Dezembro de 2010

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Impresso Especial
9912226452/2008-DR/GT
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE
Jornal da
ANAMT
Ano XXIII • Dezembro • 2010
Associação Nacional de Medicina do Trabalho
MEDICINA DO TRABALHO
CORREIOS
www.anamt.org.br
Ergonomia
no ambiente de trabalho
NR-17 completa 20 anos e é tema de discussão entre especialistas
Págs. 6 e 7
Legislação
Artigo
Norma Técnica em
SST é aprovada
pág. 4
Resiliência Médica
A nova ISO 26000
pág. 11
Defesa natural
contra o estresse
pág. 16
mensagem do presidente
Um ano de conquistas
Em 2010, trabalhamos intensamente junto a órgão públicos e entidades parceiras para conquistar avanços importantes
na área de SST. Participando das principais discussões
legislativas e sociais, reafirmamos o papel da Anamt
como referência nacional em saúde dos trabalhadores.
Como premissa fundamental, consolidamos o nosso papel mobilizador em torno de uma agenda política forte
no que tange à Saúde e a Segurança no Trabalho.
A participação da Anamt no V Congresso Brasileiro
de Higiene Ocupacional, realizado em outubro, é um
exemplo do protagonismo exercido por nossa associação. Junto a outras instituições da área de SST, assinamos e aprovamos uma moção que propõe a atualização
da Norma Regulamentar nº 15, fundamental para garantir a saúde e segurança do trabalhador.
Em setembro, estivemos presentes no XV Congreso Nacional de Salud en el Trabajo. No evento, realizado na cidade mexicana Ixtapa Zihuatanejo, tivemos
oportunidade de trocar experiências com profissionais da área de SST provenientes de todas as partes
do mundo.
A partir da participação pró-ativa em encontros internacionais, fomos convidados para auxiliar a Comissão
Organizadora do 30º Congresso da International Commission on Occupational Health (ICOH) na divulgação do
evento, que será realizado em 2012 na cidade de Mon-
Gradualmente, estamos sendo
reconhecidos como ponto de
referência internacional
terrey, no México. Gradualmente, estamos sendo reconhecidos como ponto de referência internacional.
Todas as atividades que desenvolvemos nos últimos
meses se refletem, naturalmente, nesta edição do Jornal
da Anamt. Nas páginas que se seguem, o leitor encontrará um pequeno resumo das preocupações que norteiam nossas atividades, desde o envolvimento com as
discussões do poder legislativo até a atenção às tendências culturais do mercado de trabalho. Como denominador comum a todos os textos, a preocupação de zelar
pela garantia da Saúde e Segurança no ambiente de trabalho brasileiro.
Finalmente, agradeço a todos o excelente trabalho
realizado e exprimo meus votos de que, em 2011, continuemos a avançar em prol da qualidade de vida dos
trabalhadores — nosso maior compromisso.
Jornal da ANAMT
Ano XXIII • Dezembro de 2010
Dr. Carlos Campos
Uma publicação da
Associação Nacional de Medicina do Trabalho
EXPEDIENTE
Presidente Dr. Carlos Campos • Diretora de Divulgação Dra. Marcia Bandini
Produção Editorial Cajá – Agência de Comunicação
Jornalista responsável Bruno Chuairi (Mtb 18.296/84/40V) • Fotos: Hidden/Stock.Xchng (capa), Júlio Palmeirão/Stock.Xchng e Carlos Chavez/ Stock.Xchng (p. 3),
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O Jornal da Anamt é uma publicação trimestral, de circulação nacional, distribuída a seus associados. Os textos assinados não representam necessariamente
a opinião da Anamt, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas
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Jornal da ANAMT
legislação
Projeto de Lei propõe que empresas
de telemarketing realizem audiometria
O projeto de lei nº 7557/10, apresentado pelo deputado federal Edmar Moreira (PR-MG), propõe que os
operadores de telemarketing sejam
obrigados a submeter seus funcionários a exames periódicos de audiometria, e prevê um dia de folga para a
realização do procedimento. O texto
tem sido contestado por pesquisadores e médicos, que afirmam não haver justificativas para a proposta.
O otorrinolaringologista Everardo Costa, membro do Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva pela Associação Brasileira de
Otorrinolaringologia, não acredita
que as condições atuais de trabalho
dos funcionários de telemarketing
possam causar problemas auditivos. Para o médico, as disposições
legais e a qualidade dos equipamentos são o bastante para impedir, em princípio, que exista qualquer tipo de problema auditivo com
os operadores.
Legalmente, o anexo I da Norma
Regulamentar nº 15, publicada pelo
Ministério do Trabalho, define que o
limite de tolerância para ruído con-
Jornal da ANAMT
tínuo e intermitente permitido é de
85 dBA (decibéis) para oito horas de
trabalho. Os níveis equivalentes nos
headphones utilizados no Brasil, por
sua vez, não ultrapassam os 75 dBA.
O Dr. Everardo completa: “À luz da
legislação vigente, esses trabalhadores não estariam obrigados a se
submeter a exames audiométricos
para fins preventivos, já que não estão em risco.”
A concessão de um dia de folga
para a realização do teste também
vai de encontro às leis. Segundo a
portaria nº 19 do Ministério do Trabalho, apenas os exames audiométricos referenciais devem ser feitos
em repouso auditivo prévio de 14
horas. Os subsequentes podem ser
feitos em horário de trabalho.
O Dr. Everardo reforça a ausência
de dados que comprovem a relação
entre o uso contínuo de fones por
teleatendentes e a perda de audição: “A recomendação — e não a
obrigação legal — para que se façam
exames audiométricos em operadores é mais para salvaguarda do que
para prevenção”.
A proposta será analisada em caráter conclusivo pelas comissões da Câmara dos
Deputados e não
precisará ser votada pelo Plenário.
No momento, o
texto está em discussão na Comissão de Seguridade
Social e Família.
Dr. Everardo Costa
afirma que as
disposições legais
vigentes são o
bastante para
proteger a saúde do
trabalhador
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legislação
Melhoria contínua
ABNT aprova Norma Técnica em Saúde e Segurança do Trabalho que
especifica requisitos para implantação de Sistemas de Gestão no setor
Depois de dois anos de trabalho, a norma sobre Gestão
de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) foi aprovada pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O texto,
elaborado com participação ativa da Anamt, tem como finalidade fornecer às organizações os requisitos necessários
para a implantação eficaz de Sistemas de Gestão de SST.
A norma, publicada no dia 1º de dezembro, foi idealizada para ser aplicada por empresas de todos os portes. A
discussão do documento levou em consideração as diferenças culturais entre as regiões e os conhecimentos técnicos relacionados à SST, bem como as dimensões continentais do país.
O Dr. Leonídio Ribeiro, engenheiro de segurança, associado
da Anamt e coordenador da comissão que elaborou o texto,
acredita que a aprovação do projeto é um marco para o setor.
“A norma reforça a posição do nosso país como referência na
área de prevenção de acidentes. O primeiro grande marco
aconteceu em 1972, com a regulamentação do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
(SESMT), que tornou o Brasil o 1º do mundo a ter um serviço
conjunto de SST”, comemora.
Baseada no modelo de sistema de gestão do tipo PEVA –
Planejamento, Execução, Verificação e Ação —, a norma descreve um processo de melhoria contínua. De acordo com as
disposições do documento, “o sucesso do sistema depende do
compromisso de todos os níveis e funções da organização, e especialmente da alta administração”.
O Dr. Leonídio ressalta: “A organização, qualquer que
seja seu tipo ou modelo, não pode se esquivar do fato de
que atua num ambiente altamente competitivo. Por isso, é
fundamental existir internamente uma cultura de SST que
possa melhorar a produtividade e contribuir para uma utilização mais eficaz dos recursos”.
Para mais detalhes, acesse o site www.abntcatalogo.com.br
Regras beneficiam empresas livres de acidentes
Medida estimula investimento na saúde e segurança do trabalhador
A partir de setembro, as 684.650
empresas que não tiveram acidentes
ou concessão de benefício acidentário nos anos de 2007 e 2008 tiveram
a alíquota do seguro acidente reduzida pela metade. A medida estava
prevista na resolução 1.316/2010,
aprovada em maio de 2010 pelo
Conselho Nacional de Previdência
Social (CNPS). A partir de 2011, as
empresas que forem flagradas pela
fiscalização omitindo notificação de
acidente ou doença de trabalho terão a alíquota dobrada.
As novas regras do Fator Acidentário Previdenciário (FAP), elaboradas para incentivar a melhora das
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condições de saúde e segurança do
trabalhador, irão manter o desconto
de 25% para as empresas com aumento na alíquota de contribuição.
A ideia é incentivar o investimento
na proteção dos funcionários. As empresas que apresentarem óbito ou
invalidez permanente não terão direito ao benefício.
