16 ESTABILIDADE FINANCEIRA E RESPOSTA MULTILATERAL NA CRISE DO EURO Henrique Felix de Souza Machado Ítria Aguiar Tonon Teresa de Angelis de Sousa Cavalcanti1 Money, as a physical medium of exchange, made a diversified civilization possible, […] And yet it is money, in its mechanical more than in its spiritual effects, which may well, having brought us to the present level, actually destroy society.2 Sir Josiah Stamp, apud Fisher (1932, p. vi) 1. INTRODUÇÃO Após um período de bonança na primeira metade dos anos 2000, o mundo experimentou um grande abalo que passou a figurar no centro das atenções de políticos, estudiosos e formadores de opinião: a crise financeira de 2007-08 e a consequente recessão global. Portugal (2012) afirma que a recuperação da economia mundial ainda vacila, em meio a dúvidas a respeito do próximo modelo de crescimento a ser adotado. Segundo Lane (2012), uma das maiores fontes de preocupação acerca da retomada do crescimento é a atual crise da zona do euro, região econômica do bloco europeu formada oficialmente em 1999 e detentora de aproximadamente 18% de toda a produção material de riqueza do globo (FMI, 2011). Na procura por variadas formas de lidar com o urgente e complexo problema, o FMI foi chamado a ajudar, desempenhando um papel de importância bem mais expressiva que o realizado nas últimas crises econômicas. Inédita, essa guinada na sua atuação está despertando novos horizontes de atuação multilateral em situações de crise econômica (GRABEL, 2011). No presente artigo, pretende-se estudar como a crise chegou a acontecer na 1 Os autores agradecem a colaboração de José Roberto Novaes de Almeida, Ph. D. e M. Phil. em economia pela George Washington University, Washington, D.C. e professor do departamento de economia da UnB; e à Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, doutora em economia pela Université de Paris X (Paris-Nanterre), França e professora do departamento de economia da UnB. Seus comentários foram essenciais tanto para a compreensão do tema deste artigo, quanto para a sua confecção. 2 Tradução livre: “O dinheiro, como meio físico de troca, fez possível uma civilização diversificada, [...] Mas ainda assim é o dinheiro, em seus efeitos mais mecânicos que espirituais, que bem pode, tendo nos trazido ao nível atual, de fato destruir a sociedade”. 479 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 zona do euro, quais medidas já foram tomadas para atacá-la e quais outras soluções estão sendo debatidas tanto no âmbito europeu quanto no do FMI para dar uma resposta ao impasse. A seção 2 revisará os conceitos mais importantes para a compreensão básica do tema, nas áreas de macroeconomia (especialmente, economia monetária) e de história da integração europeia. A seção 3 estudará tudo o que já aconteceu, desde as origens da crise, passando por sua evolução e desenvolvimento, até as medidas que já foram tentadas para contorná-la. A seção 4, por sua vez, exporá as principais alternativas que ainda não foram tentadas, e depois analisará o papel do FMI. Por fim, a seção 5 trará as conclusões do estudo. 2. CONCEITOS E NOÇÕES FUNDAMENTAIS3 480 Esta seção apresenta o conhecimento básico necessário para a compreensão de uma crise econômica, especialmente de caráter financeiro (conceito a ser compreendido na subseção 3.1). A primeira subseção delineia os conceitos econômicos mais fundamentais para a compreensão do tema; o subtópico seguinte descreve o sistema financeiro, seus principais agentes e seu funcionamento; a terceira subseção elucida a relação entre o governo e o sistema financeiro; e a última detalha os principais atores da crise atual: a União Europeia e o FMI. 2.1. As bases da economia monetária: moeda e inflação Uma das características da organização em sociedade é a divisão social do trabalho. Através dela, cada indivíduo fica responsável por uma determinada tarefa, uma etapa do processo produtivo, de modo que todos juntos produzem o necessário para a sobrevivência coletiva. Como ninguém consegue produzir tudo o que necessita, os indivíduos operam trocas. A maneira mais rudimentar de realizar trocas é o escambo, em que se pagam bens e serviços diretamente com outros bens e serviços. Trocar lã de ovelha por lenha, por exemplo, é uma forma de escambo. Entretanto, por ser esse um mecanismo trabalhoso, as sociedades frequentemente facilitam as trocas adotando um bem especial aceito por todos para intermediá-las: a moeda4. Atualmente, a maioria das sociedades usa o dinheiro como moeda. Pode-se perguntar, então: por que não simplesmente imprimir dinheiro para resolver os problemas do mundo? Podemos resumir a resposta a essa pergunta em uma palavra: inflação. A inflação é um fenômeno que corrói as características da moeda Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro até, em casos extremos, inutilizá-la completamente. De modo geral, seguindo a lei da oferta e da demanda5, se muita moeda é posta em circulação numa economia, isto é, se sua oferta aumenta muito mais rápido que sua demanda, seu valor perante os demais produtos irá cair, sendo necessária mais moeda para trocar pelo mesmo produto – ou seja, ela perde poder de compra e, portanto, os preços dos produtos sobem6. Quando essa situação se mantém durante algum tempo, diz-se que há inflação. De maneira simples, pode-se definir inflação como o aumento generalizado em todos os preços da economia (i.e., em seu nível de preços). No caso contrário, quando a oferta de moeda fica abaixo da sua demanda, ocorre a deflação (fenômeno atualmente observado nas economias europeias afetadas pela crise). Nesse artigo, não entraremos no mérito do clássico debate sobre os benefícios (e malefícios) que um aumento de inflação pode causar7, pois o conceito não é essencial para a compreensão da crise corrente. 3 As explicações dessa seção derivam da base da teoria econômica e foram simplificadas a partir de Carvalho et al. (2010) e Sachs e Larrain (2000). 4 Além de intermediar trocas, a moeda exerce duas outras funções: a) unidade de conta, através da qual estabelece valores referência para as trocas se operarem (e.g. o salário das pessoas é pago utilizando-se da moeda, e esta mesma moeda é utilizada para adquirir bens – assim, os indivíduos conseguem mensurar o valor de seu trabalho, dos bens que deseja consumir etc. pela quantia em moeda que cada um deles corresponde) e b) reserva de valor: enquanto alguns bens perdem muito valor com o decorrer do tempo, como carros, celulares e comida, a moeda retém o seu durante períodos maiores (se não houver inflação muito alta, um dólar hoje continua valendo aproximadamente o mesmo daqui a um ano, por exemplo). 5 A lei da oferta e da demanda afirma que, em mercados competitivos, se existe muita demanda por algum produto e esse produto está em falta (pouca oferta), seu preço tende a subir, porque as pessoas (demanda) estarão dispostas a pagar mais para obtê-lo. Em contrapartida, se a oferta de um bem ou serviço aumenta muito mais rápido que a sua demanda, o preço tende a baixar, pois cada vendedor, competindo com os outros, colocará um preço mais baixo de forma a conseguir vender seu produto. 6 É fácil entender a lei da oferta e da demanda observando o nosso cotidiano. Quando, por exemplo, um artista internacional de destaque realiza um show em determinado país, os ingressos tendem a ter um preço elevado, pois seus shows acontecem no máximo uma vez por ano (o que caracteriza uma baixa oferta) e o número de pessoas que deseja assisti-lo é alto (o que caracteriza uma alta demanda). Já um artisca local, cuja frequência de shows é bem maior (alta oferta), costuma cobrar ingressos mais baratos, pois os indivíduos podem deixar de ir a um show, sabendo que em pouco tempo haverá outro, (caracterizando uma menor demanda). 7 Os economistas clássicos defendem um baixo nível de inflação, como forma de garantir o crescimento econômico. Os economistas heterodoxos, por sua vez, entendem que um certo nível de inflação é essencial para o crescimento econômico. Para mais detalhes, consultar Mollo (2004). 481 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 2.2. Bancos centrais e o sistema financeiro 482 Para proteger o dinheiro da inflação (ou deflação) e dar-lhe confiabilidade, os países atribuem ao governo o monopólio sobre a sua emissão (i.e., impressão). Dessa forma, é possível tentar dosar a quantidade exata de moeda que deve ser criada (aumento da sua oferta) para acompanhar o crescimento da economia (i.e., da demanda por moeda) sem, no entanto, permitir o avanço da inflação (ou seja, sem criar dinheiro demais). A entidade governamental responsável por essa tarefa é o banco central, que costuma gozar de certa independência com relação ao Poder Executivo. Controlar a emissão de moeda, no entanto, é apenas um dos atributos de um banco central. Para esclarecer melhor seu papel, é preciso antes entender mais sobre o sistema financeiro. Assim como a moeda representa um avanço em relação ao escambo, melhorando a coordenação dos agentes econômicos (pessoas, empresas, governos etc.), o uso do dinheiro através do sistema financeiro também constitui um avanço em relação ao seu uso sem essa intermediação. Isso acontece porque, numa economia, nem sempre os indivíduos utilizarão seu dinheiro de forma imediata para consumir ou investir diretamente; muitas vezes elas irão poupá-lo para gastar no futuro. Tem-se, portanto, uma quantidade enorme de dinheiro parado que poderia estar sendo usado para fazer a economia crescer. De outro lado, há agentes econômicos que não dispõem de recursos necessários, mas estão dispostos a pagar para pegar dinheiro emprestado (crédito) para investir (como abrir uma empresa) ou consumir (como comprar um imóvel). O sistema financeiro é justamente o responsável por promover o encontro entre a