Conteúdo INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 2 I. A IGREJA E AÇÃO REVITALIZADORA ........................................................................................................ 3 II. ÁREAS DE REVITALIZAÇÃO DE IGREJAS ................................................................................................. 9 III. A BASE BÍBLICA E TEOLÓGICA DA MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA .......................................18 IV. OS DESAFIOS E IMPLICAÇÕES DA MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA .........................................21 V. VI. O CRESCIMENTO INTEGRAL DA IGREJA: UMA AVALIAÇÃO BÍBLICO-TEOLÓGICA..............24 PRINCÍPIOS DE CRESCIMENTO DE IGREJAS ....................................................................................32 1 INTRODUÇÃO Antes de analisarmos ou elaborarmos qualquer sistema relativo ao Crescimento de igrejas, vejo como essencial trabalhar a Revitalização de Igrejas como ponto de partida para que qualquer método de crescimento possa ser implantado de tal maneira que venha realmente produzir os resultados necessários e esperado. A palavra REVITALIZAR é formado pela junção do prefixo RE mais o verbo VITALIZAR. O prefixo RE é usado para o ato de mover para trás, no sentido de retornar ao estado anterior. VITALIZAR é empregado como: restituir à vida, dar nova vida, dar força, vigor ou vitalidade a algo. Do verbo vai-se para o substantivo: VITALIDADE, que se aplica ao conjunto das funções orgânicas que apontam para a vida, em seu aspecto de: vigor e força. REVITALIZAR é o processo de: tornar a vitalizar ou insuflar vida em algo ou alguém. A VIDA é o objeto e objetivo da REVITALIZAÇÃO A VIDA é o conjunto de propriedades e qualidades graças às quais animais e plantas, ao contrário dos organismos mortos ou da matéria bruta, se mantém em contínua atividade, manifestada em funções orgânicas, tais como: metabolismo, crescimento, reação a estímulos, adaptação ao meio, reprodução, ao longo de um período de tempo chamado existência. Pode-se pensar na VIDA de algo ou alguém como aquela condição de animação (alma) contrária à total ausência desta. Afirmar a REVITALIZAÇÃO de um ORGANISMO VIVO depende de um CONTEXTO de USO Se o ORGANISMO VIVO é o corpo humano, podemos aprender com as ciências da saúde: É possível revitalizar o corpo por meio de estímulos adequados Alguns estímulos são naturais ao corpo Outros estímulos são externos ao corpo Se o ORGANISMO VIVO é a natureza, podemos aprender com as ciências da vida. Na natureza, tudo está vivo, e é próprio da natureza revitalizar-se. A revitalização é uma ação que o próprio ambiente efetua a partir de si mesmo. Por outro lado, esta ação pode ser impedida de cumprir seu papel, e, neste caso, se fala de recuperar este papel, por exemplo, restaurar um rio de modo que ele volte às condições de revitalizar-se. Se o ORGANISMO VIVO é o ser humano nas suas relações sociais e culturais, podemos aprender com área das ciências da sociedade e da cultura e, por extensão, da religião. É possível revitalizar uma instituição social cuja finalidade não mais é cumprida na forma como a sociedade é pensada, voltando a lhe atribuir novas funções conforme as novas exigências. É possível revitalizar uma cultura antiga, restaurando seu valor tanto de passado quando de futuro, para o presente. É possível revitalizar uma religião, no sentido da retomada do seu culto. 2 Aproveita-se o que ainda existe, de modo que, a partir do existente, se realize a ação externa revitalizadora. Conclusão: I. A REVITALIZAÇÃO acontece a partir da capacidade interna de um ORGANISMO VIVO, cuja vida lhe permite se auto-refazer continuamente por e a partir de si mesmo, bastando para isso ter as condições favoráveis. Não havendo condições favoráveis, estas podem ser criadas a partir de uma ação externa, cuja finalidade é INSUFLAR A VIDA. A IGREJA E AÇÃO REVITALIZADORA A IGREJA é um ORGANISMO VIVO cuja VIDA é auto-renovável. Se ela possuir as condições sempre adequadas, a VIDA fluirá naturalmente. REVITALIZAR a IGREJA é oferecer as condições adequadas para que ela se refaça continuamente. Como saber quando a VIDA está indo? Quais são as condições favoráveis à VIDA? A quem cabe realizar o ato de REVITALIZAR a VIDA da IGREJA? Usaremos três exemplos: 1. A ação revitalizadora das vivências religiosas judaicas, efetuada por Jesus e seus seguidores. 2. A ação revitalizadora do culto sacrificial judeu, efetuada na carta aos Hebreus. 3. A ação revitalizadora da igreja, na correspondência do apóstolo Paulo com a igreja de Corinto. A AÇÃO REVITALIZADORA DE JESUS, E SEUS SEGUIDORES Este movimento revitalizador de Jesus é antecedido, no tempo, de outros dois movimentos: O grande movimento revitalizador cultural, político e religioso chamado Judaísmo palestinense helenizado (séc. III). O grande movimento de reação e repúdio à helenização da Judéia palestinense, que culminou na revolta macabéia e na retomada das características mais tradicionais do Judaísmo. Nos dias de Jesus, o movimento se dava ao redor da revitalização da Torah, por meio da sua aplicação a casos concretos da vida cotidiana. Surgiu, assim, a halakhah, obra dos escribas de diversas épocas, que tinham a tendência de lhe atribuir a mesma autoridade da Torah. 3 A revitalização da Torah, feita por Jesus e seus seguidores, aspirava a uma novidade de vida nas vivências religiosas judaicas, gerando um conflito com aquela proposta estabelecida pelos escribas da época. A revitalização da Torah tornou necessário o conflito entre a melhor interpretação acerca da vontade de Deus: aquela feita pelos escribas ou por Jesus e seus seguidores. Este conflito é bem descrito na frase de Jesus, em Marcos 7:13: “...invalidais a palavra de Deus pela vossa tradição que transmitistes”. O Sábado é um desses exemplos paradigmáticos. Disse Jesus: “O sábado foi instituído por causa do ser humano, e não o ser humano por causa do sábado” (Marcos 2:27). A revitalização da Torah acerca da função do Sábado consistia em vê-lo como uma criação de Deus imediatamente após o ser humano, para beneficiá-lo. Nesse dia, eles poderiam: se alimentar (Marcos 2:23) e curar (Marcos 3:2), enfim, praticar o bem a outro ser humano (Marcos 3:4). A atitude para com a pureza ritual é outro exemplo paradigmático. Jesus disse: “Fora do homem não há nada que, entrando nele, possa torná-lo impuro; mas o que sai do homem, isso o torna impuro” (Marcos 7:15). A revitalização, aqui, se encontra na rejeição das lavagens rituais (Marcos 7:2-4) que induziam a um senso de purificação e separação dos demais. O ser humano deveria se purificar e se separar daquilo que impedisse a aproximação com outro ser humano, seu próximo (Marcos 7:20-23). Conclusão: Da revitalização da palavra que Deus falou na Torah, efetuada por Jesus e seus seguidores, apareceu a autoridade de um ensino novo, que produziu uma reorientação da vida religiosa judaica, portanto, a sua revitalização. Jesus fundou uma nova halakhah e, com ela, uma renovação da vivência da fé em Deus. A AÇÃO REVITALIZADORA DO CULTO SACRIFICIAL JUDEU, EFETUADA NA CARTA AOS HEBREUS Baseou-se na revitalização de um conjunto de idéias e práticas que constituiriam a Era Messiânica: A reconstrução da nação de Israel e sua introdução na era messiânica, considerada o novo repouso. A expectativa acerca dos sinais de Deus que prenunciassem a hora do retorno a Jerusalém. O cansaço com a velha ordem representada pelo templo, e a expectativa de um novo culto que teria lugar na era messiânica. 4 Estas crenças e expectativas messiânicas se apoiavam em duas atitudes cotidianas: A imitação dos exemplos motivadores da migração de Abraão e da geração do êxodo. As fortes expectativas apocalípticas messiânicas que incentivavam a formação de grupos que rompiam todos os laços a fim de se separarem para aguardar a era messiânica. A breve homilia (10:1-14) está interessada nos aspectos que dizem respeito às possibilidades da nova aliança em prometer o perdão dos pecados e a conseqüente purificação de mente e coração que permita a aproximação de Deus pelos adoradores. A afirmação básica é: Jesus Cristo aperfeiçoou para sempre aqueles que estão sendo santificados por sua única auto-oferenda. Utilizando-se do antigo culto de Israel, constituído sob a antiga aliança, cujo fundamento era o antigo sistema legal de oferendas, a homilia constrói seu argumento: Argumento Teológico As Escrituras hebréias demonstram que Deus estabelecera uma aliança com o antigo Israel do qual constava um culto com um sistema legal de oferendas pelo qual os adoradores aproximavam-se de Deus. Ao rejeitar este sistema Deus abriu o caminho para uma nova aliança cuja eficácia é superior àquela (10:1-4). Argumento Cristológico O estabelecimento e a manutenção da nova aliança só foi possível devido à aparição e auto-oferenda do corpo de Jesus Cristo, que foi feito desde então o mediador da nova aliança (10:5-10). Argumento Soteriológico Tendo os pecados removidos os adoradores foram consagrados para um novo relacionamento com Deus, sendo santificados para se aproximarem dele e adorá-lo para sempre (10:11-14). Conclusão: Ocorre a revitalização da palavra de Deus na profecia: quem declara isto é o Espírito Santo desde uma porção selecionada da citação de Jeremias 31:31-34. A homilia revitaliza a crença messiânica ao redor do culto, com um aforismo ou expressão que fixa indelevelmente seu ensino nas mentes dos ouvintes: “...onde a libertação destes, não mais oferenda pelos pecados.” 5 A AÇÃO REVITALIZADORA DA IGREJA, PAULO E A IGREJA DE CORINTO A vitalidade da igreja e a revitalização desta é atribuição específica do Espírito e da escolha humana em amar. Paulo constrói sua retórica a partir do recurso ao corpo humano, por ele transformado em metáfora da igreja, em 1 Coríntios 12. A vida do Espírito é percebida por meio de suas manifestações na vida individual de cada coríntio incorporado na vida da igreja (12:7,11). Esta é a razão para a escolha da metáfora do corpo como argumento para a retórica da vitalidade de Paulo (12:12-27). A ação revitalizadora da igreja, Paulo e a igreja de Corinto – Parte 1 Ordem do O corpo argumento Primeira parte: 12:12,13 A igreja Assim também Razão teológica de natureza exortativa É uma, ainda Em um só Cristo, que feita de todos os muitos membros membros individuais foram individuais batizados em um só Espírito, para ser um só corpo, e beberam de um só Espírito É um, ainda que feito de muitos membros A ação revitalizadora da igreja, Paulo e a igreja de Corinto – Parte 2 Ordem do argumento Segunda parte: 12:1430 O corpo A igreja Assim também No corpo há muitos membros que, somados, formam o corpo É o corpo de Cristo e, individualmente, membros desse corpo 6 Razão teológica de natureza exortativa Cada membro individual tem uma função na igreja que implica em interdependência e cuidado mútuo, de modo que o corpo de Cristo seja preservado com vitalidade, presente na enumeração de funções Como é possível ter esse comportamento, uma vez que o corpo humano cuida de si mesmo naturalmente, enquanto que dos membros individuais se requer um empenho em agir assim? A resposta apela ao desejo humano de experimentar o máximo de um relacionamento ou experiência interindividual com outros seres humanos. A escolha de amar realiza esta possibilidade devido às suas características naturais (13:1-13). Paulo segue, argumentando que o amor, de fato, constrói as relações interindividuais com o exemplo do dom da profecia (14:1-25). Construir o corpo é mais importante que a satisfação pessoal, mas também passa pela escolha individual movida pelo amor. Como prova do que está dizendo, Paulo evolui para as questões práticas do culto: espaço privilegiado da vitalidade da igreja, no qual todas as ações dos membros individuais são estimuladas e onde a demonstração máxima da sua exortação pode ser experimentada (14:26-35). E conclui, afirmando as relações desde as quais a sua argumentação devem ser aceitas: a autoridade apostólica (12:36-38), e seu interesse no bem-estar da igreja, que depende da sua vitalidade (12:39,40). Conclusão: Paulo está argumentando em favor da importância e necessidade de se manter a vitalidade da igreja. A escolha do corpo humano para realizar a função de ensino é significativa, pois este é um organismo vivo que se conserva assim enquanto seus membros contribuem realizando as suas funções. Os membros individuais da igreja, que se reconhecem como tais, a partir da metáfora do corpo humano, são levados a reconhecer que devem ceder sua vida individual à igreja, de modo a construir e manter a sua vitalidade. A preocupação de Paulo com este assunto não faria sentido algum se lhe faltasse o contexto, um motivo para que a comunicação se fizesse deste modo. Este se encontra na reconhecida desunião dos coríntios (3:3), no partidarismo (3:4; 11:18), na individualidade exarcebada (8:9; 11:33,34). O propósito do discurso de Paulo é eminentemente pragmática: Os coríntios devem aprender que, ainda que indivíduos, o Espírito os uniu em uma coletividade. Esta deve ser mantida viva por meio da transferência contínua de vida dos indivíduos para ela. Isto será possível se eles cultivarem uma atitude de amor de uns para com os outros. A PERDA da VITALIDADE a partir da INSTITUCIONALIZAÇÃO A partir do final do século 1 em diante, a sucessiva institucionalização gera a perda de vitalidade da igreja. Para Emill Brunner: “a Ecclesia do Novo Testamento é uma comunhão de pessoas e nada mais. Ela é o Corpo de Cristo, mas não uma instituição”. Para ele, a ênfase na Palavra, comum nas antigas comunidades cristãs, e a razão de sua vitalidade, foi superada por aquilo que era periférico: a refeição eucarística que se tornou sacramento ou alimento da salvação. 