Y luego la manteca pues si se pega, luego también sabe mal

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1
A Relevância Da Interação Forma E Significado
Na Representação Castelhana Do Objeto Direto Anafórico.
La Relevancia De La Interacción Forma Y Significado
En La Representación Castellana Del Objeto Directo Anafórico
Viviane C. A. Lima
(UGF, Colegio Pedro II, PG UFRJ, Brasil)
Resumen: Este trabajo, basado en los principios del funcionalismo norteamericano
(Heine, 2003; Hopper, 1987), es resultado del desarrollo del proyecto doctoral “La
representación anafórica del objeto directo: caminos y descaminos de la inestabilidad
pronominal en la enseñanza de E/LE” (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005).
Desde esta perspectiva teórica, comprendemos que la lengua es un ítem fundamental a
que los hablantes expresen su punto de vista sobre el mundo, lo ordenen e interactúen
con los demás. Es oportuno señalar que las marcas de su manera de ver el mundo están
presentes en la selección de formas de la lengua y son relevantes en la producción de
sentidos. De esta manera, esta ponencia tiene el propósito de mostrar la importancia de
las características semánticas de las entidades, bien como la relación entre forma y
significado (Company, 2004), en la selección de “le” o “lo” en la recuperación de los
sintagmas nominales en el discurso. Para hacerlo, examinamos 300 datos del área
castellana provenientes de entrevistas del COSER (Corpus Oral y Sonoro del Español
Rural, Fernández-Ordóñez, 2000). A título de ejemplificación, creemos que cuando se
dice ‘le crío’ se enseña una cercanía existente entre el hablante y el elemento a
retomarse, algo que no se evidencia en ‘lo crío’. Los resultados parciales de esta
investigación dan base a la hipótesis de que ‘le’ y ‘lo’ no son pronombres simplemente
intercambiables en contextos como ése, hay matices semántico-pragmáticos que
particularizan su elección.
PALABRAS-CLAVE: Español; área castellana; inestabilidad pronominal; funcionalismo norteamericano; extensión.
2
Resumo: Este trabalho, baseado nos princípios do funcionalismo norte-americano
(Heine, 2003; Hopper, 1987), é resultado do desenvolvimento do projeto de doutorado “
A representação anafórica do objeto direto: caminhos e descaminhos da instabilidade
pronominal no ensino de E/LE” (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005).
Apoiados nesta perspectiva teórica, compreendemos que a língua é um item
fundamental para que os falantes expressem seu ponto de vista dos falantes sobre o
mundo, o ordenem e interajam com os demais. Convém frisar que as marcas de sua
maneira de ver o mundo estão presentes na seleção de formas da língua e são relevantes
na produção de sentidos. Desta maneira, esta apresentação tem o propósito de mostrar a
importância das características semânticas das entidades, bem como a relação entre
forma e significado (Company, 2004), na seleção de “le” ou “lo” na recuperação de
sintagmas nominais no discurso. Para fazê-lo examinamos 300 dados da área castellana
provenientes de entrevistas do COSER (Corpus Oral y Sonoro del Español Rural,
Fernández-Ordóñez, 2000). A título de exemplificação, cremos que quando se diz ‘le
crío’ se põe em destaque a proximidade existente entre o falante e o elemento a ser
retomado, algo que não se evidencia em ‘lo crío’. Os resultados parciais desta pesquisa
dão fé à hipótese de que ‘le’ e ‘lo’ não são pronomes intercambiáveis em contextos
como esse, há especificidades semântico-pragmáticas que particularizam sua seleção.
PALAVRAS-CHAVE: Espanhol; instabilidade pronominal; funcionalismo norteamericano; extensão.
1. INTRODUÇÃO
O estudo dos clíticos de 3ª pessoa é um tema que, embora tenha sido bastante
recorrente nas pesquisas acadêmicas, ainda oferece debates e reflexões relevantes à
lingüística hispânica. Quanto à origem, do acusativo ILLUM, ILLAM, ILLUD provêm
os átonos ‘lo’ (masculino), ‘la’ (feminino), ‘lo’ (neutro) e do dativo ILLI a forma ‘le’.