Segundo o Ministério da Previdência Social, as empresas tiveram um
aumento na carga tributária por conta
da alíquota do FAP. As estatísticas indicam que houve, entre 2003 e 2010,
um aumento de 200% nos afastamentos classificados como acidente de
trabalho, causando um aumento do
recolhimento do Seguro de Acidentes
de Trabalho (SAT). A média é de mil
mortes e oito mil aposentadorias por
invalidez permanente por ano.
Criado em 2003, o FAP foi reformulado em 2009 pelo CNPS para
que pudesse ser aplicado em 2011.
O objetivo do governo é estimular
o investimento na saúde e segurança do trabalhador. Com a nova
metodologia, serão recalculadas as
alíquotas de tarifação individual de
952.561 empresas. As que apresentarem menor índice de acidente terão descontos nas tarifas. Por outro
lado, aquelas que tiveram aumento
de incidentes pagarão mais.
Jornal da ANAMT
federadas
A qualificação
do ambiente de
trabalho
Há estimativas de que, no mundo, faltem hoje
quatro milhões de profissionais de saúde. Essa é a
trágica realidade das populações de países pobres
e ricos. No Brasil, proclamado emergente e dito autossuficiente, há centenas de municípios e milhares
de brasileiros desassistidos, apesar de dispormos de
mais de 340 mil médicos em atividade.
Predomina nesse contexto a péssima qualidade
do ambiente de trabalho, prejudicando o desempenho e afastando dele os profissionais. Esse é, sem
dúvida, um dos mais graves problemas de saúde do
mundo de hoje. Quais são as intervenções necessárias para qualificar positivamente o ambiente de
trabalho? Reconhecimento profissional, gerenciamento de Recursos Humanos e estruturas de apoio.
Surpreende que, apesar do acúmulo de evidências nesse campo, as autoridades encarregadas de
geri-lo continuem a ignorar as soluções e insistam
em propostas vazias, gastando precioso tempo,
energia e dinheiro público tentando legitimá-las.
Vem delas apenas programas desgastados como
a importação de profissionais do exterior, serviço
social obrigatório, descaracterização do escopo das
profissões e transferência de responsabilidades sem
correspondente qualificação, farta distribuição de
diplomas tentando distribuir profissionais por transbordamento, limitando as alternativas a tangê-los
ao que julgam ser a prioridade do momento...
A lista de despautérios é longa e, infelizmente, não se limita às brevemente citadas acima. Até
quando nos deixaremos assim mal conduzir? Até
quando nossa sociedade tolerará a falta de seriedade e competência no trato de assuntos que lhe
dizem respeito tão de perto?
José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da Associação Médica Brasileira
Jornal da ANAMT
Presidente da Anamt, o Dr. Carlos Campos participou da abertura do evento
ao lado da presidente da federada de Minas Gerais, Dra. Walneia Moreira
Jornada mineira
Evento da federada Anamt de Minas
Gerais discutiu atualizações na medicina
do trabalho através de palestras e debates
A Estalagem das Minas Gerais, um dos mais ricos patrimônios da humanidade, foi palco da 24ª Jornada da
Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt),
entre os dias 28 e 30 de outubro. O evento reuniu 290
especialistas de MT na cidade de Ouro Preto para debater
questões relevantes à especialidade médica.
Com o tema “A ciência e o contencioso na prática da medicina do trabalho”, o encontro teve como objetivo apresentar atualizações e discutir resultados de estudos e metodologias da Medicina do Trabalho. Além disso, proporcionou
uma troca de experiências, debates e outras atividades que
visam ao fortalecimento e integração dos participantes.
Membros da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) de diversos estados contribuíram para a Jornada
com palestras. Entre os temas abordados, estavam o Congresso da Anamt de 2010, que aconteceu em maio na cidade
de Gramado; o Cálculo do Fator Acidentário de Prevenção; e
a doença mental em decorrência de assédio moral.
A Jornada da Amimt é um evento tradicional em Minas Gerais. Na edição de 2009, foi atingido o recorde de
350 participantes. Além de contemplar assuntos de interesse dos profissionais da área de segurança e saúde do
trabalho, o evento é também uma oportunidade de realizar um intercâmbio de experiências.
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capa
Redação final da NR-17
completa 20 anos
Norma, que assegura obrigatoriedade da implantação de
medidas ergonômicas, ajuda a proteger integridade física
e psicológica do trabalhador
No mês de novembro, a redação final da Norma Regulamentar 17 completou 20 anos de existência. Publicada em 1990 por meio da portaria 3751, a norma foi a
primeira a incluir uma dinâmica social no processo de
sua formulação ao ser levada para consulta pública. A
NR-17 trata de ergonomia e representa uma ampliação
dos artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Ela descreve melhor os aspectos do mobiliário e da área
de trabalho, definindo, por exemplo, o ajuste da altura
para os assentos de acordo com a estatura do empregado e a natureza da função exercida.
Essas e outras exigências da norma visam estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicológicas e físicas
do funcionário. As mudanças proporcionam maior conforto, segurança e um desempenho mais eficiente dos
trabalhadores. Porém as modificações ainda são encaradas pelas empresas como obrigação onerosa.
Qualidade de vida
Os profissionais da área de ergonomia trabalham
para desfazer o preconceito existente sobre o tema na
cultura empresarial. Os especialistas garantem que investir na saúde e conforto do trabalhador é essencial
para o sucesso de empresas que se planejam em longo
prazo e desejam competir no mercado globalizado.
Para a Dra. Lys Esther Rocha, diretora do Centro de
Estudos Avançados em Medicina do Trabalho da Anamt,
nos últimos 20 anos a ergonomia tem sido incorporada
nas empresas diante de situações específicas, seja por
diagnóstico de distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho (LER/DORT) ou por necessidade de reestruturação da produção. “O que cresceu nos últimos anos
foi a participação dos trabalhadores através dos Comitês
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Em 1989 o Ministério do Trabalho
convocou toda a sociedade
civil para que organizasse
seminários e debates onde se
pudessem colher sugestões para
a melhoria de todas as Normas
Regulamentadoras.
de Ergonomia das empresas para modificar situações de
trabalho”, explica.
Segundo o Dr. Hudson Couto, especialista em Medicina do Trabalho, a implantação de um plano de ergonomia é fundamental para preservar a qualidade de
vida dos trabalhadores. “Quando encaramos os desafios
existentes para a realização do trabalho, buscando e
corrigindo as situações causadoras de afastamento, de
dor, de desconforto, de dificuldade e de fadiga excessiva, melhoramos enormemente a qualidade de vida dos
trabalhadores.”
Processos eficientes
O planejamento, fator crucial no desenvolvimento
das empresas, deverá conter itens importantes da ergonomia. Para ele, a preocupação já existe e deve se intensificar nos próximos anos: “A questão ergonômica estará
relacionada à reestruturação produtiva de uma empresa, assim como a organização do trabalho e da gestão,
a qualidade de vida no trabalho e a saúde mental serão
tratados como pontos estratégicos nas relações de trabalho”, ressaltou.
Jornal da ANAMT
capa
Para otimizar o investimento, existem estudos que
indicam os processos mais eficientes para incorporar
a ergonomia no cotidiano das empresas. Além disso, o
fortalecimento dos cursos de formação especializada e a
contratação de profissionais qualificados podem contribuir para minimizar os gastos.
“Se a ergonomia tem um custo, não praticá-la apresenta um gasto ainda mais elevado. Isso é demonstrado
através de números de absenteísmo médico, acidentes
do trabalho por más condições ergonômicas, processos
de reparação pelo dano e pelos custos envolvidos na
“saia justa” dos TACs assinados com o Ministério Público
do Trabalho — todos eventos de altíssimo custo”, argumenta Dr. Hudson.
Mudança de visão
Já o Dr. Fausto Mascia, professor de ergonomia em sistemas de produção da Escola Politécnica da USP, acredita que
o maior desafio é mudar a visão que associa a ergonomia
apenas às áreas de recursos humanos e de saúde. “Por conta
das demandas existentes, ou seja, dentro de um contexto de
evolução permanente das empresas, houve um momento
em que a ergonomia teve maior visibilidade em ações de
melhoria de situações de trabalho existentes”, pondera.
No entanto, Dr. Fausto argumenta que é “necessário
estender as possibilidades de ação da ergonomia, e isto
será possível na medida em que esta for vista
como uma área que está diretamente associada à produção”. Tal maneira de ver a ergonomia pode favorecer o planejamento
de ações ainda na fase de desenvolvimen-
Jornal da ANAMT
to de projetos e, nesse sentido, antecipar os possíveis
problemas ou dificuldades que se apresentarão para os
trabalhadores ao realizar a sua atividade.
NR-17: mais de 20 anos
A publicação da Portaria N.º 3214, de 1978, estabeleceu as Normas Regulamentadoras relativas ao Capítulo
V da CLT de Segurança e Medicina do Trabalho, entre as
quais, a NR-17. Inicialmente, a medida abrangia: o levantamento, transporte e descarga de materiais; disposições
sobre as bancadas, mesas, escrivaninhas, painéis e sobre
os assentos ajustáveis.