7 Ao redor dela se constituiu a comunidade única de crentes em uma localidade presidida por um líder monárquico chamado bispo. Desde que coube ao bispo a administração do sacramento, fez-se uma separação entre ele, o sacerdote e o povo, o leigo. O desenvolvimento final na Igreja antiga aconteceu quando o bispo-sacerdote passou a transferir a sua autoridade àqueles que ele escolhia para sucedê-lo. Estes dois desenvolvimentos: sacramentalismo e institucionalismo induzidos por um episcopalismo são os responsáveis pela transformação da comunidade cristã de uma comunhão espiritual e individual em uma comunhão coletiva e sacramental A transferência de autoridade episcopal não mais obedecia a dinâmica carismática do Espírito Santo, mas critérios estabelecidos em função do próprio ofício episcopal. O espiritual cede seu lugar ao legal e se desenvolve todo um aparato eclesiástico como conseqüência e para justificá-lo. O círculo se fecha quando a transferência de autoridade episcopal retorna para trás até os apóstolos, tornando-se uma transferência de autoridade apostólica. Como depositário da distinção apostólica, coube ao bispo a sua transferência para outros por meio da imposição de mãos institucionalizada como ordenação. Invertese o processo que ocorria nas antigas comunidades. Nelas, a identificação da graça do Espírito justifica a função eclesial. Agora, a ordenação eclesial justifica a graça do Espírito. Emill Brunner conclui seu raciocínio do seguinte modo: “Fora da fraternidade “mística” enraizada na Palavra e no Espírito; fora do Corpo de Cristo cuja única cabeça é o próprio Cristo, e cujos membros são, por isso, de igual status; fora do sacerdócio real e nação santa, cresceu a Igreja – uma totalidade composta de comunidades individuais; cada uma das quais sob a jurisdição eclesiástica de um bispo, o qual, como sacerdote administrador, permanece separado do laicado receptor, porque ele controla o sacramento, o alimento da salvação, a coisa sagrada que mantém junto os componentes individuais e os torna num coletivo solidário.” 8 II. ÁREAS DE REVITALIZAÇÃO DE IGREJAS 1. NA CIDADE Tendo em mente que a ação pastoral no contexto urbano deve considerar como prioridade a pessoa humana, atender às necessidades dos diversos grupos e estabelecer relações com os poderes públicos, poderemos então trabalhar alguns elementos portadores de vida e saúde para as igrejas no contexto urbano REDESCOBERTA DA UNIDADE Em toda parte da Bíblia, somos desafiados a atentarmos para a necessidade do poder da unidade (Ne 4:19,20) Quando há comunhão e unidade o Senhor ordena a benção e a vida para todos (Sl 133), além de, ser bom e agradável aos olhos do Senhor A oração sacerdotal de Jesus é para que sejamos um (Jo 17) Depois da descida do Espírito Santo, no Pentecoste, a unidade se manifestou imediatamente. O Espírito gerou unidade e comunhão no meio da comunidade dos primeiros cristãos (At 2:44-47) O apóstolo Paulo logo nos chama a atenção para o fato de que a unidade deve ser conservada. Não basta proclamá-la, há que se preservá-la (Ef 4:3) Se desejamos alcançar nossa cidade, necessitamos redescobrir o valor da unidade cristã. Não é “uniformidade” pois, a unidade cristã, não é equivalente à uniformidade 2. LÍDERES CATALIZADORES Em todos os movimentos de revitalização na história da Igreja, encontramos Deus levantando líderes, cujas vidas se tornam referência e modelo para todos Não se trata de personalismo, mas sim, de pessoas que pela humildade e caráter, consagração e sensibilidade espiritual, se tornam instrumentos nas mãos do Senhor para revitalizar a Igreja. São líderes que conseguem, por meio do carisma e de ideais, reunir, ao redor de si, pessoas e grupos, objetivando levar adiante os projetos e sonhos que o próprio Deus revelou aos seus corações e mentes. São líderes capazes de colocá-los em prática, desenvolvendo-os de maneira metodológica e persistente, até executá-los em sua totalidade. Características de um líder Catalizador 1. Ter clareza do propósito para o qual Deus os tem chamado Os líderes deverão ter consciência clara do objetivo de sua missão (Ne 2:7) Essa clareza de propósito, responde, explica, esclarece, direciona, faz ver o porquê do que se está fazendo e dá limites ao trabalho, determinando o que deve e o que não deve ser feito 9 2. Ser Disponível nas mãos de Deus Diante dos desafios encontrados no mundo urbano, o líder necessita ter clara consciência da mão poderosa de Deus sobre sua vida (Ne 2:18a) Deus usará toda a sua capacidade, dons e talentos, para cumprir o Seu propósito. Portanto, uma atitude de dependência e submissão à direção de Deus é fundamental para que se possa ser usado por Ele na cidade 3. Ser Capacitado para se Comunicar O líder, principalmente no contexto urbano, deve ser alguém que saiba se comunicar, de forma clara e objetiva, a sua proposta de trabalho (Ne 2:18b) Se assim não for, terá grandes dificuldades em desenvolver projetos. Deve ter capacidade de síntese, desenvolver um linguajar simples e ter discernimento para captar as mensagens transmitidas na cidade. 4. Estar preparado para Integrar as pessoas dentro de um Projeto Líder sem credibilidade jamais poderá ser agente transformador na vida da cidade. Sua integridade é fundamental para que ele adquira respaldo diante de sua comunidade de fé e perante a sociedade maior (Ne 3) Somente dessa maneira poderá ver sua visão se transformar em missão prática e eficaz. 5. Ser Estruturado para enfrentar críticas e oposições É necessário ter estrutura espiritual, emocional e física para lidar com as constantes críticas, boatos, ameaças, intrigas, zombarias, desprezo, calúnias etc. (Ne 2:19; 4:1,3,7,8,11; 6:2,6,7). Não pode se deixar intimidar pelas circunstâncias e adversidades, tampouco se impressionar ou recuar diante das pressões e intimidações. 6. Estar consciente da necessidade de adotar um estilo de Vida Simples Desenvolver uma prática de vida longe de ostentações, privilégios e luxo e extravagâncias (Ne 5:15-18). O líder no contexto urbano deve ser aquele que tem a capacidade de viver um estilo de vida simples, que aprendeu a abrir mão das coisas, que desenvolveu o autocontrole, que valoriza uma vida modesta e que, enfim, encarnou a realidade de uma ética de renúncia, objetivando o desenvolvimento de uma espiritualidade sadia e madura 3. REDESCOBERTA DO MINISTÉRIO DE CADA CRISTÃO A redescoberta do sacerdócio universal de todos os crentes tem sido um fator fundamental de saúde e vida para o povo de Deus. É necessário redescobrir a importância que cada membro tem no corpo de Cristo. 10 A responsabilidade na realização da obra de Deus não é apenas dos sacerdotes, pastores ou líderes. Deus concedeu dons e ministérios para todos os cristãos (Hb 10:19-22; I Pd 2:5-9; Ap 1:6; 5:10; 20:6). É o que Cristian Schuartz denomina de MINISTÉRIO ORIENTADO PELOS DONS (I Co 12:4-31): Deus determinou quais cristãos vão efetuar melhor determinados ministérios através dos dons concedidos (Rm 12:3-8; Ef 4:11,12). A ação da Igreja, na realidade pluralista e complexa da cidade, só poderá se dar através de uma igreja que desenvolva, com dinamismo e criatividade, os dons e ministérios 4. REDESCOBERTA DA PALAVRA DE DEUS Há uma relação muito estreita entre o interesse pela leitura e estudo da Palavra de Deus e a revitalização da Igreja. (Ne 8:1-3) Quando o Espírito Santo sopra sobre o povo de Deus, Ele sempre conduz a um conhecimento mais profundo de Sua Palavra. As pessoas são despertadas a dedicarem mais tempo à sua leitura. A vitalidade e saúde da Igreja sempre passarão pelo seu compromisso irrestrito e inegociável com a Palavra de Deus. Ela é a verdadeira fonte de vida e poder. Todo ministério urbano só será eficaz se estiver fundamentado nas Sagradas Escrituras. 4.1. Compromisso profundo na Proclamação da Palavra Pregação e Ensino da Palavra contextualizada e com profundidade Investimento forte no ensino das Escrituras e cultos, escolas bíblicas e grupos de comunhão. 4.2. Investimento na formação de líderes/servos que reproduzirão com profundidade o conhecimento das Escrituras Sagradas à Igreja Desenvolver um programa sistemático de treinamento teórico e prático com os dons estabelecidos na Igreja para que a mesma possa ter uma liderança preparada espiritualmente, teologicamente e culturalmente para alcançar a sua geração. 5. A REDESCOBERTA DA IGREJA COMO UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA A Igreja além de ser uma agente proclamadora da missio dei (missão de Deus), seu papel mais fundamental é o de ser uma ambiente de acolhimento e cura. Precisamos urgentemente redescobrir o papel de cura que a Igreja tem de exercer em uma sociedade totalmente esfacelada por suas mazelas, traumas, medos, depressões, estresses etc. A Igreja deve ser comunidade terapêutica a serviço de todos os que necessitam ser curados e restaurados interiormente (Is 61:1-5). 11 6. A REDESCOBERTA DA ADORAÇÃO Precisamos redescobrir a adoração não somente como um momento do culto em que cantaremos louvores que exaltem e adorem a Deus, mas, acima de tudo, como um estilo de vida (Jo 4:23,24). Mas o que é adoração? Não é adoração centrada em lugares sagrados (Jo 4:20) Não é neste monte nem naquele. Não existe lugar mais sagrado que outro. Não é o lugar que autentica a adoração, mas a atitude do adorador. Não é adoração sem entendimento (Jo 4:22); Os samaritanos adoravam o que não conheciam; Havia uma liturgia desprovida de entendimento. Havia um ritual vazio de compreensão. Não é adoração descentralizada da pessoa de Cristo (Jo 4:25-26); Os samaritanos adoravam, mas não conheciam o Messias. Cristo não era o centro do seu culto. Nossa adoração será vazia se Cristo não for o seu centro. O culto não é para agradar os homens. A música não é para entreter. A verdadeira música vem do céu e é endereçada ao céu . A adoração precisa ser bíblica (Jo 4:24) – O nosso culto é bíblico ou é anátema. Deus não se impressiona com pompa, ele busca a verdade no íntimo. A adoração precisa ser sincera (Jo 4:24) – Ela precisa ser em espírito, ou seja, de todo o coração. Precisa ter fervor. Não é um culto frio, árido, seco, chocho, sem vida. 7. A REDESCOBERTA DO DISCIPULADO O estudo da Palavra, de forma compartilhada e próxima, aliada à comunhão e ao cuidado pessoal, é um dos elementos de extrema importância dentro do processo de revitalização da Igreja, especialmente no contexto urbano (At 2:42-47) Devemos nos preocupar também com o discipulado da liderança. O acompanhamento e formação da liderança por meio de um discipulado sério e comprometido deve ser sempre prioridade no projeto da igreja urbana. Reuniões de Koinonia ou reuniões em pequenos grupos (familiares, células, discipulado etc.) onde se estuda a Palavra de Deus constituem uma das chaves mais importantes para a revitalização da igreja nos contextos urbanos. A igreja urbana deve redescobrir a importância dos grupos pequenos para a vivência e o crescimento dos cristãos. Eles estão acima de toda visão de “massificação”, tão comum em nossa sociedade. Por meio dos grupos pequenos, a igreja urbana “experimentará um dos fundamentos mais básicos do evangelho – a verdadeira, rica e profunda comunhão dos cristãos, a Koinonia”. 