CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL HÁBITOS DE SUCÇÃO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA OCLUSÃO KATIA SUZANA CRUZ NUNES CURITIBA 2000 RESUMO Na prática clínica do fonoaudiólogo tem se notado uma grande incidência de hábitos parafuncionais, tais como o de sucção de dedo e de chupeta. O objetivo desta pesquisa consiste em determinar que conseqüências tais hábitos podem ter na oclusão dentária. Para tanto, além de um levantamento de autores que estudam o assunto, foram pesquisadas 09 crianças com idades entre 06 e 11 anos que apresentaram esses hábitos. A maioria dos autores pesquisados relaciona a presença dessa sucção com mordida aberta anterior e mordida cruzada, sendo que no sentido ânteroposterior uns relacionam a Classe I e outros a Classe II de Angle. Das crianças pesquisadas neste trabalho a maioria apresenta mordida aberta anterior e há uma prevalência da Classe I sobre a Classe II de Angle. Essa pesquisa é de importância para os profissionais que trabalham na área de saúde bucal, pois muitas vezes a restruturação das alterações ocasionadas necessitam de uma equipe multidisciplinar. Além disso, é importante para o fonoaudiólogo o conhecimento das implicações causadas por um hábito, visto que não é comum esse problema ser o foco da consulta inicial. Portanto, o profissional deve ser capaz de detectar o hábito e tentar eliminá-lo, visando sempre o bem-estar de seus pacientes. RESUME In the clinical practice of the speech-therapist it has been noticed a great ocurrence of sucking habits, like finger-sucking and dummy-sucking. The objective of this research is to determine which consequences such habits may have in the dental oclusion. For this, besides a survey of authors who study the subject, 09 children were researched ranging from 06 to 11 years old who featured those kinds of habits. Most of researched authors relate the presence of this sucking as open-bite and cross-bite, and as the pre-posterior some relates to Class I and others to Class II of Angle. From the children researched in this work most presented open-bite and there is a prevailing of Class I over Class II of Angle. This research is of great a importance to the professionals who work in the field of mouth health, as many times the re-structurerization of the caused alteration needs a multidisciplinal crew. Besides, it is important to the speech-therapist the knowledge of implications caused by a habit, since it is not common to this problem to be focused at the very first attendance. Then, the speech-therapist might be capable to detect the habit and try eliminate it, targeting the well-being of the patient. AGRADECIMENTOS A Deus pela vida. Aos meus pais, Carlos Alberto Nunes e Ana Maria Nunes, pelo que são e por todo apoio que sempre deram à minha vida profissional. À minha irmã, Íris Cristina Cruz Nunes, por estar sempre ao meu lado. Ao Marcos Roberto Parreira pela força e companheirismo. À Prof. Dra. Mirian Goldenberg pela orientação deste trabalho. À Dra. Marinês Quintino Portella pela paciência e disposição com que sempre transmite seus conhecimentos. A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste trabalho. SUMÁRIO 1. Introdução............................................................................................... 1 2. Discussão teórica.................................................................................... 4 2.1. Hábito: o que significa?..................................................................... 4 2.2. Sucção normal e hábitos de sucção.................................................. 6 2.3. Hábitos viciosos x crescimento e oclusão......................................... 12 2.4. Conseqüências dos hábitos de sucção nas arcadas dentárias.......... 17 3. Pesquisa prática..................................................................................... 23 4. Considerações Finais.............................................................................. 25 5. Referências Bibliográficas....................................................................... 29 1- INTRODUÇÃO Na prática clínica fonoaudiológica observa-se freqüentemente crianças que apresentam hábitos orais, sobretudo de sucção digital e chupeta. Muitos estudiosos do tema demonstram uma preocupação com essa sucção quando se torna prolongada, bem como com suas possíveis conseqüências. Apesar de ser difundido, no meio clínico, que a permanência de tais hábitos pode ser maléfica em aspectos psicológicos e morfológicos, existe ainda uma deficiência nas informações, especialmente da população em geral, que aceita e até mesmo os estimulam sem saber suas implicações. Por esse motivo, considera-se importante o conhecimento da sociedade, principalmente de pais e responsáveis, quanto aos prejuízos que a sucção por tempo prolongado de chupeta ou de dedo podem causar, pois por serem hábitos culturalmente aceitos e difundidos os pais muitas vezes não sabem que podem estar contribuindo para o aparecimento de alterações estruturais, funcionais e psicológicas em seus filhos. Assim, é de suma importância para os profissionais da