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VOL. 2, NUM. 1
2016
LEVANTAMENTO E PRINCIPAIS ACHADOS DE ESTUDOS NACIONAIS SOBRE A
DEPRESSÃO - UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
Survey of major findings of national studies about depression – a systematic review of
literature
Laís Gabriela ROCHA-ALMEIDA1*; André FARO 2*
1
Departamento de Psicologia/Universidade Federal de Sergipe.
² Departamento de Psicologia/Universidade Federal de Sergipe.
*[email protected]
(Recebido em 02 de maio de 2016; aceito em 06 de junho de 2016)
Esta investigação realizou uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de fazer o
levantamento das produções nacionais sobre a depressão em duas bases de dados (PePSIC e
SciELO) no período de 2012 a 2014. Após o levantamento e a filtragem pelos critérios de exclusão,
restaram 107 artigos para a amostragem final. Os artigos foram analisados através de dois eixos:
bibliométrico e de conteúdo dos objetivos. Os resultados apontam uma concentração de publicações
nas regiões Sudeste e Sul e as áreas que mais publicam são a Medicina e a Psicologia. Doenças
crônicas, em geral, foi o tema mais associado à depressão, seguido de ansiedade. Verificou-se
também que o BDI foi o instrumento mais utilizado. Por fim, o presente estudo oferece uma agenda
de pesquisas baseada na demanda nacional.
Palavras-chave: transtornos depressivos, revisão de literatura
This investigation performed a literature systematic review mapping the national studies about
depression in two national databases (PePSIC and SciELO), covering the years 2012 to 2014. After
the survey, 107 articles were included in the final sample. Articles were analyzed through two axes:
bibliometric and content analyses of objectives. Results showed a concentration of publications in
the southeast and south of Brazil. In addition, the areas of knowledge that most produced on
depression are medicine and psychology. Chronic diseases was the most associated theme to
depression, followed by anxiety. It was found that the BDI was the most used instrument. Finally,
this study offers a research agenda based on national demand.
Keywords: depressive disorders, literature review
1. INTRODUÇÃO
A depressão é uma doença que se caracteriza por um conjunto de sintomas psicológicos e
físicos, constantemente associada a altos índices de comorbidades médicas, incapacitação e
suicídio. Denominam-se doenças ou transtornos os fenômenos nos quais podem se identificar ou
presumir fatores causais, um curso homogêneo, mecanismos psicopatológicos característicos e
respostas a tratamentos previsíveis (Dalgalarrondo, 2008). É um dos transtornos mentais mais
comuns na população geral e acarreta um peso substancial para os países em desenvolvimento e
para os desenvolvidos (Baldwin & Birtwistle, 2002). Segundo a Organização Mundial da Saúde
pelo menos 350 milhões de pessoas vivem com depressão e estima-se que em 2020 esta será a
segunda causa de incapacidade em saúde (Porto, 2004; World Health Organization, 2015).
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Há a necessidade de diferenciar tristeza ou humor deprimido da depressão como transtorno.
Essas condições podem se manifestar de maneira parecida, com os mesmos sintomas, mas
apresentam especificidades com relação à intensidade, à duração e à percepção das causas
envolvidas. A tristeza se caracteriza por uma reação emocional normal a inúmeras situações
frustrantes que enfrentamos durante a vida. Após a elaboração e a adaptação do fato vivido, num
período de 6 a 8 semanas, esse humor deprimido tende a curar-se sozinho, sem a necessidade de
intervenções médicas ou psicoterápicas. Nesse caso, a pessoa geralmente consegue identificar o que
causou a tristeza. No caso da depressão, nem sempre a pessoa percebe suas origens e esta apresenta
maior intensidade, estende-se ao longo do tempo e prejudica consideravelmente a vida do
indivíduo. É necessário ter apoio profissional e receber um tratamento adequado (Teodoro, 2010).
