Semiologia e Semiótica

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Semiologia e Semiótica
Técnicas Psicoterapêuticas
Psicanálise Freudiana | Psicoterapia Breve | Hipnose
Parapsicologia
Este é o site de Semiologia e Semiótica
Ocupação
ROTEIRO
1-Introdução.
2-Conceitos importantes.
2.1- Semiologia.
2.2- Lingüística.
2.3- Signo.
2.4- Imagem Acústica.
2.5- Significado.
2.6- Significante.
2.7- Estrutura.
2.8- Classes e comutação.
2.9- Mensagem.
2.10- Sintomas.
2.11- Sinal.
2.12- Síndrome.
2.13 – Transtorno.
2.14- Posição recalcadora e seu sistema objetal.
3-Origem da Semiótica.
4- Semiologia Psicanalítica – Fragmentos.
4.1- Evolução Psicoemocional.
5- Semiologia Psiquiátrica.
5.1- Alguns Mecanismos de Defesa.
6- Ferdinand de Saussure.
6.1- O Projeto Semiológico de Saussure.
7-Charles Sanders Peirce.
7.1-Primeiridade, Secundidade e Terceiridade.
7.2-Pragmatismo e Abdução.
7.3-Signos.
8-Bibliografia.
1- INTRODUÇÃO.
A psicanálise, a semiologia e a teoria da comunicação
podem ser sistematizadas e integradas de uma maneira
metódica e ao mesmo tempo prática no cotidiano da
psicanálise. Este trabalho buscará fundamentar uma
operacionalidade da psicanálise, com contribuições da
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semiologia e da teoria da comunicação, com vistas a uma
estratégia terapêutica que possibilite cobrir os níveis da
ação analítica, criando modelos que permitam reorientações pragmáticas no sentido de facilitar, ao
analista, uma visão mais abrangente da problemática que
lhe é exposta pelo paciente. A compulsão à repetição,
localizada a partir das estruturas narrativas, possíveis de
serem detectadas e traduzidas operacionalmente através
do material fornecido pelo paciente ao analista em um
sistema de signos passível de codificação e conseqüente
sistematização.
Vivemos no século da comunicação. Para alguns, o nosso
mundo constituiria já uma autêntica "aldeia global",
habitada por umas “tribos planetárias”, possibilitadas uma
e outra, pelas novas tecnologias de informação e
comunicação. Para outros, a sobrecarga de "informação" e
"comunicação" não se traduz, necessariamente, em maior
aproximação e solidariedade entre os homens, conduzindo
antes a novas formas de individualismo e etnocentrismo.
"Comunicar" significa, etimologicamente, "pôr em
comum". No processo de comunicação, que
simplificadamente podemos entender como a troca de
uma mensagem entre um Emissor e um Receptor, os
Signos desempenham um papel fundamental. Sem
Signos, não há mensagem, nada podemos pôr em
comum. Os Signos são tão importantes que se pode (e
costuma) definir, de forma essencial, a Semiótica como a
"ciência dos signos".
A ciência chamada Semiótica, ou teoria geral e da
produção dos signos, teve sua origem na Rússia, na
Europa Ocidental e na América. A semiótica, atualmente,
é um campo de grande amplitude e variedade teórica. O
autor Charles Peirce foi o fundador da semiótica.
Saussure, no Curso de Lingüística Geral, falava de uma
semiologia, que pode ser comparada ou diferenciada da
semiótica propriamente dita. Atualmente, Umberto Eco é
um especialista em semiótica.
As idéias de Saussure foram difundidas por seus alunos
Charles Bally, Albert Sechehaye e Albert Riedlinger com a
produção do livro Curso de Lingüística Geral, construído
com base nas anotações de sete dos alunos do curso
homônimo (três versões: entre 1907 e 1911) e de alguns
manuscritos do próprio Saussure. A edição 1916a foi
complementada pelo italiano Tullio de Mauro em 1972,
originando uma nova edição standard (1916c). A tradução
brasileira surgiu em 1969 (Saussure, 1916d). Só
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recentemente, as notas de mais um estudante de
Saussure foram descobertas, resultando na edição, em
Tóquio, de um novo livro intitulado Ö terceiro curso
(Saussure, 1993).
F. Saussure estabeleceu a distinção entre “língua” e “fala”
para que o paciente possa reconhecer um signo como tal
e atribuir-lhe seu designado correspondente. É necessário
que previamente possa apoiar-se, por um lado, nas
representações psíquicas (ou significantes) dos “sons”
concretos e, por outro, nas representações psíquicas (ou
significados) dos referentes também concretos com os
quais se relacionam esses sons.
Os “signos” psíquicos, no sentido saussuriano do termo,
serão constituídos, portanto, pela união dos
“significantes” (ou imagem acústica dos sons) e dos
“significados” (ou conceitos do referente). A oposição de
dois signos complementares determina, por sua vez, uma
“estrutura” ou “código”. O estudo específico da relação
lateral que se estabelece entre os significantes ou entre os
significados será denominado por Saussure de “valor”.
O usuário poderá estabelecer relações semiológicas
corretas entre “sinais” e “mensagens” se tiver
previamente formado de maneira correta as classes
significantes e significadas correspondentes.
Quando o usuário funciona como emissor e transmite uma
mensagem por meio de um sinal, faz um “incoding”, uma
codagem ou codificação. Quando funciona como receptor,
recebe um sinal e dele deduz uma mensagem, faz um
“decoding”, uma decodagem ou decodificação. As
mensagens inconscientes, por exemplo, seriam essas
automensagens que o sujeito codifica por si mesmo e que
depois não sabe mais decodificar. Dentro dessa
perspectiva, o psicanalista trabalha a título de intérprete
entre o inconsciente, emissor que transmite em cifra, e o
pré-consciente, receptor que não pode decriptar essa cifra
sob pena de experimentar desprazer.
Na patologia da comunicação do paciente psicanalítico,
vemos fenômenos de codificação ou de decodificação
patológicas ligadas a uma delimitação incorreta de classes
significantes e de classes significadas; o que tem como
conseqüência uma pragmática incorreta da comunicação.
O paciente psicanalítico se põe em comunicação
patológica, de um ponto de vista pragmático, com seus
objetos - na transferência, com seu analista -, na medida
em que as classes significantes de seu código informativo
(equivalentes, às representações de palavras segundo
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Freud) e as classes significadas desse mesmo código (ou
representações das coisas).
Foi através dos trabalhos de Melanie Klein, Hanna Segal,
Wilfred R. Bion e outros autores da escola inglesa, bem
como através dos de Jacques Lacan, André Green, Jean
Laplanche e outros autores da escola francesa, que
progressivamente tomamos consciência da importância de
que se revestem os símbolos e os signos na teoria e na
prática psicanalíticas, a tal ponto que acabaram surgindo
para nós como domínio específico das pesquisas e
modificações constitutivas do trabalho do psicanalista.
2- CONCEITOS IMPORTANTES.
2.1- SEMIOLOGIA.
É a ciência geral dos signos, que estuda todos os
fenômenos de significação. Tem por objeto os sistemas de
signos das imagens, gestos, vestuários, ritos, etc.
2.2- LINGÜÍSTICA.
Estuda os signos lingüísticos, da linguagem. Nasceu do
estudo das línguas românicas e das línguas germânicas.
Os estudos românicos, inaugurados por Diez – sua
Gramática das Línguas Românicas data de 1836-1838 -,
contribuíram particularmente para aproximar a Lingüística
do seu verdadeiro objeto.
2.3- SIGNO.
Entidade constituída pela combinação de um conceito de
significado, e uma imagem acústica denominada
significante.
Signo = Significante (som) + Significado (objeto)
2.4- IMAGEM ACÚSTICA.
Não é a palavra falada (ou seja, o som material) mas a
impressão psíquica desse som.
2.5- SIGNIFICADO.
É a palavra equivalente no mesmo ou em outro idioma. É
a representação, na linguagem do significante.
Corresponde ao conceito ou à noção, ao passo que o
significante corresponde à forma.
Todo objeto, forma ou fenômeno que representa algo
distinto de si mesmo: a cruz como significado do
“cristianismo”; a cor vermelha significando “pare” par o
código de trânsito, etc.
O significado tem um código afetivo (angústia),
relacionado ao fato psíquico no Inconsciente, não sabido,
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objeto referido. Exemplo: angústia não aniquiladora
(prazer), angústia aniquiladora (dor).
2.6- SIGNIFICANTE.