saúde, sobretudo os que trabalham com o sistema estomatognático, o conhecimento dessas modificações, a fim de que o profissional consiga reconhecer precocemente uma maloclusão causada por um hábito, que irá interferir diretamente nesse sistema. Além disso, a correção das alterações causadas por esses hábitos necessita muitas vezes da interferência de uma equipe multidisciplinar composta por fonoaudiólogos, ortodontistas e psicólogos. É, especialmente para o fonoaudiólogo, crucial compreender as alterações que estes hábitos parafuncionais causam nos dentes, visto que está cada vez mais comum pacientes chegarem primeiramente a ele antes de passarem por qualquer outro profissional, dessa forma, deve ser capaz de detectar e orientar adequadamente os familiares quanto a eliminação e a conseqüência da permanência dos mesmos, visando sempre o bem-estar dos pacientes. Sabe-se que os hábitos parafuncionais são considerados fatores etiológicos de maloclusões por estarem alterando as funções existentes e criando adaptações. Hanson & Barret (1995) acreditam que poucas crianças sugam o dedo de um modo que não prejudique a oclusão dos dentes. Machado (1994) escreve que os hábitos viciosos consistem em fatores determinantes na maloclusão dentária. Portanto, o ato de sugar, que é imprescindível à vida e ao desenvolvimento psicossomático da criança durante os primeiros anos, ao se prolongar, pode alterar as funções normais e causar atipias ao sistema estomatognático. É conhecido que, durante a infância, a criança passa por surtos de crescimento e que este pode ser alterado mediante a presença de alguns fatores, fazendo com que se reflita: será que esses hábitos podem influenciar negativamente no processo de crescimento e desenvolvimento facial? Podem eles contribuírem para o aparecimento de maloclusões? Se sim, isso sempre ocorre? Existem fatores que podem amenizar ou agravar o tipo de maloclusão? O objetivo desta pesquisa é responder aos questionamentos acima e analisar as alterações oclusais tanto no sentido ântero-posterior quanto vertical, a fim de determinar as conseqüências mais freqüentes. Para isso foi realizado um levantamento bibliográfico dos autores que estudam o tema e foi analisada a documentação ortodôntica de 09 crianças com idade entre 6 e 11 anos que apresentaram um dos hábitos sucção. 2 - DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 - HÁBITO: O QUE SIGNIFICA? Um hábito, por definição, consiste na disposição duradoura, adquirida pela repetição freqüente de um ato. É considerado vicioso quando prejudica o organismo humano (Canongia, 1996). A partir dos primeiros anos de vida a criança pode manter diversos hábitos (Grünspun, 1983). Acredita-se que estes têm uma determinada finalidade e que se instalam por serem agradáveis e trazem alguma satisfação à pessoa (Massler, citado por Tomé, Farret e Jurach, 1996). Todos os hábitos consistem em padrões de contração muscular aprendidos e de natureza complexa (Moyers, 1991). Este aprendizado ocorre após o nascimento, sendo originado no sistema neuromuscular (Soares & Totti, 1996). Existem alguns hábitos que contribuem como estímulo de crescimento (a ação dos lábios e a mastigação, por exemplo), porém deve-se diferenciar esses hábitos normais dos anormais que podem interferir no padrão regular de crescimento facial. Os hábitos normais são parte de uma função orofaríngea normal e, dessa forma, desempenham um papel importante no crescimento craniofacial e na fisiologia oclusal. Já os anormais e deletérios de conduta muscular estão associados, freqüentemente, ao crescimento ósseo anormal, más posições dentárias, distúrbio respiratórios, distúrbios da fala, desequilíbrio da musculatura facial e problemas psicológicos (Moyers, 1991). Neste trabalho, abordar-se-á os hábitos relacionados à função anormal de sucção. Para isso é importante conhecer um pouco mais sobre a função normal de sucção e a alterada. 2.2 - SUCÇÃO NORMAL E HÁBITOS DE SUCÇÃO Ao nascer a sensibilidade tátil do bebê está mais desenvolvida nos lábios e na boca do que nos dedos. Portanto a cavidade oral é um sistema perceptivo muito ativo. O recém-nascido leva os objetos à boca para perceber características como tamanho e textura, além disso ele “baba”, chupa os dedos do pé, suga o polegar e descobre que pode emitir sons com ela. O bebê interpreta o mundo com a boca e a integração das atividades orais se realiza através de mecanismos sensoriais (Enlow, 1982). A função de sucção, por definição, consiste no ato de sugar, chupar, extrair. Sabe-se que sugar é uma conduta inata. O ser humano desenvolve seu aprendizado de sucção, exercitando-o durante a vida intra-uterina. Ela aparece aproximadamente na vigésima nona semana de gestação, sendo um dos padrões de comportamento mais precoce do recém-nascido. A efetividade desta atividade constitui uma boa indicação de maturação neurológica (Ayer & Gale, 1970; Canongia, 1996; Enlow, 1982; Grünspun, 1983; Peterson & Schneider, 1991). De acordo com Mcdonald (1977) o movimento da mão à boca, assim como uma série de outros movimentos, é fisiológico ao recém-nascido. Aparentemente, todas as crianças colocam