12 8. A REDESCOBERTA DO ARREPENDIMENTO E CONFISSÃO A igreja na realidade urbana deve também despertar para o fato de que, enquanto povo de Deus tem a responsabilidade de transformar a realidade histórica em que se encontra inserida (Ne 9) A realidade urbana é palco da ação de Deus, portanto, sua omissão e infidelidade ao chamado de Deus para fazer diferença na realidade urbana deve levá-la ao arrependimento e confissão. A igreja precisa redescobrir as disciplinas de arrependimento e confissão para que tenha o poder e saúde restaurados para poder ministrar à sociedade (Tg 5:16). 9. A REDESCOBERTA DA SANTIFICAÇÃO A palavra SANTIFICAÇÃO aparece na Bíblia ilustrando os seguintes aspectos: Separação, Dedicação, Purificação e Consagração. Esta seqüência é também uma proposta do processo que começa na decisão de ser separado, numa dedicação ao serviço de Deus, na disposição de ser purificado pelo sangue de Jesus e na determinação de manter-se limpo do pecado e iniqüidade. COMPROMISSOS ESPECÍFICOS ASSUMIDOS COM A SANTIDADE NA IGREJA 1. Formação de famílias fortes e submissas a Deus (II Co 6:14; 7:1) a. Não aceitar relacionamentos mistos b. Formação espiritual começando nos lares (Dt 6:4-9) c. Santidade nos relacionamentos familiares d. Congregar (Hb 10:25) 2. Compromisso com o serviço e ministério da Igreja (Hb 3:2) a. Ministérios da Igreja b. Vocação pessoal c. Dons e talentos 3. Compromisso com os dízimos e ofertas a. Dízimo é um imperativo “trazei todos os dízimos” (Ml 3:10) b. Ofertas é a resposta generosa de um coração voluntário e obediente (II Co 9:6-10) c. Missões e expansão da igreja e do Reino 13 10. O RESGATE DA MISSÃO INTEGRAL O MITO E A REALIDADE DA MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA 1.1. O mito da missão integral da Igreja O que poderíamos denominar de mito ou mitos na missão integral da Igreja? Após relativa pesquisa e análise cuidadosa deste assunto, chegamos à conclusão que dois pontos resumiriam bem o mito de missão integral da Igreja. O primeiro deles estaria relacionado a um debate que perdura já algum tempo na igreja evangélica mundial e na brasileira em particular, a saber, a polarização entre evangelização e a responsabilidade social da Igreja. O segundo mito estaria diretamente ligado à dicotomia humana, isto é, o ser humano considerado em partes separadas ao invés do todo. Alguns fatores que possibilitaram o surgimento desses mitos é o que veremos, também, neste capítulo. a. O mito da polarização teológica Que evangelização e responsabilidade social são verdades bíblicas para a Igreja de Jesus Cristo não há dúvida, ou pelo menos não deveria haver (1). Felizmente, a consciência social da igreja brasileira hoje parece ser maior do que algumas décadas atrás. Entretanto, se por um lado a Igreja vem melhorando em sua visão social, por outro, ainda não amadureceu tanto em sua concepção de missão integral, justamente porque ao se discutir prioridades (estamos falando apenas de evangelização e ação social) a igreja deixa de fazer bem uma e outra coisa. Evangelização e responsabilidade social devem andar juntas como causa e efeito de uma mesma verdade evangélica. Com isso não queremos dizer que evangelização e ação social devam ser entendidas como sendo a mesma coisa. Por outro lado, também não estamos afirmando que sejam duas coisas diametralmente separadas. "Um ministério integral verdadeiro define a evangelização e a ação social como funcionalmente separadas, mas relacionalmente inseparáveis e necessárias para um ministério integral da igreja" (YAMAMORI, 1998, p. 14). O relatório da Consulta Internacional realizada em Grand Rapids (EUA), presidida por John Stott em 1982, concluiu que na questão da primazia entre evangelização e ação social "a evangelização tem uma certa prioridade. Não estamos falando em prioridade temporal, mas em prioridade lógica, pois há situações em que o ministério social precisa vir primeiro" (STOTT, 1983, p. 23). E na prática? Na prática, como aconteceu no ministério público de Jesus, estas duas realidades (evangelização e ação social) são inseparáveis, pelo menos nas sociedades livres, e raramente teremos de optar entre uma e outra. Em lugar de estarem em competição, elas se sustentam e fortalecem mutuamente, numa espiral ascendente de preocupação crescente (STOTT, 1983, p. 23) A discussão pouco louvável no meio cristão sobre a missão prioritária da Igreja no mundo também levou o comitê de Lausanne a elaborar uma declaração sóbria e amadurecida. Diz assim, em seus artigos, o chamado Pacto de Lausanne: "Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo" (O PACTO DE LAUSANNE, 1983, IV). E ainda: Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela reconciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de 14 Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. (Idem, V) (Grifos nossos) E mais: "A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta" (Idem, V). Evangelização e responsabilidade social são partes integrantes da missio Dei, portanto, inseparáveis e indispensáveis na missão integral da Igreja de Jesus Cristo no mundo e para o mundo (2). Façamos, a seguir, uma rápida apresentação de dois grandes movimentos que contribuíram negativamente para o distanciamento da Igreja de sua missão integral. O evangelho social e a teologia da libertação A influência perniciosa e nefasta do liberalismo teológico do século XX, em particular das teologias do evangelho social e da libertação, foi um dos fatores que colaboraram para a polarização entre evangelização e a ação social no meio evangélico. O esforço de se combater a teologia do evangelho social e depois a teologia da libertação (por causa da ênfase social à parte do evangelho bíblico e de uma filosofia marxista, principalmente desta última), provocou um mal-estar na igreja brasileira. Resultado: No afã de se preservar o espiritual, a Igreja acabou se equivocando e não enxergou a mensagem social autêntica que o mesmo evangelho oferecia. Se de um lado as teologias liberais mencionadas cometeram o pecado do social sem espiritualidade, a igreja evangélica brasileira, por outro lado, pecou na espiritualidade sem encarnação. Contudo, há de se admitir que, por sua vez, tanto o evangelho social quanto a teologia da libertação provocaram uma reação positiva na Igreja. A Igreja foi levada a refletir seus valores, dando uma reviravolta considerável nessa história toda. Hoje em dia, boa parte das igrejas brasileiras está envolvida em trabalhos sociais, e sem qualquer preocupação de ser rotulada e perseguida por isso, como ocorria em tempos atrás. b. O mito da dicotomia humana Ver o indivíduo completo, não dictomizado, é uma necessidade urgente em nossos dias, conforme veremos no decorrer deste estudo. Um dos maiores males cometidos na igreja evangélica brasileira de hoje é limitar o conceito de salvação, achando que Cristo veio salvar apenas a alma do homem ou da mulher. O ser humano - homem ou mulher - é um todo e deveria sempre ser visto assim, como o é pela Bíblia. Partindo da perspectiva bíblica, o ser humano poderia ser definido como sendo 'uma comunidade integrada de corpo e alma' (STOTT, 1989, p. 38). Entretanto, a ausência da compreensão do indivíduo como ser integral, pela própria Igreja, tem levado a mesma a desvalorizar não somente o ser humano na sociedade, como também o próprio evangelho para o qual ela foi chamada a proclamar no mundo, pois, como salientou muito bem Manfred (1987, p. 59), "só existe fidelidade na evangelização quando existe fidelidade na missão integral da igreja". 15 Veremos a seguir que pelo menos três fatores contribuíram negativamente para o surgimento do mito da dicotomia humana, isto é, o platonismo, a influência missionária européia e norte-americana e a teologia sistemática. A influência missionária e da teologia sistemática Norman L. Geisler (1985, p. 154) observa que parte do descuido do "homem total" tem sua origem na ênfase platônica não-cristã sobre a dualidade do ser humano. "Esta ênfase foi dirigida pelos cristãos na Idade Média e tem sido transmitida para o presente". Em síntese o platonismo argumenta que o ser humano é essencialmente um ser espiritual e que apenas tem conexão funcional com um corpo que, na melhor das hipóteses, é um impedimento e, na pior, um grande mal. A correção deste erro está no ensino bíblico acerca da unidade essencial do ser humano. Além da influência platônica, os missionários europeus e norte-americanos que aqui estiveram parece que não conseguiram passar adiante a idéia da missão integral. Nossa herança missionária é deveras espiritualista. O que é facilmente percebido nas mensagens bíblicas e hinos que os missionários nos legaram. Porém, isso não quer dizer que não houve qualquer tipo de envolvimento social, pelo contrário, a história da igreja brasileira registra dignos exemplos de missionários como Robert e Sarah Kalley, Ashbell Green Simonton e outros, que desempenharam um papel social muito grande em nosso país. Mas então, por que a igreja evangélica brasileira de modo geral não herdou a totalidade da visão desses bons exemplos de missionários, e durante tanto tempo vem caminhando lentamente na questão social? Pelo menos por três razões principais: 1. Uma delas tratamos há pouco, isto é, a omissão da Igreja, até hoje sentida, por causa daquela reação ao evangelho social e à teologia da libertação. 2. Outra razão é que a maioria dos missionários estrangeiros que aqui chegaram tendia para a corrente do evangelho individual (KRIEGER, In Teses,1988, pp. 39,40). Isso explica, embora não justifique, é claro, nosso espiritualismo desencarnado no campo social; o que, de certa forma, contribuiu para a difusão do evangelho social e principalmente da teologia da libertação em nosso país. 3. Uma terceira razão foi observada pelo missiólogo norte-americano Timóteo Carriker, quando diz que boa parte dos missionários europeus e norte-americanos que aqui estiveram "realizaram o trabalho, ora nobre e sacrificial, ora dominador e paternalista, mas, com raríssimas exceções, não transmitiam a mesma visão missionária para as igrejas autóctones. Assim, deixaram a impressão de que missões é coisa que o Brasil recebe e não que faz (CARRIKER, 1993, p. 55). (Grifo nosso) (3) Outro fator que infelizmente tem colaborado para a dicotomia humana é a teologia sistemática, independente de sua linha confessional. Embora a teologia sistemática seja uma tentativa interessante de organizar em um ou mais compêndios conceitos e pensamentos religiosos variados, é preciso ter cautela com a mesma. Bruce A. DEMAREST, em seu artigo Teologia Sistemática (In EHTIC1990, p. 515), faz uma advertência importante: Alguns consideram a teologia sistemática como um depósito eterno e inalterável de verdades divinas. Embora as Escrituras sejam invioláveis, novos entendimentos teológicos e reformulações são necessários a cada geração. Primeiro: porque à medida que a linguagem e as formas culturais mudam, o conjunto da verdade cristã deve ser vestido em roupagens contemporâneas a fim de permanecer inteligível; 16 Segundo: porque novas questões e problemas continuam a surgir para desafiar a igreja. Por isso, de tempos em tempos, o texto bíblico precisa ser reinterpretado e reaplicado ao contexto moderno. No estudo da natureza do ser humano na teologia sistemática, na análise da questão corpo, alma e/ou espírito, e em seus conceitos dicotômicos e tricotômicos, perdeu-se de vista a perspectiva bíblica de que somos um todo. E, certamente, isto tem sido um dos fatores prejudiciais na compreensão da missão da Igreja. 