Os principais sintomas da depressão variam entre humor deprimido, na maior parte do
tempo, e perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. Esses sintomas devem estar
presentes praticamente todos os dias, por um período de mais de duas semanas, devendo o
indivíduo apresentar também sintomas adicionais, tais como: apatia; falta de confiança; visões
negativas de si e dos outros; alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; fadiga;
sentimentos de desvalia ou culpa; energia reduzida; irritabilidade; dificuldade para pensar,
concentrar-se ou tomar decisões; perturbação da memória e dificuldade na aprendizagem;
isolamento social; pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de
suicídio (Parker & Brotchie, 2009; Porto, 1999; Stopa et al., 2015; Zimerman, 2007).
De acordo com o DSM-V, a depressão maior se diferencia em grande medida de outras
condições depressivas pela gravidade, ou seja, pela presença de certo número de sintomas, pela
persistência e pela recorrência (Parker & Brotchie, 2009). O número e a gravidade dos sintomas
permitem a classificação de três níveis de um episódio depressivo: leve, moderado e grave. No
primeiro, o paciente sofre com a presença dos sintomas, mas consegue realizar a maior parte das
atividades. No grau moderado, o paciente apresenta muita dificuldade para continuar a desempenhar
as atividades de rotina. Já na depressão grave, os sintomas são marcantes e angustiantes, as ideias e
os atos suicidas são comuns e observa-se uma série de sintomas somáticos (Conceição et al., 2010).
A depressão é um transtorno do humor que gera grande sofrimento, ocasiona perda na
qualidade de vida e afeta as relações e as atividades do indivíduo acometido. O prejuízo causado
por esse transtorno pode ocasionar efeitos prejudiciais sobre a saúde física e levar à morte
prematura, seja por suicídio ou por incidir sobre um organismo com a saúde previamente debilitada
acelerando sua morte (Ingram, 2009). Além disso, sabe-se que a depressão, quando associada a
problemas crônicos, piora consideravelmente a saúde, em comparação com uma doença física
isolada ou com a combinação de outras doenças físicas (Moussavi et al., 2007).
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Os custos socioeconômicos gerados pela depressão são altos e estão relacionados a custos
diretos (e.g. atendimentos e medicações), indiretos (e.g. incapacitação, comorbidades, morte
prematura) e intangíveis (e.g. piora da qualidade de vida). Segundo dados do Ministério da Saúde
(2007), o custo de cada paciente internado no estado de São Paulo com algum tipo de transtorno de
humor é de cerca de R$ 1.000,00. Os custos com consultas, exames e hospitalizações chegam a ser
de duas a quatro vezes maiores entre os que sofrem de depressão. A perda de produtividade e as
faltas ao trabalho podem responder por até 60% dos custos com a depressão (Lopez, Mathers,
Ezzati, Jamison & Murray, 2006).
Os dados epidemiológicos sobre a prevalência de depressão maior são escassos no Brasil, e
os dados econômicos são quase inexistentes. O Estudo Multicêntrico Brasileiro de Morbidade
Psiquiátrica avaliou que a prevalência da depressão de um mês variou de 1,9% a 10,2% em
diferentes regiões brasileiras (Lepine, Moreno, Campos & Couttolenc, 2012). Um segundo estudo
encontrou uma prevalência de 4,5% referente ao período de um mês, de 7,1% ao longo de um ano e
uma taxa de 16,8% durante a vida (Lepine et al., 2012). Logo, as ações preventivas exigem atitudes
urgentes, sendo o investimento em mais pesquisas um caminho esperado, uma vez que apenas se
conhecendo bem o objeto é que se torna possível planejar intervenções mais eficazes.
Considerando que a depressão, em todos os níveis, prejudica consideravelmente a vida do
indivíduo e gera gastos com a saúde pública, além de que é um transtorno que possui formas de
prevenção eficazes, julga-se necessário a realização de sínteses do que já foi produzido sobre o tema
a fim de facilitar o acesso ao conjunto de informações. Nesse sentido, revisões sistemáticas de
literatura contribuem para a combinação de resultados oriundos de diversas fontes e auxiliam
tomadas de decisões (Schütz, Sant’Ana & Santos, 2011).