o dedo na boca durante certa época da vida (Grünspun, 1983). A sucção é normal no bebê, pois sem ela, ele não sobreviveria; alguns fetos sugam seus dedos ainda dentro do útero, outros apresentam movimentos de sucção quando estão nascendo, e existe ainda os que começam a sugar após o nascimento (Lubit & Lubit, citado por Rosalino, Vicente e Ferreira, 1992). Ao nascer, os bebês apresentam uma tensão labial. Após 24 horas de vida a sucção ocorre por prazer e não por fome, auxiliando no alívio dessa tensão labial. Assim, os bebês sugam elementos não-nutritivos (tais como dedo, chupeta, roupas), mesmo depois de bem alimentados (Lubit & Lubit, citado por Rosalino, Vicente e Ferreira, 1992). O ato de sugar é considerado um reflexo normal durante algum tempo, tendendo a desaparecer em determinada época da vida infantil e que pode não aparecer, ou ainda permanecer, ou surgir na criança como atividade voluntária, de uma forma patológica (Canongia, 1996). Moyers (1991) considera que a época de aparecimento dos hábitos de sucção é bastante significativa. Os que aparecem durante as primeiras semanas de vida estão relacionados com a alimentação, ou seja, com as demandas primitivas de fome. Contudo, algumas crianças não começam a sugar o dedo até que seja usado como um artifício de dentição durante a difícil erupção de um molar decíduo. Mais tarde, certas crianças utilizam a sucção digital para aliviar tensões emocionais, regressando a um padrão de comportamento infantilizado. Para o mesmo autor, esses hábitos de sucção digital devem ser analisados por suas implicações psicológicas, pois podem estar relacionados com a fome, satisfação do instinto de sucção, insegurança ou desejo de atrair atenção. Existem várias teorias que tentam explicar a origem desses hábitos de sucção. Moyers (1991) refere algumas delas. A primeira abordada é a teoria freudiana, onde Freud sugere que a oralidade na criança está relacionada à organização pré-genital e que a atividade sexual ainda não está separada da alimentação. Dessa forma, o objeto da sucção do polegar é também o objeto da amamentação. A segunda, relaciona a sucção digital à atividade de sucção inadequada. Estudos perceberam que havia menos sucção do polegar quando as crianças eram alimentadas seguidamente do que quando a alimentação era bem espaçada. Também observou-se que as crianças, de maneira geral, que não sugam o dedo, levam um tempo maior para alimentar-se do que aquelas que o sugam. Em oposição a esta teoria, tem-se a teoria do impulso oral, sugerindo que intensidade do impulso oral é, em parte, uma função de quanto tempo uma criança continuará se alimentando por sucção. Assim, não seria a frustração do desaleitamento que produziria a sucção do polegar, mas o impulso oral que é reforçado pelo prolongamento da amamentação. Com relação a esta teoria, Grünspun (1983), escreve que a libido exagerada da boca seria satisfeita através da sucção. Outra teoria abordada sugere que a sucção do polegar decorre de reflexos, pertencentes e adquiridos, comuns aos mamíferos, sendo que esses reflexos duram até os 3 primeiros meses de vida no máximo. Em sua origem, todas as teorias de sucção não são freudianas, pois sugeriu-se que a sucção digital é um dos exemplos mais precoces de aprendizado neuromuscular da criança e que segue as leis gerais do processo de aprendizagem. Moyers (1991) relata ainda que uma equipe multidisciplinar estudou crianças que sugam o polegar, constatando que estas não demonstraram qualquer diferença psicológica consistente da amostra de controle. Os resultados dessa equipe sustentam firmemente a teoria de que os hábitos de sucção digital, em seres humanos, são simples respostas aprendidas, não encontrando apoio para a interpretação psicanalítica da sucção do polegar como um sintoma de distúrbio psicológico. As diversas teorias de sucção digital não-nutritiva sugerem que esse hábito deve ser visto pelo clínico como um padrão comportamental de natureza multivariada; sendo possível que a mesma inicie por um motivo e seja sustentado nas idades subseqüentes por outros fatores. A maioria dos resultados encontrados tende a suportar melhor a teoria do aprendizado, principalmente se o mesmo estiver associado com uma sucção nutritiva prolongada e sem restrição. De maneira geral os hábitos de sucção desaparecem no primeiro ano de vida, pois a sua conservação em fases posteriores do desenvolvimento passará a ser considerada anormal (Grünspun, 1983). Freud, citado por Mongullhott, Ammon, Tavares e Locks (1991) considera que o ato de sugar é um mecanismo instintual nos primeiros meses de vida, porém seu prolongamento além dos 3 ou 4 anos de idade, é indicativo de alterações comportamentais. Moyers (1991) também acredita que os hábitos devem ser superados até essa idade. Araújo (1986) considera que os hábitos de sucção de chupeta e dedo são permitidos até os 3 anos, quando um novo surto de crescimento está para começar. Para Soares & Totti (1996), todo o hábito que se mantiver após os 3 anos de idade será considerado mais deletério e capaz de causar maloclusões. Almeida & Weber, citados por Tomé, Farret e Jurach (1996), referem que eles podem ocorrer até os 4 anos, não sendo aconselhável até os 6 anos. Lino (1992) considera que esses hábitos são aceitos até a época de erupção dos dentes permanentes, sendo que se não for retirado até esse período, os desvios morfológicos poderão ser graves. Na pesquisa realizada por Rosalino, Vicente e Ferreira (1992), alguns autores sugeriam que essa sucção não-nutritiva ou extra-alimentar cessasse aos 2 anos, considerado-a normal até os 5 anos. Outros propõem que a sucção do dedo seja abandonada até os 4 anos de idade, dependendo do nível de desenvolvimento da criança, assim, a que amadurece mais cedo abandona logo o hábito, já a que a amadurece mais tarde suga por um tempo maior. Na mesma pesquisa, coloca-se que para Finn, a idade cronológica não é um critério bom para se determinar quando o hábito é normal ou anormal, porém afirma que o mesmo deverá desaparecer na idade pré-escolar. Chan, Santos-Pinto, Martins, Mendes e Sakima (1996) consideram que o hábito de sucção de chupeta é muito freqüente durante a primeira infância, sendo sua prevalência de aproximadamente 75% nos primeiros anos de vida, reduzindo-se rapidamente com a idade. As crianças devem abandonar este hábito durante o período pré-escolar, por volta dos 4 ou 5 anos de idade. Dessa forma, verifica-se que os hábitos de sucção digital e de chupeta são facilmente encontrados nas crianças, sendo “aceitável” até determinada idade. Essa idade, onde o hábito ainda é considerado “normal”, varia de autor para autor, porém a média geral é de 3 a 4 anos de idade; a partir daí, os autores consideram que a permanência dos mesmos podem causar alterações morfológicas e ter implicações psicológicas. Como não é este o objetivo da pesquisa, determinar as implicações psicológicas em uma criança que apresente esse hábito persistente, mas sim detectar e compreender as alterações morfológicas, faz-se necessário o conhecimento da relação entre um hábito anormal e a face. 2.3 - HÁBITOS VICIOSOS X CRESCIMENTO E OCLUSÃO O crescimento e desenvolvimento facial consiste num processo morfogenético que trabalha para um complexo estado de equilíbrio estrutural e funcional (Enlow, 1993). Entende-se por crescimento o aumento da matéria viva através de processos biológicos, sendo uma mudança quantitativa; e por desenvolvimento as mudanças unidirecionadas que ocorrem na vida de uma pessoa desde sua existência como célula isolada (Moyers, 1991). De acordo com Enlow (1993) o crescimento dos ossos se dá pela adição de tecido ósseo novo em um dos lados e a remoção de osso do lado oposto. Dessa forma, se uma área determinada sofre reabsorção óssea (remoção) a superfície do outro lado tem um campo de deposição (adição), e assim reciprocamente; e é através dessas combinações, de reabsorção e adição, que ocorrem os movimentos de crescimento. Vale ressaltar que o crescimento ósseo é produzido por uma matriz de tecido mole, que necessita de fatores genéticos e de estímulos externos para o seu desenvolvimento; esses fatores residem no complexo de tecidos moles que inicia e pára, acelera e desacelera as ações histológicas do tecido conjuntivo osteogênico. Esse “projeto” para a estrutura, a construção e o crescimento de um osso baseia-se nos músculos, língua, lábios, bochechas, tegumento, mucosas, tecido conjuntivo, nervos, vasos sangüíneos, vias aéreas, faringe, o cérebro (como um órgão), tonsilas, adenóides, enfim, tudo que produza sinais de informações. Desde os primeiros períodos de crescimento embrionário existe uma íntima relação entre os músculos e os ossos que os inserem. A medida que os ossos crescem, os músculos devem aumentar seu tamanho, havendo necessidade de ajustes entre eles (Enlow, 1982). Enlow (1993) coloca que o crescimento facial é um processo que requer íntimas inter-relações morfogênicas entre todas as partes de tecidos duros e moles, sendo que nada é independente ou auto-suficiente no desenvolvimento. Alguns fatores podem atuar sobre este crescimento como: hereditariedade, nutrição, doenças, hábitos e fatores sócio-econômicos (Van der Linder, 1990; Tanigute, 1998). O sexo também exerce uma influência: o feminino atinge uma forma adulta numa idade mais jovem do que o masculino, além disso o surto de crescimento tem início mais tardio nos meninos, sendo mais pronunciado e de maior duração do que o das meninas (Van der Linder, 1990). Os fatores genéticos ensinam que os caracteres para a normalidade são sempre dominantes, todavia os elementos participantes do desenvolvimento, manutenção e estabilização na área dento-facial, são inúmeros e sensíveis sobretudo em suas interrelações. As deformidades dento-faciais são as mais freqüentes (Lino, 1992; Tomé, Farret e Jurach, 1996). Vale ressalar que as variações na morfologia craniofacial constituem as principais causas de maloclusões graves (Moyers, 1991). As estruturas faciais em desenvolvimento não seguem um padrão de crescimento imutável, elas podem ser alteradas permanentemente pela aplicação de forças que variam a relação entre ossos e músculos (Soares & Totti, 1996). Fatores como o crescimento muscular, sua migração e