DEBATE CAMPO/CIDADE E SUA RELAÇÃO COM A AGRICULTURA URBANA DISCUSIÓN CAMPO/ CIUDAD Y SU RELACÍON COM LA AGRICULTURA URBANA Igor Martins de Oliveira [email protected] Pós graduando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Social, Universidade Estadual de Montes Claros-Unimontes Resumo: Uma nova estruturação conceitual pode ser percebida no âmbito da relação campocidade. Torna-se cada vez mais claro o desligamento da dicotomia existente entre elas e o fim da existência de dois pólos opostos, um desenvolvido a partir da influencia industrial, e outro atrasado de baixa densidade demográfica puramente agrário. Contudo, O espaço urbano e o espaço rural são cada vez mais dinâmicos e interligados, dentro da imposição capitalista. Desta forma o rural/ urbano ou campo/cidade são vistos agora a partir da relação de continuum que se delineia entre o pólo urbano e o pólo rural. O campo passa então a ser uma área produtiva ligada à questão natural, mas que sofre influência do urbano sendo impregnado de novas funcionalidades. Na cidade, a produção agrícola denominada de Agricultura Urbana (AU) torna-se um claro exemplo da influência e da espacialização dos hábitos rurais no urbano, através do aproveitado do espaço urbano vago, criação de pequenos e médios animais, cultivos de hortaliças, plantas medicinais e frutas são expoentes máximo da AU. Diante disto, este artigo tem como objetivo discutir acerca da relação rural/urbano, analisando a atuação da Agricultura Urbana como parte integradora deste processo, e como alternativa na minimização das crises existentes na cidade como a fome e o desemprego. Palavras Chave: Relação Rural/ Urbano; espaço urbano; Agricultura Urbana. EIXO 8 - Geografia Urbana ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1074 Resumen: Una nueva estruturacion conceitual puede ser percebida en lo ámbito de La relacíon campo-ciudad. Se queda siempre más claro lo desligamiento de La dicotomía existente entre en las y El fim de la existencia de los poles opuesto , uno desarolló a partir de las influencias industriales, y outro hacia atrás poco pobladas puramiente agrárias. Todavía los espacios urbanos y los espacios rurales son cada vez más dinâmicos y interconectados dentro de La imposicion capitalista. Así La poblacíon rural/urbana o ubana /rural ahora se desprende de La relacíon de continuum que se delineia entre lo urbano y rural pole. El campo se convierte em una área productiva ligada en las cuestones naturales, pero esta influenciada del urbano siendo impregnado de nuevas características. Em la ciudad, la produccion agrícola llamada de Agricultura Urbana(AU) se convierte en un claro ejemplo de la influencia y de la espacializacion de los hábitos rurais en lo urbano,pasaron por el espacio urbano vacante, la creacíon de pequeños animales y medianas empresas, los cultivos de hortalizas, plantas medicinales y las frutas son máximos exponentes de la AU. Por lo tanto, este articulo, tiene como objetivo, poner em cuenta de la relacíon rural/urbano, analizar el desempeño de la agricultura urbana como parte integrante de este proceso, y como alternativa para diminuir las crisis existentes en las ciudad como el hambre y el desempleo. Palavras Clave: Relacíon Rural/ Urbano; espacio urbano; Agricultura Urbana. Considerações Iniciais A partir do surgimento do meio técnico cientifico e informacional, com a irradiação deste no espaço geográfico, tornou-se mais difícil a diferenciação entre os espaços rural e urbano, tendo em visto da grande complexidade socioespacial que esse processo gerou. (CANDIOTTO; CORREA, 2008, P.215). Todavia é comumente associarmos, o rural como uma área atividades primaria e baixa densidade populacional. Em contra partida, a cidade é predominantemente industrial com maior fluxo de pessoas e mercadorias e alta densidade demográfica. Assim, o aspecto dicotômico entre o campo e cidade há muito tempo se fez presente nas discussões, contudo, “cabe a ressalva de que toda paisagem/espaço considerado ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1075 urbano, ou seja, toda cidade, sempre se sobrepõe ao rural ou ao ‘natural’. Assim, todo urbano já foi rural, mas nem