GESTÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE AULA 01: CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL TÓPICO 02: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O TRIPÉ DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Conforme conceituado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (2008), DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. COMO SALIENTA NASCIMENTO (2008, P. 21), O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL REQUER: Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo decisório; Um sistema econômico capaz de gerar excedentes e know how técnico em bases confiáveis e constantes; Um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não equilibrado; Um sistema de desenvolvimento; produção que preserve a base ecológica do Um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento; e Um sistema administrativo flexível e capaz de se autocorrigir. Deve-se ressaltar, portanto, que o desenvolvimento sustentável não diz respeito apenas ao impacto da atividade econômica no meio ambiente. Com base na definição do Relatório Brundtland (1987), tema da próxima seção, constata-se que se refere, principalmente, às consequências dessa relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura. Atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé básico no qual se apóia a idéia de desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento sustentável - equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental. FONTE: Nascimento (2008, p. 22). Por sua abrangência, a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável requer, no entanto, a cooperação, concretizada em uma série de ações, entre o setor público e o setor privado. Exige, ainda, um consenso internacional. (NASCIMENTO, 2008). LEITURA COMPLEMENTAR SAIBA MAIS... Para saber mais sobre Desenvolvimento Sustentável, acesse: O que é desenvolvimento sustentável? [1] O RELATÓRIO BRUNDTLAND Gro Harlem Brundtland [2] O Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, produzido em 1987 é conhecido pelo nome de Relatório de Brundtland, pois a Comissão fora presidida pela Primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. A principal recomendação da Primeira-ministra fora a realização de uma conferência mundial para direcionar os assuntos ambientais, o que culminou com a Rio-92. O Relatório de Brundtland destacava três dimensões do desenvolvimento sustentável: proteção ambiental, crescimento econômico e equidade social. Nele, o conceito de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Contudo, esta visão só ganhou força a partir da Conferência Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, quando a sociedade em geral começa a incorporar uma nova noção de desenvolvimento econômico, baseada na garantia da produção de bens e serviços, mas também no atendimento das necessidades fundamentais do ser humano e na preservação do meio ambiente. O Relatório Brundtland, como sintetiza Nascimento (2008, p. 22), estipula uma série de medidas, a serem efetivadas pelos países envolvidos, e metas, a serem alcançadas internacionalmente. Os Estados nacionais devem: 1) Limitar o crescimento populacional; 2) Garantir alimentação em longo prazo; 3) Preservar a biodiversidade e os ecossistemas; 4) Diminuir o consumo de energia e desenvolver de tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; 5) Aumentar a produção industrial nos países não industrializados para a base de tecnologias ecologicamente adaptadas; 6) Controlar a urbanização selvagem e a integração entre campo e cidades menores; e 7) Satisfazer as necessidades básicas. Internacionalmente, as expectativas giram em torno da adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações envolvidas, da proteção dos ecossistemas supranacionais como a Antártica, os oceanos e o espaço, do fim das guerras, e da implementação de um programa de desenvolvimento sustentável, por parte da ONU. Ao incorporar as dimensões econômica, social e ambiental, o conceito de desenvolvimento sustentável, focado na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, preocupa-se, inclusive com os impactos negativos do desenvolvimento industrial, alertando para as questões que precisam ser consideradas na atual agenda de prioridades do planeta Terra, dentre as quais destacam-se(NASCIMENTO, 2008, p.21): QUESTÕES QUE PRECISAM SER CONSIDERADAS PRIORIDADES fonte [3] A deterioração do ambiente natural, A destruição da camada de ozônio, As alterações climáticas, O efeito estufa, O EFEITO ESTUFA Efeito Estufa – é um fenômeno natural que tem a função proteger o planeta do esfriamento demasiado que impediria a vida na Terra. Se não estivesse envolvido pelos gases que o mantém aquecido, nosso planeta estaria congelado. Porém, a emissão de gases tem aumentado a espessura desta camada e isto vem causando um aquecimento demasiado, que ameaça o equilíbrio climático da Terra. O efeito estufa, causado pela poluição atmosférica, dificulta a saída de calor da Terra aumentando a sua