UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE MESTRADO EM BIOCIÊNCIAS E SAÚDE Marina Lopes Collet FREQUÊNCIA DO POLIMORFISMO VAL1016ILE DO GENE Kdr EM POPULAÇÕES DE Aedes aegypti e Aedes albopictus (DIPTERA: CULICIDAE) NO OESTE DE SANTA CATARINA, REGIÃO SUL DO BRASIL. Dissertação de Mestrado Joaçaba 2016 Marina Lopes Collet FREQUÊNCIA DO POLIMORFISMO VAL1016ILE DO GENE Kdr EM POPULAÇÕES DE Aedes aegypti e Aedes albopictus (DIPTERA: CULICIDAE) NO OESTE DE SANTA CATARINA, REGIÃO SUL DO BRASIL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Mestrado em Biociências e Saúde, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Biociências e Saúde, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba. Orientador: Prof. Dr. Glauber Wagner Co-orientador: Prof. Dr. Gerson Azulim Muller Joaçaba 2016 MARINA LOPES COLLET FREQUÊNCIA DO POLIMORFISMO VAL1016ILE DO GENE Kdr EM POPULAÇÕES DE Aedes aegypti e Aedes albopictus (DIPTERA: CULICIDAE) NO OESTE DE SANTA CATARINA, REGIÃO SUL DO BRASIL. Esta dissertação foi julgada e aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biociências e Saúde no Programa de Mestrado em Biociências e Saúde da Universidade do Oeste de Santa Catarina. Joaçaba, 29 de abril de 2016. __________________________ Prof. Dr. Jovani Antônio Steffani Coordenador(a) do Programa BANCA EXAMINADORA _________________________ Prof. Dr. Glauber Wagner Orientador __________________________ ___________________________ Prof. Dr. Diego de Carvalho Prof. Dr. Gerson Azulim Muller Universidade do Oeste de Instituto Federal Farroupilha Santa Catarina (Unoesc) Campus Panambi À minha família Aos meus professores AGRADECIMENTOS Aos meus pais, que são meu norte, meu espelho e minha fortaleza. Por todo o amor e carinho que sempre tiveram comigo. Pela educação e princípios que aprendi a ter e transmitir. Por ter a oportunidade de escrever a história da vida com vocês, por sempre estarem de braços abertos, prontos para me apoiar, por terem me ensinado o verdadeiro sentido de responsabilidade, persistência, determinação, e foco para alcançar o que se almeja. Agradeço imensamente por tudo que fizeram para que esse trabalho acontecesse, vocês, mais uma vez, foram peças chaves e fundamentais. Ao meu companheiro Daniel, por todo seu carinho, dedicação, compreensão, incentivo e força. Por estar sempre ao meu lado, por participar e auxiliar em momentos importantes deste trabalho, por me fazer acreditar e por permitir que essa jordana fosse cumprida de forma tranquila. Ao meu orientador, Prof. Dr. Glauber Wagner, por me acolher, pela paciência, dedicação, empenho e profissionalismo. Por suas orientações e direcionamentos. Pela confiança, pelos ensinamentos passados durante toda a jornada, por me fazer acreditar que as coisas valem a pena, e principalmente por não medir esforços na construção deste trabalho. Obrigada pelo apoio e amizade. Ao Prof. Dr. Gerson Azulim Muller, por abrir portar do conhecimento, pela confiança, direcionamentos e orientações. Por sua acessibilidade e disponibilidade de tempo durante este período. Agradeço por participar desta caminhada e por compartilhar seus conhecimentos. À Profa. Dr. Luisa Damazio Rona Pitaluga, por participar da construção deste trabalho e por transmitir seus conhecimentos. À minha colega Chaiane Frizzo, por me acolher, pela amizade, carinho, compreensão e confiança, Por demonstrar o espírito de ajuda, por ser fonte de inspiração e motivação. Agradeço por todo o apoio e disponibilidade. Você foi fundamental, A todos os excelentes professores com quem tive a oportunidade de conviver, pelos conhecimentos, e por contribuírem na minha formação acadêmica. À Universidade do Oeste de Santa Catarina e seus dirigentes, que incentivam a qualificação profissional. RESUMO Nos últimos anos foi observado um aumento no número de focos do Aedes aegypti e de casos de Dengue na região Oeste de Santa Catarina, sul do Brasil. Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado de Santa Catarina o número de focos na região deu um salto de 125 focos em 2007, para 2.083 focos em 2015, comprovando uma emergente preocupação com o estabelecimento de epidemias de Dengue e outras doenças como, Zika e Chikungunya, transmitidas por este mosquito na região. Dessa forma, o monitoramento do surgimento de resistência das populações desses insetos aos inseticidas sintéticos por meio do fenômeno de “Knockdown resistance” (kdr) mostra-se muito relevante. O kdr ocorre por meio de mutações na proteína dos canais de sódio dependentes de voltagem das células do mosquito, e um dos polimorfismo descritos para este fenômeno é a substituição da Valina (Val) pela Isoleucina (Ile) na posição 1016 dessa proteína. Assim, quando o alelo Ile ocorrer em homozigose, o mosquito é considerado resistente à ação inseticida. O presente trabalho avaliou a frequência destes alelos nas populações de Ae. aegypti do Oeste de Santa Catarina. Foram obtidos DNA de 349 espécimes provenientes das microrregiões de Joaçaba (31), Concórdia (35), Chapecó (154) e São Miguel do Oeste (129) por meio da extração de DNA por Chelex e subsequente análise do polimorfismo através do AFLP-PCR. Cento e nove espécimes (31%) mostraram-se homozigotos Val/Val (AA), 102 (29%) mostraram-se heterozigotos para os alelos Val/Ile (Aa) e 138 (40%) homozigotos Ile/Ile (aa). As frequências genotípicas na população de estudo foram de 0,33 (Val/Val), 0,32 (Val/Ile) e 0,35 (Ile/Ile). As frequências alélicas foram similares para o alelo Val (0,455) e Ile (0,545). Porém, avaliando apenas as frequências do alelo mutante, foi observado que as microrregiões de Joaçaba e Concórdia apresentaram frequências mais elevadas, 0.825 e 0.685 respectivamente, em relação as demais microrregiões. Porém, apesar das frequências elevadas as populações de Joaçaba e Concórdia ainda de encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg, reforçando que nessas regiões ainda não ocorreu uma pressão seletiva, mas destaca a necessidade de monitoramento destas populações quanto ao aumento de mosquitos resistentes à piretróides. Apesar de frequências alélicas serem similares na população de mosquitos da região, a frequência observada de indivíduos homozigotos Ile/Ile chama a atenção pois a implementação de controles com os inseticidas sintéticos poderá aumentar a frequência deste alelo pela seleção de populações resistentes, em especial nas populações que ainda não sofreram pressão seletiva. Desta forma, enfatiza-se a necessidade do monitoramento dessas populações quanto a resistência ao longo dos próximos anos. Palavras-chave: Enzimas de desintoxicação; mecanismos de resistência; mosquito;Kdr. ABSTRACT In recent years there was an increase in the number of Aedes aegypti outbreak and Dengue cases in the western region of Santa Catarina, southern Brazil. According to the Department of Epidemiological Surveillance of the state of Santa Catarina, the number of outbreaks in the region took a 125 outbreaks jump in 2007 to 2,083 outbreaks in 2015, showing an emerging