1 PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE APOMORFINA EM RATOS PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOITACAZES – RJ JULHO – 2004 1 2 PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE APOMORFINA EM RATOS PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Orientadora: Profa. Dra. Marinete Pinheiro Carrera CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JULHO – 2004 2 i PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE APOMORFINA EM RATOS PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal Aprovada em 22 de julho de 2004 Comissão Examinadora: ________________________________________________________________ Profa. Cristiane Salum (D. Sc, Psicobiologia) – USP ________________________________________________________________ Profa. Sylvia Beatriz Jofilly (D. Sc, Psicologia) – UENF ________________________________________________________________ Prof. Luís Fernando Cardenas (D. Sc, Psicobiologia) – UNESA Profa. Marinete Pinheiro Carrera (D. Sc, Psicobiologia) – UENF (Orientadora) i ii “Não te lastimes. Age. Tens o tempo ao teu dispor. Não reproves. Destaca O melhor do que vejas. Não grites. Baixa a voz, Se queres que te escutem. Não desprezes. Socorre, Caso intentes ser útil. Não te irrites. Aguarda O alheio entendimento. Não desanimes. Ama, Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente, bondosamente, calmamente. A mente é tudo! O que pensamos é o que nos tornamos. A solução está sempre dentro de nós.” Alan Kardec ii iii Ao meu pai, por todo o amor, incentivo, mas principalmente pela insigne contribuição na conclusão desta Tese, por sempre ter-me feito acreditar que com coragem nada seria impossível. Dedico iii iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ser minha fortaleza e meu refúgio. A minha mãe, de cuja magnanimidade tenho o privilégio de usufruir. Ao meu pai, que deixou, além de tanta saudade, um exemplo de generosidade. Aos meus queridos irmãos, Douglas e Juninho, porque não poderia haver outros melhores. A minha querida filha “Tita", por todo o amor que me concede. Aos meus estimados avós, que não medem esforços para que eu seja feliz. Ao meu tio e tias, especialmente a tia Lourdes, que tanto torcem pelo meu sucesso profissional. Ao meu padrasto Sérgio, sempre disposto a me ajudar em tudo de que preciso. À minha orientadora, Profa. Dra. Marinete Carrera, pela paciência diante dos imprevistos surgidos em minha vida, o que foi determinante para a realização e conclusão deste trabalho. Aos grandes amigos, Flávia, Rose, Enrico, Michelle e Aline, que sempre me incentivaram e se mostraram solícitos nos momentos mais difíceis. Aos amigos, Viviane, Samuel, Lívia e Stefania, que, mesmo distantes, torceram para que tudo desse certo na realização desta Tese. À amiga Fernanda, por seu auxílio inestimável na conclusão desta Tese. iv v À coordenação de pós-graduação, especialmente, a Etiene Marques, Elenita Lacerda e Profa. Célia Raquel Quirino, por todo auxílio e esclarecimentos prestados, fundamentais para a conclusão desta Tese. Aos professores que contribuíram para minha formação acadêmica no curso de mestrado, principalmente Profa. Marinete Carrera (LSA), Prof. Antonio Henrique Almeida (LBCT), Profa. Silvia Jofilly (LCL), Prof. Alberto Magno (LZNA), Profa. Rosemary Bastos (LMGA), Profa. Rita da Trindade (LZNA) e Prof. Marcos Matta (LMGA). Ao Prof. Dr. Francisco Carlos Rodrigues Medeiros, pela confiança depositada em meu trabalho. As ex-bibliotecárias Jovana e Magda, pela amizade e por todas as informações fornecidas que muito me auxiliaram na reunião do material-base desta Tese. Ao funcionário “Seu Daniel”, pelos “galhos” quebrados ao longo deste período. Aos meus colegas de laboratório, Francimar, Ludimila, Nalígia, Lígia, Rachel e Cíntia pela torcida e pela ajuda quando precisei. Aos técnicos do laboratório de Sanidade Animal, principalrmente à Gina Nunes, pelo auxílio no fornecimento de materiais indispensáveis à realização deste trabalho. A todos os funcionários da xerox que pelo CCTA passaram, principalmente Fabiana, Lucélia, Renatinha e Dani, pela simpatia e eficiência na entrega das tantas xerox de aulas, artigos e livros. Aos guardas sempre presentes, garantindo a segurança nos dias de semana, fins de semana e feriados. Ao casal, Paulo Márcio e Ana Paula, pela venda dos tantos “lanches-almoço” nos horários de experimento. Aos funcionários da limpeza, por tornarem o ambiente de trabalho salutar e agradável para se trabalhar. Aos funcionários do Biotério, particularmente a Joana, pelo fornecimento do instrumento principal para realização deste trabalho. À UENF e ao CCTA, pela oportunidade de exercer minha profissão. À CAPES, pela concessão da bolsa de mestrado. v vi BIOGRAFIA Príscila Quintanilha Braga, filha de José Geraldo Braga e Rosely Quintanilha Braga, nasceu em 26 de dezembro de 1976, na cidade de Campos dos Goytacazes – RJ. Ingressou no curso de graduação em Medicina Veterinária na Universidade Estadual do Norte Fluminense em março de 1997 e formou-se em fevereiro de 2002. Foi admitida em agosto de 2002 no curso de Pós-graduação em Produção Animal, Mestrado, Farmacologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos dos Goytacazes-RJ, submetendo-se à defesa de Tese para a conclusão do curso em julho de 2004. vi vii CONTEÚDO LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................. ix RESUMO ............................................................................................................... x ABSTRACT ............................................................................................................ xii 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1 2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 4 2.1. O condicionamento induzido por drogas ................................................... 4 2.2. O processo de sensibilização comportamental ......................................... 6 2.3. O sistema dopaminérgico ......................................................................... 8 2.3.1. Relação do sistema dopaminérgico com o processo de condicionamento ................................................................................. 10 2.3.2. O sistema dopaminérgico e a sensibilização comportamental ........... 11 2.3.3. Apomorfina ........................................................................................ 11 2.4. Hormônios Glicocorticóides ...................................................................... 13 2.4.1. Receptores Corticosteróides ............................................................... 15 2.4.2. Metirapona .................................................. ...................................... 17 2.5. Interação entre a corticosterona e o sistema dopaminérgico ................... 19 2.6. Relação entre a corticosterona e o processo de condicionamento .......... 21 2.7. Corticosterona e o processo de sensibilização ......................................... 22 3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 25 3.1. Sujeitos ..................................................................................................... 25 3.2. Ambiente experimental .................................................. .......................... 25 vii viii 3.3. Drogas ....................................................................................................... 26 3.4. Procedimento experimental ...................................................................... 26 3.4.1. Período de habituação ........................................................................ 26 3.4.2. Fase de condicionamento ................................................................... 27 3.4.3. Período de retirada de droga 1 ........................................................... 27 3.4.4. Teste de condicionamento .................................................................. 27 3.4.5. Período de retirada de droga 2 ........................................................... 27 3.4.6. Teste de sensibilização comportamental ............................................ 27 3.4.7. Quadro 1: Cronograma do procedimento experimental ..................... 28 3.5. Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental .... 28 3.6. Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental .... 30 3.7. Experimento 3: efeito da metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e a sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina ............................................... 32 3.8. Análise comportamental ........................................................................... 33 3.9. Análise estatística ..................................................................................... 33 4. RESULTADOS ............................................................................................... 36 4.1. Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ...... 36 4.2. Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ...... 41 4.3. Experimento 3: efeito do metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e a sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina ................................................ 45 5. DISCUSSÃO ................................................................................................... 50 5.1. Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ...... 50 5.2. Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ...... 54 5.3. Experimento 3: efeito do metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e a sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina ................................................ 56 6. CONCLUSÕES ............................................................................................... 62 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 63 viii ix LISTA DE ABREVIATURAS 6-OH-DOPA – 6-hidroxi-dopamina ACTH – Hormônio Adrenocorticotrópico AMP – Adenosina Monofosfato APO – Apomorfina ASS – Associado CRF – Fator de Liberação de Corticotropina CYP-450 – Citocromo P-450 DAT – Transportador de Dopamina EC – Estímulo Condicionado EI – Estímulo Incondicionado EN – Estímulo Neutro GRs – Receptores Glicocorticóides HHA – Hipotálamo – Hipófise – Adrenal HVA – Ácido Homovanílico MAO – Monoamina Oxidase MET – Metyrapone MRs – Receptores Mineralocorticóides N-ASS – Não-associado NMDA – N-metil-D-aspartato RC – Resposta Condicionada RI – Resposta Incondicionada VEIC – Veículo ix x RESUMO BRAGA, Príscila Quintanilha. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; julho de 2004. Papel da corticosterona na aquisição dos processos de condicionamento e sensibilização comportamental induzidos por administrações sistêmicas de apomorfina em ratos; Profa. Orientadora: Profa. Dra. Marinete Pinheiro Carrera. Estímulos estressantes, recompensadores naturais e farmacológicos aumentam a secreção de corticosterona que, por sua vez, eleva a liberação de dopamina. Dessa forma, a corticosterona potencializa os efeitos motores e reforçadores de drogas psicoestimulantes como a apomorfina (APO) – agonista direto dos receptores dopaminérgicos D1 e D2. Acréscimos na atividade dopaminérgica medeiam os processos de condicionamento e sensibilização a psicoestimulantes. Este trabalho investigou o papel da corticosterona na aquisição do condicionamento e sensibilização comportamental induzidos por apomorfina. Foram realizados três experimentos. No primeiro, ratos Wistar foram divididos em três grupos: controle; APO (0,5 e 2,0 mg/kg) associado ao ambiente experimental, onde os animais receberam APO e foram colocados na arena-teste por trinta min para registro de sua atividade locomotora (número de cruzamentos) e APO não-associado ao ambiente experimental, onde os animais receberam veículo foram colocados na arena-teste e, após trinta min foram retirados da arena, tendo recebido APO na caixa-viveiro. Este procedimento foi realizado durante 5 dias consecutivos (fase de condicionamento – FC). Após o término da FC, houve um período de retirada da droga por dois dias e, x xi durante este período, os animais não foram manipulados farmacológica e comportamentalmente. Em seguida, deu-se o teste de condicionamento (TC), no qual todos os animais receberam veículo e foram colocados na arena por trinta min. Após um segundo período de retirada de droga, procedeu-se o teste de sensibilização (TS), no qual os animais dos grupos APO receberam apomorfina e aqueles do grupo controle receberam veículo e foram colocados na arena-teste. Os resultados demonstraram que na FC o grupo APO associado 2 mg/kg apresentou maior número de cruzamentos quando comparado aos demais grupos. No TC, os grupos APO associados (0,5 e 2,0 mg/kg) apresentaram maior número de cruzamentos quando comparados ao controle, indicando o desenvolvimento do processo de condicionamento. No TS, o grupo APO associado 2 mg/kg apresentou nº de cruzamentos maior que os demais grupos, sugerindo o desenvolvimento da sensibilização. No segundo experimento, os ratos receberam administrações de metirapona (MET – 50 mg/kg), inibidor da síntese de corticosterona, obedecendo ao protocolo experimental citado anteriormente. Os resultados mostraram que, na FC e no TC, o grupo MET associado apresentou maior número de cruzamentos que os demais grupos, indicando condicionamento. No terceiro experimento, os ratos foram pré-tratados com metirapona e, após, submetidos ao mesmo procedimento do primeiro experimento. Os resultados demonstraram que, na FC, o grupo MET + APO associado 2 mg/kg apresentou maior número de cruzamentos quando comparado aos demais grupos. No TC, os grupos MET + APO associados (0,5 e 2,0 mg/kg) apresentaram maior número de cruzamentos quando comparados ao controle, indicando o desenvolvimento do processo de condicionamento. No TS, o grupo MET + APO associado 2 mg/kg apresentou número de cruzamentos maior que os demais grupos, indicando sensibilização. Estes resultados mostraram que a APO produziu condicionamento nas duas doses utilizadas, enquanto apenas a maior dose produziu sensibilização. A MET sozinha produziu condicionamento. O pré-tratamento com metirapona não bloqueou o condicionamento e a sensibilização à apomorfina. Estes resultados sugerem que a corticosterona não está diretamente relacionada ao desenvolvimento do condicionamento e sensibilização comportamental induzidos pela apomorfina. Palavras-chave: apomorfina, atividade locomotora, condicionamento pavloviano, corticosterona, metirapona, sensibilização comportamental. xi xii ABSTRACT BRAGA, Príscila Quintanilha. State University of Norte Fluminense Darcy Ribeiro; July, 2004. The role of corticosterone in the acquisition of conditioning and behavioral sensitization induced by systemic administrations of apomorphine in rats; Advisor: Dra. Marinete Pinheiro Carrera Stressful and rewarding stimuli, both natural and pharmacological, stimulates adrenal secretion of corticosteroid, that in turn, cause the release of dopamine. Thus, corticosteroid increase motor and reinforcing effects of psycho-stimulant drugs such as apomorphine (APO) a direct agonist of dopaminergic D1 and D2 receptors. Increases in dopaminergic activity mediate the conditioning and sensitization processes to psycho-stimulants. The present work investigated the role of corticosterone in the acquisition of conditioning and behavioral sensitization induced by apomorphine. Three experiments were performed. In the first experiment, Wistar rats were divided in three groups: control; APO (0.5 and 2.0 mg/kg) paired to the experimental environment, in which the rats received apomorphine and were placed into the test environment during 30 min to register locomotor activity (number of crossings) and APO unpaired to the experimental environment, in which the animals received vehicle and then placed in the arena-test and 30 min later they were removed from experimental arena and received APO in their home cage. This procedure