Nuevas Ideas en Informática Educativa TISE 2014 Modelagem de respostas baseadas no modelo de redescrição representacional Rita De Cassia Tesseroli Universidade Federal do Paraná Andrey Ricardo Pimentel Universidade Federal do Paraná [email protected] [email protected] ABSTRACT The aim of this paper is model computationally the representational levels of the Model Representational Redescription, proposed by Karmiloff-Smith, in structures of answers. The correlation between the representational levels and structures of responses is based on the characteristics of relation, storage and processing of representations. The structures selected for mapping responses are alternatives, correlation of items, filling gaps and multiple choices with explanations of the choices. RESUMO O objetivo do presente artigo é modelar computacionalmente os níveis representacionais do Modelo de Redescrição Representacional, proposto por Karmiloff-Smith, em estruturas de respostas. A correlação entre os níveis representacionais e as estruturas de respostas é baseada nas características de relação, armazenamento e processamento das representações. As estruturas de respostas selecionadas para o mapeamento são alternativas, correlação de itens, preenchimento de lacunas e múltiplas escolhas com explicações das escolhas. Categories and Subject Descriptors K.3.2 [Computer and Information Science Education]: Computer science education. General Terms Design, Theory. Keywords Modelo de Redescrição Representacional, níveis representacionais, resposta, alternativas, correlação de itens, preenchimento de lacunas, e múltiplas escolhas. 1. INTRODUÇÃO Dentre as teorias que estudam o processo de aprendizagem destacam-se para o desenvolvimento desse trabalho a corrente inatista, a qual acredita que o cérebro é composto por módulos Permission to make digital or hard copies of all or part of this work for personal or classroom use is granted without fee provided that copies are not made or distributed for profit or commercial advantage and that copies bear this notice and the full citation on the first page. To copy otherwise, or republish, to post on servers or to redistribute to lists, requires prior specific permission and/or a fee. Conference’10, Month 1–2, 2010, City, State, Country. Copyright 2010 ACM 1-58113-000-0/00/0010 …$15.00. geneticamente determinados e que funcionam de forma independente e para fins especiais, e a corrente construtivista, esta postula que a aprendizagem é produto de um sistema de autoorganização sendo diretamente afetado pela interação com o meio ambiente [9]. Emergindo dessas teorias Annete Karmiloff-Smith propõe o Modelo de Redescrição Representacional (RR) [3]. Esse modelo alia a flexibilidade e criatividade, da teoria construtivista, com as pré-disposições inatas da mente, da teoria inatista, demonstrando que o domínio específico atribui processos ou estruturas inatas ao indivíduo relevando as funções cruciais físicas e socioculturais do ambiente [6]. O processo de aquisição do conhecimento segundo o Modelo RR ocorre em três fases: fase 01, fase 02 e fase 03. Na primeira fase a informação ou representação é adquirida e armazenada na mente do indivíduo no formato de representação de nível Implícito 1. Na segunda fase a representação já armazenada na mente sofre o primeiro processo de redescrição representacional sendo transformada em uma representação de nível Explícito 1. Na terceira fase a representação sofre dois processos de redescrição, em um primeiro é transformada em representação de nível Explícito 2 e em um segundo momento transformada em representação de nível Explícito 3. O processo de redescrição representacional é uma hipótese sobre a especificidade das capacidades humanas de se enriquecerem por si próprias, isto é, para explorar conhecimentos previamente estabilizados na memória [1]. Em cada fase do aprendizado o Modelo RR delimita como a informação é armazenada na mente do indivíduo, através de representações com características específicas. Visto a oportunidade de identificar estruturas que avaliam o nível representacional do indivíduo sugerimos um modelo de respostas para cada um dos quatro níveis representacionais modelando suas características específicas. 