Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP Relatório Preliminar da Vulnerabilidade Hídrica da Região Metropolitana de São Paulo Março/2008 1 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP Relatório Preliminar da Vulnerabilidade Hídrica da Região Metropolitana de São Paulo Índice: I – Introdução II – Do título Vulnerabilidade Hídrica III – Contexto Global IV – Contexto Hídrico Metropolitano V – Rios Voadores 1 – Vetor Noroeste 2 – Vetor Sudeste VI – Fragilização das Áreas de Produção de Água 1 – Diminuição da Produção Natural 2 – Diminuição da Capacidade de Armazenagem 3 - Poluição VII - Conclusões VIII – Considerações preliminares sobre ações e políticas públicas preventivas e corretivas IX – Avaliação da Vulnerabilidade Hídrica da RMSP X – Bibliografia 2 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP Relatório Preliminar da Vulnerabilidade Hídrica da Região Metropolitana de São Paulo I – Introdução O Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental – PROAM, que tem entre suas prioridades desenvolver pesquisas para estimular políticas públicas em prol da sustentabilidade, encaminha, ao Governo do Estado de São Paulo e ao Governo Federal, neste dia 22 de março de 2008, Dia Mundial da Água, o presente relatório preliminar intitulado Vulnerabilidade Hídrica da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. O relatório foi elaborado com a perspectiva de desenhar possíveis cenários que dimensionem a sustentabilidade ou insustentabilidade hídrica da Região Metropolitana de São Paulo, a partir de variáveis em escalas diversas, que permitam uma visão dialética das tendências e determinantes ambientais e antrópicos. Considera ainda o grau de acesso à informação e institucionalização para participação efetiva da sociedade no que se refere à gestão dos recursos hídricos e à proteção dos ecossistemas produtores de água. Esperamos que o presente relatório preliminar permita a reflexão sobre nosso momento histórico, absolutamente particular no que diz respeito aos aspectos inerentes à sustentabilidade. Ressalte-se que a perspectiva de que a água é um recurso finito, no imaginário da sociedade, tem idade de aproximadamente 15 anos, o que faz deste paradigma um estado de consciência que apenas debuta em nossa sociedade de origem colonial e secular. Entre conhecimento e ação há uma grande lacuna, e o salto para a mudança de comportamento social, em relação à temática da água, demandará algumas décadas. Este hiato é exatamente o problema, pois há elementos indicadores de que estamos às portas da crise da água. Dessa forma, este relatório preliminar pretende demonstrar que a sociedade deve capacitar-se para uma mudança necessária e urgente, visando garantir a sustentabilidade da metrópole de São Paulo. 3 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP II - Do título do relatório: a categoria vulnerabilidade, geralmente, é definida como uma situação em que estão presentes três elementos (ou componentes): exposição ao risco; incapacidade de reação; e dificuldade de adaptação diante da materialização do risco (MOSER, 1998). III – Contexto Global Considerando que: 1 – há evidência científica de um planeta mais quente, com previsão de maior consumo, evaporação de água e conseqüentemente maior escassez hídrica (IPCC, 2001). 2 - há um processo contínuo e exponencial de aumento populacional e de atividades humanas, concentradas em áreas metropolitanas e macro-metropolitanas, fator que aponta para cenários de riscos ambientais urbanos e de precariedade no abastecimento de água (PROAM, 2007). IV - Contexto Hídrico Metropolitano Note-se o estado de precariedade hídrica da região metropolitana, com modesta produção natural hídrica da Bacia do Rio Tietê, frente à concentração de população e intenso metabolismo urbano, com contínuo aumento de consumo. Ressalte-se ainda que o equacionamento deste processo ocorreu com importação de água da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, ao norte, sacrificando os recursos naturais de outra região. Dados gerais sobre produção hídrica e abastecimento: Produção hídrica para abastecimento na RMSP: 44m³/s, ao que se acrescenta uma importação de 31m³/s da Bacia do Piracicaba. Consumo atual de água na RMSP: 65m³/s, com déficit crescente de 2m³/s ao ano, tendência que hoje se acentua pelo crescimento econômico. 