was performed during five consecutive days (conditioning phase – CF). After the end of CF a two-days drug withdrawal period was used, in which the animals were not handled. After the conditioning test (CT), all of the animals received xii xiii non-drug vehicle and were placed in the experimental environment. After a second drug free period, the sensitization test (ST) was carried out, in which the animals belonging the APO–paired groups received apomorphine and the control group received vehicle and were then placed in the test arena. Results showed that during the CF, the APO–paired (2,0 mg/kg) group had higher number of crossings when compared to the other groups. In the CT, the APO–paired groups (90.5 and 2.0 mg/kg) showed higher locomotor activity than the control group, suggesting the development of a conditioning process. In the ST, the APO–paired (2.0 mg/kg) group showed a higher number of crossings when compared to the other groups, suggesting development of behavioral sensitization. In the second experiment, rats received metyrapone (MET–50 mg/kg) an inhibitor of corticosterone synthesis, using the same experimental protocol previously mentioned. Results showed that in the CF and CT the MET–paired group had higher locomotor activity than the other groups, suggesting a conditioning reponse. In the third experiment, rats were pre-treated with metyrapone and then submitted to the same procedure as the first experiment. Results showed that in the CF the MET+APO–paired (2.0 mg/kg) group had higher number of crossings when compared to the other groups. In CT, the MET+APO– paired groups (90.5 and 2.0 mg/kg) had higher motor activity than the control group, suggesting development of conditioning. In ST, the MET+APO–paired (2.0 mg/kg) group had a higher number of crossings than other groups, suggesting sensitization. These results showed that APO produced conditioning at the two doses used while only the largest dose produced sensitization. Metyrapone alone produced conditioning. Pre-treatment with metyrapone did not block conditioning or sensitization to apomorphine. These results suggest that corticosterone is not directly involved in the development of conditioning and apomorphine-induced behavior sensitization. Keywords: apomorphine, behavior sensitization corticosterone, locomotor activity, metyrapone, Pavlovian behavior. xiii 1 1. INTRODUÇÃO O processo de condicionamento induzido por drogas constitui um modelo de aprendizagem postulado, nas primeiras décadas do século XX, pelo fisiologista russo, Ivan Petrovick Pavlov. Este cientista admitiu que a associação entre os efeitos produzidos por uma droga e o ambiente, no qual tais efeitos são experimentados, representa um processo de condicionamento. Num de seus experimentos, o cientista emitia um som aproximadamente dois a três minutos após administrar apomorfina, por via subcutânea, em cães, e os efeitos observados eram sialorréia, inquietação e tendência à êmese. Pavlov, então, denominou o som, estímulo neutro, que seria o estímulo que não evoca uma resposta específica. A apomorfina, Pavlov denominou estímulo incondicionado, ou seja, estímulo que produz uma mesma resposta em todos os organismos de uma mesma espécie. As respostas naturais (salivação, inquietação e êmese) ao estímulo incondicionado foram denominadas respostas incondicionadas. Contudo, após várias associações entre o som emitido e a administração de apomorfina, Pavlov verificou que apenas a apresentação do som era suficiente para evocar os efeitos produzidos pela droga. Pavlov passou a designar o som, estímulo condicionado, já que sozinho produziu a mesma resposta do estímulo incondicionado e denominou a resposta resultante do estímulo aprendido – resposta condicionada. Deste modo, quando uma droga é administrada repetidamente num ambiente específico, o estímulo ambiental, através de sua história de associação 2 com a exposição à droga, promoverá a expressão seletiva de ambos os efeitos comportamentais e bioquímicos da droga. Uma outra forma de aprendizagem é o processo de sensibilização comportamental que é caracterizado por um aumento progressivo da atividade locomotora, induzido pela administração repetida de psicoestimulantes, além de uma hipersensibilidade comportamental duradoura, mesmo cessada a administração da droga. A administração de psicoestimulantes acarreta um acréscimo na atividade dopaminérgica. A literatura científica estabelece que uma atividade dopaminérgica elevada, advinda do emprego de agonistas dopaminérgicos, de modo geral, implica uma hiperatividade locomotora do mesmo modo que um decréscimo na neurotransmissão dopaminérgica redunda em hipomotilidade. A hiperatividade locomotora condicionada a psicoestimulantes, como anfetamina e apomorfina, resulta principalmente de acréscimos nas atividades dopaminérgicas mesolímbica e nigroestriatal. Além disso, o processo de sensibilização também parece ser mediado pelos sistemas dopaminérgicos mesolímbico e nigroestriatal. Por outro lado, os psicoestimulantes, estímulos recompensadores farmacológicos, aumentam a secreção adrenal de corticosterona que, por sua vez, aumenta a liberação de dopamina, potencializando os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes. Os corticóides compartilham as principais ações neuroquímicas e comportamentais com os psicoestimulantes. Neuroquimicamente, ambos elevam as concentrações extracelulares de dopamina em projeções estriatais ventrais de neurônios dopaminérgicos mesencefálicos. Comportamentalmente, assim como os psicoestimulantes, a corticosterona tem efeitos motores e facilita a aprendizagem do comportamento de auto-administração de drogas, ambas as respostas por meio da ativação da transmissão dopaminérgica mesencefálica. Desde que a aquisição da resposta locomotora condicionada aos psicoestimulantes depende da ativação dos sistemas dopaminérgicos, não seria possível, então, que a corticosterona, ao elevar a atividade dopaminérgica, participasse do desenvolvimento do condicionamento clássico? Similarmente ao observado com os psicoestimulantes, a exposição repetida ao estresse resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização. Sujeitos sensibilizados pelo estresse exibem uma insigne resposta locomotora aos 3 psicoestimulantes, um fenômeno conhecido como sensibilização cruzada. Ambos, estresse e psicoestimulantes, promovem a ativação do eixo HHA (hipotálamo – hipófise – adrenal) que culmina na elevação dos níveis de corticosterona circulante. Postula-se que o acréscimo produzido nos efeitos dos psicoestimulantes produzido pelo estresse depende de um aumento nos níveis de corticosterona. Basicamente, três linhas de evidência indicam que a corticosterona potencializa os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes. Primeiro, há uma correlação positiva entre a secreção de corticosterona e a sensibilidade aos efeitos reforçadores corticosterona, dos anterior psicoestimulantes. à Segundo, auto-administração de a administração anfetamina, aumenta de as propriedades reforçadores desta droga. Terceiro, a supressão crônica da secreção de corticosterona pela adrenalectomia ou metirapona diminui os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes. Dado o exposto, o escopo deste trabalho foi avaliar a participação da corticosterona, por meio do bloqueio da sua síntese, no desenvolvimento dos processos de sensibilização comportamental e condicionamento induzido por drogas. Para tal, avaliou-se o efeito de administrações sistêmicas de diferentes doses de apomorfina (0,5 e 2,0 mg/kg), agonista dopaminérgico D1 e D2, sobre a aquisição da resposta locomotora condicionada e sensibilização comportamental. Além disso, investigou-se o papel do pré-tratamento com metirapona (50 mg/kg), inibidor da síntese de corticosterona, na aquisição dos processos de condicionamento e sensibilização produzidos por apomorfina. Supôs-se que o efeito indireto da apomorfina, como estimuladora da secreção de corticosterona a qual aumenta a liberação de dopamina, teria papel relevante no desenvolvimento dos processos de condicionamento e sensibilização comportamental. Portanto, o objetivo foi verificar se a ausência de corticosterona afetaria o papel da apomorfina nos processos de condicionamento e sensibilização comportamental. Vale ressaltar que, até o momento, não foi proposto um papel consistente para os hormônios glicocorticóides no processo de condicionamento clássico. 4 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1- O Condicionamento induzido por drogas O condicionamento constitui um modelo de aprendizagem, ou seja, um processo de modificação comportamental dos indivíduos que resulta de suas interações com o ambiente (BEAVER, 2001). Existem dois tipos de condicionamento, o clássico (pavloviano) e o operante (instrumental). Neste trabalho, no entanto, apenas o primeiro esteve em foco. Sabe-se que um estímulo incondicionado (EI) resulta numa resposta igualmente incondicionada (RI), o que significa que o mesmo estímulo elicia a mesma resposta em todos os organismos de uma mesma espécie. Porém, estímulos originalmente neutros (EN) que, automaticamente, não evocam uma resposta específica, quando associados a um estímulo incondicionado são capazes de provocar reflexos. O estímulo neutro torna-se um estímulo condicionado (EC), já que sozinho passa a produzir a mesma resposta de um estímulo incondicionado. Essa resposta, resultante do estímulo aprendido, é denominada resposta condicionada (RC) e o processo envolvido, condicionamento clássico ou pavloviano (PAVLOV, 1927, apud MCKIM, 2000). Este remoto conceito data das primeiras décadas do século XX, quando o fisiologista russo, Ivan Petrovick Pavlov, estudando o processo de digestão, observou que um cão salivava à mera visão da tigela de alimento, ou seja, este cão aprendera a associar a visão da tigela com o sabor do alimento. Tratava-se de um caso de aprendizagem associativa e Pavlov decidiu verificar se o cão seria capaz de associar o alimento com outros estímulos, como luz, som, entre outros (ATKINSON 5 et al., 1995). Num de seus experimentos, Pavlov colocava o cão em frente a uma tigela e, após alguns segundos, um pouco de pó de carne era enviado automaticamente à tigela quando, então, a luz era desligada. O cão faminto salivava copiosamente, Pavlov denominou a salivação resposta incondicionada e o pó de carne, estímulo incondicionado. O procedimento foi repetido dezesseis vezes, ou seja, dezesseis apresentações associadas da luz e do alimento. Finalmente, o cientista ligava a luz, mas não enviava o alimento e, mesmo assim, o cão salivava. A esta salivação denominou-se resposta condicionada e à luz, estímulo condicionado. Em outras palavras, durante a aquisição da resposta condicionada, o estímulo condicionado tornou-se um substituto do estímulo incondicionado, ou seja, o cão aprendeu que a luz significava alimento (ATKINSON et al., 1995). Pavlov (1927, apud DREW e GLICK, 1988) também sugeriu que a associação entre os efeitos produzidos por uma droga e o ambiente no qual tais efeitos são experimentados representa um processo de condicionamento. Num de seus experimentos posteriores, o cientista emitia um som (EN) aproximadamente dois a três minutos após administrar apomorfina (EI) em cães, por via subcutânea, e os efeitos fisiológicos ou incondicionados (RI) observados eram sialorréia, inquietação e tendência à êmese. Contudo, após várias associações entre o som emitido e a administração de apomorfina, Pavlov verificou que apenas a apresentação do som (EC) era suficiente para evocar os efeitos produzidos pela droga (RC) (PAVLOV,1927, apud MCKIM, 2000). Deste modo, quando uma droga é administrada repetidamente num ambiente específico, o estímulo ambiental, por meio de sua história de associação com a exposição à droga, promoverá a expressão seletiva de ambos os efeitos comportamentais e bioquímicos da droga (DREW e GLICK, 1988). O processo de condicionamento induzido por drogas apresenta relevância na identificação dos substratos neurais envolvidos nos processos de aprendizagem e memória. Isto pode ser comprovado pela resposta (RC) expressa diante de um estímulo ambiental (EC) similar à resposta incondicionada promovida pela administração de uma droga (EI). Isso significa que tal resposta, inicialmente armazenada na memória, foi evocada pela simples apresentação do estímulo condicionado (DAMIANOPOULOS e CAREY, 1992). Este modelo também tem contribuído insignemente para o entendimento dos distúrbios motores associados a anormalidades dos núcleos basais, tais como, Mal 6 de Parkinson, Doença de Huntington, Síndrome de Tourette, entre outras. Esta asserção provém do fato de que os núcleos da base estão relacionados não apenas ao controle de movimentos voluntários, mas também a processos de aprendizagem, o que pode ser verificado tanto pelas alterações motoras quanto pelas cognitivas observadas nessas patologias (MARTIN, 1998). 2.2- O processo de sensibilização comportamental A administração repetida de psicoestimulantes resulta num fenômeno denominado tolerância reversa ou sensibilização comportamental, a qual é caracterizada por um aumento progressivo da atividade locomotora induzido pela droga, além de uma hipersensibilidade comportamental duradoura, mesmo cessada a administração da substância (ROBINSON e BECKER, 1986; CADOR et al., 1995). Para O’Brien (1996), a sensibilização consiste no aumento da reposta com a repetição da mesma dose da droga. Por exemplo, a injeção diária de uma dose de cocaína, capaz de elevar a atividade locomotora, gera um acréscimo significativo do efeito motor após vários dias, mesmo se a dose permanecer constante. Com a sensibilização, há um desvio da curva dose-resposta para a esquerda de modo que, para uma determinada dose, há um efeito maior do que o observado após a dose inicial. A denominação tolerância reversa se justifica, tendo em vista que, ao contrário desta, na tolerância, doses maiores que as iniciais são necessárias para se obterem os mesmos efeitos, tendo-se então um desvio para a direita da curva doseresposta (O’BRIEN, 1996). A importância do processo de sensibilização comportamental reside em sua associação com o desenvolvimento de diversas patologias comportamentais, como a esquizofrenia (KOKKINIDIS e ANISMAN, 1980; ROBINSON e BECKER, 1986), estresse pós-traumático e doença do pânico (ANTELMAN, 1988). Em humanos, este fenômeno pode culminar em episódios psicóticos paranóicos e, em indivíduos com história prévia de abuso de drogas, os episódios psicóticos tendem a rescindir , quando da reexposição à droga ou a condições estressantes, passados meses ou até anos de abstinência à droga (CADOR et al., 1995). Para Segal e Kuczenski (1991), as adaptações neuroplásticas relacionadas ao processo de sensibilização comportamental acarretariam o desenvolvimento do 7 comportamento compulsivo de ingestão, desejo e recaída por drogas. Robinson e Berridge (1993) propõem uma teoria na qual a sensibilização representaria um incentivo para o uso abusivo de drogas. Esta teoria aponta que o desejo de buscar a droga seria um estado de incentivo resultante da liberação de dopamina por neurônios dopaminérgicos, sensibilizados pela exposição repetida a drogas psicoestimulantes, principalmente, em áreas mesocorticolímbicas. Em outras palavras, indivíduos com seus sistemas dopaminérgicos sensibilizados seriam mais vulneráveis ao abuso e à dependência de drogas. Algumas hipóteses têm sido propostas na tentativa de explicar o desenvolvimento da sensibilização comportamental induzida por agonistas dopaminérgicos, entre as quais, incluem-se a do condicionamento, tolerância dos auto-receptores e aumento da liberação de dopamina induzida por agonistas (ROBINSON e BECKER, 1986). Uma possível explicação para a participação do condicionamento na expressão da sensibilização comportamental seria que o aumento progressivo na atividade locomotora