fixação, variações da função neuromuscular e funções anormais podem influenciar o crescimento e a forma craniofacial (Enlow, 1982). O osso por ser um tecido plástico, reage a todo tipo de pressão exercida sobre ele. Quando se está na posição de repouso, há um equilíbrio entre os músculos e todos os tecidos peribucais. A quebra deste equilíbrio pode gerar pressões anormais, podendo criar um estímulo de crescimento anormal dos maxilares, alterando as funções bucofaríngeas (Moresca & Feres, 1994). Araújo e Padovan, citados por Nobre & Vicente (1991), consideram que o equilíbrio é mantido por duas forças musculares antagônicas: uma de contenção interna representada pela língua, e outra de contenção externa representada pelos músculos das bochechas e dos lábios, através do tônus ideal. Em uma oclusão normal observa-se uma correspondência entre funções e adaptação, uma vez que haja uma mudança nos músculos que envolvem os dentes, estes movem-se dentro do osso até equilibrarem-se novamente. Qualquer mudança na qualidade, quantidade ou ordem de contrações musculares, originará sintomas clínicos, com desvios de normalidade. Então, para que a oclusão normal ocorra é necessário uma interação do esqueleto normal, dos tecidos moles, da morfologia e volumes dentários (Nobre & Vicente, 1991). Os maus hábitos orais consistem em padrões neuromusculares atípicos e muitas maloclusões têm origem em comportamentos neuromusculares anormais (Enlow, 1982). Existem partes de alguns ossos faciais que dependem muito das funções. As funções de respiração, sucção (amamentação), mastigação e deglutição consistem em alguns estímulos de crescimento que são oferecidos naturalmente (Enlow, 1982; Tanigute, 1998). A sucção do polegar ou dos dedos prolongada, podem ser considerados variantes da função (Van der Linden, 1990). Dessa forma, esses hábitos e outros como a respiração bucal e a alimentação inadequada, podem causar flacidez sobretudo da língua e interferir de forma negativa no crescimento e desenvolvimento facial (Mikell, citado por Marchesan, 1998). Assim, os hábitos bucais atuam desfavoravelmente sobre a posição dos dentes e a forma das arcadas, determinando um desequilíbrio do sistema de forças vigentes, quer pela modificação da forma de atuar de certos grupos musculares, quer pela introdução de novas forças estranhas ao sistema (Nobre & Vicente, 1991). Dessa forma, verifica-se que os maus hábitos podem interferir no padrão regular de crescimento e provavelmente estão envolvidos na etiologia das maloclusões, pois a persistência desses comportamentos provoca deformações nas estruturas bucais decorrentes de pressões inadequadas sobre os ossos. A estabilidade oclusal é resultante do somatório de todas as forças que atuam contra o dente (Enlow, 1982). Os hábitos de sucção prolongada de chupeta e dedo consistem em algumas dessas forças, podendo assim interferir diretamente na oclusão. Além disso, podem alterar o curso normal de crescimento facial, afetando sua morfologia, exercendo uma ação lesiva a todo o sistema estomatognático O assunto que será abordado a seguir consiste nas conseqüências destas forças “anormais” sobre as arcadas dentárias. 2.4- CONSEQÜÊNCIAS DOS HÁBITOS DE SUCÇÃO NAS ARCADAS DENTÁRIAS Como citado anteriormente, os hábitos viciosos consistem em fatores determinantes nas alterações dentárias. Estes são um dos fatores etiológicos das maloclusões de caráter muscular, esquelética ou dentária (Soares & Totti, 1996). Alguns autores diferenciam a ação da sucção de digital da sucção de chupeta. Moresca & Feres (1994) consideram que normalmente a sucção de chupeta é menos prejudicial que a do dedo. Castaño, Lamberghini e Rucci, citados por Lutaif (1999), sugerem que assim que detectada a inclinação do bebê para a sucção digital, os pais devem introduzir a chupeta, pois os autores acreditam que a chupeta é menos nociva do que o dedo. Existe uma concordância entre os autores que consideram que o dano que um hábito vicioso pode causar ao sistema estomatognático é resultante de variáveis como: freqüência, duração e intensidade (Canongia, 1996; Moresca & Feres, 1994; Nobre & Vicente, 1991; Schwartz & Schwartz, 1994; Soares & Totti, 1996; Tomé, Farret e Jurach, 1996; Van de Linden, 1990). Moresca & Feres (1994) explicam essa tríplice ação da seguinte forma: uma determinada causa, agindo por um certo tempo sobre um local, produzindo um determinado resultado. De acordo com Soares & Totti (1996), quanto mais precoce os hábitos parafuncionais forem diagnosticados menos distúrbios ao sistema estomatognático serão causados. As conseqüências na arcada dentária de um hábito de chupeta ou dedo dependem de fatores como: posição do dedo na boca, contrações musculares buco-faciais associadas, posição da mandíbula durante a sucção, padrão do esqueleto facial, número de dedos sugados, freqüência, intensidade e duração. Concordam com essa afirmação Moyers (1991); Soares & Totti (1996); Tomé, Farret e Jurach (1996). Existe um consenso entre os autores, que consideram a mordida aberta anterior a maloclusão mais freqüente (Chan, Santos-Pinto, Martins, Mendes e Sakima, 1996; Langlade, 