É a parte fônica, a imagem acústica de um fonema
provido de significação. O significante tem um código
informativo : sintomas / relações objetais. Pré-consciente,
Consciente, verbalizado, som. Exemplo: continente
(amada), Não continente (não amada)
Devemos buscar determinar em cada relato de nossos
pacientes qual a relação objetal em evidência (sabida:
significante/Pré-consciente/Consciente) para podermos
inferir sobre a angústia relacionada (não sabida:
significado/ Inconsciente).
2.7- ESTRUTURA.
É o sistema que compreende elementos ordenados e
relacionados entre si de forma dinâmica. O signo a e a’
guardam entre si uma relação “complementar e inversa”.
Estrutura = Signo (a) + Signo (a’)
2.8- CLASSES E COMUTAÇÃO.
São conjuntos de dados inter-relacionados. Conjuntos de
objetos, indivíduos, sinais, etc, determinado de
características em comum.
a) Relato Fatual Û Vivência afetiva.
b) Relação Objetal Û Angústia.
c) Significante Û Significado.
d) Manifesto Û Latente.
e) Signos/Sinais Û Mensagens/ Sintomas.
f) Pré-consciente/ Consciente Û Inconsciente.
O conhecido conceito psicanalítico da “transferência”,
como a repetição de uma relação do passado no presente,
encontra respaldo no conceito semiológico da
“comutação”. O processo semiótico teria continuidade por
comutações, isto é, por substituições de fatos concretos
iniciais por outros, por meio dos quais o ego observará se
a relação inicial se mantém ou não, para confirmar ou
invalidar a hipótese semiótica que ordena os universos em
classes.
Com a comutação/transferência, podemos considerar o
nascimento (perda da relação objetal continente) como
fato inicial de referência para todas as vivências
desencadeantes de desprazer/dor (angústia aniquiladora).
2.9- MENSAGEM.
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É a comunicação, notícia ou recado, verbal ou escrito.
2.10- SINTOMAS.
É uma sensação subjetiva, anormal sentida pelo paciente
e não visualizada pelo examinador. Ex.: dor, má digestão,
tontura.
2.11- SINAL.
É uma evidência objetiva ou manifestação física de uma
doença. É um dado objetivo que pode ser notado pelo
examinador através da inspeção, palpação ou ausculta.
2.12- SÍNDROME.
São grupos de sinais e sintomas que considerados em
conjunto caracterizam uma moléstia ou lesão.
2.13- TRANSTORNO.
Desarranjo, desordem, ligeira perturbação de saúde.
Termo usado em psiquiatria em lugar de doença ou de
outro vocabulário similar, a fim de causar impacto
psicológico menor no doente, ou em quem o acompanha.
2.14- POSIÇÃO RECALCADORA E SEU SISTEMA OBJETAL.
Uma ação fundamental do paciente, ou seja, qual a sua
posição atuante manifesta básica.
a) Posição Ativa Û Posição Passiva.
b) Sedutor Û Seduzido.
c) Desorganizador Û Desorganizado.
d) Fazendo Medo Û Assustado.
e) Enfurecedor Û Enfurecido.
f) Abandonar Û Abandonado.
g) Invejar Û Invejado.
h) Amar Û Amado.
i) Odiar Û Odiado.
j) Temer Û Temido.
Desta ação se deduz a posição “complementar e inversa”
que caracteriza a posição recalcada, porque contém a
projeção de seu ego sofredor que, no caso de ela se
tornar consciente ao ser reintrojetada, aumentaria sua
angústia, ou seja, lhe proporcionaria desprazer. A posição
básica e seu complemento invertido e então inverter tais
posições, é o que consideramos mais eficaz na prática,
mas sua aplicação ao pé da letra não é indispensável.
3- ORIGEM DA SEMIÓTICA.
A Semiótica é uma ciência recente. Embora o projeto de
construir uma "ciência dos signos" existisse desde os
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princípios do século XX, em Saussure e Peirce, pode dizerse que o aparecimento efetivo dessa ciência se verifica
apenas nos meados do século XX. No entanto, o estudo
dos signos remonta às próprias origens do pensamento
filosófico.
Assim, Todorov, que considera Stº Agostinho o primeiro
dos semióticos, situa as origens da Semiótica ocidental
nas "tradições particulares" da semântica, da lógica, da
retórica e da hermenêutica antigas, sendo o Crátilo de
Platão, que viveu nos séculos V/IV AC, o melhor
testemunho dessa antiguidade da Semiótica. A
consideração de Stº Agostinho como primeiro semiótico
explica-se pelo fato de, segundo Todorov, ter sido aquele
Padre da Igreja o primeiro a satisfazer os dois requisitos
fundamentais implicados na noção de semiótica: ter como
objetivo o conhecimento, a teoria; ter como objeto de
estudo signos de espécies diferentes, e não
exclusivamente os lingüísticos.
A Semiótica do século XX vai demarcar-se claramente dos
estudos filosóficos dos signos em dois aspectos
fundamentais:
a) Na definição do estatuto epistemológico dos estudos
semióticos, do lugar destes no contexto mais geral dos
estudos científicos. Esta preocupação é visível quer em
Saussure (que enquadra a Semiologia, enquanto teoria
geral dos signos, na Psicologia Social e esta, por sua vez,
na Psicologia Geral, considerando, por outro lado, a
Lingüística como parte da Semiologia), quer em Peirce
(para quem a Semiótica, enquanto ciência dos signos, é
uma ciência geral, uma espécie de "matemática universal"
que engloba todas as outras ciências).
b) Na sistematização da semiótica, com a sua
conseqüente subdivisão em disciplinas (nomeadamente, e
a partir de Charles Morris, em Sintaxe, Semântica e
Pragmática) e a sua compendiação escolar.
A moderna "ciência dos signos" tem origem em duas
diferentes tradições, que podemos sintetizar em dois
nomes: Semiologia (correspondente à tradição européia,
iniciada por Saussure) e Semiótica (correspondente à
tradição anglo-saxônica, iniciada por Peirce). Tendo o
mesmo o radical (semeion, que se pode traduzir por
"signo" ou "sinal"), as duas palavras traduzem, no
entanto, duas maneiras diferentes de entender a "ciência
dos signos".
A Semiologia aparece definida por Saussure, no Curso de
Lingüística Geral (editado pela primeira vez em 1915), da
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seguinte forma: "Pode, portanto conceber-se uma ciência
que estuda a vida dos signos no seio da vida social; ela
constituiria uma parte da psicologia social e, por
conseguinte, da psicologia geral; nós chamá-la-emos
semiologia (do grego semeion, signo). Ela ensinar-nos-ia
em que consistem os signos, que leis os regem. (...) A
lingüística não é senão uma parte desta ciência geral
(...)”.
4- SEMIOLOGIA PSICANALÍTICA – FRAGMENTOS.
O universo significado e o universo significante devem ser
radicalmente heterogêneos para que possam funcionar
como tais. De acordo com esse princípio, as hipóteses
kleinianas sobre o narcisismo secundário e a formação dos
símbolos, supõem uma relação biuniversal sistemática do
universo significante, com o universo das angústias, que
esse mesmo ego experimente como universo significado.
O universo das relações objetais se organiza em classes
graças a essa relação biuniversal que ele mantém com o
universo das angústias, e que isso ocorre devido ao fato
de essas últimas representarem a transformação mais
frequente que os afetos sofrem em virtude da repressão
das representações desprazerosas que daí resultam. O
“signo” formado por uma classe de relações objetais como
significante e por uma classe da angúsitas como
significado coicide com o conceito de “misto de
representação e de afeto” de André Gree, que, por sua
vez, se apóia em uma tese mais geral segundo a qual “os
afetos também têm, como objetos externos, sua
representação psíquica”. No sentido econômico é o afeto
que deve ser tornado inconsciente, e que no sentido
tópico e sistemático é a representação. “O afeto reprimido
é tornado inconsciente”, sustenta Gree, apoiando-se na
afirmação clara e decisiva de Freud, segundo a qual, “a
representação do desenvolvimento do afeto constitui a
finalidade específica do recalque e o trabalho deste
permanece incompleto enquanto a finalidade específica
não é atingida”. Uma vez que o ego-prazer formou suas
classes de afetos e de representações, tenderá a recalcar
no inconsciente a classe significante das representações
hostis, para reprimir, sempre no inconsciente, a percepção
da mensagem afetiva desprazerosa concreta.
Na medida em que estabeleceremos a equivalência entre
“representação” – seja afetiva, seja objetal- e “classe” de
afetos ou de relações objetais, estabeleceremos também a
equivalência que existe entre capacidade do ego para
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“representar” (Freud) ou “simbolizar” (Klein) e capacidade
de classificar tanto suas relações objetais com referência à
classificação de suas relações objetais. Em consequência,
as dificuldades de “simbolização” se reduzirão a
dificuldades de classificação dos objetos devidas a um
déficit na pertinentização afetiva desses últimos: o ego
classifica seus objetos atuais em função de suas classes
de afetos arcaicos e narcísicos.