induzida por psicoestimulantes está relacionado ao desenvolvimento de uma resposta locomotora condicionada a um estímulo ambiental associado com a exposição à droga. Na hipótese da tolerância dos auto-receptores, propõe-se que estes tornam-se subsensitivos com a exposição repetida a agonistas dopaminérgicos não-seletivos, havendo um decréscimo em seu efeito inibitório sobre a síntese e liberação de dopamina, com conseqüente elevação da atividade locomotora (ROBINSON e BECKER, 1986). Por outro lado, num de seus experimentos, Mattingly e colaboradores (1991) observaram que o antagonista dopaminérgico D2, sulpiride em concentração suficiente para bloquear ambos os receptores D2 pré e pós-sinápticos, não impediu o desenvolvimento da sensibilização produzida pela apomorfina. Além disso, estes autores constataram que a administração de SCH 23390, antagonista dos receptores dopaminérgicos D1, obstaculizou o desenvolvimento do processo de sensibilização à apomorfina. E embora se acredite, que realmente haja uma certa perda de sensibilidade pelos auto-receptores diante de tratamentos repetidos com drogas agonistas, este fato sozinho não é suficiente para explicar a ocorrência do fenômeno de sensibilização comportamental. Os resultados obtidos por Mattingly e colaboradores (1991) também revelam que, mesmo diante do bloqueio da resposta condicionada, há manifestação da sensibilização comportamental produzida pela apomorfina. Apesar de apenas este 8 achado não excluir o envolvimento do condicionamento na expressão de efeitos sensibilizantes, ele é consistente com outros trabalhos que sugerem que esses efeitos desenvolvem-se por meio de processos associativos e não-associativos (GOLD et al., 1988; MATTINGLY e GOTSICK, 1989). Finalmente, acredita-se que a sensibilização comportamental resulte de um aumento na liberação de dopamina (ROBINSON e BECKER, 1986). Por exemplo, a sensibilização comportamental à cocaína relaciona-se a um aumento nos níveis extracelulares de dopamina no núcleo acumbens (KALIVAS e DUFFY, 1991). Esta teoria inclui somente os efeitos pré-sinápticos e, portanto, a atuação de agonistas dopaminérgicos indiretos, como a anfetamina e cocaína que exercem seus efeitos basicamente por meio da liberação e/ou bloqueio da recaptação de dopamina, desconsiderando então o papel dos agonistas dopaminérgicos diretos, como a apomorfina, no processo de sensibilização (MATTINGLY et al., 1991). Não obstante, existem evidências mais recentes que propõem o envolvimento das alterações pós-sinápticas, estimuladas pela atuação de agonistas nos receptores dopaminérgicos, na expressão do processo de sensibilização a psicoestimulantes. Dentre tais alterações, incluem-se o aumento da atividade da proteína G, a ativação da adenilato ciclase com subseqüente aumento na produção de AMP cíclico e a estimulação da proteínaquinase A. Esta descoberta indica que tanto as alterações pré quanto as pós-sinápticas, principalmente no sistema dopaminérgico mesoacumbens, devem contribuir para a sensibilização comportamental por drogas psicoestimulantes (PIERCE e KALIVAS, 1995). 2.3- O sistema dopaminérgico Até 1959, a dopamina não era considerada um neurotransmissor do sistema nervoso central, mas simplesmente um precursor da noradrenalina. Atualmente, são reconhecidas no cérebro quatro importantes vias dopaminérgicas (HOLLISTER, 1998). Uma via é a nigroestriatal que se projeta da substância negra mesencefálica para os núcleos caudado e putâmen (corpo estriado) no telencéfalo. Outra via é a mesolímbica que se projeta da área tegmentar ventral mesencefálica para parte da amígdala e hipocampo, núcleo acumbens, septo lateral, córtex entorrinal, cingulado anterior e medial frontal. A terceira via é a mesocortical que vai da área tegmentar 9 ventral para o neocórtex inervando densamente o córtex pré-frontal. A quarta e última via é a túbero-infundibular que vai do núcleo arqueado do hipotálamo para a eminência mediana e neuro-hipófise (BRANDÃO, 1993; HOLLISTER, 1998). Este neurotransmissor atua em sítios específicos denominados receptores dopaminérgicos. Até o momento foram identificados cinco tipos de receptores dopaminérgicos, dispostos em duas famílias distintas. Os receptores D1 e D5 são classificados como D1-like, enquanto os subtipos D2, D3 e D4 como, D2-like (MISSALE et al., 1998). Os receptores D1 são os mais amplamente distribuídos, além de serem expressos em níveis mais altos que qualquer outro receptor dopaminérgico (MISSALE et al., 1998). Estes receptores têm sido detectados no estriado, núcleo acumbens, tubérculo olfatório, substância negra, córtex frontal, hipotálamo e tálamo (MISSALE et al., 1998; STRANGE, 2001). Os receptores D1 são codificados por um gene no cromossoma cinco e atuam através da ativação da enzima adenilato ciclase ,gerando aumento na síntese do mensageiro secundário intracelular AMP cíclico. Os receptores D5, que são codificados por um gene no cromossoma quatro, também produzem acréscimos na concentração de AMP cíclico e localizam-se principalmente no hipocampo e hipotálamo (HOLLISTER, 1998). Os receptores D2 são encontrados no estriado, núcleo acumbens, substância negra, amígdala, córtex, globo pálido e tubérculo olfatório (MISSALE et al., 1998; STRANGE, 2001). Estes receptores, que são codificados no cromossoma onze, reduzem a concentração de AMP cíclico através da inibição da adenilato ciclase e bloqueiam os canais de cálcio, mas abrem os canais de potássio (HOLLISTER, 1998). Os receptores D3 também são codificados no cromossoma onze, estes diminuem o AMP cíclico e localizam-se no núcleo acumbens, córtex cerebral e tubérculo olfatório (HOLLISTER, 1998). Os receptores D4, os mais recentemente descobertos, são encontrados no hipocampo, hipotálamo, medula e córtex frontal (MISSALE et al., 1998; STRANGE, 2001). 10 2.3.1- Relação do sistema dopaminérgico com o processo de condicionamento A administração de estimulantes psicomotores acarreta um acréscimo na liberação de dopamina, ao passo que sua suspensão gera uma redução na transmissão dopaminérgica (MISSALE et al., 1998). A literatura científica estabelece que uma atividade dopaminérgica elevada, advinda do emprego de agonistas dopaminérgicos, de modo geral, implica uma hiperatividade locomotora, do mesmo modo que um decréscimo na neurotransmissão dopaminérgica redunda em hipomotilidade (BENINGER et al., 1989). Segundo Schiff (1982), a hiperatividade locomotora condicionada a psicoestimulantes como anfetamina e apomorfina resulta principalmente de acréscimos nas atividades dopaminérgicas mesolímbica e nigroestriatal. Em seu experimento, Schiff (1982) constatou aumento na concentração de ácido homovanílico – HVA (metabólito da dopamina) em estruturas como núcleo acumbens e estriado dorsal sugerindo, então, sua participação no processo de condicionamento. Carrera e colaboradores (1998) apontam que administrações intraestriatais de apomorfina resultam numa resposta condicionada, desde que o pareamento dessas administrações com um ambiente específico produziu uma atividade locomotora condicionada. Portanto, os agonistas dopaminérgicos funcionam como um estímulo incondicionado para aquisição de uma resposta locomotora condicionada (SCHIFF, 1982). Por outro lado, o pré-tratamento com antagonistas dopaminérgicos, como SCH 23390 e o sulpiride, bloqueia a atividade locomotora produzida por agonistas dopaminérgicos como a apomorfina (MATTINGLY, 1991). Hinson e Siegel (1983) verificaram que o antagonista dopaminérgico, pimozide, bloqueia a resposta locomotora condicionada induzida por administrações de morfina na área tegmentar ventral. Lesões dos terminais mesoacumbens com a neurotoxina 6-OH-DOPA, póscondicionamento, bloqueia a hiperatividade condicionada evocada por um ambiente emparelhado com a anfetamina (FRANKLIN e DRUHAN, 2000). De acordo com Pert e colaboradores (1990), lesões com 6-OH-DOPA no núcleo acumbens obstam a atividade locomotora condicionada à cocaína. O núcleo acumbens tem sido considerado um elemento crucial do circuito neural que regula a expressão de respostas condicionadas pavlovianas a estímulos relacionados a psicoestimulantes (FRANKLIN e DRUHAN, 2000). 11 2.3.2- O sistema dopaminérgico e a sensibilização comportamental A administração repetida de agonistas dopaminérgicos resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização comportamental (MATTINGLY et al., 1991). A sensibilização cruzada entre diferentes tratamentos, que compartilham a capacidade de elevar a neurotransmissão dopaminérgica, reforça a hipótese de que este neurotransmissor é crucial para a expressão da sensibilização comportamental a psicoestimulantes (PIERCE e KALIVAS, 1995). A sensibilização parece ser mediada pelos sistemas dopaminérgicos mesolímbico (ROBINSON e BECKER, 1986; MATTINGLY et al., 1991; PIERCE e KALIVAS, 1995) e nigroestriatal (ROBINSON e BECKER, 1986; MATTINGLY et al., 1991). Todavia, Carrera e colaboradores (1998) constataram que administrações de apomorfina no estriado dorsal, constituinte da via nigroestriatal, não resultam em sensibilização comportamental. De acordo com Cador e colaboradores (1995), a ação de drogas psicomotoras no nível do núcleo acumbens responde pela expressão da sensibilização, enquanto a ação dessas drogas no nível dos corpos celulares dopaminérgicos na área tegmentar ventral induz mudanças responsáveis pela iniciação deste fenômeno. Desse modo, psicoestimulantes no nível da área tegmentar ventral são necessários e suficientes para indução da sensibilização que pode ser mais tarde revelada por uma atuação desses estimulantes no núcleo acumbens. O processo de sensibilização encontra-se associado à alta capacidade de drogas psicoestimulantes de elevar a concentração de dopamina extracelular no estriado ventral (PIERCE e KALIVAS, 1995). 2.3.3- Apomorfina A apomorfina é um alcalóide cristalino pertencente à classe dibenzoquinolona. Este composto é formulado como um sal hidrocloreto de peso molecular igual a 312,79 , tendo como descrição química 6 αβ-aporfina-10,11 diol hidrocloreto hemihidrato. Trata-se de uma droga bastante hidrossolúvel e susceptível à oxidação pelo ar e luz. A apomorfina pode ser obtida a partir do aquecimento da morfina num 12 ambiente ácido e, apesar de derivado da morfina, não detém propriedades narcóticas (LE WITT, 2004). As ações farmacológicas primárias da apomorfina resultam de sua estrutura amina terciária e policíclica que apresenta homologia com a molécula de dopamina. Portanto, a apomorfina exerce potente atividade dopaminérgica nos receptores dopaminérgicos. “In vitro”, a apomorfina exibe alta afinidade pelos receptores D4, moderada afinidade pelos recptores D2, D3 e D5 e baixa afinidade pelos receptores D1 (NEWMAN e CUSSAC, 2002). Segundo Creese e colaboradores (1983) a apomorfina atua como agonista total nos receptores D2 e como agonista parcial nos receptores D1. Além disso, os receptores D2 pré-sinápticos são seis a dez vezes mais sensíveis à apomorfina que os receptores D2 pós-sinápticos. De acordo com Newman e Cussac (2002), a apomorfina também apresenta afinidade moderada pelos receptores adrenérgicos 1D, 2B e 2C e pelo receptores serotonérgicos 5HT1A, 5HT2A, 5HT2B e 5HT2C. O alto metabolismo hepático de primeira passagem da apomorfina impede sua eficácia quando administrada por via oral. A administração oral de apomorfina tem sido associada ao desenvolvimento de nefrotoxicidade, provavelmente, devido às altas doses requeridas em virtude do elevado metabolismo de primeira passagem. Por outro lado, a rota de administração parenteral mais utilizada é a via subcutânea, tendo-se o início do efeito da apomorfina em, sete a dez minutos e sua duração por mais de noventa minutos em pacientes parkisonianos (LE WITT, 2004). Esta droga tem papel relevante no tratamento da Doença de Parkinson, quando não controlada com levodopa ou outros medicamentos anti-parkisonianos. A apomorfina é um fármaco com elevada porcentagem de ligação às proteínas plasmáticas, após sofrer distribuição. Seu metabolismo ocorre através de várias vias enzimáticas, incluindo oxidação, N-desmetilação, sulfatação, glicuronidação e metabolismo pela COMT (catecol-o-metil transferase), assim como, por oxidação não-enzimática. A complexidade dos processos de absorção, distribuição e eliminação da apomorfina deve contribuir para a variabilidade de seus efeitos clínicos (LE WITT, 2004). 13 2.4- Hormônios glicocorticóides Durante o ciclo circadiano, os hormônios corticóides são secretados pela glândula adrenal em duas faixas distintas. Tendo-se, então, durante a fase clara, período de repouso em roedores, a faixa baixa correspondente a concentrações plasmáticas de corticosterona que giram em torno de 1 J PO H D IDL[D DOWD estendendo-VH GH D JPO QR SHUíodo ativo, fase escura em roedores (MC EWEN et al., 1986). Os glicocorticóides endógenos são sintetizados pelas zonas fasciculada e reticulada do córtex adrenal. A síntese e liberação destes hormônios dependem da adrenocorticotropina (ACTH), sendo este um hormônio peptídio produzido pela adeno-hipófise, cuja liberação é controlada pelo CRH (Hormônio Liberador de Corticotropina). O CRH é sintetizado na parte anterior dos núcleos paraventriculares hipotalâmicos e secretado no plexo capilar do hipotálamo, sendo, em seguida, transportado até a adeno-hipófise, onde induz a secreção do ACTH. O ACTH ativa, então, a adenilato ciclase na membrana das células adrenocorticais com conseqüente formação de AMP (Adenosina Monofosfato) cíclico. O AMP cíclico catalisa a transferência de energia do ATP (Adenosina Trifosfato) para a fosforilação da proteinaquinase A que, secundariamente, fosforila outras proteínas que produzem os glicocorticóides (FELDMAN, 1997). Tensões físicas, emocionais e químicas, como a dor, traumatismo, cirurgia, infecção, hipóxia, hipoglicemia aguda, exposição ao frio, pirógenos (FELDMAN, 1997), restrição alimentar e hídrica, restrição espacial, isolamento social, exposição a um ambiente novo (MARINELLI et al., 1996), entre outros; estimulam a secreção do CRH, e subseqüente liberação de ACTH e corticóides (FELDMAN, 1997). Todo esse processo é regulado por um sistema de retroalimentação negativo, no qual os níveis circulantes de corticosterona atuam diretamente sobre o hipotálamo e a adeno-hipófise para a regulação dos níveis plasmáticos de corticosterona. A secreção de CRF e ACTH é estimulada por baixos níveis de corticosterona, sendo inibida por níveis elevados deste hormônio (FELDMAN, 1997). Por outro lado, estímulos recompensadores naturais como água, comida, companhia sexual receptiva (PIAZZA e LE MOAL, 1997) e farmacológicos, tais como, psicoestimulantes (FULLER e SNODY, 1981), nicotina (CAGGUILA et al., 1991) e etanol (TRUDEAU et al., 1990) aumentam a secreção adrenal de 14 corticosterona (PIAZZA e LE MOAL, 1997). A auto-administração de psicoestimulantes, por exemplo, eleva notavelmente a secreção de glicocorticóides (GOEDERS, 1997; GALICI et al., 2000). Entremente, o papel dos glicocorticóides na recompensa não estaria em contrapartida ao papel fisiológico clássico desses hormônios? Como explicar que os mesmos estímulos ditos estressores e, por vezes, aversivos, incitem não só a ativação de respostas contrárias a eles como também os substratos da recompensa, pelos glicocorticóides? Em primeiro lugar, do mesmo modo que, perifericamente, tais hormônios contraponham-se às ameaças externas pelo controle das respostas primárias do organismo, ao ativarem o sistema cerebral de recompensa, os glicocorticóides estariam contrapondo-se às respostas psicológicas e comportamentais às ameaças externas, diminuindo os efeitos aversivos desta condição. Em segundo lugar, praticamente, todos os modelos experimentais de estresse aumentam a liberação de dopamina, substrato neurobiológico da recompensa, em regiões mesolimbocorticais (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Em suma, os glicocorticóides responderiam às