2. MODELO DE REDESCRIÇÃO REPRESENTACIONAL Annette Karmiloff-Smith descreve o desenvolvimento do indivíduo como resultado de dois processos distintos e paralelos ocorrendo simultaneamente: o processo de modularização progressiva e o da explicitação progressiva das representações do conhecimento [7]. A modularização proposta por Karmiloff-Smith [2] assume que a mente possui uma quantidade limitada de predisposições inatas que restringem o processamento a entradas específicas. Sendo assim, os níveis de ativação são inicialmente distribuídos por todo o cérebro e somente com o tempo os circuitos específicos serão ativados em respostas a estímulos 605 Nuevas Ideas en Informática Educativa TISE 2014 externos. A explicitação progressiva das representações é um processo cíclico, onde a informação já presente no organismo torna-se mais flexível e manipulável por meio do processo de redescrição representacional, possibilitando o acesso consciente e verbalização do conhecimento. [8] Logo, a modularização potencializa o desenvolvimento aceitando como entrada apenas os dados que o indivíduo é capaz de computar de forma específica e a redescrição representacional permite que o indivíduo redescreva a informação até atingir o estado de dominar e teorizar os conceitos. O processo de redescrição representacional ocorre em três fases, onde a passagem de uma fase para outra superior leva em consideração características especificas de explicitação da representação. 3. FASES DO MODELO DE REDESCRIÇÃO REPRESENTACIONAL Na Fase 01 a resposta do indivíduo ao ambiente é condicionada somente pelos estímulos externos. Ocorre o processo de assimilação e relação entre o comportamento do indivíduo e o comportamento alvo para determinado estímulo [10]. O comportamento alvo é o comportamento dito correto em resposta a estímulo externo. Se não houver relação entre o comportamento do indivíduo e o comportamento alvo, o indivíduo recebe um feedback negativo. Se houver correlação entre o comportamento do indivíduo e o comportamento alvo, uma nova representação é adicionada na memória e compilada, caracterizando o sucesso procedural [4]. As representações na Fase 01 estão estruturadas na forma de pares uni-funcionais [forma/função] onde “forma” é o conteúdo da representação e a “função” é como a representação será utilizada. Nesta Fase não há relação entre conceitos semelhantes. Mesmo no caso da adição de uma nova representação idêntica a uma já existente, esta será armazenada na mente do indivíduo independente da outra. A mudança da Fase 01 para a Fase 02 ocorre quando a nova representação estabiliza-se no sistema. Na Fase 02 o objetivo é a organização das representações internas, o indivíduo agora ignora o estímulo externo e concentra-se em analisar possíveis analogias e diferenças entre as representações. Caso existam duas representações uni-funcionais que abordam o mesmo conteúdo, ou forma, estas serão redescritas em uma única representação multifuncional que conterá a forma e as duas funções, ou procedimentos. Exemplo: Sejam [forma X/função f] e [forma X/função g] duas representações uni-funcionais que abordam o mesmo conteúdo. A redescrição compacta as duas representações em apenas uma, [forma X/função f e função g], transformando-as em uma única representação contendo sua forma e as duas funções. A passagem da Fase 02 para a Fase 03 é caracterizada pela estabilidade das relações entre as representações internas. Na Fase 03 os estímulos externos ignorados na segunda fase são incorporados às representações, ocorre o equilíbrio entre os estímulos externos e as conexões entre as representações internas estabelecidas durante a Fase 02. Nota-se que o critério de mudança entre as fases é o reconhecimento da estabilidade das representações na mente do indivíduo, indicando ele está no controle e pronto para avançar de fase [4]. A Figura 1 apresenta os pré-requisitos para as passagens de fases do modelo. A passagem da Fase 01 para a Fase 02 depende do sucesso procedural, quando o comportamento do indivíduo é bem-sucedido. Para a passagem da Fase 02 para a Fase 03 é necessário o sucesso meta-procedural, ou seja, a consolidação e estabilidade das conexões das representações internas [4]. Figura 1 Pré-requisitos da passagem