No entanto, o conceito clássico da Saúde Ocupacional
ainda se mostrava pouco compatível com a realidade dos
trabalhadores. Em 1989 o Ministério do Trabalho convocou toda a sociedade civil para que organizasse seminários e debates onde se pudessem colher sugestões para a
melhoria de todas as Normas Regulamentadoras. O texto
final publicado na Portaria N.º 3751, de 1990, representa
o resultado de uma negociação tripartite com a participação de representantes dos empregadores, dos trabalhadores e do Ministério do Trabalho.
Em 2001, foi elaborado um Manual de Aplicação da
Norma Regulamentadora 17 que serviu para auxiliar na
ação dos Auditores Fiscais do Trabalho e dos profissionais de Segurança e Saúde do Trabalhador nas empresas. Recentemente, a norma recebeu novos
anexos, elaborados a partir de Comissões
Tripartites e Consultas Públicas à sociedade via site do Ministério do
Trabalho e Emprego.
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entrevista
Ergonomia: gestão integrada
Presidente da Fundacentro desde maio de 2010, o médico
Eduardo de Azeredo Costa comanda uma das instituições
brasileiras mais importantes da área de saúde e
segurança no trabalho. Presente em 11 estados e no
Distrito Federal, a Fundação tem como objetivo
produzir e difundir conhecimentos que contribuam
para a promoção da segurança e saúde dos trabalhadores,
considerando o desenvolvimento sustentável, o crescimento
econômico, a equidade social e a proteção do meio ambiente.
A NR-17 foi elaborada há 20 anos.
Existe uma discussão de métodos
no campo da ergonomia entre os
que defendem uma abordagem
mais focada no trabalhador e aqueles que acreditam que o foco deve
estar nos processos ou ambientes
de trabalho. Como o senhor entende esta divergência entre a humanização e a racionalidade absoluta?
Eduardo de Azeredo Costa — Entendemos que tanto os processos de
trabalho devem ser avaliados como
também os ambientes de trabalho,
oferecendo ao trabalhador o máximo de conforto, segurança e eficiência. Este trinômio é o que a ergonomia procura oferecer ao trabalhador.
Naturalmente, com o decorrer dos
anos, novos procedimentos e mudanças vão ocorrendo e devem ser
incorporados à NR-17 respeitando o
tripartidarismo.
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É possível pensar que existe uma
abordagem diferenciada no país,
uma “ergonomia brasileira”?
Eduardo — Sim, é possível. Aqui na
Fundacentro existem trabalhos voltados exclusivamente para a ergonomia brasileira, como é o caso do
projeto de revitalização das casas de
farinha, idealizado pela instituição.
A ergonomia brasileira vem crescendo
aos poucos e sendo conhecida. Outro
exemplo é o trabalho que está sendo
desenvolvido nas indústrias de confecção, couro e calçado. Inteiramente
brasileiro, o projeto está tendo como
resultados a redução dos afastamentos e o aumento da produção.
Profissionais de diferentes formações atuam como ergonomistas no
Brasil. Como a Fundacentro entende este tipo de prática? Existe algum plano estratégico para capaci-
tar profissionais em ergonomia?
Eduardo — De fato a ergonomia é
um campo multidisciplinar que envolve conhecimentos da engenharia,
medicina, psicologia, arquitetura,
designer e outras. Para cada estudo de campo em particular existem
profissionais que são mais especializados e/ou experientes que podem
dar sua contribuição de forma mais
conclusiva devido à sua formação
profissional básica.
Qual a importância da NR-17 na
discussão dos fatores psicossociais
no trabalho? O senhor acredita que
o Brasil já lida bem com a questão
destes fatores psicossociais e com
a questão da saúde mental no trabalho?
Eduardo — Os fatores psicossociais
no trabalho vêm sendo estudados
há muitos anos. Existem vários pro-
Jornal da ANAMT
entrevista
blemas é lógico, como existem, na
nossa sociedade, problemas mentais associados ao desemprego. A
empresa deve criar um ambiente
propício ao relacionamento de seus
trabalhadores, bem como o apoio
social para que enfrente as dificuldades do campo laboral e social.
De acordo com estudo publicado
pela International Stress Management Association Brasil, sete em
cada dez trabalhadores brasileiros
sofrem de estresse. Em sua opinião, o que pode ser feito para melhorar as condições de saúde mental dos trabalhadores e reduzir os
transtornos mentais relacionados
ao trabalho?
Eduardo — Devem ser estudados os
problemas, as causas e procuradas
soluções para reduzir os transtornos
mentais relacionados ao trabalho.
Isso leva algum tempo, pois vão surgindo novos fatos que demandam
novos estudos para buscar soluções.
Muito se discute no país sobre a
necessidade de desenvolver mais
as competências de profissionais
de Saúde e Segurança no Trabalho, tanto técnicas como de gestão.
Como a Fundacentro pode contribuir para isso?
Eduardo — Buscando oferecer toda
a logística e infraestrutura para o
desenvolvimento na prática de profissionais mais preparados em suas
competências profissionais para oferecer técnicas e condutas que melhorem a SST. Não devemos dissociar a
prescrição da gestão operativa para
a implementação de medidas, sua
avaliação e ajustes permanentes, trabalho que consideraríamos de especialistas em SST. Isso é o que se dá no
terreno, nas unidades produtivas empresariais. Ademais a problemática
a nível regional, setorial ou nacional
Jornal da ANAMT
requer um outro tipo de gestão. Para
tanto estamos preparando um curso
de pós-graduação em Segurança e
Saúde no Trabalho. É bem claro que
a tônica deve ser o preparo para a
discussão e formulação de políticas e
para a gestão em SST. Pela formação
básica de origem e disciplinas optativas, pode se investir em subespecialidades, mas essa pós-graduação não
pode se limitar a preparar "especialistas" – seria um equívoco.
A vontade política nem sempre
acompanha as descobertas médicas. No caso do uso do amianto,
estudos garantem que o composto
é prejudicial à saúde dos trabalhadores. Por outro lado, o Brasil é um
dos maiores produtores de amianto do mundo. Como vencer o lobby
das empresas que utilizam amianto
e transformar as pressões sindicais
e sociais em leis efetivas que protejam a saúde do trabalhador?
Eduardo — À medida em que vão aparecendo novas descobertas, os governos e a sociedade vão tomando novas
medidas de saúde e segurança para
solucionar os problemas de modo a
melhorar a saúde do trabalhador. A
busca de inovação tecnológica, de
modo geral, visa assegurar competitividade empresarial pelo lançamento
de novos produtos ou através da redução dos custos da produção.
Sempre que não se conseguir associar um maior rendimento industrial
direto com uma substituição de materiais visando a uma maior segurança e saúde no trabalho, haverá
dificuldades para implantá-la. Muitos produtos que tinham o amianto
como matéria-prima na fabricação já
estão sendo substituídos. As caixas
d´agua e telhas, por exemplo, que
antes eram fabricadas em amianto,
agora são de plástico ou cimento. De
qualquer modo, um bom estímulo
"A empresa deve criar
um ambiente propício ao
relacionamento de seus
trabalhadores, bem como
o apoio social para que enfrentem as dificuldades do
campo laboral e social."
para a empresa investir em inovação
é criar os constrangimentos legais e
criar as oportunidades para que se
possam oferecer maior saúde e segurança a seus trabalhadores.
A questão da Gestão Integrada em
SST tem sido debatida em eventos de várias classes profissionais.
Como o senhor acredita que é possível fazer uma gestão integrada de
SST considerando o atual cenário
legal e social de nosso país?
Eduardo — Sinceramente, correndo
o risco de ser mal interpretado, não
existe gestão desintegrada. A gestão
visa obter resultados, com ganhos
sociais. Pode haver em certas circunstâncias objetivos limitados ou
de curto prazo. De outro lado, toda
gestão é social. É preciso ter clareza
sobre quem são os envolvidos e que
grupos devem ser os beneficiários.
As ações desencadeadas sim precisam ser coerentes e integradas. No
nosso campo essas ações procuram
ir ao encontro de melhores condições de trabalho e emprego, anseio
das classes trabalhadoras.
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notícias
"Proibição do amianto é questão de tempo"
Especialista no assunto, Fernanda Giannasi ressalta a importância da
fiscalização da sociedade e incentiva o uso de produtos livres de amianto
P
roibida em 63 países, a utilização do amianto
na indústria é tema de intensa discussão no
Brasil. Considerando que o material é cancerígeno, organizações sociais, ambientalistas e
associações de vítimas trabalham para proibir definitivamente o uso do minério em território nacional. Atualmente quatro estados da federação proíbem a produção, o transporte, a comercialização e a utilização do
amianto: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo.