agressões externas não se contrapondo diretamente às mesmas, mas controlando as respostas primárias às ameaças externas. Por exemplo, os efeitos antiinflamatórios e imunossupressores desses hormônios controlam a ativação das respostas imune e inflamatória induzidas por uma ameaça (MUNCH et al., 1984). Por outro lado, os efeitos relacionados à recompensa dos glicocorticóides abrangem a regulação das respostas psicológicas e comportamentais frente às agressões externas. Entre essas respostas, incluem-se a aversão e a esquiva de situações ameaçadoras. No entanto, se, em resposta a estímulos aversivos e ameaçadores, a única reação exibida fosse a esquiva, o potencial adaptativo dos indivíduos seria extremamente pobre. Na verdade, indivíduos de diferentes espécies são capazes de desenvolver estratégias complexas de aprendizagem e adaptação diante de estímulos aversivos e que são consideradas modelos de estresse (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Portanto, as reações biológicas eliciadas por situações ameaçadoras têm a função de reduzir a aversão e a esquiva induzidas pela ameaça. Tem sido proposto que o mecanismo pelo qual a esquiva é controlada consiste na ativação paralela dos substratos biológicos da recompensa, ou seja, ativação dos sistemas biológicos que conduzem o comportamento em direção oposta. Esta observação indica que a ativação dos substratos biológicos da recompensa durante uma situação 15 ameaçadora reduziria os efeitos aversivos desta condição (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Em contraste, a supressão dos glicocorticóides aumenta o impacto de eventos aversivos, reduzindo a adaptação dos indivíduos aos mesmos. Tal asserção é corroborada por alguns testes experimentais baseados na exposição a estímulos aversivos. No teste de Porsolt, os ratos são colocados num cilindro com água onde seu comportamento é registrado. Os ratos-controle, após um período inicial de várias tentativas de escape, exibem um período de imobilidade que, progressivamente, aumenta após repetidos testes. Os ratos com supressão de glicocorticóides mostram, durante quase todo o teste, tentativas de escape e pouca imobilidade (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Nos teste de esquiva ativa (o animal aprende a evitar o choque, escapando de um compartimento) e passiva (o animal não entra no compartimento do choque), os ratos com supressão de corticosterona mostram aumento de suas respostas de esquiva em relação ao estímulo aversivo (PIAZZA e LE MOAL, 1997). No teste de Morris, no qual o animal deve aprender como usar dicas espaciais para encontrar uma plataforma escondida que o permite escapar da piscina, a adrenalectomia prejudica a aquisição da tarefa (OITZL e DE KLOET, 1992). Esses efeitos são consistentes com o papel dos glicocorticóides de se contraporem à aversão mediada por situações ameaçadoras, o que permite uma melhor adaptação dos indivíduos a agressões externas. 2.4.1- Receptores corticosteróides Os glicocorticóides circulantes atravessam prontamente a barreira hematoencefálica e adentram o cérebro onde se ligam a receptores intracelulares tipo I (mineralocorticóides – MRs) ou tipo II (glicocorticóides – GRs) (MC EWEN et al.,1986; LE DOUX, 1993). Ao penetrarem nas células, os esteróides glicocorticóides ligam-se ao complexo receptor-proteína de choque térmico (HSP 90) no citoplasma, induzindo uma mudança alostérica no receptor e dissociação da proteína HSP 90. Então, o dímero receptor-hormônio dirige-se ao núcleo no qual interage com seqüências específicas de DNA sobre vários genes, também denominadas elementos responsivos aos glicocorticóides (GREs), ponto no qual a transcrição gênica é ativada ou inibida (SCHIMMER e PARKER, 1996; GOLDFIEN, 1998). 16 Em consequência do tempo necessário para as alterações na expressão genética e na síntese protéica, a maior parte dos efeitos dos corticosteróides não é imediata, mas torna-se aparente depois de várias horas. Em contraste com as ações genômicas lentas dos glicocorticóides, constataram-se ações esteróides imediatas ocorrendo dentro de minutos após a exposição a estes hormônios (SCHIMMER e PARKER, 1996). Tem sido postulado que os corticosteróides modificariam a atividade neural rapidamente modulando canais iônicos e sistemas de segundos mensageiros por meio de interações com proteínas receptoras associadas à membrana (REICHARDT e SCHUTZ, 1998). Sze e Yu (1995) sustentam que os efeitos rápidos da corticosterona sobre a atividade neuronal são oriundos de sua ação estimulante sobre o influxo de cálcio através da membrana. Os receptores MRs e GRs diferem quanto à afinidade pela corticosterona. Os MRs possuem alta afinidade pela corticosterona e aldosterona, estando quase saturados em condições basais, enquanto os GRs têm afinidade dez vezes mais baixa que os MRs pela corticosterona, tornando-se ocupados no pico circadiano diário e após o estresse, quando os níveis de glicocorticóides são elevados (REUL e DE KLOET, 1985; BRADBURY et al., 1994; TSUTSUMI et al., 2002). Inquisitivo à distribuição neuroanatômica, pode-se dizer que os receptores MRs e GRs encontram-se co-localizados no hipocampo, septo e amígdala (VAN EKELEN, 1987; LE DOUX, 1993). Porém, os receptores glicocorticóides (GRs), mais heterogeneamente distribuídos, estão situados em maior densidade no núcleo paraventricular do hipotálamo, hipocampo e hipófise, cujas estruturas estão envolvidas na regulação por retroalimentação da resposta hormonal do estresse (REUL e DE KLOET,1985; RATKA et al., 1989). Já o sistema límbico, implicado nos processos de aprendizagem e memória, contém os dois receptores. Incluem-se no sistema límbico: hipocampo, giro parahipocampal, córtex entorrinal e insular, amígdala, núcleo septal, hipotálamo e tálamo, núcleo acumbens, córtex cingulado e bulbo olfatório (LUPIEN e MC EWEN, 1997). Aproximadamente, 90 % da população neuronal no núcleo acumbens contêm ambos os tipos de receptores MRs e GRs, sendo razoável afirmar que a maioria destes neurônios co-expressam receptores dopaminérgicos e corticosteróides (CZYRAK et al., 1996). Os receptores GRs estão envolvidos nos processos de aquisição e consolidação da memória. A administração de um antagonista dos receptores glicocorticóides (RU 38486) redunda no detrimento da performance do animal , 17 quando este ainda está adquirindo e consolidando uma tarefa. Uma vez consolidada a tarefa, a administração deste antagonista não exerce mais qualquer efeito sobre a performance do indivíduo. Já os receptores MRs estão implicados no processo de formação da memória por meio da integração sensorial. Nesta fase, o animal deve interpretar o ambiente e selecionar a informação relevante (SANDI e ROSE, 1994). O bloqueio ou deficiência de receptores tipo I (MRs) causaria déficit em funções básicas de atenção seletiva e integração sensorial, o que torna mais difícil para um indivíduo discriminar os estímulos relevantes daqueles irrelevantes. Isto afetaria o processo de aquisição da memória sem interferir em certos aspectos da mesma, como a consolidação e evocação. Nessas condições, um indivíduo manifestaria déficits globais na aprendizagem e memória (LUPIEN e MC EWEN, 1997). Em contraste, a deficiência ou bloqueio de receptores tipo II (GRs) afetaria os processos de consolidação e evocação da memória. Ou seja, tal distúrbio possibilitaria a um indivíduo aprender novas informações e reter experiências passadas por um tempo limitado, estando, todavia, bastante susceptível ao esquecimento, quando da interferência por outras informações ou fatores, tais como, tratamento cirúrgico ou farmacológico, estresse, evento concomitante ao tempo de aprendizagem, entre outros. Portanto, o esquecimento ocorre porque a memória estaria obliterada ou mascarada por tais eventos (LUPIEN e MC EWEN, 1997). 2.4.2- Metirapona A metirapona pertence a um grupo de agentes farmacológicos designados inibidores da biossíntese de esteróides adrenocorticais, entre os quais, incluem-se: mitotano, trilostano, cetoconazol e aminoglutetimida (SCHIMMER e PARKER, 1996). Cada uma dessas drogas atua sobre diferentes esteróide-hidroxilases, o que confere um certo grau de especificidade para suas ações. A metirapona reduz a síntese de corticóides, inibindo a enzima P-450-esteróide-hidroxilase, que converte a 11-desoxicorticosterona e o 11-desoxicortisol em corticosterona e cortisol, respectivamente (SCHIMMER e PARKER, 1996; GOLDFIEN, 1998). Esta droga é um inibidor da síntese estimulada de corticosterona sem afetar, entretanto, seus níveis basais. Por exemplo, a metirapona nas doses de 12,5 e 25 mg/kg obsta o aumento na concentração de corticosterona em resposta ao 18 estresse, mas não, os níveis basais de corticosterona de ratos não-estressados (LIU et al., 1999). Segundo Goeders e Guerin (1996), a metirapona atenua as propriedades estimulatórias locomotoras e recompensadoras dos psicoestimulantes. Estes pesquisadores observaram que o pré-tratamento com metirapona reduz o comportamento de auto-administração de cocaína sugerindo que a redução nos níveis circulantes de corticosterona diminui os efeitos reforçadores deste psicoestimulante (GOEDERS e GUERIN, 1996). O aumento nos efeitos psicomotores da cocaína produzido por um estresse crônico é revertido pela redução aguda da secreção de corticosterona (MARINELLI et al., 1996). A administração aguda de metirapona reduz a ativação psicomotora induzida pela cocaína em animais sujeitos à restrição alimentar (MARINELLI et al., 1996). Segundo Deroche e colaboradores (1992), o tratamento crônico com metirapona ou adrenalectomia bloqueia a capacidade de vários estressores em induzir altos níveis plasmáticos de corticosterona e subseqüente desenvolvimento da sensibilização aos efeitos estimulantes locomotores da anfetamina e cocaína. Por outro lado, o tratamento com metirapona parece potencializar a expressão da sensibilização motora induzida pelo estresse. Reid e colaboradores (1998) verificaram que o efeito da anfetamina sobre a liberação de dopamina aumentou em animais estressados tratados com metirapona (50 mg/kg). Curiosamente, estes pesquisadores também constataram tal efeito quando administraram a metirapona em animais controle. Sugeriram, então, que a metirapona portaria propriedades sensibilizadoras locomotoras intrínsecas, propriedade esta responsável por seu efeito potencializador sobre a ação psicomotora da anfetamina. Entretanto, Bratt e colaboradores (2001) observaram que, apesar da metirapona (25 mg/kg) elevar os efeitos comportamentais da anfetamina, este composto sozinho não produziu estimulação locomotora significativa. Este achado indica pelo menos dois fatos. Primeiro, a metirapona não possuiria uma ação sensibilizadora intrínseca. Segundo, essa ação seria dosedependente e, por isso, apenas a dose de 50 mg/kg produziu aumento da atividade locomotora nos animais que receberam metirapona mais anfetamina, do mesmo modo que naqueles que receberam somente administrações de metirapona. Um segundo mecanismo potencial proposto, na tentativa de explanar como a metirapona aumentaria os efeitos da anfetamina, seria uma interação farmacocinética entre 19 estas drogas, ao competirem pela enzima hepática citocromo P-450 2DI requerida ao metabolismo de ambas (SILL et al., 1999). Ou seja, a metirapona se ligaria à enzima citocromo P-450 2DI, inibindo o metabolismo da anfetamina, a qual teria sua ação sobre a neurotransmissão dopaminérgica prolongada. De acordo com Bratt e colaboradores (2001), o tratamento combinado conduziria a níveis mais altos de dopamina, produzindo estimulação locomotora similar àquela obtida com níveis mais altos de anfetamina. 2.5- Interação entre a corticosterona e o sistema dopaminérgico A corticosterona potencializa os efeitos psicomotores (DEROCHE et al., 1992; PATACHIOLI et al., 1998) e reforçadores (PIAZZA et al., 1994) das drogas de abuso. A administração de anfetamina (SWERDLON et al., 1993) e cocaína (PIAZZA et al., 1994) aumenta a secreção de corticosterona conforme a dose administrada, em paralelo com aumentos na locomoção induzidos por drogas. A supressão dos glicocorticóides pela adrenalectomia reduz os efeitos psicomotores da cocaína (MARINELLI et al., 1997) e anfetamina (CADOR et al., 1993). Conforme Piazza e Le Moal (1997), a corticosterona facilita a aquisição do comportamento de auto-administração de anfetamina. Igualmente exerce efeito sobre o processo de retomada do uso abusivo de drogas. Por exemplo, ratos treinados a auto-administrarem cocaína e, após, submetidos a um período de remoção da droga, ao receberem a administração de corticosterona, exibem um recaída ao uso da cocaína (DEROCHE et al., 1992). Além disso, o tratamento com a metirapona durante oito dias, após a extinção da auto-administração de cocaína, reduz o restabelecimento do consumo de cocaína quando os animais têm a oportunidade de voltar a consumi-la (PIAZZA et al., 1994). Desde que altos níveis de glicocorticóides aumentem a liberação de dopamina, preferencialmente em projeções estriatais ventrais de neurônios dopaminérgicos mesencefálicos (PIAZZA et al., 1994), justificam-se, portanto, seus efeitos sobre as atividades locomotora e de recompensa. Todavia, esse efeito sobre a liberação de dopamina é estado-dependente (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Doses de corticosterona equivalentes àquelas da faixa fisiológica alta geram um acréscimo de 20% na concentração basal de dopamina, se 20 administrada no período de atividade em roedores, sem qualquer efeito, quando administradas no período claro. Adicionalmente, a administração deste hormônio em associação com estímulos recompensadores promove um acréscimo de 80% na concentração basal de dopamina (PIAZZA et al., 1994). Em contrapartida, a adrenalectomia reduz em cerca de 50% a liberação basal de dopamina no núcleo acumbens, como também a resposta dopaminérgica a estímulos, como psicoestimulantes e opióides. A atividade locomotora induzida por uma injeção de morfina na área tegmentar ventral e/ou cocaína no núcleo acumbens, a qual depende da dopamina mesolímbica, sofre redução após adrenalectomia, que não modifica, porém, o aumento na liberação e resposta da dopamina induzidas por injeção de morfina no estriado dorsal (MARINELLI et al., 1994). De outro modo, o aumento na locomoção induzido pela corticosterona é bloqueado por 6-OH-DOPA, em terminais mesoacumbens (PIAZZA et al., 1994). Além da expressão de receptores para glicocorticóides em neurônios dopaminérgicos, conforme apontam Harfstrand e colaboradores (1986), outros mecanismos tentam deslindar os efeitos facilitatórios desses hormônios sobre a liberação de dopamina. Primeiro, a corticosterona atuaria sobre uma enzima-chave no processo de síntese de dopamina, a tirosina hidroxilase – TH (ORTIZ et al., 1995). Estes autores constataram os efeitos estimulatórios dos glicocorticóides sobre a tirosina hidroxilase na área tegmentar ventral. Segundo, a corticosterona modificaria o catabolismo da dopamina ao inibir a atividade da monoaminaoxidase – MAO (ROUGÉ-PONT et al., 1998). Fato consistente com as mudanças induzidas por este hormônio nos metabólitos da dopamina. A injeção de dexametasona (glicocorticóide sintético de ação longa), por exemplo, reduz a concentração de HVA, metabólito resultante da atividade da MAO (LERET et al., 1998). Terceiro, os glicocorticóides facilitariam a taxa de disparo de neurônios dopaminérgicos mesolímbicos (OVERTON et al., 1996). Quarto, os glicocorticóides modulam a atividade dopaminérgica, tendo em vista que a adrenalectomia diminui a densidade de receptores dopaminérgicos D1 e D2 (BIRON et al., 1992), enquanto a administração de corticosterona aumenta a atividade dopaminérgica, alterando a resposta dos receptores dopaminérgicos a agonistas da dopamina (FAUNT e CROCKER, 1988). Finalmente, Gilad e colaboradores (1987) assertam que a corticosterona decresceria a recaptação de dopamina. Os gicocorticóides são capazes de adentrar livremente o cérebro, no qual interagem com sistemas 21 neurotransmissores como a dopamina, serotonina e noradrenalina (MCEWEN et al., 1986). Ao interagir com sistemas de recaptação como o DAT (transportador de dopamina) – este, alvo primário de compostos dopaminérgicos indiretos tal como a anfetamina e cocaína – os glicocorticóides bloqueariam a remoção sináptica de dopamina, evento que geraria um aumento na concentração de dopamina na fenda sináptica. Portanto, o DAT poderia constituir um substrato potencial através do qual os esteróides agiriam sobre o sistema dopaminérgico (SARNYAI et al., 1998). 