. A verdade é verificada pelo testemunho de duas ou mais
testemunhas.
145
146
Hendricksen, Op. cit., Vease Lucas 19: 39 - 44; 21: 20 – 38.
John Gill, Comentario, e-sword
130
Há uma relação entre a crucificação histórica e a ressurreição histórica do Senhor.
As marcas físicas no corpo ressuscitado de Jesus são evidências de que ele foi histórica e
fisicamente torturado e morto na cruz do Calvário.
As marcas preservadas no corpo de Jesus mostram a razão de sua morte. Há
evidências no corpo ressuscitado de Jesus Cristo da necessidade de morrer por nosso pecados.
E isso foi necessário para perdoar “a seu povo dos seus pecados”. Alguém teve que pagar com
sangue e vida pelas ofensas do povo de Deus. Só Jesus, como homem perfeito, pode ser um
sacrifício e substituto perfeito para nós. Ele que morreu na cruz é o substituto para os filhos de
Deus.
Ele que morreu na cruz por nós é 100% humano e 100% Deus. Como ser humano, ele
é o segundo Adão. Ele teve que ser exatamente igual ao primeiro Adão e exatamente igual a
nós. O segundo Adão não era mais evoluído que o primeiro Adão e nós não somos mais
evoluídos que o segundo Adão. Por isso, se a evolução humana for considerada verdadeira,
não há doutrina da substituição expiatória por nossos pecados e Jesus ressurreto não pode ser
nosso substituto na ressurreição.
A ressurreição física do Filho do Homem, o segundo Adão, é diferente da teoria da
evolução do super-homem do século XXI. A expressão máxima da humanidade é o Filho do
Homem que ressuscitou. Leia Hebreus 2.
As marcas no corpo do Filho do Homem são parte do “caso moral” que Deus o Pai,
tem contra nós que será manifestado no dia do juízo. A ressurreição do Filho do Homem e de
todos os homens implica que todos os homens devem dar conta ao Filho do Homem do que
fizeram nessa vida. A justiça de Deus vai ser cumprida. Não há escape.
Nossa única resposta adequada ante a morte do Filho do Homem é humilharmo-nos e
pedir perdão ao Pai por haver sido parte da necessidade de crucificar o Filho do Homem por
causa de nossos pecados. Talvez você pense que, por não está na multidão que gritava
pedindo o sangue a vida de Cristo, seja inocente. Engano. Cada vez que pecamos, como seres
humanos, estamos ofendendo ao Filho do Homem que vive para sempre.
As marcas são uma evidência de nossa depravação total. As marcas da crucificação
no corpo de Cristo nos fazem lembrar quem somos. Somos tão maus que somos capazes de
131
matar ao Filho do Homem. Isso deve nos ajudar a não nos exaltarmos, mas deve nos humilhar
completamente e nos fazer clamar pela misericórdia e graça de Deus.
A ressurreição do corpo de Cristo dá esperança aos pobres. Os pobres são os que
tem necessidades. São enfermos, cegos, encarcerados, oprimidos, quebrantados de coração.
Seus sofrimentos são causados pelas conseqüências do pecado no mundo. Os pobres que são
de Deus vão buscar seu socorro com Deus. Lucas 7.20-23 mostra os primeiros frutos da
chegada do Reino de Deus entre os pobres. Um dia, quando os pobres de Deus forem
ressuscitados, sua restauração será completa.
A ressurreição vai trazer justiça aos pobres. Os que oprimiram e perseguiram os
justos vão ser julgados quando os justos e injustos forem ressuscitados. O Filho do Homem
vai julgar a todos os filhos do homem.
5. A CONTINUAÇÃO (24.50-53)
Lucas narra que o Filho do Homem subiu fisicamente ao céu. Isso tem muitas
implicações.
O fato de o Filho do Homem subir fisicamente ao céu para reinar à destra do Pai
significa que ele não é um espírito que vai aparecer aqui e ali e vir muitas vezes ao mundo.
Sendo que a ascensão é física e o Filho do Homem só pode estar em um lugar por vez, seu
reinado é estendido espiritualmente à igreja por seu Espírito Santo e pela Palavra de Deus,
Sua volta física é única.
Em Atos, Lucas narra de novo como foi a ascensão e o que aconteceu depois. Deus, o
Pai, e o Filho enviaram o Espírito Santo no dia de Pentecostes. Aqui se nota a continuação do
ministério de Jesus, que agora vai reinar por sua igreja a partir da sede principal do universo.
Qual é a sede principal? Jerusalém? O Vaticano? Genebra? Orlando? Cristo no céu é a
sede principal e a igreja fiel é a agência principal para a continuação dos ministérios e da
missão do Filho do Homem.
Ele está reinando espiritualmente pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus usando a
igreja como sua agência principal.
132
CONCLUSÃO
A conclusão do Evangelho segundo Lucas é semelhante às conclusões de Marcos,
Mateus e João. Há um testemunho da ressurreição história de Jesus e um testemunho da
Grande Comissão. O que é peculiar em Lucas é a menção dos “leigos”, os dois discípulos a
caminho de Emaús e o relato extenso do encontro de Jesus com os discípulos que haviam
regressado a seu trabalho. O Filho do Homem ressuscitou (24.7), sua ressurreição é histórica
(v. 39) e agora a história da redenação vai continuar com a ascensão (v. 51) e com o futuro
Dia de Pentecostes.