1993; Moresca & Feres, 1994; Moyers, 1991; Nobre & Vicente, 1991; Soares & Totti, 1996; Tomé, Farret e Jurach, 1996; Urias, 1994). Este tipo de maloclusão caracteriza-se pela inoclusão no sentido vertical entre as arcadas dentárias, na região frontal. Urias (1994) cita em seu trabalho sobre mordida aberta anterior, que uma grande percentagem delas podem ser atribuídas a sucção digital, pois esse hábito impede a erupção e o crescimento do processo dento-alveolar adequado, podendo também deslocar os dentes anteriores para frente, criando uma abertura nos arcos dentários, sendo que as alterações oclusais aumentam acentuadamente em crianças que mantêm esse hábito após os 4 anos. Moresca & Feres (1994) consideram que depois dessa idade é que a sucção persistente pode causar alterações oclusais como: mordida aberta, retrognatismo mandibular, prognatismo mandibular, atresia de palato, atresia de arco superior e calo ósseo na região do polegar, musculatura labial superior hipotônica, musculatura labial inferior hipertônica, interposição de língua e respiração bucal. Moyers (1991) acredita que também podem aparecer mordida cruzada e profunda. Ogaard, Larsson e Lindsten (1994) colocam que a sucção de chupeta está mais relacionada com mordida cruzada posterior e que a sucção de dedo também pode causar este tipo de maloclusão. Entende-se por mordida profunda quando os incisivos superiores ultrapassarem mais de um terço as coroas dos incisivos inferiores; e por mordida cruzada quando o (s) dente (s) inferior (s), anterior e/ou posterior, uni e/ou bilateralmente assumirem uma posição mais para vestibular que os superiores. Moyers (1991) acredita que se o polegar estiver sustentado para cima, contra o palato, pode ocorrer protrusão dos dentes anteriores superiores. Se o peso da mão ou do braço forçar a mandíbula pode ocorrer uma retração postural mandibular e os incisivos inferiores podem inclinar para lingual. Segundo o mesmo autor, as contrações da parede bucal durante os hábitos de sucção, produzem em alguns tipos de sucção, uma pressão negativa intra-oral. Assim, com essa alteração de forças dentro e ao redor do complexo maxilar, torna-se impossível para o assoalho nasal cair verticalmente para sua esperada posição durante o crescimento, podendo-se encontrar um assoalho nasal estreito e uma abóbada palatina profunda. Deve-se lembrar que a sucção do polegar ou dos dedos não é sempre seguida de uma maloclusão (Langlade, 1993). Gellin, citado por Hanson e Barret (1995), argumenta que a sucção do polegar tem um efeito negativo em crianças que apresentam mordida “deficiente”, contudo tem pouco ou nenhum efeito sobre as “boas” mordidas. O dano provocado pode ser de caráter temporário ou permanente, pois muitas vezes suprimida a causa, a função normal retorna, proporcionando a volta espontânea dos dentes para a posição normal. Porém em muitos casos, a maloclusão instalada vai permanecer ou agravar-se pela ocorrência de uma função inadequada que ocorre por esta adaptar-se a forma existente mantendo, dessa forma, a maloclusão (Langlade, 1993). Chan, Santos-Pinto, Martins, Mendes e Sakima (1996) realizaram uma pesquisa sobre os efeitos esqueléticos e dentários do hábito persistente de sucção de chupeta, e concluíram que esse hábito não teve influência significante sobre as caraterísticas esqueléticas faciais verticais e ântero-posteriores, porém provocou a inclinação vestibular dos incisivos superiores e, conseqüentemente, um aumento da sobressaliência. O hábito também causou mordida aberta anterior. Constatou-se que a freqüência do hábito não foi um fator significante no agravamento das alterações dento-alveolares por ele causadas. Neste trabalho verificar-se-á ocorrência de alterações verticais como a mordida aberta, mordida cruzada e mordida profunda. Para a análise das alterações ântero-posteriores utilizar-se-á como critério de comparação a classificação de Angle, citada pelos autores Pereira, Mundstock e Berthold (1989), que estabelece a relação dos primeiros molares permanentes como “chave de oclusão”, relacionando somente a posição dos dentes superiores com inferiores. Esta classificação considera que o primeiro molar superior permanente dita a posição correta, sendo a variação sempre do molar inferior. As alterações podem ser classificadas de 3 tipos: ª Classe I - também denominada de neutroclusão, onde a cúspide do mesiovestibular do primeiro molar superior oclui no sulco principal do primeiro molar inferior. ª Classe II - onde a cúspide do mesiovestibular do primeiro molar superior oclui à frente do sulco principal do primeiro molar inferior. É também chamada de distoclusão, por o molar inferior estar em posição distal em relação ao superior. Apresenta 2 subdiviões: * Classe II 1° divisão: quando existir sobressaliência dos incisivos superiores em relação aos inferiores. * Classe II 2° divisão: quando os incisivos superiores buscarem contato com os incisivos inferiores. ª Classe III - onde a cúspide do mesiovestibular do primeiro molar superior oclui atrás do sulco principal do primeiro molar inferior, portanto o primeiro molar inferior encontra-se em