2.6- Relação entre a corticosterona e o processo de condicionamento Uma das características fundamentais dos indivíduos é sua capacidade de adquirir, reter e usar informações ou conhecimentos, ou seja, sua capacidade mnemônica. A memória está intimamente relacionada à aprendizagem. Enquanto a aprendizagem corresponde ao primeiro estágio da memória, a aquisição de novas informações, a memória refere-se ao processo de retenção, a curto ou longo prazo, de conhecimentos ou eventos, associado à capacidade de evocá-los, ou relembrálos (TOMAZ, 1993). Desse modo, a formação de memórias inicia-se com a aquisição da informação que chega aos sistemas neurais. Após a aquisição, a informação é armazenada no sistema de memória a curto prazo e, para que perdure, deve ser consolidada, isto é, transferida para o sistema de memória estável ou a longo prazo (TOMAZ, 1993). Finalmente, pela evocação ou lembrança tem-se acesso à informação armazenada para utilizá-la na cognição e emoção ou exteriorizá-la num determinado comportamento (LENT, 2002). Em outras palavras, a aprendizagem consiste num processo de aquisição de novas informações a serem retidas na memória. Já o processo mnemônico consiste num armazenamento seletivo de informações, enfim, uma série de processos neurobiológicos que permitem a aprendizagem. O condicionamento clássico e a sensibilização comportamental constituem formas de aprendizagem e, portanto, refletem operações de memória que o sistema nervoso deve executar (LENT, 2002). Neste trabalho, especula-se que a estreita relação entre os processos de aprendizagem e memória associada à alta densidade de receptores corticosteróides em sistemas neurais implicados em tais processos sugerem o possível envolvimento 22 da corticosterona no processo de condicionamento clássico. Por exemplo, a interação de constituintes do sistema límbico, os quais regulam o processo de memória e expressam alta densidade de ambos os tipos de receptores corticosteróides (LUPIEN e MC EWEN, 1997), pode ser de particular relevância na determinação dos efeitos da corticosterona sobre o processo de condicionamento clássico. Vale ressaltar, porém, que, até o momento, não foi proposto um papel consistente para os hormônios glicocorticóides no processo de condicionamento clássico. Outro fato a ser considerado é que os corticóides compartilham as principais ações neuroquímicas e comportamentais com os psicoestimulantes. Neuroquimicamente, ambos elevam as concentrações extracelulares de dopamina em projeções estriatais ventrais de neurônios dopaminérgicos mesencefálicos (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Comportamentalmente, assim como os psicoestimulantes, a corticosterona tem efeitos motores e facilita a aprendizagem do comportamento de auto-administração de drogas, ambas as respostas por meio da ativação da transmissão dopaminérgica mesencefálica (PIAZZA e LE MOAL, 1997). Finalmente, o tratamento repetido com glicocorticóides, similarmente ao observado com os psicoestimulantes, induz o processo de sensibilização comportamental (DEROCHE et al., 1992). Desde que a aquisição da resposta locomotora condicionada pelos psicoestimulantes dependa da ativação de sistemas dopaminérgicos, em particular, das vias mesolímbica e nigro-estriatal (SCHIFF, 1982), não seria possível, então, que a corticosterona, ao atuar basicamente no nível desses sistemas dopaminérgicos, participasse do desenvolvimento do condicionamento clássico? 2.7- Corticosterona e o processo de sensibilização A administração repetida de psicoestimulantes ou exposição repetida ao estresse resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização (REID et al., 1998). A sensibilização comportamental consiste na elevação progressiva dos efeitos motores das drogas psicoestimulantes. O tratamento repetido com estressores também redunda num processo de sensibilização. Aqui, os sujeitos sensibilizados pelo estresse exibem uma insigne resposta locomotora aos 23 psicoestimulantes, um fenômeno referido como sensibilização cruzada (PRASAD et al., 1998). Condições estressantes acrescem não só a resposta locomotora aos psicoestimulantes, como também a auto-administração destas drogas aumentando a vulnerabilidade dos indivíduos ao abuso de drogas (MARINELLI et al., 1996; PRASAD et al., 1998; MARINELLI e PIAZZA, 2002). Postula-se que o acréscimo nos efeitos dos psicoestimulantes produzido pelo estresse depende de um aumento nos níveis de corticosterona (MARINELLI et al., 1996). Ambos, estresse e psicoestimulantes promovem a ativação do eixo HHA que culmina na elevação dos níveis de corticosterona circulante (PRASAD et al., 1998). Basicamente, três linhas de evidência indicam que a corticosterona potencializa os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes. Primeiro, há uma correlação positiva entre a secreção de corticosterona e a sensibilidade aos efeitos reforçadores dos psicoestimulantes. Segundo, a administração de corticosterona, anteriormente à auto-administração de anfetamina, aumenta as propriedades reforçadores desta droga. Terceiro, a supressão crônica da secreção de corticosterona pela adrenalectomia ou pela administração de metirapona diminui os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes (DEROCHE et al., 1992; PIAZZA et al., 1994; MARINELLI et al., 1996). Embora esteja estabelecido o papel crítico da corticosterona para o desenvolvimento da sensibilização induzida pelo estresse, pouco se conhece acerca do papel dos glicocorticóides na manutenção dessa sensibilização (REID et al., 1998). Um estudo (PRASAD et al., 1998) investigatório sobre a sensibilização induzida pela cocaína indicou que a adrenalectomia bloqueou a resposta locomotora sensibilizada diante de uma subseqüente exposição à cocaína, mas apenas quando tal exposição era realizada logo após a retirada da droga (um dia). Em contraste, a adrenalectomia não afetou a sensibilização à cocaína quando a exposição foi feita após um período de retirada de doze dias. Em suma, a sensibilização a longo prazo à cocaína não seria afetada pela supressão da adrenal. Estes resultados entram em desacordo com prévios registros que sugerem que a sensibilização cruzada, induzida pelo estresse, aos efeitos da anfetamina, cocaína e morfina, depende dos hormônios adrenais (DEROCHE et al., 1992). Segundo Piazza e Le Moal (1997), a relevância psicopatológica da sensibilização induzida pelo estresse apóia-se justamente no fato de tratar-se de um fenômeno a longo prazo. Estes autores 24 explanam que as respostas dopaminérgica e comportamental às drogas podem ser visualizadas por bastante tempo após o término dos eventos estressantes. 25 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1- Sujeitos Foram utilizados 83 ratos machos, albinos, Wistar, pesando entre 250-300 g, provenientes do Biotério Central da UENF, Campos dos Goitacazes, RJ. Os animais foram mantidos em gaiolas individuais de plástico, tendo livre acesso à água e à ração padronizada de laboratório. As gaiolas ficavam em uma sala do setor de Farmacologia do Laboratório de Sanidade Animal (LSA), com temperatura controlada (22 ± 2.0 C) e com ciclo de luz claro e escuro de 12 em 12 horas (luz das 7 às 19 horas). O experimento foi conduzido na fase clara, no horário entre 13 e 19 horas, tendo em vista que o laboratório não se encontra adaptado para realização dos experimentos durante a fase escura, período de atividade dos roedores. Os animais foram manipulados individualmente por 5 minutos diários, durante 7 dias antes do início do procedimento experimental. 3.2- Ambiente experimental A sala experimental consistiu de iluminação vermelha, temperatura controlada e som de um ventilador como ruído de fundo. Os testes para atividade locomotora foram realizados em uma arena quadrada medindo 60x60x45 cm, com paredes pintadas na cor preta. Objetivando gravar cada sessão-teste para subseqüente análise da atividade horizontal, avaliada por meio do número de 26 cruzamentos, um sistema de filmagem, contendo uma câmera, foi montado a uma altura de 60 cm acima da arena, acoplado a uma televisão e um vídeo cassete, ambos localizados fora da sala. 3.3- Drogas A apomorfina-Hcl (Sigma, ST. Louis, Mo, USA), – nas doses de 0,5 mg/kg (volume de administração: 1 ml/kg) e 2 mg/kg (volume de administração: 1 ml/kg), dissolvida numa solução 0,1% m/v de ácido ascórbico – foi administrada por via subcutânea. A metirapona (2-Methyl-1,2-di-3-pyridyl-1-propanone) foi administrada igualmente, por via subcutânea, numa dose de 50 mg/kg (volume de administração: 2 ml/kg) dissolvida em solução salina 0,9% m/v. As soluções de ácido ascórbico 0,1% m/v e salina 0,9% m/v também foram utilizadas como veículo. 3.4- Procedimento experimental 3.4.1- Período de habituação (1º- 3º dia) Os ratos foram habituados à arena-teste por 30 minutos diários durante 3 dias consecutivos. O objetivo deste procedimento era eliminar quaisquer atitudes comportamentais resultantes de uma conduta exploratória normal por parte dos roedores, tendo em vista sua exposição a um ambiente inteiramente novo. Nesse período, os ratos ainda foram habituados ao procedimento de injeção, administração de veículo, antes e após a caixa experimental, com a finalidade de excluir qualquer influência sobre a expressão da resposta locomotora durante a fase de condicionamento. Nesse período, os animais foram randomicamente designados para seus respectivos grupos experimentais. 27 3.4.2- Fase de condicionamento (4º- 8º dia) Terminado o período de habituação, seguiu-se a fase de condicionamento na qual ao longo de consecutivos 5 dias os animais receberam tratamentos farmacológicos. Posteriormente, os ratos foram avaliados comportamentalmente durante 30 minutos na arena-teste. 3.4.3- Período de retirada da droga 1 (9º- 10º dia) Findada a fase de condicionamento, durante 2 dias, os ratos não sofreram manipulação farmacológica nem comportamental, o escopo era eliminar a influência dos tratamentos farmacológicos. 3.4.4- Teste de condicionamento (11° dia) Neste teste, todos os animais do experimento 1 receberam o veículo da apomorfina, ácido ascórbico; os do experimento 2, receberam o veículo da metirapona, solução salina; e aqueles do experimento 3, receberam o veículo da apomorfina, ácido ascórbico. E, posteriormente, foram colocados na arena-teste para registro de sua atividade locomotora durante 30 minutos. 3.4.5- Período de retirada da droga 2 (12º- 13° dia) Seguinte ao teste de condicionamento, os ratos foram novamente submetidos a um período de remoção da droga ao longo de 2 dias. 3.4.6- Teste de sensibilização comportamental (14º dia) Neste teste, os animais do experimento 1 receberam apomorfina, os do experimento 2 receberam metirapona e aqueles do experimento 3 receberam 28 apomorfina sendo, posteriormente, colocados na arena-teste para registro de sua atividade locomotora durante 30 minutos. 3.4.7- Quadro 1: Cronograma do procedimento experimental Habituação 1º - 3º Dia Fase de Condicionamento 4º - 8º Dia Período de Retirada da Droga 1 9º - 10º Dia Teste de Condicionamento 11º Dia Período de Retirada da Droga 2 12º - 13º Dia Teste de Sensibilização 14º Dia 3.5- Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental Este experimento teve como objetivo verificar se as administrações sistêmicas de diferentes doses de apomorfina (0,5 e 2,0 mg/Kg) produziriam aumento da atividade locomotora incondicionada e desenvolvimento dos processos de sensibilização comportamental e de condicionamento induzido por drogas. Para isso, utilizou-se o procedimento experimental descrito no item 3.4 com os seguintes grupos experimentais: Fase de condicionamento: • Grupo 1 (n=5): Apomorfina 0,5 mg/Kg-associada ao ambiente experimental (APO0,5-ASS) • Grupo 2 (n=6): Apomorfina 2,0 mg/Kg-associada ao ambiente experimental (APO2,0-ASS) Os animais receberam administração de apomorfina e, após 20 minutos, foram colocados na arena-teste para o registro da atividade locomotora durante 30 minutos. Após 30 minutos da retirada dos animais da arena-teste, já na caixa-viveiro, 29 os ratos receberam o veículo da apomorfina (solução de ácido ascórbico 0,1% m–v). Assim, os animais desses grupos experimentaram os efeitos da droga na caixaviveiro. APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg) • 20’ 30’ ARENA 30’ VEÍCULO Grupo 3 (n=6): Apomorfina 0,5 mg/Kg-não associada ao ambiente experimental (APO0,5-NASS) • Grupo 4 (n=6): Apomorfina 2,0 mg/Kg-não associada ao ambiente experimental (APO2,0-NASS) Os animais receberam administração de veículo e, após 20 minutos, foram colocados na arena-teste para registro de sua atividade locomotora por 30 minutos. Após 30 minutos da sua retirada do ambiente experimental, os animais receberam administração de apomorfina e foram colocados na caixa-viveiro. Os animais desses grupos receberam concentrações da droga equivalentes às recebidas pelos animais dos grupos associados, porém os efeitos da droga não foram associados ao ambiente experimental. VEÍCULO • 20’ ARENA 30’ 30’ APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg) Grupo 5 (n=6): Controle (APO-VEIC) Os ratos do grupo-controle receberam veículo (solução de ácido ascórbico 0,1%) tanto na arena-teste como na caixa-viveiro. VEÍCULO 20’ ARENA 30’ 30’ VEÍCULO 30 Teste de condicionamento: Todos os animais dos 5 grupos experimentais receberam administração do veículo da apomorfina, solução de ácido ascórbico 0,1% m-v e, após 20 minutos, foram colocados na arena-teste por 30 minutos. Teste de Sensibilização: Os animais dos grupos apomorfina-associada e apomorfina-não associada receberam administração de apomorfina e, 20 minutos após, foram colocados na arena-teste durante 30 minutos. Os animais do grupo controle receberam veículo, no ambiente experimental, 20 minutos antes do registro de sua atividade locomotora. 3.6- Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental Este experimento teve como objetivo verificar se as administrações sistêmicas de metirapona (50,0 mg/Kg) produziriam desenvolvimento do processo de sensibilização e condicionamento induzido por drogas. Para isso, utilizou-se o procedimento experimental, descrito no item 3.4, com os seguintes grupos experimentais: Fase de condicionamento: • Grupo 1 (n=8): Metirapona- associada ao ambiente experimental (MET-ASS) Os animais receberam metirapona (50 mg/kg) e, 3 horas depois, o veículo (solução salina 0,9 % m–v). Após 20 minutos, foram colocados na arena-teste por 30 minutos. Depois de 30 minutos de sua retirada da arena-teste, os ratos receberam veículo. METYRAPONE (50 mg/kg) 3h VEÍCULO 20’ ARENA 30’ 30’ VEÍCULO 31 • Grupo 2 (n=8): Metirapona-não-associada ao ambiente experimental (MET- NASS) Os ratos receberam veículo nas 2 administrações e, 20 minutos após a segunda administração, foram colocados na arena-teste por 30 minutos. Passados 30 minutos de sua retirada da arena, os animais receberam metirapona. VEÍCULO • 3h VEÍCULO 20’ ARENA 30’ 30’ METYRAPONE (50 mg/kg) Grupo 3 (n=9): Controle (MET-VEIC) Os ratos do grupo controle receberam veículo (solução salina 0,9% m/v) nas 3 administrações. VEÍCULO 3h VEÍCULO 20’ ARENA 30’ 30’ VEÍCULO Teste de condicionamento: Os animais dos 3 grupos experimentais receberam administração do veículo da metirapona, solução salina 0,9% m-v e, após 3 horas, receberam uma segunda administração de veículo e, 20 minutos após, foram colocados na arena-teste por 30 minutos. Teste de sensibilização: Os animais dos grupos metirapona-associada e metirapona não-associada receberam administração de metirapona, sendo, posteriormente, colocados na arena-teste durante 30 minutos. Os animais do grupo controle receberam veículo, na arena-teste, 20 minutos antes do registro de sua atividade locomotora. 