FORMAÇÃO DE PROFESSORES: INTERFACE ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDE GODOY, Miriam Adalgisa Bedim KAJIHARA, Olinda Teruko Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Os desafios educacionais contemporâneos exigem de os educadores uma formação inicial e continuada sólida e consistente, para que de fato a escola se torne inclusiva e de qualidade para todos. Nesse sentido, destaca a importância de o professor ser pesquisador de sua prática, pois vários são os fatores que interferem no processo ensino e aprendizagem. Sendo assim, descreve um problema orgânico, muito comum na infância, ou seja, a obstrução das vias aéreas superiores, causada por patologias respiratórias. Essas doenças impossibilitam a criança de ter uma respiração nasal e, por isso, ela é obrigada a se adaptar e passa a respirar pela boca. A respiração oral promove uma série de alterações funcionais, estruturais, posturais e oclusais no organismo. Além das questões orgânicas, a criança que respira pela boca apresenta problemas comportamentais e pedagógicos. O presente estudo ressalta a importância na formação de professores à interface educação e saúde. Para tanto, apresenta as causas e as consequências da respiração oral e sua influência no aprendizado da leitura, escrita e aritmética. Ademais, ressalta a importância de a formação dos professores contemplar o estudo da respiração oral, para que os futuros professores possam identificar sinais e sintomas dessa respiração de suplência, assim como, propor encaminhamento aos profissionais da saúde e melhorar sua prática pedagógica, propondo atividades inclusivas para essa população educacional. Neste sentido, realiza uma palestra de conscientização e conhecimento sobre a interferência da respiração oral no desempenho escolar para 66 estudantes do curso de Formação de Docentes em uma escola da região central do estado do Paraná. Palavras-chave: Formação docente. Desempenho escolar. Respiração oral. Introdução Os desafios educacionais contemporâneos (educação ambiental; educação fiscal; educação em/para direitos humanos; prevenção ao uso indevido de drogas; enfrentamento à violência na escola e acompanhamento do Programa Atitude da Secretária da Criança e da 5531 Juventude) exigem dos educadores uma formação sólida e consistente para enfrentar e propor ações educativas para essas demandas (SEED, 2009). Além desses desafios, há urgência em se efetivar uma educação de qualidade para todos. Uma escola inclusiva pressupõe o conhecimento de cada aluno, respeita as diferenças individuais em suas possibilidades e limites e, a elas responde com intervenção pedagógica de qualidade (BRASIL, 2004). Neste sentido, faz-se necessário conhecer todos os obstáculos que possam prejudicar o bom desempenho dos sujeitos da escola, tanto em âmbito de atuação docente quanto de aprendizado discente, só assim poder-se-á intervir de modo a atender a diversidade (BRASIL, 2004). Para que de fato ocorra a inserção de todos na escola, assim como, o desenvolvimento e aprendizagem desses escolares, verifica-se a necessidade de uma formação teórica e prática dos docentes da Educação Básica numa perspectiva que envolva a pesquisa-ação, a qual garanta-lhes amplitude e profundidade do olhar inclusivo (IMBERNÓN, 2000). Embora as pesquisas atuais apontem para a necessidade da formação docente que contemple a diversidade e as diferenças, o que se observa é que existe, ainda, um grande desafio a ser superado, tanto em nível de formação inicial quanto continuada (DUK, 2005). Atender a todos os escolares em suas especificidades significa transitar pelas diferentes teias do conhecimento, ou seja, buscar respostas pedagógicas na interface saúde e educação (RIESGO, 2006). Porém, o que se tem constatado por meio das pesquisas é que existe um descompasso entre o conhecimento médico e educacional no atendimento aos alunos que manifestam um rendimento escolar inesperado (GODOY; KAJIHARA, 2008). Diante dessa realidade, que não é nada alentadora, este estudo verificou o nível de conhecimento dos alunos, que estão matriculados na formação docente, sobre a influência da respiração no desempenho escolar, bem como, por meio do diagnóstico, buscou-se uma intervenção teórica sobre quais são as patologias que alteram a respiração normal (nasal), para uma respiração de suplência (oral) e suas consequências para o desenvolvimento e aprendizagem. Respiração nasal A respiração é a primeira e mais importante atividade que ocorre no recém-nato, esta também é uma das principais funções do organismo. É importante salientar que, uma pessoa 5532 normal, em condições de repouso (boca fechada), a respiração é exclusivamente nasal (GAMEIRO et al., 2005). A necessidade de entendimento da respiração nasal, na sua fisiologia e anatomia é de suma importância para identificarem-se as alterações que venham a interferir na qualidade de vida do indivíduo e, consequentemente, na aprendizagem escolar (ASSENCIO-FERREIRA, 2003). No dicionário médico, a respiração é definida como processo vital e fundamental característico de vegetais e animais, em que o oxigênio é utilizado para oxidar moléculas de combustíveis orgânicos, que fornece uma fonte de energia como o dióxido de carbono e água necessária para a manutenção da vida. A principal função do sistema respiratório é a troca de gases entre o oxigênio e o dióxido de carbono, desta forma a inspiração e a expiração possibilita a purificação do sangue venoso, propiciando vida a todos os tecidos. Além disso, contribui na limpeza dos detritos e toxinas do organismo (GAMEIRO et al., 2005). A principal via de entrada de oxigênio no organismo é o nariz. Devido sua arquitetura, superfície mucosa extensa e vibrissas, filtra, umidifica, aquece ou resfria o ar, adequando-o a temperatura corpórea. Esse processo protege o restante do sistema respiratório de danos causados por gases secos e fragmentos nocivos (WECKX; WECKX, 1995). O nariz apresenta tecido epitelial estratificado, ciliado e mucoso o que favorece nas seguintes funções: a) reflexógena: regula e modifica o recebimento do oxigênio nos pulmões. Este controle é muito importante para o funcionamento dos demais órgãos do corpo; b) corredor de drenagem: proporciona proteção imunológica e mecânica, auxilia na umidificação do ar inspirado para a limpeza nas cavidades nasais; c) tubular: as cavidades nasais são o principal caminho pelo qual o ar chega as vias aéreas inferiores (porção inferior da traquéia, brônquios e pulmões); d) aquecimento, umidificação e filtração são etapas fundamentais na preparação do ar inspirado com a finalidade de proteger as vias aéreas inferiores; e) olfato: auxilia na identificação de gases tóxicos, influencia na escolha de alimentos, ajudando a determinar o gosto e a identificar substâncias deterioradas; f) fonação: no ato de fonação, o nariz comunica-se com a cavidade oral, funcionando como uma caixa de ressonância; g) estética: a correção de defeitos influencia na auto-estima das pessoas tornando-as mais felizes e produtivas à sociedade (LOPES FILHO; MINIÇA, 1994). 5533 Doenças que prejudicam a respiração nasal A respiração nasal pode ser modificada por doenças que obstruem a passagem do ar pelo nariz. A pessoa obriga-se a modificar a rota de entrada do ar da via nasal para bucal. Respirar pela boca traz prejuízos à qualidade de vida, pois o ar que entra não é condicionado, o qual chega aos pulmões seco, poluído e frio o que favorece a infecções e alergias. Essa situação modifica também outras estruturas, como por exemplo, a face e o corpo (GODOY; KAJIHARA, 2003). As doenças mais comuns que obstruem as vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe e porção superior da traquéia) são: a) rinite alérgica: é uma das principais causas da obstrução nasal e, consequentemente, da respiração oral. A estimativa desta doença na população mundial infanto-juvenil é de 20%. A rinite alérgica pode ser causada por vários fatores, como por exemplo, os agentes alergênicos e medicamentos. Esses causam um processo inflamatório da mucosa nasal. Os sinais e sintomas apresentados pela pessoa são: prurido nasal, espirros em salva, coriza aquosa, pode ocorrer prurido ocular, no ouvido e na orofaringe, olheiras e bruxismo. Vários são os alérgenos que podem desencadear essa rinite, os mais comuns são: a poeira domiciliar, os ácaros, os fungos, o pólen, os pêlos e a saliva dos animais domésticos, a fumaça do tabaco e odores fortes, como por exemplo de perfumes e inseticidas. A pessoa que sofre desse mal deve ter os seguintes cuidados: evitar bichos de pelúcia, sempre lavar as roupas de cama, substituir roupas e cobertores de lã por outros tecidos, evitar lugares úmidos e com cheiro de mofo, evitar contato com os pêlos de gato e cachorro, evitar aromas fortes de produtos de limpeza, perfumes e fumaça de cigarro e outros. A rinite alérgica diminui consideravelmente a qualidade de vida da pessoa e se não tratada contribui para a ocorrência de outras doenças como sinusite, otites, pólipose nasal etc. b) hipertrofia das tonsilas faríngeas (adenóides) e palatinas (amígdalas): a hipertrofia das adenóides e amígdalas, assim como a rinite alérgica são as principais causas de obstrução nasal da população infantil. A hipertrofia geralmente ocorre em virtude de processos infecciosos ou alérgicos como a rinite, sinusite, bronquite, que congestionam as vias aéreas superiores, obstruindo a rota de entrada do ar, o que leva a criança a ter uma respiração oral. Os sinais e sintomas apresentados 5534 pela criança são: respiração ruidosa, fonação hiponasal, falta de apetite, ronco, agitação, catarro purulento na cavidade nasal, febre, mal estar, halitose, dores nas regiões dos glânglios submaxilares e cervicais, tosse, vômito, falta de apetite e dificuldade deglutição. O tratamento normalmente é medicamentoso e/ou cirúrgico. c) hipertrofia das tonsilas faríngeas (adenóides) e palatinas (amígdalas): a hipertrofia das adenóides e amígdalas, assim como a rinite alérgica são as principais causas de obstrução nasal da população infantil. A hipertrofia geralmente ocorre em virtude de processos infecciosos ou alérgicos como a rinite, sinusite, bronquite, as quais congestionam as vias aéreas superiores, obstruindo a rota de entrada do ar, o que leva a criança a ter uma respiração oral. Os sinais e sintomas apresentados pela criança são: respiração ruidosa, fonação hiponasal, falta de apetite, ronco, agitação, catarro purulento na cavidade nasal, febre, mal estar, halitose, dores nas regiões dos glânglios submaxilares e cervicais, tosse, vômito, falta de apetite e dificuldade deglutição. O tratamento normalmente é medicamentoso e/ou cirúrgico. d) desvio de septo: vários são os fatores que podem contribuir para a modificação do septo, como acidentes e luxação peri-natal. As conseqüências desta alteração são: cefaléia, ronco, hiposmia (diminuição do olfato), rinolalia (voz “abafada” ou fanhosa) e diminuição da acuidade auditiva. O tratamento é cirúrgico. e) pólipos nasais: são tumores benignos únicos ou múltiplos que se desenvolvem na cavidade nasal ou nas regiões dos meatos médio e inferior. As causas dos pólipos não estão ainda bem definidas, mas acredita-se que decorram de uma infecção crônica, de uma drenagem linfática insuficiente, de irritações inflamatórias da mucosa. Os sinais e sintomas mais comuns são: rinorréia, boca seca, roncos noturnos, voz anasalada, sonolência diurna, halitose, diminuição do olfato e do paladar e obstrução nasal uni ou bilateral. O tratamento deve ser bem elaborado, não basta extirpá-los, pois se trata de uma inflamação. f) atresia de coanas: é uma anomalia congênita muito rara que ocasiona uma falha na canalização da membrana buconasal. A atresia pode ser uni ou bilateral e estruturalmente óssea ou