Produtividade e Salários

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ID: 44119421
08-10-2012 | Emprego & Universidades
Tiragem: 14985
Pág: 5
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 10,03 x 33,15 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
OPINIÃO
Produtividade
e Salários
NADIM HABIB
CEO da Nova Executivos
N
os debates sobre caminhos de crescimento
para Portugal, duas perspectivas têm estado
em confronto. De um lado, os que acreditam
que o caminho passa pela redução dos custos
de trabalho, aumentando as horas de trabalho ou reduzindo a TSU suportada pelas empresas. De outro lado,
os que afirmam que uma consolidação fiscal mais suave
(aumentos de impostos menos agressivos) terá menos
impacto no consumo, o que permitirá que a economia
volte a crescer, com mais receitas fiscais e consolidação
das contas pela via de crescimento económico.
Ambos os argumentos se focam nos sintomas e
não na causa. A razão principal para o estado actual
da economia portuguesa é o crescimento anímico da
produtividade nas últimas décadas. E não é por falta
de trabalho. Em Portugal muitos passam 8,9 e até dez
horas diárias a trabalhar. Se os portugueses fossem
para a praia às três da tarde todos os dias, as medidas
discutidas (aumento de horas, eliminação de feriados) poderiam ter impacto na produtividade. Mas
quem trabalha sem produtividade durante oito ou
nove horas, não irá trabalhar “melhor” com mais
tempo. Então porque trabalhamos tão mal?
Por um lado, existe um problema de má gestão. Há
organizações bem geridas e organizações mal geridas. Normalmente, as mal geridas morrem deixando
às bem geridas espaço para crescer. Em Portugal estas mortes têm sido evitadas com planos de recuperação e processos de falência demorados, premiando
a má gestão e penalizando a boa gestão – estimulando
a falta de produtividade.
Um segundo problema é a complexidade legislativa
e burocrática. Uma cultura legislativa baseada no controlo de desvios e comportamentos abusivos, que aumenta a complexidade de actos de gestão básicos, reduz dramaticamente a produtividade. Um exemplo é a
legislação de trabalho justificada com o argumento de
evitar “abusos” por parte dos empregadores, como se
fosse comum para uma empresa que precisa de talento
motivado tratar abusivamente os seus colaboradores.
Qualquer alteração da relação laboral requer pareceres jurídicos, reuniões e processos internos complexos. Todos a custar horas de trabalho sem impactar a
produção. É fascinante verificar que um governo que
se afirma empenhado em aumentar a produtividade
pareça estar igualmente empenhado em produzir legislação que faz exactamente o oposto. Veja-se a recente medida de controlo de custos das entidades públicas, em que qualquer despesa terá de ser sujeita a aprovação do Ministério das Finanças. Antecipo centenas
de reuniões entre gestores públicos e suas equipas
com um ponto na agenda – como gerir com estas regras novas – despendendo muitas horas de trabalho,
com zero impacto na produção e com reflexo fortemente negativo na produtividade de todos.
O meu contributo para o debate é simples. Saiam
do caminho. Deixem as empresas mal geridas morrerem depressa. Não aumentem a complexidade. Esta
veia legislativa de controlo central, quase soviética, é
uma verdadeira arma de destruição maciça da produtividade. Se insistirem em aprovar tudo e controlar
tudo, irão perder controle, destruir produtividade e
emprego – desta forma, nenhuma economia cresce. ■
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