1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Paola Francini Fávero TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C) Curitiba 2010 2 TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C) Curitiba 2010 3 Reitor Prof. Luiz Guilherme Rengel Santos Pró-Reitor Administrativo Sr. Carlos Eduardo Rengel Santos Pró-Reitora Acadêmica Profª. Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Sr. Afonso Celso Rengel Santos Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Prof. Roberval Eloy Pereira Secretário Geral Prof. Bruno da Carneiro da Cunha Diniz Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Prof. João Henrique Faryniuk Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária Profª. Ana Laura Angeli Coordenadora de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária Profª. Ana Laura Angeli Metodologia Científica Prof. Jair Mendes Marques CAMPUS PROF. SIDNEY LIMA SANTOS Rua Sidney A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio CEP: 82010-330 – Curitiba – Paraná Telefone: 3331-7700 4 PAOLA FRANCINI FÁVERO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Médico Veterinário. Orientadora Acadêmica: MV, MSc. Marúcia de Andrade Cruz Orientadora Profissional: MV Patrícia Yukiko Montaño. Curitiba 2010 5 TERMO DE APROVAÇÃO Paola Francini Fávero TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção de título de Médica Veterinária por uma banca examinadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 29 de novembro de 2010 Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná Profª Marúcia de Andrade Cruz Universidade Tuiuti do Paraná Profª Simone Cristine Monteiro Dallagnol Universidade Tuiuti do Paraná Profª Neide Mariko Tanaka Universidade Tuiuti do Paraná 6 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por iluminar meu caminho de uma forma tão especial. Especialmente por toda a proteção durante esses cinco anos de faculdade. Agradeço aos meus pais, que de seu amor... nasci!! Sempre me orientando para o caminho do bem. Também por toda a liberdade, amor e carinho que sempre me deram, e mesmo morando distante sempre me apoiaram nas horas difíceis. Agradeço também, não apenas pelo esforço material e financeiro, mas por terem sempre acreditado na minha capacidade profissional. Ao meu irmão Renan por todo o apoio que me deu nas horas que precisei. Ao meu outro irmão, de coração, Léo, que sempre foi meu anjo desde que o conheci, sempre me compreendendo, me escutando e me ajudando sempre que precisei. À todos os meus familiares, que estiveram ao meu lado me incentivando. Em especial às minhas madrinhas, Tia Sil e minha Vó Maria por todo amor, carinho e mimos a mim dados. A todos os professores da Universidade Tuiuti do Paraná, pelos ensinamentos, puxões de orelha e grande incentivo em minha carreira. Em especial à Professora Marúcia, por acreditar no meu potencial profissional, por cada atividade que desenvolvemos juntas e por todo apoio e incentivo dados durante esses três anos que a conheço. A todos os amigos que conquistei em Curitiba, que sempre estiveram ao meu lado nas horas boas e ruins. Em especial à minha amiga Susy pelo companheirismo durante todo o período de faculdade, das manhãs, tardes, noites e madrugadas de estudo. Ao meu cão Yuki, que apesar de ser PhD em preguiça e teimosia, nunca me negou um cafuné. E também ao Freddy, meu outro cão já falecido, que durante o tempo que ficou ao meu lado me iluminou da melhor maneira possível. A todos os bichanos que fizeram parte da minha jornada acadêmica fazendo com que despertasse em mim esse dom, dando-me cada vez mais força para que eu chegasse até aqui. À equipe Mania de Gato, às doutoras Marúcia, Patrícia e Daniana que sempre tiveram muita paciência comigo, sempre tirando minhas dúvidas e me ensinando os macetes da Medicina Felina. À madrinha, que não mede esforços para me ajudar 7 sempre, e também sempre acreditou na minha capacidade profissional. À Ari e ao Yellow que sempre me recebem com carinho na recepção. Agradeço por cada consulta e procedimento, cada bronca e crítica, cada risada e palavra de amizade, pela confiança, por todo carinho e acolhimento. Fazer estágio com vocês foi simplesmente incrível e inesquecível. Foram sonhos realizados, imprescindíveis para meu crescimento tanto profissional quanto pessoal. MUITO OBRIGADA!!!! 8 APRESENTAÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C) é apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário é composto de um Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas por Paola Francini Fávero durante o período de 02 (dois) de agosto a 15 (quinze) de outubro de 2010, na Clínica Veterinária Mania de Gato, localizada no município de Curitiba – PR cumprindo estágio curricular. 9 RESUMO Este trabalho de conclusão de curso foi elaborado pela acadêmica Paola Francini Fávero do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, que realizou o estágio curricular na Clínica Veterinária Mania de Gato, no município de Curitiba – PR, totalizando 368 horas, sendo no período de 02 (dois) de agosto a 15 (quinze) de outubro de 2010, com a supervisão da Médica Veterinária Patrícia Yukiko Montaño e com orientação da professora Marúcia de Andrade Cruz. Neste período foi possível acompanhar consultas, procedimentos cirúrgicos, pósoperatórios, internamentos de pacientes com doenças infectocontagiosas e não infectocontagiosas e procedimentos como diagnóstico por imagem. Para discussão de casos foram escolhidos 03 pacientes com linfoma alimentar e 02 pacientes com doença intestinal inflamatória (DII). Palavras-chave: Estágio Curricular, Linfoma Alimentar, Doença Intestinal Inflamatória. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ®: marca registrada %: porcento ºC: grau Celsius µg/dL: microgramas por decilitros µL: microlitros AAFP: American Association of Feline Practitioners ALT: Alanino aminotransferase AST: Aspartato aminotransferase BID: bis in die (duas vezes ao dia) cm: centímetro DII: Doença Intestinal Inflamatória ELP: Enterite Linfócito-plasmocitária FA: Fosfatase Alcalina GGT: Gama glutamiltransferase GI: Gastrointestinal h: horas ID: Intestino Delgado IG: Intestino Grosso IM: Intramuscular IV: Intravenosa kg: Quilogramas m²: metro quadrado mg: miligramas mg/cáps: miligramas por cápsula mg/gato: miligramas por gato mg/Kg: miligramas por quilo mg/kg/dia: miligramas por quilo por dia mg/m²: miligramas por metro quadrado mg/mL: miligramas por millilitros min: minuto mL: mililitros 11 mm: milímetros MSc: Mestre MV: Médico Veterinário nº: número p.ex.: por exemplo PIF: Peritonite Infecciosa Felina SAMe: S-Adenosil-L-Metionina SC: subcutânea SID: semel in die (uma vez ao dia) sp.: espécie SRD: sem raça definida T4: Tiroxina TGI: Trato gastrointestinal UI/Kg: Unidade Internacional por quilo UI: Unidade Internacional UI/L: Unidade Internacional por litro VIF: Vírus da Imunodeficiência Felina VLF: Vírus da Leucemia Felina VO: Via Oral 12 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 FACHADA DA CLÍNICA VETERINÁRIA MANIA DE GATO.. 02 FIGURA 2 RECEPÇÃO E CAT SHOP.................................................... 03 FIGURA 3 CONSULTÓRIO.................................................................... 03 FIGURA 4 INTERNAMENTO.................................................................. 04 FIGURA 5 CENTRO CIRÚRGICO.......................................................... 04 FIGURA 6 ÁREA DE PÓS OPERATÓRIO............................................. 05 FIGURA 7 SALA PARA BANHO............................................................. 05 FIGURA 8 PROCEDIMENTOS EM PACIENTES INTERNADOS. A. ALIMENTAÇÃO FORÇADA VIA ORAL COM SERINGA. B. ADMINISTRAÇÃO DE INSULINA SC .............................. 07 FIGURA 9 GATIL IDENTIFICADO ......................................................... 08 FIGURA 10 IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DE SEGMENTO INTESTINAL IRREGULAR, ASSOCIADO À EVIDENCIAÇÃO DAS CAMADAS DA PAREDE – ENTERITE LINFOCÍTICA PLASMOCITÁRIA EM UM FELINO.................................................................................. 18 FIGURA 11 FRAGMENTO INTESTINAL COLHIDO POR LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA........................................ 28 FIGURA 12 IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DAS ALÇAS INTESTINAIS DEMONSTRANDO ESPESSAMENTO.......... 31 FIGURA 13 LINFONODO SUBLOMBAR COM TAMANHO AUMENTADO, FORMATO ARREDONDADO, HIPOECÓICO, HETEROGÊNEO E DE ASPECTO RENDILHADO – LINFOMA................................................... 38 FIGURA 14 LINFONODOMEGALIA MESENTÉRICA – COALESCÊNCIA DE LINFONODOS REGIONAIS (LINFOMA EM GATO)........................................................... 39 FIGURA 15 LINFONODOMEGALIA MESENTÉRICA.............................. 49 FIGURA 16 A. CATETER PERMANENTE DE ACESSO VENOSO. B. ADMINISTRAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICO NO CATETER PERMANENTE.................................................... 50 FIGURA 17 COLOCAÇÃO DE SONDA ESOFÁGICA VIA FARINGOSTOMIA................................................................ 53 13 LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS QUADRO 01 QUADRO 02 ENFERMINDADES ACOMPANHADAS DURANTE ESTÁGIO CURRICULAR NO PERÍODO DE 02 DE AGOSTO A 15 DE OUTUBRO DE 2010........................... 09 INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS ACOMPANHADAS DURANTE ESTÁGIO CURRICULAR NO PERÍODO DE 02 DE AGOSTO A 15 DE OUTUBRO DE 2010................ PROCEDIMENTOS IMUNOPROFILÁTICOS E DE EVERMINAÇÕES.............................................................. NÚMERO DE EXAMES LABORATORIAIS E DE IMAGEM ENCAMINHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR.................................................. SISTEMA PROPOSTO PARA CLASSIFICAÇÃO DA DII....................................................................................... DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS PARA FELINOS COM HISTÓRICO DE DIARRÉIA, ÊMESE, PERDA CRÔNICA DE PESO OU ANOREXIA................................................. 16 COMPARAÇÃO ANATOMOPATOLÓGICA ENTRE ENTERITES LINFOCÍTICAS E LINFOMAS INTESTINAIS..................................................................... 20 QUADRO 08 PROTOCOLO OP.............................................................. 42 QUADRO 09 PROTOCOLO COP........................................................... 43 QUADRO 10 PROTOCOLO ACM........................................................... 44 QUADRO 11 PROTOCOLO DE MADISON-WISCONSIN...................... 45 QUADRO 12 CONVERSÃO DE ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL FELINA.............................................................................. 46 GRÁFICO 01 PERCENTUAL DO SEXO DOS PACIENTES ACOMPANHADOS............................................................ 09 QUADRO 03 QUADRO 04 QUADRO 05 QUADRO 06 QUADRO 07 10 11 11 14 14 SUMÁRIO 1. 01 2. INTRODUÇÃO ................................................................................. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ........................................ 02 2.1. CORPO CLÍNICO E DEMAIS FUNCIONÁRIOS .............................. 06 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .................................................... 07 4. DESCRIÇAO DE CASOS CLINICOS .............................................. 12 4.1. DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA (DII) ................................. 12 4.1.1. Etiopatogenia ................................................................................... 12 4.1.2. Classificação .................................................................................... 13 4.1.3. Sinais Clínicos .................................................................................. 14 4.1.4. Diagnóstico ...................................................................................... 16 4.1.5. Tratamento ....................................................................................... 21 4.1.6. 25 4.1.7. Prognóstico ...................................................................................... Casos Clínicos Observados em Estágio Curricular ......................... 4.1.7.1. Caso Sassy ...................................................................................... 26 4.1.7.1.1. Anamnese ........................................................................................ 26 4.1.7.1.2. Exame físico ..................................................................................... 27 4.1.7.1.3. Exames Complementares ................................................................ 27 4.1.7.1.4. Diagnóstico ...................................................................................... 28 4.1.7.1.5. Tratamento ....................................................................................... 28 4.1.7.1.6. Prognóstico ...................................................................................... 29 4.1.7.2. Caso Lugh ........................................................................................ 30 4.1.7.2.1. Anamnese ........................................................................................ 30 4.1.7.2.2. Exame Físico ................................................................................... 30 4.1.7.2.3. Exames Complementares ................................................................ 30 4.1.7.2.4. Diagnóstico ....................................................................................... 