32 3.7- Experimento 3: efeito da metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina Este experimento teve como objetivo verificar o efeito da metirapona (50,0 mg/Kg) sobre o desenvolvimento dos processos de condicionamento e sensibilização comportamental produzidos por apomorfina. Para isso, utilizou-se o procedimento experimental, descrito no item 3.4, com os seguintes grupos experimentais: Fase de condicionamento: • Grupo 1 (n=6): Metirapona + Apomorfina 0,5 mg/Kg-associada ao ambiente experimental (MET+APO0,5-ASS) • Grupo 2 (n=6): Metirapona + Apomorfina 2,0 mg/Kg-associada ao ambiente experimental (MET+APO2,0-ASS) Os animais receberam metirapona e, 3 horas depois apomorfina. Após 20 minutos, foram instalados na arena por um período de 30 minutos. Então, 30 minutos após sua retirada da arena, receberam o veículo da metirapona (solução salina) e, 3 horas depois, o veículo da apomorfina (solução de ácido ascórbico). METYRAPONE (50 mg/kg) • 3h APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg) 20’ ARENA 30’ 30’ VEÍCULO 3h VEÍCULO Grupo 3 (n=6): Metirapona + Apomorfina 0,5 mg/Kg-não associada ao ambiente experimental (MET+APO0,5-NASS) • Grupo 4 (n=6): Metirapona + Apomorfina 2,0 mg/Kg-não associada ao ambiente experimental (MET+APO2,0-NASS) Os ratos receberam o veículo da metirapona na primeira administração, veículo da apomorfina na segunda administração, metirapona na terceira administração e apomorfina na quarta administração. VEÍCULO 3h VEÍCULO 20’ ARENA 30’ 30’ METYRAPONE (50 mg/kg) 3h APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg) 33 • Grupo 5 (n=6): Controle (MET+APO-VEIC) Os ratos do grupo controle receberam, respectivamente, salina, ácido ascórbico, salina, ácido ascórbico nas 4 administrações. VEÍCULO 3h VEÍCULO 20’ ARENA 30’ 30’ VEÍCULO 3h VEÍCULO Teste de condicionamento: Os animais dos 5 grupos experimentais receberam administração do veículo da apomorfina e, após 20 minutos, foram colocados na arena-teste por 30 minutos. Teste de sensibilização: Os animais dos grupos metirapona + apomorfina-associada e metirapona + apomorfina-não-associada receberam apomorfina 20 minutos antes do registro de sua atividade locomotora no ambiente experimental. 3.8- Análise comportamental A avaliação comportamental foi realizada por meio da quantificação da atividade locomotora dos ratos na arena-teste. Esta arena-teste foi, para tal, dividida em 8 quadrados de mesma dimensão, sendo registrado, durante 30 minutos, o número de cruzamentos (número de quadrados percorridos pelo animal com as quatro patas) dos ratos. 3.9- Análise estatística O experimento foi instalado no delineamento inteiramente casualizado (DIC), em um esquema fatorial com 6 repetições para os experimentos 1 e 3 e 8 repetições para o experimento 2. Para o período de habituação, no experimento 2, teve-se um 34 fatorial 3x3, sendo 3 grupos experimentais e 3 dias de habituação, e nos experimentos 1 e 3, teve-se um fatorial 5x3, sendo 5 grupos experimentais e 3 dias de habituação. Para a fase de condicionamento, no experimento 2, teve-se um fatorial 3x5, sendo 3 grupos experimentais e 5 dias de tratamento farmacológico, e nos experimentos 1 e 3, teve-se um fatorial 5x5, sendo 5 grupos experimentais e 5 dias de tratamento farmacológico. Modelo estatístico: Yijk = M + Ai + Bj + ABij + eijk Yijk = observação referente ao animal k do grupo experimental i e dia de administração j; M = média de todos os animais para a variável em estudo (média geral); Ai = efeito do subgrupo experimental i, sendo i = 1,2 e 3; Bj = efeito do dia de administração j, sendo j = 1,2,e 3 no período de habituação e j = 1,2,3,4 e 5 na fase de condicionamento; ABij = efeito da interação entre o grupo experimental i e o dia de administração j; eijk = erro aleatório associado à observação yijk , supostamente independente e normalmente distribuído; Os dados concernentes à atividade locomotora foram interpretados pela Análise de Variância (ANOVA) de 2 fatores, adotando-se o nível de 5% de probabilidade para o teste F. As diferenças entre as médias dos níveis dos fatores foram analisadas, por meio do teste de comparações múltiplas de Duncan, adotando-se também o nível de 5% de probabilidade. Para os testes de condicionamento e sensibilização comportamental, realizou-se um experimento, com 6 repetições para os experimentos 1 e 3 e 8 repetições para o experimento 2, instalados no delineamento inteiramente casualizado (DIC) com 3 grupos experimentais no experimento 2 e 5 grupos experimentais nos experimentos 1 e 3. Modelo estatístico: Yij = M + Ti + eij Yij = observação referente ao animal j do grupo experimental i; M = média de todos os animais para a variável em estudo (média geral); 35 Ti = efeito do subgrupo experimental i, sendo i = 1, 2 e 3 no teste de condicionamento e i = 1,2 ,3 e 4 no teste de sensibilização comportamental; eij = erro aleatório associado à observação Yij , supostamente independente e normalmente distribuído; Os dados comportamentais foram interpretados pela Análise de Variância (ANOVA) de 1 fator, adotando-se o nível de 5% de probabilidade para o teste F. O teste de comparações múltiplas de Duncan foi efetuado para avaliar as diferenças entre as médias dos níveis dos fatores. 36 4. RESULTADOS 4.1- Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental 4.1.1- Período de habituação A figura 1 demonstra a atividade locomotora de todos os animais experimentais no período de habituação. A análise de variância (ANOVA) de 2 fatores indicou haver efeito principal do fator dia [F(2,72)=31,22; p=0,00], não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos [F(4,72)=0,75; p=0,56], assim como interação dia x grupo [F(8,72)=0,31; p=0,96]. O teste de comparações múltiplas de Duncan demonstrou que, no 3º dia os animais apresentaram atividade locomotora menor que no 1º e no 2º dia (p<0,05). A atividade locomotora no 2º dia também foi menor que no 1º dia (p<0,05). A redução do número de cruzamentos ao longo dos dias evidencia a habituação dos ratos à arena-teste. 37 PERÍODO DE HABITUAÇÃO-APOMORFINA 600 Número de Cruzamentos (Média + EPM) 500 400 300 200 # * 100 0 DIA 1 DIA 2 DIA 3 Figura 1: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no período de habituação. * Indica diferença significativa do 3º dia em relação aos 1º e 2º dias (Teste de Duncan; p<0,05). # Indica diferença significativa do 2º dia em relação ao 1º dia (Teste de Duncan; p<0,05). 4.1.2- Fase de condicionamento A figura 2 demonstra a atividade locomotora dos grupos apomorfina-veículo , apomorfina-0,5 mg/kg-associada, apomorfina-0,5 mg/kg-não-associada, apomorfina2,0 mg/kg-associada e apomorfina-2,0 mg/kg-não-associada na fase de condicionamento. A análise de variância (ANOVA) de 2 fatores indicou haver efeito principal do fator grupo [F(4,120)= 7,81; p= 0,00] e interação dia x grupo [F(16,120)= 2,23; p=0,03] não havendo diferença estatisticamente significativa entre os dias [F (4,120)= 2,06; p=0,07]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que no 3º dia da fase de condicionamento o grupo apomorfina-0,5 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora maior que a dos grupos apomorfina 0,5 e 2,0 mg/kg nãoassociada, apomorfina-2,0 mg/kg associada e grupo veículo. O teste de comparações múltiplas de Duncan também mostrou que a atividade locomotora do 38 grupo apomorfina-2,0 mg/kg-associada foi maior que a atividade locomotora dos grupos apomorfina 0,5 e 2,0 mg/kg não-associada, apomorfina-0,5 mg/kg associada e grupo veículo a partir do 4º dia da fase de condicionamento (p <0,05). Estes resultados indicam que a administração de apomorfina na dose de 2,0 mg/kg, associada ao ambiente experimental, produziu um aumento progressivo na atividade locomotora. FASE DE CONDICIONAMENTO - APOMORFINA APO-VEIC APO 0,5-ASS APO 0,5-NASS APO 2,0-ASS APO 2,0-NASS Número de Cruzamentos (Média + EPM) 600 500 * 400 * 300 # 200 100 0 4 5 6 7 8 Dias Figura 2: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais na fase de condicionamento. # Indica diferença significativa do grupo apomorfina 0,5 mg/kg em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). * Indica diferença significativa do grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 39 4.1.3- Teste de condicionamento A figura 3 demonstra a atividade locomotora de todos os grupos experimentais no teste de condicionamento. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(4,17)=6,92; p=0,00] seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, evidenciou maior atividade locomotora dos grupos apomorfina-0,5 mg/kg-associada e apomorfina-2,0 mg/kg- associada em relação a dos demais grupos (p<0,05), não havendo diferença estatisticamente significativa entre os demais grupos. Estes resultados indicam que a apomorfina nas doses de 0,5 e 2,0 mg/kg produz condicionamento. TESTE DE CONDICIONAMENTO- APOMORFINA 600 APO-VEIC APO 0,5-ASS APO 0,5-NASS APO 2,0-ASS APO 2,0-NASS Número de Cruzamentos (Média + EPM) 500 400 300 200 * * 100 0 Grupos Figura 3: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de condicionamento. * Indica diferença significativa dos grupos apomorfina 0,5 mg/kg-associada e apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 4.1.4- Teste de sensibilização 40 A figura 4 demonstra a atividade locomotora dos grupos apomorfina-veículo, apomorfina-0,5 mg/kg-associada, apomorfina-0,5 mg/kg-não-associada, apomorfina2,0 mg/kg-associada e apomorfina-2,0 mg/kg-não-associada no teste de sensibilização. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(4,24)=5,83; p=0,00] seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, mostrou que o grupo apomorfina-2,0 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora maior que a dos outros grupos (p<0,05), não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos apomorfina-veículo , apomorfina-0,5 mg/kg associada, apomorfina-0,5 mg/kgnão-associada e apomorfina-2,0 mg/kg-não-associada. Estes resultados indicam que a apomorfina na dose de 2,0 mg/kg produz sensibilização comportamental. TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO- APOMORFINA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 600 APO- VEIC APO 0,5- ASS APO 0,5- NASS APO 2,0- ASS APO 2,0- NASS * 500 400 300 200 100 0 0 1 2 3 4 5 6 Grupos Figura 4: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de sensibilização. * Indica diferença significativa do grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 41 4.2 - Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental 4.2.1- Período de habituação A figura 5 demonstra a atividade locomotora de todos os animais experimentais no período de habituação. A análise de variância (ANOVA) de 2 fatores mostrou haver diferença significativa entre os dias [F(2,66)=9,85; p=0,00], não havendo efeito dos grupos [F(2,66)=0,83; p=0,44] e nem interação dia x grupo [F (4,66)=0,20; p=0,94]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que, no 1º dia, os animais apresentaram atividade locomotora maior que no 2º e no 3º dia (p<0,05). A atividade locomotora no 2º dia também foi maior que no 3º dia (p<0,05). Estes resultados indicam habituação dos ratos à arena-teste. PERÍODO DE HABITUAÇÃO- METIRAPONA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 300 250 200 # * 150 100 50 0 DIA 1 DIA 2 DIA 3 Figura 5: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no período de habituação. * Indica diferença significativa do 3º dia em relação aos 1º e 2º dias (Teste de Duncan; p<0,05). # Indica diferença significativa do 2º dia em relação ao 1º dia (Teste de Duncan; p<0,05). 42 4.2.2- Fase de condicionamento A figura 6 demonstra a atividade locomotora dos grupos metirapona-veículo, metirapona-associada e metirapona-não-associada na fase de condicionamento. Segundo a análise de variância (ANOVA) de 2 fatores, houve efeito dos grupos [F(2,109)=11,77; p=0,00], entretanto, não houve efeito dos dias [F(4,109) = 0,06; p=0,99], assim como interação dia X grupo [F(8,109) = 1,33; p=0,24]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que o grupo metirapona-associada apresentou atividade locomotora maior que a dosdemais grupos (p<0,05). Estes resultados indicam que a administração de metirapona na dose de 50 mg/Kg produziu aumento da atividade locomotora. FASE DE CONDICIONAMENTO- METIRAPONA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 300 250 200 * 150 100 50 0 MET-VEIC MET-ASS MET-NASS Figura 6: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais na fase de condicionamento. * Indica diferença significativa do grupo metirapona-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 43 4.2.3 – Teste de condicionamento A figura 7 demonstra a atividade locomotora dos grupos metirapona-veículo, metirapona-associada e metirapona-não-associada no teste de condicionamento. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(2,22)=4,78; p=0,02], seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, mostrou que o grupo metirapona- associadoaapresentou atividade locomotora maior que a dos grupos metiraponaveículo e metirapona-não-associada (p<0,05), não havendo diferença estatisticamente significativa entre estes grupos. Tais resultados evidenciam que a metirapona na dose de 50 mg/Kg produz condicionamento. TESTE DE CONDICIONAMENTO- METIRAPONA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 300 MET- VEIC MET- ASS MET- NASS 250 * 200 150 100 50 0 0 1 2 3 4 Grupos Figura 7: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de condicionamento. * Indica diferença significativa do grupo metirapona-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 4.2.4 – Teste de sensibilização 44 A figura 8 demonstra a atividade locomotora dos grupos metirapona-veículo, metirapona-associada e metirapona-não-associada no teste de sensibilização. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(2,22)=2,25; p=0,13] mostrou que não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos metirapona-veículo, metirapona-associada e metirapona-não-associada. Estes resultados evidenciam que a metirapona na dose de 50 mg/Kg não produz sensibilização comportamental. TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO- METIRAPONA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 300 MET- VEIC MET- ASS MET- NASS 250 200 150 100 50 0 0 1 2 3 4 Grupos Figura 8: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de sensibilização. 45 4.3– Experimento 3: efeito da metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina 4.3.1 – Período de habituação A figura 9 demonstra a atividade locomotora de todos os animais experimentais no período de habituação. A análise de variância (ANOVA) de 2 fatores indicou haver efeito principal do fator dia [F(2,75)=21,45; p=0,00], não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos [F(4,75)=0,86; p=0,49] assim como interação dia x grupo [F(8,75)=0,76; p=0,64]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que no 3º dia os animais apresentaram atividade locomotora menor que no 1º e 2º dias (p<0,05). A redução do número de cruzamentos ao longo dos dias indica habituação dos animais à arena-teste. PERÍODO DE HABITUAÇÃO- METIRAPONA + APOMORFINA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 1000 800 600 400 * 200 0 DIA 1 DIA 2 DIA 3 Figura 9: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no período de habituação. * Indica diferença significativa do 3º dia em relação aos 1º e 2º dias (Teste de Duncan; p<0,05). 