concern with the establishment of Dengue epidemics and other diseases as Zika and Chikungunya, transmitted by this mosquito in the region. Thus, monitoring the emergence of resistance in populations of these insects to chemical insecticides through the phenomenon of "Knockdown resistance" (kdr) proves to be very relevant. KDR occur through mutations in the protein dependent sodium channel voltage from mosquito cells, and one of the polymorphisms described for this phenomenon is the replacement of valine (Val) for isoleucine (Ile) at position 1016 of the protein. So when the allele Ile occur in homozygous, the mosquito is considered resistant to the insecticide. This study evaluated the frequency of alleles in populations of Ae. aegypti of the West of Santa Catarina. DNA was obtained from 349 specimens from the microregions Joaçaba (31), Concordia (35) Chapecó (154) and São Miguel do Oeste (129) through the DNA extraction Chelex and subsequent analysis of polymorphism by AFLP-PCR . One hundred and nine specimens (31%) showed homozygous Val / Val (AA), 102 (29%) were shown to be heterozygous for Val / Ile alleles (Aa) and 138 (40%) homozygous Ile / Ile (aa) . The genotypic frequencies in the study population were 0.33 (Val / Val), 0.32 (Val / Ile) and 0.35 (Ile / Ile). Allele frequencies were similar for the Val allele (0.455) and Ile (0.545). However, only evaluating the frequency of the mutant allele it was observed that the micro Joaçaba and Concordia had higher frequencies, 0825 and 0685 respectively, compared with other micro-regions. However, seize the high frequencies populations Joaçaba and Concordia still are in Hardy-Weinberg, stressing that these regions have not yet occurred a selective pressure, but stresses the need to monitor these populations on the increase of mosquitoes resistant to pyrethroids. Although allele frequencies were similar in the mosquito population in the region, the observed frequency of homozygous Ile / Ile draws attention for the implementation of controls to synthetic insecticides may increase the frequency of this allele by the selection of resistant populations, especially in populations which they have not undergone selective pressure. Thus, it emphasizes the need to monitor these populations for resistance over the next few years. Key-words: detoxification enzymes; mechanisms of resistance; mosquito; Kdr. LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS Figura 1 - Ciclo de vida do Aedes aegypti ....................................................... 9 Figura 2 – Diferenciação morfológica ente Aedes aegypti e Aedes albopictus. 10 Figura 3 – Esquema dos efeitos das mutações gene Nav que alteram a estrutura do canal de membrana impedindo a entrada do piretróide nas células do mosquito ...................................................................................................... 17 Figura 4 – Perfil representativo com três amplificações da região do sitio 1016 do gene kdr de larvas e pupas de Aedes aegypti da mesorregião do Oeste de Santa Catarina, Brasil, de acordo com Saavedra-Rodriguez et al. (2007). Val/Ile: Amostras heterozigotas (Aa) - 98 e 78 pb (pares de base); Ile/Ile; homozigota recessiva resistente (aa) 78 pb; e Val/Val; homozigota dominante selvagem (AA) 98 pb. Eletroforese em gel Poliacrilamida (PAGE) 12% e corado com brometo de Etídio ............................................................ 19 Figura 5 – Mapa com o número de larvas analisadas na mesorregião do Oeste de Santa Catarina e em cada uma das quatro microrregiões ................ 22 Figura 6 – Frequências genotípicas do polimorfismo Val1016Ile do gene kdr na mesorregião Oeste de Santa Catarina e de cada microrregião. As diferenças observadas entre os genótipos em cada microrregião são estatisticamente significativas (χ2= 29,4; d.f= 6; p<0,0001) ............................. 22 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Constituição Genotípica e estatística descritiva do gene Kdr de várias amostras de Santa Catarina. N: total número de mosquitos por amostra; He: heterozigosidade esperada; HO: heterozigosidade observadas; Val: frequência do alelo Val; Ile: frequência do alelo Ile; * Χ2 Hardy-Weinberg com valores de p < 0,0001. .............................................................................. 24 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4 2 OBJETIVOS ............................................................................................ 6 2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................. 6 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................... 6 3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................... 7 3.1 Aedes aegypti E Aedes albopictus........................................................... 7 3.2 DOENÇAS TRANSMITIDAS PELO VETOR ............................................ 10 3.3 CONTROLE DO VETOR ......................................................................... 13 3.4 RESISTÊNCIA AOS INSETICIDAS QUÍMICOS ...................................... 14 4 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................... 18 4.1 OBTENÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO ................................................ 18 4.2 GENOTIPAGEM DOS POLIMORFISMO Val1016Ile POR PCR-AFLP ... 19 4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA, FREQUÊNCIA GENOTÍPICA E EQUILÍBRIO DE WARDY-WEINBERG ................................................................................. 20 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................ 21 6 CONCLUSÕES ........................................................................................ 27 7 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA INTERDISCIPLINARIEDADE..... 29 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 30 4 1 INTRODUÇÃO O mosquito Aedes aegypti é um importante vetor de arboviroses como a Dengue, o Chikungunya, a Encefalite equina venezuelana, o Mayaro, a Febre amarela e o Zika, sendo abundante em áreas urbanas de pequeno a grande porte1. Já o Aedes albopictus, é um segundo vetor em potencial, sendo uma espécie que atua como vetor secundário da dengue em zonas rurais e urbanas105 . A proliferação desses insetos está frequentemente relacionada ao processo de urbanização anômala, que proporciona o surgimento de zonas de periferia com infraestrutura precária de saneamento básico ou ainda pelo descarte inadequado de lixo por parte da população que, após uma chuva, acaba funcionando como criadouro para as formas imaturas do mosquito 1. No Brasil, as três principais arboviroses relacionadas ao Ae. aegypi, em relação ao número de casos e/ou gravidade, são a Dengue, o Chikungunya, e mais recentemente, o Zika1. No ano de 2015 foram registrados aproximadamente 20,5 mil casos suspeitos do Chikungunya e 1,6 milhões de prováveis casos de dengue, o que representa um recorde para essa doença no país2,3. Com relação ao Zika vírus, há falta de dados oficiais