31 4.1.7.2.5. Tratamento ....................................................................................... 32 4.1.7.2.6. Prognóstico ...................................................................................... 32 4.1.7.3. Discussão dos Casos Clínicos ......................................................... 32 4.2. LINFOMA ALIMENTAR FELINO ...................................................... 34 4.2.1. Etiologia e Epidemiologia ................................................................. 34 4.2.2. Sinais Clínicos .................................................................................. 35 4.2.3. Síndromes Paraneoplásicas ............................................................ 36 26 15 4.2.4. Diagnóstico ....................................................................................... 37 4.2.5. Tratamento ....................................................................................... 40 4.2.6. Prognóstico ...................................................................................... 47 4.2.7. Casos Clínicos Observados em Estágio Curricular ......................... 47 4.2.7.1. Caso Yellow ..................................................................................... 47 4.2.7.1.1. Anamnese ....................................................................................... 48 4.2.7.1.2. Exame Físico ................................................................................... 48 4.2.7.1.3. Exames Complementares ................................................................ 48 4.2.7.1.4. Diagnóstico ....................................................................................... 49 4.2.7.1.5. Tratamento Clínico e Cirúrgico ......................................................... 49 4.2.7.1.6. Tratamento Quimioterápico .............................................................. 50 4.2.7.1.7. Prognóstico ...................................................................................... 50 4.2.7.2. Caso Titi ........................................................................................... 51 4.2.7.2.1. Anamnese ....................................................................................... 51 4.2.7.2.2. Exame Físico ................................................................................... 51 4.2.7.2.3. Exames Complementares ................................................................ 51 4.2.7.2.4. Diagnóstico ....................................................................................... 52 4.2.7.2.5. Tratamento Clínico e Cirúrgico ......................................................... 52 4.2.7.2.6. Tratamento Quimioterápico .............................................................. 53 4.2.7.2.7. Prognóstico ...................................................................................... 53 4.2.7.3. Caso Careca .................................................................................... 54 4.2.7.3.1. Anamnese ........................................................................................ 54 4.2.7.3.2. Exame Físico .................................................................................... 54 4.2.7.3.3. Exames Complementares ................................................................ 54 4.2.7.3.4. Diagnóstico ....................................................................................... 55 4.2.7.3.5. Tratamento ....................................................................................... 55 4.2.7.3.6. Prognóstico ...................................................................................... 55 4.2.7.4. Discussão dos Casos Clínicos ......................................................... 56 5. CONCLUSÃO .................................................................................. 59 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 60 1 1. INTRODUÇÃO A medicina veterinária nesses últimos anos vem demonstrando um amplo interesse em estudos e pesquisas voltadas para felinos. A medicina felina tem se tornado uma área de grande interesse em medicina veterinária, visto que os gatos domésticos apresentam inúmeras particularidades e devem receber um tratamento diferenciado ao dos cães dentro da clínica médica de pequenos animais. Percebe-se que o mercado de trabalho na medicina veterinária exige cada vez mais profissionais diferenciados e, consequentemente a especialização tem se tornado fundamental. Cada vez mais especializações e congressos são voltados para esta especialidade. O presente relatório refere-se ao estágio curricular realizado na Clínica Veterinária Mania de Gato da cidade de Curitiba, Paraná, no período de 02 (dois) de agosto a 15 (quinze) de outubro de 2010. O estágio foi realizado no setor de Clínica Médica e Cirúrgica de Felinos Domésticos, onde foi possível aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Medicina Veterinária e adquirir novos conhecimentos para um bom desempenho profissional. O cumprimento do estágio teve a duração de 368 (trezentos e sessenta e oito) horas, sob a supervisão profissional da Médica Veterinária Patrícia Yukiko Montaño e supervisão acadêmica da docente Marúcia de Andrade Cruz. Dessa forma, aprimorando os conhecimentos em clínica médica de felinos mediante acompanhamento das consultas e procedimentos realizados na rotina da clínica durante o período estabelecido. A escolha do local de estágio foi motivada pela vivência da orientadora acadêmica que já atua na clínica médica de felinos há 10 anos. E também pela curiosidade médica por esta espécie tão peculiar. Neste relatório são descritos a estrutura e funcionamento da clínica, as atividades acompanhadas e relatados cinco casos de grande interesse em medicina felina. 2 2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO A Clínica Veterinária Mania de Gato foi fundada em 09 (nove) de março de 2001, sendo a segunda clínica exclusiva em atendimento de gatos do Brasil e a primeira do sul do Brasil, sendo comandada pela sua idealizadora, a Médica Veterinária Marúcia de Andrade Cruz, atuando há 10 (dez) anos. Localizada na Avenida Manoel Ribas, número 1125, bairro Mercês, cidade de Curitiba, estado do Paraná (FIGURA 01); a clínica funciona de segunda a sexta das 08h30min às 18h30min e aos sábados das 09h00min às 16h00min. FIGURA 01 – FACHADA DA CLÍNICA VETERINÁRIA MANIA DE GATO A estrutura física conta com uma recepção, uma sala de espera, cat shop, uma sala de banho, dois consultórios, um centro cirúrgico e um internamento. Anexo à clínica, uma área de hospedagem, cozinha, lavanderia, um canil, um depósito para produtos veterinários e estacionamento próprio. Todas as janelas da clínica possuem telas para maior segurança aos pacientes, evitando fugas. Na recepção (FIGURA 02) é realizado o cadastramento dos pacientes para o atendimento clínico. 3 FIGURA 02 – RECEPÇÃO E CAT SHOP No cat shop (FIGURAS 02) são vendidos medicamentos, rações e uma variedade de produtos para gatos. Os consultórios (FIGURAS 03) são equipados com os materiais necessários para realização de exame físico completo, as janelas são teladas e cada espaço destinado para os atendimentos não possui prateleiras ou possíveis “esconderijos”, evitando-se assim possíveis dificuldades de manejo com o paciente durante a consulta. FIGURA 03 – CONSULTÓRIO 4 O internamento (FIGURA 04) possui capacidade para alojar oito pacientes, sendo que para facilitar e assegurar o correto tratamento de cada paciente internado este espaço dispõe de um quadro com os horários das medicações e alimentações FIGURA 04 – INTERNAMENTO A clínica dispõe de um centro cirúrgico (FIGURA 05) e de uma área de pós operatório (FIGURA 06). FIGURA 05 – CENTRO CIRÚRGICO 5 FIGURA 06 – ÁREA DE PÓS OPERATÓRIO. A sala para banho e tosa (FIGURA 07) é equipada com uma banheira, uma mesa e três gaiolas. Além dos banhos de rotinas são realizados também os banhos de tratamento com xampús específicos. FIGURA 07 – SALA PARA BANHO A clínica ainda possui serviço de hospedagem possuindo onze gaiolas, em espaço independente da estrutura da clínica. 6 2.1. CORPO CLÍNICO E DEMAIS FUNCIONÁRIOS O corpo clínico é composto de três médicas veterinárias, Marúcia de Andrade Cruz, Patrícia Yukiko Montaño e Vanessa Bley Bonato; responsável administrativo e equipe de apoio. Alguns serviços especializados são terceirizados por profissionais autônomos que vêm à clínica quando necessários. São eles, Priscila Joaquim Matsunaga que atua na área de odontologia, Cássia Lanza e Lourenço R. Malucelli que realizam as anestesias, Ana Letícia G. de Souza com a área de oftalmologia e a Fernanda DeMarchi que realiza os exames ultrassonográficos. As amostras cito/histopatológicas são encaminhadas para laboratórios especializados. 7 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS No estágio curricular, a acadêmica teve a oportunidade de acompanhar diversas atividades, tais como auxílio nos atendimentos emergenciais, na realização de cirurgias, acompanhamento de consultas, colheitas de material biológico para realização de exames laboratoriais, interpretação de exames complementares, realização de prescrições e acompanhamento da evolução dos quadros clínicos, acompanhamento de pacientes internados (FIGURA 08), além de participar das discussões de casos clínicos. FIGURA 08 – PROCEDIMENTOS EM PACIENTES INTERNADOS. A. ALIMENTAÇÃO FORÇADA VIA ORAL COM SERINGA. B. ADMINISTRAÇÃO DE INSULINA SC Fonte: BONATO, 2010 Os pacientes internados eram identificados com crachás em seus gatis, contendo informações necessárias à respeito de sua suspeita clínica e procedimentos a serem realizados (FIGURA 09). 8 FIGURA 09 – GATIL IDENTIFICADO Durante a consulta, geralmente o paciente permanecia na caixa de transporte durante a anamnese, com a opção de saída voluntária, e era retirado apenas para exame físico, realizado na mesa de exame ou na balança após ser pesado. Se este fosse muito agitado, poderia circular pelo consultório com a porta trancada durante toda a consulta. A contenção deveria ser realizada segurando calmamente o paciente, de maneira silenciosa para que ele não se sentisse ameaçado evitando estresse. Os atendimentos acompanhados durante o estágio curricular podem ser visualizados conforme os quadros a seguir. Com relação ao sexo dos pacientes o percentual maior foi de machos (GRÁFICO 01). 9 GRÁFICO 01 – PERCENTUAL DO SEXO DOS PACIENTES ACOMPANHADOS 37% Feminino Masculino 63% Fonte: MANIA DE GATO, 2010. No quadro 01 observamos as enfermidades acompanhadas. QUADRO 01 – ENFERMIDADES ACOMPANHADAS DURANTE ESTÁGIO CURRICULAR NO PERÍODO DE 02 DE AGOSTO A 15 DE OUTUBRO DE 2010. ENFERMIDADES ACOMPANHADAS Cardíacas Dermatológicas Endócrinas Gastroentéricas Hepáticas Infecto-contagiosas Neoplásicas Neurológicas Oftálmicas Respiratórias Urinárias Torácicas Intoxicações Odontológicas Traumas TOTAL Fonte: MANIA DE GATO, 2010. Nº 2 26 3 12 4 5 8 2 4 7 12 2 2 6 3 98 10 Observou-se, que durante o período analisado, houve uma maior casuística de enfermidades dermatológicas, gastroentéricas e urinárias. Com relação às intervenções cirúrgicas (QUADRO 02), foram acompanhadas um total de 24, dentre elas a ovariosalpingohisterectomia e orquiectomia foram as mais realizadas. QUADRO 02 – INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS ACOMPANHADAS DURANTE ESTÁGIO CURRICULAR NO PERÍODO DE 02 DE AGOSTO A 15 DE OUTUBRO DE 2010. INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS Biópsia gastrointestinal Caudectomia Enterotomia Flap de 3ª pálpebra Imbricamento tibial Mastectomia bilateral Orquiectomia Ovariosalpingohisterectomia TOTAL No 3 1 1 1 2 1 5 10 24 Fonte: MANIA DE GATO, 2010. As imunoprofilaxias eram realizadas de acordo com o protocolo da AAFP (American Association of Feline Practitioners) (NORSWORTHY, 2006), com a aplicação de vacina contra raiva no membro posterior direito e quádrupla no membro pélvico esquerdo, o mais distal possível, pela via subcutânea, pois a injúria deste procedimento pode ocasionar desenvolvimento de fibrossarcoma local e a indicação terapêutica para este tipo de neoplasia seria a excisão com margens de segurança do local afetado, e a amputação do membro é mais eficiente do que realizar esta manobra cirúrgica em região cervical dorsal. Já a everminação era de acordo o estilo de vida e habitação do paciente; se o mesmo tinha acesso à rua era everminado de quatro em quatro meses, mas se morasse em apartamento era de seis em seis meses. As imunoprofilaxias e everminações realizadas podem ser observadas no quadro 03. 