posição mesial em relação ao superior, por esse motivo pode também ser denominado de mesioclusão. Ocasionalmente os molares se relacionam de um lado em Classe I e do outro em Classe II ou em Classe III. Neste caso ocorre a subdivisão. Assim, se um dos lados é Classe I e outro Classe II, esse paciente apresenta uma Classe II subdivisão, devendo-se especificar se é direita ou esquerda. O estudo realizado por Mongullhott, Ammon, Tavares e Locks (1991), analisou 344 crianças portadoras do hábito de sucção com idades entre 5 e 11 anos, que permaneceram com o hábito além dos três anos e meio de idade. Destas, 73 não puderam ser classificadas quanto ao tipo de oclusão, por não possuírem os primeiros molares em chave de oclusão. Das 261 crianças restantes, 50,90% apresentavam Classe I, 17,96% Classe II e 9,28% Classe III. Notando-se uma prevalência maior de Classe I sobre Classe II e desta sobre Classe III. Nesse mesmo estudo foi realizada uma revisão da literatura que mostrou que alguns autores como Bowden, Helmann, Popovich, Thompson, Buttner e Nanda relacionam hábitos de sucção com Classe II. No entanto, Johnson encontrou uma prevalência de Classe I. Bianchini (1995) refere que hábitos de sucção de dedo ou de lábio podem dar início ou intensificar um perfil de Classe II; e que o somatório das alterações funcionais, que podem aparecer em função de um hábito vicioso, leva a alterações importantes, até mesmo esqueléticas. Percebe-se, então, que ao mesmo tempo que os autores concordam que a mordida aberta anterior é a alteração mais freqüente, ocorre uma divergência sobre a relação ântero-posterior, onde uns salientam a prevalência de Classe II de Angle e outros Classe I. 3 - PESQUISA PRÁTICA A pesquisa prática desse trabalho consistiu no estudo de crianças com alterações oclusais que realizaram avaliação ortodôntica. Essa documentação foi cedida pela Ortodontista Dra. Marinês Quintino Portella, que também auxiliou no levantamento dos dados. O critério de escolha foi a presença de hábitos de sucção de dedo (s) e/ou chupeta ou ainda de ambos, com idades entre 06 e 11 anos. A seleção das crianças estudadas realizou-se através da anamnese ortodôntica. Após essa etapa chegou-se ao número de 09 crianças. Observou-se então, através de fotos e estudos cefalométricos, o tipo de oclusão e a classificação de Angle. Todas as crianças estudadas apresentam boas condições sócioeconômicas. Das 09 crianças pesquisadas, 05 apresentam histórico de sucção de chupeta prolongada e 04 de sucção de dedo (s). No sentido ântero-posterior, 05 encontram-se em Classe I de Angle e 04 em Classe II de Angle 1° divisão, sendo que destas, 03 apresentam subdivisão. Com relação ao sentido vertical, verificou-se que 08 crianças apresentam mordida aberta anterior e 01 apresenta somente um apinhamento anterior inferior. Das 08 crianças com mordida aberta anterior, 02 têm caninos cruzados bilateralmente e 02 têm mordida cruzada posterior unilateral. Nas crianças que sugavam o dedo pode se observar uma assimetria na mordida aberta anterior, variando de acordo com a posição do dedo (s) na boca. Observou-se presença associada de respiração bucal na maioria das crianças estudadas, não tendo maiores dados sobre o porquê. Dessa forma, observamos que este estudo está de acordo com a maioria dos autores pesquisados que referem que a mordida aberta anterior é a principal alteração e que a Classe II de Angle pode ocorrer. Porém, não observou-se uma relação direta somente com Classe II, pois a maioria encontrava-se em Classe I de Angle, e 03 das 04 crianças com Classe II apresentavam subdivisão. 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Os pacientes que procuram fonoterapia apresentam uma diversidade de queixas e problemas. Com freqüência os pais relatam que “meu filho fala pouco”, “ninguém entende o que ele fala”, “não sei por que, mas ele fala com a língua para fora”, entre outras; porém é muito difícil aparecer um pai que se queixe somente da presença de um hábito. No entanto, não é difícil observar, logo na consulta inicial, aquela criança quietinha nos olhando atentamente com o dedo (s) ou com a chupeta na boca. Nada muito diferente de nossa prática clínica ocorre com crianças de nosso convívio geral, como vizinhos, sobrinhos e, até mesmo, filhos. Ao indagar a mãe a respeito da presença desse hábito geralmente elas mostram-se conscientes e às vezes preocupadas referindo: “não sei mais o que fazer, já tentei tudo e ele não tira o dedo da boca”, ou ainda: “não consigo fazer ele largar essa chupeta”. Em um trabalho que realizei em uma pré-escola particular de Curitiba, cujo objetivo principal era a análise da fala, fiquei surpresa ao perceber que das 16 crianças observadas, 08 tinham problemas oclusais e que destas, 05 apresentavam mordida aberta anterior. Ao se questionar às próprias crianças a presença de sucção de dedo (s) e uso de chupeta, elas responderam afirmativamente, uma delas até foi ao meu encontro com a chupeta na boca. Estes fatos me fizeram refletir: existiria algum fator que estaria levando a um aumento do aparecimento desses hábitos? A chamada “vida moderna” dos pais estaria