46 4.3.2 – Fase de condicionamento A figura 10 demonstra metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina-0,5 a atividade locomotora metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não-associada, dos grupos mg/Kg-associada, metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-associada e metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-não-associada na fase de condicionamento. Segundo a análise de variância (ANOVA) de 2 fatores houve efeito do fator principal grupo [F(4,125)=32,99; p=0,00], e interação dia X grupo [F(16,125)=3,15; p=0,00], sem efeito dos dias [F(4,125)=1,70; p=0,15]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que o grupo metirapona + apomorfina 2,0 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora maior que a dos outros grupos (p<0,05) a partir do 2º dia da fase de condicionamento. Estes resultados indicam que a administração de metirapona na dose de 50 mg/Kg, anterior à apomorfina, na dose de 2,0 mg/Kg, associada ao ambiente experimental, produziu um aumento progressivo na atividade locomotora. 47 FASE DE CONDICIONAMENTO-METIRAPONA + APOMORFINA MET+APO-VEIC MET+APO0,5-ASS MET+.APO0,5-NASS MET+APO2,0-ASS MET+APO2,0-NASS Número de Cruzamentos (Média + EPM) 1000 * * 800 * 600 * 400 200 0 4 5 6 7 8 Dias Figura 10: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais na fase de condicionamento. * Indica diferença significativa do grupo metirapona+apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos no mesmo dia (Teste de Duncan; p<0,05) 4.3.3 – Teste de condicionamento A figura 11 demonstra metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina-0,5 a atividade locomotora metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não-associada, dos grupos mg/Kg-associada, metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-associada e metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-não-associada no teste de condicionamento. A ANOVA de 1 fator [F(4,25)=6,07; p=0,01], seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, evidenciou maior atividade locomotora dos 48 grupos metirapona + apomorfina-0,5 mg/kg-associada, metirapona + apomorfina-0,5 mg/kg-não-associada e metirapona + apomorfina-2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (p<0,05), não havendo diferença estatisticamente significativa entre os demais grupos experimentais. Estes resultados indicam que a metirapona não bloqueou a aquisição do condicionamento à apomorfina. TESTE DE CONDICIONAMENTO - METIRAPONA + APOMORFINA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 1000 800 MET+APO- VEIC MET+APO 0,5- ASS MET+APO 0,5- NASS MET+APO 2,0- ASS MET+APO 2,0- NASS 600 400 * * 200 * * * 0 Grupos Figura 11: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de condicionamento. * Indica diferença significativa dos grupos metirapona + apomorfina 0,5 mg/Kg –associada, metirapona + apomorfina 0,5 mg/Kg -não-associada e metirapona + apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 4.3.4 – Teste de sensibilização A figura 12 demonstra metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina-0,5 a atividade locomotora metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não-associada, dos grupos mg/Kg-associada, metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-associada e metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-não-associada no teste de sensibilização. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(4,25)=6,89; p=0,01], 49 seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, mostrou que o grupo metirapona + apomorfina-2,0 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora maior que a dos demais grupos, não havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina 0,5 mg/Kgassociada, metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não–associada e metirapona+apomorfina 2,0 mg/Kg-não-associada . Estes resultados indicam que a metirapona não bloqueou a expressão da sensibilização comportamental induzida pela apomorfina. TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO- METIRAPONA + APOMORFINA Número de Cruzamentos (Média + EPM) 1000 * 800 MET+APO- VEIC MET+APO 0,5- ASS MET+APO 0,5- NASS MET+APO 2,0 - ASS MET+APO 2,0 - NASS 600 400 200 0 0 1 2 3 4 5 6 Grupos Figura 12: Média e Erro- Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de sensibilização. * Indica diferença significativa do grupo metirapona + apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). 50 5. DISCUSSÃO 5.1- Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental No presente trabalho, os resultados mostraram que a administração repetida de apomorfina nas doses de 0,5 e 2,0 mg/kg produziu condicionamento. Como índice de desenvolvimento do processo de condicionamento induzido por drogas, comparou-se o nível de atividade locomotora exibido pelos animais do grupo apomorfina-associada em relação aos outros grupos, particularmente ao grupo controle. Durante a fase de condicionamento, os animais receberam apomorfina 20 minutos antes de serem colocados na arena-teste para registro de sua atividade locomotora. A apomorfina atuou como um estímulo incondicionado que promoveu uma resposta comportamental também incondicionada – o aumento estatisticamente significativo da atividade locomotora no caso do grupo apomorfina-2,0 mg/kgassociada. No dia do teste de condicionamento, os animais de todos os grupos receberam salina. Os grupos que receberam apomorfina associada ao ambiente experimental apresentaram atividade locomotora maior que a dos demais grupos, particularmente em relação grupo controle. Ou seja, o ambiente experimental, através de sua história de associação com a exposição à droga atuou como um estímulo condicionado, promovendo aumento da locomoção, na ausência da apomorfina. 51 Estes resultados corroboram aqueles verificados por Schiff (1982), nos quais a administração de apomorfina e anfetamina associada a um estímulo ambiental produziu acréscimos nas atividades dopaminérgicas mesolímbica e nigroestriatal e desenvolvimento de uma resposta locomotora condicionada. Segundo Schiff (1982), os agonistas dopaminérgicos funcionam como um estímulo incondicionado para aquisição da resposta condicionada. Franklin e Druhan (2000) observaram que lesões dos terminais mesoacumbens com a neurotoxina, 6-hidroxidopamina, obstaram a hiperatividade condicionada induzida por administrações sistêmicas de anfetamina. Pert e colaboradores (1990) também verificaram que a locomoção condicionada induzida por cocaína foi bloqueada por lesões com 6-hidroxidopamina na amígdala e núcleo acumbens. Desse modo, os efeitos comportamentais oriundos do uso de agonistas dopaminérgicos diretos, como a apomorfina, e agonistas indiretos, como a anfetamina e cocaína, podem se tornar condicionados (GOLD et al., 1988; MATTINGLY e GOTSICK, 1989; DAMIANOPOULOS e CAREY, 1992). Por outro lado, tem sido sugerido que os efeitos condicionados das drogas, na verdade, representariam uma conduta exploratória normal por parte dos roedores. Em outras palavras, o tratamento com agonistas dopaminérgicos prejudicaria a capacidade dos ratos em se habituarem ao ambiente experimental. A resposta condicionada resultaria de uma atividade exploratória dos ratos, tendo em vista sua exposição a um ambiente inteiramente novo (FILE et al., 1977). Esta hipótese, denominada ausência de habituação, surgiu de observações nas quais a resposta locomotora condicionada exibida pelos ratos, que haviam recebido droga associada ao ambiente experimental, era similar àquela exibida pelos ratos-controle, em sua primeira exposição ao ambiente-teste (TIRELLI e HEIDBREDER, 1999). Entremente, os resultados deste trabalho demonstraram que os grupos que receberam apomorfina não associada ao ambiente experimental apresentaram atividade locomotora menor que os grupos-associados, ratificando a relevância do contexto ambiental na aquisição da resposta condicionada. Apesar da administração de apomorfina em ambas as doses ter produzido condicionamento, apenas o grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada apresentou um aumento estatisticamente significativo na atividade locomotora incondicionada. Este achado indica que existe uma dissociação entre as respostas condicionada e incondicionada. Ou seja, a aquisição da resposta locomotora condicionada independe do aumento na atividade locomotora incondicionada ao longo da fase de 52 condicionamento, sugerindo que, possivelmente, mecanismos diferentes medeiem essas respostas comportamentais. Consistentes com os prévios relatos (CASTRO et al., 1985; MATTINGLY et al., 1988), os presentes resultados também mostraram que administrações repetidas de apomorfina produziram sensibilização. O aumento progressivo da resposta locomotora, durante a fase de condicionamento, e sua exacerbação, no dia do teste de sensibilização, foram utilizados como índices de desenvolvimento do processo de sensibilização comportamental. Contudo, os resultados mostraram que o efeito do tratamento repetido com apomorfina sobre a locomoção é dose-dependente. Neste trabalho, verificou-se que apenas a dose de 2,0 mg/kg de apomorfina resultou em sensibilização. Sabe-se que a administração repetida de agonistas dopaminérgicos resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização comportamental (MATTINGLY et al., 1991). A literatura científica estabelece que uma atividade dopaminérgica elevada, advinda do emprego de agonistas dopaminérgicos, de modo geral, implica uma hiperatividade locomotora, do mesmo modo que um decréscimo na neurotransmissão dopaminérgica redunda em hipomotilidade (BENINGER et al., 1989). Segundo Mattingly e colaboradores (1989), altas doses de apomorfina (> 1,0 mg/kg) produzem aumento progressivo da locomoção, enquanto baixas doses (< 1,0 mg/kg) geram redução desta atividade. Kinion e colaboradores (1984) apontam que baixas doses de apomorfina (< 0,1 mg/kg) redundam na sensibilização do comportamento estereotipado. Acredita-se que as atividades locomotora e estereotipada induzidas pela apomorfina constituam comportamentos mediados por distintas vias dopaminérgicas. Especificamente, a estereotipia resultaria da estimulação de receptores estriatais, ao passo que a locomoção seria mediada pelo sistema dopaminérgico mesolímbico (MATTINGLY et al., 1988). Baixas doses de apomorfina atuam preferencialmente sobre auto-receptores dopaminérgicos D2. Apesar dos receptores D2 serem encontrados pré e póssinapticamente, os sítios pré-sinápticos são 6 a 10 vezes mais sensíveis à apomorfina. Por outro lado, altas doses estimulam tanto os auto-receptores quanto os receptores pós-sinápticos (CREESE et al., 1983). A literatura tem sugerido que a sensibilização motora induzida por agonistas dopaminérgicos, como apomorfina, estaria relacionada à tolerância dos autoreceptores (ROBINSON e BECKER, 1986). Nesta hipótese, os auto-receptores D2 53 tornar-se-iam menos sensíveis ou sofreriam regulação decrescente (“downregulation”) diante de repetidas exposições a agonistas dopaminérgicos (ROBINSON e BECKER, 1986). Esta hipótese, porém, não explica a sensibilização motora com a dose de 2,0 mg/kg, e não com 0,5 mg/kg, observada no presente trabalho. Desde que 0,5 mg/kg de apomorfina represente uma baixa dose (MATTINGLY et al., 1989), haveria uma estimulação preferencial dos autoreceptores D2 que, ao se tornarem subsensitivos, apresentariam um decréscimo em seu efeito inibitório sobre a síntese e liberação de dopamina promovendo uma hipersensibilidade dos receptores dopaminérgicos pós-sinápticos e, conseqüente, aumento da atividade locomotora o que, neste caso, não ocorreu. Creese e colaboradores (1993) mencionam que o efeito de baixas doses equivale ao tratamento repetido com antagonistas. O tratamento com antagonistas dopaminérgicos promoveria uma hipersensibilidade comportamental a agonistas que seria mediada por um acréscimo no número de receptores dopaminérgicos (CREESE et al, 1983). Além disso, a dose de 2,0 mg/kg produziu sensibilização comportamental. Nesta dose, a apomorfina estaria atuando nos auto-receptores e nos receptores pós-sinápticos. Portanto, seria razoável afirmar que a sensibilização a esta dose alta de apomorfina resultou de seus efeitos pós-sinápticos, ou seja, a estimulação dos receptores pós-sinápticos gerou aumento na atividade locomotora (MATTINGLY et al., 1988). Esta hipersensibilidade comportamental não está relacionada a um aumento na densidade de receptores, visto que o número de receptores encontra-se reduzido ou inalterado após o tratamento repetido com agonistas dopaminérgicos (RIFFEE et al., 1982). Não obstante, existem evidências que propõem o envolvimento de alterações pós-sinápticas duradouras na expressão do processo de sensibilização a psicoestimulantes. Dentre essas alterações, incluem-se ,respectivamente: aumento da atividade da proteína G, ativação da adenilato ciclase com subseqüente aumento na produção de AMP cíclico e estimulação da proteínaquinase A (PIERCE e KALIVAS, 1995). Por outro lado, Kinion e colaboradores (1984) aventam que somente doses inferiores a 0,1 mg/kg seriam consideradas baixas, logo, a dose de 0,5 mg/kg consistiria numa alta dose. Mas, como explicar que a dose de 2,0 mg/kg, e não de 0,5 mg/kg, produziu sensibilização? Provavelmente, a dose de 0,5 mg/kg seja uma dose intermediária, não suficientemente alta a ponto de promover as alterações pós- 54 sinápticas necessárias para o desenvolvimento do processo de sensibilização motora à apomorfina. A estimulação dopaminérgica também encontra-se envolvida na mediação de outros comportamentos como autolimpeza (“grooming”) e movimentos orais estereotipados – roer, lamber e cheirar repetidamente (BENINGER et al., 1989). É possível, portanto, que nesta dose (0,5 mg/kg) predomine qualquer um desses comportamentos em detrimento da atividade locomotora. Afinal, ratos mais estereotipados, em geral, locomovem-se menos. Uma outra hipótese que tenta explicar a sensibilização a agonistas dopaminérgicos é a hipótese do condicionamento. De acordo com esta hipótese, o aumento progressivo na atividade locomotora induzido por psicoestimulantes estaria subordinado ao desenvolvimento de uma resposta locomotora condicionada a um estímulo ambiental associado com a exposição à droga (ROBINSON e BECKER, 1986). No presente trabalho, constatou-se que, apesar de ambas as doses de apomorfina produzirem condicionamento, somente a dose de 2,0 mg/kg resultou em sensibilização comportamental. Além disso, os animais do grupo apomorfina 0,5 mg/kg-associada exibiram uma atividade locomotora similar a dos animais do grupo apomorfina 0,5 mg/kg-não-associada. Estes resultados são inconsistentes com a hipótese do condicionamento. Entretanto, a sensibilização motora à apomorfina só ocorreu no grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada ao ambiente experimental, o qualapresentou aumento progressivo da atividade locomotora ao longo da fase de condicionamento, assim como uma atividade locomotora maior que os demais grupos no teste de sensibilização. De onde se infere que o condicionamento, embora não seja um fator determinante na indução do fenômeno de sensibilização, tem participação relevante no desenvolvimento desse processo. 5.2- Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental Os resultados demonstraram que a administração de metirapona na dose de 50 mg/kg produziu aumento da atividade locomotora e condicionamento. Os animais do grupo metirapona-associada exibiram maior locomoção que a dos animais dos grupos metirapona-não-associada e controle durante a fase de condicionamento e no teste de condicionamento. 