Assim, clíticos acusativos deveriam recuperar os objetos diretos e o clítico dativo seria
responsável por retomar o objeto indireto na língua espanhola.
3
Contudo, diferentes usos como o leísmo, legitimado no discurso de falantes de
muitas áreas geoletais1 da língua espanhola, concorre com o padrão prestigiado pelas
gramáticas normativas. Caracteriza-se o leísmo quando o pronome átono ‘le’ retoma
objetos diretos masculinos ou femininos no lugar de ‘lo’.
De acordo com a abordagem funcionalista2, a gramática de uma língua se adapta
as necessidades de seus usuários e reflete essas adaptações. Desta maneira, as mudanças
no plano morfológico e sintático ocorrem por pressões do uso, ou seja, por fixação de
mecanismos discursivos utilizados na construção de enunciados. Por esse motivo,
devemos entender que o significado não se limita à sentença, mas se estabelece nas
práticas discursivas e é partilhado no ato da interação verbal.
Em outras palavras, os falantes selecionam os constituintes e os ordenam sob a
orientação do uso da língua. Além do suporte semântico que vem à tona quando
emergem as estruturas, existe uma força pragmática direciona escolhas e maneiras de
organizar os enunciados. Portanto, convém advertir que o leísmo não é um recurso
usado aleatoriamente, nos contextos de interação nenhuma forma é inerte ou plenamente
intercambiável.
Baseando-nos em dados do COSER (Corpus Oral y Sonoro del Español Rural)3,
faremos uma leitura dos usos de ‘lo’ e ‘le’ referentes à área castelhana, especialmente
de Valladolid, à luz do funcionalismo norte-americano. Objetivamos elucidar algumas
questões concernentes à natureza da categoria, traçar algumas considerações diacrônicas
sobre o leísmo, fazer uma revisão crítica de alguns estudos realizados sobre este tema,
apresentar o entendimento do fenômeno segundo a teoria da gramaticalização e oferecer
alguns resultados parciais e qualitativos de nossa investigação.
1. DESCRIÇÃO DA CATEGORIA
Definimos os pronomes átonos de 3ª pessoa como formas dependentes, de
função referencial e adverbial. São formas dependentes por não constituírem sozinhas
um enunciado. No que tange à sua característica referencial, ressalta Benveniste (1995)
1
As áreas geoletais, segundo Moreno Fernández (2000), conformam os usos lingüísticos das cidades e
territórios mais influentes da América e da Espanha. São oito: área caribenha, mexicana e centroamericana, andina, rioplatense e do Chaco, chilena, castelhana, andaluza e canária.
2
Tais considerações partem dos pressupostos do funcionalismo norte-americano: Givón (1995), Heine
(2003); Hopper (1987), Martelotta (2003).
3
Fernández-Ordóñez (2000).
4
que a propriedade mais relevante do item anafórico não é a ausência de significado, mas
o fato de se referir a uma informação que só tem validade em um contexto específico.
A anaforicidade está intrinsecamente vinculada ao controle do falante com
relação ao que já foi apresentado no discurso, por isso é deveras importante na produção
de sentidos do texto.
Na busca pela construção dos sentidos do texto, vários fatores entram em jogo (
desde conhecimentos lingüísticos estritos ao conhecimento de mundo do
interlocutor ). Um fator coesivo que auxilia o interlocutor na compreensão do
texto diz respeito à ligação, “mostração” ou “sinalização” entre a informação
nova e dada. Esse processo é o da anáfora – aqui entendida segundo uma
perspectiva semântico-discursiva (...).4
Se examinarmos o seguinte exemplo: “... porque los jamones como tienen tanta
masa pues...E: ¿Hay que esperar más tiempo? I2: Bueno, yo LES tengo de dos años”5,
observamos que ‘LES’ não tem um conceito6, mas é uma forma que nos leva a outra
dotada de conceito, algo que destoa um pouco dos princípios estruturalistas referentes à
constituição do signo lingüístico.