1.2. A realidade da missão integral da Igreja Em contrapartida ao mito da teologia de missão integral da Igreja, destaquemos dois fatores que, em nossa opinião, expressam bem a realidade dessa missão. a. A missão da Igreja é holística e diaconal Por mais óbvia que pareça esta afirmação, sabemos que a ortopraxia da missão integral não é tão óbvia como deveria ser. Não é fácil inculcar na cabeça do nosso povo que o envolvimento da Igreja deve ser total. Não só no que se refere ao indivíduo, mas também à criação de Deus em geral. Onde está, por exemplo, a consciência ecológica da Igreja? (4) Além disso, a Igreja como sal da terra e luz do mundo deve fazer a diferença nos vários setores da sociedade, principalmente no socorro aos menos favorecidos. A injustiça social, verdadeira afronta contra a imagem e semelhança de Deus, tem solapado nosso país e a Igreja muitas vezes tem se afastado como se nada tivesse com isso. É verdade que a Igreja não é uma instituição político-partidária que deva defender qualquer bandeira política. É mais que isso. Ela é uma instituição divina supra partidária. Por isso mesmo, tem o dever ético e moral de ser mais justa do que qualquer governo ou partido político pretenda ser. Conforme salientou Jorge GOULART (1941, p. 229), a Igreja "não prega uma forma de governo, mas cria uma consciência democrática, à luz dos conceitos de liberdade, de dignidade humana, de respeito ao próximo e, sobretudo, de amor a Deus e à humanidade". Os cristãos foram postos no mundo para ser a consciência da sociedade, como diria Orlando COSTAS (1979, p. 102). A Igreja deve ser a voz do que clama no deserto a fim de fazer a diferença no mundo. Precisa deixar o monte da transfiguração (entenda-se contemplação) e descer até ao sopé onde se encontram os excluídos. Uma opção preferencial pelos pobres? E por que não? O evangelho é para todos, porém, somente o pobre precisa ser atendido também em suas necessidades básicas prioritárias, por causa da má distribuição de renda de nosso país, como resultado de uma política social opressora. Quando se coloca o pobre e o rico lado a lado, em se tratando de benefícios a serem recebidos, o primeiro sempre sai perdendo. É preciso sim que os pobres desse mundo recebam um tratamento preferencial porque foi assim que Deus os tratou na Bíblia, como veremos mais adiante. Orlando Costas via nesta dimensão diaconal ou encarnacional da Igreja "a intensidade de serviço que a igreja presta ao mundo, como prova concreta do amor de Deus" (COSTAS, 1994, p. 113). E ainda: Esta dimensão envolve o impacto que o ministério reconciliador da igreja exerce sobre o mundo, o seu grau de participação na vida, conflitos, temores e esperanças da sociedade e a medida em que seu serviço ajuda a aliviar a dor humana e a transformar as condições sociais que têm condenado milhões de homens, mulheres e crianças à pobreza. Sem esta dimensão a igreja perde sua autenticidade e credibilidade, pois somente na 17 medida em que conseguir dar visibilidade e concreticidade à sua vocação de amor e serviço ela pode esperar ser ouvida e respeitada. (COSTAS, 1994, pp. 113,4). b. A missão da Igreja é bíblica Quando dizemos que a missão integral da Igreja é bíblica, significa que ela (a missão integral da Igreja) não é uma filosofia cega ou um modismo passageiro. A missão da Igreja não é filosofia e muito menos modismo. É uma verdade bíblica que precisa ser resgatada e praticada em sua totalidade. A Bíblia não existe para o deleite de nossa mente carnal. A Bíblia não incentiva nenhum blá-blá-blá teórico desinteressado. A Bíblia é doutrina e prática. A opção por apenas um desses seus aspectos (doutrina ou prática) causará profunda ojeriza em Deus. Sua Palavra é um todo, como um todo deve ser a missão integral de Sua Igreja. A integralidade da Igreja é bíblica e se baseia na missão integral de Deus. A missão integral da Igreja é ampla, assim como é ampla a missão integral de Deus, visto que a dimensão dessa missão é vertical e horizontal. O compromisso da Igreja com Deus (vertical) resulta nela um compromisso com a criação em geral e com o ser humano em particular (horizontal). Não é por acaso que GRELLERT (1987, p. 22) resumiu a missão intergral da Igreja em "comunhão, adoração, edificação, evangelismo e serviço". III. A BASE BÍBLICA E TEOLÓGICA DA MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA 3.1. A missão integral na Bíblia A missão integral tem raízes bíblicas profundas. Tetsunao YAMAMORI (1998, p. 15) salienta: Tanto no Antigo como no Novo Testamentos a Bíblia ordena à igreja que ministre à pessoa como um todo. Isto quer dizer que se deve atender tanto às necessidades físicas como às espirituais, que estão inseparavelmente relacionadas, ainda que sejam separadas em termos funcionais. Já mencionamos que a missão integral da Igreja é ampla. Isso é verdade. Por isso mesmo nosso objetivo agora será tratar, à luz da Bíblia, apenas de um dos aspectos da missão integral, isto é, aquele que está diretamente relacionado à pessoa do indivíduo ou, mais especificamente, aos pobres deste mundo. "Nada é mais claro na Bíblia do que ser Deus o campeão dos pobres, dos oprimidos e dos explorados". (BRYANT, 1988, p. 56). Segue abaixo uma abordagem resumida sobre o assunto. a. No Antigo Testamento Se folhearmos as páginas do Antigo Testamento veremos que existe uma clara opção preferencial de Deus pelos pobres e oprimidos. Isto não significa que Deus faça acepção de pessoas ou de classe social. De modo algum! Mas com certeza Ele olha de maneira especial para aqueles que não têm vez, que não têm voz. Só no AT nós temos 300 referências sobre causas, realidade e conseqüências da pobreza. Vinte e cinco palavras hebraicas para falar do oprimido, do humilhado, do desesperado, do que clama por justiça, do fraco, do desamparado, do destituído, do carente, o pobre, a viúva, o órfão, o estrangeiro. Em Isaías 58.3-8, quando o povo de Deus pergunta: "Por que é que nós oramos e jejuamos e tu não nos respondes?", Deus diz: "É porque vocês jejuam e oram para a iniqüidade, vocês estão oprimindo os pobres, e seus próprios operários, e o jejum que eu quero, é que vocês cortem as ligaduras da 18 impiedade, é que ajam com justiça em relação aos desamparados". Veja também Isaías 1.17; 10.1,2. Ezequiel 16.49 afirma que o pecado de Sodoma, além do orgulho, da vaidade e da imoralidade era que aquela cidade, sendo rica e abastada, nunca atendeu o pobre e o necessitado. Se olharmos na legislação do povo de Deus no Velho Testamento, veremos que o objetivo de toda a legislação era que não houvesse miseráveis e injustiçados no meio do povo de Israel. b. No Novo Testamento Jesus Cristo é a revelação máxima da missão integral de Deus no mundo. No início de seu ministério terreno o Senhor Jesus deixou bem clara a sua missão quando declarou: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor" (Lc 4.18,19). O cuidado de Jesus com os pobres e marginalizados é enorme. "Nós nunca encontramos Jesus Cristo de dedo apontado contra os pobres e marginalizados, mas enfrentando exatamente aqueles que oprimiam o povo, quer pelo sistema religioso, quer pelo sistema econômico, ou sistema político de sua própria época". (MACEDO FILHO, 1988, p. 35). Em Mateus 4.23 lemos também: "Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo". E ainda em Mateus (cap. 25) notamos que além da questão do se "fazer igualmente a Cristo", a nossa atitude para com os desfavorecidos deste mundo será um critério importante de julgamento no Juízo Final. Os apóstolos deram continuidade ao tema da missão integral de Jesus em seus ministérios. Veja por exemplo Atos 5 e 6. Em Jerusalém as três colunas do colégio apostólico (Pedro, Tiago e João) recomendaram a Paulo e a Barnabé que não se esquecessem dos pobres, "o que também me esforcei por fazer", diz o apóstolo em Gálatas 2.10. Várias igrejas foram orientadas por cartas a agirem com a mesma visão de integralidade bíblica dos apóstolos. Destacamos, dentre outras, as igrejas de Corinto (II Co 8 e 9), da Galácia (Gl 6.2-10) e das doze tribos da dispersão (Tg 2. 1-7,14-26; 5.1-6). a. A missão integral na teologia contemporânea O número de teólogos que escreveram e escrevem sobre a missão integral da Igreja não é pequeno. Um bom exemplo disso é a obra do Dr. Valdir Steuernagel em que ele reúne nada menos que 27 autores. Falar do trabalho de cada um desses autores, sem considerar outro tanto que Steuernagel não menciona, seria simplesmente impossível para as dimensões do nosso trabalho. Estou tomando, então, a liberdade de selecionar apenas dois deles, a saber, Timóteo Carriker e René Padilla, e explico por que. Em primeiro lugar, nossos dois teólogos são duas das maiores autoridades mundiais sobre a missão integral da Igreja. Em segundo lugar, cada um deles escreveu um livro com o mesmo título (Missão Integral) com cerca de 300 páginas cada. Em terceiro lugar, vale a pena conferir a ênfase e a abordagem distintas que ambos conferem em seus respectivos livros acerca da missão integral da Igreja. a. O conceito de Timóteo Carriker O livro de Timóteo Carriker é uma teologia bíblica de missões. Seu objetivo é ressaltar as diversas dimensões, na palavra de Deus, da identidade e tarefa missionárias do povo 19 de Deus (1992, p. 11). A seguir exporemos alguns dos principais conceitos da missão integral de Carriker. No Antigo Testamento Javé é o Deus soberano sobre toda a sua criação. Esta imagem de Deus está no coração do Novo Testamento também. Um Deus soberano e misericordioso é o ator último das parábolas de Jesus. É este Deus salvador que alcança além das leis judaicas. Sua aproximação do homem exige a atitude de conversão. O seu reino tem um escopo universal até cósmico. Os marginalizados, mulheres, samaritanos, e gentios recebem a misericórdia de Deus. Deus tem um plano salvífico que alcança tanto judeu quanto gentio, e Ele vai cumprilo. A confiança no cumprimento do seu plano dá a igreja motivação para perseverar até o fim. A igreja, contudo, não fica passiva em relação à soberania de Deus. Reconhecer que a missão é essencialmente de Deus, missio Dei, não significa que a participação da igreja na evangelização mundial tem pouca significância. Muito pelo contrário, a missio Dei exige os missiones eclesiae. São praticamente dois lados da mesma moeda. O Deus da Bíblia é o Deus que age na história. Não é principalmente apresentado como um conceito ou idéia, uma doutrina que podemos elaborar. Ele é, acima de tudo, pessoal e age nos eventos e experiências concretas das nossas vidas. Deus não se restringe a uma dimensão mística da nossa vida. Atua através do êxodo, do dilúvio e do cativeiro no Velho Testamento, todos eventos históricos até "seculares". Ele atua através da vida humana do seu filho Jesus, através da sua morte e ressurreição, eventos bem visíveis que fazem parte da nossa história. É na nossa história humana que Deus se revela e o faz com movimento para frente. Percebemos, através da história, a sua conclusão. Assim, a perspectiva cristã da história é essencialmente escatológica. A humanidade está indo na direção do cumprimento, julgamento e salvação, e este movimento entrou na sua fase final com a ressurreição de Cristo. Hoje é o dia da salvação. b. O conceito de René Padilla A abordagem de René Padilla é mais teológica e menos bíblica. Por "mais teológica" queremos dizer que os argumentos de Padilla estão mais na área das idéias, o que não diminui, de modo algum, o valor da obra dele. Por "menos bíblica" queremos afirmar que o livro de Padilla não é uma teologia bíblica nos moldes do livro de Timóteo Carriker, porém, seus princípios são eminentemente bíblicos. Apesar de não termos o objetivo de comparar os dois autores, vale ressaltar que as aplicações de Padilla são mais contextualizadas que as de Carriker. Padilla desenvolve seu tratado em termos de desafios. Diz ele que o maior desafio que a igreja enfrenta atualmente é o desafio da missão integral (1992, p. 139). O desafio da missão integral, por sua vez, subdivide-se em outros três, a saber: O desafio da evangelização e do discipulado, o desafio da colaboração e da unidade e o desafio do desenvolvimento e da justiça. Seus argumentos principais são os seguintes: Um conceito um tanto