temperatura e as consequências do aquecimento global vão desde os buracos na camada de ozônio, chuvas ácidas, até o aumento do nível do mar que coloca em risco regiões litorâneas no mundo inteiro. FONTE: AIE (apud NASCIMENTO, 2008, p. 20). Chuva ácida, a destruição das florestas, A morte dos lagos, A destruição das regiões de montanha, O lixo em excesso, Os desperdícios de toda ordem, A pobreza, A miséria, E a fome. Considerado um marco no debate sobre a interligação entre as questões ambientais e o desenvolvimento, o Relatório Brundtland alerta para a necessidade de as nações unirem-se na busca de alternativas para os rumos do desenvolvimento, a fim de evitar a degradação em nível planetário. Enfatiza que o crescimento econômico, para ser considerado desenvolvimento, deve melhorar a qualidade de vida das pessoas e das sociedades. CONCEITOS E TENDÊNCIAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Na literatura, o tema do desenvolvimento sustentável é tratado tanto em termos macroeconômicos como microeconômicos. Como afirmam Lombardi e Brito (2007), o termo surgiu e tem sido tratado mais fortemente em esfera da economia macroambiental, refletindo preocupações e desafios de nações, governos e instituições. QUANTO À ORIGEM DESTE TEMA, ROMEIRO (2001, P. 7-8) AFIRMA QUE: [...] surgiu com o nome de ecodesenvolvimento no início da década de 70. A autoria do termo não é bem estabelecida, mas existe concordância geral em atribuir a Ignacy Sachs, da Escola de Altos em Ciências Sociais de Paris, uma preeminência nas suas qualificações conceituais. Ele surgiu num contexto de controvérsia sobre as relações entre crescimento econômico e meio ambiente, exacerbada principalmente pela publicação do relatório do Clube de Roma que pregava o crescimento zero como forma de evitar a catástrofe ambiental. No campo da economia do meio ambiente, duas correntes principais podem ser identificadas no trato desta questão, conforme Romeiro (2001): A Economia Ambiental, que compreendendo os recursos naturais como fonte de insumos e como capacidade de assimilação de impactos dos ecossistemas, não considera que estes representam um limite à expansão da economia a longo prazo. OBSERVAÇÃO Esta visão implícita de infinitude dos recursos naturais foi objeto de crítica pioneira por Nicolas Georgescu-Roegen, criador da bioeconomia. Ainda nos anos 1960 e 1970, Georgescu-Roegen, falecido em 1994, chamou atenção para a escassez dos recursos naturais, argumentando que são estes e não o capital ou a mão de obra que são finitos. Em seu artigo de 1975, "Energy and Economic Myths" ("Energia e Mitos Econômicos"), no Southern Economic Journal, 41, nº 3, valendo-se de conceitos da física, como a segunda lei da termodinâmica, argumentava que a tecnologia jamais seria capaz de superar a finitude e o esgotamento inerentes aos recursos naturais. Tendo como foco o conceito de desenvolvimento sustentável e indo além das teóricas clássicas, a Economia Ambiental congrega diversas abordagens econômicas, em uma perspectiva pluralista e interdisciplinar. Seus temas de interesse incluem: A deflorestação; A sobre-exploração dos recursos marinhos; O aquecimento global; O efeito estufa. Sua relação com os recursos naturais apóia-se no princípio da escassez. Nesta visão, são classificados como "bens econômicos" apenas os recursos em situação de escassez, desconsiderando-se aqueles que são abundantes. Apóia-se, também, na noção de "internalização das externalidades", predominando, portanto, a crença de que os recursos naturais devem ser submetidos à lógica de mercado: devem ser PRIVATIZADOS e assim protegidos e devem ter preço. A economia ambiental, ao sobrevalorizar a "internalização das externalidades", tende a eliminar da natureza qualquer valor intrínseco que esta possa ter. Essa sobrevalorização acaba servindo de justificativa para toda e qualquer apropriação abusiva dos recursos naturais, à medida que transforma tudo em mercadoria. A lógica de mercado emerge como solução inevitável para a crise ambiental. (SOUZA-LIMA, 2004, p. 8). EXTERNALIDADES, CONFORME LEISMANN (2009, P. 174-176) EXTERNALIDADES, CONFORME LEISMANN (2009, P. 174-176) As externalidades consistem nos efeitos advindos do comportamento de um agente econômico, que podem ser positivos ou negativos, conformem afetem para melhor ou pior o bem-estar do outro. Podem surgir tanto entre consumidores, entre empresas, ou entre a combinação de ambos. As externalidades negativas são aquelas que ocorrem quando a ação de uma das partes impõe custos sobre a outra. Por exemplo: Imagine um produtor agrícola ou uma agroindústria que despeja água utilizada em seu processo produtivo diretamente do rio, sem tratá-la adequadamente. Essa atitude reduz o custo privado desse produtor na medida em que ele não precisa destinar recursos em filtros e outros processos de tratamento dessa água poluída, possibilitando ao mesmo produzir com custos menores. Porém, essa água poluída afeta outros indivíduos da sociedade que utilizam a água desse mesmo