oferta e a demanda de poupança, impedindo o dinheiro de ficar parado de forma improdutiva. Ele desempenha dessa forma um papel crucial em qualquer economia contemporânea. Há uma série de instituições que compõem o sistema financeiro: além do banco central, entre as principais estão os bancos, as companhias de seguros, os investidores institucionais e as sociedades de crédito, de financiamento e de investimento. O principal instrumento de atuação dessas instituições é o empréstimo, que é sempre concedido condicionado à cobrança de um valor adicional, chamado juros, cuja função é compensar o credor (isto é, aquele que empresta) pelo risco e pela duração do empréstimo8. Sem os juros, haveria pouco incentivo para os agentes emprestarem dinheiro. Haveria, portanto, muito menos crescimento9. Como o sistema financeiro intermedia os empréstimos, suas instituições (sobretudo os bancos) frequentemente não são do- Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro nas dos recursos emprestados. Um banco comercial, por exemplo, recebe o depósito dos que poupam dinheiro e empresta parte desse dinheiro a juros para aqueles que querem consumir ou investir, mas que não têm dinheiro próprio para fazê-lo. O banco central não desenvolve as funções tradicionais de um banco comercial: não recebe depósitos de pessoas/empresas não financeiras, nem empresta a elas dinheiro. Além de monopolizar a emissão de moeda, o banco central empresta dinheiro aos outros bancos: ele é o emprestador de última instância do sistema financeiro, ajudando os bancos quando precisarem de empréstimos mais seguros e favoráveis. Ainda, ele regula o sistema monetário e financeiro e é o responsável por monitorar a atividade bancária e ter certeza de que os bancos não estejam tomando riscos demais. 2.3. O governo, seu financiamento e sua interação com o sistema financeiro Um dos mais importantes agentes de uma economia é o governo. Pelo seu tamanho e importância como principal comprador da economia, o governo tem o poder de influenciar preços de produtos. A título de exemplo, se um governo resolve criar uma nova política de saúde através da compra e distribuição gratuita de certos medicamentos para a população, ele terá de comprar muitas unidades desses medicamentos, o que equivale a dizer que a demanda total pelos medicamentos crescerá bastante de maneira muito rápida. Isso, por sua vez, causará um aumento temporário no seu preço, estimulando o aumento da produção por parte dos agentes privados (e, portanto, investimento em novas fábricas, criação de novos postos de trabalho etc.). 8 O risco de um empréstimo consiste na possibilidade de o devedor não honrar seu compromisso de pagar de volta todo o valor do empréstimo. Assim, caso o devedor não pague, o credor é parcialmente compensado com os juros pagos durante o período do contrato. Já a duração consiste no custo de oportunidade do empréstimo, isto é, o rendimento de outros investimentos que o credor poderia estar fazendo com a utilização daquilo que foi emprestado durante todo o tempo do empréstimo. 9 Considera-se que o empréstimo é um meio de fomentar o investimento, pois aqueles dispostos a investir, mas que não possuem capital próprio no momento, podem tomar emprestado, realizar seu investimento e pagar o empréstimo com o lucro dele obtido. Como investimentos geram frutos no futuro, produzindo riqueza, um incentivo ao investimento também é um estímulo ao crescimento econômico. Quando alguma quantidade de dinheiro entra no sistema financeiro (e.g. um depósito numa conta pessoal), alguma parte dela será utilizada para emprestar a agentes que vão investir. Esse mecanismo é uma forma de investimento indireto. Portanto, ao remunerar aqueles que emprestam seu dinheiro, os juros atuam como um grande incentivo ao investimento indireto (o investimento realizado pelo próprio detentor do dinheiro denomina-se investimento direto), o que por sua vez faz a economia crescer. 483 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 484 Mas o governo não consegue fazer isso sem que haja algum custo. Como visto no tópico 2.1, se ele simplesmente imprimir moeda, haverá muita inflação. Portanto, para financiar todas essas atividades, é preciso tirar recursos de algum lugar, o que é tradicionalmente feito através da arrecadação fiscal (tributos) ou do endividamento. Portanto, ao se endividarem, os governos utilizam o sistema financeiro para obter recursos por meio de empréstimos, assim como os demais agentes econômicos. O principal mecanismo através do qual o governo capta recursos por meio de endividamento é a venda de títulos. Com esse método, emite-se um documento em formato específico chamado título da dívida soberana ou título público, que atribui ao seu portador um crédito perante o governo. Depois de criados, os títulos são vendidos, permitindo ao governo arrecadar dinheiro. Cada tipo de título tem um período de vencimento, e, quando o título vence, o governo restitui ao proprietário do título o valor inicial mais os juros. Assim, o proprietário de um título público é credor do governo. Assim como no exemplo dos medicamentos, o governo tem a capacidade de influenciar os preços no mercado de empréstimos. Como o preço de um empréstimo é o valor de seus juros, o governo dá um preço base para todos os empréstimos da economia ao estipular taxas de juros aos seus títulos. É nesse preço, chamado de taxa básica de juros – ou simplesmente taxa de juros –, que os credores se basearão ao fazer empréstimos, através de comparações com preços de outros empréstimos/investimentos. Conforme exposto, os juros compensam o risco do empréstimo. Os empréstimos tomados por um governo são em geral tidos como um dos investimentos mais seguros, pela extrema dificuldade de o governo deixar de pagar o que deve. Mas ainda assim há épocas em que o mercado (i.e., seus agentes) passa a duvidar da capacidade do governo de honrar seus compromissos creditícios. Isso acontece quando o governo chega a uma situação muito próxima da insolvência, fenômeno que toma lugar quando a dívida total de um governo, denominada dívida soberana, adquire magnitude tal que o governo não consegue mais pagá-la por inteiro. A saída tradicional desse quadro é o default10. Em uma situação como essa, quando percebe tal fragilidade, o mercado passa a exigir do governo taxas de juros mais altas para compensar o risco adicional, já que o risco de emprestar ao governo aumenta drasticamente em situações próximas à insolvência. Assim, para continuar conseguindo financiamento no mercado de crédito (ou seja, de empréstimos), o governo é forçado a pagar taxas de juros mais altas. A taxa básica de juros, portanto, reflete a Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro solidez das contas de um governo11. Várias situações podem levar um governo à beira da insolvência. No presente artigo, duas delas são mais importantes: o excesso de gastos e a crise bancária. O excesso de gastos consiste simplesmente em gastar de maneira insustentável, dispendendo muito mais dinheiro do que se arrecada durante um longo período de tempo, isto é, sustentando déficits de forma prolongada. Déficit é a situação em que um governo se encontra quando gasta mais do que arrecada em certo período (geralmente um ano). Mas como ele consegue gastar mais do que ganha? Pegando dinheiro emprestado através de títulos. Assim, o governo financia seus déficits aumentando sua dívida total. Ao sustentar déficits por muito tempo numa postura fiscal irresponsável, a dívida do governo pode crescer de maneira tal que ele fique próximo à insolvência. Já a crise bancária opera um mecanismo mais sutil: o que faz o risco dos títulos públicos subir é a importância do sistema bancário na economia. Um banco sempre tem uma quantidade de capital (dinheiro) próprio investido nas suas operações. Mas, conforme já colocado, bancos intermediam empréstimos, de forma a emprestar também capital que não é seu (ex.: depósitos de pessoas/empresas, cadernetas de poupança etc.). Portanto, se um banco vai à falência, o prejuízo recai também sobre todos aqueles que deixaram seu dinheiro em poder desse banco. Se vários bancos têm problemas, de modo que o sistema bancário está em crise, toda a economia fica refém do seu futuro. Para não deixar a economia vulnerável, o governo gasta dinheiro para salvar esses bancos, às vezes assumindo as suas dívidas com todos os riscos a elas associados. Desse modo, num quadro de crise bancária, o risco que antes era puramente bancário se transforma em um risco fiscal: ao gastar tanto para ajudar os bancos e para estimular a economia, a dívida do governo pode crescer demais, colocando-o próximo da insolvência. 10 Default caracteriza-se pelo descumprimento de qualquer cláusula importante de um contrato que vincula devedor e credor, tornando o primeiro inadimplente. O default integral, isto é, de toda a dívida assumida, equivale a um calote. No caso de uma nação, quando esta suspende o pagamento dos juros da sua dívida externa, tem-se a declaração de moratória. Embora viole o contrato na sua dimensão temporal, a moratória serve para o devedor ganhar tempo e conseguir pagar a quantia total posteriormente. Como o governo tem um poder de mercado sobre o preço dos empréstimos, ele frequentemente sobe ou desce os juros de maneira unilateral como forma de política econômica. Porém, isso não diz nada a respeito da sua solidez fiscal. A título de exemplo, o governo pode subir os juros para conter a inflação, assim como pode baixá-los em épocas de baixo crescimento para estimular os investimentos na economia. Essas situações não são tão importantes para o presente artigo. 