de fases do modelo 4. MODELAGEM DAS RESPOSTAS SEGUNDO O MODELO RR As três fases do Modelo RR relatam como o processo de aquisição do conhecimento ocorre, descrevem como o indivíduo reage a estímulos externos e delimitam o critério de mudança entre as fases. A base da teoria prevê que nas três fases a representação já armazenada na mente do indivíduo é redecrita em quatro níveis representacionais, através do processo de redescrição representacional, tornando as representações progressivamente mais manipuláveis e flexíveis até o surgimento do acesso consciente ao conhecimento [5]. Os quatro níveis representacionais descritos no Modelo RR são parâmetros de seleção das estruturas de respostas. Para cada um dos quatro níveis representacionais: Implícito 1, Explícito 1, Explícito 2, Explícito 3, escolheu-se um método de resolução de acordo com as características especificas dos processos cognitivos de cada nível. Como exemplo para modelagem das respostas, selecionamos o processo de desenvolvimento da linguagem, mais especificamente a criação da representação do artigo indefinido “um”, descrito pelo autor Troadec [10]. Nas próximas sessões serão apresentadas as estruturas de respostas escolhidas, contextualizadas com o exemplo do artigo indefinido “um”. 4.1 MODELAGEM DAS RESPOSTAS NÍVEL IMPLÍCITO 1 (I1) Na fase 01 a criação da forma linguística “um” surge em resposta a estímulos externos, o indivíduo identifica formas linguísticas e seu contexto de utilização. As representações nessa fase estão no nível representacional Implícito (I1), caracterizadas pelo armazenamento na forma de procedimentos e não é possível relacionar conceitos semelhantes e acessar conscientemente a informação. No caso dos artigos indefinidos a forma “um” tem várias funções, dentre elas a função de referência e a função de numeração. Ao longo da fase 01 pares uni-funcionais, no formato: [um/referência] e [um/numeração], são armazenados independentemente um do outro, o sucesso procedimental é o fator que conduz o armazenamento em memória [10]. Uma das características que marcam esse nível representacional é a resposta rápida aos estímulos externos. O mapeamento da resposta na forma de alternativas, como mostra a Figura 2, justifica-se pelo processo cognitivo que o indivíduo realiza nesse nível. Procura-se simular o raciocínio rápido e automático sobre a representação ao selecionar a alternativa correta. 606 Nuevas Ideas en Informática Educativa TISE 2014 Figura 2 Estrutura de resposta Nível Implícito 1 (I1) 4.2 MODELAGEM DAS RESPOSTAS NÍVEL EXPLÍCITO 1 (E1) Na Fase 02 as representações passam pelo primeiro processo de redescrição representacional transformadas em representações no nível Explícito 1 (E1). Esse processo reorganiza as representações identificando possíveis analogias e diferenças, são estabelecias as relações potenciais entre as representações. As representações do nível E1 relacionam-se entre si, mas não estão disponíveis para relato verbal. Essa nova organização permite a substituição das formas uni-funcionais em multifuncionais. No caso do artigo indefinido “um” as formas unifuncionais [um/referências] e [um/numeração] são integrados numa única representação que possui as duas funções [um/referência e numeração]. A estrutura de resposta escolhida para este nível é a ligação entre conceitos e a sua descrição, ou utilização. Na Figura 3, a coluna da esquerda apresenta os conceitos de “numeral” e “artigo indefinido”, já a coluna da direita apresenta a definição desses dois conceitos. O campo de seleção permite preencher o número do conceito para determinada definição, busca-se associar o processo cognitivo de relação entre conceitos com a estrutura proposta. Figura 4 Estrutura de respostas nível Explícito 2 (E2) 4.4 MODELAGEM DAS RESPOSTAS NÍVEL EXPLÍCITO 3 (E3) Ainda na fase 03 ocorre a última redescrição represetacional transformando as informações no nível representacional Explícito 3 (E3). As representações agora são relacionadas entre si, passíveis de acesso consciente e relato verbal. O artigo indefinido “um” agora pode ser acessado conscientemente e utilizado em relato verbal em resposta ao ambiente externo. A estrutura escolhida para esse nível é a resposta por múltipla escolha com a