11 QUADRO 03 – PROCEDIMENTOS IMUNOPROFILÁTICOS E DE EVERMINAÇÕES PROCEDIMENTOS Nº Everminações Imunoprofilaxias TOTAL 48 55 103 Fonte: MANIA DE GATO, 2010. O número de exames laboratoriais e de imagem acompanhados durante o período de estágio curricular pode ser observado no quadro 04. QUADRO 04 – NÚMERO DE EXAMES LABORATORIAIS E DE IMAGEM ENCAMINHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR EXAMES Hemograma Bioquímico Coproparasitológico Urinálise Ultrassonográfico Radiográfico Ecocardiográfico Cito/Histopatológico TOTAL Fonte: MANIA DE GATO, 2010. Nº 44 45 4 16 8 2 2 3 124 12 4. DESCRIÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS 4.1. DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA (DII) 4.1.1. Etiopatogenia Quando tratamos de DII, referimo-nos a um grupo de afecções GI crônicas e idiopáticas, determinadas pela presença de infiltrados difusos de células inflamatórias na mucosa do trato GI. Trata-se de uma síndrome caracterizada pela resposta exacerbada e descontrolada do trato digestório a uma estimulação antigênica normal, e deve ser diferenciada do processo inflamatório normal em consequência à exposição excessiva a antígenos. Sugere-se que seja resultante de uma resposta imunológica citopática, devido a um desafio antigênico crônico (JUNIOR, 2003). A DII é mais comum em gatos de meia-idade a idosos, com a média de 8 anos de idade e uma variação de 5 meses a 20 anos. Não há predileção sexual ou racial descrita, embora alguns estudos sugiram que os machos são mais afetados (CRYSTAL, 2006). Ainda não se elucidou uma etiologia definitiva para a DII crônica, portanto, é considerada como um processo de origem não determinado (JUNIOR, 2003). Segundo Crystal (2006) as teorias sobre as causas potenciais incluem doença imunomediada, defeitos de permeabilidade GI, intolerância ou alergia dietética, influência genética, influência psicológica e doença infecciosa. E de acordo com Junior (2003) os fatores predisponentes da DII incluem infecções bacterianas (Campylobacter sp.), quadros parasitários (Giardia sp.), neoplasias (linfoma), e quadros alérgicos ou de intolerância alimentar sitiados no trato GI, bem como, pancreatite, colangio-hepatite e hipertireoidismo. A resposta a esses estímulos antigênicos ocorre mediante um influxo de células inflamatórias (linfócitos, plasmócitos, macrófagos, neutrófilos ou eosinófilos) na mucosa, cuja gravidade e extensão podem variar consideravelmente, o que explica as diferentes manifestações clínicas. As camadas musculares e serosa não apresentam envolvimento significante, na maioria das vezes (JUNIOR, 2003). 13 Pesquisadores identificaram um desequilíbrio no perfil normal de citocinas em pacientes afetados com DII e especulam que este desequilíbrio pode contribuir com a patologia da mesma. A motilidade intestinal seria afetada por doença inflamatória, uma vez que citocinas liberadas dos imunócitos poderiam alterar a função neural ou do músculo liso entérico, resultando em motilidade anormal (KRECIC, 2001). Há fortes indícios de que seja uma afecção mediada pelo próprio sistema imune, que se torna o mediador e perpetuador dos danos teciduais observados nesses pacientes. Essa afirmativa tem como base a falta de detecção de agentes infecciosos na etiologia desses processos, bem como, uma boa resposta terapêutica às drogas antiinflamatórias e imunossupressoras (JUNIOR, 2003). Segundo Junior (2003) os processos inflamatórios situados nas alças tornamse permanentes através da perda de integridade da mucosa, com consequente alteração de permeabilidade, o que permite que microrganismos da própria microbiota entérica e antígenos (proteínas da dieta) adentrem a lâmina própria, estimulando e intensificando as respostas imunes já iniciadas. O Grupo de Padronização Gastrintestinal da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais definiu a síndrome clínica da DII como: sinais GI persistentes (> 3 semanas de duração), respostas incompletas aos ensaios dietéticos ou terapêuticas empíricas de rotina, incapacidade de encontrar outras causas para a inflamação do trato GI, lesões histológicas de inflamação da mucosa, e responsividade geral à intervenção imunoterapêutica (CRYSTAL, 2006). 4.1.2. Classificação De acordo com Crystal (2006) as DII são classificadas de acordo com o tipo de infiltrado celular inflamatório na parede intestinal. O tipo mais comum é a gastrenterite e/ou a colite linfocítico-plasmocítica. Outras formas menos comuns de DII incluem gastrenterite e/ou colite eosinofílica, granulomatosa, supurativa (neutrofílica) e histiocítica. O segundo tipo mais importante de DII em gatos é a enterite eosinofílica. Nestes animais, as células inflamatórias localizadas dentro da lâmina própria do intestino são os eosinófilos. Especula-se que isso pode ser resultado de reação imunológica a parasitas ou a dieta. A síndrome hipereosinofílica é uma enfermidade rara em gatos, e designa uma situação hematológica inespecífica que se caracteriza 14 por eosinofilia acentuada persistente. Essa condição sangüínea acarreta em doença sistêmica concomitante e está associada a parasitismo, doenças fúngicas, reações de hipersensibilidade e neoplasias (FIGHERA, 2004). É necessária confirmação histopatológica para diferenciá-las. A histopatologia também se presta a determinar a gravidade das lesões através da intensidade do infiltrado celular; tipo de epitélio do segmento envolvido; arquitetura de vilosidades, criptas e glândulas; além de outras alterações inflamatórias observadas no tecido (QUADRO 05) (JUNIOR, 2003). QUADRO 05 – SISTEMA PROPOSTO PARA CLASSIFICAÇÃO DA DII Gravidade da DII Lesão histológica Leve Moderada Grave Infiltrado celular x x x Imaturidade epitelial x x Necrose epitelial focal x x Necrose epitelial multifocal x Distorção da arquitetura* x *Denota a presença de atrofia de vilosidades ou glandular, edema da mucosa e/ou fibrose da lâmina própria significativos. Fonte: ETTINGER, 2004 4.1.3. Sinais Clínicos Segundo Crystal (2006) a DII pode apresentar uma variedade de sinais clínicos, sendo o mais comum o vômito intermitente crônico, outros sinais observados incluem perda de peso, anorexia e diarréia. Apesar de alguns pacientes apresentarem início súbito dos sinais físicos, os quadros eméticos são normalmente intermitentes, com evolução de semanas, meses ou anos, sendo frequentemente tratados como reações gástricas à ingestão de pelos. Porém, na medida em que o quadro progride, a frequência dos episódios aumenta e outras manifestações clínicas passam a ser notadas. Ressalta-se que não há correlação entre vômito e o momento da ingestão de alimento e/ou água. Hematêmese pode ser observada quando houver lesões ulcerativas em estômago e/ou duodeno (JUNIOR, 2003). Em havendo comprometimento do cólon, a hematoquezia, tenesmo, presença de material sólido e muco nas fezes são sinais frequentes. Outros sinais ainda 15 podem ser observados como flatulência, borborigmos, halitose, poliúria, polidpsia e mudanças de comportamento como excitação, agressividade, ansiedade e defecação em locais não usuais (JUNIOR, 2003). De acordo com Crystal (2006), no exame físico as alças intestinais podem estar palpavelmente espessadas. Segundo Junior (2003) a diarréia ocorre, frequentemente, em fases mais tardias da doença, podendo manifestar-se de forma aguda ou crônica, sendo a última intermitente ou intratável. As características das fezes são normalmente de processos sediados no ID, podendo variar de macias a aquosas, podendo haver esteatorréia. Indivíduos que apresentam processos crônicos normalmente manifestam diarréia em associação a eventos de estresse como a introdução de novo contactante, acasalamento, cio, mudança de lar, entre outros. A razão pela qual a diarréia não é o sinal mais consistente em gatos com DII provavelmente está relacionada com a habilidade do mesmo em conservar água nos rins e cólon. O que produz a diarréia é o excesso de água nas fezes, e gatos são marcadamente capazes de conservar essa água (WILLARD, 1999). O apetite nesses pacientes é bem variável. Pode não haver nenhum tipo de alteração, porém, extremos podem ser observados, como anorexia ou polifagia (JUNIOR, 2003). Quando se observa, num mesmo paciente, a concomitância de polifagia, perda de peso e diarréia, primeiramente deve-se realizar o diagnóstico diferencial entre DII, hipertireoidismo e insuficiência pancreática exócrina, sendo esse último pouco frequente em felinos (JUNIOR, 2003). Segundo Ettinger (2004), gatos com síndrome hipereosinofílica podem manifestar mal-estar, diarréia sanguinolenta, tosse e anormalidades dermatológicas. O exame físico, na maioria das vezes, não nos traz grandes informações. Normalmente, evidencia-se perda de peso do paciente, em virtude das alterações absortivas, redução na ingestão de alimento, intensa exsudação entérica. Nos casos mais graves, alças intestinais espessadas e firmes podem ser palpadas, muitas vezes apresentando sensibilidade variável. Não raramente há conteúdo líquido no intestino. Linfadenopatia mesentérica é um achado ocasional (JUNIOR, 2003). 16 4.1.4. Diagnóstico O diagnóstico de DII é de exclusão, havendo necessidade de se fazer o diagnóstico diferencial (QUADRO 06). Para tanto, faz-se necessário realizar alguns exames laboratoriais como hemograma, perfil bioquímico, dosagens de hormônio tireoideano, urinálise, coproparasitológico, coprofuncional e citologia fecal (JUNIOR, 2003). QUADRO 06 – DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS PARA FELINOS COM HISTÓRICO DE DIARRÉIA, ÊMESE, PERDA CRÔNICA DE PESO OU ANOREXIA. Nematóides: Ancylostomma sp., Physaloptera sp., Ascaris sp., Coccidias: Cryptospondium sp., Coccidia sp. Protozoários: Toxoplasma sp., Giardia sp. Bacterianas: Helicobacter sp., Campylobacter sp., Salmonella Infecções sp., Clostridium sp., Escherichia coli Fúngicas: Histoplasma sp. Virais: VLF, VIF e PIF Alterações Hipertireoidismo, hipoadrenocorticismo, hepatopatias, nefropatias, pancreatite Distúrbios Intolerância à dieta (sem competente imunológico), hipersensibilidade alimentar (base imunológica) Neoplasias Linfomas, adenocarcinomas, mastocitomas, fibrossarcomas, leiomiossarcomas, leiomiomas Outros Supercrescimento bacteriano, quadros obstrutivos, alterações funcionais nas alças intestinais, colite idiopática, insuficiência pancreática exócrina, tricobezoares Fonte: JUNIOR, 2003. Parasitismo Em geral, os pacientes acometidos não apresentam alterações significativas nos exames de rotina. Pode haver anemia discreta associada ou não à leucocitose sem desvio à esquerda, o que sugere processo inflamatório crônico ativo; ou ainda, leucograma de estresse (JUNIOR, 2003). De acordo com Crystal (2006) devido à inflamação periportal e/ou lesão hepática, devido ao efluxo inflamatório proveniente do trato GI e/ou pancreatite concorrente a aminotransferase atividade sérica (ALT), aspartato das enzimas hepáticas aminotransferase (AST), como alanina gamaglutamil transferase (GGT) e fosfatase alcalina (FA) pode estar elevadas. De acordo com Junior (2003) pacientes apresentando quadros catabólicos crônicos, em decorrência 17 de hiporexia ou anorexia prolongada, devem ser avaliados quanto à possibilidade de lipidose hepática secundária. Os dados laboratoriais irão auxiliar na exclusão de alguns diagnósticos diferencias; por exemplo, diabetes melito, é comum observar hiperglicemia, glicosúria e densidade urinária baixa; doença hepática, hiperbilirrubinemia, redução da uréia, aumento da atividade sérica das enzimas hepáticas e bilirrubinúria; doença renal, nitrogênio urêico plasmático e creatinina elevadas e densidade urinária baixa; e hipertireoidismo, tiroxina total, ALT e/ou FA elevadas, leve aumento no hematócrito e densidade urinária baixa (CRYSTAL, 2006). Segundo Junior (2003) pode haver hipoproteinemia (raramente ocorre em felinos), sugerindo maior gravidade do quadro, sendo ocasionada pelo déficit nutricional do paciente, alterações absortivas ou perdas através de pontos de hemorragia e/ou exsudação. Hiperproteinemia é observada em pacientes que apresentam aumento da fração das globulinas em decorrência de infecção pelo vírus da peritonite felina (PIF) ou devido ao processo inflamatório crônico existente. Um exame coproparasitológico deve ser realizado para a exclusão da presença de possíveis parasitas como já foi citado no Quadro 06. As amostras fecais podem ser submetidas para cultura de Salmonella e Campylobacter e teste de sensibilidade, nos gatos com diarréia. As amostras devem ser submetidas em meio especial (meio de selenito ou tetrationato), pois os altos números de bactérias entéricas normais presentes nas fezes tendem a crescer excessivamente e mascarar o crescimento da Salmonella e do Campylobacter (CRYSTAL, 2006). Segundo Junior (2003), naqueles casos em que as alterações na dieta, programas de eliminação de parasitas e tratamentos antimicrobianos não tenham sido bem-sucedidos para solucionar os quadros eméticos, a DII crônica deve ser fortemente considerada. A ultrassonografia é uma técnica de imagem que tem se mostrado bastante útil para detectar várias alterações em felinos com DII (JUNIOR, 2003). A aparência ultrassonográfica das doenças inflamatórias gastrointestinais varia com o tipo, duração e extensão do processo. O espessamento da parede GI é o achado sonográfico mais frequente. O estudo da distribuição, simetria, extensão e arquitetura das camadas parietais nas lesões é um critério útil na diferenciação entre processos inflamatórios e neoplásicos (FROES, 2004). 