Dado o exposto, o presente estudo se propôs a fazer uma revisão sistemática, isto é, a
sumariar o estado de conhecimento (Ribeiro, 2014) acerca da depressão utilizando artigos de duas
bases de dados eletrônicas brasileiras: Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC) e Scientific
Eletronic Library Online – Brasil (SciELO). Para tanto, realizou-se um levantamento dos principais
achados sobre a depressão no Brasil publicados nas duas bases eletrônicas brasileiras citadas nos
anos de 2012, 2013 e 2014. Buscou-se também sistematizar as principais propostas de acordo com
objetivos, método e abordagem de análise, revelando observações, questionamentos e conclusões
apresentados pelos autores das pesquisas nesse campo de estudo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Empregou-se o método de revisão de literatura, conduzido mediante pesquisa bibliográfica
por meio da busca eletrônica de artigos indexados em duas importantes bases de artigos científicos
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brasileiras e de livre acesso: PePSIC e SciELO, no mês de janeiro de 2015, a partir da palavra
“depressão” no campo de busca “palavras do título” com a data de publicação de 2012 a 2014.
Critérios de Inclusão e Exclusão dos Artigos
Inicialmente, realizou-se um levantamento de todos os artigos encontrados através dessa
busca nas bases de dados utilizadas. Em seguida, foram excluídos os artigos repetidos ou
incompletos, as resenhas, cartas e comentários de publicações, artigos teóricos, artigos de revisão e
produções não realizadas no Brasil. Com os artigos restantes, conduziu-se uma filtragem a partir da
leitura dos resumos, com a finalidade de manter apenas os artigos que se enquadrassem no critério
de inclusão deste levantamento: estudos sobre a depressão.
A busca por meio da palavra-chave na base de dados PePSIC resultou na identificação de 30
artigos, ao passo que no SciELO foram encontrados 111, totalizando 141 trabalhos. Após a
filtragem pelos critérios de exclusão restaram 23 artigos do PePSIC e 84 do SciELO. O quantitativo
de publicações se distribuiu da seguinte maneira: 40 artigos (37,4%) em 2012, 41 (38,3%) em 2013
e 26 (24,3%) em 2014.
Procedimento de Análises dos dados
Posteriormente, foram realizados dois tipos de análise: a bibliométrica e a de conteúdo. A
análise bibliométrica visa analisar a atividade científica pelos estudos quantitativos das publicações
e, dessa forma, qualificar os processos de comunicação escrita. Por meio dela é possível construir
indicadores destinados a avaliar a produção científica de indivíduos, áreas de conhecimento, países
(Silva, Hayashi & Hayashi, 2011). Essa análise abordou os seguintes tópicos: região do país onde a
pesquisa foi realizada e áreas dos periódicos que publicaram os artigos. A análise de conteúdo foi
organizada em quatro categorias de acordo com similitude dos objetivos e principais resultados
encontrados, a saber, (1) prevalência, incidência ou ocorrência dos transtornos depressivos; (2)
fenômenos e quadros clínicos; (3) perfis sociodemográficos e clínicos associados à depressão e (4)
medidas dos transtornos depressivos: instrumentos e suas qualidades psicométricas.
3. RESULTADOS
Os resultados e discussão apresentados a seguir se baseiam na análise de 107 artigos
empíricos sobre a depressão no Brasil. A princípio, serão apresentados os resultados da análise
bibliométrica e, em seguida, os da análise pelos objetivos.