A fundadora da Associação Brasileira dos Expostos
ao Amianto (Abrea) e coordenadora da Rede VirtualCidadã pelo Banimento do Amianto para a América
Latina, Fernanda Giannasi, reafirma a importância da
participação social para o avanço da questão. “Leis, podemos ter no Brasil todo, mas, sem a organização da
sociedade para fiscalizá-las, elas ficam só no papel.”
Comissão recomenda proibição
Para desestimular a produção do amianto, que é de
difícil destinação final, foi aprovada no CONAMA a Resolução 348 em 2004. O texto determina que materiais que
contenham o amianto devem ser descartados em aterros
para lixo perigoso: “A medida, que encarece a cadeia produtiva da construção civil, ajuda a desestimular o uso de
produtos contendo a fibra mineral onde ela ainda é permitida”, explicou Fernanda.
Em maio deste ano, um grupo de trabalho da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
da Câmara Federal dos Deputados divulgou extenso relatório, defendendo a proibição definitiva da produção,
da utilização e da comercialização do amianto.
A proposta para proibir o uso do amianto se baseia
em estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS),
que classificam o material como cancerígeno, e sem limites seguros de exposição.
De acordo com os dados mais recentes 1 publicados
pela OMS, cerca de 125 milhões de trabalhadores em
1
todo o mundo encontram-se expostos, no ambiente
de trabalho, ao amianto, e, aproximadamente, 107 mil
pessoas morrem a cada ano das diversas doenças a ele
atribuídas. No Brasil, segundo dados das indústrias, a
estimativa indica que cerca de 270 mil trabalhadores
estão expostos ao amianto em diversas atividades, incluindo comércio e transporte.
Brasil: 3º maior produtor
Na defesa da manutenção da exploração e utilização do mineral, as indústrias se apoiam em pressupostos econômicos. O principal deles é que o Brasil é o
terceiro maior produtor e exportador do minério e que
sua mina em Goiás (Minaçu) é uma das mais seguras e
modernas do mundo.
Alegam também que o uso da fibra mineral em telhas e caixas d’água se limita a entre 7% e 10% no produto acabado e que não há comprovação de contaminação
de trabalhadores depois de terem sido adotadas medidas técnicas de segurança a partir da década de 1980.
Prazo para a substituição do amianto
Fernanda acredita que, devido às dificuldades de
emplacar uma lei federal, a curto prazo, será necessário retomar o trabalho nas esferas municipais e estaduais. “A proibição é inevitável. É uma questão de tempo.
O mercado já decidiu e a indústria já tem a tecnologia
da substituição desenvolvida.” Para a especialista, o
trabalho agora é incentivar a migração para o uso de
produtos livres de amianto.
Os fabricantes de fibrocimento isentos de amianto
defendem através da Associação Brasileira das Indústrias
e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento (Abifibro)
que seja estipulado um prazo para a substituição do
amianto por outros produtos. Já os representantes dos
trabalhadores da mina de amianto de Minaçu (GO) lutam
para que a recomendação não ganhe força, já que nenhuma alternativa ao trabalho com amianto lhes é oferecida.
In http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs343/en/index.html
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Jornal da ANAMT
artigo
A nova ISO 26000 e a SST
René Mendes*
Após cerca de cinco anos de intenso trabalho, com destaque para
as importantes contribuições brasileiras e suecas na Organização Internacional de Normalização (ISO), foi
aprovada a nova Norma 26000 da
ISO, sobre “Diretrizes de Responsabilidade Social”, cujo lançamento mundial se deu no início de novembro de
2010, em Genebra.
Diferentemente das outras normas ISO, inclusive as relacionadas
com as áreas de atuação do campo
da Saúde Ocupacional, da Saúde
Ambiental e da Gestão da Qualidade
(Norma OHSAS 18001, Norma ISO
14001 e Norma ISO 9001), a nova
Norma ISO 26000, sobre Responsabilidade Social, é lançada com o propósito de se constituir numa diretriz
orientadora da atuação de empresas
e organizações, porém de caráter e
adesão voluntários, não acompanhados de certificação.
Com efeito, o trabalho preparatório em direção à Norma ISO 2600
sobre “Diretrizes de Responsabilidade Social” envolveu cerca de 450
especialistas de 99 países, além de
200 observadores e 42 organizações regionais e internacionais com
relevância para o tema, como, por
exemplo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). No
Brasil, além da representação oficial por meio da ABNT, participou o
Instituto Ethos de Responsabilidade Social. As delegações nacionais
incluíram múltiplas “partes interessadas” (stakeholders) da sociedade,
tais como trabalhadores, consumidores, empregadores, Governo,
Jornal da ANAMT
ONGs e outras, ampliando assim o
leque de entendimento, consenso e
legitimidade.
Escopo da “Responsabilidade Social” e Nova Inserção da SST
Um dos principais avanços trazidos
pela construção coletiva da Norma
ISO 26000 e assim também esperado
na adoção efetiva pelas organizações é
a ampliação do escopo do que é “responsabilidade social”. Segundo a Norma, o centro do escopo é constituído
por sete áreas, que pela primeira vez
estão juntas, e são reconhecidas como
expressão concreta do exercício de
“responsabilidade social” empresarial,
a saber: direitos humanos, práticas
trabalhistas, meio ambiente, práticas
operacionais justas, questões dos consumidores, envolvimento e desenvolvimento da comunidade e governança
organizacional.
Em relação à Saúde e Segurança
do Trabalho, é importante destacar
que ela aparece de forma indireta,
em vários tópicos do conteúdo da
Norma, mas tem visibilidade elevada
e específica no tópico “práticas trabalhistas” (“labour practices”). Com
efeito, após a conceituação do objeto da “Saúde e Segurança do Trabalho” (item 6.4.6.1. da Norma), há
um elenco de cerca de 19 ações que
deveriam ser desenvolvidas por organizações “socialmente responsáveis”, muitas delas bem avançadas,
quando comparadas com as práticas
ainda comuns na maioria das empresas, em nosso país e em outras partes do mundo.
Assim, percebe-se que os patamares de referência conceitual e
prática da SST, além de superarem
"A ISO
26000 é
um inegável sinal de
avanço da sociedade."
a antiga vinculação exclusiva com
a área do “Trabalho” (expressa
no caso brasileiro pela CLT e pelas
NRs), e até o vínculo com os campos
da “Previdência Social” e da “Saúde”, Saúde e Segurança do Trabalho,
se relaciona horizontalmente com o
“Meio Ambiente”, com o “Direito do
Consumidor”, com a “Governança
Corporativa Ética” com a “Participação e Desenvolvimento da Comunidade” e, principalmente, com os
“Direitos Humanos”, compondo os
pilares básicos da “Responsabilidade Social”.
Trata-se de inegável sinal de avanço da sociedade, dado, também, que
mais stakeholders – para além da antiga formatação “tripartite” (governo,
trabalhadores e empregadores) – se
juntam para tentar renovar o mundo do trabalho, construir melhores
condições e ambientes de trabalho,
e assim, juntos, buscar melhores condições de vida e saúde dos trabalhadores. Estamos felizes por ver e viver
esta possibilidade de construção coletiva de um mundo melhor!
*Dr. René Mendes - Médico especialista em
Saúde Pública e em Medicina do Trabalho,
ex-presidente da Anamt e Professor do
Department of Environmental Health Sciences da
Universidade Johns Hopkins (Baltimore, EUA).
Dezembro 2010
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notícias
Site novo em 2011
Novo site é a última fase de projeto que reformulou a
logomarca da instituição e o design do Jornal da Anamt
A Anamt lançou, em dezembro de
2010, seu novo Portal institucional. Com o
objetivo de consolidar a Associação como
referência em Segurança e Saúde do Trabalhador, o novo espaço virtual oferece
informação e facilidades para associados
e interessados em SST. Além do conteúdo,
atualizado e organizado por temas, o design arejado e claro facilita a leitura.
O método usado para a produção de
conteúdo também foi reformulado. Pensando na grande quantidade de informação que o profissional recebe diariamente, a Anamt adequou os textos do Portal
à linguagem da rede de computadores,
primando pela objetividade e concisão. A
atualização do site também será um ponto forte. A ideia é transformar o portal em
um ponto de referência para os profissionais da área.
O presidente da Anamt, Dr. Carlos
Campos, explica que a modernização dos
produtos de comunicação institucional
fortalece e amplia o diálogo com a socie-
dade. Para ele, “fortalecer a identidade
visual é essencial para assegurar um dos
nossos principais papéis, que é representar o médico do trabalho em todo o país e
influenciar o debate sobre SST”.
A diretora de divulgação, Dra. Marcia
Bandini, completa: “A intenção é esclarecer, em linguagem simples e direta,
porque cinco mil médicos do trabalho se
reúnem em torno da Associação. Assim,
nosso objetivo é mostrar que a luta por
melhores condições de saúde e segurança para o trabalhador está longe de ser
apenas nossa”.