membranosa dependendo da região afetada. O recémnascido é respirador nasal não consegue respirar pela boca, portanto, a atresia 5535 pode ser fatal no neonato, pois impede a passagem do ar para rinofaringe e acarreta um quadro grave de asfixia. Nesse caso grave, é urgente recorrer a uma intubação orotraquial. Os sintomas apresentados pela pessoa são dispnéia, dificuldade respiratória, cianose e rinorréia. O tratamento prescrito é cirúrgico. g) rinossinusite: é uma inflamação das mucosas sinusal e nasal. Os sinais e sintomas são rinorréia, cefaléia, irritabilidade, tosse, secressão purulenta e halitose. O tratamento indicado é medicamentoso ou cirúrgico. As doenças obstrutivas se não forem tratadas acarretam muitas alterações no organismo. Essas modificações podem ser funcionais e ósseas, as quais geram uma diversidade de distúrbios locais e sistêmicos que podem prejudicar a qualidade de vida da pessoa (DI FRANCESCO, 2003). Consequências da respiração oral As doenças obstrutivas das vias aéreas superiores se não tratadas adequadamente compromete a aerenação nasal. A pessoa que tem obstrução nasal, consequentemente, irá buscar outra forma de compensação, ou seja, a respiração oral (DI FRANCESCO, 2003a). A respiração oral acarreta muitas alterações no organismo como por exemplo, funcionais, estruturais, oclusais e de comportamento (CARVALHO, 2003). Como sabemos a respiração nasal condiciona o ar, filtra, aquece e umidifica. O ar respirado pela boca não sofre esse processo, entra no organismo no estado em que se está no ambiente, seco, sujo e frio. Essa condição contribui para a ocorrência de infecções repetitivas (ARAGÃO, 1988; SÁ FILHO, 1994). As narinas pelo desuso são mal desenvolvidas (fendas nasais), estreitas, perdem o volume a elasticidade (ARAGÃO, 1988; CARVALHO, 2003). A respiração oral prejudica o crescimento normal e harmonioso da face. Na cavidade bucal verifica-se o estreitamento maxilar, em decorrência da boca estar sempre aberta para a entrada de ar (musculatura peri-bucal). O palato torna-se profundo e ogival, pois a língua do respirador oral é hipotônica, permanecendo no assoalho da boca, sua função seria de tocar no palato, além disso, a falta de pressão do ar proveniente das narinas reforça a modificação do palato (ARAGÃO, 1988). A permanência da boca entreaberta resseca os lábios, deixando-os feridos e sem cor. O hipodesenvolvimento da mandíbula e do maxilar prejudica a dentição, pois diminui o espaço 5536 para irrupção dentária, com isso a arcada dentária superior sofre protusão e a arcada dentária inferior retrusão. A boca continuamente aberta expõe os dentes e as gengivas à ação das bactérias, o que favorece a ocorrência de cárie, gengivite e halitose (ARAGÃO, 1988; GODOY, 2003). A característica facial do respirador oral é fácil de ser identificada como, por exemplo, face alongada, lábio superior curto e inferior evertido, sorriso gengival, mucosa nasal pálida, mandíbula caída, olheiras, fisionomia cansada, apagada e olhar vazio (CARVALHO, 1998; WECKX; WECKX, 1995). A postura corporal do respirador oral pode apresentar alterações visivelmente observadas e confirmadas por meio de exames complementares. As características mais comuns são ombros caídos para frente comprimindo o tórax, a cabeça mal posicionada em relação ao pescoço, o que compromete a musculatura (MENDES; BARBOSA; NICOLOSI, 2005). Devido a essa alteração do posicionamento da cabeça, o respirador oral se desorganiza, desequilibra e sofre, além de um desconforto postural, muitas dores musculares. Em conseqüência desse padrão inadequado as escápulas tornam-se aladas, ou seja, em posição de asas abertas (CARVALHO, 2003). O respirador oral devido à falta de musculatura da língua, da boca, dos lábios, e da boca estar sempre entreaberta produz muita saliva, às vezes fala cuspindo o que compromete a sua comunicação e acarreta um desconforto por parte de quem está próximo do falante (LÓPEZ, 