relacionados ao número total de casos registrados em 2015, contudo sabe-se que transmissões autóctones do vírus se iniciaram em abril daquele ano, sendo registradas em 19 Estados da federação ³. Essas arboviroses causam um grande impacto negativo na saúde pública do Brasil, uma vez que os índices de morbidade e mortalidade associados a elas, dependendo do perfil populacional afetado, são considerados muito elevados4. Apesar do recente desenvolvimento de uma vacina para os 4 subtipos do vírus da Dengue (DENV) 5,6,7, ainda não há vacinas disponíveis para esta e para as outras arboviroses até início de 2016, e sendo assim, elas não são utilizadas como mecanismo efetivo para o controle destas doenças8, tornando o controle populacional vetorial o método mais indicado para o controle destas doenças. Atualmente, este controle ainda é 5 realizado por meio da aplicação de inseticidas, principalmente, das classes dos organofosforados e dos piretróides9,10. Esses inseticidas empregados no controle do Ae. aegypti, no entanto, ao longo do tempo, selecionaram populações de vetores resistentes, o que dificulta o seu efetivo controle11. Segundo a Organização Mundial de Saúde12, a capacidade de indivíduos de uma determinada espécie de inseto tolerarem diferentes doses de inseticidas, que para a maioria dos indivíduos desta são letais, determina o fenômeno fisiológico conhecido como resistência de uma espécie. Geneticamente, este fenômeno é caracterizado pelo aumento na frequência de alelos gênicos em uma determinada população como resultado direto dos efeitos seletivos ocasionados por um inseticida 13. Entre as alterações biológicas associadas à resistência aos inseticidas, dois são os mais frequentes: o aumento na taxa de metabolismo do inseticida pelo inseto e as alterações nos sítios-alvo de ação dos compostos químicos. Esse último é conferido ao inseto por uma ou várias mutações, sendo que a conhecida como “Knockdown resistance” (kdr) confere resistência aos inseticidas piretróides. O kdr, no Ae. aegypti, ocorre a partir de mutações nos códons do gene Canal Voltaico-Dependente de Sódio e impede que o inseticida mantenha aberto os canais de Sódio dependente de voltagem (Nav) das células nervosas do inseto, o que implicaria na incapacidade de repolarização delas e, consequentemente, levaria a sua morte 14,15. Dessas, a mutação do na primeira base do códon 1016 mostra-se importante devido à sua elevada frequência de ocorrência, sendo responsável pela alteração de uma Valina para uma Isoleucina (Val1016Ile) 16. No Brasil, este fenótipo de resistência também já foi observado 17,16,18,19,20. No estado de Santa Catarina, localizado na região sul do Brasil, na ultima década, tem-se observado um aumento significativo no número de focos do Ae. aegypti21 e, em contrapartida, os estudos relacionados a frequência de ocorrência do kdr são inexistente. 6 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a presença e a frequência dos polimorfismos Valina (Val) e Isoleucina (Ile) no códon 1016 do gene kdr nas populações de Aedes aegypti e Aedes albopictus (Diptera: Culicidae) da mesorregião oeste de Santa Catarina, sul do Brasil. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Genotipar indivíduos de Aedes aegypti coletados nas micro regiões que compõe a mesorregião do Oeste de Santa Catarina quando aos polimorfismos Val1016Ile do gene kdr; Genotipar estes polimorfimos para as populações de Aedes albopictus desta mesma região; Estabelecer as frequências de cada alelo observadas e esperadas nas populações estudadas ; Avaliar o equilíbrio das populações considerando o equilíbrio de HardyWeinberg e avaliar as hipóteses evolutivas para as frequências genotípicas observadas. 7 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Aedes aegypti E Aedes albopictus Aedes (Stegomyia) aegypti Linnaeus, 1762 e o Aedes albopictus Skuse, 1894, são importantes vetores em saúde pública devido ao seu papel como transmissor de dengue, febre amarela febre Chikungunya e Zika22. Acredita-se que o Ae. aegypti tem sua origem na África, e foi descrito pela primeira vez no Egito. Este mosquito acompanhou o homem no processo de migração pelo mundo, especialmente pela capacidade de se proliferar em locais com grandes alterações antrópicas, tornando-se assim um vetor cosmopolita23. Em função da sua disseminação ter sido principalmente de forma passiva pelo homem, a distribuição geográfica da espécie é descontínua 24. No Brasil, os primeiro registros datam de 1986, no município de Itaguaí, estado do Rio de Janeiro23 e acredita-se, que o mosquito tenha sido introduzido no país durante a ocorrência do tráfico de escravos, no período colonial 24. Por ser um mosquito adaptado ao ambientes antropizados, em especial em cidades, este vetor oviposita em recipientes encontrados em domicílios ou peridomicílios como potes, reservatórios de água, pneus usados e latas, com pouca matéria orgânica e preferencialmente em locais sombreados 23. Apesar de conseguir manter uma população relevante durante as estações menos chuvosas, em função dos criadouros semipermanentes, é na estação chuvosa que a população alcança níveis elevados e constituindo esta estão como o período de importância epidemiológica para fins de transmissão de doenças 24. Um outro mosquito bastante similar e confundido pela população com o Ae. aegypti é o Ae. albopictus Skuse, 1894. O Ae. albopictus é originário do continente Asiático e teve sua provável introdução no Brasil por meio dos portos no Espírito Santo e interiorizado através das estradas de ferro, como a Vale do Rio Doce24. A sua distribuição está também bastante relacionada à presença do homem em função de utilizar, assim como o Ae. aegypti, 8 criadouros artificiais resultantes da ação antrópica ao meio. Contudo, contrário ao Ae. aegypti, é uma espécie de mosquito que possui facilidade em se espalhar também em ambientes rurais e silvestres, além de ser mais tolerante a baixas temperaturas25. Apesar do Ae. albopictus não ter sido reportado como transmissor de arboviroses como Dengue no Brasil26, sabe-se que este mosquito pode transmitir o vírus Chikungunya no Brasil 27, bem como transmite todos estes vírus em outras regiões do mundo, tendo assim um grande impacto na saúde das populações daquelas regiões28. Estima-se que em torno de 75% da população mundial residem em áreas com infestação de vetores de dengue, como o Ae. aegypti. Esta espécie está mundialmente distribuída, nos últimos anos, o alto fluxo de pessoas e cargas entre diferentes regiões do mundo, bem como a ocupação desordenada dos grandes centros urbanos, exerce uma influência direta na dispersão destes mosquitos29,30. Estes fatores, combinado com as falha nos sistemas de vigilância epidemiológica permitiram a rápida transmissão de vírus como a Dengue e o Zika. Estes dois mosquitos apresentam um ciclo de vida muito similar (Figura 1), porém com tempos de desenvolvimento diferentes de acordo com as condições de temperatura, disponibilidade de alimento e umidade, mas geralmente o ciclo leva em torno de 10 dias 31, passando pelos estágios de ovos, larvas (de 1 a 4 instar), pupa e adulto 24. Os ovos, inicialmente de coloração branca e menores do que 1 mm, tornam-se negros e rígidos após duas horas da postura e não apresentam distinção na sua morfologia entre estas duas espécies32. Já as larvas crescem de forma sequencial no seu comprimento passando por quatro estádios, e este desenvolvimento dependente da disponibilidade de nutrientes, temperatura e densidade larvária, variando entre cinco a sete dias24. A diferença morfológica básica entre estes mosquitos é que o Ae. albopitcus apresenta um conjunto de espículas com apenas um espinho no ultimo segmento larval, bem proeminente e de forma acicular22. Em seguida transformam-se em pupas e seu período de desenvolvimento dura de dois a três dias em condições adequadas de temperatura, sendo este o estágio de transição entre o individuo de meio aquático para o terrestre22. 