Acta Scientiae Veterinariae, 2012. 40(Supl 1): s1-s60. ISSN 1679-9216 (Online) Anafilaxia em cão por picada de abelhas Camila Machado1, Tiago Zim da Silva1, Ciciane Pereira Marten Fernandes2 & Márcia de Oliveira Nobre3 RESUMO Introdução: Os acidentes causados por insetos da ordem Hymenoptera, são frequentes em animais domésticos, mas raramente relatados na literatura. Pacientes atacados por abelhas podem apresentar reação de hipersensibilidade por apenas uma picada (reação alérgica), por poucas (reação tóxica local) ou por muitas (reação tóxica sistêmica). A reação sistêmica (anafilaxia) é uma reação alérgica aguda grave, de início súbito e evolução rápida, potencialmente fatal. Caracteriza-se pela formação de anticorpos específicos IgE que sensibilizam mastócitos e basófilos, os quais desgranulam e liberam mediadores químicos responsáveis pelas manifestações clínicas na pele, trato gastrointestinal, aparelho respiratório, sistema cardiovascular e sistema nervoso central. Vômito, diarreia, sinais de choque e dispneia, que ocorrem em decorrência da síndrome da angústia respiratória e crise hemolítica intravascular, constituem-se nos sinais clínicos mais observados. O diagnóstico baseia-se no exame clínico e no histórico característico dos sinais abruptos. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de anafilaxia em cão por picada de abelhas. Caso: Um canino macho SRD, com cinco anos de idade, foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias da UFPel, com histórico de ter sido atacado por um enxame de abelhas. No exame clínico, observou-se que o paciente apresentava inúmeras abelhas pelo corpo, com eritema nas regiões das ferroadas; taquicardia (184 bpm), taquipneia (88 mrm), pulso filiforme e mucosas hiperêmicas, caracterizando um estado de choque vasculogênico. Verificou-se também a presença de miose, vômito e diarréia. Imediatamente, realizou-se fluidoterapia, administração de adrenalina e corticosteróide e oxigenioterapia. Realizou-se hemograma que constava hematócrito de 33%. O paciente veio a óbito quarenta e cinco minutos após o atendimento com parada cardiorrespiratória. Discussão: acidentes com abelhas ocorrem com certa frequência em cães, mas são pouco reportados na literatura. A manifestação clínica decorre da inoculação de substâncias químicas vasodilatadoras presentes no veneno desses insetos, principalmente do peptídeo desgranulador de mastócitos. Em ataques massivos por abelhas, como observado no presente caso, é cursado com rabdomiólise e crise hemolítica. Quando isso ocorre, a mioglobinúria e a hemoglobinúria levam ao desenvolvimento de necrose tubular e, conseqüentemente, insuficiência renal aguda. Vômito e diarréia aliada à insuficiência respiratória são sinais observados devido à reação tóxica sistêmica. O paciente apresentou anemia, sendo que distúrbios hemolíticos têm sido incriminados como uma das principais complicações dos acidentes por abelhas em cães, já que ocorre lesão da membrana eritrocítica mediada por alguns constituintes do veneno como fosfolipases e melitina, o que desencadeia hemólise intravascular. O sucesso no tratamento de um episódio agudo de anafilaxia depende da rapidez das ações emergenciais, acessando as vias aéreas e a circulação, com o objetivo principal da manutenção adequada dos sinais vitais. A adrenalina, como menciona a literatura, é o fármaco de escolha no tratamento de reações anafiláticas agudas, devendo ser administrada imediatamente, na tentativa da manutenção da pressão arterial e da melhora da ventilação alveolar por dilatar os brônquios. O corticóide administrado junto com a adrenalina atua na ação de bloqueio antígeno-anticorpo-complemento que forma a anafilotoxina, além da ação antiinflamatória importante na prevenção dos sinais tardios da anafilaxia. Contudo, mesmo com o atendimento prévio ao paciente, houve óbito devido à crise hemolítica fatal. Mesmo com procedimentos adequados existe o risco de morte quando o animal é picado por várias abelhas desenvolvendo reação tóxica, contudo o atendimento emergencial é o fator determinante do prognóstico favorável do paciente. Descritores: acidente, canino, choque, tempo, emergência, anafilaxia. 1 Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, RS, Brasil. 2Programa de Pós Graduação em Veterinária (PPGV) – UFPel. 3Departamento de Clínicas Veterinárias, Faculdade de Veterinária, UFPel, Pelotas. CORRESPONDÊNCIA: C.MACHADO [[email protected]]. s35