A inclusão sistemática dos afetos experimentados pelo
usuário ou interpretante dos signos, quando adota uma
atitude semiótica, constitui uma das contribuições mais
notáveis com que a psicanálise pode, por sua vez,
enriquecer a semiologia. O análogo que poderíamos
depreender da teoria da técnica psicanalítica residiria na
inclusão sistemática dos afetos experimentados pelo
analista na contratransferência, quando utiliza seu
conhecimento da classe desses afetos a título de
instrumento de primeira importância para discriminar a
classe de relações objetais em questão na tranferência de
seu analisando.
Uma das noções teóricas fundamentais do edifício
kleiniano, como a posição esquizo-paranóide, faz alusão,
em sua própria denominação, a essa biuniversalidade
semiótica. É com efeito a emergência da ansiedade
paranóide no universo dos afetos experimentados pelo
ego que obriga este, como medida defensiva, a recortar
de maneira esquizóide, no universo de suas relações
objetais, uma classe de objetos parciais idealizados e uma
classe complementar de objetos parciais persecutórios.
Dentro dessa perspectiva, a relação psicanalítica clássica
entre o s´mbolo e o simbolizado não é mais uniuniversal,
como faz supor a idéia de que o símbolo é uma relação
objetal atual e o simbolizado uma relação objetal arcaica.
Assim a concepção clássica quer, por exemplo, que o
analista na transferência seja um “símbolo”, produto de
um “deslocamento” da imagem paterna, que seria seu
“simbolizado”; ou quer que um guarda-chuva seja um
“símbolo”, produto de um “simbolismo” do pênis paterno,
que seria seu “simbolizado”. Ao contrário, essas relações
em sua biuniversalidade, tanto o analista quanto o pai e
tanto o guarda-chuva quanto o pênis são símbolos (ou
sinais), pois pertencem à mesma classe (significante) de
relações objetais, de uma vez que despertam no paciete a
mesma classe (significada) de afetos. Analista e pai,
guarda-chuva e pênis são “a mesma coisa” para o ego,
porque para ele “simbolizam” (significam) o mesmo afeto
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(ou mensagem).
4.1- EVOLUÇÃO PSICOEMOCIONAL.
A evolução psicoemocional do indivíduo começa com sua
concepção e principalmente na gestação em seu ambiente
intra-uterino. Na situação intra-uterina, o que é externo é
desprazeroso e o que é interno é prazeroso. Depois do
nascimento, quando a criança tem fome e necessidade do
mundo externo, o que é externo transformou-se em
prazeroso e o que é interno em desprazeroso. Para M.
Klein, o nascimento constitui-se na primeira causa externa
de angústia. Para Freud, no homem, o nascimento
proporciona uma experiência prototípica desse tipo, e
ficamos inclinados, portanto, a considerar os estados de
ansiedade como uma reprodução do trauma do
nascimento.
Segundo Bion o ambiente intra-uterino vai caracterizar
uma relação de “continente” e ausência de desprazer ou
“angústia não aniquiladora”, que é a angústia que o ego é
capaz de suportar. Este seria o referencial de busca do
indivíduo durante toda a vida, o retorno ao ambiente
ideal, “continente de angústia não aniquiladora”, ou o
“nirvana”. A experiência do nascimento transmuta esta
situação para uma relação “não continente” e com
aparecimento do desprazer ou “angústia aniquiladora”,
que é a angústia que o ego não é capaz de suportar. Logo,
o objetivo do ego seria de afastar-se da “angústia
aniquiladora” e procurar por relações continentes
(nirvana). As situações criadas são complementares e
inversas.
5- SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA.
A semiologia médica se preocupa com a descrição dos
diferentes sintomas, sinais e a caracterização de uma
determinada doença (síndromes). A coleta de sinais e
sintomas são realizados por procedimentos semiotécnico
através da anamnese, do exame físico que dará um
diagnóstico clínico através do CID-10, que é o Código
Internacional de Doenças que foi elaborado pela
Organização Mundial da Saúde e abrange todo o espectro
de doenças humanas.
A semiologia psiquiátrica utiliza além do CID-10 o DSM IV
(94) que é o manual diagnóstico e estatístico dos
transtornos mental, elaborado pela Sociedade Americana
de Psiquiatria, que sistematiza os sintomas e sinais em
quadros de critérios, que possibilitam então o diagnóstico
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psiquiátrico, que se estrutura a partir de diferentes eixos
diagnósticos.
a)Eixo I- Transtornos Clínicos : outras condições que
podem ser um foco de atenção clínica.
b)Eixo II- Transtornos da Personalidade e Retardo Mental.
c)Eixo III- Condições Médicas Gerais.
d)Eixo IV- Problemas Psicossociais e Ambientais:
Problemas com: o grupo de apoio primário; relacionados
ao ambiente social; educacionais; ocupacionais; moradia;
econômicos; com acesso aos serviços de cuidados à
saúde; relacionados à internação com o sistema legal/
criminal; psicossociais e ambientais.
e)Eixo V- Avaliação Global do Funcionamento. É uma
escala de Avaliação Global do Funcionamento (AGF) com
pontuação de 1 a 100, sendo que entre 100 e 50
geralmente estão as neuroses e de 50 a 0 estão as
psicoses. Vejamos abaixo alguns exemplos:
100: Funcionamento superior. Problemas de vida jamais
vistos fora de seu controle.
91 : Ex: Não apresenta sintomas.
90 : Em geral satisfeito com a vida.Sintomas ausentes ou
mínimos.
81 : Ex: Discussão ocasional com membros da família.
80 : Se sintomas estão presentes, eles são temporários.
71 : Ex: Apresenta declínio temporário na escola.
70 : Alguma dificuldade no funcionamento social, porém
geralmente funcionando muito bem.
61 : Ex: Possui alguns relacionamentos interpessoais
significativos.
60 : Dificuldade moderada no funcionamento social.
Apresenta sintomas moderados
51 : Ex: Tem poucos amigos e apresenta conflitos com
colegas de trabalho.
50 : Sintomas sérios. Ideação suicida, rituais obsessivos
graves, freqüentes furtos em lojas.
41 : Ex: Nenhum amigo, incapaz de manter um emprego.
40 : Prejuízo no teste da realidade ou baixa comunicação.
31 : Ex: Negligência com a família, incapaz de trabalhar.
30 : Comportamento influenciado por alucinações.
21 : Ex: Permanece na cama o dia inteiro, sem emprego,
casa ou amigos.
20 : Perigo de ferir a si mesmo ou a outros.
Freqüentemente suja-se de fezes.
11 : Ex: Prejuízo grosseiro na comunicação e incoerente
com o mundo.
10 : Perigo de ferir-se gravemente ou a outros. Violência
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recorrente.
01 : Atos suicidas com clara expectativa de morte.
00 : Informações totalmente inadequadas.
A psiquiatria baseada nos conceitos psicanalíticos foi
denominada “psiquiatria dinâmica” pela escola de
Menninger e atualmente Gabbard, considerando as
personalidades Histéricas e Histriônicas. A Histeria não
consta mais como diagnóstico psiquiátrico conforme é
apresentado no DMS-IV.
O transtorno de personalidade histérica segundo o DSM-IV
(Histérica e Histriônica) tem um padrão generalizado de
excessiva emocionalidade e busca de atenção. O Histérico
sente desconforto em situações nas quais não é o centro
das atenções; a interação com os outros freqüentemente
se caracteriza por um comportamento inadequado,
sexualmente provocante ou sedutor; exibe mudança
rápida e superficialidade na expressão das emoções; usa
consistentemente a aparência física para chamar a
atenção sobre si próprio; tem um estilo de discurso
excessivamente impressionista e carente de detalhes;
apresenta autodramatização, teatralidade e expressão
emocional exagerada; é sugestionável, ou seja, é
facilmente influenciado pelos outros ou pelas
circunstâncias; considera os relacionamentos mais íntimos
do que realmente são.
O que parece ligar as pessoas histéricas e histriônicas é
uma superposição de características comportamentais
manifestas, tais como emocionalidade lábil e superficial,
busca de atenção, funcionamento sexual perturbado,
dependência e desamparo e autodramatização. A
personalidade histriônica é mais florida que a histérica
praticamente em todos os aspectos. A causa básica está
ligada às vivências edipianas mais freqüentemente nos
pacientes histéricos e que regressões mais arcaicas –
orais – estão presentes nos casos histriônicos. O paciente
histérico verdadeiro conseguiu atingir relações maduras
com um objeto interno, caracterizado por temas edipianos
triangulares e foi capaz de formar relacionamentos
significativos com ambos os genitores, o paciente
histriônico encontra-se fixado a um nível diádico mais
primitivo de relações objetais, muitas vezes caracterizado
por apego, masoquismo e paranóia.