todo rural será urbano” (CANDIOTTO; CORREA, 2008, p.215). Para Coutinho et all. (2013, p.64) “Pode-se pensar o rural pelo natural, campo de produção, local de morada, questão econômica, turismo, entre outros”. Em contra partida, a cidade apresenta-se como espaço polarizadora do desenvolvimento, dos fluxos comerciais, alta densidade demográfica onde as relações humanas se dão através do isolamento e competição. Nesta perspectiva Bagli (2010) analisa a divergência entre campo/cidade destacando que: Caracteriza-se pela forte aproximação com os aspectos naturais: existência de vegetação, cultivo de produtos alimentícios, criação de animais. Está ligada a tudo o que representa a natureza em seu estado pouco transformado. Nela, as transformações não se apresentam de forma tão intensa quanto na paisagem urbana. Como as transformações são pouco percebidas, há a idéia de que nos espaços rurais a harmonia prevalece, uma espécie de relação simbólica entre homem e meio. (BAGLI, 2010, p.103). Além da fisionomia da paisagem há estudos que abordam esta temática através da das relações sociais, da divisão do trabalho, do uso do solo, dentre outras, como expresso por Rosas (2010, p. 42), Quando se busca compreender, interpretar e analisar as características e relações dos/nos/entre os espaços rural e urbano observa-se a existência de diversas vertentes, construídas historicamente, e pautadas em flancos distintos ou agrupados. Dentre outras, pode-se analisar as características do rural e do urbano na paisagem, nas relações sociais, culturais, de vivência, de uso do solo, econômicas, só para citar algumas, em tais espaços, e na relação entre eles. Fernandes (2008, p.46) estuda a relação rural/urbana retornando ao tempo histórico, analisando o surgimento da sociedade brasileira. Para esse autor os portugueses instalaram no Brasil uma cultura ligada aos valores rurais que ainda perduram nos tempos atuais percebidas nas relações de poder, complementariedade, que se configuram além das relações culturais. Para Wanderley (2000) estuda o conceito de “rural” a partir da teoria sociológica apontando duas características que a autora pontua como fundamentais, sendo a primeira referente a relação homem/ natureza, na qual o homem lida e trabalha diretamente em seu habitat. A segunda concerne às relações sociais praticadas ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1076 campo, resultante de uma relação restrita e de complexidade que resultaram práticas particulares de representação do espaço, do trabalho, do tempo e da família. Corroborando com a visão de Wanderley (2000) Marques (2002) citado por Candiotto; Correa (2008, p. 215-216) afirma que: O espaço rural corresponde a um meio específico, de características mais naturais do que o urbano, que é produzido a partir de uma multiplicidade de usos nos quais a terra ou o “espaço natural” aparecem como um fator primordial, o que tem resultado muitas vezes na criação e na recriação de formas sociais de forte inscrição local, ou seja, de territorialidade intensa. 1077 Diante da grande complexidade do espaço geográfico, e da integração desse a relação entre o campo e a cidade não é mais vista como formas espaciais isoladas e independentes. “O espaço urbano e o espaço rural são, contudo, cada vez mais dinâmicos e interligados, sendo necessários avanços teórico-metodológicos para sua interpretação, fato que conduz a um amplo debate” (CANDIOTTO; CORRÊA, 2008, p. 216). Assim, este artigo tem como objetivo discutir acerca da relação rural/urbano, analisando a atuação da Agricultura Urbana como parte integrada deste processo. Para realização deste trabalho foi feito uma revisão bibliográfica utilizando livros, artigos e documentos eletrônicos que discutem a relação rural/ urbana e a questão da Agricultura Urbana, em seguida foi feito a identificação das áreas de agricultura Urbana no Bairro Vila Anália, utilizando a imagem QUIK BORD Mult Expectral, composição 1R 2G 3B, posteriormente elaboramos o mapa da Agricultura Urbana no respectivo bairro utilizando os Softwares Auto Cad Map 2000 e ArcView 3.2. O Rural e o Urbano na vertente do continuum. É através da ocupação do solo e da