possibilidade de explicação do porquê a alternativa escolhida está correta ou incorreta. Os processos cognitivos a serem simulados pelo indivíduo são o acesso consciente a representação e a possível verbalização através do campo de descrição, descrevendo o porquê da escolha. Figura 3 Estrutura de respostas Nível Explícito 1 (E1) 4.3 MODELAGEM DAS RESPOSTAS NÍVEL EXPLÍCITO 2 (E2) Na fase 03 os elos estabelecidos durante a fase 02 são considerados em funções de fatores externos. A passagem para essa fase advém da necessidade de controle intencional sobre os conhecimentos estáveis presentes no final da fase 02. A primeira redescrição que ocorre nessa fase transforma a representação no nível Explícito 2 (E2). A nova representação é acessível conscientemente mas, está em código representacional semelhante aos das representações E1. No exemplo, o artigo “um” é acessado conscientemente pelo indivíduo mas, não está disponível para relato verbal. A figura 4 apresenta a estrutura de resposta para esse nível, as lacunas em branco são preenchidas arrastando as alternativas apresentadas até o campo desejado. O objetivo é responder a estrutura proposta simulando os processos cognitivos de relação e acesso consciente a representação. Figura 5 Estrutura de respostas nível Representacional 3 (E3) 5. CONCLUSÃO O presente estudo contextualizou o modelo de redescrição representacional, suas diferentes fases e níveis representacionais, descrevemos os processos cognitivos realizados em cada fase e quais os níveis representacionais que a informação é redescrita. Baseado nessas características propomos um modelo de respostas onde cada nível representacional: Implícito 1, Explícito 1, Explícito 2, Explícito 3, possui uma estrutura especifica. A modelagem é realizada através dos níveis representacionais e não por meio das fases propostas pelo modelo. A intenção é identificar o nível representacional do conceito armazenado na mente do indivíduo, através das estruturas de respostas. A aplicação de questionamentos é um dos métodos mais comumente utilizados pelos professores na avaliação de aluno, onde cada questão objetiva avaliar conceitos específicos e necessários para sua resolução. A partir das repostas de estudantes 607 Nuevas Ideas en Informática Educativa TISE 2014 às questões, o professor analisa e identifica o grau de perícia do aluno sobre os conceitos avaliados. Em seguida, infere uma porcentagem ou nota relativa ao domínio do conhecimento. [3] Karmiloff-Smith, A. (1995) Beyond modularity: a developmental perspective on cognitive science, MIT, Cambridge, Massachusetts. A modelagem de resposta proposta permite identificar a partir da resposta do aluno, seja por meio de analises do professor ou de um sistema computacional, em qual nível representacional estão os conceitos do aluno, referentes a resolução da questão apresentada. Segundo esse resultado é possível identificar quais processos cognitivos o estudante realiza e qual a melhor remediação ou tática pedagógica a ser escolhida e aplicada no método de ensino. [4] Karmiloff-Smith A.(1986) From meta-processes to conscious access: Evidence from children’s metalinguistic and repair data, Cognition, pp. 95-147 vol. 23. [5] Lorandi, A. A consciência linguística e o modelo de redescrição presentacional: fonologia e morfologia como microdomínios diferentes. IV Seminário internacional de fonologia. 2012. 6. REFERENCIAS [6] Machado, M. J. M. da C. (2011) Implicações da consciência morfológica no desenvolvimento da escrita. Lisboa. [1] Barbosa, V. do R. (2013) O papel da consciência morfológica no aperfeiçoamento da linguagem escrita. Curitiba. [8] Moura, M. d. L. S. (2004) O bebê do século XXI e a psciologia em desenvolvimento. A casa do psicológo. [7] Mithen, S. (2002) A pré-história da mente. UNESP. [2] Karmiloff-Smith, A. (1994) Précis of beyond modularity: a developmental perspective on cognitive science, Behavioral and Brain Sciences, 4- February 2010, Cambridge, Massachusetts pp. 693-707. [9] Ribeiro, A. P. (2013) Alcances e limites da teoria de redescrição representacional da mente de Anette Karmiloff. Curitiba. [10] Troadec, B. & Martinot, C. (1998) O desenvolvimento cognitive. Teorias atuais d pensamento em contextos. Instituto Piaget. 608