romântico da obra missionária impulsionou as missões a concentrarem seu esforço em pequenas tribos nas selvas, esquecendo-se das cidades. A "explosão urbana" é um fenômeno mundial. A missão urbana, portanto, é uma prioridade em todas as partes. Lá, na cidade, com todo seu poder desumanizante, vê-se com clareza a necessidade de um evangelho com poder para transformar a totalidade da vida. Num mundo que está se urbanizando rapidamente, a cidade é, sem dúvida, o símbolo do desafio que a evangelização e o discipulado colocam para a igreja. Porque há um mundo, uma igreja e um evangelho, a missão cristã não pode ser outra coisa que missão realizada em colaboração mútua. Chegou o momento de encontrar 20 maneiras de reduzir a distância entre as igrejas no Ocidente e no Terceiro Mundo. Já há experiências úteis que estão sendo levadas a cabo com este propósito, mas é necessário fazer muito mais para desenvolver modelos de solidariedade acima das barreiras políticas, econômicas, sociais e culturais, e para estimular a colaboração mútua entre as igrejas. O desafio que a igreja encara no campo de desenvolvimento hoje é fundamentalmente o desafio de um desenvolvimento humano, no contexto da justiça. Fazem falta modelos de missão plenamente adaptados a uma situação marcada por uma distância abismal entre ricos e pobres. Os modelos de missão baseados na riqueza do Ocidente solidarizam-se com esta situação de injustiça e condenam as igrejas do mundo pobre a uma permanente dependência. No final das contas, portanto, são contraproducentes para a missão. O desafio tanto para os cristãos no Ocidente como para os cristãos nos países subdesenvolvidos é criar modelos de missão centrados num estilo de vida profético, modelos que apontem para Jesus Cristo como Senhor da totalidade da vida, à universalidade da igreja e à interdependência dos seres humanos no mundo. IV. OS DESAFIOS E IMPLICAÇÕES DA MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA 4.1. Desafios da missão integral da Igreja Observamos que René Padilla apresenta a missão integral da Igreja em termos de desafios. Entretanto, sua abordagem é ampla, no sentido de envolver a missão da Igreja num âmbito mundial ou, no mínimo, na América Latina. Os desafios que agora mencionaremos tratam da igreja brasileira em solo brasileiro. Dividimo-nos em duas partes distintas, isto é, os desafios sociais e os desafios eclesiais. a. Os desafios sociais da Igreja Não são poucos e nem pequenos os problemas sociais brasileiros. A igreja evangélica brasileira tem desafios enormes nesta área. Porém, de início é preciso que encaremos com seriedade e maturidade o dilema de até onde podemos e devemos nos envolver nestes desafios. Que a igreja evangélica brasileira não deve se esquivar de sua missão integral, é o nosso comum acordo com a declaração de Lausanne: Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. É preciso sim que a Igreja seja a consciência da sociedade e a voz profética que denuncia os desmandos desta mesma sociedade. Não devemos, como Igreja de Cristo, partir para a ignorância e violência, mas podemos e devemos fazer confrontações sociais sérias. Confrontação não é violência. Robert C. Linthicum (1996, pp. 171,2) explica: Há muita confusão sobre a natureza da confrontação e da violência. Confrontação é simplesmente a atividade entre seres humanos na qual eles discordam, e devido a esta discordância, estão desafiando uns aos outros. A palavra significa literalmente "testa-a-testa" - isto é, as testas colocadas fisicamente uma contra-a-outra. É um encontro face a face, direto, procurando o fim da resolução. Por outro lado, violência é o exercício da força física, a fim de ganhar uma disputa. Enquanto a confrontação é verbal, a violência é física. De uma forma mais profunda, essas palavras não são sinônimas, e sim antônimas, pois, em sua própria natureza, um ato de violência é a indicação de que a confrontação falhou. A confrontação boa e eficaz nunca deve levar à violência, mas à resolução do problema. 21 É nesse espírito de verdadeira confrontação que a Igreja deve encarar seus desafios sociais, com propostas terapêuticas para uma sociedade enferma. Portanto, empenhemos-nos pela dignidade do povo brasileiro. Reivindiquemos, pois, os seus e os nossos direitos: Saúde, segurança, educação, trabalho e salário digno. E até onde podemos e devemos ir nesta questão toda? Até onde os direitos sejam verdadeiramente assegurados, o amor ao próximo evidenciado, a moral dignificada, o evangelho e o bom testemunho não sejam prejudicados e, sobretudo, o nome de Jesus seja glorificado. O governo tem (e como tem!) suas culpas e responsabilidades, mas não podemos ficar indiferentes ao que ocorre em nossa volta, simplesmente criticando por criticar o governo. Pesa (e como pesa!) sobre o povo de Deus também a responsabilidade pelo bem-estar social do nosso país. b. Os desafios eclesiais da Igreja Certamente um dos maiores desafios da igreja brasileira na atualidade é vencer seus próprios desafios. Tentarei explicar esta minha tese. Os desafios sociais da igreja brasileira não são combatidos e vencidos como deveriam porque falta vontade eclesiástica por parte da mesma. Ou porque a liderança não se empenha, ou porque os liderados não se envolvem na obra. O certo é: Se não chegarmos a um consenso; se não juntarmos forças, jamais sairemos do lugar comum. Continuaremos marcando passo, salgando a nós mesmos e iluminando nossos umbigos. Uma lição é preciso aprender com a igreja de Jerusalém. A igreja de Jerusalém estava consciente de sua missão no mundo. Era uma igreja unida em seus propósitos e se amava de verdade. Internamente ela estava pegando fogo, desejosa de pregar o evangelho, em obediência ao mandado de Cristo. Porém, externamente os desafios eram humanamente insuperáveis. Pilatos, Herodes e muita gente se levantaram contra a Igreja de Deus. Então a Igreja orou: "agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes as mãos para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus" (At 4.29,30). E Deus atendeu ao clamor de sua Igreja (At 4.31). Atendeu porque a Igreja deixou de lado seus próprios interesses para servir ao mundo. Hoje, o que muito se vê, à nível de igreja local, é a própria igreja criando obstáculos para não fazer a obra do Senhor. Externamente desfruta-se de uma liberdade religiosa como nunca se viu, mas internamente muito de nossas igrejas estão enfermas, quando na verdade eram elas que deveriam estar curando! A seguir daremos duas sugestões práticas para que esse quadro sombrio possa se reverter. 4.2 Implicações da missão integral da Igreja As implicações que aqui abordaremos não deixam de ser verdadeiros desafios para a igreja brasileira, porém, entendemos que estes desafios são implicações naturais para uma igreja que queira verdadeiramente cumprir sua missão integral. a. A revisão de estruturas não-funcionais O que muito tem contribuído para um mau desempenho da Igreja em sua missão integral é a falta de estruturas que funcionem. Estruturas enrijecidas pelo tradicionalismo matam ou impedem a visão de uma igreja. 22 A quebra de paradigmas é uma das coisas fundamentais para que a estrutura de uma igreja se torne funcional. Às vezes é preciso muita coragem para mudar certos parâmetros que já não funcionam mais. À primeira vista parece fácil mudar aquilo que se tornou obsoleto, mas não é tão simples assim. Antes é preciso mudar a “mentalidade dos acomodados” e principalmente dos saudosistas, daqueles que confundem inovação com inovacionismo, tradição com tradicionalismo. O que está "matando" muito crente novo (e velho também) é a igreja não-funcional, que se limita a suas atividades internas, fechada em quatro paredes. Contudo, por uma questão de prudência e respeito àqueles que não pensam como nós, é preciso que os paradigmas sejam quebrados aos poucos. As idéias devem ser amadurecidas no meio da comunidade, sem atropelos, mas progressivamente. Uma coisa aprendi em meus poucos anos de ministério pastoral: Se a igreja não comprar a nossa idéia, não será por meio de decreto conciliar que conseguiremos qualquer êxito. Um diálogo franco, aberto e amigável é a chave do sucesso. b. A reafirmação do compromisso missionário Aquelas igrejas que um dia receberam orientação missionária, se não forem constantemente lembradas daquele compromisso, rapidamente minguarão. E como revitalizar uma igreja que começou com tanto entusiasmo por missões e de repente esfriou? Em primeiro lugar é preciso reconscientizar a igreja de sua missão no mundo. Em segundo lugar é preciso conscientizá-la de que ela está no mundo para servir o mundo integralmente. Se a igreja chegou a se empolgar com missão algum dia, é sinal que ela tem potencial para fazer, com a graça de Deus, o que fez antes. Sermões e estudos bíblicos missionários, filmes específicos como As Primícias, Etal e Atrás do Sol, além do auxílio de uma boa agência ou junta missionária, com certeza produzirão novo alento. Geralmente a frieza por missões acontece por causa da rotina. Uma vez que o mal foi detectado é necessário que seja combatido com atividades variadas. O mais importante é que a igreja seja cientificada de que sua missão no mundo é integral. Evangelizar não é simplesmente distribuir folhetos como alguns pensam, mas sim, atender o indivíduo na totalidade de suas necessidades. Por isso mesmo, a Igreja nunca deveria deixar se levar pela prática do paternalismo e assistencialismo paliativos, porém, deveria partir sempre para uma ação social transformadora, do indivíduo e da sociedade, para a honra e glória de Deus Pai. Cada igreja deve refletir sobre sua motivação em praticar evangelismo e ação social, e todas as atividades nestas direções devem estar debaixo do serviço a Deus em primeiro lugar (A. C. BARRO, sem data, p. 5). O ponto de partida é o parâmetro bíblico e o contexto da igreja local. Conclusão: A missão integral da Igreja é basicamente evangelização e ação social. Dizemos "basicamente" porque a missão integral da Igreja é na verdade universal. Abrange vários aspectos. Evangelizar é a sua qualidade primordial. A Igreja que troca a evangelização por qualquer outra responsabilidade social está fora de propósito e, portanto, descaracterizada como igreja de Jesus Cristo. Por outro lado, que nenhuma igreja pense ser mais espiritual porque optou pela evangelização. Concordamos que uma igreja possa fazer uma opção temporária entre evangelizar e assistir ao necessitado, mas nunca uma opção permanente. A verdadeira 23 espiritualidade do povo de Deus se expressa em sua integralidade. A mesma igreja que proclama as boas novas do reino deve ser a mesma que estende a mão ao necessitado. Missão integral é uma realidade bíblica. Os mitos não fazem sentido quando são resultados baratos de um reducionismo evangélico, polarização entre evangelização e ação social, e quando se deixa de contemplar o indivíduo em sua totalidade. Os mitos (pelo menos os que aqui estudamos) deturpam a missão integral da Igreja. Se queremos atentar para o ensino bíblico, então devemos almejar por uma igreja brasileira autêntica, que não seja ela mesma um mito, mas a realidade bíblica de uma missão integral em nossa sociedade A Igreja dos nossos dias está sendo convocada por Deus a causar um profundo impacto em nossas cidades. Assim com Deus usou Neemias, Deus quer nos usar como agentes de transformação e revitalização de nosso povo para atuarmos de forma relevante nos contextos urbanos. Cabem a nós como Igreja, encarar esse desafio e nos comprometer com esse ideal de vermos nossas cidades convertidas e com vida abundante no Senhor. O nosso ministério urbano só será efetivo quando a Igreja sair de si mesma e for ao encontro da comunidade que a cerca, esforçando-se para suprir as necessidades e anseios. E isso deve ser feito de maneira saudável, revitalizadora, pois, só teremos condições de levar vida aos necessitados se nós mesmos estivermos revitalizados. V. O CRESCIMENTO INTEGRAL DA IGREJA: UMA AVALIAÇÃO BÍBLICOTEOLÓGICA Apresentaremos duas visões teológicas distintas acerca da Teoria do Crescimento da Igreja (TCI). A primeira se encontra na obra de R. Alan Tippet. Missionário metodista e antropólogo, nasceu na Austrália e atuou nas Ilhas Fiji por 20 anos. Foi professor de Antropologia Missionária, na Escola de Missões, do Seminário Fuller, em Pasadena, CA, e, depois, no Instituto para o Crescimento da Igreja. A obra se chama: A Palavra de Deus e o Crescimento da Igreja. Base bíblica do ponto de vista do Crescimento da Igreja. EVIDÊNCIAS BÍBLICAS: Crescimento da Igreja é uma perspectiva em busca de uma justificativa ou argumentação escriturística, de fundamentos bíblicos. A noção é que “... a Igreja que Jesus Cristo estabeleceu, e a respeito da qual a Bíblia fala, é e deve continuar a ser uma Igreja em crescimento” (8). O recurso à Bíblia é feito porque ela é a Palavra de Deus, o que significa obter autorização de Deus mesmo para a noção exposta. Este recurso se faz presente em toda a obra na forma de abundantes provas escriturísticas. O ponto de partida para a busca de provas é a Igreja do Novo Testamento, presente nas muitas formas que ela assumiu, com ênfase particular em seu crescimento quantitativo, qualitativo e orgânico (cf. Atos 2:46-47). O crescimento apontava para a vitalidade da Igreja alimentada e sustentada pelo Espírito Santo (cf. Atos 2). 