Análise Bibliométrica
Em relação à análise bibliométrica, os seguintes pontos foram analisados: o número de
artigos por região e as áreas das revistas que publicaram os artigos selecionados. No que diz
respeito ao primeiro ponto, o número de artigos por região do país, foi considerada a região em que
a amostra foi coletada e não onde o artigo foi publicado. A região que mais teve estudos realizados
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foi a região Sudeste (51,9%), seguida pela região Sul (28,3%) e pela Nordeste (14,2%). Da região
Centro-Oeste, só foram selecionados 6 artigos (5,7%), enquanto que da região Norte não foi obtida
nenhuma publicação. Um dos artigos selecionados utilizou amostras de duas regiões – Sul e Sudeste
e, portanto, não entrou no cálculo das porcentagens.
No segundo eixo bibliométrico, as áreas das revistas, foram encontradas 7 grandes áreas.
Dentre essas, as que mais produziram foram, em ordem de produção: Medicina (43%) e Psicologia
(36,4%), perfazendo quase 80% da produção no período. Os resultados se encontram na Tabela 1.
Tabela 1
Área das revistas que publicaram artigos sobre depressão no período de 2012 a 2014
Principal Área de Estudo
Medicina
Psicologia
Enfermagem
Fisioterapia
Fonoaudiologia
Saúde Coletiva/Pública
Multidisciplinar
Total
N
%
46
39
10
2
2
7
1
107
43,0
36,4
9,3
1,9
1,9
6,5
0,9
100
Análise de Conteúdo dos Objetivos
No que se refere à análise dos objetivos, após uma leitura minuciosa dos resumos dos 107
artigos selecionados, quatro categorias distintas foram elencadas: (1) prevalência, incidência ou
ocorrência dos transtornos depressivos; (2) fenômenos e quadros clínicos associados à depressão;
(3) perfis sociodemográficos e clínicos associados à depressão e (4) medidas dos transtornos
depressivos: instrumentos e suas qualidades psicométricas.
A primeira categoria é destinada a levantar os dados epidemiológicos da depressão
referentes às amostras dos artigos. Nela é feita a identificação da frequência dos transtornos
depressivos nos estudos analisados. Dos 107 artigos, a média geral de depressão encontrada foi de
30%, próximo ao estudo de Zanon e Batista (2012), com 31%, feito com 82 cuidadores de crianças.
O menor índice encontrado foi de 5,8% no estudo de Sharovsky e Romano (2013) com amostra de
103 pacientes com Síndrome Metabólica e o maior índice foi de 63,33%, no artigo de Campos,
Silva, Castro e Graminha (2013) com amostra de pacientes com artrite reumatoide.
Nessa categoria, o perfil da amostra também foi separado em clínico ou não clínico. Assim,
constatou-se que dos 107 artigos, 75,7% (n = 81) correspondem à amostra clínica, por exemplo, o
de Medeiros et al. (2014) com pacientes com Hepatite C, o de Ramiro et al. (2014) com mulheres
com fibromialgia e o de Costa et al. (2014) com pacientes que sofrem de insuficiência renal crônica.
Enquanto 24,3% (n = 26) correspondem à amostra de caráter não clínico, dentre esses, Gomes e
Oliveira (2013) que utilizou como amostra profissionais de enfermagem, Salle, Rocha, Rocha,
Nunes e Chaves (2012) que utilizou estudantes do ensino médio e Ferreira e Tavares (2013) que
teve como amostra idosos residentes na zona rural.
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A segunda categoria, fenômenos e quadros clínicos associados aos transtornos depressivos,
foi escolhida devido à quantidade de artigos que relacionam a depressão a outros construtos, seja
para indicar comorbidade, influência ou teste de alguma variável em relação ao diagnóstico. Desse
modo, objetivou-se elencar esses construtos, fenômenos, conceitos e quadros clínicos que são mais
comumente associados à depressão. Dos 107 artigos analisados, 81 deles (75,7%), apresentaram a
depressão associada a outro(s) construto(s). Em alusão a esses construtos, foi observado que os
principais relacionados à depressão foram: doenças crônicas (52,3%; n = 45), ansiedade (25,6%; n =
22), qualidade de vida (9,3%; n = 8), dor (7,0%; n = 6) e sono (3,5%; n = 3).