4 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP “Com 19,5 milhões de habitantes, os 39 municípios que compõem a área demandam para abastecimento público quase 70m³/s. Desse total, com base em conceitos de engenharia sanitária, que preconizam um coeficiente de retorno de 80%, é possível concluir que são gerados, na RMSP, cerca de 56m³/s de esgotos, e desse volume de rejeitos, 44m³/s são coletados, mas apenas 11m³/s são tratados. Ou seja, o restante segue “in natura” para os rios da região“ (Hespanhol, 2006). V - Rios Voadores São considerados Rios Voadores os elementos do ecossistema que propiciam transposição de água por via aérea. Para a RMSP, são importantes dois vetores de transposição aérea de umidade: 1 – Vetor Noroeste - Ecossistema Natural: a evaporação dos ventos alísios de baixa altitude (low jets) faz a transposição de umidade (evapotranspiração da floresta) da região amazônica para o sul, ricocheteando na Cordilheira dos Andes e, com o encontro das frentes frias do sul, ocorrem precipitações intensas e contínuas no centro-sul do continente, oeste central e sudeste do Brasil. Este ecossistema está ameaçado pelo processo de desmatamento da região Amazônica, responsável pela estabilidade e periodicidade de 40 a 50% da umidade para a formação de chuvas na Região Sudeste, na região do Pantanal e norte da Argentina (Marengo, 2007). Vetor Nordeste - Rios Voadores – CPTEC – INPE – 2007 5 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP Impactos Ambientais: desmatamento continuado da Amazônia fragiliza a transposição contínua de água, com um cenário futuro de precipitações fortes, seguidas de veranicos. Os danos ambientais previstos são inundações, enchentes e ressecamento dos aqüíferos por recarga ineficiente. Riscos ambientais: precariedade hídrica, estiagem prolongada, riscos à vida e aglomerados urbanos diante de precipitações intensas. 2 – Vetor Sudeste - Ecossistema Natural: a transposição de água do Atlântico Sul faz com que a evaporação do Oceano se condense com a temperatura mais fria da Serra do Mar e as precipitações ocorram nos campos naturais, no início do planalto, e nas regiões além da Serra da Cantareira (Moretti, 2008). Impactos Ambientais: Impermeabilização e formação de Ilhas de Calor na Metrópole fazem com que as chuvas sejam desviadas para as áreas urbanas mais quentes. Diminuição das precipitações regulares, tanto na metrópole como na região ao norte da Cantareira, já sacrificada com a importação de água para a manutenção da metrópole. Riscos ambientais: inundações e enchentes colocam em risco vidas humanas, com exposição a doenças de veiculação hídrica, com perda de bens materiais. Animação vídeo PROAM: Ciclo alterado da chuva e Ilhas de Calor na Metrópole 6 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP VI – Fragilização das áreas de produção de água 1 – Diminuição da produção natural – Há uma crescente perda de produção natural de água nos ecossistemas, decorrentes do desmatamento, uso irregular e predatório do solo, aterramento de nascentes e áreas de drenagem. Esta é uma realidade conhecida em todas as áreas dos mananciais metropolitanos. A cidade se expande e aterra os mananciais. 2 – Diminuição da capacidade de armazenagem – Os reservatórios para abastecimento da cidade, como Paiva Castro, Billings e Guarapiranga são continuamente vitimados por processos de assoreamento, que representam uma perda da capacidade de reservação de água. Como conseqüência, no período de estiagem, as reservas de água são menores, e conseqüentemente mais poluídas (Relatório Billings 2007). 3 – Poluição – a região metropolitana polui seus corpos de água com esgotos domésticos, industriais e com a carga difusa, que é a somatória de poluentes existentes na metrópole, que são lançados nos corpos d’água com as chuvas. Apenas 11% dos esgotos domésticos gerado são tratados, sendo lançado in natura em rios e represas (Hespanhol, 2006). VII – Conclusões Considerando-se os determinantes global, regionais e locais, pode-se projetar um cenário de quebra da sustentabilidade hídrica na região metropolitana de São Paulo em médio prazo, com as conseqüências previsíveis e conhecidas da escassez, como blackouts, custo elevado da água com reflexos na economia regional, necessidade de obras de infrainstrutura emergenciais para transposição de água de outras bacias hidrográficas, etc. 7 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP Ressalte-se o comprometimento do potencial hídrico das regiões vizinhas para o atendimento de suas próprias necessidades, o que levaria projetos de transposição a impasses com sérios entraves ambientais, políticos, sociais e econômicos. Existem dois elementos fundamentais neste processo, no que diz respeito à possibilidade de reação da sociedade frente ao cenário de vulnerabilidade: 1 – Necessidade urgente de entitlement, ou a consciência individual e coletiva do direito à segurança ambiental, como o direito da sociedade a um meio ambiente equilibrado; 2 - um conseqüente empoderamento representado em participação social-institucional, proporcionando um controle social sobre a crise da água. Esses elementos implicam em: a - recomendação de um processo de informação à sociedade, que permita um aumento da consciência pública sobre a crise da água e seus determinantes, estimulando a exigência social para responsabilização e ação do poder público, que assegure os direitos da população envolvida; b – avaliação da efetividade de empoderamento e controle social, com relação à institucionalização da participação social na gestão da água. É preciso avaliar a eficácia das instâncias de participação que deveriam contar com representatividade e isonomia para exercer a gestão integrada de recursos hídricos, com envolvimento de todos os atores sociais, como o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, Comitês e Subcomitês de Bacia Hidrográfica. 3 – É necessário avaliar ainda a capacidade da governança da RMSP, levando em consideração o contexto político-administrativo, cuja fragmentação dificulta, ou até mesmo impossibilita, ações integradas com visão mais ecossistêmica. VIII – Considerações Preliminares de ações e políticas públicas preventivas e corretivas: 1 – Política Global de combate às mudanças Climáticas; 2 – Política Nacional de Desenvolvimento que propicie a desconcentração de populações e atividades humanas; 3 – Política Internacional, Nacional e municipais integradas para manutenção dos ecossistemas naturais de produção de água e transposição de umidade; 8 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP 4 – Proteção das áreas de mananciais remanescentes e recomposição dos passivos ambientais; 5 – Proteção das áreas urbanas contra a formação das Ilhas de Calor; 6 – Tratamento preventivo e corretivo da poluição de origem doméstica, industrial e da carga difusa com políticas de controle e saneamento; política urbana sustentável de uso e ocupação do solo e educação ambiental; 7 – Políticas de manejo sustentável dos recursos hídricos, com otimização de uso e práticas de reuso de água. IX – Avaliação da Vulnerabilidade Hídrica da Região Metropolitana de São Paulo Elementos determinantes da vulnerabilidade Classificação de vulnerabilidade BAIXA MÉDIA ALTA 1 – Contexto Global X 2 – Concentração de Atividades X 3 – Produção Hídrica X Consumo X 4 - Ecossistemas de transposição de água X 5 - Formação de Ilhas de Calor (deslocamento de chuvas) X 6 - Diminuição da produção natural X 7 - Diminuição da capacidade de Armazenagem X 8 - Poluição X 9 - Consciência pública e exercício do direito à água X 10 – Empoderamento e Controle Social X 11 – Governança Metropolitana X 12 – Planos, Ações e Políticas Públicas para o setor X Classificação do nível de Vulnerabilidade Hídrica da RMSP – Vulnerabilidade ALTA 9 Relatório Preliminar – Vulnerabilidade Hídrica da RMSP X - Bibliografia IPCC, 2001 - Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC (AR-3), Acra (Gana), março 2001. Ivanildo Hespanhol, Revista H2O, Jan/Fev 2006. Marengo, José Antonio, A Floresta das Águas, PROAM 2006. Moretti, Ricardo – Depoimento no vídeo Vulnerabilidade Hídrica da Metrópole de São Paulo – Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental – PROAM, 2008. MOSER, C. The asset vulnerability framework: reassessing urban poverty reduction strategies. World Development, New York, v.26, n. 1, 1998. PROAM, 2007 – Termo de Referência para Metrópoles Saudáveis – Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental - PROAM, São Paulo, dezembro 2007. Relatório Billings 2007 – Campanha Billings, Eu te quero Viva! PROAM 2007. Vulnerabilidade Hídrica de São Paulo - vídeo-documentário, PROAM 2008. 10