O uso de ‘LES’, no exemplo supracitado, evita a repetição desnecessária do
sintagma nominal a que se refere e aciona a capacidade do ouvinte de resgatar o item
mencionado sem que haja esforço de compreensão. Tanto o antecedente ( los jamones )
como a âncora textual (les) estão assinalados com um índice referencial responsável por
mostrar que os dois elementos concernem à mesma entidade discursiva.
É importante acrescentar a estas considerações os conceitos de Benveniste
(1995) com relação à terceira pessoa. A 3ª pessoa refere-se ao código, não à mensagem
como as 1ª e 2ª pessoas, além disso, funciona como símbolo de referentes que não
necessariamente estão presentes. Nesta linha de raciocínio, Benveniste (op.cit.) concebe
a 3ª pessoa como ‘não-pessoa’, pertencente ao enunciado e caracterizada por ser
substituta de alguns seus elementos constituintes, por isso é de suma relevância no
escopo da enunciação.
Afirmamos anteriormente que os pronomes aos quais fazemos menção possuem
uma propriedade adverbial7. Então, podemos asseverar que constroem com o verbo uma
unidade acentual, tanto em posição enclítica como proclítica. Diferentemente dos
Haag & Othero (2003)
COSER (2000).
6
Relembrando conceito e imagem acústica, termos utilizados por Saussure (1916).
7
Função citada em Azeredo (2000) e em Franch & Blecua (1998).
4
5
5
clíticos latinos, os clíticos romances de hoje possuem a propriedade de vincular-se
somente aos verbos e em posições determinadas. Quando se trata de gerúndio, infinitivo
e imperativo, por exemplo, emprega-se a ênclise.
Houve, portanto, uma mudança na natureza da cliticização que transformou
elementos livres ou semi-livres em categorias afixais. Um caso típico de
gramaticalização, já que os referidos pronomes átonos avançaram a um nível mais
gramatical.
Consiste no aumento da atuação do morfema, que avança de um status lexical
para um status gramatical, ou de um estado menos gramatical para um status
mais gramatical (...)8
Esta mudança pode ter ocorrido por nuances do ritmo, ou por questões de
distribuição da informação, ou até mesmo por conta de uma especificidade sintática: a
busca pela criação de uma posição fixa para os clíticos na oração (Soriano,1993). Se nos
basearmos na última ponderação, tal procedimento possibilitou a reorganização da
oração em termos de seu ponto de vista prosódico, algo que permitiu a adjunção entre
clíticos e verbos.
Os clíticos átonos de 3ª pessoa – variante peninsular - se relacionam a formas
claramente recuperáveis no discurso e funcionam como afixos frasais ou sintagmáticos.
Entre eles e o verbo não se admite nenhuma outra palavra a não ser outro clítico,
propriedade que reforça seu caráter afixal.
Outros itens tangentes ao aspecto formal dos pronomes em questão também
merecem ser observados. Embora todas as pró-formas átonas de 3ª pessoa possam variar
em número ( le (s), la (s), lo (s) ), a forma ‘le’ é menos marcada em termos de gênero e
caso, pois pode funcionar como âncora de entidades masculinas ou femininas. Esta
particularidade facilitou sua extensão a contextos acusativos.
Se nos apoiamos nas considerações de Company (2002), o falante constrói seu
ponto de vista a partir da língua para ordenar e agir no mundo. Desta forma, a seleção
de ‘le’, ‘la’ ou ‘lo’ é indubitavelmente influenciada pelos papéis que assume dentro de
uma comunidade de fala e pelas necessidades da expressão de sentidos advindas das
situações comunicativas nas quais se insere.
2. CONSIDERAÇÕES DIACRÔNICAS
8
Votre (2004).
