Obesidade e RPA. O que muda? Dr. Carlos Eduardo L. Nunes TSA/SBA RPA Problemas mais frequentes: •NVPO •Hipóxia •Hipotermia e “shivering” •Instabilidade cardiovascular Dorre Nicholau: The Postanesthesia Care Unit in Miller’s Anesthesia, 7th Ed, Chap. 85, 2707 RPA NVPO e cirurgia bariátrica Náuseas: comuns na primeira hora Vômitos: raros RPA Problemas mais frequentes: Hipotermia e “shivering” Instabilidade cardiovascular Relevância na RPA: idêntica à de não obesos RPA e Obesidade Problemas: NVPO Hipotermia e “shivering” Instabilidade cardiovascular Não há diferença na abordagem em obesos RPA e Obesidade Hipóxia Apnéia Obstrutiva do Sono (AOS) Alta incidência em obesos faz diferença na abordagem pos-anestésica imediata. Apnéia Obstrutiva do Sono Terminologia Apnéia Redução completa do fluxo aéreo por 10 segundos, no mínimo. Hipopnéia Redução do fluxo (>50%), por 10 segundos no mínimo, associada a queda da saturação de oxigênio (>4%). Índice Apnéia/Hipopnéia Número total de episódios de apnéia e hipopnéia, dividido pelo número de horas de sono. (IAH) Apnéia Obstrutiva do Sono Diagnóstico IAH de até 5 Normal eventos por hora IAH entre 5 e 15 eventos por hora Alteração leve IAH entre 15 e 30 eventos por hora Alteração moderada Acima de 30 Doença grave eventos por hora Apnéia Obstrutiva do Sono Fisiopatologia Apnéia Obstrutiva do Sono Fisiopatologia Apnéia Obstrutiva do Sono Fisiopatologia Apnéia Obstrutiva do Sono Manejo pós-anestésico Ventilação não invasiva (CPAP, BiPAP) X Máscara de Hudson simples Apnéia Obstrutiva do Sono Manejo pós-anestésico Ventilação não invasiva (CPAP, BiPAP) Pressão sobre anastomoses X X Máscara de Hudson simples Fisiopatologia da síndrome Apnéia Obstrutiva do Sono Manejo pós-anestésico Exemplos de controvérsias... “CPAP melhorou a oxigenação do sangue, quando comparado a cateter nasal” Gaszynski T, Tokarz A, Piotrowski D - Obes Surg, 2007; 17(4): 452-6 “CPAP e BiPAP podem ser omitidos com segurança no pós-operatório” Jensen C, Tejirian T, Lewis C, et al - Surg Obes Relat Dis, 2008; 4(4): 512-4 “Comparado com a máscara Venturi, o CPAP melhora a relação PaO 2/FiO2 no pós-operatório. A variação percentual do FEV1 e da CVF é semelhante nos dois grupos” Wong DT – Can J Anaesth, 2011;58(6): 532-9 “Não há aumento significativo no risco de NVPO com o uso de CPAP posoperatório” Meng L – Obes Surg, 2010; 20(7): 876-80 Apnéia Obstrutiva do Sono Manejo pós-anestésico Sem controvérsias… Cânula nasofaríngea Apnéia Obstrutiva do Sono Manejo pós-anestésico N.T.O. (1832 casos) •Cânula nasofaríngea ao despertar: todos os que têm AOS clínica ou documentada por polissonografia e todos que obstruíram na indução; • Máscara de Hudson (princípio Venturi): 1815 casos; •CPAP: 1 caso (solicitação do paciente); •Episódios de hipoxemia clinicamente significantes e comprovadamente devidos à AOS: nenhum caso; •Incidência de fístula gástrica: 1 caso. RPA Problemas mais frequentes: •NVPO •Hipóxia •Hipotermia e “shivering” •Instabilidade cardiovascular Dorre Nicholau: The Postanesthesia Care Unit in Miller’s Anesthesia, 7th Ed, Chap. 85, 2707 RPA O que muda? •NVPO •Prevenção da hipóxia associada à AOS •Hipotermia e “shivering” •Instabilidade cardiovascular RPA O que muda? •NVPO •Prevenção da hipóxia associada à AOS •Hipotermia e “shivering” •Instabilidade cardiovascular •Diagnóstico e tratamento precoce da rabdomiólise CASO CLÍNICO Paciente de 64 anos, gênero masculino, com história de transplante hepático prévio por cirrose hepática pós hepatite crônica por vírus B. Portador, inicialmente, de obesidade classe 1 (IMC = 32,8 kg/m 2), evoluiu com ganho progressivo de peso após o transplante hepático, tanto por transgessões dietéticas, como pelo uso de corticosteróides como parte da terapia imunossupressora. No terceiro ano pós-transplante, atingiu o IMC de 54,6 kg/m 2, associado a hipertensão arterial, diabetes e grave esteatose hepática, que colocava em risco a viabilidade do fígado transplantado, tendo sido indicada a cirurgia bariátrica. CASO CLÍNICO Avaliação pré-anestésica – dados significativos: • Portador de apnéia obstrutiva do sono de grau moderado; • Uso de insulina, metformina, sinvastatina, losartana e hidroclorotiazida; • Uso de terapia imunossupressora específica e sem corticóide há aproximadamente 1 ano; • Mallampati 3; distância inter-incisivos e mobilidade cervical satisfatórias; • Glicemia pré-indução = 230; uréia = 34; creatinina = 0,8 • Sódio = 141; potássio = 3,9; cálcio = 9,1 • Triglicerídeos = 206; TGO = 44; TGP = 56 • Hemograma normal CASO CLÍNICO Anestesia – resumo: • Geral, balanceada. Indução com propofol – 180 mg, fentanil – 300mcg, sevo, rocurônio – 5mg; Sch – 180mg para IOT; manutenção com sevo, N2O, clonidina e doses adicionais de fentanil, totalizando 500mcg; relaxamento