5.1- ALGUNS MECANISMOS DE DEFESA.
A repressão ou recalque é um mecanismo básico no qual o
indivíduo retira da consciência as pressões pulsionais,
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mantendo-as afastadas do ego. Freud escreveu que a
vantagem disso é que a idéia incompatível é recalcada
para fora do ego consciente.
A identificação pode se fazer com o genitor do mesmo
sexo ou seu representante simbólico, na ânsia de derrotalo na luta competitiva pelo amor do progenitor do sexo
oposto. A identificação também pode ser com o progenitor
do sexo oposto ou com seu representante simbólico. Tal
ocorre quando o paciente sente que tem pouca
probabilidade de êxito na competição edípica.
A conversão caracteriza a Histeria de Conversão, onde os
pacientes histéricos manifestam impulsos e afetos
reprimidos, através de sintomas somáticos. A conversão
não é simplesmente manifestação somática de afeto, mas
representação específica de fantasias que podem ser
novamente traduzidas na linguagem somática para sua
linguagem original.
A regressão possibilita a fuga de uma vivência incestuosa
atual. Pela regressão o paciente retoma uma fase anterior
destituída do risco incestuoso edipiano.
Na negação os pacientes se defendem do sofrimento
envolvido nas emoções e desejos dolorosos que
vivenciam, não entendendo o resultado de seu
comportamento sedutor sobre as pessoas de seu
relacionamento.
6- FERDINAND DE SAUSSURE.
Ferdinand Saussure (1857-1913) foi o fundador da
lingüística moderna, cujos princípios básicos influenciaram
profundamente o desenvolvimento do estruturalismo
semiótico. Sua maior contribuição foi o projeto de uma
teoria geral de sistema de signos, a que ele denominou
Semiologia, e seu elemento básico foi à definição do
signo. Outros princípios importantes de sua teoria foram a
arbitrariedade do signo lingüístico, o conceito de
estrutura, o conceito de sistema de linguagem.
A Semiótica Européia, em um de seus expoentes mais
fortes, está fundamentada a partir do livro "Tratado de
Lingüística Geral", de Ferdinand de Saussure. Esse livro
deu margem à criação de várias correntes de
pensamento, como o estruturalismo e constituiu-se como
ponto de partida para a Semiologia desenvolvida por
Rolland Barthes.
Em relação aos determinantes teóricos da Semiologia,
diferentemente de Peirce, que estabelece uma relação
sígnica entre signo, objeto e interpretante, na corrente
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Semiologia e Semiótica
iniciada por Saussure são vistos o signo, o significado e o
significante.
O signo, numa definição mais básica, é qualquer coisa que
substitua outra. Deste modo podemos imaginar um
homem primitivo que desenhou um animal numa caverna
representando o animal que havia caçado, por exemplo. O
desenho do animal é o signo que representa o conteúdo
que o homem primitivo quis expressar. Este homem, para
representar o animal, uniu um conceito a uma imagem, ou
seja, estabeleceu uma relação entre um significado e um
significante. Saussure estipula o significante como uma
imagem acústica, que se constitui como a representação
natural da palavra enquanto fato de língua virtual, ou a
representação psíquica desse som. Passando para outros
moldes além do verbal, o significante seria uma imagem
que afetasse a mente de uma pessoa.
Saussure estipula duas características primordiais do
Signo:
a) O Signo é arbitrário: Isso quer dizer que não há um
laço natural entre o significante e o significado. Por
exemplo, lua em Inglês é moon, enquanto em é italiano é
luna. Com essa inferência Saussure distingue um signo de
um símbolo; um símbolo teria uma relação com o objeto
representado. Como exemplo, pode-se dizer que a cruz
evoca muita coisa para um cristão, enquanto a suástica a
um nazista ou a um judeu. O símbolo da justiça, a
balança, não poderia ser substituído por um objeto
qualquer, um carro, por exemplo.
b) Caráter Linear do Significante: O significante, de
natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e
tem as características que toma do tempo em
determinada cultura.
Com a constituição da linguagem verbal, existiriam
relações sintagmáticas e relações associativas. As relações
sintagmáticas estariam baseadas no caráter linear da
língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois
elementos ao mesmo tempo. Estes se aliam um após o
outro na cadeia da fala, e tais combinações podem ser
chamadas de sintagmas. Por exemplo, re-ler, contratodos, a vida humana, etc.
Uma relação associativa possuiria sua dinâmica fora do
discurso, onde as componentes de determinada sentença
se associam na memória e assim se formam grupos
dentro dos quais imperam relações muito diversas. Por
exemplo, a palavra super-homem pode evocar em
determinada mente palavras como superfície, supérfluo,
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Semiologia e Semiótica
homem rico, poder, etc.
6.1- O PROJETO SEMIOLÓGICO DE SAUSSURE.
Inicialmente, a semiologia seria o projeto de uma ciência
geral dos sistemas sígnicos. Saussure assim o definiu:
Pode-se, então, conceber uma ciência que estude a vida
dos signos no seio da vida social; ela constituiria uma
parte da Psicologia social e, por conseguinte, da Psicologia
geral. Chamá-la-emos de Semiologia (do grego smeion,
signo). Ela nos ensinará em que consistem os signos, que
leis os regem. Como tal ciência não existe ainda, não se
pode dizer o que ela será; ela tem direito, porém, à
existência; seu lugar está determinado de antemão. A
Lingüística não é senão uma parte dessa ciência geral; as
leis que a Semiologia descobrir serão aplicáveis à
lingüística e esta se achará vinculada a um domínio bem
definido no conjunto dos fatos humanos). Portanto, para
Saussure, Semiologia e Lingüística estariam no âmbito da
Psicologia geral.
A segunda noção relevante é a relação entre a lingüística
e a semiologia. Segundo a visão saussureana, as ciências
da linguagem fazem parte da semiologia, e as leis gerais
da ciência dos signos são aplicáveis à lingüística.
Como o estudioso suíço desconhecia a tradição dos
estudos sígnicos desde Platão a Peirce, para ele a
semiologia ainda não existia e necessitava, antes de tudo,
ser construída. Segundo ele, a lingüística já estaria
bastante desenvolvida, e suas bases emprestariam
suporte para a elaboração da teoria geral dos signos.
Assim, via ele uma relação em mão dupla: a lingüística
seria o caminho heurístico da produção da semiologia
cujas regras seriam aplicáveis inclusive aos estudos
lingüísticos. Este caminho foi seguido na França e na
Itália, na semiótica estruturalista dos anos 60.
Saussure fazia freqüentemente comentários sobre o
conjunto dos fatos semiológicos sem, contudo, apresentar
qualquer detalhamento da maioria desses sistemas de
signos.O pesquisador tinha a língua como o principal dos
sistemas sígnicos e mencionou outros sistemas como o
Braille, o código de bandeiras marítimo, sinais militares de
corneta, códigos cifrados (ex. música), etc. Somente no
campo da literatura Saussure empreendeu estudos mais
extensos de sistemas sígnicos não-verbais. Por exemplo,
um estudo mitológico sobre a lenda germânica
Niberlungen, que é descrita como um sistema de símbolos
que estão inconscientemente sujeitos às mesmas
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Semiologia e Semiótica
variações que qualquer outra série de símbolos, bem
como as palavras da língua.
Também nos a anagramas da poesia latina, Saussure se
destacou no âmbito da semiologia. Em determinado ponto
das discussões teóricas, a semiologia saussureana ficou
inscrita no âmbito da sociologia e da psicologia (1901). O
que mais ressaltou este enquadramento foi a menção feita
por Saussure à aplicação da semiologia ao estudo das
instituições jurídicas.
Ainda que o próprio Saussure tivesse a lingüística como
parte da semiótica, estudos posteriores conseguiram
provocar sérios equívocos que se tornaram polêmicas até
hoje não sanadas no que tange à posição dessas duas
ciências: a semiótica contém a semiologia ou vice-versa?
Convém, no entanto, buscarmos entender as contribuições
fundamentais do patrono da lingüística na formulação de
uma teoria geral dos signos.
a) A arbitrariedade do signo lingüístico em relação a sua
constituição fonológica, do que decorre o princípio
suplementar da convencionalidade.
b) A não-arbitrariedade a posterior, uma vez que ao
falante não é facultado eleger signo diferente do
convencionado quando estabelece a comunicação com
outrem, disto decorre o princípio suplementar da
imutabilidade do signo.
c) A imotivação dos signos quanto ao seu significado.