18 A inflamação tem sido caracterizada por um espessamento mais extenso, com a estratificação das camadas parietais preservadas, ou seja, as camadas apresentam-se bem diferenciadas, com nítido predomínio da visibilização da camada submucosa. Nas neoplasias o espessamento tende a ser localizado, com marcante perda da estratificação das camadas (FROES, 2004). Nas enterites, a grande importância e indicação do exame sonográfico esta na exclusão dos processos neoplásicos, uma vez que os sinais clínicos nas duas enfermidades são muitos semelhantes. As enterites inflamatórias, como as enterites linfocíticas-plasmocíticas, caracterizam-se sonograficamente por espessamento leve (4 a 5mm) e muitas vezes difuso. Quando só alguns segmentos estão afetados, apresentam-se com hipomotilidade, rígidos e com uma pequena dilatação fluida ou alimentar. Pode ocorrer evidenciação da camada submucosa decorrente da fibrose (FIGURA 10) (FROES, 2004). FIGURA 10 – IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DE SEGMENTO INTESTINAL IRREGULAR, ASSOCIADO À EVIDENCIAÇÃO DAS CAMADAS DA PAREDE – ENTERITE LINFOCÍTICA PLASMOCITÁRIA EM UM FELINO. Fonte: FROES (2004) 19 De acordo com Froes (2004), deve-se considerar a importância de se realizar o exame ultrassonográfico em gatos de meia-idade com histórico de hiporexia, vômitos e/ou diarréia crônicos; sendo o objetivo principal do exame nesses pacientes não é evidenciar as alterações sonográficas de processos inflamatórios gastroentéricos e sim descartar os processos neoplásicos. O diagnóstico definitivo só pode ser determinado por meio de exames histopatológicos e/ou citológicos de fragmentos intestinais obtidos por biópsia. As biópsias podem ser coletadas por meio de endoscopia, laparotomia exploratória ou, no caso de espessamento intestinal focal ou difuso maior do que 2 a 3cm guiadas por ultrassom. A histopatologia pode revelar DII, linfoma alimentar, Cryptosporidium e/ou gastrite por Helicobacter. O linfoma alimentar só pode ser diferenciado da DII por meio de biópsia e histopatologia, porque os sinais clínicos são idênticos (CRYSTAL, 2006). Segundo Wilson (2008) é importante ressaltar que os fragmentos de biópsia devem ser colhidos, preferencialmente, por laparotomia exploratória, pois tal método permite a colheita de todas as camadas do órgão envolvido. Os outros métodos de colheita de biópsia, como endoscopia e/ou guiado por ultrassom não são capazes de coletar todas as camadas, sendo que o linfoma pode estar presente em qualquer camada intestinal. As alterações encontradas no exame histopatológico são: número aumentado de células inflamatórias na lâmina própria, número aumentado de linfócitos intraepiteliais, estrutura alterada da mucosa como fusões das vilosidades ou atrofia, edema e fibrose. A submucosa não é freqüentemente afetada nesta patologia, exceto em casos agressivos como enterites eosinofílica e granulomatosa (KRECIC, 2001). Numa segunda instância ocorrem alterações locais e sistêmicas como as referidas nos Quadro 07. 20 QUADRO 07 – COMPARAÇÃO ANATOMOPATOLÓGICA ENTRE ENTERITES LINFOCÍTICAS E LINFOMAS INTESTINAIS. Enterite Linfocítica Linfoma Intestinal Lesões Macroscópicas Espessamento de alças Envolvimento de outros órgãos *NDN ou + NDN NDN ou + NDN ou + Características histológicas População celular Infiltração na lâmina própria Infiltrados na sub-mucosa Infiltrados na muscular Infiltrados na serosa Envolvimento de outros órgãos Heterogênea NDN ou + NDN ou + NDN NDN NDN Homogênea NDN ou + NDN ou + NDN ou + NDN ou + NDN ou + *NDN = nada digno de nota Fonte: JUNIOR, 2003. Segundo Crystal (2006) as radiografias contrastadas de trato GI raramente são úteis para o diagnóstico das doenças GI crônicas. Elas consomem bastante tempo, são difíceis de serem realizadas e interpretadas e raramente revelam um diagnóstico. Mesmo quando existem lesões, a biópsia GI e a histopatologia são necessárias para um diagnóstico. E de acordo com Junior (2003) os achados radiográficos não são específicos para DII, são de valia para descartar processos obstrutivos e alterações na motilidade. Todos os diagnósticos diferenciais devem ser excluídos antes de se fazer um diagnóstico de DII. Muitas outras doenças são semelhantes clinicamente à DII e, pelo fato do trato GI responder aos insultos de diversas causas por meio das células inflamatórias, uma biópsia sem a exclusão de outros diagnósticos diferenciais não constitui um diagnóstico de DII. Para fazer um diagnóstico de DII, todos os diagnósticos diferenciais devem ser excluídos e as células inflamatórias devem ser observadas no interior da mucosa do trato GI, por meio do exame histopatológico das biópsias. Outras alterações histopatológicas, por exemplo, atrofia ou fusão das vilosidades, separação das criptas com edema, fibrose ou necrose da mucosa, achatamento epitelial, vasos linfáticos dilatados; ajudam a apoiar o diagnóstico de DII (CRYSTAL, 2006). 21 4.1.5. Tratamento A terapêutica da DII crônica inclui o controle dietético, a suplementação com fibras e a administração de drogas antiinflamatórias e imunossupressoras. É de suma importância que o manejo clínico do paciente seja esquematizado individualmente, com base na correlação entre os sinais clínicos apresentados, achados laboratoriais, alterações histológicas, resposta à terapia escolhida, bem como gravidade e variedade dos efeitos colaterais das drogas, aceitabilidade das mesmas pelo paciente, cooperação do proprietário e custos gerais do tratamento (JUNIOR, 2003). Deve-se evitar embasar o tratamento numa única modalidade, ou seja, para maximizar a resposta clínica do paciente devemos associar à terapia farmacológica com a mudança da dieta, pois desta forma, minimizamos a ação do sistema imune sobre o trato digestório, e concomitantemente reduzimos sua exposição a antígenos, interrompendo a amplificação e a sequência da doença inflamatória. A grande maioria dos felinos apresenta uma boa resposta terapêutica a esse sinergismo, e uma vez em remissão, a doença pode ser controlada através da dieta, o que faz com que o tratamento de manutenção seja de suma importância (JUNIOR, 2003). O manejo dietético é bastante benéfico. Animais com quadros de enterite requerem dietas hipoalergências ou de eliminação. Tendo em vista, além da oferta de nutrientes, reduzir a carga de alérgenos no alimento (componentes nutricionais e/ou aditivos), a fim de minimizar a estimulação antigênica nas alças já inflamadas (JUNIOR, 2003). A dieta é uma parte crítica da terapêutica em todas as formas de DII. Deve ser instituída uma dieta altamente digerível, facilmente assimilável e reduzida em conteúdo de gordura. As dietas à base de uma fonte de proteínas diferentes ou parcialmente hidrolizadas e a inclusão de fibras fermentáveis (frutooligossacarídeos) também podem trazer beneficio para alguns pacientes (CRYSTAL, 2006). De acordo com Junior (2003) dietas caseiras de eliminação podem ser constituídas de carne de carneiro, cabrito, coelho ou frango, queijo cottage, arroz, batata e/ou macarrão, com adição de óleo vegetal, vitaminas de complexo B, vitamina K, fosfato dicálcico e taurina (200 a 500mg por refeição). Caso se mantenha o paciente sob dieta caseira, a mesma deve ser formulada pelo veterinário. 22 A suplementação com ácidos graxos ômega-3 é benéfica, pois tais ácidos graxos possuem efeitos antiinflamatórios sobre o trato GI (CRYSTAL, 2006). Nos casos de colite, os gatos apresentam boa resposta terapêutica à administração de fibras insolúveis. O papel das fibras na dieta é a normalização da motilidade. Caso o paciente rejeite rações com alto teor de fibras, pode-se administrar uma dieta hipoalergênica com suplementação de Psyllium, na dose de duas colheres de chá por refeição, ou ainda farelo de aveia na dose de uma colher de sobremesa por refeição (JUNIOR, 2003). Segundo Crystal (2006) abóbora enlatada também pode ser fonte de fibra, administrada por VO com o alimento, na quantidade de 1 a 2 colheres de chá a cada 12 a 24 horas. A chave para o manejo alimentar é a flexibilidade e persistência, já que, às vezes, várias dietas tenham sido testadas. O paciente deve ser submetido a uma dieta específica, sem a oferta de qualquer outro item alimentar, por um período mínimo de seis a nove semanas, para se verificar os resultados. Devido ao alto custo das formulações comerciais, os proprietários preferem adotar a dieta caseira, porém, na maioria das vezes, estas possuem um balanceamento desfavorável sendo incompletas nutricionalmente (JUNIOR, 2003). Os principais fármacos utilizados atualmente são os salicilatos, os corticosteróides e os antibióticos com efeito antiinflamatório, como metronidazol e tilosina. Nas enterites ou enterocolites plasmocitárias, linfocitárias ou eosinofílicas com intenso infiltrado celular, por vezes torna-se necessária a associação de fármacos imunossupressores, como a azatioprina, em combinação com os corticosteróides e antibióticos (ANDRADE, 2008). O manejo do paciente com DII e as combinações de fármacos a serem empregadas, assim como suas dosagens, devem sempre ser individualizados de acordo com a gravidade da doença e dos sinais clínicos, a tolerância do paciente e a resposta ao tratamento (ANDRADE, 2008). A prednisolona ou prednisona tem sido o fármaco de eleição no tratamento inicial da DII. Em doses antiinflamatórias, os corticosteróides reduzem o infiltrado inflamatório acentuado associado à diminuição da concentração sérica de proteínas (enteropatia com perda de proteínas), a prednisolona deve ser usada em doses imunossupressoras. Gatos que não respondem adequadamente a doses crescentes da prednisolona podem ser tratados com dexametasona na dose de 0,3 a 23 0,5mg/kg/dia por VO. O acetato de metilprednisolona na dosagem de 20mg/gato SC ou IM pode ser usado em gatos a cada 15 a 30 dias como terapêutica de manutenção ou quando o proprietário não consegue medicar o animal de maneira adequada; porém, não é uma boa alternativa como terapêutica única em animais com grave inflamação (ANDRADE, 2008). A budesonida, um corticosteróide administrado por VO e fracamente absorvido, pode ser usado na dose de 1mg/gato a cada 12 a 24 horas, porém existem apenas relatos informais sobre a eficácia deste em pacientes felinos, sendo necessários estudos adicionais para determinar a eficácia da dose (CRYSTAL, 2006). De forma geral, os corticosteróides diminuem a exsudação que resulta em perda de proteínas para o lúmen intestinal e melhoram a circulação e absorção nos enterócitos, diminuindo essas perdas. Além disso, tendem a melhorar o apetite do paciente e fazer com que ele se sinta melhor. Os corticosteróides devem sempre ser usados com cautela, buscando-se a menor dose eficaz e a associação com outros fármacos que permitam o controle dos sinais clínicos por longos períodos com menor risco ao paciente (ANDRADE, 2008). Segundo Junior (2003), há de se fazer algumas ressalvas quanto à corticoterapia. Apesar dos bons resultados observados, não se recomenda sua instituição previamente à biópsia, uma vez que pode vir a conduzir o clínico a alguns erros de abordagem. O primeiro deles se refere ao fato de que os linfomas alimentares são sensíveis aos corticosteróides, e iniciando sua administração precocemente, podemos determinar uma resistência tumoral a uma das principais drogas envolvidas em seu protocolo terapêutico. Preparações de mesalamina são os medicamentos de escolha para a colite linfocítico-plasmocitária. Estes agentes liberam ácido 5-aminosalicílico no cólon, onde ocorrem efeitos antiinflamatórios locais. Iniciar a sulfasalazina na dose de 15mg/kg, VO a cada 24h, durante 3 semanas. Em seguida, reduzir a dose para 7,5mg/kg, VO a cada 24h, durante 1 mês e, depois suspender a medicação se a remissão clínica ocorrer. Se os sinais clínicos recorrerem após a interrupção do tratamento, deve-se manter o gato na menor dose eficaz durante 2 meses e tentar suspender a terapêutica novamente. Alternativamente, a preparação de olsalazina pode ser usada na dose de 5-10mg/kg a cada 24h, sendo a duração e redução iguais às da sulfasalazina (CRYSTAL, 2006). 24 De acordo com Andrade (2008), os gatos usualmente toleram e respondem bem ao tratamento com corticosteróides, sendo o uso da mesalazina nessa espécie reservado aos casos refratários. Segundo Junior (2003), os derivados do ácido acetilsalicílico, como sulfasalazina ou mesalazina apresentam efeito antiinflamatório bastante potente, em decorrência da inibição dos leucotrienos, com a vantagem de serem específicos para afecções sitiadas no intestino grosso, por sua degradação exclusiva pela microbiota local. No entanto, os animais podem apresentar sinais de intoxicação pelo salicilato. Há indicação de seu uso terapêutico quando houver intenso infiltrado neutrofílico no exame histopatológico ou quando todas as outras possibilidades terapêuticas tenham fracassado. Os efeitos colaterais mais comumente observados são anorexia, vômito, anemia e ceratoconjuntivite seca. Agentes imunossupressores podem ser úteis nos casos refratários de DII. Podem ser usadas as seguintes medicações: clorambucila, na dose de 2mg/m² ou 0,01 a 0,2mg/kg, VO, a cada 48h; azatioprina, 0,3mg/kg, VO, a cada 48h; ou ciclofosfamida, 50mg/m², VO durante 4 dias e suspender durante 3 dias. Tais medicações devem ser usadas durante 4 a 6 meses, quando então são reduzidas em 25 a 50% por mais 2 a 4 meses. A contagem de neutrófilos deve ser semanalmente monitorada durante o primeiro mês de tratamento e, depois desse período, a cada 2 a 4 semanas, enquanto o gato estiver em tratamento. A terapêutica deve ser suspensa ou reduzida se a contagem de neutrófilos estiver abaixo de 3.000/µL (CRYSTAL, 2006). A terapêutica com metronidazol, juntamente com os protocolos descritos anteriormente, pode auxiliar no manejo da DII, como resultado de seus efeitos antimicrobianos. Descreveu-se também que o metronidazol inibe a imunidade mediada por células, embora este fato não tenha sido demonstrado em gatos. A dose é de 10 a 20mg/kg, VO, a cada 12h durante 2 a 3 semanas. A terapêutica com agente único utilizando o metronidazol pode ser eficaz nos casos brandos de DII (CRYSTAL, 2006). Trabalhos realizados comprovam a indicação de metronidazol para pacientes infectados pelo VLF e/ou VIF em que a corticoterapia é contra-indicada. O proprietário deve ser alertado de que a sialorréia é um evento comumente observado à administração dessa droga em felinos, em decorrência de seu gosto metálico (JUNIOR, 2003). 