9 Figura 1: Ciclo de vida do Ae. aegypti e Ae. albopictus. Fonte: Adaptado de Bigents (2016). O adulto representa a fase reprodutiva do inseto e os machos e fêmeas se diferenciam essencialmente pelos machos apresentarem antenas mais plumosas e palpos mais longos33. Os adultos destas espécies são facilmente reconhecidos por apresentarem tegumentos escuros com escamas claras nas pernas formando anéis, e no caso do Ae. aegypti apresentarem “lira” desenhada no mesonoto enquanto o Ae. albopictus uma listra central 24. (Figura 2). 10 Figura 2: Diferenciação morfológica entre Ae. aegypti e Ae. albopictus. Fonte: Adaptado Fiocruz, 2016 34. Com relação aos hábitos alimentares, tanto machos quanto fêmeas alimentam-se de néctar e fluídos açucarados, porém, apenas a fêmea apresenta característica hemofágica em função da necessidade de proteínas presentes no sangue de mamíferos como para a a maturação dos ovos, influenciando assim a quantidade de oviposturas realizadas, que deve ocorrer a cada repasto sanguíneo, com intervalos de três dias33. Segundo Consoli24, seguinte a oviposição, os ovos ficam no ambiente em um período de incubação para a ocorrência do processo de embriogenese e formação das larvas, se houver condições favoráveis de temperatura e umidade, caso contrário, ocorre a diapausa, onde os ovos ficam em suspensão temporária de eclosão após o termino do desenvolvimento embrionário. 3.2 DOENÇAS TRANSMITIDAS PELO VETOR As arboviroses são doenças virais (Arbovírus) são transmitidas ao homem por meio de insetos e aracnídeos durante o repasto sanguíneo4. Dentre os principais arbovírus podemos destacar os vírus da febre amarela, Dengue, Chikungunya, da encefalite equina, Mayaro e o vírus da Zika1, que tem como principal vetor o Ae. aegypti e para Dengue, febre amarela e Chikungunya também se inclui o Ae. albopictus como vetor. 11 A dengue acomete aproximadamente 50 a 100 milhões de pessoas anualmente em mais de 100 países de todos os continentes, com exceção da Europa e Antártida. Apenas no Brasil aproximadamente 550 mil pessoas são acometidas pela doença e em torno de 20 mil falecem em consequência da dengue35. O agente causador da dengue é um vírus de RNA pertencente a família Flaviviridae, do gênero Flavivirus, com quatro sorotipos virais conhecidos (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4). Esta infeção é acarreta em um quadro clínico assintomático, ou ainda provocar a dengue clássica (caracterizada por um estado febril agudo), ou ainda o quadro mais grave que é a febre hemorrágica da dengue ou síndrome do choque da dengue 4 sendo responsável por uma mortalidade causada superior a 20% se não tiver o tratamento adequado36. No Brasil, os primeiros relatos de epidemias de dengue foram no período de 1846 a 1853, porém, a primeira evidência de ocorrências de epidemia foi em 1982, com o isolamento dos sorotipos DEN-1 e DEN-4 em Boa Vista, Roraima Como Ae. aegypti não estava disperso pelo território brasileiro a capacidade de disseminação do vírus não foi elevada, desta forma em poucos meses houve o controle desta epidemia ainda na cidade de Boa vista37. Já em 1986, houve a reintrodução do sorotipo DEN-1 no Rio de Janeiro, DEN-2 em 1990, DEN-3 em 200138 e em 1981 o DEN-439. Já em 2005 o nível endêmico de dengue em nosso país havia alterado os indicadores de morbidade, superando a de todas as outras doenças de notificação compulsória 40 . Deste então o vírus passou a ser disseminado rapidamente em função das falhas no controle vetorial e a rápida expansão urbana, chegando a mais de 1 milhão de casos em 2015 41. Outra doença emergente é a febre Chikungunya, causada pelo vírus CHIKV, que é um vírus da família Togaviridae composto de RNA pertencente. Seu nome “chikungunya” é derivado da palavra em Makonde a qual traduz-se em “aqueles que se dobram”, descrevendo os pacientes, que sofrem de artalgia intensa, que apresentam uma aparência encurvada 42. Desde o ano de 2004 o vírus CHIKV vem causando epidemias na Ásia e África, com valores de morbidade relevantes43. De acordo com o Ministério da Saúde42, a febre Chikungunya é caracterizada por febre alta, dores de cabeça, mialgias e artralgias principalmente nas extremidades e articulações, com 12 período de incubação de aproximadamente de três a sete dias. Alguns desses sintomas podem permanecer e a mesma converter-se na forma crônica. No Brasil, já foram registrados mais de 3.748 casos, especialmente na Bahia e em Pernambuco3, e em função do conhecimento da capacidade vetorial do Ae. albopictus para a transmissão deste vírus no Brasil 27, há uma preocupação com o estabelecimento de uma epidemia no Brasil, pois este mosquito está pela presente em mais de 59% das cidades brasileiras, incluindo do Oeste Catarinense25. Outro vírus transmitido pelo Ae. aegypti que merece destaque é o Zika vírus (ZIKAV). Este vírus é também pertencente a família Flaviviridae, como o vírus da dengue, e foi originalmente isolado em 1947 na floresta de Zika (Uganda), a partir de sangue de Rhesus macaque1. Esta infeção pode ser facilmente confundida com a dengue, apesar de haver sintomas característicos como cefaleia, manchas avermelhadas na pele, febre baixa, dores articulares, mal estar, coceira e vermelhidão ocular, contudo de maneira geral, a doença evolui de forma benigna, onde os sintomas desaparecem após 3 a 7 dias espontaneamente44,3. Apesar do primeiro registro de ZIKAV em humanos datar de 1952 a transmissão do vírus permaneceu restrita aquela região até no ano de 2007, quando um grande surto, que afetou aproximadamente 70% dos residentes, ocorreu na ilha de Yap e em outras ilhas nas proximidades dos Estados Federados da Micronésia. Primeiramente, o surto foi relacionado ao vírus da dengue, porém exames sorológicos e moleculares demonstraram a presença do ZIKAV como sendo o agente etiológico responsável pelo surto45. No Brasil, acredita-se que o ZIKAV foi introduzido no ano de 2015 primeiramente a região Nordeste do país46. A grande preocupação com o ZIKAV são os casos de microcefalia em bebês reportados pelo Ministério da Saúde em associação com este vírus. Fato comprovado nos meses seguintes pela identificação deste vírus através de técnicas moleculares de RT-PCR e de microscopia em cérebro de uma criança, cuja apresentava sintomas de Zika 47. Deste então, esta epidemia passou a ser considerada vital para a saúde mundial segundo a Organização Mundial da Saúde. 