6
No castelhano medieval - período que compreende os séculos XIII, XIV e XV -,
o neutro e o caso, categorias perdidas no paradigma nominal, se mantiveram no sistema
pronominal (Aguilar 2002:135). Nesta fase, houve uma preocupação em distinguir a
referência a entidades acusativas e dativas, desta maneira, as entidades acusativas
masculinas e neutras eram retomadas pelo átono ‘lo’ e as femininas pelo átono ‘la’. As
entidades dativas eram recuperadas por ‘le’ ou por ‘se’ na seqüência dativo+acusativo.9
É importante ressaltar que, em termos de hierarquia estrutural, no século XIII,
poucos são os dados de reduplicação pronominal de 1ª e 2ª pessoas, contudo a
reduplicação de objetos diretos ou indiretos era muito mais freqüente, seja quando o
complemento aparecia em primeira posição, seja para efeitos de ênfase. Ainda
referindo-nos a questões hierárquicas, convém lembrar que os clíticos, nesta época, se
apoiavam em algum elemento anterior que nem sempre era um verbo, poderia ser um
advérbio, um pronome sujeito ou outros elementos.
No início do século XIII, registram-se dados nos quais a forma ‘le’ retoma
sintagmas em função de objeto direto, fenômeno que intitulamos leísmo10. Os contextos
mais favoráveis à sua realização eram enunciados cujo objeto levava um predicativo ou
quando ‘le’ era sujeito de um infinitivo subordinado, conforme observamos nos dados
abaixo:
“(…) Sant bernaldo cuenta sobreste logar en la glosa; que esta estoria de ester;
que en tiempo deste Rey contescio sin toda dubda. & que el Rey ouo nombre
assuero. Pero dizen que non saben quien se fue assuero. Mas por este nombre le
llama sant bernaldo en la glosa.”11
“(…) numqua los llamaua caualleros ni uassallos mas mansa mientre amigos &
companneros. & trayelos toda uia bien guisados & mucho apuestos. & fazieles
traer a todos muy ricas armas todas cubiertas de oro & de plata” 12
O traço [+humano] era quase uma regra para a realização do leísmo, além disso
era muito escasso o leísmo em referência a entidades femininas, já que a intenção
primeira era desfazer a homonímia entre masculino e o neutro. Com a possível
legitimação desse uso por parte dos falantes, ‘lo’ se restringiria ao gênero neutro, já que
De acordo com os estudos de Aguilar (2002:136), esta forma ‘se’ surgiu de um som palatal no dativo
‘ge’ cuja forma primitiva era *(e)li elo.
10
Lapesa (1993:314) afirma que desde El Cantar de Mío Cid e outros textos arcaicos há quantidade
significativa de le como dativo ampliado e “incipiente invasor” dos contextos acusativos.
11
Alfonso X. General Estoria. Cuarta parte. (1280). REAL ACADEMIA ESPAÑOLA: Banco de datos
(CORDE) [en línea]. Corpus diacrónico del español. http://www.rae.es.
12
Alfonso X. Estoria de Espanna que fizo el muy noble rey don Alfonso. (1270). REAL ACADEMIA
ESPAÑOLA: Banco de datos (CORDE) [en línea]. Corpus diacrónico del español. http://www.rae.es.
9
7
o uso de ‘le’ nas retomadas de acusativos não-humanos, embora bem menos estendido,
também se dava.
Devido à necessidade de produzir textos legais, ao aumento da população por
causa das reconquistas de territórios e tendo em vista a evolução de Castilha em termos
políticos e sócio-econômicos, o romance começa a ser usado amplamente (Aguilar
2002:194). O leísmo, referente a nomes masculinos e mais freqüente no singular, é
praticamente exclusivo nos séculos XIV e XV. A pressão pela distinção genérica
conduz ‘le’ à retomada de acusativos inanimados.
No que concerne a questões de ordem dos átonos de 3ª pessoa nos enunciados, a
Gramática de La Lengua Castellana (1492)13 nos oferece uma quantidade significativa
de exemplos que mostram a inexistência de uma posição fixa para os pronomes no final
do século XV.