25 De acordo com Junior (2003), animais cujo diagnóstico envolva a presença de espiroquetas (Campylobacter sp. ou Helicobacter sp.), devem ser submetidos ao tratamento triplo específico com amoxicilina, na dosagem de 20mg/kg, a cada 12h; metronidazol, na dosagem de 10 a 20mg/kg, a cada 12h; e sucralfato. Segundo Andrade (2008), se indica o subsalicilato ou citrato de bismuto como adjuvante no tratamento das infecções por Helicobacter sp.. Aqueles pacientes que apresentam quadros eméticos requerem administração de metoclopramida, na dosagem de 0,3 a 0,5mg/kg, a cada 8 a 12h, porém pode causar sonolência (JUNIOR, 2003). A maioria dos gatos com DII responsiva demonstra sinais de melhora clínica dentro de uma semana do início do tratamento (CRYSTAL, 2006). 4.1.6. Prognóstico O prognóstico desse grupo nosológico é bastante variável, apresentando baixas taxas de mortalidade, e altas taxas de morbidade. Em geral, há uma boa resposta às terapias instituídas, com controle dos processos em 80% dos casos (JUNIOR, 2003). Com a terapêutica dietética e medicamentosa adequada, a DII linfocíticoplasmocitária frequentemente é controlável, mas raramente curável. O envolvimento pancreático e/ou hepático simultâneo e significativo pode levar a um prognóstico menos favorável. A colite linfocítico-plasmocitária geralmente é controlada com a terapêutica dietética isolada. De forma diferente da doença dos cães, a enterocolite eosinofílica em gatos é agressiva e tem uma natureza quase neoplásica, em geral infiltrando-se em outros órgãos, inclusive medula óssea (CRYSTAL, 2006). O proprietário deve ser notificado de que a resposta terapêutica não significa cura do animal. Normalmente, obtém-se um bom controle do quadro mórbido, porém com grande possibilidade de recidiva (JUNIOR, 2003). Pacientes imunodeprimidos podem apresentar complicações e agravamento do estado geral em decorrência do tratamento farmacológico. Deve-se sempre ponderar com o proprietário todos os riscos envolvidos para esses animais (JUNIOR, 2003). Segundo Junior (2003), em geral, como a maior parte dos felinos com DII apresenta infiltrados linfocitários, o prognóstico é bom quanto à melhora da 26 qualidade de vida, uma vez que o paciente seja periodicamente reavaliado pelo clínico e o proprietário seja cooperativo. 4.1.7. Casos Clínicos Observados em Estágio Curricular 4.1.7.1. Caso Sassy Paciente: Sassy Espécie: Felina Raça: SRD Sexo: Feminino Idade: 13 anos 4.1.7.1.1. Anamnese No dia 16 de setembro de 2010 a paciente foi levada à clínica com queixa de emagrecimento, vômito, diarréia, polidipsia e apetite seletivo. Já havia sido tratada anteriormente em outro local para suspeita de pancreatite com cefovecina sódica (Convenia®). Neste período as fezes melhoraram, mas eventualmente voltavam a ser pastosas. A perda de peso foi continua apesar do tratamento. Os profissionais do outro local realizaram a dosagem de T4 (Tiroxina) que revelou aumento deste hormônio circulante, confirmando a suspeita de hipertireoidismo; desde então está sendo tratada com tiamazol (Tapazol®), na dosagem de 2,5mg/gato, VO SID. No momento da consulta no local de estágio foram entregues exames recentemente realizados, os quais demonstravam dosagem hormonal de T4 dentro dos limites normais, de 4,02µg/dL, sendo os valores de referência de 1,5 a 4 µg/dL. Segundo o responsável quando o tratamento para hipertireoidismo é suspenso o quadro de diarréia piora. A paciente coabita com mais sete gatos, todos saudáveis, em um apartamento em Blumenau, Santa Catarina. A responsável ainda relata que administrava diariamente ômega 3 e ômega 6 VO SID e eventualmente Cobavital® (cobamamida e cloridrato de ciproeptadina), na dosagem de 2mg/gato VO SID, havendo uma melhora do apetite da paciente. 27 A paciente recebia alimentação comercial Royal Canin Sensible®, Royal Canin Renal® e Royal Canin Intestinal®. 4.1.7.1.2. Exame Físico Ao exame físico foi observado que a paciente estava magra (2,8kg), mucosas hipocoradas, desidratação de 5%, tireóide levemente aumentada de tamanho e leve espessamento intestinal na palpação abdominal. 4.1.7.1.3. Exames Complementares Colhido amostra de sangue para hemograma, ALT, FA, uréia, creatinina, glicemia, proteínas totais e frações; os quais não apresentaram alterações significativas. O exame coproparasitológico não demonstrou a presença de parasitas. No exame ultrassonográfico foi possível visualizar o espessamento da camada submucosa do estômago e intestino. Realizado biópsia GI por laparotomia exploratória mesoabdominal (FIGURA 11), sendo colhidos fragmentos de estômago, duodeno e fígado para exames cito/histopatológicos. 28 FIGURA 11 – FRAGMENTO INTESTINAL COLHIDO POR LAPAROTOMIA EXPLORATÓRIA MESOABDOMINAL 4.1.7.1.4. Diagnóstico Nos exames cito/histopatológicos foi possível observar no fragmento de estômago a presença de Helicobacter sp., infiltrado inflamatório monomorfonuclear discreto. Não foi evidenciada presença de infiltração ou transformação neoplásica; sendo assim obtendo como diagnóstico gastrite crônica leve. Na amostra de intestino foi observada intensa infiltração por linfócitos, plasmócitos e neutrófilos; não houve evidenciação de células com sinais de atipia; concluindo-se então gastroenterite linfocitária. Esta amostra intestinal foi fracionada e encaminhada para análise imunohistoquímica em outro estado (São Paulo), porém este resultado será fornecido dentro de seis meses. 4.1.7.1.5. Tratamento A paciente foi mantida em fluidoterapia IV com solução de Ringer com Lactato na dosagem de 60mL/kg/24h, durante o período que permaneceu na clínica (7 dias). 29 Após a laparotomia exploratória mesoabdominal foram administradas as seguintes medicações: - Cloridrato de tramadol (Tramal®), na dosagem de 1mg/kg SC BID; - Amoxicilina + ácido clavulânico (Clavacillin®), na dosagem de 22mg/kg SC BID; - Cloridrato de ranitidina, na dosagem de 2,5mg/kg SC BID. Após ser liberada para casa foram prescritas as seguintes medicações: - Amoxicilina + clavulanato de potássio (Synulox®), na dosagem de 22mg/kg VO BID por 5 dias; - Metronidazol 40mg/mL (Flagyl®), na dosagem de 10mg/kg VO BID por 5 dias; - Suplemento vitamínico, mineral, aminoácido (Nutrifull®) 1mL VO BID por 30 dias; - Ração comercial a/d ® (Hill’s) durante os 3 primeiros dias; - Ração comercial Royal Canin Hypoallergenic® ou Royal Canin Intestinal®. Após os resultados dos exames cito/histopatológicos foram administradas as seguintes medicações: - Omeprazol, na dosagem de 0,7mg/kg VO BID por 10 dias; - Acetato de metilprednisolona (Depo-medrol® 40mg/mL), na dose de 20mg/gato sendo administrado 0,5mL IM a cada 21 dias; - Subcitrato de bismuto (Pepto Bismol®), na dosagem de 1mL/Kg VO por 15 dias; - Budesonida na dose de 1mg/gato, sendo administrada 1 cápsula VO SID por tempo indeterminado. Além de todo protocolo descrito acima foi oferecido à paciente carne de coelho com arroz, pois a mesma não estava comendo muito bem as rações prescritas. 4.1.7.1.6. Prognóstico Devido a idade desta paciente o prognóstico torna-se reservado, apesar de ter havido melhora parcial dos episódios de diarréia durante o período acompanhado no estágio. 30 4.1.7.2. Caso Lugh Paciente: Lugh Espécie: Felina Raça: Persa Sexo: Masculino Idade: 7 anos 4.1.7.2.1. Anamnese A responsável relata que o paciente apresenta quadros de diarréia, êmese e apatia. O paciente já havia sido tratado, há algum tempo atrás, para giardíase com furazolidona 4mg/kg VO BID durante 10 dias, obtendo melhora. 4.1.7.2.2. Exame Físico Ao exame físico foi observado mucosas normocoradas, normohidratação e durante a palpação abdominal detectado espessamento intestinal e desconforto em região epigástrica. 4.1.7.2.3. Exames Complementares Colhida amostra de sangue para exames laboratoriais (hemograma, ALT, FA, creatinina, uréia e proteínas totais e frações) que não apresentaram alterações significativas. No exame coproparasitológico não foi visualizado presença de parasitas. Realizado exame ultrassonográfico que identificou espessamento de todas as porções do intestino (FIGURA 12). A parede das alças intestinais mediu entre 0,45 e 0,6cm. 31 FIGURA 12 – IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DAS ALÇAS INTESTINAIS DEMONSTRANDO ESPESSAMENTO Fonte: HOSPITAL VETERINÁRIO CLINIVET (2010) Realizada biópsia GI por laparotomia exploratória mesoabdominal, sendo colhidos fragmentos de IG e um de ID e enviadas para análise cito/histopatológica. 4.1.7.2.4. Diagnóstico Na avaliação cito/histopatológica das amostras foi possível visualizar intenso infiltrado inflamatório no epitélio intestinal. O infiltrado inflamatório era composto principalmente por linfócitos e plasmócitos, além de neutrófilos e eosinófilos. Também foi possível visualizar proliferação de tecido conjuntivo fibroso, caracterizando fibrose. Não houve alterações patológicas em submucosa e camadas musculares e nem evidenciados sinais de transformação neoplásica. Concluindo-se enterite crônica ativa com eosinófilos. 32 4.1.7.2.5. Tratamento Após a laparotomia exploratória mesoabdominal foi administrado cloridrato de tramadol (Tramal®), na dosagem de 1mg/kg por via SC BID e cetoprofeno (Ketofen®), na dosagem de 1mg/kg por via SC SID. Foram prescritas as seguintes medicações: - Metronidazol (Flagyl® 40mg/mL), na dosagem de 10mg/kg VO SID por 10 dias; - Amoxicilina + clavulanato de potássio, na dosagem de 22mg/kg VO BID por 10 dias; - Ração comercial a/d ® (Hill’s) durante os quatro primeiros dias; - Ração comercial Royal Canin Intestinal® ou Royal Canin Hypoallergenic®. Após os resultados dos exames cito/histopatológicos foi estabelecida a corticoterapia com acetato de metilprednisolona (Depo-medrol® 40mg/mL), na dose de 20mg/gato, sendo administrado 0,5mL por via IM a cada 21 dias. 4.1.7.2.6. Prognóstico Neste paciente o prognóstico torna-se bom, pois apesar de se tratar de uma enterite eosinofílica, a melhora clínica foi atingida apenas com a corticoterapia. 4.1.7.3. Discussão dos Casos Clínicos Segundo Crystal (2006) a DII é mais comum em gatos de meia-idade a idosos; sendo que os pacientes descritos acima se encaixam nessa faixa etária de risco. Há alguns relatos que mostram que os machos são mais acometidos, porém fêmeas também podem ser acometidas, não havendo predileção racial, podendo acometer gatos sem raça definida (SRD) e persas. De acordo com Crystal (2006) as teorias sobre as causas potenciais incluem pancreatite e hipertireoidismo, que podem ter desencadeado a DII na paciente Sassy. Os fatores predisponentes da DII incluem quadros parasitários como giardíase. O paciente Lugh apresentou tal quadro anteriormente, foi tratado da giardíase; mas as fezes continuam amolecidas mesmo com a ausência do parasita. 33 De acordo com alguns autores (FIGHERA, 2004) especula-se que a enterite com presença de eosinófilos pode ser resultado de reação imunológica a parasitas. De acordo com a Crystal (2006) a enterocolite eosinofílica em gatos é agressiva e tem uma natureza quase neoplásica, em geral infiltrando-se em outros órgãos, inclusive medula óssea; porém no caso Lugh até o presente momento não havia sinais de tal complicação. Segundo Junior (2003) a diarréia ocorre, frequentemente, em fases mais tardias da doença, podendo manifestar-se de forma crônica, sendo intermitente ou intratável. As características das fezes são normalmente de processos sediados no ID, podendo ser aquosas. Ambos pacientes apresentaram quadros de diarréia. De acordo com Crystal (2006), no exame físico as alças intestinais podem estar palpavelmente espessadas, sendo que foi possível detectar tal espessamento ao exame clínico destes pacientes. Segundo Wilson (2008) é importante ressaltar que os fragmentos de biópsia devem ser colhidos, preferencialmente, por laparotomia exploratória, para se obter um diagnóstico mais acurado, e excluir alguns diagnósticos diferenciais como linfoma. Nos exames complementares do caso Sassy foi detectada a presença de Helicobacter sp., e de acordo com Junior (2003), quando há a presença dessa espiroqueta torna-se necessária a administração de metronidazol e/ou subsalicilato ou citrato de bismuto, que estava presente no protocolo desta paciente. A prednisolona ou prednisona tem sido o fármaco de eleição no tratamento da DII, estando presente nos protocolos destes pacientes. Crystal (2006) relata que a suplementação com ácidos graxos ômega-3 é benéfica, pois tais ácidos graxos possuem efeitos antiinflamatórios sobre o trato GI, mas no caso Sassy não houve melhoras com tal suplementação. Apesar de existirem apenas relatos informais sobre a eficácia da administração de budesonida em pacientes felinos, tal terapia foi implementada no caso Sassy havendo melhora do quadro de diarréia. A terapia dietética é de suma importância no tratamento da DII, podendo ser prescritas rações comerciais altamente digeríveis e com proteína hidrolisada, porém se o paciente recusar tais rações pode ser oferecida dieta caseira incluindo fonte protéica que o paciente ainda não tenha entrado em contato. Para a paciente Sassy 34 além das rações comercias Royal Canin Hypoallergenic® e Royal Canin Intestinal®, também foi oferecida carne de coelho com arroz. O paciente Lugh não apresentou anorexia, estava comendo ração comercial Royal Canin Fit 32®, mas esta foi substituída pela ração comercial Royal Canin Hypoallergenic®, melhorando a consistência das fezes. Não foi necessária a oferta de outro tipo de alimento, pois o paciente come super bem a nova ração prescrita. De acordo com Junior (2003) os pacientes com DII responsiva demonstram sinais de melhora clínica após uma semana de tratamento, sendo a paciente Sassy após uma semana de tratamento já ganhou peso e a frequência de episódios de diarréia diminuíram. 