A terceira categoria, perfis sociodemográficos dos transtornos depressivos, foi criada para
fazer um levantamento da caracterização das amostras analisadas nos artigos utilizados quanto ao
sexo e faixa etária e, dessa forma, traçar um perfil geral da amostra do transtorno depressivo em
termos nacionais. Quanto ao sexo, dos artigos que definem claramente a sua amostra, 28,9% (n =
30) utilizaram amostras femininas, dos quais 17 artigos abordaram a depressão materna, como, por
exemplo, Thiengo, Pereira, Santos, Cavalcanti e Lovisi (2012) com mulheres antes e depois do
parto. A maioria (70,2%; n = 73) contemplou amostras de ambos os sexos, a exemplo de Nogueira e
Santos (2012) e Godoy (2013) e só um (0,96%) artigo utilizou amostra exclusivamente masculina
(Souza, Carvalho, Araújo, Koifman & Porto, 2012) com trabalhadores de linhas elétricas.
Com menção à faixa etária da amostra em questão, variou de 9 a 98 anos, sendo mais
comum amostras com adultos (69,3%), seguida de amostras com idosos (40,6%) e com crianças ou
adolescentes (12,9%). Por fim, a última categoria, medidas da depressão, fez o levantamento de
todos os instrumentos utilizados para mensurar a depressão nos artigos estudados. Dentre esses
instrumentos, os quatro mais utilizados foram o BDI, (34,5%; n = 48), a EDG, (7,9%; n =11), a
HADS (7,2%; n = 10) e a SCID, (7,2%; n = 10).
4. DISCUSSÃO
De acordo com a análise bibliométrica foi observado que as regiões onde mais se realizam
os estudos são, respectivamente, as regiões Sudeste (51,9%) e Sul (28,3%). Esse dado é de extrema
importância para detectar regiões carentes de estudos no país, das quais não temos informação
suficiente sobre sua população. Portanto, qualquer produção nessa área é relevante.
A assimetria regional de produção pode ser explicada pelo número de programas de pósgraduação por região, já que a Sudeste comporta algo próximo a 60% dos programas com mestrado
e doutorado (Santos & Azevedo, 2009). Apesar da evidente disparidade, com o passar dos anos a
concentração nessa região tem diminuído, acompanhado de um crescimento distribuído nas demais
regiões (Brasil, 2010). A região Norte, que é de extrema importância nacional pela sua dimensão e
diversidade possui poucos programas concentrados em dois estados: Amazonas e Pará (Santos &
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7
Azevedo, 2009). Além disso, há uma baixa concentração de docentes vinculados ao sistema de pósgraduação nessa região. Dos 7 estados que apresentam os menores números de docentes, 5
encontram-se na região Norte (Brasil, 2010). Nos 107 artigos analisados, somente um, o de Nunes
et al. (2013), tem entre seus autores uma pesquisadora da região Norte.
Ao analisar o outro ponto da análise bibliométrica, verificamos que a produção sobre a
depressão é feita, predominantemente, pela Medicina (42,9%) e pela Psicologia (36,4%). Há poucos
trabalhos em Saúde Coletiva e há uma carência de estudos populacionais. A área da saúde mental,
representada pela Medicina e pela Psicologia, é a que mais publica estudos sobre a depressão. Esse
dado mostra o destaque do tema dentro do campo da saúde, provavelmente devido à característica
incapacitante da depressão, que costuma causar agravamento no quadro de outras doenças e
prejuízo no desempenho ocupacional, social e interpessoal (Razzouk, 2013). Em escala mundial, os
transtornos mentais e neurológicos foram responsáveis por 12% do total de Anos de Vida Ajustados
por Incapacidade (DALY) no ano 2000. A depressão está entre os principais diagnósticos e estimase que, até 2020, a carga dessas doenças atingirá o patamar de 15% (Ribeiro & Inglez-Dias, 2011).