“(...) et entonces hazemos le injuria” 14
“(...) et por que este género de nombres aún no tiene nombre, osemos
le nombrar aumentativo”
“(…) el dios delos dioses. et entonces assi le damos articulo”
“(…) Mas como dios sea comun nombre: quitamos le el articulo cuando se pone
por el verdadero que es”
Visto como uma das línguas do mundo moderno, o espanhol encontra no período
clássico (séculos XVI a XVII) sua consolidação como língua de relevância
incontestável. Passa, então, a ser objeto de estudo, foi contemplada com uma gramática
que expunha suas especificidades15, com gramáticas de ensino a estrangeiros, com
numerosas traduções e dicionários à luz da Idade de Ouro.
O século XVII conforma o auge do leísmo pessoal e não pessoal (estendido a
qualquer entidade masculina) e dá lugar a uma posição fixa para os clíticos, restringindo
a ênclise às formas no gerúndio, infinitivo, imperativo e particípio16. Essa mudança no
que tange à questão do comportamento dos clíticos na hierarquia estrutural é bastante
relevante à compreensão dos fenômenos de cliticização.
Na fase moderna do espanhol – compreendida entre os séculos XVIII e XX – a
tensão entre a unidade e a diversidade do espanhol começa a ser tratada com um mais de
13
Nebrija, Antonio de. Gramática de La Lengua Castellana (1492). REAL ACADEMIA ESPAÑOLA:
Banco de datos (CORDE) [en línea]. Corpus diacrónico del español. http://www.rae.es. Não lançamos
mão do número de páginas, pois trata-se de uma edição eletrônica.
14
Nebrija, Antonio de. Gramática de La Lengua Castellana (1492). REAL ACADEMIA ESPAÑOLA:
Banco de datos (CORDE) [en línea]. Corpus diacrónico del español. http://www.rae.es. Não lançamos
mão do número de páginas, pois trata-se de uma edição eletrônica.
15
Idem.
16
Uso menos expressivo.
8
preocupação, pois a língua, companheira do império, não poderia fragmentar-se. A
fundação da Real Academia Espanhola em 1713 tem uma função reintegradora, uma
tarefa de caráter normativo e de unificação do idioma. Entretanto, ha continuado sin
resolver el empleo de los pronombres afijos de 3ª persona.17
Segundo Franch e Blecua (1998), há um rechaço ao leísmo no século XIX e no
século XX somente valisoletanos e madrilenhos se valem do leísmo referente a objetos.
Atualmente, as gramáticas normativas da língua espanhola aceitam o leísmo de pessoa
(tangente a sintagmas masculinos no singular), e apontam o leísmo feminino e o de
coisa como usos totalmente desprestigiados.
3.
O USO DE
‘LE’
EM CONTEXTOS ACUSATIVOS: EM BUSCA DA COMPREENSÃO DO
FENÔMENO
Os estudos de Cuervo (1895) são de suma importância à compreensão do leísmo
e se apresentam como um dos pontos de partida para seu entendimento. Cuervo (op.cit.)
ressaltou que houve uma tendência à eliminação do caso em favor da distinção do
gênero; nesta linha de raciocínio, ‘le’ se restringiria ao masculino, ‘lo’ ao neutro e, por
analogia, ‘la’ ao feminino, o que permitiria a criação de um sistema flexional unicasual.
A eliminação casual em favor da distinção genérica não conseguiu dar conta das
ocorrências de leísmo feminino e plural. Além disso, a forma ‘le’ não passou a recuperar
todo tipo de complemento direto; o clítico ‘lo’ não se restringiu ao neutro e nem ‘la’ e
‘lo’ imperaram como clíticos dativos. Além dessa hipótese, Fernández Ramírez (1951)
frisou que a escolha entre ‘le’ e ‘lo’ poderia ter uma motivação de caráter semântico.
Desde este prisma, o uso de ‘le’ estaria intrinsecamente vinculado ao traço [+animado].