O princípio do binarismo: significado & significante. As
flechas indicam a associação psíquica entre a imagem
acústica e o conceito. Assim, os três termos do modelo
diádico de Saussure são:
Signo = significante
significado
Sua concepção é mentalista, pois ambos os compósitos
sígnicos são entidades mentais. Daí a exclusão da
referência, pois, além de ser seu modelo diádico, rejeita o
pesquisador a união entre uma coisa e uma palavra,
portanto, repele o objeto de referência, que seria algo
externo ao sistema considerado.
A partir dessas idéias, Saussure atrela o pensamento às
palavras, sem as quais aquele seria uma massa amorfa e
indistinta. Assim, cria Saussure as bases para a teoria das
formas, não das substâncias, a partir do que, mais tarde
vem a configurara-se com Hjelmslev na formulação do
Estruturalismo lingüístico.
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Semiologia e Semiótica
A partir de suas noção de forma, emergiram as idéias das
redes de relações sígnicas que se sustentam em dois eixos
fundamentais: as correlações e as oposições.
A língua é um sistema em que todos os termos são
solidários, e o valor de um resulta tão-somente da
presença simultânea de outros. Seu conteúdo só é
verdadeiramente determinado pelo concurso do que existe
fora dela. Fazendo parte de um sistema, está revestida
não só de uma significação como também de um valor.
7-CHARLES SANDERS PEIRCE.
Um dos principais estudiosos contemporâneos dos Signos
e da semiótica americana tem seu expoente inicial com o
cientista-lógico-filósofo (e um dos fundadores da moderna
ciência semiótica) foi Charles Sanders Peirce (1830-1914).
Considerado por alguns como sendo, porventura, o maior
filósofo norte-americano, Peirce teve uma vida afetiva,
profissional e acadêmica bastante conturbada e infeliz.
Muitas das teorias mais interessantes de Peirce,
nomeadamente no âmbito da Semiótica ou Lógica, foram
pouco conhecidas, até pouco tempo. À medida que essas
teorias forma sendo estudadas, Peirce foi ganhando uma
importância crescente no campo da Semiótica, da Lógica e
da Filosofia em geral.
Peirce, filho de um importante matemático, era devotado
nas ciências culturais à lingüística, à história e à filologia,
e tinha grande conhecimento da Crítica a Razão Pura, de
Kant. Em matéria de obras científico-filosófiicas, a única
publicada em vida, por Peirce, foi Photometric Researches,
de 1879, resultado do seu trabalho nos domínios da
geodesia e da astronomia. Deixou um segundo livro
terminado, The Grand Logic, e publicou vários artigos,
sobretudo nas revistas Popular Science Monthly (18771878) e The Monist (1891-1893). No entanto, a maior
parte dos seus trabalhos inéditos, reunidos nos Collected
Papers (em 9 volumes), só foi publicada entre 1931 e
1958.
Baseado, a princípio, com as categorias universais de
Kant, e constatando mais tarde alguma semelhança
também com Hegel, Peirce estipulou três categorias
universais, começando a aplicá-las inicialmente à mente,
e logo após á natureza. São estas categorias a de
primeiridade, secundidade e terceiridade.
"As definições de 'signo' que circulam nos manuais de
semiótica corrente são diversas mas não contraditórias e
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Semiologia e Semiótica
são muitas vezes complementares. Para Peirce, o signo
era "algo que está para alguém por algo sob algum
aspecto ou capacidade".
Enquanto Saussure circunscreveu a semiologia no âmbito
da Psicologia, Peirce foi buscar suas bases na Filosofia e
na Lógica. Por isso, com a mesma força que o suíço
rejeitara a relação com entes objetivos externos ao
sistema de signos em questão (no seu caso o lingüístico),
o semioticista norte-americano enfatizara as suas bases
doutrinárias numa concepção fenomenológica, portanto
filosófica. Assim, retomava o terceiro elemento já previsto
na teoria formulada por Platão (nome = nomos /noção =
logos /coisa = pragma) como base indispensável do
diálogo entre o homem e o mundo que o cerca.
Para Peirce, o universo é semiótico, e o homem interage
com os sinais, lendo os que o antecedem e formulando
novos sinais em suprimento das necessidades
emergentes.
A visão pansemiótica de Peirce sobre o universo resultara
no entendimento das cognições, das idéias e até do
homem como entidades semióticas; e, como tal, um signo
se refere a outras idéias e a outros objetos do mundo que
se reflete um passado.
Suas idéias projetam uma dimensão muito mais ampla. O
homem denota qualquer objeto de sua atenção num
momento dado. Conota o que conhece ou sente sobre o
objeto e é também a encarnação desta forma ou espécie
inteligível; o seu interpretante é a memória futura dessa
cognição, o seu eu futuro ou uma outra pessoa à qual se
dirige, ou uma frase que escreve, ou um filho que tem.
Peirce retomou a teoria estóica do significado, em termos
que lhe deram direito de cidadania na lógica moderna. As
concepções semióticas de Peirce demonstraram ser
fecundas na lógica e na semiótica contemporâneas, do
mesmo modo que se tornaram fecundas as múltiplas
distinções e classificações de signos que ele forneceu nos
seus escritos.
Para Peirce, Lógica e Semiótica identificam-se: Em seu
sentido geral, a lógica é, como acredito ter mostrado,
apenas um outro nome para semiótica, a quasenecessária, ou formal, doutrina dos signos. A Semiótica é
quase-necessária ou formal no sentido em que, segundo
Peirce, procede por observação abstrativas, partindo dos
signos particulares do que os signos "são", para as
afirmações gerais o que os signos devem ser.
A Semiótica tem três ramos:
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Semiologia e Semiótica
a) Gramática Pura - a sua tarefa é determinar o que deve
ser verdadeiro quanto ao representamen utilizado por
toda a inteligência científica a fim de que possa incorporar
um significado qualquer. É a teoria geral da relação de
representação e dos vários tipos de signos.
b) Lógica Pura ou Crítica - ciência do que é quase
necessariamente verdadeiro em relação aos
representamen de toda a inteligência científica a fim de
que possam aplicar-se a qualquer objeto, isto é, a fim de
que possam ser verdadeiros. Ciência formal da verdade
das representações. Compreende a teoria unificada da
dedução, da indução e da retrodução - inferência
hipotética ou abdução.
c) Retórica Pura ou Especulativa - o seu objetivo é o de
determinar as leis pelas quais, em toda a inteligência
científica, um signo dá origem a outro signo e,
especialmente, um signo acarreta outro. Refere-se à
eficácia da semiose.
Esta tripartição da Semiótica viria a ser retomada por
Charles Morris em 1938 que substitui as designações de
Peirce pelas de Sintaxe (que trata da relação formal dos
signos uns com os outros), Semântica (que trata da
relação entre os signos e os objetos a que se aplicam) e
Pragmática (que trata da relação entre os signos e os
intérpretes). Como sabemos, Sintaxe, Semântica e
Pragmática constituem, hoje em dia, os três grandes
domínios da Semiótica.
Peirce distingue, ainda, entre Semiótica geral e "ciências
psíquicas" a que, mais propriamente, poderíamos chamar
"ciências semióticas", em que inclui as ciências
psicológicas e sociais, a lingüística, a história, a estética,
etc.
7.1-PRIMEIRIDADE, SECUNDIDADE E TERCEIRIDADE.
A primeiridade (a primeira das três categorias universais)
consiste, por exemplo, na presença de imagens
diretamente à consciência, sem uma consciência
propriamente dita. A primeiridade: categoria do
sentimento imediato e presente das coisas, numa relação
sensível, sem relação com outros fenômenos do mundo,
onde se vê aquilo tal como é por exemplo uma Flor
palavra da língua.
O caráter de secundidade já redunda em "conflito". Não é
o não analisável da primeiridade, mas necessita dela para
existir. É o mundo do pensamento, sem, no entanto, a
mediação de signos. O aspecto segundo representa uma
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Semiologia e Semiótica
consciência reagindo ante o mundo, em relação dialética;
uma relação dual. Secundidade: relação entre um
fenômeno primeiro e um segundo fenômeno qualquer. É a
categoria da comparação, por exemplo, uma Flor é o
nome genérico para rosas, margaridas, etc.
A terceiridade contem as duas últimas citadas, no nível do
pensamento a terceiridade corresponderia ao nível
simbólico, sígnico, onde representamos e interpretamos o
mundo. Não é um caráter passivo, primeiro, mas a união
deste com o segundo, acrescentando um fator cognitivo.