11 485 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 2.4. A União Europeia e o FMI 486 Foi descrito acima o funcionamento básico do sistema financeiro e monetário das economias nacionais. Porém, assim como cada país possui seu próprio sistema financeiro, há um sistema financeiro internacional, que coordena a oferta e a demanda de poupança entre os países. Para auxiliar essa complexa interação, existem regras e instituições específicas. Nesse tópico, será introduzida a estrutura fundamental do bloco europeu, que traz algumas mudanças na estrutura macroeconômica básica apresentada até aqui, bem como uma descrição sucinta do Fundo Monetário Internacional (FMI). Após a Segunda Guerra Mundial, buscando pôr um fim no seu histórico de conflitos, as principais potências europeias passaram a aumentar a cooperação e a integração entre si. Desse esforço resultou um processo de união econômica e política que culminou na formação da atual União Europeia (UE), com 27 Estados-membros. A UE consiste em um bloco econômico dotado de um mercado comum, livre movimento de pessoas, bens, serviços e capital, e legislação e políticas comuns em variadas áreas (e.g.: segurança, justiça, agricultura, pesca, comércio exterior, política externa, desenvolvimento regional). Ainda, visando a aprofundar a integração econômica, 17 membros12 da UE se reuniram para formar uma união monetária, abrindo mão do poder de seus respectivos governos de emitir uma moeda nacional própria e adotando uma moeda comum, o euro. O conjunto desses países constitui a zona do euro (UE, 2007). Para garantir seu funcionamento, a UE dispõe de instituições supranacionais e intergovernamentais em favor das quais os membros aceitaram transferir uma quantidade de soberania. Embora esteja longe de ter todos os poderes de um Estado soberano, a UE possui uma configuração que lembra um governo com separação de poderes: há um Executivo (a Comissão Europeia), um Judiciário (o Tribunal de Justiça), um Legislativo (Parlamento Europeu e Conselho de Ministros) e um Tribunal de Contas. Além disso, como maior tomador de decisões políticas, há o Conselho Europeu e, como autoridade monetária do euro, o Banco Central Europeu (BCE) (UE, 2007). A Comissão, o Conselho Europeu e o BCE são os mais importantes para o presente artigo. O Conselho Europeu dá as diretrizes para a atividade legislativa e executiva da UE, sendo capaz de definir os rumos e de propor mudanças radicais na configuração do bloco europeu. Por sua vez, a Comissão detém a responsabilidade fiscal pelos gastos da União, dispondo de orçamento próprio para oferecer, embora com grandes limitações, ajuda direta aos países com difi- Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro culdades. Já o BCE detém o monopólio da emissão do euro e atua de maneira bastante independente com quase todos os poderes de um banco central nacional (UE, 2007). Sua atuação será mais discutida nas seções seguintes. Com relação à zona do euro, é importante notar que a união monetária não foi acompanhada de grau significativo de união bancária nem de união fiscal. Isso significa, respectivamente, que as regulações e a supervisão do sistema bancário continuam nas mãos de cada país individualmente e que o orçamento fiscal da UE é pequeno demais para ter a influência significativa na economia da zona do euro13. Essa característica, muitas vezes referida como uma falha no desenho institucional do euro (BLUNDELL-WIGNALL, 2012; LANE, 2012), foi muito importante para a formação da atual crise do euro e será analisada com maior profundidade na seção seguinte. Por sua vez, o FMI é uma instituição financeira global que tem entre seus objetivos manter a estabilidade do sistema financeiro internacional, socorrendo os países em caso de crises e problemas com suas contas públicas. Uma de suas funções é conceder empréstimos condicionados aos países que lhe solicitam ajuda. A seção 4.2 explicará como funciona esse tipo de empréstimo. O FMI também é um importante foro de discussão da regulação do sistema financeiro internacional (FMI, 2012c). Seu papel atualmente vem sendo rediscutido no âmbito mundial, devido às experiências em crises recentes. Com a entrada de países europeus na posição de endividados, o FMI tem negociado as condições para fornecer ajuda aos países necessitados, não estabelecendo uma cobrança tão rigorosa de medidas em alguns dos casos (STIGLITZ, 2000). Uma possível mudança na postura do FMI é um debate a ser abordado com maior profundidade no tópico 4.2. 3. AS ORIGENS, O DESENVOLVIMENTO E A SITUAÇÃO ATUAL DA CRISE DO EURO Após a Segunda Guerra Mundial, a globalização tornava-se uma ideia cada vez mais popular, pois significava a facilidade de acesso internacional através do desaparecimento de barreiras ao co- 12 Os países são: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Países Baixos e Portugal. 13 O orçamento da Comissão Europeia representa apenas 1% de todo o orçamento fiscal da UE. Os outros 99% continuam nas mãos de cada Estado-membro (COMISSÃO EUROPEIA, 2012b). 487 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 488 mércio e aos investimentos, e o aumento do fluxo internacional de bens e serviços (GEISST, 2009). O livre comércio e os mercados comuns serviriam para facilitar essa ideia. A redução e eliminação das barreiras comerciais e financeiras advieram da liberalização de seus mercados. Segundo Mollo (2011), o termo liberalização pode ser entendido como um desvencilhamento das normas estatais de regulação da economia. Esse processo, inclusive, acabou levando a uma desregulamentação dos mercados, ou seja, o papel do Estado reduziu-se, e os mercados tornaram-se mais livres para funcionar de acordo com a sua própria dinâmica e auto-regulamentação. Nesse sentido, a liberalização do comércio, especialmente em países em desenvolvimento, apresentou benefícios modestos, enquanto simultaneamente a liberalização do mercado cambial e de capitais associou-se a altas taxas de câmbio e de juros, dificultando o crescimento da produtividade, a distribuição de renda e o desenvolvimento (SUNS, 1998). A liberalização financeira embasou-se na redução do controle estatal do mercado financeiro, o qual, globalizado, apresentava capitais movimentando-se fora do âmbito de seu país de origem, por exemplo “(...) [através do] mercado de dólares fora do controle americano e aplicações europeias em dólar, cuja gestão está fora da alçada dos vários países europeus” (MOLLO, 2011, p. 460). Nesse cenário insere-se a atual crise, que pode ser considerada a mais grave enfrentada pela Europa desde a crise decorrente da Segunda Guerra (FREITAS, 2011). Seu início aconteceu em maio de 2010, a partir das crescentes dificuldades de financiamento14 apresentadas pela Grécia, um dos países economicamente mais fracos da zona do euro. Atualmente, a crise já se espalhou pela região, tendo atingindo principalmente os chamados países periféricos, que são: Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália15. Entretanto, a crise corrente desenvolveu-se em muito além dos países da zona do euro e expandiu-se para o mundo como um todo. Como a crise surgiu? O que determinou o seu contágio pelas economias da zona do euro? Quais os efeitos nessas economias? Tais perguntas serão abordadas nas próximas subseções. A primeira subseção compreende as condições da economia europeia e mundial que serviram de plano de fundo para a crise. A subseção seguinte aborda como a crise se espalhou para os demais países da zona do euro. A terceira subseção mapeará seus efeitos sobre os países (em especial, os periféricos), as medidas adotadas para contê-la e quais seus resultados e consequências até o presente momento. Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro 3.1. Origens Antes de entender a crise, é preciso compreender em qual contexto ela foi inserida. Nesta subseção, serão tratados dois fatores que criaram condições propícias para o deslanchar da crise atual: a configuração do sistema financeiro internacional e o desenho institucional europeu. 3.1.1. A configuração do sistema financeiro internacional A visão de Minsky (1982) acerca da origem e da intensificação das crises financeiras considera que o surgimento das crises relaciona-se com a composição dos ativos e passivos das instituições financeiras. Os ativos constituem as aplicações realizadas pelas instituições financeiras, enquanto que os passivos indicam suas fontes de captação de recursos. Segundo Muniz (2010), até 1960, as instituições financeiras só aumentavam seus ativos (como os empréstimos) se houvesse uma contrapartida no aumento dos passivos (como um aumento no número de depósitos). A partir da Segunda Guerra Mundial, o mundo passou por um período de grande expansão econômica, liderada pelos EUA. Entretanto, após os anos 60, determinadas condições da economia americana - como o aumento da inflação aliado aos gastos realizados na guerra com o Vietnam (CARVALHO, 2000, p.341), deterioraram o Balanço de Pagamentos (BP)16 norte-americano (MUNIZ, 2010). Esse desequilíbrio gerou graves consequências para o mundo, pois este dependia da dinâmica da economia americana em garantir a paridade dólar-ouro17, institucionalizada em Bretton Woods18. 14 Conceito que se refere à perda da capacidade do governo de obter receitas para saldar suas dívidas. 15 Os países periféricos são também conhecidos pelo termo PIIGS (Portugal, Ireland, Italy, Greece and Spain; em português: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). 16 No BP são registradas todas as transações entre residentes e não-residentes de um país. As transações comerciais (exportações e importações) são registradas na conta corrente e as transações financeiras na conta de capitais do balanço de pagamentos. 