13 Apesar do recente desenvolvimento de uma vacina para os 4 subtipos do vírus da Dengue (DENV)5,6,7, ainda não há vacinas disponíveis para esta e para as outras arboviroses até início de 2016, e sendo assim, elas não são utilizadas como mecanismos efetivos para o controle destas doenças 8, tornando o controle populacional vetorial o método mais indicado para o controle destas doenças. 3.3 CONTROLE DO VETOR O controle da transmissão das arboviroses, tem como objetivo o enfrentamento dos surtos, epidemias, o aumento da mortalidade e morbidade e prevenção a reintrodução da doença e novas epidemias, indo muito além da redução das populações dos vetores 48 . Contudo, de nada adianta remediar a situação existente com o tratamento dos infectados e a eliminação temporária de criadores destes mosquitos, se não focar na eliminação completa deste mosquito nas áreas de foco. No Brasil, os programas para controle ao vetor tem como base a integração de ações de vigilância epidemiológica, manejo ambiental (eliminação dos criadouros do mosquito e armadilhas), controle biológico e controle químico (uso de inseticidas e repelentes)49. Os programas de vigilância epidemiológica ainda se constituem como fundamentais estratégias para promover as ações no controle da população de mosquitos50. Estes programas de vigilância do Ae. aegypti utilizam índices como o Índice de Infestação Predial (IIP) e o Índice de Breteau (IB), que baseiam-se na presença de larvas / pupas em recipientes na área amostrada para determinar a taxa de infestação destes mosquitos. Para isto, a maioria dos programas de vigilância visam o monitoramento e identificação das formas aquáticas de Aedes spp.51 . Então, com base neste programa, nas regiões onde for observada formas aquáticas deste mosquito é necessário a intervenção do manejo 14 ambiental como medidas de caráter preventivo são direcionadas principalmente aos criadouros52 e sua realização é feita pela combinação de vários métodos 53. Essas medidas envolvem ações simples e eficazes, em especial aquelas que envolvem cuidados a serem tomados pela própria população52. Na última etapa deste programa está a utilização de agentes biológicos ou químicos para o controle do Ae. aegypti em locais onde há infestação do mesmo. Segundo Luna 54 , estas estratégias são baseadas na utilização de produtos químicos, principalmente organofosforados e piretróides, que são inseticidas químicos que necessitam de constante monitoramento. Este acompanhamento deve ser realizado de forma continua e deve ser observada a presença de mutações que conferem resistência às diferentes classes de inseticidas químicos23,55. Com base neste acompanhamento é possível que os agentes públicos adotem estratégias de controle do mosquito distintas, como uso de diferentes inseticidas23, de inseticidas biológicos como o BTI56, de mosquitos modificados geneticamente 57 ou o uso de mosquitos infectados com o endosimbionte Wolbachia56. Até o momento o monitoramento da resistência a inseticidas pelo mosquito Ae. aegypti deve ser realizado baseado nos ensaios preconizados pela Organização Mundial da Saúde12. No Brasil, este monitoramento é realizado especialmente pela Rede Nacional de Monitoramento da Resistência de Aedes aegypti (MoReNa). Estes bioensaios são laboriosos e consomem tempo até se chegar ao tipo de inseticida ou susceptibilidade que uma determinada população de mosquito apresenta. 3.4 RESISTÊNCIA AOS INSETICIDAS QUÍMICOS Os primeiros registros do uso de compostos com atividade inseticida datam de mais de 2500 anos a.C, com os povos sumérios. Posteriormente, com os Chineses, iniciou-se o desenvolvimento de inseticidas derivados de plantas, mercúrio e arsênico. Sendo muitos destes compostos utilizados no 15 desenvolvimento da agricultura59. E o sucesso do uso destes compostos no controle de pragas na agricultura, passou a despertar o interesse do seu uso na saúde pública, tornando esses inseticidas químicos importantes nos programas de controle de vetores de zoonoses60. Desde então, o desenvolvimento científico e tecnológico para o desenvolvimento de inseticidas mais potentes e com capacidade de uso em diversas áreas foi alavancado. Dentre vários compostos, os inseticidas organofosforados (OP) são os que apresentar o maior interesse comercial e toxicológico61. Estes agem por contato e ingestão, ligando-se a enzima acetilcolinesterase (AChE), incapacitando-a de hidrolisar acetilcolina (ACh) em colina e ácido acético, promovendo a paralisia e morte do inseto 23. O organofosforado temephos, é o único larvicida pertencente a este grupo de compostos que é aprovado pela Organização Mundial da Saúde para o controle de larvas de mosquito em reservatórios de água para o consumo humano, em função da baixa toxicidade e persistência no ambiente 62. No Brasil, utiliza-se este desde 1967, tendo sua aplicação intensificada após a epidemia de 1986 63 , estimando-se o seu emprego, na saúde publica, em 5 mil toneladas por ano48. Outra classe de inseticida muito utilizado no país são os piretróides, o quais atuam no sistema nervoso do inseto, modificando a função normal do canal de sódio, acarretando a morte do mosquito 64. Contudo, o uso descontrolado e irrestrito destes compostos, possibilitou que populações de mosquito apresentarem habilidades de resistência aos compostos 65. Acredita-se que mais de 100 espécies de mosquitos apresentam resistência a algum tipo de inseticida66. A resistência a um composto nada mais é do que a capacidade desenvolvida por um organismo em tolerar variadas concentrações de agentes tóxicos, as quais seriam letais para a maioria da população da mesma espécie12. Mecanismos de resistência são gerados através de modificações genéticas que acarretam em alterações morfológicas, fisiológicas ou comportamentais que são selecionadas pelo próprios compostos. Em função da resistência ser hereditária, é notado que em certos locais ocorre um aumento na frequência destes alelos na população, formando populações altamente resistentes aos compostos disponíveis 23. 