4.2. LINFOMA ALIMENTAR FELINO 4.2.1. Etiologia e Epidemiologia Linfoma ou linfossarcoma é uma proliferação neoplásica de linfócitos; originando-se do tecido linfóide, podendo envolver qualquer órgão ou tecido. Existem quatro formas de linfoma, sendo classificadas anatomicamente em: Multicêntrica, caracterizada por linfadenopatia generalizada e envolvimento hepático, esplênico ou da medula óssea, ou pela combinação destes; Mediastinal, caracterizada por linfadenopatia mediastinal com ou sem infiltração da medula óssea; Alimentar, caracterizada por infiltração solitária, difusa ou multifocal do trato gastrointestinal, com ou sem linfadenopatia intraabdominal; e Extranodal, acometendo qualquer órgão ou tecido, como renal, neural, ocular e/ou cutâneo. O linfoma é a neoplasia mais comum no gato, representando um terço de todas as neoplasias felinas e 90% de todas as neoplasias hematopoiéticas. Não há predileção por raças ou sexo, embora haja relatos que mostram é mais comum em machos. A forma anatômica mais comum de linfoma é a forma alimentar, seguidas pelas formas mediastínicas e a multicêntrica (Crystal, 2006). Segundo Birchard (2008), muito ainda se acredita que o linfoma esteja relacionado com o Vírus da Leucemia Felina (VLF), embora alguns relatos recentes tenham demonstrado que apenas 25% dos casos de gatos com linfoma são positivos para VLF. Antes de 1985, a maior parte dos gatos com linfoma era 35 antigenicamente positiva para VLF. Desde então com a vacina e teste para VLF; os gatos positivos representam a minoria dos casos do linfoma. Hoje em dia o fato de os proprietários de gatos terem mais consciência das possíveis doenças que seus bichanos podem adquirir nas ruas o acesso à mesma é muito mais restrito quando comparado há anos atrás; colaborando para o decréscimo do percentual de gatos positivos para VLF e/ou VIF (Vírus da Imunodeficiência Felina). De acordo com David (2008), gatos antigenicamente positivos para VLF tendem a manifestar o linfoma em idade mais jovem, de 3 a 5 anos, já os gatos negativos para o VLF em média dos 7 aos 10 anos de idade. Segundo Kitchell (2008), o linfoma alimentar é bem comum em gatos idosos. O papel do Vírus da Imunodeficiência Felina (VIF) na patogenia do linfoma felino ainda é desconhecido, embora se tenha comprovado que os gatos positivos para o VIF parecem apresentar maior risco de desenvolvimento de linfoma (NELSON e COUTO, 2001). De acordo com Crystal (2006), a exposição à fumaça de tabaco no ambiente domiciliar aumenta o risco relativo de desenvolvimento de linfoma em gatos, comparado com os animais que vivem em domicílios de não fumantes (2,6% de aumento com qualquer exposição à fumaça de tabaco e 4,3% de aumento com a exposição à fumaça durante cinco anos ou mais). Segundo Wilson (2008), o linfoma alimentar geralmente envolve intestino delgado, estômago, linfonodos mesentéricos e fígado, porém outros órgãos como boca, esôfago e pâncreas também podem estar envolvidos. 4.2.2. Sinais Clínicos Geralmente os pacientes acometidos apresentam sinais gastrointestinais como vômito, diarréia, anorexia e perda de peso. Ocasionalmente, sinais compatíveis com obstrução intestinal ou peritonite (provocada por ruptura da massa linfomatosa) ocorrem. O exame físico nesses pacientes tipicamente revela massas intraabdominais (p.ex., linfonodos mesentéricos aumentados de volume ou massa intestinais) e alças intestinais espessadas (em pacientes com linfoma difuso do ID). Ocasionalmente, massas linfomatóides polipóides projetam-se pelo ânus em gatos com linfoma colorretal. Anormalidades extraabdominais como linfadenopatia 36 periférica são achados inconsistentes em gatos com linfoma alimentar (NELSON e COUTO, 2001). As anormalidades hematológicas comuns incluem anemia, leucocitose, neutrofilia (com ou sem desvio à esquerda), monocitose, presença de células linfóides anormais no sangue periférico, trombocitopenia, citopenias isoladas ou combinadas e reações leucoeritroblásticas, entre outras. A linfocitose é rara em gatos com linfoma (NELSON e COUTO, 2001). As anormalidades da bioquímica sérica não são muito comuns em gatos com linfoma (NELSON e COUTO, 2001). A hiperproteinemia é outra anormalidade paraneoplásica rara, geralmente é secundária à produção de proteína monoclonal pelas células do linfoma e pode resultar em síndromes de hiperviscosidade. Ocasionalmente ocorre hipercalcemia paraneoplásica, mas ela não é nem especifica nem sensível para o linfoma (NELSON e COUTO 2001). 4.2.3. Síndromes Paraneoplásicas As síndromes paraneoplásicas constituem sinais e sintomas presentes nos pacientes com câncer, distantes do tumor primário e de suas metástases, e que não são causados por invasão, obstrução ou efeito da neoplasia. Representam um conjunto de manifestações extremamente complexas, podendo envolver vários sistemas do organismo (DALEK, 2009). Segundo Dhaliwall (2003, citado por ARAUIJO, 2009), as síndromes paraneoplásicas mais comumente descrita em associação com o linfoma em pequenos animais incluem hipercalcemia, anemia normocítica normocrômica arregenerativa, anemia hemolítica, gamopatia monoclonal, trombocitopenia, neuropatia, miastenia gravis e caquexia cancerosa. Os pacientes com linfoma podem desenvolver anemia de leve à moderada, decorrente da liberação de fatores neoplásicos que deprimem a eritropoiese. De acordo com Vail (2007), a anemia é uma condição comum ao linfoma e pelo menos 50% dos gatos apresentam anemia não regenerativa moderada a severa. Para Lipp (2008, citado por ARAUIJO, 2009), a anemia é uma das alterações mais frequentemente associadas ao linfoma, geralmente é do tipo normocítica 37 normocrômica arregenerativa; contudo, ainda não foi encontrada uma causa clara dessa anormalidade. A trombocitopenia não é muito comum em gatos, geralmente esta relacionada a uma diminuição na produção plaquetária secundária a uma invasão direta na medula óssea e uma capacidade diminuída da medula de produzir megacariócitos. Segundo Vail (2007), trombocitopenia tem sido descrita em 20% dos gatos com linfoma. 4.2.4. Diagnóstico Em gatos com linfoma alimentar, as anormalidades são raramente detectadas em radiografias abdominais simples (menos de 50%). Quando presentes são variáveis e incluem principalmente hepatomegalia, esplenomegalia e massas no mesoabdome (NELSON e COUTO 2001). O exame ultrassonográfico é a modalidade diagnóstica de imagem mais eficiente e menos invasiva na detecção de tumores gastrointestinais em pequenos animais. Ele permite perfeita avaliação da parede gástrica e intestinal, classifica a extensão da lesão (focal, multifocal ou difusa); permite avaliar os demais órgãos da cavidade abdominal, na procura de metástases e na identificação de linfoadenomegalia, e seleciona o método de biópsia mais adequado para o paciente em questão (ecodirigida, endoscópica ou cirúrgica) (FROES, 2004). A ultrassonografia em escala cinza fornece uma ferramenta inestimável de avaliação do linfoma intraabdominal. As alterações na ecogenicidade de órgãos parenquimatosos como fígado, baço e rins são detectadas nesta técnica e geralmente refletem alterações na textura orgânica secundarias a infiltração neoplásica. Além disso, estruturas linfóides ou órgãos aumentados de volume podem ser facilmente identificados, assim como a presença de massas hipo ou hiperecóicas em TGI (NELSON e COUTO, 2001). As principais características ultrassonográficas de processos neoplásicos, em estômago e intestino, estão relacionadas com o espessamento da parede em diferentes graus, focal ou difuso, muitas vezes irregular, e com a perda da integridade das camadas da arquitetura da parede. Não é possível, somente pelo exame sonográfico, determinar o tipo histológico da neoplasia (FROES, 2004). 38 Os linfomas gástricos apresentam-se, em sua maioria, como espessamento uniforme, difuso e hipoecóico. A espessura da parede do estômago dos felinos com linfoma pode variar de 5 a 22mm. Os achados sonográficos de linfoma intestinal são: os espessamentos transmurais, com perda de definição de camadas, ecogenicidade reduzida, diminuição localizada da motilidade e adenomegalia mesentérica regional (FROES, 2004). Segundo Froes (2004) a neoplasia gástrica ou intestinal que afeta a parede intestinal de forma difusa geralmente é linfoma. De acordo com Carvalho (2004) os linfonodos metastáticos tendem a apresentar aéreas císticas decorrente de hemorragia e necrose tecidual, o que é traduzido, no exame sonográfico, como uma imagem de ecotextura heterogênea (FIGURA 13). Outro parâmetro de malignidade é a própria forma do linfonodo, que passaria do formato oval ou achatado normal para uma forma arredondada. É importante também determinar a extensão da lesão detectando a infiltração do processo nos tecidos adjacentes como músculos, paredes vasculares e tecidos subcutâneos. O linfoma caracteriza-se pelo envolvimento de várias cadeias de linfonodos (FIGURA 14). FIGURA 13 – LINFONODO SUBLOMBAR COM TAMANHO AUMENTADO, FORMATO ARREDONDADO, HIPOECÓICO, HETEROGÊNEO E DE ASPECTO RENDILHADO – LINFOMA Fonte: CARVALHO (2004) 39 FIGURA 14 – LINFONODOMEGALIA MESENTÉRICA – COALESCÊNCIA DE LINFONODOS REGIONAIS (LINFOMA EM GATO) Fonte: CARVALHO (2004) A avaliação histopatológica de espécimes de biopsia intestinal é o método diagnóstico mais confiável. Se forem obtidas amostras de biopsia por endoscopia, amostras pequenas ou não suficientemente profundas podem gerar confusão diagnóstica, sugerindo o diagnóstico de Enterite Linfocítico – Plasmocitária (ELP) em vez de linfoma. Ocasionalmente, linfócitos neoplásicos são encontrados somente na camada serosa e espécimes de biopsia cirúrgica de espessura plena são necessários. Pode ser impossível distinguir linfoma linfocítico extremamente bem diferenciado de ELP, mesmo com amostras múltiplas de biopsia de espessura plena. Neste caso o diagnóstico depende do achado de linfócitos em órgãos nos quais eles não podem ser encontrados (p.ex. fígado) ou de realização de colorações imunohistoquímicas para determinar se a população linfóide é monoclonal. (NELSON e COUTO, 2001). O linfoma é uma neoplasia maligna, podendo apresentar características cito/histopatológicas como anisocariose, índice mitótico elevado, mitoses aberrantes, nucléolos evidentes, pleomorfismo e atipia celular. 40 Uma variedade de diagnósticos diferenciais deve ser considerada quando se avalia um gato com suspeita de linfoma. O clínico deve sempre ter em mente que os linfomas são grandes imitadores e podem mimetizar grande número de distúrbios neoplásicos e não-neoplásicos (NELSON e COUTO, 2001). De acordo com Ettinger (2004) os possíveis diagnósticos diferenciais de linfoma incluem enterite infiltrativa (p.ex. enterites linfocítica ou plasmocítica); neoplasias intestinais não-linfóides; enterite granulomatosa; tumores de células redondas e mastocitoma GI. 4.2.5. Tratamento O linfoma é uma doença de comportamento sistêmico, na maioria dos casos; portanto, a quimioterapia sistêmica é a modalidade de tratamento mais apropriada, sendo o método mais comumente utilizado para esse tipo de neoplasia (DALEK, 2009). O tratamento tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e prolongar o tempo de sobrevida. A quimioterapia combinada permite o extermínio das células neoplásicas por diversos mecanismos. O objetivo é evitar a resistência, ao mesmo tempo em que são minimizados os efeitos colaterais, que ocorreriam com maior facilidade com doses maiores de agentes isolados (CRYSTAL, 2006). Diversos fatores devem ser levados em conta quando se utilizará a quimioterapia em animais com câncer. Fatores ligados ao animal, como tipo de neoplasia, tamanho, localização, número de linfonodos envolvidos, metástase, estado nutricional, idade, função renal, hepática, cardíaca, etc. Fatores ligados ao proprietário, como disponibilidade de cuidar desse paciente e condição financeira, que, na maioria das vezes, é uma terapêutica cara, podendo ser fora da realidade econômica do responsável (proprietário). E fatores ligados aos fármacos antineoplásicos como via de administração, absorção, distribuição, eliminação e efeitos colaterais (ANDRADE, 2008). A quimioterapia antineoplásica é fundamentada em três etapas: indução, manutenção e reindução da remissão ou terapia de resgate. Na fase de indução, cujo objetivo é alcançar a remissão do quadro clinico, as doses são maiores e o intervalo entre as sessões são mais curtos. Após a remissão, durante a fase de manutenção, as doses usadas são menores e o intervalo entre as sessões são maiores. O objetivo nessa fase é manter a remissão clinica da doença. A terapia de 41 resgate é uma tentativa de obter nova remissão com um curso agressivo de quimioterapia (DALEK, 2009). Para Amorim (2006), o tratamento quimioterápico para gatos com linfoma pode ser dividido em quatro fases estratégicas: indução da remissão, intensificação, manutenção e resgate. Se ao final da fase de indução o paciente obteve apenas remissão parcial, é recomendada a intensificação do tratamento antes que se inicie a fase de manutenção. Se o paciente apresentar