17 O padrão dólar-ouro garantia que cada 35 dólares valeriam uma onça troy (31,1g) de ouro. Ou seja, era garantido a qualquer indivíduo, instituição financeira, empresa ou banco, que o governo dos Estados Unidos forneceriam tal quantidade de ouro caso fosse apresentada a citada quantidade de dólares. Para essa situacao se manter, os EUA não podiam desvalorizar sua moeda (barateá-la em relação a outras moedas), de modo que uma mesma quantidade de dólares valesse menos ouro. Assim, quando os EUA precisou desvalorizar sua moeda, encerrou-se a padrão dólar-ouro. 18 O Acordo de Bretton Woods foi estabelecido em 1944 no qual o presidente dos EUA Franklin D. Roosevelt e do primeiro ministro inglês Winston Churchill desejavam garantir a prosperidade pós-guera através da cooperação econômica. Seus principais objetivos consistiam em estabelecer um sistema de taxas de câmbio (o qual levou ao padrão dólar-ouro) e à reconstrução dos países prejudicados pela Segunda Guerra Mundial. 489 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 490 Consequentemente, ocorreu a extinção do modelo de taxas fixas de câmbio através do abandono da paridade dólar-ouro. Como explica Carvalho (2000, p. 341): “Criou-se, assim, um ambiente de extrema incerteza para a operação dos mercados financeiros dos principais países desenvolvidos”. E é justamente neste ambiente que inicia-se uma operação de flexibilização dos passivos do sistema financeiro, ou seja, da captação de recursos. Essa flexibilização dos passivos deu-se pelo advento de inovações financeiras19. De acordo com Muniz (2012), os novos instrumentos financeiros destacaram-se pela forma de captação de curto prazo20 destinados à atividades de ativos de longo prazo, ou seja, os recursos eram captados através de contratos de curto prazo, enquanto os empréstimos eram concedidos por contratos de longo prazo. Logo, antes que o banco recebesse o montante emprestado, teria que pagar pelos recursos captados. Ainda segundo Muniz (2012), entre 1970 e 1980, juntamente com todo esse processo de liberalização, intensificava-se o processo de internacionalização, ou seja, o processo da facilitação em atuar em outros países. O Euromercado surgiu nessa época, permitindo aos bancos europeus captarem recursos de bancos estrangeiros, diversificando ainda mais sua carteira de passivos (captação de recursos). Os bancos americanos aproveitaram essa demanda por capital externo e iniciaram um processo de internacionalização financeira, abrindo filiais de seus bancos em diversos países. Na década de 80, o processo de criação de novos instrumentos financeiros apresentou um forte dinamismo, especialmente através da criação de inovações rumo à prática de hedging finance (CORRÊA, 1995, p. 58). O hedging finance amplia a segurança na realização de um determinado investimento, fator crucial visto o ambiente de grande incerteza que prevalecia na época. Muniz (2010) destaca que nesse período ocorreu uma maior pressão das autoridades reguladoras para que as instituições bancárias elevassem suas reservas de capital próprio, o que levou à prática de operações não registradas em balanço, tais como i) as operações de securitização e ii) derivativos, gerando um efeito perverso. Essas operações permitiram aos bancos captarem recursos sem, no entanto, registrar em seus balanços, camuflando os riscos envolvidos em suas operações. Além disso, passam a ter importância os chamados investidores institucionais que, segundo Carvalho (2000), abarcam os fundos de pensão, fundos de investimentos e os fundos desenvolvidos pelas companhias seguradoras. Conforme aponta este autor, os investidores institucionais Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro são investidores que estão atrás de retornos elevados para seus capitais e, portanto, sujeitos a correrem maiores riscos. Todas estas inovações ao longo das últimas décadas permitiram, segundo Muniz (2010), que todo tipo de agente tivesse a possibilidade de captar recursos, inclusive aqueles com condições precárias de pagamento ou de se auto financiar. Desta forma, as inovações financeiras, especialmente aquelas que surgiram após a década de 80, tem a característica de tornarem o sistema muito mais instável. Este processo de criação de instrumentos financeiros e flexibilização nas formas de captação dos bancos criaram, conforme mesmo autor, um ambiente que dificultou cada vez mais a atuação dos Bancos Centrais em controlar a atuação bancária e a oferta de moeda. E foi nesse ambiente que observou-se, especialmente na primeira década do século 21, um considerável aumento do fluxo de capital externo. O fluxo que era entre 2 a 6% do PIB mundial entre 1980-95, subiu para 15% do PIB desde então; em 2006, esse fluxo correspondia a $7.2 trilhões (PRIMORAC, 2012). O grande problema desse aumento exarcebado do fluxo de capitais em tão curto tempo residiu na ausência de uma regulamentação eficaz, capaz de garantir o pleno funcionamento do mercado de capitais. Nesse ambiente, iniciou-se a crise econômica global em 2007, por meio do colapso do sistema de hipotécas dos EUA. Intrinsecamente ligado ao sistema financeiro, o mercado imobiliário sofria com a falta de uma regulamentação eficiente. Aliada a isso, ainda presenciava-se à incapacidade de Federal Reserve (Fed), banco central americano, em controlar as operações financeiras da economia americana (MENDELSON, 2010). A crise espalhou-se pelo mundo em 2008, na forma de desequilíbrios no fluxo de capitais externos, através da brusca redução da quantidade de dólares disponíveis. Em síntese, a desregulamentacao do mercado financeiro dificultou o reconhecimento dos riscos embutidos nas operações financeiras. O conjunto dos agentes financeiros tornou-se extremamente complexo e não transparente. Dado que os mercados dependem de informações para funcionar, essa falta de transparência levou ao desconheci- 19 Carvalho (2000, p. 338) define uma inovação financeira como “(...) a produção de novos tipos de serviços financeiros ou a novas formas de produção de serviços financeiros já conhecidos”. As inovações financeiras constituiram-se dos Fundos de Reserva Federal (FRFs), dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e dos Commercial Papers (CPs). 20 Na economia, operações de curto prazo têm duração de até um ano. 491 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 mento de quem tinha o quê ou qual o seu valor no mercado financeiro internacional, fator crucial para a viabilidade da crise de crédito atual (MENDELSON, 2010). 3.1.2. O desenho institucional europeu 492 Nesse âmbito de sofisticação do sistema financeiro internacional (tanto pela globalização quanto pelo processo constante de criação de novos mecanismos financeiros), a União Europeia (UE) passava por transformações semelhantes. Segundo Sapir (2011), a conclusão do mercado único europeu21 com a adoção do euro em 1999 foi, então, acompanhada pela completa liberalização do mercado de capitais europeu. Entretanto, essa liberalização não foi seguida de uma regulamentação comum para todos os Estados membros da zona do euro. Simultaneamente, esses avanços obtidos em âmbito monetário não foram observados em âmbito fiscal ou bancário, pois a regulamentação desses setores foi deixada a nível nacional. Aqui temos o seguinte cenário: i) ocorreu uma união monetária, dada a adoção do euro por 17 países membros da União Europeia e de um banco central comum; ii) os segmentos fiscais e bancários não foram contemplados com nenhuma integração formal, de modo que os problemas gerados por cada país seriam resolvidos em âmbito doméstico, sem haver nenhuma entidade supranacional (como o BCE, no caso do sistema monetário) capaz de tomar decisões concernentes à zona do euro como um todo. O Tratado de Maastrich, que entrou em vigor em 1993, definiu as direções a serem tomadas pela União Europeia em direção a uma união econômica e monetária (ainda em estágio de mercado comum). Ao definir que a política monetária seria de competência da UE22 e que a política econômica seria deixada à jurisdição de seus Estados membros23, criou-se um desequilíbrio estrutural no funcionamento da união econômica e monetária da UE. Por isso, entende-se que o Banco Central Europeu foi instituído de completa independência para decidir a direção da politica monetária da UE sem, entretanto, contar com uma entidade política forte que pudesse definir as linhas de ação econômica que dariam suporte à politica econômica monetária adotada. Tentou-se corrigir esse problema através do Tratado de Amsterdã que entrou em vigor em 1999 e estabeleceu regras fiscais24 para os países da UE. Em síntese, instituía-se um controle centralizado da política fiscal da zona do euro, através de um conjunto de mecanismos que monitorariam e sancionariam os países da zona do euro que possuíssem consideráveis déficits públicos Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro (esse conceito será abordado na subseção seguinte). Entretanto, em 2003, a França e a Alemanha estavam em situação de déficit excessivo, mas o Conselho Europeu não sancionou os dois países, conforme previsto no Tratado de Amsterdã (BBC, 2012). Ou seja, houve um afrouxamento das regras, além de um distanciamento perante a integração no âmbito fiscal da UE. O entendimento da configuração do sistema financeiro internacional e do desenho institucional europeu fornece a base para a compreensão da crise europeia. Esses dois aspectos descritos foram de extrema importância para que ocorresse a liberalização do mercado de capitais na zona do euro sem simultaneamente ocorrer uma regulamentação adequada que, como sabemos por análise à posteriori, foi o gatilho para o deslanchar da crise corrente. Na subseção seguinte, serão discutidos o início da crise e seu desenvolvimento, através do detalhamento das entrelinhas políticas e econômicas pertinentes ao processo de liberalização de capitais. 