2005). A fonação da criança respiradora oral é prejudicada pela hipotonia da musculatura da boca., o que compromete a articulação de alguns fonemas, como, por exemplo, ao emitir uma palavra com o som s e z (sala, sapato, zelador, casa, etc.), a língua tende a ficar entre os dentes, o que dificulta a saída do ar e distorce o som (CARVALHO, 2000; GODOY, 2003; LÓPEZ, 2005). O respirador oral apresenta dificuldade de mastigação e deglutição, pois tem que respirar e alimentar-se ao mesmo tempo o que leva o a mastigar com a boca aberta e sempre necessitando de auxílio de líquidos para a deglutição (LÓPEZ, 2005). Geralmente o respirador oral alimenta-se muito rápido, ato esse não prazeroso, pois tem que se alimentar e respirar pela mesma via. Sendo assim, prefere alimentos pastosos, com poucas fibras. (GODOY, 2003). 5537 Esse quadro faz com que o respirador oral, normalmente, alimenta-se só o suficiente para sua sobrevivência ou compulsivamente pela ansiedade, o que contribui para mudanças significativas no peso abaixo ou acima (CARVALHO, 2003; LÓPEZ, 2005). A qualidade do sono da criança respiradora oral é prejudicada. O transtorno do sono relacionado à respiração é um distúrbio decorrente de uma anormalidade respiratória que ocorre durante o sono, e que tem como característica principal a hipersonolência diurna ou a insônia. O sono é prejudicado pela interrupção (apnéia) ou pela lentidão (hipopnéia) do fluxo aéreo ou, ainda, pela diminuição do nível de oxigênio e de dióxido de carbono no sangue hipoventilação (DSM IV, 1995; DI FRANCESCO, 2003b). A criança com transtorno do sono pode apresentar o seguinte quadro clínico: roncos noturnos, sufocação, agitação, sudorese, baba, sonolência diurna, boca seca, enurese e cefaléia matinal. Essas alterações são responsáveis por problemas comportamentais, como por exemplo, irritabilidade, hiperatividade e baixo rendimento escolar (MOTA, 2005). Comportamento do aluno respirador oral O aluno respirador oral, com freqüência, é estereotipado como “aluno problema” em virtude de uma avaliação incorreta. Por isso, é muito importante no acompanhamento escolar o Pedagogo conhecer as causas e as conseqüências da respiração oral, evitando “rotulações precipitadas”(COELHO-FERRAZ; ANDRADE, 2005). A má qualidade do sono pode contribuir para sérios prejuízos nos campos físico, emocional e intelectual. Como por exemplo, baixa resistência física para a prática de esportes, baixa resistência à frustração frente a desafios novos e dificuldade de concentração na resolução das atividades escolares (COELHO-FERRAZ; ANDRADE, 2005). A primeira descrição de uma criança com síndrome da apnéia obstrutiva do sono e problemas de aprendizagem foi realizada em 1889, já nessa época, os médicos alertavam que os respiradores orais necessitavam de atenção na escola (SPAHIS, 1994 apud GODOY, 2003). Após essa data, o século já virou duas vezes, a medicina avançou muito na compreensão das alterações estruturais e funcionais do organismo provocadas pela respiração oral. No entanto, não é possível dizer o mesmo na área da educação, porque muitos professores, ainda, desconhecem a importância da respiração nasal para o bem-estar físico e mental e para o bom desempenho escolar do aluno (GODOY, 2003). 5538 A importância de se observar o comportamento global do escolar contribui para uma leitura mais próxima da realidade, pois permite a identificação dos mecanismos presentes no ato de aprender (FAGALI; DEL RIO DO VALLE, 1993). Nessa ótica, verifica-se a necessidade de os professores estarem bem esclarecidos sobre as causas dos problemas e dos distúrbios de aprendizagem (FAGALI; DEL RIO DO VALLE, 1993). Os professores são os que, depois da família, passam mais tempo com a criança. Se o professor tem clareza de que a respiração oral (problema orgânico) influência nos aspectos biopsicossocial da criança, com certeza terá um olhar psicopedagógico, podendo perceber manifestações importantes, auxiliando na identificação precoce dos problemas e propondo intervenções que auxiliem a aquisição dos conteúdos (FAGALI; DEL RIO DO VALLE, 1993). Para o aluno que não está acompanhando os conteúdos escolares, é importante uma avaliação psicoeducacional por parte do Pedagogo. No caso da respiração oral, sugere-se um diagnóstico diferencial, observando os seguintes dados (COELHO-FERRAZ; ANDRADE, 2005): a) apresenta doenças respiratórias; b) possui caso na família de alergias, sinusite, rinite, otites e outros; c) quais os tratamentos já realizados (cirúrgicos e medicamentoso); d) tipo de amamentação e período; e) fez uso de chupeta (tempo); f) informação sobre o sono (ronco, agitação, baba, etc.); g) informação sobre o dia (sonolência, desatenção, olheiras e etc.); h) informação sobre a alimentação (preferência por alimentos pastosos, necessidade de líquidos para a deglutição, engasgo, pouca alimentação, muita alimentação, come de boca aberta etc.); i) verificar alterações posturais (escápulas aladas, cabeça projetada para frente etc.); j) verificar a existência de problemas comportamentais (sonolência, “preguiça”, queixas na educação física etc.); k) questionar o aluno se tem dificuldade de respirar e se percebe que respira pela boca. 5539 No transcorrer da avaliação o Pedagogo deve estar atento a sinais visíveis de obstrução nasal, como por exemplo (COELHO-FERRAZ; ANDRADE, 2005): a) olheiras e fisionomia triste, sem expressão, olhar vazio; b) face mais alongada; c) lábios semi-abertos ou abertos; d) excesso de salivação e secreção; e) cansaço ao falar; f) postura e posicionamento na execução das atividades; g) prestar atenção se a criança está ouvindo bem, se ela não fala muito alto. No aspecto pedagógico o professor deve avaliar as seguintes habilidades (GODOY, 2003): a) leitura (pronuncia corretamente os fonemas, quais rotas de leitura faz uso lexical, sublexical); b) escrita (que tipos de erros comete: ortografia, troca letras na escrita, omissão de palavras, omissão de acentos, omissão de acentos, transcrição de fala etc.; quando ocorre os erros na cópia, na produção de textos); c) aritmética (dificuldade no domínio da tabuada, de conceitos matemáticos, memória, atenção etc.); d) atenção (dificuldade na seleção de estímulos, dificuldade em sustentar a atenção, dificuldade no planejamento e execução das atividades). Diante do exposto, Educação e Saúde aliados na busca de melhora da qualidade de vida do aluno com respiração oral. Sendo assim, após o diagnóstico, o Pedagogo terá condições de encaminhar o aluno ao especialista mais adequado, visando à melhora da qualidade de vida do escolar (FAGALI; DEL RIO DO VALLE, 1993). A identificação do problema respiratório deveria ser realizada o mais precocemente. No entanto, muitas vezes a criança passa pela primeira infância sem os pais perceberem a dificuldade respiratória (COELHO-FERRAZ; ANDRADE, 2005). Na escola, o problema respiratório, quase sempre culminará em outro problema: o da dificuldade de aprendizagem. Pois, em geral, o respirador oral tem diminuição da acuidade auditiva, ouve mal, fala errado e, consequentemente, transfere para a escrita seu modo de falar. Sendo assim, terá maior dificuldade de produção e interpretação de texto (CARVALHO, 2003). 5540 Dá-se, nesse sentido, a importância de o professor conhecer as características e as consequências da respiração oral, para propor estratégias de intervenções pedagógicas, assim como, o encaminhamento para os profissionais especializados da área (GODOY, KAJIHARA, 2008). Acredita-se que o respirador oral deva ser entendido dentro de uma visão holística, o aluno é uma unidade, um só. Seu corpo é suporte de todas as estruturas psíquicas, afetivas e de relação (SAMPAIO, 2005). O objetivo do trabalho com o respirador oral deve ser em conjunto, na busca de uma avaliação, compreensão e estimulação desse aluno a participar de seu processo de