24 Este crescimento mostrava que a Igreja era a legítima herdeira das promessas de Deus feitas ao seu antigo povo, Israel, e que ganham concretude nas instruções de Jesus Cristo à Igreja (cf. Mateus 28:18-20; João 17:18; João 14:6; 1 João 1:1-3). O autor oferece as seguintes evidências bíblicas: Os Salmos, os profetas de Israel e Judá, Jesus e os apóstolos, todos afirmam a vontade de Deus na difusão do conhecimento da salvação até aos confins da terra (10), e a incorporação numa comunidade de interesses daqueles que experimentaram a salvação (12). O crescimento é procedente de fora: físico e numérico; e de dentro: espiritual ou qualitativo. A linguagem bíblica é explorada em uma infinidade de imagens cujo objetivo é: “sugerir desenvolvimento, crescimento, expansão, penetração no mundo, incorporação de novas pessoas, multiplicação, edificação, lucros qualitativos assim como quantitativos” (14). A medição do crescimento, que sugere o uso da enumeração, é utilizada por Jesus e seus apóstolos, abundantemente, para indicar onde as ovelhas se extraviaram do rebanho..., ou como parte do seguimento prático da colheita (18). Ainda que o crescimento seja pertinente à esfera da vontade soberana de Deus, à responsabilidade humana compete cooperar com Deus usando os recursos que ele proveu sabiamente e à medida que edificamos sua Igreja sob a direção de seu Espírito (19). O alvo da missão cristã ao mundo é a conversão dos homens: obra de Deus e responsabilidade de cada cristão. O crescimento da igreja só é verdadeiro por meio da conversão dos perdidos em resposta à proclamação do Evangelho de Cristo, pois quando as pessoas são convertidas e batizadas em números suficientes, as igrejas são plantadas e crescem (25). O crescimento é contínuo, efetuado ininterruptamente, sem pausa. Ele é quantitativo, com a adição de novos convertidos; e qualitativo, com o aperfeiçoamento destes para que o crescimento não se detenha. A finalidade é a formação de cada vez mais numerosas congregações maduras até o fim: a volta de Cristo (26,27). A ESTRUTURA SOCIAL E O CONTEXTO CULTURAL Ao tomar uma decisão acerca do Evangelho, as pessoas não o fazem individualmente, mas a partir do ambiente e da coletividade no qual se localizam, e em função de suas necessidades particulares. “as dinâmicas da conversão religiosa são tão variadas que qualquer exigência para um padrão estereotipado é perigosa, especialmente um padrão ocidental. Toda conversão tem seu próprio contexto, onde a pessoa regenerada deve testificar e demonstrar sua mudança de vida. Esta demonstração deve ser feita em termos da própria cultura do convertido” (37). Em todo o processo de decisão deve-se esperar a aceitação e a rejeição, o que resulta em incorporação à igreja ou isolamento dela. A Igreja deve se concentrar no papel funcional de conduzir a missão focando na busca do melhor resultado possível: a aceitação. Na operação deste resultado, todavia, diversos fatores não-culturais estão embutidos: a orientação de Deus para o lugar que ele deseja efetuar o crescimento; os agrupamentos humanos que estão receptivos ao crescimento; a obra do Espírito Santo. 25 FATORES HUMANOS QUE PODEM IMPEDIR O CRESCIMENTO DA IGREJA A igreja não se empenha em possuir aquilo que Deus já lhe concedeu: a salvação dos homens perdidos. A igreja impede a vontade de Deus de salvar os homens perdidos, recusando-se a cooperar com ele fazendo a sua parte, por entender que Deus fará o que deve ser feito. A igreja insiste em pregar a homens perdidos que não desejam receber a salvação. A igreja confunde e substitui a missão de proclamar o Evangelho aos homens perdidos e exigir deles uma decisão por Cristo, pelo serviço humanitário. CONDIÇÕES ATUAIS NAS QUAIS DEVE OCORRER O CRESCIMENTO DA IGREJA A igreja deve combater a tendência atual do indivíduo e do ministério cristão ao isolamento, levando-o a cooperar com a igreja para seu crescimento. A igreja deve discernir entre o crescimento quantitativo (acréscimo de convertidos) e o crescimento qualitativo (acréscimo pelo aperfeiçoamento dos incorporados à igreja), e dar atenção a este último, pois ele é a condição para a continuidade daquele. A igreja deve recusar a idéia de uma interrupção do crescimento para ajustes ou mudanças, investindo na contínua e ininterrupta expansão, pois não há lugar na teoria ou teologia do crescimento da igreja para uma congregação enclausurada sem extensão. Isto se aplica à missão evangélica, aos projetos de serviço, e à luta pela justiça social (70). A igreja deve lidar com o processo de crescimento orgânico ou estrutural, na medida em que cresce ou em que ele impede ou atrapalha o crescimento. As crises neste aspecto geram tensões que podem requerer a renovação da vida espiritual da igreja (de responsabilidade do Espírito Santo) ou revitalização da estrutura da igreja (de responsabilidade humana). A igreja não deve fixar tempo para o fim do seu crescimento, pois este se localiza entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. Mas, deve se ajustar às mudanças dos tempos, recorrendo a novas formas e técnicas de apresentar e realizar o crescimento. A ESPERANÇA DA APROVAÇÃO DE DEUS AO CRESCIMENTO DA IGREJA Deus fez promessas a Israel que foram cumpridas em Cristo e, por ele, estendidas à Igreja. Por meio da fé nessas promessas, a Igreja caminha até obter a plena realização daquilo que espera. Por isso, ela se empenha em incluir o maior número possível de pessoas, de modo que participem das mesmas promessas. Deus fez a promessa da reunião final de todos os que crêem em uma única comunidade celestial. Cabe às igrejas na terra o papel de compor e preparar os seres humanos para esta, promovendo aqui na terra aquela consumação futura no céu. Para este fim estabelecemos igrejas na terra e lutamos pelo crescimento da igreja, para que somente seu nome seja louvado e se aproxime o dia de seu reino (83). 26 Ao tratar da missão cristã como: crescimento da igreja pela proclamação do Evangelho e incorporação dos convertidos na igreja, a obra levanta uma polêmica constante em relação ao que chama missão como serviço. Elas se concentram nas seguintes citações: “... não basta a uma missão ser meramente uma „presença cristã‟ lá fora. Este tipo de fazer missão transforma-se em indiferença coexistente. Ele não leva em conta a perdição do homem e a responsabilidade do cristão como indivíduo e como grupo de preocupar-se com a condição espiritual que está atrás da situação física do mundo” (24). “Todos os projetos sociais deveriam ser vistos como aplicações da fé, como resultados fundamentais desta aceitação, mas por certo não como substitutos dela. Quando uma missão se transforma em mera demonstração de nossa suposta virtude em projetos de serviço, ela é uma forma de farisaísmo que obstrui a verdadeira proclamação do evangelho... Não podemos oferecer uma demonstração de serviço como substituto da proclamação do evangelho” (40). “Contudo, embora a Bíblia reconheça a responsabilidade da Igreja pela prestação de serviço, ela não confunde serviço e missão; pois missão é, por definição, um testemunho com apelo para o veredito, um processo de „fazer discípulos‟. ... A confusão surge quando alguns promotores da obra missionária definem serviço como missão e permitem que o serviço fique sozinho como um substituto da missão, roubando desta a exigência de um veredito. ... O ponto de vista bíblico é que a expansão da Igreja necessita tanto de serviço como de missão. A idéia de que o serviço per se é missão, mesmo quando não há apelo para um pronunciamento, não é bíblica e o ponto de vista de crescimento da igreja lhe oferece resistência”(57). O segundo texto é um artigo de Orlando E. Costas. Nascido em um lar Metodista, veio a se tornar Batista na adolescência e, mais tarde, veio a ligar-se aos Discípulos de Cristo. Evangelical assumido participou da Fraternidade Teológica Latino-americana, criou o Centro Evangélico Latino-americano de Estudos Pastorais com ramificações em outros países da América Latina, inclusive o Brasil, e foi professor no Seminário Bíblico Latino-americano, na Costa Rica. Num período de efervescência na América Latina, no auge da Teologia da Libertação, Costas inseriu em sua reflexão teológica temas oriundos das seguintes tradições teológicas: O Fundamentalismo (em seu aspecto de confessionalidade dos elementos centrais da fé cristã). O Pietismo (o tema da conversão, caro por demais ao pietismo, é central na teologia de Costas). A vertente conhecida como “radical” do Evangelicalismo (que enfatiza o lugar da ação social na vida e missão da igreja, central para a compreensão latinoamericana do conceito de missão integral). E as teologias Ecumênica e da Libertação. O texto é um artigo que se chama: Crescimento da Igreja como um Fenômeno Multidimensional: Algumas lições do Chile, escrito em 1981. Costas dialoga com a obra de Tippet, e com os demais proponentes clássicos da teoria do crescimento da igreja: Donald McGavran e C. Peter Wagner. O seu 27 discurso consiste em uma polêmica contra a teoria conforme sustentada por esses proponentes. Ele oferece outra argumentação bíblica e teológica acerca da teoria de crescimento da Igreja. Mostra como a teoria do crescimento da Igreja, cuja confirmação se deu no crescimento da Igreja pentecostal no Chile, na primeira metade do século 20 (1910-1975), não se sustenta em vista da argumentação que ele apresenta. Oferece para exame sua própria opinião acerca do crescimento da Igreja, chamado, por ele, de multidimensional. O postulado do autor é que: “a missão é fundada na missão do Deus triúno... seu objetivo último e definitivo é a plena manifestação do Reino messiânico, entendido como uma nova ordem de vida caracterizada por amor, justiça e paz. A igreja é o primeiro fruto desta nova ordem: ela antecipa o reino messiânico em sua vida e o proclama em sua missão” (3). O crescimento da igreja é um objetivo provisional e penúltimo da missão de Deus, e ele deve ser realizado em função do objetivo último: o Reino de Deus. A partir dele, é possível analisar e avaliar que tipo de crescimento realmente se deseja para a igreja. O crescimento da Igreja diz respeito ao interesse de Deus em ser conhecido e de seu governo ser estendido a todas as nações. Tanto Israel quanto a Igreja são objetivos provisórios no alcance deste objetivo final. Isto também inclui a vida que Jesus viveu e sua obra salvadora na cruz e na ressurreição. O crescimento da Igreja, por isso mesmo, deve ser multidimensional. Inclui o numérico, mas não se reduzindo a este. Ele deve ser reflexivo e orgânico. Portanto, ele requer da parte da Igreja: reflexão (o pensamento sobre a participação da igreja no objetivo a alcançar), internalização (a vivência interna deste objetivo) e encarnação (a vivência externa deste objetivo). O crescimento da igreja no Chile como caso concreto: Entre 1930 e 1950 o Protestantismo chileno dobrou de número, notadamente entre os Pentecostais. Ele foi evidente no “extraordinário crescimento de uma liderança carismática indígena, com