diversificação do trabalho que os espaços são criados. Sendo o homem (e sua força de trabalho) é o principal agente desse processo. “mas como o modo de produção é apenas um elemento da totalidade, determinando e sendo por ela determinado, o processo de produção espacial deve ser analisado a partir desta totalidade” (ROSSINI, 2009, p. 09). Assim, o espaço geográficos que hoje nos apropriamos teve sua produção determinada a partir da formação econômica da sociedade, partindo da feudal, industrial e pós industrial, nesta última pode-se associar ao meio técnico cientifico ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 informacional proposto por Santos (2006). Outro fator primordial nesta questão referese à participação da sociedade consumidora ou consumista, haja vista que essa “apropria do espaço para suprir suas necessidades” (ROSSINI, 2009, p. 10). Se o processo de produção do espaço é um processo de trabalho, as parcelas do espaço global se articulam e se integram a partir do papel que cada uma terá no processo de trabalho geral. Estabelece-se então uma diversidade de relações com intensidades desiguais, que vão produzir o espaço global mediante a produção de parcelas espaciais menores. Na formação econômica da sociedade capitalista, a categoria determinante da análise é o capital. Desse modo teremos uma produção espacial voltada para as exigências e necessidades do capital, uma população que se produzirá e reproduzirá em função de suas leis e, conseqüentemente, um processo de apropriação que lhe será peculiar (ROSSINI, 2009, p.10) Desta maneira, com as modificações ocorridas no espaço geográfico a partir da influência capitalista surge uma nova concepção da relação campo/ cidade, que são vistos a partir do processo continuum, onde o processo de urbanização é considerado responsável pelas significativas transformações ocorridas na sociedade, atingindo o espaço rural, e desta forma aproximando-o da realidade urbana (CANDIOTTO; CORRÊA, 2008). “O continuum se delineia entre o pólo urbano e o pólo rural, que apresentam distinções, as quais intensificam o processo constante de mudança que ocorre nas relações que são estabelecidas entre eles” (ARAÚJO; SOARES, 2009, p. 203). Ainda sobre a relação de continuum entre o rural e o urbano Wanderley (2002) apud Candiotto; Corrêa, (2008), afirma que existem duais interpretações a questão, sendo a “urbano – centrado” que representaria a homogeneização espacial e social, de forma que o urbano ressaltaria, apontando desta forma o fim da realidade rural. E a relação “continuum rural-urbano”, que para eles haveria a aproximação dos dois pólos extremos, o campo e a cidade ou o rural e o urbano, considerando as semelhanças e as continuidades, mas sem acabar com a realidade rural, preservando assim as particularidades de cada um dos pólos. Ainda sobre a análise acerca do continuum, nos recorreremos a Rua (2006) que também nos apresenta duas vertentes ‘analíticas’, sendo a primeira referente à idéia da “urbanização do rural” na qual o rural desaparecerá. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1078 A “urbanização do rural” pode ser relacionada à idéia de continuum, em que haveria graus distintos de urbanização do território. A visão desses autores é marcada por uma certa teleologia em que, para alguns, o destino inexorável do rural é desaparecer, tornando-se urbano. (RUA, 2006, p. 90). Já a segunda vertente abordada pelo autor concerne na teoria da “urbanização no rural” que segundo Rua (2006, p. 91) “pleiteia a manutenção de especificidades no espaço rural, mesmo quando impactado pela força do urbano”. Percebemos desta maneira que a ‘urbanização do rural’ abordado no trabalho de Rua, associa-se a interpretação do ‘urbano – centralizado’ de Wanderley, e a ‘urbanização no rural’ refere-se à idéia de ‘Continuum rural urbano’. A partir da recriação do rural, em suas bases estruturais, econômicas, culturais e sociais irão contribuir na formação da multifuncionalidade do rural, como demonstra Moreira (2003) citado por Rua (2006, p. 87) Esse (novo mundo rural) passa a ser compreendido não mais como espaço exclusivo das atividades, mas como lugar de uma