16 Existem diferentes tipos de mecanismos de resistência conhecidos, sendo eles: mudança na penetração do composto no inseto reduzida, mudanças comportamentais, alteração do sítio-alvo e resistência metabólica67. A redução na taxa de penetração do inseticida origina-se de mutações em proteínas do tegumento que acarretam na diminuição da penetração do inseticida no inseto23. Já as mudanças de comportamento dos insetos ocorrem em função da presença do inseticida em certas áreas e os insetos tornam-se capazes de reconhecer estas áreas e não aparecer em regiões sob tratamento, alterando o seu biorritmo68. Há resistência do tipo metabólica é determinada pelo aumento da capacidade do inseto em detoxificar o inseticida 23, e fazem parte deste grupos enzimas como as monooxigenases dependentes do citocromo P-450, esterases e GSH-transferases69. Já as alterações estruturais de proteínas em sítio-específico geram a redução da afinidade do inseticida com a proteína alvo. Dentre estas proteínas, destacam-se as enzimas acetilcolinesterase (AChE), receptores neuronais do ácido gama-aminobutírico (GABA) e canais de sódio voltagem dependente (Nav)70. Dentre estes genes de resistência, as mutações do tipo kdr, do inglês knockdown resistance, no gene Nav tem sido associada à resistência aos piretroides. Os piretróideos agem na proteína canal e impedem a repolarização da membrana plasmática das células nervosas destes insetos através da sua interação com a proteína e manutenção deste constantemente aberto, levando a morte do inseto15. Mutações nestes canais, levam a redução da afinidade do piretróide com o canal, fazendo com que este permaneça ativo e fazendo com que a transmissão de impulso nervoso permaneça ativa e o inseto vivo, mesmo na presença do inseticida71,14 (Figura 3) 17 Figura 3: Esquema dos efeitos das mutações gene Nav que alteraram a estrutura do canal da membrana impedindo a entrada do piretroide nas células do mosquito.. 72 Fonte: Raven et al. (2011) . Várias espécies de mosquitos de importância médica, incluindo Anopheles gambiae, Culex pipiens, Culex quinquefasciatus e Ae. aegypti apresentam fenótipos kdr55. Diversas mutações pontuais já foram associadas a esse fenômeno, como por exemplo o polimorfismo L1014F em Anopheles gambiae73, Culex pipiens74 e Culex quinquefasciatus75 e o L1014S também em Culex pipiens74. Diversas mutações já foram descritas relacionadas ao kdr em Ae. aegypti: V1016I, I1011M20; G923V, V952I, H961K, L982W, I1011M, I1011V17; V1011M, V1016I16; V1016G18; F1534C78; F1534C79; e D1794Y80. Em especial, para o Ae. aegypti, Saavedra-Rodrigues16 descreveram a transição A/G (adenina/guanina) na primeira base do códon 1011 que gera a alteração de uma Isoleucina para uma Metionina (Ile1011Met) e uma transição A/G na primeira base do códon 1016 modificando uma Valina por uma Isoleucina (Val1016Ile), como mutações que levam ao fenótipo kdr. Os genes associados a esse fenótipo kdr, se apresentam de forma recessiva, ou seja, só é possível detectar a resistência quando exista homozigose76. Desta forma, Martins77, perceberam, por estudos moleculares, que a frequência do alelo 1016 mutante em homozigose (Ile/Ile), era maior em indivíduos resistentes, contribuindo com a associação desta mutação com a resistência a piretróides em populações de Ae. Aegypti. 18 4 MATERIAL E MÉTODOS Esse estudo foi realizado a partir de imaturos de Ae. aegypti e Ae. albopictus obtidos entre novembro de 2013 a abril de 2014 na mesorregião Oeste do estado de Santa Catarina, que se divide em quatro microrregiões: Chapecó (com 30 municípios), Concórdia (com 7 municípios), Joaçaba (com 12 municípios) e São Miguel do Oeste (com 16 municípios). Os espécimes analisados foram obtidos a partir de ovitrampas mantidas e monitoradas pelas Secretarias de Saúde dos Municípios, de acordo com o manual de normas técnicas da Fundação Nacional da Saúde 48. Foram analisadas 349 espécimes dos Ae. aegypti e 114 de Ae. albopictus identificados pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE/SC) e as larvas ou pupas foram envidadas para o Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Unoesc (Joaçaba), para a determinação do genótipo de resistência (kdr). 4.1 OBTENÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO O DNA dos espécimes foi obtido utilizando Chelex® (Chelating Ion Exchange Resin), onde as amostras foram maceras em 100µL de água ultrapura estéril e 100µL de PBS 1X, seguidas de centrifugação a 20.000 x g por 2 minutos. Após descarte do sobrenadante o precipitado foi solubilizado com 100µl de PBS 1X e submetido a nova centrifugação igual a anterior. Em seguida o precipitado foi solubilizado em agitação por 5 segundos para liberar o pellet e com 75µL de água ultrapura estéril e 25µL da solução de Chelex 20%. Em seguida, foi feito um pequeno furo na superfície do tubo e as amostras foram incubadas por 10 minutos à 90ºC. Após este período, as amostras foram centrifugadas por 1 minuto a 20.000 x g e o sobrenadante (onde está o DNA) foi transferido para um novo tubo. 19 4.2 GENOTIPAGEM DOS POMILMORFIMOS VAL1016ILE POR PCR-AFLP A determinação dos genótipos Val1016Ile do gene kdr nos mosquitos foi baseado no protocolo descrito por Saavedra-Rodriguez16 e Martins et al. (2009b)77. Sumariamente, foram utilizados três iniciadores, um específico para o alelo selvagem (Val) (5’-GCG GGC AGG GCG GCG GGG GCG GGG CCA CAA ATT GTT TCC CAC CCG CAC CGG-3’), um específico para o alelo mutante (Ile) (5’-GCG GGC ACA ATT GTT TCC CAC CCG CAC TGA-3’), e o terceiro comum a ambos (Foward) (5’-GGA TGA ACC GAA ATT GGA CAA AAG C-3’). As reações de PCR foram realizadas em volume final de 20µl, 1,5mM de MgCl2, 1,0 mM de dNTP, 2,5U de Taq DNA Polimerase (Ludwig Biotecnologia), 1X tampão da Taq, 1,0 ρmol do iniciador Foward, 0,5 ρmol de cada um dos iniciadores Val e Ile e ~50ng DNA. As condições de temperatura foram desnaturação inicial a 95 °C por doze minutos, 39 ciclos de desnaturação a 95 °C por 20 segundos, anelamento a 60 °C por um minuto e extensão a 72 °C por 30 segundos; seguidos de extensão final a 72° C por cinco minutos e um incremento de 65° C para 95° C numa taxa de 0,3° C/s. Para verificação dos alelos amplificados, foi preparado um gel de poliacrilamida (PAGE) 12%, e Ladder de 25bp. A presença de banda única 98bp indica indivíduo homozigoto dominante susceptível (Val/Val); a presença de banda única 78bp indica indivíduo homozigoto recessivo mutante (Ile/Ile); e a presença de duas bandas indica indivíduo heterozigoto suscetível (Val/Ile) (Figura 4). Val/Ile Ile/Ile Val/Val 98 pb 78 pb Figura 4: Perfil representativo com três amplificações da região do sítio 1016 do gene kdr de larvas e pupas de Aedes aegypti da mesorregião do Oeste de Santa Catarina, Brasil, de acordo com Saavedra-Rodriguez et al. (2007). Val/Ile: Amostras heterozigotas (Aa) - 98 e 78 pb (pares de base); Ile/Ile; homozigota recessiva resistente (aa) 78 pb; e Val/Val; homozigota dominante selvagem (AA) 98 pb. Eletroforese em gel Poliacrilamida (PAGE) 12% e corado com brometo de Etídio. 20 4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA, FREQUÊNCIA GENOTÍPICA E EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG As frequências alélicas da mesorregião e das microrregiões foram calculadas através da soma de 2 x número de indivíduos com genótipo homozigoto + n° de indivíduos com genótipo heterozigoto dividido por 2n, onde n é o número total de indivíduos analisados. Já as frequências genotípicas foram determinadas com o número de indivíduos para cada genótipo dividido pelo número total de indivíduos. A comparação das frequências genotípicas e alélicas entre as microrregiões foram realizadas utilizando o teste de Pearson 𝜒2, com nível de significância p<0.005. Para calcular o esperado, a heterozigosidade observada, bem como o equilíbrio de Hardy-Weinberg, foi utilizado o software Arlequin 3.181. 