Uma das hipóteses que também poderia explicar a extensão de ‘le’ a contextos
acusativos é o fenômeno da apócope. No pronome apocopado ‘-l’, forma que
freqüentemente se fazia presente em textos medievais, se conformariam o acusativo ‘lo’
e o dativo ‘le’, como em: “nol diessen posada”, “ quisol besar las manos. Neste
sentido, a apócope teria favorecido a confusão entre o dativo e o acusativo. Assim, ‘-l ’
seria substituído por ‘le’.
Indubitavelmente, a forma ‘le’ ganhou terreno, mas a distinção entre dativo e
acusativo não se desfez. Lapesa (1993) insistiu que as informações lexicais e
17
Aguilar (2002:261)
9
argumentais dos verbos influenciaram mais do que a apócope nas ocorrências dos usos
desprestigiados18 do sistema pronominal castelhano.
Fernández-Ordóñez (1993) reconhece a validade dos estudos de Cuervo, Lapesa
e Fernández-Ramírez (op.cit.), porém aponta lacunas. Embora tenham reconhecido a
conexão entre o leísmo, o laísmo19 e o loísmo20, não ofereceram explicações que dessem
conta da mesma e deixaram de analisar a variação pronominal com base em referências
diatópicas.
A grande pertinência dos estudos de Fernández-Ordóñez (op.cit.) está no
tratamento que dá às especificidades de caráter diatópico. Ao analisar dados de pontos
diferentes da Espanha, observa que um fator que pode ser decisivo para as ocorrências
de leísmo em uma região, pode não ser em outra.
De acordo com suas pesquisas, na área de contato entre o espanhol e o vasco, é
quase categórico o leísmo masculino e feminino em referência a entidades animadas.
Por outro lado, se o referente for descontínuo e individuado em Valladolid, no leste de
Salamanca, em Ávila, na Cantábria, no norte e no centro de Segóvia, no oeste de Madri
e de Toledo, por exemplo, configura-se um contexto propício ao leísmo masculino.
Fernández-Ordóñez (1993) constata que a seleção pronominal pode orientar-se
pelo fato de a entidade ser contínua ou não, pelo nível de animacidade ou de
individuação da entidade. Além disso, permite-nos entender que tais diretrizes podem
ser mais ou menos relevantes dependendo da comunidade de fala que as toma como
parâmetro, isto é, dependendo do escopo diatópico em que são recorrentes. Desta forma,
não concebe a seleção pronominal como arbitrária ou livre, corrobora que, em alguns
casos, implica mudança ou precisão na produção de sentidos e, certamente, assinala
diferenças sociológicas entre os falantes.
Company (2002), apoiando-se nos princípios do funcionalismo norte-americano,
comparou dados do leísmo do espanhol mexicano e do espanhol castelhano21. Verificou
que o leísmo castelhano é direcionado pelas características da entidade e que o
mexicano é influenciado pelo valor que o indivíduo lhe atribui, pela relação entre o
18
Usos não-etimológicos: leísmo, laísmo e loísmo.
Uso do átono acusativo ‘la’ em contextos dativos.
20
Uso do átono acusativo ‘lo’ em contextos dativos.
21
Dados provenientes, respectivamente, dos Documentos Lingüísticos de la Nueva España e dos textos
de Moratín, todos do século XVIII.
19
10
indivíduo e a entidade. Evidenciou também que a rotinização de “le” em contextos
acusativos adquiriu valores diferentes em distintas áreas geoletais.
Estamos referindo-nos, portanto, a pautas diferentes de gramaticalização. A
gramaticalização é um processo dinâmico constante, que não se interrompe, um
processo de criação de gramática (Hopper 1987). Este processo evidencia que as
pressões do uso e a maneira como os falantes vêem o mundo causam modificações na
língua, por essência mutável e em constantes ajustes condicionados pelas necessidades
comunicativas de seus usuários.
Em um significativo movimento de extensão, cremos que ‘le’ que retomava
apenas itens em função dativa, passou a dividir com ‘lo’ e, de forma menos estendida
com ‘la’22, a referência a sintagmas acusativos humanos e, posteriormente, a sintagmas
não-humanos. Porém, não estamos dizendo que estes átonos são intercambiáveis, já que
entendemos que a análise da variação deve ser feita dentro de uma perspectiva
semântico-pragmática. Acreditamos que a escolha de ‘le’ ou de ‘lo’ registrará
peculiaridades da relação entre o falante e a entidade no contexto da produção
discursiva.