sociabilidade mais complexa que aciona novas redes sociais regionais, estaduais, nacionais e mesmo transnacionais. Redes sociais as mais variadas que no processo de revalorização do mundo rural, envolvem a reconversão produtiva (diversificação da produção), a reconversão tecnológica (tecnologias alternativas de cunho agroecológico e natural), a democratização da organização produtiva e agrária (reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar), bem como o fortalecimento dos turismos rurais (ecológico e cultural). Conforme escreveu Wanderley (2000) o mundo rural sofrerá profundas transformações internas em seu processo de diversificação social, que reformulará sua relação com o urbano, segundo a autora o rural deixará sua posição de antagonismo e assumirá relações de complementaridade. De forma que o desenvolvimento do rural não dependerá apenas do seu dinamismo agrícola, mas, sobretudo de sua capacidade de atrair para novos investimentos econômicos, e outros interesses sociais a fim de realizar uma “ressignificação” de suas funções sociais. Complementado a visão de Wanderley (2000), Lindner; Wandscheer (2010, p. 154) afirmam que “Com a busca dos habitantes da cidade pelo campo, este espaço passa a assumir ‘novas funções’, entre as quais se destacam as atividades de lazer, como o turismo em área rural, segundas residências e diversos tipos de serviços destinados ao público urbano”. Corroborando com a visão dos autores supracitados Rodrigues (2001) apud Candiotto; Corrêa, (2008) afirma que “o que configura este o novo rural ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1079 são as novas praticas nele desenvolvidas, indo além das tradicionais atividades agropecuárias e agroindustriais”. A cidade e suas ruralidades: A Agricultura Urbana Como uma alternativa às crises urbanas. A influência da urbanização sobre a sociedade é marcante, a cidade sobre a óptica capitalista “é transformada em objeto de troca e de consumo, do mesmo modo que as ‘coisas’ negociáveis” (DAMIANI, 2001, p. 119). É regida e controlada pelo mercado assim a “cidade foi solapada pela racionalidade limitada do produtivismo” (DUARTE, 2001, p. 78). Tais afirmações levam-nos a aderir à idéia da ‘crise da cidade’ proposta por Damiani (2001). Para ela a crise encontra-se na cidade e não da cidade embora se revele violentamente através dos dilemas sociais urbanos. Pintaudi (2001) corrobora a visão de Damiani afirmando que alguns dos problemas que são vivenciados atualmente nas cidades, já foram conhecidos e vivenciados por nossos antepassados. As referencias feitas permitem pensar que problemas identificados atualmente nas cidades, guardadas as devidas proporções, já eram bem conhecidos de nossas antepassados e são indicativos de que as cidades nunca foi um paraíso. Na atualidade, os problemas continuam com outros números, com outras conotações, entre localidades, às vezes; mas continuamos convivendo com crianças abandonadas, com pobres, com populações segregadas (PINTAUDI, 2001, p. 134). De todas as características que demonstram à influência do rural nas áreas urbanas a agricultura é a prática que melhor retrata esse processo. Tendo em vista que a essa remonta a própria origem da humanidade. Sposito (1988) discute acerca do surgimento das cidades apresentando dentre outros fatores que impulsionaram seu surgimento o desenvolvimento da agricultura. Sobre esta relação Ehlers (1999) citado por Diniz; Marcelino (2007, p. 01) salienta que: Somente a partir da apreensão do conhecimento sobre as dinâmicas naturais e do desenvolvimento de técnicas agrícolas, tornou-se possível a fixação do homem em determinados espaços geográficos, agora manejando a produção do seu alimento (EHLERS, apud DINIZ; MARCELINO, 2007. p.01). ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1080 Diante disso, a agricultura sempre esteve presente nas cidades Paul Bairoch (1985) citado por Boukharaeva et all (2005) explica que a introdução da agricultura dentro das cidades se dá no período Neolítico até as cidades modernas, contudo, esta prática foi negligenciada/ ignorada pelo poder público, pela sociedade e pelos cientistas do século XX. Entretanto, devido às crises na cidade tratadas por Damiani (2001) e corroboradas por Pintaudi (2001), ocorre uma maior divulgação das políticas de implementação e incentivo à Agricultura Urbana, que definida por Mougeot (2000, p.07) como: 1081 A praticada dentro (intra-urbana) ou na periferia (periurbana) dos centros urbanos (sejam eles pequenas localidades, cidades ou até megalópolis), onde cultiva, produz, cria, processa e distribui uma variedade de produtos alimentícios e não alimentícios, (re)utiliza largamente os recursos humanos e materiais e os produtos e serviços encontrados dentro e em torno da área urbana, e, por sua vez, oferece recursos humanos e materiais, produtos e serviços para essa mesma área urbana.(MOUGEOT, 2000, p. 07). No Brasil, a Agricultura Urbana teve seu desenvolvimento ligado à mecanização da agricultura, que acarretou fortes fluxos migratórios em direção à cidade, em especial às periferias urbanas. Este fato teve seu cerne a partir da década de 1940; acarretando um excedente populacional as margens da pobreza e as disparidades socioeconômicas, vivendo na miséria, em ambientes ecologicamente degradados (BOUKHARAEVA et all. 2005). Fato corroborado por Dayrell (2000, p. 191) ao discutir acerca da mecanização do campo e da expansão capitalista no cerrado do norte de Minas Gerais. A ocupação recente dos cerrados, provocada pela expansão das relações capitalistas no campo, visto como a última fronteira agrícola pelas elites brasileiras vem colocando em xeque a sustentabilidade deste bioma e provocando um processo de miserabilidade de suas populações, acentuando os desníveis sócio-econômicos, a concentração de terras, associados com a degradação dos seus recursos naturais: solo, água, flora e fauna. A Agricultura Urbana agirá dentro das cidades como alternativa na territorialização da população rural que por motivos diversos, migraram paras cidades, (re) criando o espaço urbano com a cultura rural. Através de hortas urbanas, criações de animais, e cultivos de árvores frutíferas, como mangueiras, goiabeiras entre várias outras. No que concerne o fator cultural a Agricultura Urbana será de suma importância, haja vista que a partir desta poderá ocorre à preservação do patrimônio cultural herdado, ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 que devido à agitação da vida na cidade, e dos novos hábitos dos citadinos estão cada vez mais ameaçados. Veloso; Oliveira; Carneiro (2009, p.09) ao relacionar a Agricultura Urbana à transmissão dos saberes da população oriunda do campo no Norte de Minas Gerais salientam que: Nas cidades do Norte de Minas Gerais, a forte ligação da população com a terra e com o modo de vida rural é evidenciada pela transmissão de saberes e da cultura regional, principalmente no âmbito familiar, através da prática de cultivos voltados basicamente para o consumo próprio e para a melhoria da saúde, como é o caso do cultivo de ervas medicinais em quintais e hortas comunitárias, tais como: erva cidreira, hortelã, arruda, erva doce, boldo, dentre outras. Um exemplo de ruralidade: o bairro Vila Anália O bairro Vila Anália está localizado no extremo leste da cidade de Montes claros, neste bairro percebemos claramente os reflexos da cultura e dos hábitos rurais impregnados na vida dos moradores. Podemos associar este fato à localização geográfica do bairro dado ao seu isolamento, uma vez que este não apresenta visinhos em Leste e Sul. É um bairro de ocupação recente e de população de baixa renda. Mapa 01: Localização do bairro Vila Anália. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1082 É comumente encontrarmos nos finais de tarde no bairro os moradores assentados na porta de suas casas conversando com seus vizinhos, comentando sobre seus problemas e sobre as últimas noticias (relações de compadrio, tão presente na cultura rural). No entanto, o mais chama a atenção é a forma com que os moradores produziram a paisagem em seus quintais. A agricultura Urbana é uma prática muito presente na vida dos moradores, e é através desta que muitos reproduzem seus hábitos e preservam seu patrimônio cultural herdado. Através do cultivo de árvores frutíferas, e pequenos canteiros utilizando