O processo de modernização visual
da Anamt foi iniciado com a apresentação da nova logomarca durante o 14º
Congresso da Anamt, que aconteceu em
maio na cidade de Gramado. Em seguida, o Jornal da Anamt teve seu projeto
gráfico modernizado. Já na edição de junho, a publicação exibiu nova cor, combinando com a logo, além de referências
gráficas suavizadas.
Acesse o novo portal em www.anamt.org.br
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Dezembro 2010
Jornal da ANAMT
noticias
Trabalho à distância é tema
de livro lançado pela OIT
Pesquisador da OIT defende políticas para a proteção da saúde
dos profissionais que trabalham à distância
Com o objetivo de contribuir para a proteção da saúde dos profissionais que trabalham à distância, a Organização Internacional
do Trabalho (OIT) publicou, neste ano, o livro
Offshoring and Working Conditions in Remote
Work. O trabalho, que é o primeiro do gênero
a incluir o Brasil como objeto de estudo, pretende ser um primeiro passo na elaboração
de medidas para proteger a saúde e a segurança dos trabalhadores do setor.
Segundo o coeditor da publicação, Jon
Messenger, é necessário desenvolver um novo
planejamento dos processos de trabalho, em particular
nos call centers, e incentivar o diálogo social na indústria, o
que beneficiaria tanto trabalhadores como empregadores.
Ele acredita que, mesmo não sendo possível conhecer as
condições de trabalho em toda a indústria BPO (Business
Process Outsourcing) do país, ficará mais entender as características do setor.
A pesquisa, que incluiu estudos de casos em quatro
importantes países de “destino” – Argentina, Brasil, Índia
e Filipinas –, analisou o trabalho à distância, seu impacto
nos mercados laborais e o comportamento da força de trabalho. Segundo o pesquisador, a indústria BPO pode ser
dividida em dois amplos setores: serviços de voz, como
call centers, e serviços de gestão, que incluem serviços
financeiros, de contabilidade, processamento de dados e
administração, e desenvolvimento de recursos humanos.
Messenger identifica problemas especialmente nos
serviços de call center. Com a pesada carga de trabalho, os
procedimentos monitorados, o sistema de metas e a rotina
monótona, essas empresas criam condições que aumentam o risco de estresse e colocam o setor entre os recordistas de abandono de emprego. Em algumas empresas a
taxa de rotatividade pode alcançar, anualmente, os 100%.
O estudo identificou, ainda, diferenças entre o mercado brasileiro e o de outros países. No Brasil, as em-
Jornal da ANAMT
presas de BPO servem primordialmente ao
mercado interno, diferentemente de países
anglófonos, como a Índia e as Filipinas que
prestam serviços internacionais em temporeal. Nos outros três países estudados, o trabalho noturno – calculado sobre a diferença
do fuso horário entre os clientes e as centrais
de atendimento – é prática comum.
No livro, algumas conclusões fogem de
ideias consolidadas. O deslocamento e a subcontratação feitas por empresas de países desenvolvidos em países em desenvolvimento
estão criando empregos de qualidade razoável segundo
os critérios locais. O salário de trabalhadores BPO na Índia é, em geral, 53% maior do que os de trabalhadores
da mesma idade em outras indústrias. Em São Paulo, o
cenário não é tão positivo. O salário de um operador de
telemarketing simples é de R$ 558, enquanto os profissionais bilíngues e trilíngues têm salários que variam entre
R$ 800 e R$1.000.
O estudo indicou ainda o perfil dos trabalhadores nesta
indústria. No Brasil, os funcionários de call centers têm entre 18 e 25 anos, cursaram o segundo grau e falam, normalmente, apenas o português. As mulheres detêm a maior
participação na força de trabalho em três dos quatro países
estudados. A média geral é de 60% de presença feminina
na indústria de BPO. No Brasil, este índice sobe para 75%.
Para Messenger, estudar o tema é fundamental para
captar as tendências da indústria, e incentivar a elaboração de políticas que defendam a saúde dos trabalhadores
do setor. “O governo brasileiro adotou uma legislação que
melhora as condições de trabalho no segmento de call
center, mas ainda há muito a ser feito.”
Referência: Messenger, Jon C.; Ghosheh, Naj. Offshoring
and Working Conditions in Remote Work. 1ª ed. Palgrave
Macmillan, 4 Jun 2010, 304 pp.
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notícias
Síndrome de Burnout
causa prejuízo de 4,5% do PIB
Médicos estão entre os profissionais que mais sofrem com o distúrbio
Pesquisa publicada pelo International Stress Management Association Brasil (ISMA) revela que sete em cada
dez trabalhadores brasileiros sofrem de algum tipo de
estresse e que 30% destes apresentam nível crônico, situação conhecida como Síndrome de Burnout. O estudo
estima que o problema provoca um prejuízo de aproximadamente 4,5% do PIB nacional.
As principais características apresentadas pelos profissionais afetados pelo Burnout são exaustão, irritabilidade, falta de atenção, ineficiência e depressão. Do total, 93% se sentem incapacitados para trabalhar e 89%
sofrem de presenteísmo: estão no local de trabalho, mas
não são eficientes.
Desafios para o Médico do Trabalho
Para o Dr. Carlos Campos, presidente da Anamt, mais
do que cumprir a lei, é necessário entender a saúde do
trabalhador como um modelo de gestão: “Ainda persiste
a visão reativa de obedecer e atender às obrigações legais pertinentes à área de Segurança e Saúde no Trabalho
(SST). É importante internalizar, como modelo de gestão,
a saúde e a segurança no trabalho como um valor agregado aos princípios e metas da empresas”.
Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a depressão será a doença mais comum do
mundo em 2030, o que deverá gerar custos para as empresas. O Dr. Carlos ressalta: “O cenário já é preocupante;
70% das pessoas economicamente ativas possuem algum
tipo de sequela, como doenças crônicas, depressão, obesidade e LER/DORT”.
O presidente da Comissão Técnica de Saúde Mental
e Trabalho da Anamt, Dr. Duílio Antero de Camargo, ressalta que a produtividade da empresa pode cair, já que
é difícil identificar no início um profissional que sofra da
Síndrome de Burnout: “Os sintomas iniciais muitas vezes
não são característicos e o tratamento depende das necessidades individuais do portador”.
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Dezembro 2010
O Dr. Duílio alerta ainda sobre o fato de que, se os
sintomas apresentados forem muito intensos, o trabalhador poderá requisitar o afastamento do trabalho, o
que é previsto na lei: “Se os sintomas forem muito intensos, o trabalhador poderá ser afastado do trabalho
pelo médico assistente, como previsto na lei. O processo
se dá através de atestado médico, e, após o 15º dia, o
paciente é encaminhado à perícia médica do INSS”.
Treinar bons chefes: solução imediata
Relatório apresentado pelo National Institute for Health and Clinical Excellence, da Inglaterra, apontou que a
postura negativa dos chefes pode acentuar o crescimento de problemas mentais no ambiente de trabalho. Na
pesquisa, centenas de voluntários foram avaliados, e o
resultado indicou que ¼ acreditava que a própria situação mental era moderada ou ruim.
A partir das avaliações escritas, a equipe de pesquisadores descobriu que um comentário positivo do chefe depois
de um trabalho bem-feito, aliado a horários mais flexíveis
e mais dias de folga como recompensa pela produtividade
poderia reduzir em 30% os casos de estresse, de depressão
e da Síndrome de Burnout entre os funcionários.
Síndrome recente
Em 1974, o pesquisador Freunderberger observou a
alteração de humor e a queda da motivação de profissionais de saúde que trabalhavam com ele. A nova síndrome se caracterizava por comportamentos agressivos e
irritadiços, e, diferentemente do estresse convencional,
o Burnout provocava atitudes grosseiras que contaminavam os que estavam por perto.
Entre as categorias de profissionais que mais sofrem
com o Burnout, estão os profissionais de saúde, de educação e de segurança. Em comum, o ritmo de trabalho,
as horas extras e as contínuas cobranças são fatores que
ajudam a desencadear a síndrome.
Jornal da ANAMT
noticias
Eventos internacionais na pauta da Anamt
Membros da diretoria da Associação participaram de encontro no México e
farão parte dos preparativos do evento da ICOH em 2012
O presidente da Anamt, Dr. Carlos
Campos, e o diretor científico, Dr. Zuher
Handar, participaram do XV Congreso
Nacional de Salud en el Trabajo, organizado pela Federação Nacional de Saúde
Ocupacional do México (Fenastac). O
evento reuniu no mês de setembro, na
cidade de Ixtapa Zihuatanejo, professores e especialistas de diversas nacionalidades para abordar temas relacionados
à Segurança e à Saúde no Trabalho.
