Teoria do conhecimento na Idade Média

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A Teoria do Conhecimento na Idade Média
Toda a cultura medieval é profundamente influenciada pela doutrina da igreja cristã, inclusive a
epistemologia. Mas há dois momentos bem distintos desta influência da fé sobre a filosofia: a
patrística (séc. III ao séc. XI) e a escolástica (séc. XII ao séc. XV).
Partindo da concepção de que só Deus é perfeito e o ser humano é limitado, os filósofos da
patrística afirmam que a razão humana não é capaz de obter o verdadeiro conhecimento. A única
certeza possível é aquela dada pela iluminação da graça divina, quando o ser humano sente Deus
em seu coração. Para aqueles que não tiveram a graça deste contato sensível com Deus, a atitude
mais sensata é a de seguir os ensinamentos daqueles que tiveram tal graça, ou seja, seguir os
ensinamentos dos profetas, dos apóstolos e dos santos. Em outras palavras, só há uma certeza
possível e essa certeza só poucos podem ter; aos demais resta apenas ter fé. Essa concepção
epistemológica se apoia em textos bíblicos como o da 1ª Epístola de São Paulo ao Coríntios: “pois
o nosso conhecimento é limitado, mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado”
(1Cor 13: 9-10). A fé, então, cria uma posição intermediária entre o ceticismo e o dogmatismo.
Essa posição intermediária é chamada pelo nome de sabedoria e consiste em aceitar como
verdades as revelações divinas. Isso quer dizer que, embora no nível racional o conhecimento
(certeza) não seja possível, o ser humano pode se firmar em algo que é mais seguro que a mera
opinião. Mais uma vez, o texto bíblico é que fundamenta esta interpretação. Livros do Antigo
Testamento como Sabedoria (em especial o cap. 7) e Eclesiástico (especialmente o cap. 24)
identificam a sabedoria e os ensinamentos dos profetas.
Após um período de quase mil anos no qual o conhecimento foi colocado em segundo plano,
sempre submisso à fé, a partir do séc. XII, com a escolástica, ressurge o interesse pela
racionalidade e pela experiência e sua valorização como fontes de conhecimento. Nesse período,
São Tomás de Aquino e vários outros filósofos formulam uma nova visão de mundo na qual a
racionalidade humana deixa de ser serva da fé para ser vista como irmã, como igual. O argumento
principal era o de que tanto a fé, quanto a razão, quanto os sentidos são dons dados por Deus.
Logo, a razão e os sentidos, quando bem utilizados, levam ao conhecimento das mesmas verdades
fornecidas pela verdadeira fé. Utilizando a filosofia de Aristóteles, os escolásticos, aos poucos,
restabelecem a confiança na razão e na experiência e as colocam como capazes de auxiliar o ser
humano em seu itinerário rumo a Deus. Essa ajuda mútua entre conhecimento e fé se traduz no
lema que ficou famoso: “crer para entender, entender para crer”.
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