55 Segundo Conte-Devolx e colaboradores (1992), a administração de metirapona inibe a síntese de corticosterona promovendo aumento compensatório na síntese e secreção do fator de liberação de corticotropina (CRF), do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e outros neuropeptídeos hipotalâmicos e hipofisários. A secreção de corticosterona é controlada por uma alça de retroalimentação (“feedback”) negativa, ativada por atuação da corticosterona circulante. Esta corticosterona, por sua vez, atua sobre receptores corticosteróides hipocampais, hipotalâmicos e hipofisários inibindo a secreção de CRF, ACTH e de outros neuropeptídeos (KELLER-WOOD e DALLMAN, 1984). A ausência de corticosterona impede a ativação da alça de “feedback” inibitório sobre os neurônios parvocelulares dos núcleos paraventriculares do hipotálamo que, então, liberam secretagogos do hormônio adrenocorticotrópico, dentre os quais, os mais importantes são o CRF e a arginina-vasopressina – AVP (HERMAN e CULLINAN, 1997). A arginina-vasopressina atua como um secretagogo para corticotropina potencializando significativamente os efeitos do CRF sobre a liberação de ACTH (SCHIMMER e PARKER, 1996). De acordo com Shaham e colaboradores (1997), a metirapona atua como um estressor farmacológico inespecífico que além de promover um aumento compensatório na secreção de CRF e ACTH, ativa sistemas neurotransmissores, como noradrenalina e glutamato, mobilizados em resposta ao estresse. A exposição a eventos estressantes facilita a aquisição do processo de condicionamento pavloviano. Vale ressaltar que o efeito do estresse sobre o condicionamento é específico para a aquisição, não afetando a retenção ou a performance de uma resposta após ter sido adquirida. Estes resultados mostram que o estresse facilita a aprendizagem (SHORS et al., 2000). Tais autores propuseram que esta facilitação da aprendizagem promovida pelo estresse envolveria a participação da amígdala e a ativação de receptores glutamatérgicos do tipo NMDA (N-Metil-D-Aspartato). Os resultados do presente trabalho entram em desacordo com aqueles obtidos por Liu e colaboradores (1999), nos quais a administração de metirapona nas doses de 12,5 e 25 mg/kg obstou o aumento na concentração de corticosterona em resposta ao estresse, mas não o aumento na concentração basal de corticosterona de ratos-controle não-estressados. Estes autores assertam que a metirapona inibe apenas a síntese estimulada de corticosterona sem afetar seus níveis basais. Estes resultados sugerem que a metirapona reduz a ligação da 56 corticosterona aos receptores tipo II (GRs) enquanto a ligação deste hormônio aos receptores tipo I (MRs) permance pelo menos parcialmente inalterada. Os receptores MRs possuem alta afinidade pela corticosterona e aldosterona, estando quase saturados em condições basais, enquanto os receptores GRs têm afinidade 10 vezes mais baixa que os MRs pela corticosterona, tornando-se ocupados no pico circadiano diário e após o estresse, quando os níveis de glicocorticóides são elevados (REUL e DE KLOET, 1985; BRADBURY et al., 1994; TSUTSUMI et al., 2002). No presente trabalho, constatou-se que a administração de metirapona, apesar de ter suprimido a concentração basal de corticosterona, produziu condicionamento em inespecífico. obstaculização A virtude de seu dos efeito como estressor farmacológico níveis basais de corticosterona e, conseqüentemente, de sua atuação basicamente nos receptores MRs foi assegurada pela dose de metirapona – 50 mg/kg – utilizada neste trabalho. Segundo Roozendaal e colaboradores (1996), a metirapona gera uma inibição temporária dose-dependente da síntese de glicocorticóides. Estes pesquisadores também sustentam que a metirapona na dose de 50 mg/kg bloqueia os processos mediados por ambos os receptores, tipo I e tipo II. Desse modo, a dose de metirapona de 50 mg/kg utilizada neste trabalho inibiu a síntese basal de corticosterona. Assim, a metirapona, apesar de ter inibido a síntese desse hormônio, atuou como um estressor farmacológico que ao promover aumento compensatório de CRF, ACTH e outros neuropeptídeos, facilitou o processo de aprendizagem. Isso mostra que o papel facilitatório do estresse sobre a aprendizagem não é dependente da ação da corticosterona e também mostra que substâncias como CRF, ACTH, glutamato e noradrenalina, provavelmente, estariam envolvidas na aquisição do processo de condicionamento pavloviano induzido por psicoestimulantes. 5.3- Experimento 3 (Metirapona + Apomorfina): efeito da metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina Neste trabalho, os resultados apontaram que o pré-tratamento com metirapona gerou uma elevação diminuta nos efeitos condicionados da apomorfina nas doses de 0,5 e 2,0 mg/kg. Em outras palavras, a metirapona, apesar de ter 57 inibido a síntese de corticosterona, não bloqueou o desenvolvimento da resposta locomotora condicionada à apomorfina. De tal modo que, os grupos metirapona+ apomorfina-associada 0,5 mg/kg e metirapona+apomorfina-associada 2,0 mg/kg apresentaram uma atividade locomotora maior que a dos grupos metirapona+ apomorfina-não-associadas e o grupo controle no teste de condicionamento. Faz-se mister ressaltar que, neste experimento, a administração de metirapona seguida de apomorfina na dose de 0,5 mg/kg produziu condicionamento, mas não promoveu aumento significativo na atividade locomotora incondicionada ratificando os resultados do experimento 1 para a administração exclusivamente de apomorfina. Pôde-se observar também que a metirapona exacerbou o efeito da apomorfina na dose de 2,0 mg/kg sobre a atividade locomotora incondicionada, igualmente, corroborando os resultados do experimento 1. Sustenta-se, portanto, a dissociação entre as respostas condicionada e incondicionada. Ademais, esses achados indicam que o efeito da metirapona como estressor farmacológico inespecífico, provavelmente, somou-se ao efeito agonista direto da apomorfina. A metirapona, freqüentemente, é usada como uma alternativa para adrenalectomia, por ser um potente e seletivo bloqueador da síntese de corticosterona, atuando como uma adrenalectomia química parcial, cujos efeitos comportamentais são dose-dependentes (KORTE, 2001). Doses baixas de metirapona como 25 mg/kg obstam predominantemente as respostas mediadas por receptores GRs, ao passo que uma alta dose (50 mg/kg) bloqueia as respostas mediadas por GRs e MRs (ROOZENDAAL et al., 1996). Assim pode-se inferir que a dose de 50 mg/kg empregada neste trabalho foi capaz não só de inibir a síntese de corticosterona estimulada pela apomorfina, mas também os níveis basais de corticosterona. Este fato sustenta a hipótese do aumento compensatório de CRF, ACTH e outros neuropeptídeos, devido à não-ativação da alça de “feedback” inibitório, controlada pelos níveis circulantes de corticosterona que, neste caso, estariam diminuídos por efeito da metirapona. Conforme explanado anteriormente, o CRF, ACTH e outros peptídeos, mobilizados em resposta ao estresse facilitam a aprendizagem pavloviana (SHORS et al., 2000). O CRF, por exemplo, atua em diversas áreas cerebrais, tais como, amígdala e locus coerulus, implicadas nos processos de memória e aprendizagem (SHAHAM et al., 1997). Interessantemente, os resultados deste trabalho também evidenciaram a potencialização dos efeitos psicomotores incondicionados da apomorfina pela 58 metirapona. Assim sendo, houve aumento progressivo da atividade locomotora do grupo metirapona+apomorfina-2,0 mg/kg-associada, ao longo da fase de condicionamento, e da hiperatividade motora exibida por este grupo em relação aos demais, no teste de sensibilização. Diante do exposto, pode-se dizer que o efeito da apomorfina sobre o processo de sensibilização é dependente de sua ação direta sobre a atividade dopaminérgica, mas não de seu efeito indireto proveniente de sua ação estimuladora sobre a secreção adrenal de corticosterona. Contrariamente, vários trabalhos relatam que a supressão de corticosterona pela adrenalectomia ou pelo tratamento crônico com metirapona (mínimo de 7 dias) reduz os efeitos psicomotores e reforçadores de psicoestimulantes, como anfetamina e cocaína (DEROCHE et al., 1992; CADOR et al., 1993; PIAZZA et al., 1994; MARINELLI et al., 1996; MARINELLI et al., 1997). Postula-se que a potencialização dos efeitos dos psicoestimulantes produzida pelo estresse dependa de um aumento nos níveis de corticosterona (MARINELLI et al., 1996; PRASAD et al., 1998; PATACHIOLI et al., 1998). Afinal, ambos estresse e psicoestimulantes ,elevam a secreção adrenal de corticosterona (PRASAD et al., 1998). Contudo, Badiani e colaboradores (1995) constataram que a sensibilização motora à anfetamina manteve-se inalterada após a adrenalectomia. Este achado é consistente com a observação de Schmidt e colaboradores (1999) de que, embora os psicoestimulantes elevem a secreção de corticosterona, este aumento não tem relação com a locomoção induzida por estas drogas. Reid e colaboradores (1998) observaram que a administração de metirapona na dose de 50 mg/kg aumentou os efeitos estimulantes locomotores da anfetamina tanto em animais estressados quanto em animais-controle não-estressados, sugerindo que este fármaco portaria propriedades sensibilizantes locomotoras intrínsecas. Ou seja, a administração repetida da metirapona sozinha pode produzir sensibilização comportamental. Tal propriedade, entretanto, entraria em desacordo com os resultados deste trabalho, no qual a administração de metirapona (50 mg/kg) sozinha não produziu sensibilização comportamental. Bratt e colaboradores (2001) também verificaram que, apesar da metirapona na dose de 25 mg/kg elevar os efeitos comportamentais da anfetamina, este composto sozinho não produziu estimulação locomotora significativa. Portanto, o efeito potencializador da metirapona sobre a ação motora dos psicoestimulantes não pode ser explicado por uma ação sensibilizadora intrínseca à metirapona. 59 Apesar da necessidade imperiosa de mais estudos acerca dos efeitos da metirapona sobre a atividade locomotora induzida por psicoesatimulantes, alguns mecanismos tentam deslindar a natureza precisa desses efeitos. A metirapona atuaria como um estímulo estressor agudo que ativa o eixo neuroendócrino (CONTE-DEVOLX et al., 1992; SHAHAM et al., 1997; BRATT et al., 2001). Evidências neuroquímicas sustentam que a metirapona na dose de 40 mg/kg estimula a síntese de secretagogos do hormônio adrenocorticotrópico pelos neurônios parvocelulares dos núcleos paraventriculares hipotalâmicos (HERMAN et al., 1992). Cador e colaboradores (1993) verificaram que o CRF produziu sensibilização aos efeitos psicomotores da anfetamina e aumentou a utilização de dopamina no córtex pré-frontal e núcleo acumbens. A literatura também tem postulado o envolvimento do CRF na sensibilização cruzada entre estresse e drogas de abuso (STOHR et al., 1999). Esta sugestão é sustentada por achados, como o de Shaham e colaboradores (1997), segundo os quais, o CRF, mas não a corticosterona, responde pela recaída induzida pelo estresse à auto-administração intravenosa de heroína em ratos. Estes autores afirmam que estes efeitos seriam atribuídos, em parte, ao aumento na síntese e liberação de ACTH induzido pelo CRF. Um segundo mecanismo potencial que poderia explicar a potencialização dos efeitos da apomorfina pela metirapona seria a interação farmacocinética entre estas drogas durante seu processo de biotransformação hepática. Estudos farmacológicos têm mostrado a potencialização dos efeitos comportamentais da anfetamina seguinte ao tratamento com inibidores específicos da isoenzima citocromo (CYP) P-450 2D1 (TOMKINS et al., 1997) como a quinina e budipina (DANIEL et al., 1999; DANIEL et al., 2002; BISTOLAS et al., 2004). Tomkins e seus colaboradores (1997) observaram que as administrações de quinina produziram uma elevação nos níveis séricos de anfetamina, assim como, um decréscimo nos níveis plasmáticos de seu metabólito, 4-hidroxi-anfetamina. Sills e colaboradores (1999) propuseram que a potencialização dos efeitos motores da anfetamina pela fluoxetina resultaria de um efeito inibitório desta sobre o metabolismo da anfetamina pela isoenzima CYP-450 2D1. Bratt e colaboradores (2001) também adotaram este mecanismo como uma das possíveis explicações para o efeito potencializador da metirapona sobre a hiperatividade locomotora induzida pela anfetamina. 60 A metirapona é um inibidor seletivo das isoenzimas CYP-450 2B1 e CYP450 2B2 (DANIEL et al., 1999; DANIEL et al., 2002; BISTOLAS et al., 2004). Estas enzimas participam de processos como a N-desmetilação e sulfoxidação (DANIEL et al., 2002) que ocorrem no metabolismo da apomorfina (LEWITT, 2004). Dado o exposto, seria possível propor que a potencialização do efeito locomotor da apomorfina pela metirapona, observada neste trabalho, resultaria do prolongamento da ação da apomorfina. Com o intuito de explicar a exacerbação dos efeitos da apomorfina produzida pela metirapona, discutem-se os dois mecanismos anteriormente citados. De acordo com o primeiro mecanismo, a potencialização dos efeitos da apomorfina pela metirapona seria oriunda da ação do CRF e ACTH. Porém, a estimulação da neurotransmissão dopaminérgica pela apomorfina ativa a alça de retroalimentação negativa, controladora da liberação de ACTH. Sabe-se que a secreção de ACTH é controlada por uma alça de “feedback” positiva, ativada pelo CRF e por uma alça de retroalimentação negativa, ativada pela dopamina. Logo, a estimulação dopaminérgica ativaria esta última, promovendo diminuição na liberação do ACTH, e conseqüentemente, acréscimos na secreção de CRF. Dado o exposto, propõe-se que o CRF responderia pelos efeitos potencializadores da metirapona sobre a sensibilização induzida pela apomorfina. O segundo mecanismo sugere que essa potencialização resultaria do efeito inibitório da metirapona sobre as enzimas microssomais hepáticas CYP-450. Em outras palavras, a metirapona inibiria o metabolismo da apomorfina, prolongando a duração de seus efeitos. Em contrapartida, é imperativo que se considere que, mesmo havendo um efeito cumulativo da apomorfina durante a fase de condicionamento, seria improvável que esta droga se acumulasse por até 5 dias após o término dessa fase. Ou seja, como atribuir a sensibilização observada no dia do teste (5 dias após a última administração de apomorfina), à interação farmacocinética entre a metirapona e a apomorfina? O fato é que os efeitos sensibilizadores da apomorfina potencializados pela metirapona na fase de condicionamento seriam responsáveis por alterações neuroquímicas e comportamentais duradouras. Segundo Mattingly e colaboradores (1989), a sensibilização à apomorfina é mantida por pelo menos 18 dias após a última administração deste fármaco, podendo também desenvolver-se em intervalos tão longos quanto 7 dias entre as administrações. Dessa forma, os efeitos 61 neurobiológicos de uma única dose de apomorfina são mantidos por pelo menos uma semana. Do mesmo modo, o efeito de administrações intermitentes repetidas desta droga permanece durante um período bastante prolongado. Em suma, acredita-se que ambos os mecanismos combinados determinem o papel da metirapona na sensibilização induzida por altas doses de apomorfina. 62 6. CONCLUSÕES • O efeito da apomorfina sobre a sensibilização comportamental é dose- dependente. • A apomorfina em baixas doses produz condicionamento, mas não, sensibilização comportamental. • Altas doses de apomorfina estão relacionadas ao desenvolvimento de uma atividade locomotora condicionada e do processo de sensibilização comportamental. • A metirapona facilita a aprendizagem pavloviana. • A corticosterona não tem participação direta na aquisição dos processos de condicionamento e sensibilização induzidos por apomorfina. 63 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTELMAN, S. M. (1988) Time-dependent sensitization as the corner stone for a new approach to pharmacotherapy; drugs as foreign stressful stimuli. Drug Development Research, 14:1-30. ATKINSON, L. R.; ATKINSON, C. R.; SMITHE, E.; BEWN, J. D. (1995) Memória e Aprendizagem. In: ATKINSON, L. R.; ATKINSON, C. R.; SMITHE, E.; BEWN, J. D. (eds.) Introdução à psicologia. 11 ed. Porto Alegre. Editora Artes Médicas, p. 206-232. 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