Na terceiridade é posto uma camada interpretativa entre a
consciência (segundo) e o que é percebido (primeiro).
Nesse caráter fenomenológico Peirce começou a
esquadrinhar seu sistema filosófico. A terceiridade é a
categoria que relaciona um fenômeno a um terceiro
termo, gerando assim a representação, a semiose, os
signos em si. Por exemplo, uma Flor pode representar a
mocidade; a pureza, a candura, além do próprio tipo
vegetal.
Para esclarecer a definição de signo, Peirce estabeleceu o
conceito de relação sígnica. Toda relação sígnica envolve o
signo propriamente dito, o objeto e seu interpretante. A
noção de interpretante não se define na de intérprete do
signo, mas através da relação que o signo mantém com o
objeto. A partir dessa relação, produz-se na mente
interpretadora um outro signo que traduz o significado do
primeiro (que é o interpretante do primeiro). Por exemplo,
a palavra "casa" é um signo interpretante do signo casa
estabelecido unicamente em cada subjetividade. Dessa
forma, o significado de um signo é sempre outro signo, e
assim por diante.
Tendo suas categorias e a noção de signo, Peirce
estabeleceu uma rede de classificações sempre triádicas
dos tipos possíveis de signo, tomando como base às
relações que se apresenta o signo. A relação mais
elementar entre essas tríades se dá tomando-se a relação
do signo consigo mesmo (primeiridade), com seu objeto
dinâmico (secundidade) e com seu interpretante
(terceiridade):
O Signo 1º em si mesmo (1º Quali-signo, Sin-signo, Legisigno). O Signo 2º com seu objeto. 2º Ícone, Índice,
Símbolo. O Signo 3º com seu interpretante (Rema,
Dicente, Argumento).
Ao pegar-se um signo com seu objeto, em aspecto
icônico, temos por correspondentes em primeiridade um
Quali-signo e uma rema. Por primeiridade ser a pura
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Semiologia e Semiótica
qualidade, é passível a várias "interpretações". Não chega
a um signo restrito.
Partindo novamente da relação do signo com seu objeto,
agora em caráter de secundidade encontra-se o índice.
Aqui, o signo permanece bem mais restrito e concreto,
pois "indica". Um exemplo disso seria o ponteiro da
gasolina no carro, que indica o quanto aproximado há de
combustível no veículo.
Em terceiridade, ao ter-se o símbolo como ponto de
partida, vê-se, no signo em si mesmo, um caráter de lei.
Nesse aspecto podem ser encontrados os códigos (não
especialmente um código genético, por exemplo, mas
explicitamente a linguagem como código criado na esfera
humana). Na forma expressa acima, percebe-se que o
terceiro sempre precisa do primeiro e do segundo para
sua existência, pois se assim não fosse, não teria seu
caráter designativo ou qualitativo numa lei, ou num
processo superior humano.
Peirce, com suas tríades criou miríades de associações,
sendo esta, um dos pontos fundamentais de sua teoria.
Assim, a base geral do signo é a relação entre estes três
elementos, a partir dos quais é possível entender a
semiose ou o processo de produção de significados e
sentidos. A teoria da iconicidade nos diz que qualquer
coisa é capaz de ser um substituto para qualquer coisa
com a qual se assemelhe e a relacionamos com a teoria
do interpretante que é a formulação de um Supersigno ou
Supercódigo que orienta a "tradução" ou decifração dos
possíveis conteúdos de um dado signo sensível.
Como é possível perceber, a teoria de Peirce contempla as
relações entre homem e mudo, assim como decifra em
graus o diálogo entre o homem e os fenômenos que o
tocam, a partir do que a mediação dos sentidos humanos
é considerada em sua amplitude enquanto antena de
captação dos sinais do universo articulado com a
experiência humana.
O modelo triádico de Peirce que viabilizou a classificação
dos sinais em ícones, índices e signos, estendeu a
discussão da atuação subjetiva sobre a decifração sígnica,
assim como permitiu a dedução de valores extra-sígnicos
que compõem a rede de relações sobre as quais opera a
semiose.
Além disso, ressaltou o caráter dinâmico das linguagens,
apontando para a teoria da semiose ilimitada que veio a
subsidiar explicações mais consistentes para a produção
artísticas a partir do confronto entre objeto artístico e
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Semiologia e Semiótica
objeto seriado. Para Peirce, as formas sígnicas são
passíveis de serem construídas a despeito de existirem ou
não no mundo real, por isso, a existência material de
sinais não aprisiona a produção cognitiva.
Das contribuições deixadas por Saussure, verifica-se sua
maior importância no âmbito da descrição lingüística,
portanto, como base fundamental para a análise literária,
inclusive. Quanto ao legado de Peirce, pode-se dizer que
tenha aberto os horizontes dos estudos sígnicos no
sentido de demonstrar as relações intersistêmicas, por
meio do que são sustentáveis os enfoques
interdisciplinares e intertextuais tão em voga na
atualidade.
Originalmente semiótica e semiologia eram a mesma
coisa, a escola francesa gerou uma outra modalidade de
estudo que seria mais bem denominada como semiologia
ou uma semiótica lingüística e a semiótica de Peirce
transcende o estudo do signo lingüístico, portanto, seria
uma ciência continente para os estudos do signo verbal. A
categorização triádica e fenomenológica da teoria de
Peirce favorecem a ampliação de uma metodologia de
ensino de línguas que contemple mais adequadamente o
desenvolvimento das destrezas lingüísticas: ouvir, falar,
ler e escrever.
7.2-PRAGMATISMO E ABDUÇÃO.
Charles Sanders Peirce consta, nas Histórias da Filosofia,
como um dos fundadores do pragmatismo. O
pragmatismo é a forma que foi assumida, na filosofia
contemporânea, pela tradição clássica do empirismo inglês
o pragmatismo constitui a primeira contribuição original
dos Estados Unidos da América para a filosofia ocidental.
Enquanto o empirismo clássico entende "experiência"
como experiência passada, o pragmatismo entende a
experiência como abertura para o futuro, a possibilidade
de fundamentar a previsão: uma verdade é-o não em
confronto com uma experiência passada, mas em relação
com o seu possível uso futuro. A previsão desse possível
uso futuro dos limites, condições e efeitos é o significado
dessa verdade. A tese fundamental do pragmatismo é a
de toda a verdade é uma regra de ação, uma norma para
a conduta futura, entendendo-se por "ação" e por
"conduta futura" toda a espécie ou forma de atividade,
quer seja cognoscitiva quer seja emotiva.
A crítica central de Peirce ao método cartesiano reside na
tese de que não é possível distinguir entre uma idéia que
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Semiologia e Semiótica
apenas parece clara e distinta e outra que o é
efetivamente. Peirce observa que o mecanismo da mente
só pode transformar conhecimento, mas nunca originá-lo,
a menos que alimentado com fatos de observação. Como
podemos, então, estar seguros da clareza de uma idéia?
Para responder a esta questão, Peirce avança a sua
concepção do pensamento como "engenharia". O
pensamento é comparado, por Peirce, à "linha de uma
melodia através da sucessão das nossas sensações":
enquanto os sons são o imediatamente percebido, o
pensamento é uma sucessão ordenada de idéias, mediada
por essas sensações e orientada para uma certa função.
Essa função é a produção de uma crença.
A crença tem três propriedades, segundo Peirce: é algo de
que nos damos conta; sossega a irritação do pensamento
provocada pela dúvida; implica a determinação, na nossa
natureza, de uma regra de ação ou hábito. Por hábito
deve entender-se, aqui, o conjunto de ações, tanto reais
como possíveis, que se baseiam numa crença. No entanto,
a ação com base numa determinada crença produz uma
nova dúvida, e este novo pensamento; assim, a crença,
sendo lugar de paragem, é também lugar de recomeço
para o pensamento. Sendo a essência da crença a
produção de um hábito, as diferentes crenças distinguemse pelos diferentes modos de ação a que dão origem.
Parafraseando um exemplo de Fidalgo, se eu acreditar que
um objeto é um garfo, então servir-me-ei dele para levar
à boca alimentos sólidos; mas, se for chinês, por exemplo,
e acreditar que se trata de um ancinho, utilizá-lo-ei para
tratar das flores.
Portanto, e ao contrário do que pretendia Descartes, a
"clareza das idéias" não resulta das idéias inatas, mas da
aplicação de uma máxima pragmatista, que Peirce
considera quais os efeitos, que podem ter certos aspectos
práticos, que concebemos que o objeto da nossa
concepção tem. A nossa concepção dos seus efeitos
constitui a nossa concepção do objeto. O que significa que
a nossa idéia (significado) de um objeto é a idéia dos
efeitos sensíveis que concebemos que esse objeto tem.