A segunda parte da análise se deu a partir do levantamento dos objetivos dos artigos
encontrados, que foram categorizados em quatro pontos: (1) Identificação da frequência dos
Transtornos Depressivos; (2) Construtos associados à Depressão; (3) Perfis Sociodemográficos dos
Transtornos Depressivos e (4) Medidas dos Transtornos Depressivos.
A frequência da depressão nos estudos analisados teve como média 30%. Um estudo
epidemiológico feito nos Estados Unidos com amostra de 6694 pessoas mostrou que 57,7% delas
recebiam tratamento para depressão (Ohayon, 2007). Já na Espanha, um estudo feito com
universitários atingiu o critério de depressão em 55,6% de sua amostra (Galindo, Moreno, Muñoz &
Conesa, 2008). As diferenças na frequência de depressão encontradas na literatura de outros países
podem ser explicadas pelas diferentes formas de avaliação, pelos locais onde as amostras foram
coletadas e por questões culturais (Molina et al., 2012). As amostras clínicas apresentaram maior
frequência de depressão, como mostra o artigo de Campos, Silva, Castro e Graminha (2013) que
comparou depressão em indivíduos com artrite reumatoide e indivíduos saudáveis, nos primeiros a
frequência de depressão foi de 63,3%, enquanto que nos indivíduos saudáveis foi de 13,3%. Através
desses estudos, podemos perceber os grupos mais vulneráveis ao transtorno depressivo: mulheres,
idosos, portadores de doenças crônicas, pessoas com baixa escolaridade e renda (Sass, Gravena,
Pilger, Mathias & Marcon, 2012). Faz-se necessário destacar que quando a depressão atinge mais
da metade da amostra, torna-se mais comum ter depressão do que não ter. A partir desse
questionamento, pode-se pensar na patologização de comportamentos e de sentimentos que sejam
normais e no perigo de se usar um instrumento muito sensível para diagnosticar a depressão.
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Quanto ao perfil das amostras, a maior parte (75,7%) utilizou amostras clínicas, o que
evidencia uma preocupação em estudar a associação da depressão com outras doenças. Essa
preocupação é justificada pelo fato da depressão acompanhar quase todas as patologias clínicas
crônicas e por costumar levar a piores evoluções, pior aderência aos tratamentos propostos, pior
qualidade de vida e maior mortalidade (Teng, Humes & Demetrio, 2005). Por outro lado, estudos
com amostras não clínicas são fundamentais, pois refletem a população em seu cotidiano, sem estar
necessariamente portando alguma doença e devem ser realizadas mais pesquisas desse tipo.
O segundo eixo correspondeu à análise dos construtos mais associados à depressão. Ao
analisar os artigos, foi predominante a associação com doenças crônicas e com a ansiedade. A
associação com doenças crônicas pode ser explicada pelo fato de que uma patologia orgânica
aumenta o risco de transtornos psiquiátricos. Doenças clínicas podem agravar a depressão através
de efeitos diretos na função cerebral ou de efeitos psicológicos e psicossociais. A ansiedade é a
comorbidade mais frequente nos transtornos depressivos (Jatobá & Bastos, 2007). Segundo
Apóstolo, Figueiredo, Mendes e Rodrigues (2011), as pessoas ansiosas e deprimidas têm em
comum uma estrutura básica que envolve afetividade negativa ou distresse geral e, por partilharem
sintomas semelhantes, podem ser consideradas manifestações alternativas do mesmo transtorno de
humor.
Com relação à penúltima categoria de análise, Perfis Sociodemográficos dos Transtornos
Depressivos, foi observado que, dos artigos que definiram claramente a sua amostra, 70,2% utilizou
amostras de ambos os sexos (n = 73) e somente 1 artigo utilizou amostra masculina. Na literatura há
diversos estudos comparando a depressão entre homens e mulheres e, através deles, foi comprovado
que as mulheres são mais vulneráveis e propensas aos transtornos depressivos (Apóstolo et. al.,
2011; Justo & Calil, 2006). A depressão é diagnosticada duas vezes mais nas mulheres devido a
uma maior frequência de consultas médicas e a maior adesão a tratamentos de saúde (Minguelli,
Tomé, Nunes, Neves & Simões, 2013). Os artigos analisados que foram compostos por amostras
exclusivamente femininas abordam principalmente a depressão pós-parto, enquanto o único artigo
composto por amostra apenas masculina investiga a depressão em trabalhadores de linhas elétricas
de alta tensão (Souza, Carvalho, Araújo, Koifman & Porto, 2012).