recidiva, a reindução da remissão, com um dos protocolos de resgate, deve ser implementado. A resposta da doença ao tratamento é monitorada por tamanho do linfonodo ou redução visível na massa tumoral (MORRIS e DOBSON, 2006). A quimioterapia, além de atuar nas células neoplásicas, infelizmente, também atua em células não-neoplásicas com alta divisão celular; por isso leucopenia, trombocitopenia e anemia são reações adversas comuns a grande maioria dos antineoplásicos. Além disso, o extravasamento de alguns antineoplásicos como doxorrubicina e vincristina pode causar necrose tecidual no local do extravazamento. Gatos são mais suscetíveis à anorexia, ao vômito e à supressão medular (ANDRADE, 2008). O monitoramento do paciente antes, durante e após a terapêutica antineoplásica é de extrema importância, podendo ser crucial para o prosseguimento ou interrupção do tratamento. O monitoramento consiste em exames clínicos e complementares, como hemograma e bioquímicos (ANDRADE, 2008). Pelo caráter mielossupressivo dos agentes antineoplásico, deve-se realizar hemograma completo do paciente a cada sessão de quimioterapia, uma vez que leucopenia é um fator limitante do tratamento. Os fármacos quimioterápicos levemente mielossupressivos e que são geralmente mais seguros em contagens baixas de leucócitos e plaquetas incluem prednisona, vincristina e L-asparaginase. Preconiza-se que os pacientes apresentam contagem de leucócitos acima de 2.000/µL e plaquetas acima de 70.000/µL para administração dos antineoplásicos. Caso a contagem dessas células se encontre menor que esses valores, a quimioterapia deve ser interrompida por uma semana e restituída posteriormente, com doses e frequência menores (DALEK, 2009). Antes de iniciar a terapia com drogas, é essencial estabelecer uma linha de parâmetros hematológicos para monitoramento futuro da mielossupressão associada ao tratamento (MORRIS & DOBSON, 2006) 42 Um suporte nutricional é essencial nas primeiras semanas de tratamento para todos os pacientes com linfoma. O manejo nutricional do animal com câncer é fundamental para prevenir ou mesmo tratar a síndrome caquexia induzida pelo câncer. A caquexia do câncer descreve uma síndrome de perda de peso progressiva, involuntária, mesmo na fase de ingestão nutricional adequada. As alterações bioquímicas são anemia, hipoalbuminemia e hipoglicemia. A origem da desnutrição no câncer é multifatorial, advindo de anorexia decorrente de fatores anoréticos produzidos pelo tumor e/ou dor. A própria agressão da terapêutica anticancerosa conduz à anorexia (DAMICO, 2006). Embora a pesquisa que identifica a dieta ótima para gatos portadores de câncer ainda esteja em andamento, aplicam-se alguns princípios gerais. O primeiro é que o paciente deveria receber elementos nutricionais via oral. Quando a alimentação oral não for possível, os tubos alimentares nasogástricos, esofágicos e gástricos são opções viáveis. Quando a alimentação pelo TGI não for possível, a alimentação parenteral é a prática alternativa (ANDRADE, 2008). Se a quimioterapia for pretendida, os corticóides não devem ser iniciados antes das drogas citotóxicas, uma vez que induzem resistência e diminuem significativamente a taxa de resposta e tempo de sobrevida (STELL e DOBSON, 2006). De acordo com Lanore e Delprat (2004), na espécie felina, o tratamento dos linfomas consiste essencialmente no emprego dos protocolos de Cotter ou COP, com utilização dos quimioterápicos ciclofosfamida, vincristina e prednisona; e da doxorrubicina; contudo, em razão da toxicidade em gatos, a ciclofosfamida é retirada do protocolo Cotter, resultando no protocolo OP (QUADRO 08), que é menos mielotóxico. QUADRO 08 – PROTOCOLO OP DROGAS QUIMIOTERÁPICAS Vincristina Prednisona Fonte: LANORE e DELPRAT (2004) DOSE, INTERVALO E VIA DE ADMINISTRAÇAO 0,75mg/m² a cada 7 dias, IV 1mg/kg/dia nos 7 a 28 primeiros dias, depois segue a mesma dose a cada 48h, VO 43 A indução com o protocolo COP ou com o OP apresenta remissão completa em 75% a 80% dos casos, mostrando-se eficiente no tratamento de linfomas felinos. Melhores resultados são obtidos adicionando ao protocolo OP, na manutenção, doxorrubicina na dose de 25mg/m², caracterizando o protocolo OPA, que pode representar o protocolo do futuro pra felinos (LANORE e DELPRAT, 2004). Segundo Dalek (2009), o protocolo COP (QUADRO 09) é bem tolerado pelos gatos. Espera-se que 75% dos animais alcancem remissão completa. QUADRO 09 – PROTOCOLO COP DROGAS QUIMIOTERÁPICAS DOSE, INTERVALO E VIA DE ADMINISTRAÇAO Indução Ciclofosfamida Vincristina Prednisona Manutenção Continuar por um ano 300mg/m² a cada 15 dias, IV ou VO 0,75mg/m² a cada 15 dias, IV 2mg/kg/dia, VO Fonte: DALEK (2009) Deve-se administrar a ciclofosfamida preferencialmente por via IV, uma vez que a administração oral desse fármaco frequentemente promove anorexia na espécie felina. A adição da doxorrubicina (25mg/m²) na manutenção, após alcançar remissão completa com o protocolo COP, contribui para que ocorra aumento da taxa de remissão e do tempo de sobrevida. Deve-se administrar a doxorrubicina a cada 3 semanas, num total de 9 sessões, durante seis meses (DALEK, 2009). De acordo com Dalek (2009), a maioria dos gatos com linfoma alimentar responde bem ao protocolo ACM (QUADRO 10), utilizando-se das drogas vincristina, L-asparaginase, ciclofosfamida, doxorrubicina, prednisona e metotrexato. O protocolo ACM pode ser modificado de maneira que exija um número menor de visitas ao médico veterinário; contudo, as altas doses de prednisona administradas no início do tratamento potencializam o efeito mielossupressivo. 44 QUADRO 10 – PROTOCOLO ACM DROGAS QUIMIOTERÁPICAS DOSE, INTERVALO E VIA DE ADMINISTRAÇAO Indução Vincristina L-asparaginase Prednisona Ciclofosfamida Doxorrubicina Metotrexato Manutenção Repetir o esquema da oitava a décima semana (vincristina e prednisona) a cada duas semanas, durante um ano; depois a cada três semanas, durante seis meses; e finalmente a cada quatro semanas, durante seis meses. Totalizar dois anos de tratamento Fonte: DALEK (2009) 0,025mg/kg a cada 4 semanas, IV 400UI/kg no primeiro dia, IM 5mg/kg/BID, VO 0,025mg/kg a cada 21 dias, começando a partir da semana 2, IV ou VO 20mg/m² nas semanas 4 e 6, IV 0,8mg/kg, IV ou VO O protocolo de Madison-Wisconsin (QUADRO 11) e o protocolo ACM são constituídos pelos mesmos agentes antineoplásicos, sendo que o protocolo de Madison-Wisconsin é ainda mais exigente que o protocolo ACM em relação ao número de visitas ao médico veterinário. 45 QUADRO 11 – PROTOCOLO DE MADISON-WISCONSIN SEMANAS Semana 1 DROGAS, DOSE, INTERVALO E VIA DE ADMINISTRAÇAO Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) L-asparaginase (400 UI/kg, SC) Prednisona (2mg/kg, IV) Semana 2 Ciclofosfamida (200mg/m², IV) Prednisona (2mg/kg/dia, VO) Semana 3 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Prednisona (2mg/kg, IV) Semana 4 Doxorrubicina (24mg/m² ou 1mg/kg, IV) uma vez a cada infusão durante 20 minutos Prednisona (1mg/kg, IV) Semana 6 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Semana 7 Ciclofosfamida (200mg/m², IV) Semana 8 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Semana 9 Doxorrubicina (24mg/m² ou 1mg/kg, IV) uma vez a cada infusão durante 20 minutos Semana 11 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Semana 13 Clorambucil (1,4mg/kg, VO, uma vez) Semana 15 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Semana 17 Metotrexato (0,5 a 0,8mg/kg IV, uma vez) Semana 19 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Semana 21 Clorambucil (1,4mg/kg VO, uma vez) Semana 23 Vincristina (0,5 a 0,7mg/m², IV) Semana 25 Doxorrubicina (24mg/m² ou 1mg/kg, IV) uma vez a cada infusão durante 20 minutos Fonte: UNIVERSIDADE DE MADISON-WISCONSIN O cálculo de superfície corporal para a administração dos agentes quimioterápicos é realizada de acordo com o Quadro 12. 46 QUADRO 12 – CONVERSÃO DE ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL FELINA kg 0,5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 m² 0,063 0,1 0,159 0,208 0,252 0,292 0,33 0,366 0,4 0,433 0,464 0,494 Fonte: NORSWORTHY (2006). O linfoma é considerado como a neoplasia maligna mais responsiva a quimioterapia. A maioria dos gatos com linfoma tem expectativa de vida de seis a nove meses quando tratados com múltiplos agentes quimioterápicos. Aproximadamente 20% dos animais sobrevivem por mais de um ano. A resposta do paciente pode variar desde uma resposta completa (remissão completa), resposta parcial, doença estável ou doença progressiva (LIPP, 2008, citado por ARAUIJO, 2009). De acordo com Morris e Dobson (2006), a resposta da doença é monitorada através do tamanho dos linfonodos e/ou da massa tumoral. Segundo Kitchell (2008), os gatos com linfoma alimentar tem altas taxas de resposta à quimioterapia, sendo que 56% tem remissão completa e 39% tem remissão parcial. A resistência aos agentes quimioterápicos é um grande desafio para o sucesso do tratamento de cânceres. O principal mecanismo conhecido esta relacionado a uma glicoproteína de membrana conhecida como glicoproteína-P. As células que expressam essa proteína, após o primeiro contato com o quimioterápico, apresentam capacidade de expulsá-lo para o meio extracelular. Assim o potencial de ação dos antineoplásicos torna-se bastante reduzido. Por essa razão, a prednisona se administrada anteriormente à quimioterapia, pode causar resistência aos fármacos e diminuir o tempo de sobrevida do paciente (DALEK, 2009). 47 Os custos para o tratamento dependem das drogas escolhidas, na frequência de administração e dos testes laboratoriais necessários. O investimento econômico com o tratamento encontra-se no limite possível para muitos clientes, especialmente com a disponibilidade de marcas genéricas (VAIL, 2007). 4.2.6. Prognóstico Usando-se a maior parte dos protocolos quimioterápicos de combinação, pode-se esperar que aproximadamente 60 a 75% dos gatos com linfoma atinjam remissão, com períodos de sobrevivência médios de cinco a nove meses, dependendo do autor. Animais soropositivos para o VLF o prognóstico é pior, de três a quatro meses de sobrevida. Animais soropositivos para os retrovírus tem prognóstico desfavorável, pois terão períodos de vida menor que a população de gatos em geral, contudo, a resposta ao tratamento é igual aos animais negativos e, por isso, um resultado positivo para do teste do teste para VLF/VIF não deve levar a uma desistência no tratamento (MORRIS e DOBSON, 2006). Cerca de 30 a 35% dos gatos com linfoma e submetidos a quimioterapia apresentam taxas de resposta e tempo de sobrevida prolongados, geralmente maior que um ano (CRYSTAL, 2006). 4.2.7. Casos Clínicos Observados em Estágio Curricular 4.2.7.1. Caso Yellow Paciente: Yellow Espécie: Felina Raça: SRD Sexo: Masculino Idade: 9 anos 48 4.2.7.1.1. Anamnese O paciente Yellow é o mascote da Clínica Veterinária Mania de Gato, habitando na clínica desde 2001, castrado, vacinas e vermífugos em dia e sem acesso à rua. No dia 04 de abril de 2010 foi encaminhado para consulta devido à apatia, anorexia e vômito. 4.2.7.1.2. Exame Físico Ao exame físico apresentou temperatura retal de 40,2ºC, caracterizando febre. À palpação abdominal o paciente demonstrou sensibilidade; além dos outros sinais clínicos descritos acima. 4.2.7.1.3. Exames Complementares Realizada a colheita de sangue para exames laboratoriais ( hemograma completo, ALT, creatinina e proteínas totais e frações), os quais não apresentaram alterações significativas. O paciente foi encaminhado para realização de exame ultrassonográfico que indicou presença de uma estrutura ovalada hipoecóica delimitada, medindo 1,2 x 2 cm, na região abdominal caudal, próximo a alça intestinal, com característica de linfonodo. Notado também aumento da ecogenicidade focal do mesentério desta região, com espessamento discreto da submucosa do segmento intestinal adjacente. Realizada laparotomia exploratória mesoabdominal, sendo colhidas amostras de linfonodo mesentérico, ID, baço e de fragmentos nodulares esbranquiçados encontrados no epíplon para realização de exames cito/histopatológicos. As amostras foram encaminhadas para realização de exames cito/histopatológicos. Durante a laparotomia exploratória foi possível linfonodomegalia mesentérica deste paciente (FIGURA 15). a visualização da 49 FIGURA 15 – LINFONODOMEGALIA MESENTÉRICA Fonte: CRUZ (2010) 4.2.7.1.4. Diagnóstico Nas amostras enviadas para exames cito/histopatológicos foi observado que na amostra de linfonodo a arquitetura tissular estava parcialmente obliterada por infiltração de linfócitos grandes atípicos que exibiram anisocariose, hipercromasia nuclear, membrana nuclear irregular e nucléolos evidentes; o índice mitótico foi baixo, porém observaram-se algumas figuras mitóticas aberrantes. Já na amostra de ID havia infiltração de linfócitos grandes e atípicos em submucosa e camada muscular. De acordo com os sinais clínicos e os exames complementares diagnosticouse Linfoma Alimentar. 4.2.7.1.5. Tratamento Clínico e Cirúrgico Administrado dipirona, na dosagem de 25mg/kg SC sempre que o paciente apresentava febre. 