133
PERGUNTAS PARA A LIÇÃO OITO
1. Quais são os imperativos na Grande Comissão ao final de Cada Evangelho?
2. Como estão relacionados os dois imperativos em Lucas 24.39?
3. Que relação há entre o tema do Filho do Homem com a Grande Comissão segundo
Lucas?
4. Porque se alguém crer só na ressurreição espiritual de Jesus, está negando a
ressurreição?
5. Que conseqüências teria para a nação de Israel, no primeiro século, a rejeição de
Jesus Cristo? Onde o Senhor profetizou isso?
6. De que maneira a ressurreição de Jesus afirma que Ele foi historicamente
crucificado?
7. Por que a testemunha ocular é importante para se crer na ressurreição de Jesus?
8. De que maneira se ver o múltiplo testemunho da ressurreição de Jesus?
9. Por que Deus, tem um “caso moral” contra a humanidade?
10. Você tem alguma pergunta quando à Grande Comissão segundo o Evangelho de
Lucas?
134
BIBLIOGRAFÍA
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Comentario Siglo XXI. e-sword
Estrada, Comentario Bíblico Mundo Hispano.
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Guillermo Hendriksen. Comentario al Nuevo Testamento. Exposición del Evangelio
según San Lucas. Grand Rapids: Libros Desafío, 2002.
Roberto Jamieson, Comentario exegético y explicativo de la Biblia, Tomo II NT,
Jamieson-Fausset-Brown, Comentario del NT, e-sword
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Josefo, Guerra Judaica.
Matthew Henry. Comentario, “Lucas.” e-sword
G.J. Wenham, J.A. Motyer, D.A. Carson, R.T. France. Nuevo Comentario Bíblico
Siglo Veintiuno. Nuevo Testamento. El Paso: Editorial Mundo Hispano, 2003.
René Zapata. Comentario Bíblico del Nuevo Continente. “San Lucas.” Miami:
UNILIT, 1986.
www.britannic.com
135
FOLHA DE ESTUDO BÍBLICO147
Texto:
Título:
MÉTODO TEOLÓGICO
Relação do texto com Deus o Pai. Relação do texto com Deus, o Filho. Relação do
texto com Deus, o Espírito Santo. Identificação de ídolos.
MÉTODO CRÍTICO
Identificação dos manuscritos usados
Compreensão das diferenças que há entre os manuscritos
Versão Bíblica
Idioma do texto
Idioma usado na interpretação
MÉTODO INDUTIVO
(Textos de referência)
(Explicações de dados importantes)
Palavras importantes:
Anotações gramaticais:
Comparação de traduções:
Gênero literário:
Autor e ouvintes originais:
Contexto cultural:
Contexto histórico:
Contexto bíblico:
147
O formato desta folha de trabalho é uma adaptação da Folha de Trabalho de uma Passagem Bíblica do curso
do dr. Neal Hegeman: Introdução ao Estudo Bíblico, Miami: MINTS, 2009.
136
Título e Tema da passagem:
MÉTODO EXPOSITIVO
(observações sobre cada versículo)
MÉTODO LITERÁRIO
(formular uma estrutura temática da passagem)
Identificar o gênero da passagem e texto.
Identificar o tema do livro e sub-tema da passagem onde está inserido.
MÉTODO ANALÍTICO
Verdade(s)
Mentira(s)
Evangelho
Idolatria
MÉTODO DOUTRINÁRIO
Sua igreja tem uma interpretação quando ao texto que estamos considerando? Onde
está escrito?
MÉTODO PESSOAL
Que importância tem seu estudo da Bíblia com sua relação com Deus?
Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com outros?
Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com você mesmo?
Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com os pobres?
Qual é seu costume de ler a Bíblia?
Qual é seu hábito para recordar o que a Bíblia diz?
MÉTODO CONTEXTUALIZADO
137
Qual é a condição social do intérprete ou ouvinte? Estão em que condição? Há
pobreza?
MÉTODO DEVOCIONAL
Oração e Ação
Louvor:
Confissão de pecado:
Petições especiais:
Ação de graças:
MÉTODO DO CÍRCULO HERMENÊUTICO
1. O que o texto diz sobre Deus?
2. O que diz o texto acerca da revelação de Deus?
3. Que relação tem o texto com o resto da Bíblia?
4. Como o Evangelho é comunicado (Cristo)?
5. O que o texto diz sobre o coração de Deus, o coração humano, o coração do
ouvinte?
6. Que relação tem o texto com o contexto do autor humano, o contexto dos
ouvintes ou leitores originais e o contexto do ouvinte agora?
7. Como este texto traz glória a Deus?
MÉTODO DE TEMA E ENSINOS
138
Tema:
Aplicações:
1.
2.
3.
REGISTRO DE CLASSE
FREQUENCIA
TAREFAS
LEITURA DE
ESCREVER
PROVA
NOTA
COMENTÁRIOS
UM
FINAL
FINAL
10%
100%
TRABALHO
15%
25%
25%
25%
Um ponto para
Responder
No nível de
A prova
cada hora e um
ás perguntas
Bacharelado 300
deverá
ponto extra para
ao final de
páginas e no
constar de
cada hora de
cada lição.
Mestrado 600
perguntas
aula com o
São 3
páginas.
que foram
grupo.
pontos para
No trabalho de
respondidas
cada lição e
mestrado o aluno
na lição.
se todas são
deve citar ao
respondidas
menos seis
a tempo, um
comentários em
ponto a
seu trabalho e no
mais de
de bacharel três.
bônus.
139
140
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