3.2. A crise europeia Como foi visto na subseção anterior, a liberalização do mercado de capitais europeu (i.e, extinção de quaisquer restrições de seu fluxo) permitiu que instituições financeiras pudessem operar por meio de filiais espalhadas pelos países da zona do euro25, reali- 21 Há 6 estágios de integração econômica: 1) Zona de preferenciais tarifárias: dois ou mais países adotam uma redução tarifária parcial; 2) Zona de livre comércio: dois ou mais países optam por promover uma alíquota tarifária de importação igual a zero, ex: NAFTA; 3) União aduaneira: dois ou mais países aprovam, além dos benefícios da área de livre comércio, a criação de uma tarifa externa comum (TEC), ex: Mercosul; 4) Mercado comum: dois ou mais países que já faziam parte de uma união aduaneira decidem liberar o fluxo de mão-de-obra e capital; 5) União econômica e monetária: dois ou mais países pertencentes a um mercado comum decidem-se pela criação de uma moeda comum, unificando as políticas externa e de defesa, ex: União Européia; 6) Integração Econômica Total: estágio mais completo de integração, quando se adotam políticas monetárias, fiscais e sociais comuns, estabelecendo-se uma autoridade supranacional, encarregada da elaboração e aplicação dessas políticas. 22 De acordo com o Artigo 3 do Tratado de Funcionamento da UE (2010). 23 De acordo com o Artigo 5(5) do Tratado da União Europeia (2007). 24 Essas regras compunham o Tratado de Estabilidade e Crescimento da UE (2012). 25 Além de Islândia, Listenstaine e Noruega, que não adotam o euro mas fazem parte da UE. 493 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 494 zando operações cross-border26 sem responder a nenhuma autoridade supranacional (SAPIR, 2011), mas apenas ao seu país de origem. Essa não coordenação entre políticas financeiras e fiscais foi fragilizando a UE, especialmente pela dificuldade em regular o cumprimento das normas27 estabelecidas pelo Tratado de Maastricht em suas políticas fiscais (KIRKEGAARD, 2011). Nesse âmbito, no qual o sistema financeiro e a união monetária contribuíram para o aumento do fluxo de capitais externos, o governo se insere como um dos agentes a fazer uso desses capitais. Da mesma maneira que as empresas e as famílias, o governo precisa de uma fonte de renda para cobrir suas despesas. Essa fonte de renda é obtida através da arrecadação de impostos. Entretanto, quando os impostos não são suficientes para cumprir com suas obrigações, o governo precisa tomar emprestado. E para este sentido o governo passou a aproveitar o aumento do fluxo de capitais externos. Dependendo de como o governo aloque os recursos obtidos, os empréstimos obtidos através da venda de títulos da dívida pública pode auxiliar o país a reduzir seus déficits fiscais e promover o crescimento, gerando condições para o país se recuperar. Vukovic (2012) aponta duas finalidades para as quais o dinheiro obtido com a dívida pública pode ser utilizado: a) financiar investimentos (manufaturas, tecnologia etc.), o que é positivo para o país, pois promove a produção e gera crescimento ou b) financiar o consumo e os gastos do governo em setores não produtivos, o que é negativo para o país, pois este capital não vai gerar renda adicional (essa renda não pode ser obtida, por exemplo, quando o governo utiliza dinheiro dos cofres públicos para financiar campanhas eleitorais). Conforme mesmo autor, Irlanda e Espanha encaixam-se no caso (a), enquanto Grécia, Itália e Portugal, no caso (b). Após a adoção do euro, dados do FMI (2011) apontam que todos os países da zona do euro aumentaram seu déficit, à exceção da Alemanha. Segundo Vukovic (2012), isso ocorreu porque a Alemanha adotou uma série de reformas no seu mercado de trabalho e no seu sistema de pensões, gerando aumento em seus níveis de produtividade e redução nos gastos do governo ao enxugar o valor das pensões (KIRKEGAARD, 2011). Tradicionalmente o país mais competitivo28 da Europa, essas medidas só distanciaram os demais países dos níveis da Alemanha, o que pode ser observado no aumento das exportações desta e no aumento das importações dos demais países (VUKOVIC, 2012). Com o tempo, as empresas menos competitivas decretam falência, o que traz claros impactos à arrecadação de impostos. E quanto menor a arrecadação, menos recursos o governo dispõe Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro para pagar o seu déficit. A continuidade desse ciclo pode levar a uma recessão da economia (não ocorre crescimento; pelo contrário, a economia produz menos), e, na pior das hipóteses, a uma depressão (estado agravado da recessão, consistindo em longos períodos de falências de empresas, desemprego em massa etc.). Nesse sentido, como os países estão vinculados por uma união monetária, não podem utilizar a ferramenta de desvalorização de sua moeda para reduzir esse desequilíbrios fiscais (LANE, 2012), ao baratear suas exportações (o que aumentaria sua arrecadação), e diminuir o valor de suas dívidas (já que com a moeda desvalorizada, eles precisam de mais moeda nacional para pagar a moeda estrangeira, e a dívida é fixa na moeda doméstica – tornando-se, portanto, mais barata). Outro aspecto da união monetária concerne os agentes do sistema financeiro. Estes desenvolveram a impressão errada de que os riscos dos títulos das dívidas públicas de cada país da zona do euro poderiam ser lidos de maneira conjunta, ou seja, como todos eram cotados em euro, deu-se a impressão que não importava qual título comprar, pois todos apresentavam o mesmo nível de segurança – afinal, valiam euros. Antes disso, quando cada país tinha sua própria moeda, havia uma disparidade maior entre as taxas de juros de cada nação, refletindo a solidez do setor privado e dos compromissos firmados pelos governos (títulos públicos). Países como Portugal e Grécia tinham juros maiores, enquanto países como a Alemanha e a França remuneravam menos os seus credores (LANE, 2012). Com a união, essa disparidade sumiu, dando lugar a uma convergência para baixo: as taxas de juros que antes eram mais altas nas economias hoje mais periféricas do euro baixaram até haver uma semelhança muito grande de valores entre todos os países do euro (LANE, 2012). Essa queda na taxa de juros fez com que países que antes da convergência dos juros sofriam com a falta de demanda interna para seu excesso de crédito, como Alemanha e França, passassem a investir nos países periféricos (VUKOVIC, 2012). Quando a crise americana espalhou-se pela Europa em 2008, diversos investidores e instituições europeus possuíam capital investido na economia dos EUA. Os investidores procederam com 26 Entre fronteiras, em tradução livre. As normas consistem em os países obedecerem ao limite de 3% do PIB para déficit público e 60% do PIB para dívida pública. 27 28 Segundo Salvatore (2000), entende-se por competitividade a capacidade de um país em produzir e vender mais barato que os outros países. 495 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 496 a realocação de seus investimentos em ativos dos países periféricos para ativos de menor risco, como os títulos da dívida alemã, para evitar maiores perdas (KOURETAS; VLAMIS, 2010). As instituições financeiras reduziram a concessão de empréstimos, devido às perdas que sofreram com a queda do valor de seus títulos da dívida soberana dos EUA. Assim, o realocamento do capital dos investidores simultaneamente à redução da concessão de empréstimos pelas instituições financeiras levou a uma redução da oferta de crédito nos países periféricos (REINHART; ROGOFF, 2009). Restaram como únicas fontes de crédito para esses países a Alemanha (economia mais forte da UE), o Banco Central Europeu e o FMI (VUKOVIC, 2012). Como, então, a crise europeia que era aparentemente uma crise financeira (gerada como consequência da crise americana) se transformou em uma crise da dívida soberana? As dificuldades foram inicialmente observadas na Grécia. Os títulos da dívida pública grega passaram a ser reconhecidos como ativos de baixo risco e, com isso, criou-se demanda artificial para esses títulos. Essa demanda facilitou a tomada de empréstimos pelos governantes gregos, que, entretanto, utilizaram-nos para financiar seus gastos (inclusive, consumindo os produtos alemães), mas não para melhorar as condições de competitividade de seu país e, assim, reduzir seus elevados déficits fiscais. E isso, consequentemente, tornou os títulos gregos bem mais arriscados, devido à possibilidade de insolvência por parte do governo (LANE, 2012) – quanto maior o déficit, maior a quantidade de obrigações não cumpridas pelo governo por falta de dinheiro. No caso da Espanha e da Irlanda, a crise dos EUA levou à deterioração do preço do setor imobiliário, levando a uma redução da arrecadação de impostos do governo e a uma redução do número de pessoas empregadas no setor de construção, pois esse setor representava um grande peso tanto na produção quanto na geração de empregos de suas economias. Ainda, como o desemprego aumentou, assim também aumentaram os custos do governo perante esses novos desempregados. Essa situação levou tanto a Irlanda como a Espanha a irem de um superávit para um estado de enorme déficit, obrigando seus governos a emitirem títulos públicos de forma a arrecadarem o dinheiro necessário para que os setores mais afetados fossem socorridos (KRUGMAN, 2011). Com a solvência desses países também em questão, a confiança dos investidores se deteriorou ainda mais, intensificando a venda de seus títulos públicos oriundos de países periféricos em troca dos títulos alemães – considerados de baixo risco – em um curto Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro período de tempo (KRUGMAN, 2011). E foi através da tentativa de venda desesperada dos títulos dos países periféricos – gerando uma queda de seus preços e, consequentemente, um aumento de sua taxa de juros (para compensar o risco) – que a crise financeira europeia transformou-se em uma crise da dívida soberana. 