A categoria medidas da depressão observou as principais características dos quatro
instrumentos mais utilizados – BDI, HADS, SCID e EDG. O Inventário de Depressão Beck – BDI,
usado para medir a intensidade da depressão, foi um dos primeiros recursos dimensionais com essa
finalidade. Foi originalmente criado por Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh (1961), revisado
por Beck, Rush, Shaw e Emery (1979/1982) e adaptado para o Brasil por Cunha em 2001. É uma
escala de autorrelato composta por 21 itens, cada um com quatro alternativas, com graus crescentes
de gravidade da depressão e escores de 0 a 3. Os itens abordam sintomas da depressão e são
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avaliados pelo indivíduo em relação a si mesmo levando em consideração a frequência e a
gravidade. O escore total resulta da soma dos escores individuais dos itens e permite a classificação
dos níveis de intensidade da depressão (Cunha, 2001).
A Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão – HADS é utilizada para verificar os
sintomas de ansiedade e depressão, foi desenvolvida por Zigmond e Snaith em 1983 e traduzida e
validada no Brasil por Botega et al. em 1995 (Fernande & Souza, 2009). É um instrumento de
autopreenchimento que contém 14 questões de múltipla escolha, composta de suas subescalas
intercaladas: uma para ansiedade-estado (7 questões) e outra para depressão-estado (7 questões). Os
escores variam de 0 a 21 pontos, em que os sujeitos com escores menores que 7 são considerados
sem sintomas clínicos significativos para ansiedade e/ou depressão, escores de 8 a 10 com sintomas
leves, escores de 11 a 14 com sintomas moderados e escores de 15 a 21 com sintomas graves de
ansiedade e/ou depressão (Santos, Junior, Fraga, Macieira & Bonjardim, 2012).
A Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-III-R – Manual Diagnóstico e Estatístico de
Distúrbios Mentais, 3ª ed. revisada (SCID), foi desenvolvida na década de 80 e tem sido um
instrumento amplamente utilizado para aprimorar a confiabilidade do diagnóstico psiquiátrico. Ela
se inicia com uma seção de revisão geral, seguindo o roteiro de uma entrevista clínica não
estruturada. Em seguida, é dividida em módulos correspondentes às categorias diagnósticas
maiores. Os critérios diagnósticos estão presentes no próprio instrumento, facilitando a sua
aplicação e elaboração do diagnóstico. Em 1994, com a publicação do DSM-IV pela Associação
Americana de Psiquiatria, a SCID teve suas questões adaptadas para os critérios propostos por ele,
não havendo, entretanto, mudanças na sua estrutura básica (Del Ben et. al., 2001). Essa última
versão da SCID foi o terceiro instrumento mais utilizado nos artigos avaliados.
A Escala de Depressão Geriátrica (GDS) foi o quarto instrumento mais utilizado nos estudos
analisados e é o mais empregado para avaliar sintomas depressivos em idosos, tanto em pesquisas
quanto em contexto clínico. É amplamente utilizada em vários países, com índices de confiabilidade
e validade adequados. Foi desenvolvida por Yesavage et al. em 1983, traduzida para o português e
adaptada para uso no Brasil por Stoppe Júnior et al. em 1994 (Sousa, Medeiros, Moura, Souza &
Moreira, 2007). Sua versão original, com 30 itens que evitam as queixas somáticas, deu origem a
outras versões mais curtas com 15, 10 e 4 itens. Diversos estudos já demonstraram que a GDS
oferece medidas válidas e confiáveis para a avaliação de transtornos depressivos e todos indicaram
que a GDS-15 e a GDS-10 apresentam bom desempenho na detecção de casos de depressão em
idosos (Almeida & Almeida, 1999).