A participação da Associação no
encontro foi marcada pelos simpósios
“Competencias del Médico del Trabajo
en el Siglo XXI” e “Sistemas de Gestión de Riesgos en el Trabajo en Brasil”,
ministrados, respectivamente, pelos
Drs. Handar e Campos. Para a Anamt, a
participação de sua diretoria e de seus
associados em eventos internacionais
da área é de extrema importância, na
medida em que permite a troca de ex-
periências e a colaboração científica
entre diversos países.
30º Congresso da ICOH
Entre os dias 18 e 23 de março de
2012, a cidade de Monterrey, no México, sediará o 30º Congresso da International Commission on Occupational
Health (ICOH) — entidade internacional de Medicina do Trabalho. O presidente da Comissão Organizadora do
Evento, Dr. Jorge Morales, convidou a
Anamt para participar dos preparativos
do congresso, tendo como principal
compromisso incentivar a participação
das associações latino-americanas da
área de SST no evento.
Com este objetivo, está previsto para
novembro de 2011, no Rio de Janeiro, a
realização de um encontro com todos os
secretários nacionais da ICOH dos países latino-americanos, durante o Fórum
Presença Anamt. “O Congresso é muito
importante para o México e para toda a
América Latina. É a segunda vez em dez
anos que o encontro é realizado na nossa região. Por isso, precisamos nos unir e
construir uma saúde ocupacional cada vez
mais forte no México e em toda a América
Latina”, frisou o Dr. Zuher Handar.
De acordo com o presidente da
Anamt o Congresso “vai impactar e
muito a saúde dos trabalhadores em
todo o mundo porque nos trará conhecimento e aprimoramento de saberes
para aplicarmos em nosso trabalho”. O
Dr. Carlos adiantou que a Anamt pretende proporcionar alguns incentivos
a diretores e associados que participarem do evento, principalmente àqueles
que contribuírem com a apresentação
de trabalhos científicos. A programação
do evento pode ser acessada através
do site www.icohcongress2012.org
Associação se prepara para o 15º Congresso
Com quase três anos de antecedência, a Anamt já iniciou
os preparativos para a organização do 15º Congresso da Associação Nacional de Medicina do Trabalho. O evento acontecerá em São Paulo, entre os dias 1º e 6 de maio de 2013.
Em outubro, foi realizada a primeira reunião do evento e ficou definido os Comitês Executivo, Organizador e
Científico que serão responsáveis por toda a organização
do congresso. Em novembro, na cidade de São Paulo, uma
comissão fez visitas a três prováveis locais onde poderá
ser realizado o evento.
Tradicionalmente, os Congressos da Associação são
trienais e, durante sua realização, ocorre a posse da nova
diretoria, além de seminários e encontros. Na 14ª edição
do evento, em maio de 2010, foram realizados o I Encontro
Ítalo-Brasileiro de Medicina do Trabalho; o VIII Seminário
Jornal da ANAMT
Nacional de Perícias Médicas Trabalhistas da Anamt; o I Encontro Científico de Residentes e Estudantes da Graduação
e Pós-Graduação em Medicina do Trabalho e Saúde do Trabalhador; e a 1ª Mostra de Cinema Anamt.
O 14º Congresso da Anamt promoveu a prática da interdisciplinaridade, reunindo em Gramado-RS médicos do trabalho e outros profissionais da área de Saúde e Segurança no
Trabalho e Meio Ambiente no Trabalho. Mais de dois mil conferencistas debateram os desafios da promoção e da inclusão
social na saúde do trabalhador — tema central do encontro.
De acordo com o presidente da Anamt, Dr. Carlos Campos, o sucesso do congresso de Gramado servirá como parâmetro para o evento de 2013, em São Paulo: “A expectativa
é abrir espaço para ideias e temas inovadores, valorizando
aqueles que mais agradaram aos congressistas em 2010”.
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notícias
Resiliência: a defesa natural contra o estresse
Houaiss: resiliência é a propriedade
que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido
submetidos a uma deformação elástica
A definição do dicionário dá uma
ideia de como a resiliência funciona
no psicológico do ser humano. O estresse diário pode alterar temporariamente o comportamento, que voltará
ao normal depois de algum tempo. O
problema surge quando o profissional
perde ou não tem capacidade de recuperação. A discussão do assunto interessa, especialmente, à classe médica,
profissão que tem a adversidade e o
estresse como rotina.
De acordo com a Dra. Vera Lucia
Zaher, médica do trabalho e psicóloga, é importante considerar que o
termo é novo para a categoria médica, mas que as questões relacionadas
ao trabalho médico e à complexa interface com a sociedade sempre existiram. “Não importa muito o nome
que utilizamos; o importante é que a
preocupação com o trabalho médico
e as consequências para a saúde são
assuntos atuais estudados por pesquisadores há várias décadas.”
A psicóloga Débora Glina, explica a resiliência como uma busca de
processos mais adequados para lidar
com a incerteza e com as situações
novas. Para ela, um indivíduo resiliente utiliza de forma competente
suas habilidades, e é pró-ativo na
resolução de problemas específicos:
“Nosso esforço para fazer face às exigências internas ou externas pode
fazer uso de características como: a
percepção positiva das experiências,
o comportamento adaptativo e, principalmente, o desenvolvimento da
tolerância diante da incerteza”.
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Com o objetivo de estudar e
discutir o tema, a Associação Médica Brasileira (AMB) organizou, em
2010, o primeiro Seminário Internacional de Resiliência Médica. O
evento, realizado em Brasília, teve
como objetivo orientar os presentes
sobre o processo de identificação
daqueles que precisam de ajuda psicológica para enfrentar os constantes desafios da profissão.
44% dos médicos sofrem de depressão
Um dos fatos estruturais que determinam o alto nível de estresse da
classe médica é o déficit de quatro
milhões de profissionais de saúde
em todo o mundo. No Brasil, a média
se aproxima da encontrada nos EUA,
contabilizando um médico para cada
578 habitantes. O problema, no caso
brasileiro, não é a quantidade, mas a
distribuição. As regiões Sul e Sudeste
juntas abrigam, segundo pesquisa do
Conselho Federal de Medicina (CFM),
72% dos profissionais de todo o país.
Pesquisadores ressaltam a importância de identificar os médicos
que não consigam lidar com as dificuldades inerentes à profissão. Só
nos EUA, entre 250 e 400 médicos
suicidam-se anualmente. No Brasil,
uma pesquisa do CFM indicou que
44% dos médicos sofrem de depressão ou ansiedade, e 57% têm estafa
e desânimo com o emprego.
Os estudos sobre suicídio de médicos no Brasil são difíceis de ser
elaborados. Uma das dificuldades
encontradas é ter acesso a esta notificação nos atestados de óbitos.
A Dra. Vera, entretanto, diz que no
meio profissional o problema é recorrente: “Muito é dito e ouvido nas faculdades de medicina sobre colegas
que se suicidaram, e sabidamente
há vários casos de médicos afastados
por questões que envolvem a esfera
psíquica correlacionada ao trabalho”.
Fortalecendo a resiliência
Entre os fatores que podem potencializar problemas psicológicos nos
profissionais de saúde, estão: baixa
remuneração, alta responsabilidade
que envolve questões de vida e morte humana, e a influência de terceiros
opinando e forçando condutas inadequadas. O estresse causado por estas
questões podem levar à depressão, ao
Burnout e ao alcoolismo. A Dra. Débora alerta sobre o fato de que o estresse pode causar a patologia, que, por
sua vez, aumenta o estresse.
Para fortalecer a resiliência e minimizar o impacto do alto nível de
estresse, os profissionais podem usar
algumas estratégias comportamentais. Dentro do ambiente de trabalho, é recomendável que os médicos
compartilhem experiências com os
colegas, e usem o humor. No ambiente familiar, é importante dedicar-se à
família, fazer exercícios físicos e desligar-se mentalmente do trabalho.
Além do estresse inerente à profissão médica, o preconceito contra
o ato de buscar ajuda transforma a
questão em um tabu. Para a Dra. Débora, a negação é o pior que pode
acontecer a um profissional: “Sem
o reconhecimento da existência do
problema, não há busca de ajuda”. A
psicóloga cita também outros sentimentos comuns na categoria, como
o medo de apresentar-se fraco diante dos outros, de transformar-se em
paciente e, não menos importante, a
falta de tempo, que inviabiliza a procura de ajuda.
Jornal da ANAMT
Entidades pedem
atualização da NR 15
No V Congresso Brasileiro de Higiene Ocupacional e
XVII Encontro Brasileiro de Higienistas Ocupacionais, realizado em São Paulo no mês de outubro, foi aprovada
uma moção propondo a atualização da Norma Regulamentar nº 15. Congressistas, a diretoria da Associação
Brasileira de Higiene Ocupacional (ABHO) e instituições
da área de SST assinaram o documento, pedindo urgência na revisão da norma, que reúne ferramentas para
avaliação e controle dos agentes de risco nas empresas.