cura e aprendizagem (SAMPAIO, 2005). É importante salientar que nem todo respirador oral apresenta problemas de aprendizagem, porém a porcentagem da co-relação respiração oral e dificuldades de aprendizagem é de onze vezes maior em alunos respiradores orais do que nos escolares respiradores nasais (OTANI, 2001). Apesar de em nível educacional as pesquisas sobre o esclarecimento das dificuldades escolares do respirador oral a partir de o início do século terem ganhado mais força na busca de uma melhor compreensão das dificuldades gerais e específicas de aprendizagem dos alunos (GODOY, 2003; LEAL, 2004; SILVA, 2005; FILUS, 2006, GOMES, 2007), o que se verifica é que o professor, ainda, não identifica e não relaciona as consequências da respiração oral sobre a aprendizagem. Essa situação ficou evidente nas pesquisas realizadas com professores da Educação Básica tanto municipal quanto estadual (BELONI, 2005; KAJIHARA, BLANCO; GODOY, 2007). Tanto os professores da rede municipal quanto os da estadual, respectivamente, 50% e 100%, p= 0,001, possuem pós-graduação em educação. Apesar de os professores possuírem boa formação acadêmica, os mesmos não relacionaram a interferência da respiração oral sobre o desempenho escolar (GODOY; KAJIHARA, 2008). Diante dessa situação, o que fazer para ampliar o nível de conhecimento dos professores sobre os sinais, os sintomas e as comorbidades da respiração oral? A socialização dos conhecimentos de diversas especialidades médicas é importante e necessária, mas não o suficiente. Precisa-se estender esse conhecimento para os educadores em sua formação inicial e continuada. Foi isto que se propôs este estudo, ou seja, foi diagnosticado em 66 alunos do curso de Formação Docente de uma escola estadual da região 5541 central do estado do Paraná o conhecimento sobre as doenças obstrutivas das vias aéreas superiores, suas consequências e sua interferência sobre o aprendizado escolar. Os estudantes (100%), assim como, os professores já pesquisados não relacionam a respiração com o desempenho escolar, o que revela a importância de se ter no currículo da Formação Docente, disciplinas que contemplem essa população da educação, pois a respiração oral pode ser um fator que contribui para o insucesso do aluno. Diante do diagnosticado foi realizado para os estudantes uma palestra sobre as causas, as conseqüências da respiração oral na saúde, no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças e adolescentes. Conclusão O atendimento médico é imprescindível para a melhora do quadro clínico do respirador oral, principalmente, removendo ou tratando da patologia que está acarretando a obstrução nasal. Mas, quando a alteração já está instalada por algum tempo, a criança necessitará de uma equipe multiprofissional para recuperação do padrão respiratório e, consequentemente, da superação dos problemas físicos, comportamentais e de aprendizagem. A socialização dos conhecimentos de diversas especialidades médicas é importante e necessária, mas não o suficiente. Precisa-se cada vez mais divulgar esse conhecimento em cursos de formação inicial e continuada dos educadores, assim como, pesquisas educacionais que venham elucidar as dificuldades gerais e específicas dos educandos respiradores orais e propostas pedagógicas de intervenção para a superação das dificuldades apresentadas pelos escolares. Tem-se clareza que este estudo contribuiu, significativamente, para práticas inclusivas de alunos, desde a Educação Infantil aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pois é com essa população que os estudantes pesquisados trabalharão, e o quanto antes for identificado o problema da obstrução nasal e, consequentemente, da respiração oral, melhores serão os resultados obtidos. 5542 REFERÊNCIAS ARAGÃO, W. Respirador bucal. Jornal de Pediatria, v. 64, n. 8, p. 349-352, 1988. ASSENCIO- FERREIRA, V. J. 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