As sete conferências que Peirce fez em Harvard, em 1903,
a convite de William James, procuram dar uma resposta
lógica e não psicológica, ao problema da máxima
pragmatista, formulado nos seguintes termos: "Qual é a
prova de que os efeitos práticos de um conceito
constituem a soma total do conceito?". A resposta a este
problema leva Peirce a afirmar que a questão do
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Semiologia e Semiótica
pragmatismo não é mais que a questão da abdução. Para
"afiar" a máxima pragmatista, Peirce propõe as seguintes
proposições "cotárias" (do latim cotis, afiar):
a) "Nada está no intelecto que primeiro não tenha estado
nos sentidos": este princípio aristotélico significa, para
Peirce, que nenhuma idéia, seja de que tipo for, se
encontra na mente sem ter passado primeiro por um juízo
perceptivo, ou seja, o juízo perceptivo é a fonte do
conhecimento. No entanto, esta concepção coloca o
seguinte problema: sendo os juízos perceptivos juízos
particulares, como se passa deles para os conceitos e
juízos universais? Este problema leva Peirce à segunda
proposição cotária.
b) Os juízos perceptivos contêm elementos gerais:
embora os juízos perceptivos sejam singulares, ao nível
do sujeito eles não deixam de envolver a generalidade, ao
nível do predicado, possibilitando, assim, a dedução de
proposições gerais. Como se faz a introdução da
generalidade nos juízos perceptivos? Pelo tipo de
raciocínio a que Peirce chama abdução.
A Lógica e a Teoria do Conhecimento tradicional
distinguem dois tipos de raciocínio: a dedução (prova que
algo deve ser, é uma inferência necessária que extrai uma
conclusão contida em certas premissas, cuja verdade
deixa, no entanto, em aberto) e a indução (prova que algo
realmente é, é uma inferência experimental que não
consiste em descobrir, mas em confirmar uma teoria
através da experimentação - e que, portanto, não cria
algo de novo). A criação quer das premissas
(fundamentoras da dedução) quer das teorias
(fundamentoras da indução), é, deste modo, exterior aos
dois tipos tradicionais de raciocínio, e reside na abdução.
A abdução, que prova que algo pode ser, é uma inferência
hipotética, é o verdadeiro método para a criação de novas
hipóteses explicativas. O modelo da inferência abdutiva
pode ser traduzido da forma seguinte: "Um fato
surpreendente, C, é observado. Mas, se A fosse
verdadeiro, C seria natural. Donde há razão para suspeitar
que A é verdadeiro".
Mas como entra, através da abdução, a generalidade nos
juízos perceptivos? Esta questão conduz-nos à terceira
proposição cotária.
c) A inferência abdutiva transforma-se no juízo perceptivo
sem que haja uma linha clara de demarcação entre eles:
os juízos perceptivos são casos extremos de inferências
abdutivas. A percepção tem sempre, segundo Peirce, um
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Semiologia e Semiótica
fundo abdutivo e interpretativo, não se limita a ser um
mero "dado". Seja o seguinte exemplo de juízo
perceptivo, feito num lindo dia de sol: "Está a cair água do
telhado". A partir deste juízo perceptivo, várias inferências
abdutivas são possíveis, por exemplo: "Alguém está a
deitar água no telhado" ou "A neve acumulada no telhado
está a derreter". Enquanto a inferência abdutiva admite
sempre a possibilidade de ser negada (para afirmarmos
uma outra), no caso dos juízos perceptivos não nos é
possível conceber a sua negação ("prova da
inconceptibilidade").
Como distinguir, de entre a infinidade de hipóteses
explicativas de um fenômeno teoricamente possíveis, as
que são admissíveis e as que não o são? A resposta a esta
pergunta reside na máxima pragmatista - é ela que nos
fornece o critério de admissibilidade das hipóteses
explicativas. É neste sentido que, segundo Peirce, a
questão do pragmatismo é a questão da abdução. Só são
admissíveis as hipóteses das quais podemos conceber
determinados efeitos práticos sensíveis, que vão guiar a
conduta de quem as formulou. Assim entendida, a
máxima pragmatista pode formular-se do seguinte modo:
uma concepção não pode ter efeito lógico algum, ou
importância a diferir do efeito de uma segunda concepção,
salvo na medida em que, tomada em conexão com outras
concepções e intenções, poderia concebivelmente
modificar a nossa conduta prática de um modo diverso do
da segunda concepção.
7.3-SIGNOS.
A Semiótica é a doutrina ou ciência dos signos, logo a
noção central desta disciplina é, obviamente, a noção de
Signo. Platão e Aristóteles vão distinguir, no que se refere
às palavras, entre significado e significante e, sobretudo
entre significação e referência. No entanto, Aristóteles não
usa, habitualmente, a palavra semeion para se referir às
palavras, a que se refere normalmente como symbolon.
Os signos (semeia), referidos na Retórica, são uma das
fontes dos entimemas ( a outra são os eikota ou
verosímeis). Os signos são distinguidos em duas
categorias: o tekmerion, no sentido de "prova", que
poderíamos traduzir por "signo necessário" ou "forte" ("se
tem febre, então está doente"), governado pela relação de
implicação e indo do universal para o particular; e o "signo
fraco" ("se tem a respiração alterada, então tem febre"), a
que Aristóteles não dá um nome particular, governado
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Semiologia e Semiótica
pela relação de conjunção e indo do particular para o
particular.
Os Estóicos, apesar da articulação da sua semiótica, ainda
não vão unificar, de forma clara, a doutrina da linguagem
verbal e a doutrina dos signos. No que se refere à
linguagem verbal, os Estóicos distinguiam entre
"expressão" (semainon), "conteúdo" (semainomenon) e
"referente" (tynchanon). Poder-se-ia dizer que, para os
Estóicos, a língua aparece como sistema modelizante
primário (Lotman).
No entanto, será só com Stº Agostinho que, segundo Eco,
se fará à união definitiva entre teoria dos signos e teoria
da linguagem, aparecendo os signos lingüísticos como
uma espécie ( entre outras espécies, como as dos
letreiros, dos gestos, dos sinais ostensivos) do gênero
signo. Quanto à noção de signo, Stº Agostinho dá duas
definições que contemplam quer a sua dimensão
semântico-representativa quer a sua dimensão
comunicacional (representando, esta última, uma
novidade em relação aos Estóicos): "Um signo é o que se
mostra a si mesmo ao sentido, e que, para além de si,
mostra ainda alguma coisa ao espírito" e "A palavra é o
signo de uma coisa que pode ser compreendida pelo
auditor quando é proferida pelo locutor". Em vez dos três
elementos referidos pelos Estóicos, Stº Agostinho indica
quatro elementos constitutivos do signo: a palavra
(verbum), o exprimível (dicibilis), a expressão (ditio) e a
coisa (res), ainda que verbum e ditio pareçam poder ser
tomados como sinónimos, referindo-se o primeiro ao
aspecto comunicativo e o segundo ao aspecto semânticoreferencial do signo.
A esta concepção triádica do signo, profundamente
radicada na tradição filosófica, vai opor-se claramente
Saussure (e a tradição que dele emana). Saussure define
o signo (lingüístico) da seguinte forma: "O signo
lingüístico une não uma coisa e um nome, mas um
conceito e uma imagem acústica. Esta última não é o som
material, coisa puramente física, mas a marca psíquica
desse som, a representação que dela nos dá o
testemunho dos nossos sentidos; ela é sensorial, e se nos
acontece chamar-lhe “material”, é apenas neste sentido e
por oposição ao outro termo da associação, o conceito,
geralmente mais abstrato". O signo apresenta, assim,
uma dupla face: significante ("imagem acústica") e
significado ("conceito"), excluindo-se claramente o
referente (e, em conseqüência, pelo menos assim o
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Semiologia e Semiótica
pensava Saussure, a concepção da língua como
nomenclatura, ligando palavra-coisa).
A concepção Peirceana do signo é claramente herdeira da
tradição lógico-filosófica (estóica e agostiniana) do signo e
ultrapassa, claramente, a concepção Saussuriana do
mesmo.
a) Um signo, ou representamen, é aquilo que, sob certo
aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se
a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo
equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao
signo assim criado denomino interpretante do primeiro
signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto.