muscular com rocurônio; • Analgesia com cetorolaco, dipirona e morfina sub-cutânea 40 min antes do término • Profilaxia de NVPO com dexamtetasona – 10mg 3 ondansetrona – 8mg; • Reversão do BNM com neostigmine – 2,5mg e atropina – 0,75mg. CASO CLÍNICO Anestesia – resumo: • Extubação na S.O. ,após reversão do BNM: paciente acordado , respondendo coerentemente às solicitações, relatando sensação de “mal estar” mal definido, mantendo volume corrente satisfatório e com SpO2 de 97% em máscara de Hudson com fluxo de O2 de 4l/min. • Duração total do procedimento: 2h55min. • Transferido à unidade semi-intensiva (USI), como medida de rotina da equipe CASO CLÍNICO Pós-anestésico imediato - resumo: • Ao chegar à USI, encontrava-se mais desperto e queixava-se de agravamento da sensação de “mal estar”. Relatou também dificuldade ao mover as pernas para ajudar a ser transferido da maca de transporte para o leito; • Examinado especificamente quanto a esta queixa, verificou-se significativa diminuição da força muscular em ambas as pernas, principalmente a direita, além de hiperestesia e intensa dor à palpação de ambas as panturrilhas e face posterior de ambas as coxas e região glútea. CASO CLÍNICO Pós-anestésico imediato - resumo: • Feito o diagnóstico presuntivo de rabdomiólise, o paciente transferido para a UTI imediatamente. Foi colhida amostra de sangue para dosagem de CPK, eletrólitos, bioquímica, gasometria arterial, hemograma e colhida urina para pesquisa de mioglobinúria. • A primeira dosagem de CPK estava em 14.000 UI/ml e potássio de 6 mEq/l, com pH = 7. 30 e BE = - 2mEq/l. Glicemia de 240mg/dl. Urina escura, teste da orto-toluidina positivo. • Aumentada a hidratação associada a furosemida e iniciada insulinoterapia contínua, sendo repetida a dosagem de potássio e CPK em 1 hora, com resultados respectivamente de 7, 6mEq/l e 30.000 UI/ml. • Puncionado acesso venoso profundo e iniciada hemodiálise. CASO CLÍNICO Evolução - resumo: • Evoluiu com estabilidade hemodinâmica e aumento na dor em panturrilhas no decorrer da primeiras 12 horas. Resposta satisfatória à hemodiálise, com queda gradual dos níveis de potássio sérico e de CPK, sendo necessárias mais 2 sessões, com intervalos aproximados de de 24h. Persistia a diminuição da força muscular e parestesias em MIS, apesar da fisioterapia. • Alta da UTI no quarto dia PO, com intensificação da fisioterapia e deambulação hospitalar, tentando-se a reversão da parestesia e da perda de força muscular em MIs com vistas à alta hospitalar; • Alta hospitalar no 10º dia PO, ainda com parestesia e diminuição de força em MIs, necessitando de equipamento tipo “andador” para deambular. Fisiopatologia: Rabdomiólise Compressão e ruptura do músculo estriado, resultando em liberação de mioglobina e creatino-quinase, produção de lactato e íons H+ e consequente acidose metabólica; Mioglobina A mioglobina é eliminada pelos rins, o que leva a obstrução tubular por cilindros de heme e intoxicação do epitélio tubular pelo ferro não quelado, podendo levar à insuf. renal aguda. Fisiopatologia: Rabdomiólise Pode ser causada por síndrome compartimental pelo extravazamento de fluidos en corpartimento fechado por fáscias. Benevides ML, Nochi Jr RJ . Rabdomiólise por Síndrome Compartimental Glútea após Cirurgia Bariátrica. Relato de Caso. Rev Bras Anestesiol 2006; 56: 4: 408-412 Rabdomiólise Rhabdomyolysis After Bariatric Surgery by Roux-en-Y Gastric Bypass: A Prospective Study Oliveira LD, Diniz MTC, et al. Obes Surg 2009, 19: 1102-1117 N = 22 RML = CPK> 1000 UI/ml: 17 pacientes (77,3%) CPK> 5000 UI/ml: 8 pacientes (40,9%) Dor muscular posoperatória em 35% dos pacientes. Hidratação vigorosa e alcalinização urinária em todos com CPK acima de 5000 UI/ml Incidência de IRA = zero. Rabdomiólise Bariatric surgery:Rhabdomyolysis after open Roux-en-Y gastric bypass: A prospective study Youssef T, Abd-Elaal I, et al Int J Surgery, 2010 (8): 484-88 Objetivo: determinar frequencia, fatores de risco e relevância clínica da rabdomiólise (RML) em obesos submetidos a esta cirurgia. •N = 23; •Valores de CPK = 1.000 UI/ml (5 x o limite superior): RML •Frequencia de RML = 30,4% dos pacientes •Único fator de risco foi IMC > 55,88 kg/m2 Rabdomiólise Bariatric surgery:Rhabdomyolysis after open Roux-en-Y gastric bypass: A prospective study Youssef T, Abd-Elaal I, et al Int J Surgery, 2010 (8): 484-88 Profilaxia - autores sugerem: •Evitar cirurgia de super-obesos (IMC > 50kg/m2) feitas por cirurgiões que estejam na fase ascendente da curva de aprendizado; • Dosagem da CPK no intra e pós-operatória imediato em todos os pacientes com IMC igual ou maior que 56 kg/m2; • Hidratação e estímulo a diurese (manitol?) em todos aqueles em que a CPK tenha sido igual ou maior que 1.000 UI/ml Muito obrigado!