estrutura financeira autônoma, liturgia contextualizada, vida comunitária dinâmica, vibrante testemunho evangelístico... uma verdadeira igreja das massas” (4). No entanto, esse crescimento gerou a estagnação do ímpeto missionário, notado em quatro aspectos: o aumento do número dos que se afastavam da igreja, após entrar nela; a crescente competição entre as igrejas, na qual elas disputavam os membros das demais; a deformação moral que afetou a ética protestante; a redução do crescimento numérico que passou a ocorrer a partir da década de 70. O penúltimo fator foi apresentado como o mais grave pelo autor. Ele o descreveu assim: enquanto as igrejas receberam as massas sofredoras com uma palavra de libertação para seus sofrimentos individuais, recusaram-se a reconhecer e apresentar a mesma palavra de libertação para as estruturas coletivas e sociais que causavam esses sofrimentos. “Deus pode salvar os indivíduos, mas não a sociedade. O mundo pode ser trazido para dentro da igreja, mas a igreja não pode estar no mundo. A igreja, portanto, não pode e não deve tornar-se encarnada em sua situação social. Ela deve 28 sempre estar a serviço da missão (de pregar), mas jamais ao custo da edificação da igreja” (5). O Crescimento Integral da Igreja Não se pode negar que há uma preocupação de líderes em geral em relação ao crescimento de suas igrejas. Mesmo a Igreja Católica têm sinalizado uma preocupação em relação ao processo de esvaziamento que tem sofrido na América Latina e, por outro lado, o crescimento visível da Igreja evangélica. Conforme dados da SEPAL apresentados pela Revista Época (25 de maio de 2009), os evangélicos somam hoje em torno de 24% da população brasileira. Conforme a reportagem, estudiosos da religião estimam que até 2020 chegaremos a 50% da população. No entanto, o mesmo texto desenha um quadro preocupante para a fé evangélica (que já visualizamos em menor proporção hoje): o crescimento será acompanhado pelo nominalismo, ou seja, o aumento do número de evangélicos nominais, não praticantes. Este é um fenômeno comum ao crescimento numérico, pois dificilmente a quantidade consegue ser acompanhada pela qualidade, ao menos não em curto espaço de tempo. DIMENSÕES DO CRESCIMENTO DA IGREJA - ORLANDO COSTAS Crescimento Numérico Por Crescimento Numérico, entendemos a reprodução que experimenta o povo de Deus ao proclamar o evangelho e chamar homens e mulheres ao arrependimento de seus pecados e à fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador da vida; ao incorporar os que respondem afirmativamente a uma comunidade local de crentes; ao inseri-los na luta do Reino de Deus contra as hostes do mal. Essa dimensão é parte fundamental do ser da Igreja. Ela necessita de novos tecidos para manter-se viva. Daí a necessidade de uma contínua reprodução celular. Ademais, como povo em marcha não poderá chegar à sua meta até que toda humanidade tenha tido uma oportunidade razoável de escutar e responder ao evangelho. O crescimento numérico deve acontecer como conseqüência externa da vida interna da Igreja. Ele deve se dar na medida que a estrutura física, ministerial, financeira e espiritual suporta. Não deve ser pensado como um fim em si mesmo, mas na dinâmica de uma evangelização coerente e integral. Não é correto encher as igrejas se não possuímos espaço físico para comportar o povo, as crianças, adolescentes etc.; se não possuímos pessoal capacitado para dar uma assistência ministerial de qualidade àqueles que chegam e assim por diante. Não podemos agir por demanda, pois além de estarmos lidando com pessoas, o fazemos em nome do evangelho de Jesus Cristo. Crescimento Orgânico Refere-se ao “desenvolvimento interno da comunidade de fé”. Envolve o crescimento saudável e qualitativo de toda a estrutura interna da Igreja, sua organização contextualizada e a comunhão. Como uma criança, que não basta crescer em tamanho, mas precisa possuir um organismo saudável que funcione bem e gere um crescimento proporcional ao esse funcionamento. Para que isso aconteça faz-se necessário uma boa 29 alimentação, atividade física, descanso, etc. Da mesma forma a Igreja precisa de bons nutrientes e de uma vida saudável para que seu crescimento não se transforme em uma deformidade. Crescimento Conceitual Diz respeito à capacidade da Igreja de explicar a própria fé (I Pedro 3.15). Envolve seu conhecimento das Escrituras, da sua própria história como Igreja cristã, daquilo que confessa e da missão a que é chamada por Deus a realizar. Refere-se também ao conhecimento suficiente da sociedade que a cerca e da cultura que integra. Costas afirma o seguinte sobre essa dimensão: ... dá à Igreja firmeza intelectual para enfrentar a todo tipo de doutrina e capacidade crítica para evitar a fossilização e garantir a criatividade evangelizadora, orgânica e ética. (Ibidem, p. 113) Envolve o ensino, a pregação, o discipulado, a teologia, etc. Crescimento Diaconal Está relacionado ao serviço que a Igreja presta ao mundo. Não como uma organização qualquer, mas como fruto do próprio evangelho que representa. A Igreja, como comunidade diaconal, deve seguir o exemplo de Jesus Cristo e se colocar a caminho das gentes. Também como Jesus Cristo deve iniciar sua missão da Galiléia, entre os empobrecidos e rejeitados da região. Lá, deve anunciar o reino, mas também multiplicar o pão como sinal deste reino que ela anuncia, promover curas e libertação e proclamar o ano aceitável do Senhor. Não pode deter-se por muito tempo nas estradas ou cidades, não deve se acomodar, mas deve fazer do caminho sua moradia, daqueles que estão por onde ela passa seu público prioritário, e o serviço integral a eles, sua missão no mundo. A melhor e perfeita condição da Igreja no mundo é sendo corpo – mãos e pés de Jesus Cristo. A Ekklesia Vivemos em uma sociedade regida por um sistema capitalista, que por natureza é desumano. Neste sistema, em sua forma atual, o livre mercado orienta as relações econômicas e sociais. A produção massiva é o moto desse mercado, pois ela é geradora de capital, portanto, de enriquecimento. Nesse caso, a capacidade de produção e de marketing são os principais indicadores de qualidade de um determinado negócio. Muitas igrejas se permitem orientar por esses valores. Com isso, comprometem fundamentalmente sua identidade teológica como a Ekklesia tou Theou, deixam ser agente do Reino de Deus e se tornam portavozes do mercado atual. Concluímos as palavras do próprio Costas: “Pode-se dizer que a igreja cresce integralmente quando recebe novos membros, se expande internamente, aprofunda seus conhecimentos da fé e serve ao mundo. Porém ela cresce qualitativamente quando em cada dimensão ela reflete espiritualidade, encarnação e fidelidade. Por si só, o crescimento numérico converte-se em obesidade, o orgânico em burocracia, o conceitual em abstração teórica e o diaconal em ativismo social. As quatro dimensões carecem de integridade teológica se não forem motivadas e preenchidas pela presença do Espírito, se não brotarem da encarnação eficaz do corpo 30 de Cristo nas angústias e dores da humanidade e se não mostrarem fiéis aos desígnios e ações de Deus na história do mundo em geral e de seu povo em particular. Somente integrando essas dimensões e correlacionando-as com as referidas qualidades pode-se falar de um crescimento normal e, portanto, saudável para a igreja e sua missão no mundo”. PRINCÍPIOS DE DESENVOLVIMENTO NATURAL DE IGREJA? Primeiramente é natural porque queremos aprender da natureza. E aprender da natureza é aprender da criação e aprender da criação é aprender de Deus, o Criador. Jesus usou muito figuras da natureza: Mateus 6.28; Marcos 4.1-20; João 15.1-16. Creio que se estivesse em nossos dias Jesus usaria os mesmos princípios. Mateus 6.28 nos diz que devemos considerar como crescem os lírios do campo. Somos desafiados a examinar cuidadosamente, a pesquisar com toda dedicação. O que devemos observar? Os seus mecanismos de crescimento (“como crescem”). O grande desafio é descobrirmos o poder que a Igreja tem de se multiplicar, assim como uma célula se reproduz e se multiplica, ou mesmo qualquer organismo vivo. Precisamos descobrir nosso potencial de multiplicação. Um exemplo da necessidade de aplicarmos o princípio do crescimento natural é o do robô. Não podemos montar um robô e plantá-lo, na expectativa de se reproduza. Robô não germina. As leis do mundo orgânico não podem ser aplicadas no mundo técnico e viceversa. A Igreja tem o potencial de se reproduzir. Cada crente, membro do Corpo, tem o potencial de se reproduzir. Todos nós podemos produzir frutos (João 15.1ss.). “A nossa tarefa não é produzir crescimento de igreja, mas liberar o potencial natural que Deus já colocou na igreja”. Ou seja, crente tem que produzir novos crentes, que por sua vez, vão produzir outros novos crentes. Assim acontece também com a Igreja. Igreja tem que produzir outras igrejas. Cabe a nós reduzirmos, sempre que possível, a resistência do ambiente. Só assim o crescimento ocorre por si mesmo, ou seja, devemos “limitar os fatores de influência tanto internos quanto externos”. No entanto, creio que devemos nos aperfeiçoar muito mais no controle dos fatores internos, já que os externos, via de regra, são mais difíceis de controlar. Ou seja, somos desafiados a cuidar da saúde interna da igreja, da qualidade interna da igreja. Fazendo assim, por si só a igreja vai produzir os frutos necessários pela ação poderosa de Deus em sua vida (Atos 2.47). Tal produção é aquilo que nos compete fazer: testemunho, semeadura etc. Os resultados Deus é quem produzirá no tempo divido. O princípio de por si mesmo está em Marcos 4.26-29: “Disse também: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra, e dormisse e se levantasse de noite e de dia, e a semente brotasse e crescesse, sem ele saber como. A terra por si mesma produz fruto, primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga. Mas assim que o fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa”. Percebemos nitidamente qual o papel do lavrador nesse processo. Ele pode semear, dormir e levantar. Mas o que ele não pode fazer é produzir o fruto. A expressão “por si mesma” no grego é automate, que significa “automaticamente”. O texto nos fala de um crescimento automático. Na verdade, o que está por trás de todo o crescimento automático é Deus. Temos sempre que analisar aquilo que é teologicamente legítimo e ilegítimo a fim de aplicarmos ou não à vida da igreja, visto que nem tudo na natureza são princípios que podem ser aplicados ao desenvolvimento natural da igreja. 31 O FATOR MÍNIMO Muitos cristãos que descobrem os princípios do DNI logo desanimam; Eu preciso observar tudo isso ao mesmo tempo? De tantas árvores já não consigo enxergar a floresta. Aqui entra o que definimos como a “estratégia do fator mínimo”. Ou seja, é plenamente suficiente se concentrar sobre uma área; Mas qual é, então, a área estrategicamente decisiva? A estratégia do fator mínimo parte do ponto de que as marcas de qualidades menos desenvolvidas de uma igreja são as que mais bloqueiam o seu crescimento. O que realmente interessa no DNI não é fazer sempre mais; A estratégia do fator mínimo vai nos ajudar a fazer menos do que temos feito até agora – mas, fazer as coisas certas. As energias disponíveis (tão escassas) devem ser concentradas nos fatores-chave, espiritualmente e estrategicamente falando. Cada igreja precisa descobrir por si qual é o seu ponto estratégico e resistir à tentação de querer exporta a sua experiência para outras igrejas. Cada perfil de igreja sempre reflete, exclusivamente, uma situação momentânea que em pouco tempo pode estar ultrapassada. Trabalhar o fator mínimo é basicamente concentrar os esforços especialmente naquelas coisas que a igreja não faz bem FATOR MÍNIMO OU FATOR MÁXIMO VI. A prática tem mostrado que os melhores resultados são alcançados com a combinação dos dois fatores. Ou seja, precisamos usar os pontos fortes da igreja para trabalhar com o ponto mais fraco. Ex: Quais dessas marcar são mais fortes em sua igreja? Quais são as mais fracas? Use os mais fortes para trabalhar a melhora dos mais fracos. PRINCÍPIOS DE CRESCIMENTO DE IGREJAS 1. EVANGELISMO Direcionar as atividades evangelísticas para os questionamentos e dificuldades dos que estão a caminho. Aproveitar as amizades e contatos já existentes para evangelização. Sempre que um “evento bem sucedido” é transformado em um “princípio de crescimento de igreja” – e esse é um dos esportes favoritos no meio evangélico – aí a confusão é grande. O evangelismo “3-P” (Peter Wagner) constitui o ponto central dos proponentes do Movimento de Crescimento de Igrejas. Realmente envolve tanto a presença quanto a proclamação, mas isto não é tudo. O evangelista precisa usar todos os meios à sua 32 disposição para persuadir o incrédulo a converter-se de seu pecado e crer em Jesus, de modo que torne-se um discípulo. 