21 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Dos 349 espécimes de Ae. aegypti avaliados, 154 (44%) larvas oriundas da microrregião de Chapecó, 129 (37%) de São Miguel do Oeste, 35 (10%) de Concórdia e 31 (9%) de Joaçaba (Figura 5). Também foram avaliadas 114 espécimes de Ae. albopictus, sendo 32 (28%) larvas oriundas da microrregião de Chapecó, 32 (28%) de São Miguel do Oeste, 25 (22%) de Concórdia e 25 (22%) de Joaçaba. A variação na quantidade de espécimes avaliados por microrregião pode ser explicada pela diferença no número de espécimes coletados em cada uma destas regiões no período do estudo, pois houve um número distinto de focos destes mosquitos observados entre as microrregiões até o período de abril de 2014, onde as microrregião de Chapecó e de São Miguel do Oeste apresentaram o maior número de focos destes mosquitos 82. Com relação as frequências genotípicas dos Ae. aegypti, dos 349 espécimes avaliados, 109 (31%) foram homozigotos para o alelo Val, 138 (40%) homozigotos para o alelo Ile e 102 (29%) heterozigotos Val/Ile (Figura 6). Ou seja, quase 40% dos indivíduos analisados apresentavam resistência a inseticidas piretróides por meio do kdr. Já com relação as frequências genotípicas dos Ae. albopictus, todos os espécimes avaliados apresentaram genótipo homozigotos Val, ou seja, 100% dos indivíduos apresentavam susceptibilidade a inseticidas do tipo piretróides, com base nestes polimorfimos. Este fato já foi observado em outros estudos, demonstrando que os mecanismos de resistência a estes inseticidas pode ser associado a outro alelo ou mecanismo 16. Como apenas os espécimes de Ae. aegypti apresentaram frequências genotípicas variadas, a partir deste momento apenas serão apresentados e discutidos os dados relativos aos polimorfismo do gene kdr desta espécie. 22 Figura 5: Mapa com o número de larvas analisadas na mesorregião do Oeste de Santa Catarina e em cada uma das quatro microrregiões. Considerando as microrregiões separadamente, observa-se uma frequência maior de genótipos homozigotos Ile/Ile nas microrregiões de Joaçaba e Concórdia (Figura 6). Figura 6: Frequências genotípicas do polimorfismo Val1016Ile do gene kdr na mesorregião Oeste de Santa Catarina e de cada microrregião. As diferenças observadas entre os 2 genótipos em cada microrregião são estatisticamente significativas (χ = 29,4; d.f= 6; p<0,0001). 23 O fenótipo resistente aos inseticidas somente é manifestado em homozigose recessiva (Ile/Ile) 16,76 e a manifestação e o aumento da frequência da mutação 1016Ile do gene kdr já foi reportada nas Américas83,84,85 e no Brasil77. Lima55 e Paiva86, observam a presença desta mutação (Ile) em amostras do Nordeste brasileiro, porém apenas em indivíduos heterozigotos. Contudo indivíduos homozigotos para o alelo mutante foram observados por Alvarez 85 na Venezuela. Já Batista20 observou em algumas cidades de São Paulo a frequência genotípica do homozigoto Ile de 78%. Considerando apenas a região Sul do Brasil, Piccoli 19, também observou em municípios do oeste do Paraná a presença de indivíduos homozigotos Ile/Ile. No Oeste de Santa Catarina, as frequências de mosquitos com genótipo resistente (Ile/Ile), foram similares aos resultados já encontrados em outras regiões do país. As frequências observadas dos alelos selvagens (Val) e mutantes (Ile) na mesorregião do Oeste de Santa Catarina foram de 0,455 e 0,545, respectivamente (Tabela 1). Considerando apenas as frequências do alelo mutante, foi observada que as microrregiões de Joaçaba e Concórdia apresentaram frequências mais elevadas, 0.825 e 0.685 respectivamente, quando comparadas com as demais microrregiões (p=0.0005). A frequência maior deste alelo pode ser decorrente da baixa quantidade no número de focos do mosquitos 18 e 20 nas microrregiões de Joaçaba e Concórdia, respectivamente21, contra 432 e 1613 nas microrregiões de São Miguel do Oeste e Chapecó, respectivamente, durante o período do estudo. Estudos realizados em outras regiões do Brasil, observaram frequências do alelo Ile variando entre 0,22 e 0,78 em populações naturais 87,19,55. Contudo, mesmo ocorrendo a elevada frequência do alelo Ile, as populações de Joaçaba e Concórdia ainda encontram-se em equilíbrio de Hardy-Weinberg (Tabela 1), o que sugere que nestas regiões pressões seletivas não estejam ocorrendo, mas reforça a necessidade de monitoramento destas populações quanto ao aumento de mosquitos resistentes a piretróides no caso de introdução de medidas de controle contra estes mosquitos. Diferentes amostras das populações provenientes de Joaçaba, Concórdia e São Miguel do Oeste e Chapecó não estão em Hardy-Weinberg (X2> 27; d.f. = 1; P <0,0001) (Tabela 1). 24 Tabela 1. Constituição Genótipica e estatística descritiva do gene Kdr de várias amostras de Santa Catarina. População São Miguel do Oeste Chapecó Concórdia Joaçaba Total Oeste N Val/Val Val/Ile Ile/Ile Val 129 154 35 31 349 45 60 03 01 109 33 44 16 09 102 51 50 16 21 138 0.475 0.535 0.315 0.175 0.455 Ile (Kdr) 0.525 0.465 0.685 0.825 0.545 X2 HardyWeinberg 30.63* 27.97* 0.13 0.00 59.07* HO HE 0.256 0.286 0.457 0.290 0.292 0.500 0.499 0.437 0.297 0.497 N: total número de mosquitos por amostra; He: heterozigosidade esperada; HO: heterozigosidade observadas; Val: frequência do alelo Val; Ile: frequência do 2 alelo Ile; * Χ Hardy-Weinberg com valores de P < 0,0001 25 O desvio ao equilíbrio de Hardy-Weinberg observado nessas duas populações pode ser explicado por um possível efeito fundador inicial, onde pequenas populações de Aedes aegypti oriundas de outros locais passaram a se estabelecer nessas regiões, trazendo o, alelo de resistência Ile. Esta hipótese é plausível, pois a região Oeste do Estado de Santa Catarina apresenta um alto fluxo de caminhões vindos das diferentes regiões do país, especialmente de regiões onde há um elevado número de focos deste mosquito como as regiões Sudeste e Centro-oeste, onde já foi comprovada a presença da mutação Ile87,88,89. Além disso, as regiões Sudeste e Centro-oeste do país tem influência direta na dispersão destes mosquitos entre diferentes regiões29,30. Por isso, a região Oeste catarinense é considerada uma região emergente para as arboviroses vinculadas pelo Aedes aegypti, sendo que nos últimos anos ocorreu um aumento significativo no número de focos desse vetor21. Este efeito fundador também foi observado para espécies como Anopheles gambiae90 e Aedes albopictus91. Mesmo com o custo evolutivo que a mutação Ile causa ao vetor 88, após o efeito fundador a frequência deste alelo pode ter aumentado nessas duas populações de tamanho muito reduzido i) primeiramente através dos efeitos da deriva gênica92,93,94,95 e ii) posteriormente por uma possível pressão seletiva, já que até meados de 2015 foram utilizados, em pontos estratégicos das cidades de Chapecó e São Miguel do Oeste, o inseticida Alfacipermetrina que é um composto do grupo dos piretróides (João Carlos Nascimento – Dive/SC, Comunicação pessoal), além dos inseticidas domésticos utilizados pela própria população, como os inseticidas de pastilhas e repelentes que utilizam piretróides na sua composição89. Ainda, nessas populações, os valores de HO (heterozigosidade observada) foram inferiores aos valores de HE (heterozigosidade esperada), o que indicam uma diminuição de heterozigotos e, consequentemente, alta endogamia, a qual tem como efeito genético principal, o aumento no número de homozigotos em detrimento à diminuição dos heterozigotos 96,97. Então, aliado a um efeito fundador inicial e a uma posterior pressão seletiva nessas duas populações, pode-se também relacionar o desvio ao HWE aos níveis relativamente altos de endogamia detectada pelo excesso de homozigotos nessas populações. 