A utilização de testes é muito importante para o desenvolvimento das pesquisas,
colaborando na realização de diagnósticos e comparação de grupos. Com relação aos instrumentos,
é necessário que sejam analisados dois conceitos psicométricos importantes: validade e
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confiabilidade. O primeiro diz respeito à capacidade de um instrumento em medir aquilo a que se
propõe medir, enquanto o último se refere ao grau de concordância entre múltiplas medidas de uma
variável (Sousa et al., 2007). É essencial analisar a sensibilidade e a especificidade, pois um
instrumento muito sensível pode indicar transtorno em pessoas que não o tem.
A validade de um instrumento para avaliação de sintomas depende substancialmente do
nível de instrução e da compreensão dos itens pelos entrevistados, sendo necessária a tradução e
adaptação correta dos testes para a população a ser estudada, levando em conta a cultura, o grau de
escolaridade e as especificidades de cada região (Sousa et al., 2007). O profissional que fará as
entrevistas deve ser treinado para ter domínio sobre os instrumentos, minimizar os desconfortos e
influência nas respostas, desenvolver um laudo correto e eficaz para o processo terapêutico.
5. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como principal pretensão mapear a produção sobre a depressão no Brasil,
obtendo assim o panorama nacional sobre o tema de 2012 a 2014. Com esta pesquisa foi possível
conhecer e compreender o perfil das investigações sobre a depressão no país, a saber: a área que
mais publica estudos, a frequência da depressão nos estudos, o perfil das amostras, os construtos
relacionados e os instrumentos mais utilizados.
As limitações deste estudo procedem da utilização de apenas duas bases de dados científicos
(PePSIC e SciELO) e da dificuldade de obter as informações necessárias nos resumos dos artigos. A
utilização de apenas duas bases de dados brasileiras pode não ter contemplado todo o montante de
produções empíricas sobre a depressão no país. Elas foram escolhidas por serem as mais
importantes e de livre acesso, mas outros portais de saúde poderiam ter sido utilizados como, por
exemplo, a Bireme e a BVS. Sugere-se que os próximos estudos contemplem um número maior de
plataformas para que assim mais artigos sejam analisados e, com isso, um retrato mais próximo da
produção brasileira sobre a depressão seja encontrado.
O resumo de artigo é extremamente importante, uma vez que nele são apresentadas
informações cruciais sobre o tema e a metodologia do estudo, que esclarece a proposta da pesquisa
para o leitor e lhe desperta o interesse. Muitos dos artigos analisados não continham em seus
resumos todas as informações procuradas para o levantamento. É necessário, portanto, que eles
sejam melhor elaborados, tenham uma linguagem clara sobre a pesquisa realizada e contenham as
principais informações, tais como dados sobre a amostra e instrumentos utilizados.
Por último, ressalta-se a importância dos estudos de revisão sistemática, os quais auxiliam os
pesquisadores a conhecer o panorama científico nacional em relação a determinado tema. Esse tipo
de estudo se faz necessário para nortear o desenvolvimento de projetos, indicando novos rumos para
futuras investigações e identificando quais os métodos de pesquisas foram utilizados em uma área
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(Sampaio & Mancini, 2007). Na saúde, por exemplo, as revisões sistemáticas sintetizam a evidência
disponível na literatura sobre uma intervenção e permite que profissionais clínicos e pesquisadores
possam ser melhor orientados. Consequentemente, as revisões sistemáticas de literatura, além de
auxiliar e direcionar os pesquisadores, contribuem também para embasar decisões, já que facilitam
uma síntese conclusiva sobre determinada intervenção. Dessa forma, podem cooperar para o
aumento de pesquisas de acordo com a demanda nacional e sugerir políticas públicas mais efetivas.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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