50 Como o paciente ainda apresentava anorexia foi colocada uma sonda esofágica via faringostomia para alimentação forçada. Devido à dificuldade de acesso venoso periférico do paciente, optou-se pela colocação de cateter permanente no acesso venoso jugular, para facilitar o manejo quimioterápico (FIGURA 16). Administrado hematínico (Hemolitan®) 1mL VO BID, como terapia auxiliar hematológica. FIGURA 16 – A. CATETER PERMANENTE DE ACESSO VENOSO. B. ADMINISTRAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICO NO CATETER PERMANENTE. Fonte: CRUZ (2010) 4.2.7.1.6. Tratamento Quimioterápico Iniciado quimioterapia conforme o Protocolo da Universidade de MadisonWisconsin (QUADRO 11) sendo realizado hemogramas semanais prévios a cada ciclo quimioterápico. 4.2.7.1.7. Prognóstico Durante o período de estágio curricular, o paciente apresentou melhora significativa do quadro clínico. Sendo assim, o prognóstico classifica-se como bom. 51 4.2.7.2. Caso Titi Paciente: Titi Espécie: Felina Raça: SRD Sexo: Feminino Idade: 13 anos 4.2.7.2.1. Anamnese A paciente foi levada à clínica devido uma provável intoxicação pela ingestão de presunto. A responsável relata que a paciente apresentava quadro de êmese grave e demonstrava apatia. A paciente havia sido atendida em outra clínica veterinária, onde foi constatada leucocitose, sugerindo processo infeccioso. 4.2.7.2.2. Exame Físico Ao exame físico foi constatada desidratação de 8%, mucosas hipocoradas e sensibilidade abdominal à palpação. 4.2.7.2.3. Exames Complementares Colhido amostra de sangue para a hemograma, ALT, FA, uréia, creatinina e proteínas totais e frações. No exame de bioquímica sérica foi constatado aumento na concentração da enzima ALT, indicando uma concentração de 117UI/L, sendo o limite máximo em felinos é de 80UI/L. O exame coproparasitológico não evidenciou a presença de parasitas. No exame ultrassonográfico foi possível a visualização de linfonomegalia mesentérica e espessamento da camada submucosa intestinal. Realizado biópsia GI por laparotomina exploratória mesoabdominal, sendo collhidos fragmentos de estômago, intestino e fígado. 52 4.2.7.2.4. Diagnóstico Na avaliação histológica do fragmento do intestino foi possível a visualização de intenso infiltrado de linfócitos pequenos em camada muscular e submucosa, além de anisocariose, atipia celular e índice mitótico baixo; concluindo-se linfoma intestinal. 4.2.7.2.5. Tratamento Clínico e Cirúrgico A princípio o tratamento de suporte consistiu em fluidoterapia IV com solução de Ringer com Lactato na dosagem de 60mL/kg/24h e as seguintes medicações: - Amoxicilina + ácido clavulânico (Clavacillin®), na dosagem de 22mg/kg SC BID - Cloridrato de metoclopramida (Plasil®), na dosagem de 0,5mg/kg SC BID - Cloridrato de ranitidina, na dosagem de 2,5mg/kg SC BID Após a laparotomia exploratória foi administrado cloridrato de tramadol (Tramal®), na dosagem de 1mg/kg SC BID e metronidazol, na dosagem de 10mg/kg VO BID, além das outras medicações descritas anteriormente. Devido ao aumento da enzima hepática ALT foi prescrito S-Adenosil-LMetionina (SAMe) 90mg/cáps, sendo administrada 1 cáps VO SID por 30 dias. Devido à anorexia severa foi realizada a colocação de sonda esofágica via faringostomia para alimentação forçada (FIGURA 17). 53 FIGURA 17 – COLOCAÇÃO DE SONDA ESOFÁGICA VIA FARINGOSTOMIA Fonte: BONATO (2009) A terapia dietética consistiu na oferta carne de frango ou fígado de boi misturado a ração comercial Royal Canin Intestinal® Após resultado do exame cito/histopatológico foi indicada a realização da quimioterapia. 4.2.7.2.6. Tratamento Quimioterápico O protocolo escolhido para esta paciente também foi baseado no Protocolo da Universidade de Madison-Winsconsi (QUADRO 11). A paciente apresentou alguns efeitos colaterais durante o tratamento quimioterápico, como episódios de vômito, diarréia e anorexia, alem de anemia normocítica normocrômica severa, sendo necessário a transfusão sanguínea. 4.2.7.2.7. Prognóstico Devido à boa responsividade à quimioterapia e à baixa agressividade histológica apresentada por esta paciente, o prognóstico é bom. 54 4.2.7.3. Caso Careca Paciente: Careca Espécie: Felina Raça: SRD Sexo: Masculino Idade: 14 anos 4.2.7.3.1. Anamnese Paciente SRD, branco, castrado e sem acesso à rua, foi levada à clínica no dia 10 de julho de 2010, com relato do responsável de episódios de vômito e diarréia há aproximadamente dois meses; e emagrecimento. Conforme relatado pelo responsável aalimentação do paciente era carne crua e ração comercial Whiskas®. Já havia sido atendido em outra clínica por mais ou menos dois meses, onde já haviam sido administradas as seguintes medicações: metronidazol, fenbedazole, metoclopramida e ampicilina (não sabiam informar dosagem), sem obtenção de sucesso e nenhum diagnóstico conclusivo. 4.2.7.3.2. Exame Físico Ao exame físico foi constatado emagrecimento, pois estava com 2,8kg. 4.2.7.3.3. Exames Complementares Colhido amostra de sangue para hemograma, creatinina, uréia, ALT e FA, os quais não apresentaram alterações. O exame coproparasitológico não demonstrou a presença de parasitas. Realizado exame ultrassonográfico, que mostrou a presença de uma estrutura arredondada, parenquimatosa com discreta heterogenicidade, medindo em torno de 1,74 x 1,22 cm, em mesoabdome direito, adjacente a seguimento intestinal, além do espessamento de parede intestinal. 55 Realizado biópsia intestinal e de linfonodo mesentérico por laparotomia exploratória mesoabdominal, e enviado o material para análise cito/histopatológica. 4.2.7.3.4. Diagnóstico Na análise cito/histopatológica das amostras foi visualizado em submucosa intestinal intenso infiltrado de linfócitos médios e grandes anaplásicos; células neoplásicas infiltrativas em epitélio; além de anisocariose, atipia celular, nucléolos evidentes e índice mitótico elevado; concluindo-se linfoma intestinal. 4.2.7.3.5. Tratamento Prescrito ração comercial Royal Canin Intestinal®; suplemento nutricional Supre Gatos®, sendo administrado 1cm VO BID e metronidazol (Flagyl®) na dosagem de 10mg/kg VO BID por 10 dias. Após a laparotomia exploratória mesoabdominal foi administrado cloridrato de tramadol (Tramal®) na dosagem de 1mg/kg por via SC BID; e prescrito Synulox® (amoxicilina e clavulanato de potássio) na dosagem de 22mg/kg VO BID por 5 dias, além de alimentação pastosa por 3 dias. Com o resultado do exame cito/histopatológico foi indicada quimioterapia conforme Protocolo de Madison Winsconsin (QUADRO 11) que iniciou na semana seguinte. Na primeira semana de tratamento quimioterápico, foi administrado sulfato de vincristina (Oncovin®) na dosagem de 0,5mg/m² IV e prednisona (Meticorten) na dosagem de 2mg/kg VO SID. Na segunda semana de quimioterapia foi administrado ciclofosfamida (Genuxal®), na dosagem de 200mg/m² SID por 4 dias consecutivos; e prednisona (Meticorten®) na dosagem de 2mg/kg VO SID 30 dias a princípio. 4.2.7.3.6. Prognóstico Mesmo sendo a neoplasia mais responsiva a quimioterapia na medicina felina, neste caso, em se tratando de um paciente idoso e debilitado, e também 56 devido às características histopatológicas indicando um grau bastante agressivo de linfoma o prognóstico era reservado. 4.2.7.4. Discussão dos Casos Clínicos O linfoma é a neoplasia mais comum no gato. Não há predileção por raças, mostrando que gatos SRD podem desenvolver tal neoplasia. Também não há predileção por sexo, embora haja relatos que mostram que os machos são mais acometidos, porém fêmeas também podem ser acometidas. A forma anatômica mais comum de linfoma é a forma alimentar (CRYSTAL, 2006). Segundo Kitchell (2008), o linfoma alimentar é bem comum em gatos idosos, sendo que estes pacientes se encaixam nessa faixa etária de risco. De acordo com David (2008) os gatos negativos para o VLF desenvolvem linfoma a partir dos 7 anos de idade, sendo que estes pacientes além de serem soronegativos para o VLF, tem idade superior a 7 anos. Os sinais clínicos mais comuns são relacionados ao TGI, como vômito, diarréia, anorexia e perda de peso, apresentados por estes pacientes. O exame físico nesses pacientes tipicamente revela massas intraabdominais, como linfonodos mesentéricos aumentados de volume ou massa intestinais; e alças intestinais espessadas, nestes pacientes tais alterações só foram visualizadas no exame ultrassonográfico. Nos casos Yellow e Titi, durante o exame físico foi possível detectar sensibilidade abdominal à palpação. Além da sensibilidade abdominal a paciente Titi estava com as mucosas hipocoradas e desidratação de 8%, provavelmente devido à êmese severa. Para se obter um diagnóstico mais acurado é necessária a realização de exames complementares como coproparasitológico e cito/histopatológico. O exame coproparasitológico consiste na exclusão de diagnósticos diferenciais como parasitismo. O exame cito/histopatológico consiste, basicamente, na diferenciação de DII e linfoma, e para se obter um diagnóstico mais acurado as amostras enviadas à análise devem ser coletadas por meio de laparotomia exploratória mesoabdominal. Nas análises cito/histopatológicas destes pacientes foi possível a visualização de atipia celular e anisocariose; nucléolos evidentes só foram visualizados nos pacientes Yellow e Careca. Nos pacientes Yellow e Titi o índice mitótico foi baixo, já 57 no paciente Careca o índice mitótico foi alto. Somente no paciente Yellow havia presença de mitoses aberrantes. Os pacientes com linfoma podem desenvolver anemia de leve à moderada, decorrente da liberação de fatores neoplásicos que deprimem a eritropoiese, sendo que paciente Yellow ao longo do tratamento teve alguns episódios de anemia leve; e a paciente Titi apresentou um quadro de anemia severa, necessitando ser realizada transfusão sanguínea. O monitoramento do paciente antes, durante e após a terapêutica antineoplásica é de extrema importância, podendo ser crucial para o prosseguimento ou interrupção do tratamento. O monitoramento consiste em exames clínicos e complementares, como hemograma e bioquímicos, sendo que nestes pacientes sempre foi feita a realização de tais exames. A maioria dos gatos com linfoma alimentar responde bem ao protocolo da Universidade de Madison-Winsconsin (QUADRO 11), utilizando-se das drogas vincristina, L-asparaginase, ciclofosfamida, doxorrubicina, prednisona e metotrexato, sendo que os pacientes Yellow e Titi, apesar dos efeitos colaterais apresentados, estão apresentando uma boa resposta à quimioterapia seguindo tal protocolo. No caso do paciente Careca, na primeira semana de quimioterapia era necessária a aplicação de L-asparaginase para iniciar o tratamento quimioterápico, e como não havia disponibilidade de tal fármaco no Brasil no momento necessário optou-se por iniciar a quimioterapia com sulfato de vincristina e prednisona. Na segunda semana foi prescrita ciclofosfamida, porém o paciente apresentou um episódio de diarréia sanguinolenta no período noturno e os proprietários o levaram numa outra clínica que atende 24h, onde foi realizada a eutanásia do paciente. Mesmo sendo uma das neoplasias mais responsivas à quimioterapia, o linfoma tem caráter maligno, e no caso do paciente Careca a agressividade das características histológicas era bastante severa, o paciente tinha idade avançada e apesar da suplementação nutricional o paciente ainda apresentava perda de peso e debilitação. No caso do paciente Yellow, após três meses de tratamento foi realizado exame ultrassonográfico sendo observado leve aumento de linfonodos mesentéricos e estratificação de camadas intestinais preservadas e sem espessamento. No caso Titi, após 15 dias de tratamento quimioterápico foi realizado exame ultrassonográfico, onde visualizou-se a diminuição do espessamento das camadas 58 intestinais. Após cinco meses de tratamento ganhou peso e os episódios de vômito diminuíram. A paciente apresentou acompanhamento desta paciente. ganho de peso gradativo durante o 59 5. CONCLUSÃO O estágio curricular foi de grande importância para a conclusão acadêmica, já que há ampliação dos conhecimentos, principalmente nesta especifica área da clínica de gatos domésticos. Diante do atual contexto da medicina veterinária de pequenos animais, que busca profissionais diferenciados no mercado de trabalho, as especializações são uma tendência para atingir esse objetivo. Assim, a oportunidade de realização de estágio em uma clínica especializada cuja infra-estrutura e casuística permite o acompanhamento intensivo de todos os processos de diagnóstico e tratamento, e o contato com profissionais pioneiros na área, colabora com a formação atualizada e a otimização da inserção do profissional da área no mercado de trabalho. Acredito que essa experiência engrandeceu e agregou conhecimentos ajudando na atividade profissional. Este contato com felinos abre portas para a entrada no mercado de trabalho, pois são poucos os profissionais no mercado nacional que trabalham na clínica médica de felinos. Uma postura profissional frente ao responsável (proprietário), o dia a dia na clínica e o acompanhamento do pós atendimento, só aprendemos quando estamos frente a realidade, o que acontece no período de estágio. 60 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, F.V.; ANDRADE, V.M.; SOUZA, H.J.M; FERREIRA, A.M.R. Linfoma mediastinal em gatos – relato de caso. Clínica Veterinária. Ano XI, n. 63, julho/agosto, 2006. p. 68 – 74 ANDRADE, S.F., Manual de Terapêutica Veterinária. 3ª ed. São Paulo: Roca Ltda., 2008. ARAUIJO, G.G., Linfoma Felino. Novembro, 2009. 45 folhas. Clínica Médica de Felinos – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS, Porto Alergre (RS), Novembro, 2009. “Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/22927. Acesso em 20/10/2010.” BERNIS, B.M.O., Doença Intestinal Inflamatória Felina. 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