bacias velhas, pedaços de pneus de carro, e outros materiais. Dentre os cultivos mais presentes no bairro tem-se o cultivo de hortaliças como cebolinha verde, coentro, salsa, alimentos que fazem parte do cardápio da culinária mineira. Os produtos cultivados incrementam a alimentação dos moradores, bem como contribui para o aumento da renda familiar para os casos de comercialização, sobretudo das hortaliças. Outra forma de demonstração da cultura rural no bairro Vila Anália se dá através do cultivo e da utilização de plantas medicinais, como erva cidreira, capim santo, boldo, água d’colônia entre outros, através desta prática saberes da medicina popular são transmitido, fortalecendo desta maneira a relação de amizade, compadrio, fortalecimento da cultura rural através da medicina natural e popular dos moradores. Encontramos também as práticas de maiores dimensões ocupando lotes vagos com o cultivo de mandiocas, urucum e cultivo de milho. Essa última é uma prática sazonal que obedece ao regime pluvial (práticas desenvolvidas entre os meses de outubro a março). ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1083 1084 Mapa 02: Localização de áreas de cultivo e criação no bairro Vila Analia. Há também a prática da criação de animais no bairro como, galinhas, vacas e cavalos, estes sãos utilizados como força de trabalho para algumas famílias que sobrevivem fazendo pequenos fretes e pela venda de lenha para padarias e para algumas residências, estes animais quando não estão sendo utilizados ficam amarados na frente da casa de seus respectivos donos, no final da tarde são levados para o pastoreio, ou em alguns casos os donos os deixa presos se alimentando de capim que foram previamente arrancados/colhidos. Figura 01: Canteiro de hortaliças e plantas medicinais em fundo de quintal. ISBN: 978-85-99907-05-4 Autor: OLIVEIRA, I. M. de, Maio/2011 Figura 02: Plantação diversificada em lote vago. Autor: OLIVEIRA, I. M. de, Maio/2011 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1085 Figura 03: Criação de Galinhas em galinheiro, fundo de quintal. Autor: OLIVEIRA, I. M. de, Maio/2011 Figura 04: Criação de cavalos em lote vago. Autor: OLIVEIRA, I. M. de, Agosto/2010 Considerações finais Dentro da análise da Relação rural/urbano dois fatos históricos são de suma importância, o primeiro consiste no processo de industrialização da cidade, que acarretou em grandes fluxos migratórios para a cidade. E o segundo concerne na mecanização do campo através das políticas da chamada Revolução Verde, que reorganizou o campo com novos hábitos e técnicas, que ficou comumente conhecido como a Urbanização no rural, que acarretou em um grande impacto social, político, econômico e cultural, que também gerou grandes fluxos migratórios do campo para a cidade. Nas cidades a população reproduz seus hábitos e costumes, expressos em seu patrimônio cultural herdado através da (re) criação de espaços e paisagem culturais. Desta maneira, fica claro o distanciamento da teoria dicotômica do rural/urbano ou campo/cidade, uma vez que os espaços que eram vistos até então como pólos opostos é concebido então como áreas integradas, preservando suas característica e particularidades. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 Nesta temática a Agricultura Urbana é um claro exemplo da atuação a cultura rural dentro da cidade, através da criação de emprego, geração de rendo, fonte de alimentação e preservação da cultura rural, o que contribui para a minimização das crises das cidades como o desemprego, e a fome. Referencias: ARAÚJO, Flávia Aparecida Vieira de; SOARES, Beatriz Ribeiro. Relação CidadeCampo: desafios e perspectiva. Campo-Território: revista de Geografia Agrária, v.4, n. 7, p. 201-229, Fev. 2009. Disponível em www.campoterriotorio.ig.ufu.br, acesso em 14 de Março de 2010. BAGLI, Priscila. RURAL E URBANO NOS MUNICÍPIOS DEPRESIDENTE PRUDENTE, ÁLVARES MACHADO E MIRANTE DO PARANAPANEMA: DOS MITOS PRETÉRITOS ÀS RECENTES TRANSFORMAÇÕES. 207f. dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual Paulista. Unesp. Presidente Prudente. 2006. BOUKHARAEVA; CHIANCA et al.. 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