26 O fenômeno da resistência pode ser avaliado como um evento resultante de um processo evolutivo acelerado onde uma população responde a uma intensa pressão seletiva, com a consequente sobrevivência dos indivíduos que possuem os alelos que lhe caracterizam como resistentes. Neste contexto, os inseticidas químicos exercem pressões seletivas, e o seu uso continuado pode selecionar os indivíduos resistentes23. Estudos que expõe larvas em contato com inseticidas químicos, demostram que a pressão seletiva sob as larvas promove a seleção de indivíduos resistentes, elevando a frequência dos mosquitos resistentes após a exposição98,99,100. A identificação dessas mutações no campo comprometem a indicação do uso de piretróides no controle de mosquitos71,16. A frequência observada de indivíduos homozigotos Ile/Ile na região do Oeste Catarinense acende um alerta, pois a implementação de controles com os inseticidas sintéticos poderá aumentar a frequência deste alelo pela seleção de populações resistentes 23,89. Porém sabe-se que este genótipo Ile/Ile gera um custo no fitness destes indivíduos 89, e desta forma, na ausência de inseticidas o alelo selvagem rapidamente aumentaria a sua frequência101. Desse modo, é recomendável que se faça o acompanhamento continuado do fenômeno de resistência nessas populações 23,19,55,89 não só para a mutação Val1016Ile, mas também, para outras mutações relacionadas com a resistência às diferentes classes de inseticidas químicos. Com isto poderá ser possível a utilização de diferentes estratégias de controle do mosquito como uso de diferentes inseticidas23, uso de inseticidas biológicos como o BTI 56, uso de mosquitos modificados geneticamente 57ou o uso de mosquitos infectados com o endosimbionte Wolbachia102. 27 6 CONCLUSÕES Foi evidenciada que 40% dos espécimes de Ae. aegypti avaliados na mesorregião do oeste catarinense apresentam o genótipo homozigoto Ile que confere que, sabidamente, determina um fenótipo de resistência a inseticidas piretróides por meio do efeito kdr. Em contrapartida, das 114 espécimes de Ae. albopictus analisadas, todos apresentaram genótipo homozigotos Val evidenciando a susceptibilidade destes mosquitos para inseticidas do tipo piretróides, considerando apenas estes polimorfimos avaliados. As frequências observadas dos alelos selvagens (Val) e mutantes (Ile) na mesorregião do Oeste de Santa Catarina foram de 0,455 e 0,545, respectivamente, tendo nas microrregiões de Joaçaba e Concórdia as frequências mais elevadas do alelo Ile, 0.825 e 0.685 respectivamente, quando comparadas com as demais microrregiões. Contudo, mesmo com esta elevada frequência, as populações de mosquitos destas microrregiões encontram-se em equilíbrio de HW, diferentemente das populações das outras microrregiões, onde a presença de pressões seletivas podem ter contribuído para a perda do equilíbrio destas populações. Podemos observar então que fatos como efeito fundador, elevada endogamia na população e o uso de Alfacipermetrina em alguns municípios da região, podem ser os responsáveis pela perda do equilíbrio de HW nesta população de mosquitos da mesorregião do Oeste de Santa Catarina. Já foi comprovado que a mutação Ile está relacionada à resistência a inseticidas piretróides, e esta falta de equilíbrio genético populacional, enfatiza-se a necessidade do monitoramento contínuo destas populações quanto a resistência aos inseticidas utilizados no controle do Aedes aegypti e de métodos alternativos de controle que não utilizem inseticidas químicos para o controle deste vetor, desta forma, 28 minimizando a possiblidade de aumento na frequência e mosquitos resistentes aos piretróides. 29 7 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA INTERDISCIPLINARIEDADE A interdisciplinaridade é caracterizada pela integração de diferentes áreas do conhecimento em um mesmo contexto, em função das relações de interdependência, não sendo considerada apenas uma troca de informações103,104. A interdisciplinaridade, não está relacionada com a simples sobreposição de conhecimento e a anulação das especificidades, mas no reconhecimento das limitações e potencialidades de cada uma, para que haja uma disposição rumo a um objetivo coletivo 104. Em biociências e saúde, pode ser entendida como uma abordagem de diferentes situações, através da união de diferentes conhecimentos e práticas gerando uma ação comum que valoriza o conhecimento e atribuições de cada categoria de profissional 104 . Sendo assim, avaliar um fenômeno com uma visão interdisciplinar, permite que sejam desenvolvidas intervenções mais consististes, as quais envolvam aspectos biológicos, econômicos, sociais e culturais. Observa-se, nos últimos anos um aumento no número de focos do Ae. aegypti e de casos de Dengue na região Oeste de Santa Catarina, sul do Brasil, comprovando um interesse da área da saúde pública, em relação ao estabelecimento de epidemias de Dengue e outras doenças como, Zika e Chikungunya. Dessa forma, o monitoramento do surgimento de resistência das populações desses insetos aos inseticidas sintéticos por meio do fenômeno de “Knockdown resistance” (kdr) mostra-se muito relevante, pois a elevada ocorrência de homozigotos Ile/Ile, mosquito com potencial resistente à ação inseticida do tipo piretróide, leva aos agentes de saúde em pensar em diferentes estratégias para o controle deste mosquito, que não o uso deste composto. Neste sentido, o presente trabalho avaliou a frequência destes alelos nas populações de Ae. aegypti do Oeste de Santa Catarina, abrangendo dessa forma aspectos interdisciplinares, uma vez que abordou fatores moleculares que podem nortear ações de controle do vetor e prevenção de doenças que influenciam de forma direta a saúde pública. 30 REFERÊNCIAS 1. Marcondes CB, Ximenes MFFM. Zika virus in Brazil and the danger of infestation by Aedes (Stegomyia) mosquitoes. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2016; 49(1). 2. Honorio NA, Câmara DCP, Calvet GA, Brasil P. 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