De acordo com a moção, a norma – praticamente
inalterada há 32 anos – não protege os trabalhadores
de forma adequada, sendo urgente revisá-la, “dando-lhe
atualidade e capacidade para a proteção da saúde do
trabalhador, sem a distorção que ora ocorre, pois nela
nem todos estão igualmente protegidos”.
O Congresso discutiu a relação da NR15 com a valorização da higiene ocupacional perante o crescimento
econômico. Também foram abordadas as implicações de
uma legislação desatualizada nos aspectos dos critérios
de preservação da saúde dos trabalhadores e do con-
Da esquerda para a direita: Diretor 2º tesoureiro do SINTESP, René
Alves Cavalcanti; 1º Secretário do Conselho Regional de Química, Lauro
PereiraDias; Presidente da ABHO, José Manuel Gana Soto; Diretor
Técnico da Fundacentro, Jófilo Moreira Lima Júnior; Presidente da
Anamt, Dr. Carlos Campos; Diretor de Educação e Saúde da FETICOMSP, Robinson Leme.
trole dos riscos ambientais no trabalho. A abertura do
encontro contou com a presença do Dr. Carlos Campos,
presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), uma das entidades signatárias da moção.
O ex-presidente da Anamt Dr. René Mendes apresentou a palestra “O desenvolvimento econômico
acentuado e os desafios na prevenção dos riscos ocupacionais”. Nela, demonstrou a necessidade de um
olhar diferenciado para as questões da prevenção das
doenças ocupacionais, com base no acentuado desenvolvimento econômico em que se encontra o Brasil.
A moção solicita a criação de um Grupo Técnico Especial na Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP),
do Ministério do Trabalho e Emprego, com a participação dos especialistas da ABHO e das entidades signatárias, a fim de organizar e conduzir o processo de revisão.
TRT de Goiás terá Comissão de Ética Médica
Foi dado o primeiro passo para a
criação da Comissão de Ética Médica
no Tribunal Regional do Trabalho (TRT)
de Goiás. A proposta, idealizada pelo
Núcleo Executivo da Anamt e elaborada pela Câmara Técnica de Medicina do
Trabalho do CRM-GO, foi entregue ao
presidente do TRT-GO, desembargador
Gentil Pio, em reunião realizada no dia
8 de novembro.
A comissão terá como objetivos cuidar da realização das perícias médicas,
fiscalizar o cumprimento do Código de
Ética Médica e garantir a qualidade da
produção da prova pericial.
No encontro, a Anamt foi representada pelo diretor de Título de Especialista, Dr. João Anastácio Dias, e pela
Jornal da ANAMT
diretora administrativa adjunta, Dra.
Camila Santos. Também estiveram
presentes o presidente do Conselho
Regional de Medicina do Estado de
Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues,
e o coordenador das Câmaras Técnicas
do CRM de Goiás, Bragmar Emílio.
Para o Dr. Dias, a reunião foi um
sucesso: “Avançamos em temas que
são preocupações da Anamt, como a
qualidade das perícias, a autonomia
do exercício profissional médico, o pleno cumprimento do Código de Ética
Médica e das demais Normas e Resoluções do CFM/CRM”. O Dr. Salomão,
por sua vez, ressaltou que a criação da
comissão teve como base os termos da
Resolução CFM 1657/2002
De acordo com A Dra. Camila, a reunião entre representantes da Anamt,
membros do CRM e o presidente do TRT
para tratar da atuação dos peritos médicos na justiça do trabalho foi o marco
inicial da criação da Comissão de Ética
Médica. “Esta Comissão irá contribuir
para o aprimoramento dos laudos periciais, auxiliando o juízo, de forma ética
e científica, no julgamento de alegações
pertinentes à seara médica”, analisou.
Para o Desembargador, a Comissão
poderá ser um instrumento de valorização dos peritos que cumprem com eficiência as suas atribuições, além de proporcionar aos magistrados a intervenção
da Comissão quando houver anormalidade no desempenho das atividades.
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notícias
Dormir depois do almoço
pode aumentar produtividade
A sesta ganha apoio de pesquisadores e começa a ser aceito no mercado
A sesta, elemento fundamental em
algumas culturas, deixou de ser um
tabu no universo empresarial moderno
para tornar-se uma prática recomendada e saudável. A constatação é amparada por diversos estudos que, em
série, são divulgados por importantes
universidades do mundo. Entre os benefícios da soneca, estão a melhora da
capacidade mental e de aprendizagem
e o aumento da produtividade.
De acordo com a Dr. Frida Marina
Fischer, presidente da Comissão Técnica de Organização do Trabalho da Anamt, dormir brevemente após o almoço
pode aumentar não só a produtividade, mas também a qualidade de vida
do empregado: “Os cochilos diminuem
a sonolência, ativando o estado de
alerta, o que melhora sensivelmente o
desempenho no trabalho”.
Para as pessoas que trabalham no
turno da noite ou em plantões longos,
o cochilo auxilia a reduzir a fadiga e
a sonolência. De acordo com Fischer,
“usualmente sente-se muito sono
durante a noite, quando estamos trabalhando num período em que deveríamos estar repousando”.
Dessa forma, mesmo no
período noturno, a prática
surte efeitos positivos para
o profissional.
Em artigo científico sobre
o tema, a especialista analisou as
condições ambientais e organizacionais do cochilo e a importância deste
durante o trabalho noturno entre os
profissionais de enfermagem. “O cochilo, além de melhorar o estado de
18
Dezembro 2010
alerta durante o expediente, contribui
para compensar a reduzida duração
do sono noturno”, explicou.
No entanto, os relatos das 20 participantes da pesquisa realizada pela
médica do trabalho reforçam que,
para obter benefícios satisfatórios dos
cochilos, também é importante que
sejam implementadas condições adequadas para tal. Segundo elas, apesar
da permissão para o cochilo, não havia
espaço e poltronas disponíveis para todos na sala destinada ao descanso.
A Universidade de Harvard aposta
na aliança entre as práticas modernas
e a sesta. De acordo com os resultados
de suas pesquisas, os indivíduos que
não descansam perdem, no fim da tarde, 52% de percepção visual. Aqueles
que cochilam por meia hora, por volta
das 14h, voltam a ter a mesma capacidade apresentada no final da manhã.
E, finalmente, os trabalhadores que
podem dormir por uma hora completa
à tarde voltam a ter a mesma capacidade que tinham no começo do dia.
O trabalho tenta ainda elaborar
um método e uma justificativa para o
hábito. Os pesquisadores indicam que
fechar os olhos simplesmente não funciona; é preciso buscar o sono profundo. Os que apoiam este hábito justificam que o padrão natural do homem
seria sempre dormir no começo da tarde, se não fossem as pressões do mundo moderno. E finalizam com um dado
novo: mesmo em países que não têm a
cultura da sesta, pode-se estimar que
pelo menos 20% da população dorme
durante um período da tarde.
Em comum, os estudos tomam
como base os ciclos biológicos. Segundo a cronobiologia — ciência que estuda os ritmos e os fenômenos físicos e
bioquímicos periódicos que ocorrem
nos seres vivos — após o almoço toda
a energia do corpo humano fica concentrada na digestão dos alimentos, o
que leva a uma diminuição do ritmo
intelectual e físico. Os cientistas da
área, percebendo a sesta como peça
fundamental para o aumento da produtividade das empresas, batizaram a
prática de power nap ou soneca energizante.
No ambiente profissional, as empresas se dividem no momento de determinar a soneca como prática oficial.
Na Espanha e nos países
hispano-americanos,
a
cultura local ainda luta com
a globalização para manter o
hábito da siesta. Nos EUA, algumas corporações – principalmente
ligadas às novas tecnologias – já adotaram a ideia. E no Brasil a prática começa a ser levada em consideração.
Jornal da ANAMT
agenda
espaço do associado
Se eu for morar em uma cidade em que não exista médico
do trabalho morador local, e o serviço de saúde ocupacional da prefeitura, do hospital e do comércio forem feitos por
terceirizadas de outras localidades, existe alguma legislação
que obrigue estes estabelecimentos a direcionarem o serviço
para mim médico do trabalho morador?
Dr. Fabio Morais Barros,
associado de Sorocaba – SP
Pelo descrito nas NR, as empresas podem, sim, contratar Médicos
do Trabalho de outra localidade. E estes, como coordenadores,
se assim o quiserem, podem indicar médicos de outras especialidades para serem examinadores, segundo atual interpretação da
legislação pelas Delegacias do Trabalho. As empresas não podem
contratar médicos do município, que sejam de outras especialidades, para cumprir o trabalho de Medicina Ocupacional como
coordenadores de PCMSO, alegando a falta de especialista, uma
vez que agora você já é residente. Neste caso, você terá a prerrogativa do atendimento.