Representa esse objeto não em todos os seus aspectos,
mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes,
chamei fundamento do representamen. "Idéia" deve ser
aqui entendida num certo sentido platônico."
b) Um Signo é tudo aquilo que está relacionado com uma
Segunda coisa, seu Objeto, com respeito a uma
Qualidade, de modo tal a trazer uma Terceira coisa, seu
Interpretante, para uma relação com o mesmo Objeto, e
de modo tal a trazer uma Quarta para uma relação com
aquele Objeto na mesma forma, ad infinitum. Se a série é
inter-rompida, o Signo, por enquanto, não corresponde ao
caráter significante perfeito.
c) Um Signo, ou Representamen, é um Primeiro que se
coloca numa relação triádica genuína tal com um
Segundo, denominado seu Objeto, que é capaz de
determinar um Terceiro, denominado seu Interpretante,
que assume a mesma relação triádica com seu Objeto na
qual ele próprio está em relação com o mesmo Objeto.
d) Signo é qualquer coisa que conduz alguma outra coisa
(seu interpretante) a referir-se a um objeto ao qual ela
mesma se refere (seu objeto) de modo idêntico,
transformando-se o interpretante, por sua vez, em signo,
e assim sucessivamente, ad infinitum. Se a série de
interpretantes sucessivos vem a ter fim, em virtude desse
fato o signo torna-se, pelo menos, imperfeito.
A classificação dos signos é um dos problemas que a
Semiótica ainda não conseguiu resolver de forma
totalmente satisfatória. A prova disso são as sucessivas
classificações, mais ou menos inspiradas em Peirce,
tentadas por Eco. Segundo este autor, o único pensador
que, até hoje, tentou uma classificação global dos signos
foi Peirce, tendo, no entanto a sua classificação ficada
incompleta. Apesar disso, muitas das distinções feitas por
Peirce ganharam direitos de cidadania na Semiótica e, por
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Semiologia e Semiótica
isso, importa fazer aqui a sua análise, ainda que sumária.
Os signos podem ser classificados a partir de três pontos
de vista: Signo em si, relação do Signo com o Objeto e
relação do Signo com o Interpretante. Obtêm-se, assim,
as três tricotomias e as nove categorias seguintes:
- Signo em si: Qualisigno (Tone), Sinsigno (Token),
Legisigno (Type).
- Signo em relação com o Objeto: Índice, Ícone e Símbolo.
- Signo em relação com o Interpretante: Rema, Dicisigno,
Argumento.
Da combinação destas categorias derivam dez classes de
signos as outras combinações teoricamente possíveis não
têm significado, que nos dispensaremos de analisar aqui.
Classes que, no entanto, nem sempre é fácil saber como
aplicar. Como diz Peirce, é um terrível problema dizer a
que classe um signo pertence.
Peirce define, num texto de 1903, cada uma das nove
categorias anteriores indica-se, entre parêntesis, a
respectiva exemplificação e/ou interpretação:
- Qualisigno (Tone): é uma qualidade que é um Signo. Por
exemplo, tom de voz, vestuário, etc.
- Sinsigno (Token ou "ocorrência"): é uma coisa ou evento
existente e real que é um Signo por exemplo, todos os /o/
deste texto.
- Legisigno (Type ou tipo): é uma lei que é um Signo.
Traduz-se nos sinsignos, que são as suas "ocorrências";
exemplo: o artigo definido "o", que se traduz nos /o/
deste e de outros textos.
- Ícone: é um signo que se refere ao Objeto que denota
apenas em virtude dos seus caracteres próprios,
caracteres que ele igualmente possui quer um tal Objeto
realmente exista ou não; qualquer coisa, seja uma
qualidade, um existente individual ou uma lei, é Ícone de
qualquer coisa, na medida em que for semelhante a essa
coisa e utilizado como um seu signo (inclui, como
subcategorias, as imagens, os diagramas e as metáforas;
exemplos: fotografias, desenhos, diagramas, fórmulas
lógicas e algébricas, imagens mentais, etc.).
- Índice: é um signo que se refere ao Objeto que denota
em virtude de ser realmente afetado por esse Objeto.
Funda-se não na semelhança, como o Ícone, mas na
conexão física com o Objeto; exemplos: dedo apontado
para um objeto, cata-vento, fumo como sintoma do fogo,
pronome /este/, referido a um objeto, os quantificadores
lógicos, etc.
- Símbolo: é um signo que se refere ao Objeto que denota
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Semiologia e Semiótica
em virtude de uma lei, normalmente uma associação de
idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o
Símbolo seja interpretado como se referindo àquele
Objeto. Exemplos de Peirce: todas as palavras, frases,
livros e outros signos convencionais.
- Rema (Termo): é um Signo que, para o seu
Interpretante, é um Signo de Possibilidade qualitativa, ou
seja, é entendido como representando esta e aquela
espécie de Objeto possível. É ou um termo simples, ou
uma descrição, ou uma função. Por exemplo: Sócrates,
alto, e, etc.
- Dicisigno (Proposição): é um Signo que, para o seu
Interpretante, é um Signo de existência real. Uma
proposição como, por exemplo, "Sócrates é mortal".
- Argumento: é um Signo que, para o seu Interpretante, é
Signo de lei. É um raciocínio complexo, por exemplo, um
silogismo.
Para percebermos melhor o funcionamento daquela que
Peirce considera ser "a mais importante divisão dos
signos", em Ícones, Índices e Símbolos, vejamos os
seguintes exemplos de Peirce - que mostram como, na
linguagem do quotidiano, Símbolos, Ícones e Índices se
relacionam:
Exemplo 1. Um homem, que caminha com uma criança,
levanta o braço para o ar e aponta, dizendo: "Lá está um
balão". A criança pergunta: "O que é um balão?".
Responde o homem: "É parecido com uma grande bolha
de sabão".
Neste exemplo verifica-se que: o braço apontado para o
ar funciona como um Índice (denota um individual), a
bolha de sabão funciona como um Ícone, e as palavras
funcionam como Símbolos.
Exemplo 2. Se eu digo "Todo o homem ama uma mulher",
isto equivale a dizer "Tudo o que for homem ama algo que
é mulher".
Neste exemplo verifica-se que: "tudo o
que" (quantificador universal) e "algo que" (quantificador
particular) funcionam como Índices; "for homem", "ama"
e "mulher" funcionam como Símbolos.
Exemplo 3. A diz a B: "Há um fogo". B pergunta: "Onde?".
Responde B: "A cerca de mil metros daqui".
Neste exemplo, "metros" e "daqui" funcionam como
Índices, e os restantes signos como Símbolos.
Sobre a relação entre Índices, Ícones e Símbolos, Peirce
diz ainda que ela está presente em qualquer proposição,
sendo impossível encontrar uma proposição, por mais
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Semiologia e Semiótica
simples que seja, que não faça apelo a pelo menos dois
destes tipos de signos.
Especialmente importante é o papel que Peirce atribui ao
Ícone, que considera a única maneira de comunicar
diretamente uma idéia, levando a que todo o método de
comunicação indireta de uma idéia deve passar pelo uso
de um Ícone. Assim, toda a asserção deve conter um
Ícone ou um conjunto de Ícones, ou signos cujo
significado só seja explicável por Ícones. No dizer de
Peirce, o Predicado de uma asserção é a idéia significada
por um conjunto de ícones ou o equivalente a um
conjunto de ícones contido numa asserção.
De qualquer modo, só num determinado contexto
podemos determinar se um signo funciona como um
Índice, um Ícone ou um Símbolo. Por exemplo: o fumo
tanto pode significar fogo, como nevoeiro, como se
aproxima um rosto-pálido, no caso dos sinais de fumo.
Com a sua teoria da abdução, Peirce vai romper com os
paradigmas referencialista e ideacionista do Signo, ambos
baseados na noção de equivalência ou entre signoreferente ou entre significante-significado. Trata-se,
agora, de substituir a noção de equivalência pela de
implicação. Um signo é algo através do qual nós
conhecemos algo mais.
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Psicanalítica, Imago,RJ-1976.
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SAUSURRE, FERDINAND DE, Curso de Lingüística Geral,
Ed Cultrix, 1995.
NUNES, PORTELLA, Psiquiatria e Saúde Mental, Atheneu,
SP-2000.
FENICHEL, OTTO, Teoria Psicanalítica das Neuroses,
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Semiologia e Semiótica
Interamericana, RJ-1977.
INTERNET - http://www.geocities.com/bernardorieux/
INTERNET - http://www.geocities.com/bernardorieux/
semiota.htm#ma Introdução às Se
INTERNET - http://www.ibsei.com.br/semiolo.htm Darcilia Simões
INTERNET - http://ubista.ubi.pt/~comum/jpserra_peirce.
html -Paulo Serra.
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