4. BREVE INVESTIGAÇÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o intuito de entender melhor a extensão de ‘le’ a contextos acusativos,
decidimos lançar mão de um corpus oral para realizar esta investigação. Examinamos os
dados de recuperação de complementos verbais em função de objeto direto coletados de
entrevistas feitas com informantes vallisoletanos23. Achamos pertinente o uso do
COSER24, principalmente porque registra dados da língua em uso e pouco controlada
pela norma culta.
Realizando
uma
análise
qualitativa,
verificamos
que
‘le’
recuperou
equilibradamente antecedentes animados não-humanos e inanimados. Quanto mais
afetado era o objeto, menor era a tendência de ser recuperado por ‘lo’. Aliado a este
resultado, está o expressivo uso de ‘le’ no resgate de complementos acusativos
contáveis (descontínuos).
Devido a força de ‘la’ na oposição genérica.
Corpus Oral y Sonoro del Español Rural. Fernández-Ordóñez:2000.
24
Idem.
22
23
11
Dos dados observados, nenhum antecedente feminino singular em função de
acusativo foi retomado por ‘le’, por outro lado, 70% dos antecedentes masculinos no
plural foram resgatados por ‘les’. Este resultado nos leva a crer que a individuação não é
condição necessária para a realização do leísmo neste escopo diatópico e que a
resistência ao feminino ainda é deveras significativa. Além disso, convém destacar o
uso constante da partícula ‘lo’ retomando entidades femininas e incontáveis. Vejamos
alguns exemplos:
“ No, no, porque LO cogían, por ejemplo en mayo y junio y luego hasta
septiembre. (cebada)”
De, mira, pues yo LO masé ayer por la tarde hasta mañana no, un día. ( la
carne)
“Y luego la manteca pues si se pega, luego también sabe mal, ¿sabes?... y,
mira, ¿ves?, y luego LO voy echando en este puchero.( la manteca)”
Sintetizando nossos resultados parciais, no que tange à área castelhana,
especificamente à variante vallisoletana do espanhol rural, pudemos observar que: (1) a
individuação não é decisiva nas ocorrências de leísmo; (2) ‘lo’ está codificando, de
forma expressiva, entidades incontáveis femininas; (3) a afetação do objeto e a
animacidade são fatores que propiciam o uso de ‘le’ em contextos acusativos.
Nesta linha de raciocínio, as variações sintáticas expressam diferenças
semântico-pragmáticas. Um falante que diz “¡Claro!, sí. Cuando terminas de quitar la
sal y el pimiento, bueno, la sal, pues LE untas con pimiento y vinagre, pimiento picante
y...”, com referência a um ‘toicinho’, deixa claro o grau de afetamento da entidade a que
se refere, pois nela interfere de forma significativa. O uso de ‘lo’ neste contexto,
marcaria uma distância entre o enunciador e o elemento a ser retomado no discurso.
Neste caso, quanto mais ativo for o sujeito com relação ao complemento, maiores são as
chances deste ser codificado em ‘le’, se nos apoiamos nos dados apresentados nesta
investigação.
Por fim, queremos ressaltar que questões de diatopicidade são realmente
relevantes no entendimento do leísmo, mas compreender que a seleção pronominal está
direcionada pela maneira como o falante concebe o mundo e assegurar que tal fato
marca diferenças de uso sintático dialetal é realmente um avanço. Sair do nível de
investigação da mera análise de sentenças para o nível de entendimento de uma
12
gramática dinâmica, que se ajusta às necessidades comunicativas dos indivíduos é
realmente de grande valia para o amadurecimento dos estudos sobre as línguas.
6. REFERÊNCIAS
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reproduce
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www.cervantescentrovirtual.com
Joaquín
Ibarra,
1771.
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