Dr. Vinício C. Moreira;
Diretor de Ética e Defesa Profissional ANAMT
Gostaria de saber se sou obrigado legalmente a aceitar atestado
de 15 (quinze) dias emitido por psicólogo.
Dr. Marco Antonio Gonçalves,
associado de São Paulo – SP
Só são considerados como passíveis de abono os atestados
emitidos por médico ou cirurgião dentista, por incapacidade
para o trabalho do empregado. Mesmo nestes casos há prerrogativa do Médico do Trabalho da empresa, estabelecida pelo
CFM, de, após examinar o empregado, poder alterar o número
de dias, assumindo então a responsabilidade por tal antecipação ou prorrogação. Qualquer outro abono por: psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros de PSF, ou quaisquer outros profissionais, são feitos apenas por mera liberalidade das empresas,
caso assim queiram proceder.
Ressalvo que quem aceita ou recusa o atestado é o empregador e não o médico, o qual apenas atua como consultor da empresa para a necessidade ou não daquele abono.
Dr. Vinício C. Moreira;
Diretor de Ética e Defesa Profissional ANAMT
Envie suas dúvidas, opiniões e sugestões para o
Jornal da Anamt.
Acesse o site da Anamt:
http://www.anamt.org.br/espaco_associado.php
SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE TURNOS DE TRABALHO
Discutir as novas tendências na organização dos turnos de trabalho. Este é o tema do
20° ‘International Symposium on Shiftwork
and Working Times’, que acontece entre os
dias 28 de junho e 1° de julho de 2011 em
Estocolmo, na Suécia. O evento bienal possui
uma tradição de mais de 30 anos na discussão
sobre os turnos e o tempo de trabalho.
Os responsáveis pela organização são os
membros da Working Time Society e do comitê científico de turnos e horários de trabalho
da Comissão Internacional de Saúde Ocupacional (ICOH). As inscrições para participar do
simpósio serão abertas no dia 10 de janeiro e
irão até 31 de março de 2011.
Mais detalhes sobre o simpósio no site
www.shiftwork2011.se.
EXPO EMERGÊNCIA E EXPO PROTEÇÃO
Nos dias 10, 11 e 12 de agosto de 2011, o
pavilhão verde do Expo Center Norte, em São
Paulo, sediará a Expo Proteção e a Expo Emergência. Os eventos, sobre saúde e segurança
do trabalho, e sobre resgate e emergência,
servem como pano de fundo para promover a
aproximação entre fornecedores, profissionais
e trabalhadores.
Em sua quinta edição, a Expo Emergência contará com uma amostra de produtos,
equipamentos e serviços, além de programação técnica e apresentações de resgate
e emergência. A feira é voltada para profissionais e empresas do setor, atendimento
pré-hospitalar, bombeiros militares e civis,
membros da defesa civil, e especialistas em
emergência química.
Já na Expo Proteção serão apresentadas as
potencialidades econômicas do setor. O encontro será um espaço para o conhecimento
e a atualização profissional, por meio de seminários, workshops, palestras técnicas e cursos.
Outras informações no endereço eletrônico www.protecaoeventos.com.br.
Como se associar?
Conheça todos os benefícios de se associar e preencha a proposta on-line:
http://www.anamt.org.br/associar.php
Jornal da ANAMT
Dezembro 2010
19
informe publicitário
SANOFI - PASTEUR
Vacina pneumocócica para asmáticos
Dra. Lucia Ferro Bricks
Em setembro de 2010, o Comitê Assessor em Práticas de
Imunização dos Estados Unidos (ACIP) publicou as novas recomendações para uso da vacina polissacarídica-23 valente
(Pn23), enfatizando que asmáticos e fumantes com mais de
19 anos devem ser incluídos nos grupos de risco para doença
pneumocócica invasiva.1
Em recente publicação da revista Thorax, Klemets
et al.2 (2010), demonstraram, através dos resultados de
um estudo caso-controle, com base populacional, que as
doenças pneumocócicas invasivas (DPI) são significativamente mais frequentes em asmáticos, em comparação
com não asmáticos.
Os autores analisaram dados de 1.282 pacientes com DPI
identificados nos anos de 1995 a 2002 e de 12.785 controles
sem asma, com idade entre 18 e 49 anos. A asma foi classificada como grave, ou de alto risco, por ser motivo de hospitalização nos últimos 12 meses, e como de baixo risco nos casos em
que o paciente não tivesse sido hospitalizado no último ano,
mesmo que fizesse uso contínuo de medicação.
No total, 7,1% dos pacientes com DPI e 2,5% dos controles tinham diagnóstico de asma. A asma de baixo risco foi mais
frequente, sendo identificada em 6,0% dos casos e 2,4% dos
controles, e a asma de alto risco foi 10 vezes mais frequente
nos pacientes com DPI (1,1%) do que no grupo controle (0,1%).
Após ajustar os fatores de risco para outras variáveis
independentes, os autores concluíram que as DPI foram
significativamente mais frequentes em asmáticos, tanto
naqueles com asma de alto risco (OR = 12; IC95%: 5,428,0) como nos controles com asma de baixo risco (OR=
2,8; IC95%: 2,1 – 3,6).
Recomendações do ACIP para uso da vacina polissacarídica
23-valente em adultos (> de 19 anos) 1
• A vacina Pn23 deve ser administrada em adultos com
idade entre 19-64 anos, com condições médicas crônicas ou imunodeprimidos, incluindo asmáticos;
• A vacina Pn23 deve ser administrada a fumantes com
idade entre 19-64 anos;
• O uso rotineiro da vacina Pn23 não é recomendado
para os nativos do Alasca ou índios da América com
menos de 65 anos, salvo se tiverem indicações médicas. No entanto, em determinadas situações, as autoridades públicas de saúde podem recomendar a vacina Pn23 a nativos do Alasca e índios americanos com
idades entre 50-64 anos que vivem em áreas onde o
risco de doença pneumocócica é maior;
• Todas as pessoas com 65 anos ou mais devem ser vacinadas com a vacina Pn23. Aqueles que já receberam
uma dose da vacina Pn23 antes dos 65 anos por qualquer indicação devem receber outra dose da vacina
após 65 anos de idade, se pelo menos 5 anos se passaram desde a sua dose anterior. Aqueles que recebem
a primeira dose da vacina Pn23 após 65 anos deverão
receber apenas uma dose;
• Uma segunda dose da vacina Pn23 é recomenda cinco
anos após a primeira dose para pessoas com idade 19-64
anos com asplenia anatômica ou imunocomprometidos.
Os resultados deste estudo confirmam que:
1. A asma é condição de alta prevalência em adultos jovens;
2. As DPI são muito mais frequentes em asmáticos do que
em pessoas não asmáticas.
Adicionalmente, foi feita a análise da cobertura propiciada
pela vacina Pn23 e pelas vacinas conjugadas contendo 7, 10 e
13 sorotipos, que atualmente são licenciadas para crianças.
Enquanto a vacina Pn23 cobre, aproximadamente, 90% dos
sorotipos causadores de DPI, as vacinas conjugadas cobrem,
no máximo, 76,1% dos sorotipos identificados como causadores de DPI em adultos.
Pneumococos causadores de infecções invasivas em adultos de 18 a 49 anos de idade com ou sem asma, Finlândia
1995-20022
Asma
Sem asma
N=81 (7,7%)
N=975 (92,3)
Sorotipos cobertos pelas vacinas
7 valente
44 (54,3)
468 (48,0)
10 valente
59 (72,8)
610 (62,6)
13 valente
64 (79,0)
740 (75,9)
23 valente*
78 (96,3)
903 (92,6)
23 valente**
73 (90,1)
855 (87,7)
Total
N=1056
512 (48,5)
669 (66,3)
804 (76,1)
981 (92,9)
928 (87,9)
*Todos os sorotipos incluídos na vacina Pn23
** Não incluindo os sorogrupos 10, 11, 12, 15, 17 e 33 que não foram submetidos à sorotipagem.
Embora haja controvérsias sobre o papel da vacina polissacarídica 23-valente na prevenção de todas as formas de
pneumonia, sabe-se que ela é efetiva contra DPI, particularmente, em indivíduos jovens. As DPI apresentam altas taxas
de morbidade e letalidade, sendo fundamental orientar adultos com asma sobre os benefícios da vacina polissacarídica,
conforme recomenda o ACIP.
Referências bibliográficas
1
Centers for Disease Control and Prevention (CDC); Advisory Committee on Immunization Practices. Updated recommendations for prevention of invasive pneumococcal
disease among adults using the 23-valent pneumococcal polysaccharide vaccine (PPSV23). MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2010 Sep 3;59(34):1102-6.
2
Klemets P, Lyytikäinen O, Ruutu P, Ollgren J, Kaijalainen T, Leinonen M, et al. "Risk of invasive pneumococcal infections among working age adults with asthma". Thorax.
2010 Aug; 65(8): 698-702.
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