1. Evangelismo de Presença. Aproximar-se das pessoas e ajudá-las Fazendo o bem no mundo. 2. Evangelismo de Proclamação. Apresentar o evangelho; A morte e a ressurreição de Cristo é proclamada; As pessoas ouvem e podem responder. 3. Evangelismo de Persuasão. Fazer discípulos; Enfatiza a importância de não fazer separação entre o evangelismo e o acompanhamento, integrando a pessoa ao Corpo de Cristo. 2. LIDERANÇA CAPACITADORA Concentrar os esforços em capacitar outras pessoas para o ministério Os líderes capacitam, apóiam, motivam, acompanham a todos individualmente para que se tornem aquilo que Deus tem em mente (Ef 4:1-16; At 19:7-10). INVESTIR tempo em discipulado, delegação e multiplicação. 3. MINISTÉRIO ORIENTADO PELOS DONS Deus determinou quais cristãos vão efetuar melhor determinados ministérios através dos dons concedidos (Rm 12:3-8; Ef 4:11,12). À medida que cristãos vivem de acordo com os seus dons espirituais, eles não trabalham pelas próprias forças, mas o Espírito de Deus trabalha neles (I Coríntios 12:4-31). Assim, pessoas bem normais podem realizar tarefas bem especiais. As tarefas que executo na igreja correspondem aos meus dons? Nenhuma outra marca de qualidade tem influência tão grande sobre a vida pessoal e a vida na igreja do membro, do que a questão da adequação dos dons. 4. ESPIRITUALIDADE CONTAGIANTE Os membros da Igreja vivem a sua fé com dedicação e paixão, fogo e com entusiasmo. O conceito da “paixão espiritual” está em contraposição às concepções tão difundidas da fé como “cumprir as obrigações”. Vida de oração, vida na Palavra, disciplinas pessoais do Cristianismo (At 2:42-47; I Ts 2:13). 5. ESTRUTURAS FUNCIONAIS Elaboração de estruturas que possibilitam uma multiplicação constante do trabalho. É o princípio da liderança por ministério. 33 Líderes não existem só para liderar, mas para formar novos líderes. O Tradicionalismo, tão presente no Cristianismo, têm influência negativa muito forte sobre o crescimento e também sobre a qualidade de uma igreja. Ele é um pólo oposto à marca de qualidade “Estruturas Funcionais”. 6. CULTOS INSPIRADORES Inspiração que vem do Espírito de Deus. O culto é em primeiro lugar, o cumprimento de um dever cristão. Cultos celebrados de forma inspiradora, por si só atraem pessoas (At 2:46,47; Ef 1:18,19; Cl 3:16). A participação no culto deve ser uma “experiência inspiradora” para os visitantes. É importante ressaltar também que a arrumação do templo e a organização dos cultos são fatores imprescindíveis a esta marca de qualidade. 7. RELACIONAMENTOS MARCADOS PELO AMOR FRATERNAL Existe uma grande correspondência entre a capacidade de amar de uma Igreja e o seu potencial de crescimento. Igrejas que crescem tem um “quociente de amor” mensurável mais elevado do que igrejas estagnadas ou em declínio. Amor de verdade dá à igreja um brilho, produzido por Deus, maiores que programas evangelísticos, pois a ênfase dos mesmos recaem sobre modos verbais de transmissão. As pessoas sem Deus não precisam de discursos sobre o amor; Elas querem experimentar o amor cristão na prática do dia a dia. 8. GRUPOS PEQUENOS A multiplicação constante dos Grupos Pequenos é o princípio universal de crescimento da Igreja. Deve haver “vida” nesses grupos para influenciarem positivamente a qualidade e o crescimento numérico da igreja. Grupos para Edificação, Comunhão e Crescimento da Igreja. Transferência de vida cristã, em vez de estudo de conceitos abstratos (At 2:42-47; 5:42) O fator decisivo para um grupo pequeno alcançar o seu objetivo é que ele seja um grupo holístico, ou seja, completo em si mesmo. Isso significa que nesse grupo não só se estudam textos bíblicos, mas as verdades bíblicas são constantemente relacionadas a fatos concretos da vida diária dos cristãos. Os participantes desses grupos têm a possibilidade de levar à comunhão do grupo questões que realmente mexem com eles no dia-a-dia. 9. PLANTAÇÃO DE IGREJAS Segundo Peter Wagner, “a única metodologia evangelística efetiva é a de plantar novas igrejas”.26 E há grande apoio bíblico para isso, particularmente no livro de Atos, que 34 iguala a multiplicação de novos conversos com a adição de novas congregações (Atos 16:5; 9:31). Também ensina que o cristianismo é uma religião baseada em relacionamentos, e que novos crentes devem ser reunidos em comunhão (Atos 2:41-47). Portanto, toda igreja deve possuir uma estrutura que providencie comunhão adequada para os que a ela se unem. Virgil Gerber conclui que “o alvo final no Novo Testamento é formar cristãos e congregações responsáveis e reprodutores”.27 Há de se desenvolver uma estratégia missionária que plante uma em toda vila e cidade. “Novas igrejas devem ser estabelecidas e novas congregações organizadas. Nesta época deve haver representantes da verdade presente em cada cidade e nas mais remotas partes da Terra,”28 “Em todos os países e cidades o evangelho deve ser proclamado. … Igrejas devem ser organizadas e planos formulados para o trabalho que se realizará pelos membros das recém-organizadas igrejas.”29 Novas igrejas Alcançam melhor não-cristãos Alcançam melhor novas gerações Alcançam melhor novos residentes Alcançam melhor novas etnias Formam novas lideranças Geram novas fontes de recursos para o Reino Geram novos líderes para o Reino Revitalizam igrejas existentes Resultados para igrejas que plantam igrejas Expansão da visão / ministério para além do alcance de uma igreja local Desenvolvimento e utilização de novos líderes Engajamento de novos voluntários Alcance de novos locais / grupos Revitalização da igreja “Os testes estatísticos apontaram que igrejas que apóiam novas igrejas são afetadas positivamente na freqüência dos cultos de domingo, dos batismos e da escola dominical.” Jeffrey Farmer 10. PREGAÇÃO PARA CRESCIMENTO DE IGREJA Enquanto se afia o machado com cuidado, escolhe-se a próxima árvore com exatidão. Enquanto se expõe a Palavra com integridade, aborda-se a cultura com relevância. Duplo desafio: Integridade/Relevância A Igreja crescerá através da “pregação” (At 6:7) Pregação deve ser a maior “visão” da Igreja 35 Atos é um manual sobre como igrejas crescem através da pregação O crescimento da igreja vem pela pregação genuína da Palavra. O que está acontecendo entre Igrejas na atualidade? Observação 1: Comunidades cristãs comprometidas em comunicar o Evangelho de forma “contemporânea” e “contextualizada” estão crescendo com tremenda vitalidade Observação 2: Comunidades cristãs comprometidas com a manutenção da “cultura eclesiástica”, desenvolvidas no século passado, estão morrendo gradativamente Observação 3: Em várias partes do mundo a fé cristã está sendo “revitalizada” através da Plantação de Igrejas (novas) que conciliam “Integridade” e “Relevância” na pregação em diferentes estilos Essas igrejas possuem um forte compromisso com a proclamação da Palavra e a Relevância para a cultura Formação Missional (contextualização) Sensibilidade Criatividade Sabedoria Dois Caminhos e uma Terceira Via: 1. Manter-se distante e resistente: Pseudo Integridade 2. Deixar-se atualizar e incorporar: Pseudo Relevância 3. CONTEXTUALIZAÇÃO (Integridade + Relevância) Não remover qualquer elemento essencial da pregação do Evangelho Remover qualquer elemento não essencial que possa confundir a “compreensão” do Evangelho Desafios: Estudo sério e profundo da Palavra = Integridade Estudo sério e profundo da cultura = Relevância 36 BIBLIOGRAFIA ___Igreja Emergente – Dam Kimbal – Editora Vida ___O Pastor Urbano – Dr Jorge Henrique Barro – Editora Descoberta ___Uma Igreja com Propósitos – Rick Warren – Editora Vida ___O Desenvolvimento Natural da Igreja – Christian Schwarz – Editora Esperança ___Revitalização da Igreja – Jonas Mendes Barreto – Ephata ___Orlando Costas – sua contribuição na história da teologia latino-americana – Carlos Caldas – Editora Vida ___Repintando a Igreja – Uma Visão Contemporânea - Rob Bell – Editora Vida ___Ortodoxia Generosa – Brian Maclaren – Editora Palavra ___Igreja: Forma e Essência – Gene A. Getz – Editora Vida Nova ___Pregação Poderosa para Crescimento de Igreja – David Eby – Editora Candeia ___Reimaginando a Igreja – Frank Viola – Editora Palavra ___A Visão Missionária da Igreja – Timóteo Carriker – Editora Ultimato ___Povo Missionário, Povo de Deus – Charles Van Engen – Editora Vida Nova ___FÁBIO, Caio. Um projeto de espiritualidade integral. Niterói: Vinde, 1994. ___GEISLER, Norman L. Ética cristã: Alternativas e questões contemporâneas. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1985 ___ALLEN, E. Anthony. Saúde integral a partir da igreja local. Londrina/Curitiba: Descoberta, 1998. BARRO, Antonio Carlos. A missão do povo de Deus. Artigo não publicado. ___Igreja e sociedade. Artigo não publicado. BRYANT, Thurmon. O cristão e a fome mundial. 2. ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1988. COSTAS, Orlando E. Compromiso y misión. San José: Editorial Caribe, 1979. CARRIKER, C. Timóteo. Missão integral: Uma teologia bíblica. São Paulo: Editora Sepal, 1992. ___KIVITZ, Ed René. Quebrando paradigmas. São Paulo: Abba press, 1995. ___LINTHICUM, Robert C. Revitalizando a igreja. São Paulo: Bompastor, 1996. O PACTO de Lausanne. V.4. Série Lausanne. São Paulo/Belo Horizonte: ABU/Visão Mundial, 1983. _____PADILLA, René. Missão integral. São Paulo: Temática Publicações, 1992. _____STEUERNAGEL, Valdir R., org. A missão da igreja. Belo Horizonte: Missão Editora, 1994. _____STOTT, John R.W. O cristão em uma sociedade não cristã. Niterói: Vinde, 1989. _____YAMAMORI, Tetsunao et al. Servindo com os pobres na América Latina: Modelos de ministério integral. Curitiba/Londrina: Descoberta, 1998. 37 ___org. Missões e a igreja brasileira: A vocação missionária, v. 1. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1993. ___ELWELL, Walter A. (editor). Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. V.3. São Paulo: Vida Nova, 1990. ____ESCOBAR, Samuel et al. Tive fome: Um desafio a servir a Deus no mundo. V.1. Série Lausanne. São Paulo/Belo Horizonte: ABU/Visão Mundial, 1989. ____EVANGELIZAÇÀO e responsabilidade social: Relatório da consulta internacional realizda em Grand Rapids sob a presidência de John Stott. 2. ed. V.2. Série Lausanne. São Paulo/Belo Horizonte: ABU/Visão Mundial, 1985. ____GOULART, Jorge. A ação social da igreja. Teses, 1941. ____GRELLERT, Manfred. Os compromissos da missão: A caminhada da Igreja no contexto brasileiro. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Juerp/Mundo Cristão, 1987. _____MASTON, T.B. A igreja e o mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1987. _____MISSÃO da igreja e responsabilidade social: Teses do congresso batista de ação social. Rio de Janeiro: Co-edição, 1988. ____ZANDRINO, Dr. Ricardo. Curar também é tarefa da igreja. São Paulo: Nascente, 1986. (1)Veja Manfred Grellert Para um argumento interessante contra este reducionismo evangélico (a polarização teológica ente evangelização e ação social) (1987, pp. 41-43). (3) Veja também MACEDO FILHO (In TESES, 1988, p. 33). (4) Para uma compreensão importante sobre a responsabilidade da Igreja com a natureza, veja Francis A. Schaeffer (Poluição e morte do homem) e Norman L. Geisler (O cristão e a ecologia). Apostila elaborada por Eliel Henrique Monteiro __Pastor da I.E.A.B. Araraquara-SP __Bacharel em Teologia (FTSA); __Phd em “MISSÃO URBANA E CRESCIMENTO DE IGREJA” (FTSA) __Doctor of Ministry “LIDERANÇA PASTORAL” (FTSA) __atualmente “doutorando em “ACONSELHAMENTO E CUIDADO PASTORAL” (FTSA) 38