3.3. Medidas Diante da deflagração da crise da dívida soberana, a UE e o FMI lançaram mão de medidas conjuntas de ajuda aos países periféricos do euro. Assim, esta subseção analisa os efeitos gerados na economia desses países através da adoção desses planos, e por quais razões fez-se necessária a intervenção nesses países para evitar o contágio da crise pelos demais membros da zona do euro e do resto do mundo. O FMI e a UE criaram, primeiramente, um fundo de estabilidade financeira temporário (European Financial Stability Facility – EFSF) para oferecer pacotes de ajuda financeira aos países afetados, que em seguida tornou-se o European Stability Mechanism (ESM), em caráter permanente (FMI, 2012a). A liberação do capital oferecido por esses pacotes estava sujeita à adoção de medidas de austeridade, como corte de gastos do governo, salários e benefícios, aumento dos impostos e demissão de funcionários, como ocorreu na Grécia, Espanha, Portugal e na Irlanda (VUKOVIC, 2012). Na Itália, a qual até a escrita deste artigo ainda não solicitou ajuda, também foram introduzidas medidas de austeridade, porém por iniciativa governamental (FMI, 2012a). Entretanto, a adoção de medidas de austeridade como característica comum a ser adotada por todos os países afetados não considerou as diferenças econômicas existentes entre esses países. Nos parágrafos abaixo, essas diferenças serão abordadas. Grécia e Portugal apresentavam uma elevada dívida pública desde antes de aderirem ao euro (VUKOVIC, 2012). Esta dívida agravou-se diante dos problemas de competitividade enfrentados após a adoção do euro, pois agora competiam com produtos oriundos da Alemanha, França e países escandinavos. Como visto nas seções anteriores, a adoção do euro implica na perda de uma moeda nacional em prol de uma moeda em comum. Anteriormente, estes países desvalorizavam suas moedas nacionais (o dracma e o escudo português, respectivamente) como forma de baratear suas exportações (LANE, 2012). Agora, essa possibilidade não existe mais. Então, a perda de competitividade e a impossibilidade de desvalorização de suas moedas piorou a situação de déficit na conta corrente (ver nota de rodapé 12) dos dois países. 497 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 498 Nesse sentido, as medidas de austeridade têm se mostrado ineficientes, pois inibem o crescimento da economia desses países, especialmente devido ao corte de salários, os quais desestimulam o consumo da população (KRUGMAN, 2012a). A redução do consumo implica numa queda na arrecadação do governo, deteriorando ainda mais sua já debilitada capacidade de pagamento, a qual é refletida em um aumento de seus déficits públicos e uma nova necessidade de empréstimos. Tem-se, assim, uma ineficiência nos planos de ajuda oferecidos. A Irlanda e a Espanha tiveram causas distintas das explicadas anteriormente, tendo seu centro no estouro da bolha imobiliária, cujo crescimento foi pautado no financiamento externo. Quando a crise estadunidense foi deflagrada, os bancos irlandeses e espanhóis sofreram com a especulação e perderam muitos de seus recursos (DRUDY; COLLINS, 2011). As medidas de austeridade na Espanha tiveram claros impactos negativos na economia, pois observou-se um aumento do desemprego de 23% para 26%, um aumento da dívida pública de 69% para 91% e é esperado uma redução do PIB em 3%; apenas o déficit orçamentário apresentou resultados positivos ao reduzir em 2% do PIB (THE ECONOMIST, 2012d). Em situação mais animadora, mais de dois anos depois de ter pedido um resgate, a Irlanda começa a regressar ao mercado, mas a retomada econômica do país é frágil, apesar da recente queda do desemprego e do crescimento no setor dos serviços (EURONEWS, 2012). Segundo Ribeiro (2012), o FMI propõe ao governo irlandês não apresentar mais medidas de austeridade até 2015, mesmo que isso signifique falhar as metas de crescimento econômico em 2013. Até o momento em que apenas a Irlanda, a Grécia e Portugal haviam solicitado ajuda ao FMI, as preocupações não eram tão grandes, dado que as três juntas representam uma percentagem pouco significativa da economia da zona do euro. Entretanto, quando Espanha e Itália começaram a dar sinais de problemas, a crise da zona do euro adquiriu proporções preocupantes, pois estes países estão entre as quatro maiores economias europeias, o que os torna too big to bailout, ou seja, será necessário um pacote de ajuda muito elevado para auxiliar esses países dado que são grandes economias. Haja vista que a Itália e a Espanha representam 28,5% do PIB da zona do euro (EUROSTAT, 2012), uma possível recessão pode gerar grandes estragos em uma escala mundial, o que reforça a necessidade da contenção da crise nesses países (FMI, 2012a). Kirkergaard propõe que países como a Espanha e a Itália “ajudem a si mesmos durante um longo período de consolidação fis- Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro cal” porque seriam beneficiários de grande peso em relação aos outros (KIRKEGAARD, 2011, p. 6). No caso da Itália, o governo já vem implementando medidas há alguns meses e sua situação é mais moderada que dos outros países da zona do euro. É importante ressaltar que a maior contribuição para o EFSF/ESM foi da União Europeia, tendo em menor grau a contribuição financeira do FMI (LANE, 2012). Não obstante, como será abordado na seção seguinte, o FMI desempenha papel muito preponderante na formação das políticas de ajuda. Analistas financeiros comentam que os empréstimos e medidas de austeridade não serão suficientes para alcançar as metas propostas pelo FMI (THE ECONOMIST, 2012b). Contudo, é primordial a ajuda às economias afetadas para impedir danos ainda maiores ao euro como um todo, especialmente porque existem muitos investimentos de fortes economias europeias como da Alemanha nesses países, e da França, em menor grau. Outro argumento é que uma parte significativa do superávit da balança comercial da Alemanha e da França é relacionada às exportações para os países periféricos, o que acarretam consequências para suas economias de um modo global, pois influencia nos investimentos externos e na sua receita da balança comercial (COMISSÃO EUROPEIA, 2012a). 4. OS CAMINHOS PARA O FUTURO: O BLOCO EUROPEU E O FMI As causas e consequências de uma crise econômica requerem um apreciável período de tempo para serem amplamente compreendidas. Considerando que a crise europeia ainda não apresenta sinais de término, não há um consenso perante a eficácia das medidas já tomadas para solucioná-la. Assim, as dificuldades em compreendê-la com precisão e a urgência que permeia as tomadas de decisões em prol de resolvê-la estão gerando um amplo debate sobre quais rumos deverão ser seguidos. Esta seção pretende, então, descrever as principais alternativas que ainda não foram utilizadas e, em seguida, analisar o papel do FMI em sua resolução. 4.1. Perspectivas na União Europeia Nas seções anteriores, abordou-se o complexo problema dos países do euro de possuir uma união monetária sem um grau significativo de união fiscal, bancária e política. De início, portanto, a saída mais imediata para estabilizar a zona do euro parece ser a sua fragmentação, ou seja, a retirada de um ou mais países da união monetária ou até mesmo a extinção por completo dessa união. Isso poderia ocorrer tanto pela expulsão de um ou mais 499 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 500 membros periféricos – a começar pela Grécia, onde a situação é mais calamitosa – quanto pela saída unilateral de países centrais. Com isso, o país que sai do euro retoma a configuração macroeconômica tradicional, controlando a emissão de sua própria moeda e ganhando a capacidade de monetizar a sua dívida, o que consiste num procedimento de duas etapas: primeiro, o governo (Poder Executivo) emite muitos títulos para arrecadar dinheiro; segundo, o banco central emite moeda para pagar por esses títulos (MISHKIN, 2012). Há duas vantagens atraentes nesse método. Em primeiro lugar, ele transforma o risco creditício (de default) em risco de inflação (porque aumenta a oferta de moeda muito mais rápido que sua demanda – ver seção 2.1). Em segundo, permite aos países com problemas de competitividade desvalorizar sua própria moeda. Assim, tem-se uma possível estratégia de retomada de crescimento: apesar de inflação alta ser ruim, é mais fácil de lidar, por atrapalhar menos a retomada do crescimento do que atual risco creditício; por outro lado, uma moeda desvalorizada deixa os produtos do país mais baratos no mercado internacional, aumentando a competitividade (BLUNDELL-WIGNALL, 2012). Apesar de ser o remédio mais simples, a fragmentação do euro é também o caminho menos desejado, por impor custos enormes oriundos de quatro principais frentes: (i) a possibilidade de, uma vez retirado um país, outros o seguirem, num efeito dominó; (ii) um grande aumento da insegurança jurídica sobre os contratos expressos em euro, piorando o quadro de crise; (iii) um retrocesso no projeto de integração europeia; (iv) o enfraquecimento do euro como moeda global e alternativa ao dólar no comércio exterior (KIRKEGAARD, 2011; BLUNDELL-WIGNALL, 2012). Como o euro e a economia europeia são muito importantes na economia mundial, essas consequências seriam ruins tanto para a Europa quanto para o resto do mundo. Assim, várias medidas são estudadas para manter a coesão da zona do euro. Algumas são de curto prazo, visando a conter a situação de crise e manter uma via de crescimento; outras são de longo prazo, fazendo ajustes de competitividade dentro dos países e revendo a organização supranacional da UE e do euro (GRAUWE, 2010). Como a crise do euro envolve uma crise bancária e outra de dívida soberana (ver seção 3), as medidas devem ser pensadas em conjunto, pois não é possível sair da situação atual sem que ambas as crises sejam resolvidas (BLUNDELL-WIGNALL, 2012). Em oposição à ruptura do euro, há um grupo enorme de propostas que vislumbra uma maior integração europeia para promover a estabilidade financeira e fiscal na união monetária. Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro O presente artigo não pretende se aprofundar nesse debate, mas antes fazer um breve mapeamento das principais propostas nesse sentido. A seção anterior mostrou que a crise do euro nasceu de uma interação entre a dívida pública e um sistema bancário fraco, instável e endividado. Para promover maior estabilidade, as dívidas bancárias devem ser mais solidamente garantidas. Um dos maiores problemas da união monetária europeia é que ela deixa os custos de lidar com um sistema financeiro em crise inteiramente nas mãos dos governos nacionais. Assim, tem-se como caminho inicial mais óbvio as uniões fiscal e bancária na zona do euro ou na UE, o que retira dos governos a pesada tarefa individual de garantir a solidez de um sistema bancário muito endividado e transfere essa responsabilidade a um sistema centralizado29. A primeira consiste em centralizar poderes fiscais, repassando um orçamento bem maior dos membros para a Comissão Europeia. Grauwe (2010) considera essa transferência de soberania muito improvável no atual momento, por ausência de vontade política, mas há outras medidas que não transferem soberania e, ao mesmo tempo, podem assentar as bases para uma futura integração fiscal. A principal dessas medidas é a padronização da política fiscal, segundo a qual cada membro concorda em arrecadar e gastar seu orçamento observando um mínimo de regras fiscais comuns30. Já a segunda, que vem sendo em parte implementada, consiste em unificar a regulação bancária europeia e transferir dos governos para o BCE algumas responsabilidades, principalmente: (i) supervisionar a atividade bancária, avaliando sua sustentabilidade e impondo condições para que não se tomem riscos demais; (ii) salvar o sistema bancário da insolvência; (iii) garantir os depósitos efetuados nos bancos, caso eles não tenham capacidade para isso (LANE, 2012; BLUNDELL-WIGNALL, 2012; SAPIR, 2011). Enquanto as medidas que exigem acentuado grau de integração política não chegam, sobretudo na área fiscal, algumas propostas mais factíveis estão postas à mesa. Entre elas, as principais são a criação dos chamados eurobonds e o fortalecimento 29 Um dos problemas da configuração da UE é justamente a liderança difusa que ela apresenta. A entidade que de fato tem poderes decisórios para conter crises e acalmar o mercado é o Conselho Europeu. Mas suas decisões costumam necessitar de consenso entre os 27 membros da UE, dependendo de negociações lentas entre os países. Com uma união fiscal centralizada na Comissão Europeia e uma união bancária encabeçada pelo BCE, várias medidas necessárias não precisam mais passar pelo Conselho. 30 O Fiscal Compact já começa a endereçar isso, estabelecendo diretrizes para a disciplina fiscal no euro. 501 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 502 do European Stability Mechanism (ESM). Os eurobonds seriam títulos públicos de todo o bloco europeu, emitidos e garantidos pelos países da UE enquanto bloco. O dinheiro arrecadado com a venda desses títulos seria repassado aos governos individuais dos países periféricos, permitindo uma transferência indireta dos países centrais para os PIIGS (BRUNNERMEIER et at., 2011). Já o ESM é o sucessor do EFSF (ver tópico 3.3), um fundo para resgatar países e bancos europeus em dificuldades. Os membros do euro podem fortalecê-lo através da ampliação do fundo e de suas funções, permitindo-o emprestar aos bancos a critérios mais favoráveis (BLUNDELL-WIGNALL, 2012). Por fim, algumas propostas de curto prazo ilustram bem um debate muito presente na atual crise do euro: o da austeridade vs. estímulos governamentais. De modo geral, em épocas de crise econômica, governos podem fazer ajustes estruturais, cortando gastos e benefícios sociais para retomar o crescimento no longo prazo, ou aumentar os gastos no curto prazo, não deixando que a economia pare de crescer. Autores como Frankel (2011) acreditam que certas medidas para ajudar os governos dos países periféricos podem de fato incentivá-los a continuar gastando de forma insustentável, deixando de fazer as reformas necessárias a longo prazo às custas da ajuda dos países centrais. Um modo de tentar evitar esse comportamento é através dos empréstimos condicionados. Na seção anterior foi mostrado como a UE e o FMI fizeram isso de forma conjunta na atual crise. No próximo tópico, apresentaremos uma discussão a respeito do papel que o FMI assume ao ter essa atuação. 4.2. Perspectivas de atuação multilateral no âmbito do FMI Antes da crise financeira de 2007-08, o FMI estava cada vez menos influente na esfera internacional. A decadência ocorreu após um período de forte presença global da instituição durante as crises de dívida soberana da década de 80 até a crise asiática de 1997-98, num período em que o FMI atuou com uma lista grande de países por meio de seus empréstimos condicionados, entre os principais o Brasil, a Argentina e a Ucrânia. A crise asiática marcou o início de uma fase de cada vez menos alcance geopolítico da instituição, sobretudo com relação aos países em desenvolvimento (GRABEL, 2011). Para entender porque isso aconteceu, é preciso ter em mente que as condições exigidas pelo FMI para emprestar seu dinheiro eram bastante rígidas. Essa condicionalidade funciona da seguinte forma: um país com dificuldades de financiamento, geralmen- Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro te em crise, procura o FMI para obter financiamento especial em troca de tomar determinadas medidas internas que, ao ver do FMI, são benéficas para a sua economia e, ao melhorar as estruturas básicas de sua economia, permitem um maior crescimento e, consequentemente, melhores possibilidades de pagar sua dívida para com o próprio FMI através de orçamento fiscal mais equilibrado (FMI, 2012b). Para essa atuação, o FMI é dotado de um leque padrão de medidas, que passam por liberalização da economia, privatizações das empresas estatais e contração dos gastos do governo. Essa lista, sobretudo o último tópico, caracteriza uma postura bastante acentuada do FMI em prol da austeridade, pregando uma redução do papel do Estado na economia31 (GRABEL, 2011). Mas como qualquer decisão, o caminho da austeridade apresenta vantagens e desvantagens. Nas seções anteriores, as mais tradicionais vantagens da disciplina fiscal foram identificadas, sobretudo a possibilidade de retomar um trajeto de ganhos de competitividade e produtividade, melhor alocação dos recursos através de mercados mais livres, gastos estatais mais eficientes etc., além de possibilitar superávits que, acumulados, diminuem a dívida soberana total. Por outro lado, é possível também identificar problemas com a aplicação indevida de medidas de austeridade. Dois pontos são mais relevantes. Em primeiro lugar, de um ponto de vista social, críticos como Rückert e Labonté (2012), Mohidra et al. (2011) e Van Waeyenberge, Bargawi e McKinley (2011) apontam que a constrição de gastos governamentais imposta pelo FMI compromete programas sociais importantíssimos patrocinados pelo governo, em áreas como saúde, educação e distribuição de renda. Nesse sentido, as medidas de austeridade tomadas pelos países da Europa foram alvo de grandes mobilizações sociais (PONTICELLI; VOTH, 2011). Em segundo lugar, sob um ponto de vista econômico, a redução dos gastos do governo pode causar um efeito depressor da economia no curto prazo, pois, como visto na seção 2.3, ele é o principal agente de uma economia. Quando um governo para de consumir certos bens ou de empregar certas pessoas, todos os setores ligados aos gastos cortados sofrem e a economia cresce menos. Isso, por sua vez, diminui a arrecadação do governo e faz com que mais cortes de gastos sejam necessários, o que diminui 31 Essa postura do FMI é por vezes chamada de neoliberal / neoliberalismo. Nesse texto, as expressões serão evitadas por uma forte conotação político-ideológica. Nesse sentido, ver Lima (2010). 503 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 504 ainda mais o estímulo governamental à economia. Assim, numa crise, posturas de extrema austeridade podem ocasionar um ciclo vicioso de recessão econômica no curto prazo, dificultando substancialmente a retomada do crescimento independentemente da necessidade de longo prazo de muitas reformas estruturais envolvendo gastos públicos (KRUGMAN, 2012b; KEYNES, 1996 [1936]; THE ECONOMIST, 2012a). Na crise asiática de 1997-98, em que muitos países em crise financeira na Ásia se socorreram do FMI, a faceta mais negativa da cartilha do FMI se instalou com bastante intensidade, causando uma piora substancial na situação econômica desses países. Esse fato, aliado à experiência de outros países-devedores nos anos anteriores, fez com que cada vez mais as nações do Sul tentassem escapar à órbita de influência do FMI32 (GRABEL, 2011). Com isso, após a crise asiática, o FMI foi gradualmente perdendo a enorme influência do período anterior. Em 2005, apenas seis países possuíam acordos do tipo stand-by33 com o FMI, menor número desde 1975 (KAPUR; WEBB, 2006), sendo que de 2003 para 2007 houve redução de um total de U$ 105 bilhões para menos de U$ 10 bilhões abrangidos por todos programas do FMI (WEISBROT et al., 2009). Após o corpo técnico da instituição ter sido reduzido (KAPUR; WEBB, 2006) e grande parte das antigas dívidas pagas, a lista de devedores do FMI passou a abranger alguns poucos países extremamente pobres, que não têm alternativa senão buscar ajuda de instituições internacionais (CHOREV; BABB, 2009). Com a crise financeira de 2007-08, o FMI saiu de sua decadência e retomou sua posição de importante ator internacional ao se firmar novamente como primeiro respondente a situações de crise financeira (VAN WAEYENBERGE; BARGAWI; MCKINLEY, 2011). Entre os fatores que mais contribuíram para essa reinserção estão as decisões dos países do G-20 durante a crise, que aumentaram as reservas do FMI em 500 bilhões de dólares (dos quais 90 bilhões vieram de Brasil, China, Rússia e Coreia do Sul) e distribuíram através dele 750 bilhões dos 1,1 trilhões de dólares comprometidos para combater a crise (GRABEL, 2011). Além do G-20, a UE contribuiu de forma significativa para a retomada de autoridade do FMI ao chamar a sua intervenção nas crises dos países periféricos (LÜTZ; KRANKE, 2010). Esse fato reflete o conflito austeridade vs. estímulos do governo, muitas vezes encarnado na contraposição entre países credores e países devedores, pois a atitude de incluir o FMI foi levada a cabo pelos primeiros, liderados pela Alemanha, para contrabalancear a postura menos austera e mais conivente da Comissão Europeia. Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro Entretanto, acabou ocorrendo de o FMI ser incoerente com a sua postura tradicional, especialmente no caso da Grécia, ao liberar mais ajuda ao país a despeito do descumprimento das condições da ajuda (THE ECONOMIST, 2012c). Essa atitude constitui justamente o foco final do presente estudo. A atuação do FMI nessa crise vem sendo pautada por atitudes incoerentes. Se, por um lado, a exigência tradicional de austeridade, privatizações e flexibilização da economia e dos direitos trabalhistas continua a regra, algumas exceções específicas mostram uma flexibilidade maior do FMI em estipular condições diferenciadas e aceitar descumprimentos das condições negociadas inicialmente. Um dos exemplos é o caso do Paquistão, em que o FMI relaxou a meta acordada de déficit de 3,8% para 4,6% (GRABEL, 2011). Mas aqui o caso mais marcante e significativo é o da Grécia: não só o FMI flexibilizou o plano de austeridade traçado inicialmente, como desempenhou papel central no reconhecimento de que o passo da austeridade estava muito rápido e que o país não irá conseguir pagar suas dívidas sozinho, necessitando reestruturá-las (o que implica um default, exatamente aquilo que os credores, liderados pela Alemanha, queriam evitar ao chamar a intervenção do FMI) (THE ECONOMIST, 2012c). Em face dessas atitudes pragmáticas, que flexibilizam e, por vezes, contradizem o próprio discurso do FMI, um novo debate nasceu: seria essa uma guinada de rumo do FMI? A tradicional postura de austeridade do FMI estaria abrindo lugar para uma nova atitude? Para muitos, esse comportamento são apenas exceções transitórias; para outros, representa uma abertura que pode ou não mudar o pensamento da instituição34. O debate, é claro, continua aberto. Pelo que se pode observar dos fatos expostos, a principal motivação das atitudes diferenciadas tomadas pelo FMI é o fato de muitos dos países credores hoje dependerem muito mais dos países devedores, ao contrário do que acontecia nas décadas de 1980 (grande devedor: América Latina) e 1990 (países asiáticos e africanos). Como coloca Grabel (2011), o FMI é em grande parte liderado pela agenda dos EUA e 32 Sobretudo: enorme acumulação preventiva de dólares, atração de capital estrangeiro para investimentos e surgimento de centros alternativos de financiamento, como a China e o Brasil (este último pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) (KAPUR, WEBB, 2006; GRABEL, 2011). 33 Principal forma de empréstimo condicionado concedido pelo FMI. A título de exemplo, representantes da primeira posição são Rückert e Labonte (2011) e da segunda, Grabel (2011). 34 505 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 506 da Europa Ocidental, sobretudo Reino Unido. Não só é um dos principais interesses dos EUA que a crise do euro cesse (KIRKEGAARD, 2011), como também o é dos países da própria Europa. Até o próprio FMI chegou a reconhecer algumas mudanças, ainda que pequenas, nas diretrizes da definição de condições nos seus empréstimos. Dentre as mais relevantes, destaca-se uma preocupação maior com a manutenção de benefícios e programas de ajuda aos mais pobres, o reconhecimento de que medidas desenhadas especificamente para cada caso são superiores às medidas-padrão e a capacidade de fazer ajustes no cumprimento das condições depois de feito o empréstimo, conforme a situação econômica do país (FMI, 2012b). A expertise do FMI em lidar com crises e a importância mundial do seu corpo de economistas na formação do pensamento político-econômico são fatores que sempre contribuíram para a autoridade da instituição. Numa visão mais ampla, a reinserção do FMI no centro do sistema financeiro global será um fator significativo para a evolução da economia mundial dos próximos anos. Nesse sentido, as perspectivas de abertura do FMI para uma eventual mudança de pensamento são potencializadas pela maior participação de países em desenvolvimento na sua composição, tanto em termos de poder de voto quanto de composição do capital do FMI, o que contribui para dar mais legitimidade à instituição num mundo cada vez mais multipolar (GRABEL, 2011). Já numa visão mais focada na situação do euro, fica clara posição de acentuada importância que o FMI assumiu nos últimos anos. A Troika constitui hoje um grupo um tanto mais equilibrado de instituições, com a Comissão Europeia pró-estímulos, o BCE pró-austeridade e o FMI mais pragmático entre os dois (LÜTZ; KRANKE, 2010). Ao mostrar uma postura mais aberta com relação à Grécia, o FMI mostrou que, pelo menos no tocante à crise do euro, é capaz de mover soluções de forma mais versátil e casuísta. Resta ver se o FMI irá aproveitar essa posição para tentar pautar propostas como as discutidas na subseção anterior – que surgem a cada dia e que esboçam expectativas tanto para os cidadãos do euro quanto para os do restante do mundo. 5. DESAFIOS E PERSPECTIVAS DE APRIMORAMENTO A origem e propagação da crise europeia pode ser atribuída à configuração do sistema financeiro internacional e ao desenho institucional da zona do euro. Enquanto o último não apresenta nenhuma instituição central capaz de obrigar os seus países Estabilidade financeira e resposta multilateral na crise do euro membros a agir em uníssono, o primeiro gerou uma desregulamentação do mercado financeiro, o que dificultou aos países fiscalizarem as aplicações financeiras realizadas em sua moeda ou pelos agentes econômicos nacionais em moeda estrangeira num período de crédito farto (BLUNDELL-WIGNALL, 2012). Tendo em vista o elevado nível das dívidas públicas dos países da zona do euro e a possibilidade de uma nova crise fiscal, as autoridades da UE propuseram a aplicação do Fiscal Compact Treaty35 em 2013, atualmente ratificado por 12 membros da zona do euro. Esse tratado requer que os novos princípios fiscais sejam embutidos na legislação nacional de cada país (LANE, 2012). Outro desafio que concerne aos líderes dos países europeus é o reestabelecimento do nível de competitividade de seus países, não apenas a nível interno da UE (dado o alto nível de competitividade da Alemanha, economia mais poderosa da região), como também contra a competição dos demais países (especialmente os asiáticos). Para isso ocorrer, é necessário a imposição de reformas de caráter estrutural na zona do euro e garantir um crescimento econômico de médio prazo (KIRKEGAARD, 2011), para possibilitar a redução de seus déficits orçamentários. Existe, ainda, uma possibilidade bastante comentada nos meios de comunicação: a saída de alguns dos países afetados da zona do euro, em especial a Grécia, para que possa voltar a exercer o controle sobre sua moeda nacional e utilizar possíveis mecanismos monetários para auxiliar em seus desequilíbrios fiscais. Kirkegaard (2011) aponta três razoes para isso não ocorrer: a) o custo para o país que deixar a UE é muito alto, independente de este país ser a Alemanha ou a Grécia; b) os anúncios feitos pelos líderes da UE são bastante claros quanto a não tolerância da saída de quaisquer um de seus estados membros e; c) não há nenhuma definição legal no tratado que rege a UE, sobre a saída de algum de seus membros, de forma que presume-se ser impossível ocorrer. Qualquer uma dessas possibilidades exigem mudanças nos tratados que governam a UE e implicam uma transformação no nível de integração política da região (LANE, 2012). Seja como for, o ressurgimento do FMI como primeira entidade de resposta a crises financeiras colocou o FMI numa situação capaz de marcar uma forte posição nesse processo, trazendo um maior equilíbrio ao conjunto de instituições responsáveis pelo combate à crise (GRABEL, 2011). Esse novo status já foi utilizado para frear 35 Em tradução livre, Tratado de Compactação Fiscal. 507 Simulação das Nações Unidas para Secundaristas | 2013 o ritmo de austeridade tanto na Grécia quanto na Irlanda (THE ECONOMIST, 2012c; RIBEIRO, 2012). Se esse é o prenúncio de uma nova postura do FMI, não se sabe. Mas os últimos acontecimentos mostram que se abriu no FMI uma possibilidade inédita de isso acontecer. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BBC. Did Germany sow the seeds of the eurozone debt crisis? BBC News. 29 jan. 2012. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-16761087 >. Acesso em: 23 dez 2012. BLUNDELL-WIGNALL, A. Solving the Financial and Sovereign Debt Crisis in Europe. OECD Journal: Financial Market Trends, 2011[2], jan. 2012. 508 BRUNNERMEIER, M. et al. European Safe Bonds (ESBies). 2011. Disponível em: <http://euro-nomics.com/wp-content/uploads/2011/09/EBSiesWEBsept262011.pdf>. Acesso: 20 nov. 2012. CARVALHO, F. et al. 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