contribuindo para isso? Uma pesquisa realizada por Calisti, citada po Oliveira, Preters e Prates (1983) ressalta que há uma prevalência desses hábitos nas classes sócioeconômicas mais altas. Dessa forma, continuo refletindo: não teria, essa classe privilegiada, maior acesso a informação? Não saberiam estes pais que podem estar contribuindo para o aparecimento de alterações morfológicas em seus filhos? Até o momento estas questões não podem ser respondidas plenamente. O que posso afirmar é que os hábitos de sucção de chupeta e dedo (s) são normalmente aceitos e difundidos culturalmente em nosso país. Cabe ressaltar que existem países, como o Japão, onde a chupeta não é utilizada. Assim, como qualquer alteração cultural, a eliminação ou diminuição dessa prática no Brasil necessitaria de uma grande mudança de mentalidade. Além disso, seria difícil a compreensão de que a sucção, imprescindível para a vida do bebê, pode influenciar de forma negativa no desenvolvimento da criança após determinada época da vida. Para os estudiosos pesquisados, um hábito de sucção de dedo (s) ou chupeta é aceito até os 3 ou 4 anos de idade, passando a ser considerado prejudicial a partir dessa fase, podendo ter implicações morfológicas e psicológicas. Para que a oclusão normal ocorra, é necessário uma perfeita harmonia e equilíbrio entre esqueleto, tecidos moles, morfologia e volume dentário. A presença de um hábito parafuncional quebra essa harmonia, podendo provocar desvios nos processos normais de crescimento e desenvolvimento, que serão mais ou menos afetados dependendo da tipologia facial, fatores genéticos, fatores raciais, fatores ambientais, suscetibilidade do indivíduo, freqüência, intensidade e duração do hábito. Os maus hábitos bucais estão envolvidos na etiologia das maloclusões e se relacionam principalmente com a presença de mordida aberta anterior, sendo que alguns autores relacionam também com mordida cruzada. No que diz respeito as alterações ântero-posteriores, notei uma divergência entre os autores pesquisados: uns referem que os hábitos provocariam principalmente Classe II de Angle, e outros que as estruturas ósseas não seriam modificadas. Em minha pesquisa prática observei que das 09 crianças estudadas, 08 apresentavam mordida aberta anterior, sendo que destas, 02 tinham caninos cruzados bilateralmente e 02 mordida cruzada posterior unilateral. Verifiquei que 05 estavam em Classe I de Angle, 04 em Classe II 1° divisão, sendo que destas, 03 apresentavam subdivisão. Todas apresentavam bom nível sócio-econômico. Portanto, verifiquei que a principal consequência foi a mordida aberta anterior, e que apesar de a maioria encontrar-se em Classe I de Angle, a Classe II também pode ocorrer. As alterações oclusais causadas por hábitos de sucção de chupeta e dedo (s), podem se autocorrigir com a retirada dos mesmos, durante a primeira infância; porém, eles tornam-se nocivos, quando persistem durante a troca dos dentes decíduos pelos permanentes, não apresentando mais a capacidade de autocorreção, pois o crescimento facial já terá sido desviado de sua normalidade. Ao lembrar do binômio: forma X função, e relacionar que a sucção prolongada pode alterar a posição dos dentes, e estes alterar as funções normais, pode-se concluir que esses hábitos podem trazer prejuízos relevantes para todo o sistema estomatognático. O ideal seria prevenir o aparecimento desses desvios através de orientação às mães e responsáveis pelos cuidados iniciais de um recém-nascido. Vale ressaltar que uma vez instalado um hábito de sucção, sua eliminação nem sempre é fácil, pois necessita de uma transformação e de um condicionamento de um conjunto de reflexos. O fonoaudiólogo deve ver a sucção como uma função natural e crucial do bebê, pois a partir dela ele se alimenta e satisfaz suas necessidades emocionais. Deve considerar que essa função tornou-se um hábito quando, cessada as situações de alimentação e satisfação pessoal, ocorrer a persistência dela de maneira periódica. Nós, fonoaudiólogos, somos responsáveis por uma parcela da manutenção da saúde de nossos pacientes. Devemos ser capazes de prevenir, detectar e tentar eliminar fatores que possam estar interferindo negativamente na qualidade de vida dos mesmos. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, M.C.M. Ortodontia para clínicos: programa pré-ortodontico. São Paulo, Ed.Santos, 1986. p.251-53. AYER, N.Q. & GALE, E.N. - Psychology and thumbsucking. J. Amer. Dent. Ass., 80:1335-7, 1970. BIANCHINI, M.B.G. A cefalometria nas alterações miofuncionais orais: diagnóstico e tratamento fonoaudiológico. Carapicuiba, Pró-fono, 1995. 79p. CANONGIA, M.B. - Hábitos viciosos. J. Brasileiro Ortodotontia e Ortopedia Maxilar, 2:35-40, 1996. CHAN, C.; SANTOS-PINTO, A.; MARTINS, J.C.R.; MENDES, A.J.D.; SAKIMA, P.R.T. - Estudo cefalométrico dos efeitos esqueléticos e dentários do hábito persistente de sucção de chupeta. Rev. Odonto. UNESP, 25 (n.esp.): 17182, 1996. ENLOW, D.H. Crescimento facial. São Paulo, Artes Médicas, 1993. p.57-75. ___________. Manual sobre crecimiento facial. 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