rio, o que caracteriza uma externalidade negativa que o agricultor ou a agroindústria estarão impondo aos pescadores e municípios que necessitam do rio. As externalidades positivas são aquelas que surgem quando a ação de uma das partes beneficia a outra. Por exemplo, ao instalar uma faculdade em uma cidade, surgem oportunidades de negócios no ramo imobiliário, devido a procura pelos estudantes. O empresário da faculdade não tem como cobrar dos que irão aproveitar as oportunidades nesses outros ramos de negócio. Essas oportunidades não existiriam caso não fosse instalada a faculdade. A Economia Ecológica compreende o sistema econômico como um subsistema de um todo maior que o contém, impondo uma restrição à sua expansão. Nesta visão, o aumento da eficiência na utilização dos recursos naturais, renováveis e não renováveis, depende do progresso científico e tecnológico. Nesta lógica, capital e recursos naturais são essencialmente complementares. OLHANDO DE PERTO Nesta visão, para que se compreenda o funcionamento do sistema econômico, faz-se necessário levar em consideração as condições do mundo biofísico, dado que é deste que derivam a energia e as matérias prima para o próprio funcionamento da economia. Portanto, a Economia Ecológica reconhece a importância da conexão entre o sistema econômico e o ambiente natural, distinguindo-se, assim, tanto da "economia convencional" quanto da "ecologia convencional". Trata-se, na verdade, de um campo pluralista e transdisciplinar, por encontrar-se em diversos enfoques; alguns mais próximos da economia, outros mais próximos da ecologia. Apesar de sua heterogeneidade, permanece a crença de que, para o entendimento do funcionamento do sistema econômico e de suas relações com os recursos ambientais, é fundamental a compreensão de seus fluxos e balanços materiais e energéticos, sendo, portanto, de grande relevância os princípios biofísicos, especialmente os princípios termodinâmicos - Lei da Conservação (Primeira Lei da Termodinâmica) e Lei de Entropia (Segunda Lei da Termodinâmica) . Em seu esforço de compatibilizar economia e ecologia, a Economia Ecológica busca identificar em que medida as restrições ambientais podem ou não constituir efetivamente limites ao crescimento econômico. Preocupase, assim, com a sustentabilidade desta interação, questionando a capacidade do ambiente em oferecer recursos naturais para o funcionamento do sistema econômico e em absorver seus rejeitos. A ESTE RESPEITO, CONFORME AMAZONAS (2009, P.1): ... a Economia Ecológica não partilha do ceticismo pessimista alarmista ecológico, que vê tais limites como iminentes e intransponíveis, pois ela reconhece que o progresso tecnológico constantemente naturais pelo substituição de Tampouco a promove a superação de limites aumento de eficiência e pela recursos exauríveis por renováveis. Economia Ecológica partilha do "otimismo tecnológico", o qual entende as restrições naturais como um problema menor, pois estas sempre hão de ser superadas pela tecnologia, pois a Economia Ecológica reconhece que o progresso tecnológico de fato se dá, mas apenas dentro de certos limites fisicamente possíveis. Assim, a Economia Ecológica não adota nenhuma posição a priori quanto a existência ou não de limites ambientais ao crescimento econômico, adotando sim uma posição de "ceticismo prudente", a qual busca justamente delimitar as escalas em que as restrições ambientais podem constituir limites efetivos às atividades econômicas. Nas duas correntes, em termos de convergência, verifica-se a convicção de que é possível instituir uma estrutura regulatória, fundamentadas em incentivos econômicos, capaz de aumentar a eficiência no uso dos recursos naturais. ACERCA DO CONFRONTO DESTAS CORRENTES, SEGUNDO SOUZALIMA (2004, P.1) SINTETIZA: Se a economia ambiental constrói seus argumentos a partir de "leis econômicas", a economia ecológica recorre à natureza – às "leis físicas" da termodinâmica – para dar suporte a seu arcabouço teórico-explicativo das realidades socioeconômica e ambiental. A economia ecológica tenta apresentar-se como contraponto à economia neoclássica-keynesiana ambiental após aproximar os ecossistemas naturais do sistema econômico. Deve-se ressaltar, por fim, que no trato das questões ambientais, apesar dos avanços, as correntes “alternativas” da economia ambiental e da economia ecológica não conseguem, efetivamente, romper o paradigma econômico dominante, uma vez que não superam ou mesmo enfrentam as contradições internas do sistema de produção capitalista. (SOUZA-LIMA, 2004). fonte [4] FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.rio20.gov.br/clientes/rio20/rio20/sobre_a_rio_mais_20/d esenvolvimento-sustentavel.html 2. http://24.media.tumblr.com/tumblr_m5w368bgfe1qig6iso1_400.jpg 3. http://ambientequalvida.blogs.sapo.pt/arquivo/colors.jpg 4. http://maisgeografia.blogspot.com/2008/06/tica-moral-e-cidadaniana-ecologia.html Responsável: Prof. Augusto Cezar de Aquino Cabral Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual