FISIOTERAPIA EM QUEIMADOS: UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

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Assistência fisioterapêutica em queimados: uma revisão de literatura
Dayane ferreira de Aguiar ¹
[email protected]
Dayana priscila maia mejia ²
Pós-graduação em Fisioterapia Dermatofuncional – Faculdade Cambury
Resumo
As queimaduras podem ocorrer por agentes químicos, térmicos, elétricos ou radioativos,
causando lesão, parcial ou total da pele, com comprometimento local ou mesmo sistêmico do
organismo. Este trabalho tem como objetivo descrever a assistência fisioterapeutica com
pacientes queimados, através de uma revisão de literatura, possibilitando, assim, oferecer
subsídios científicos, na perspectiva de contribuir para assistência e ações adequadas,
partindo da necessidade de enfatizar o papel do fisioterapeuta em vitimas de queimaduras
destacando os principais recursos utilizados e suas particularidades no tratamento das lesões
acometidas por exposição a agentes térmicos. O referente trabalho consiste em uma revisão
de literatura descritiva, sobre a assistência fisioterapêutica em queimados. Assim, buscou-se
investigar pelos livros, base de dados científicos e revistas especializadas informações
publicadas sobre o assunto. Este estudo relata a incidência de queimaduras no Brasil,
abordando a anatomia, histologia e fisiologia da pele, conceituando queimaduras e os vários
critérios de classificação das lesões, a fisiopatologia das queimaduras, tratamento medico e
fisioterapêutico e os recursos fisioterapêuticos específicos para reabilitação de uma
queimadura. A partir dos resultados obtidos, conclui-se que o fisioterapeuta age com eficácia
no tratamento de pacientes queimados, evitando complicações e diminuindo as seqüelas
funcionais e estéticas.
Palavras-chave: Queimaduras; Fisioterapia em queimados; Recursos fisioterapeuticos;
1. Introdução
Segundo Cakir & Yegen, (2004); Silva et al, (2010), a incidência mundial de indivíduos que
sofrem queimaduras está em torno de 2 milhões de casos, com taxa de mortalidade de
300.000. No Brasil, ocorrem cerca de 1000.000 casos de queimaduras por ano, sendo que
100.000 necessitam de atendimento hospitalar e 2.500 vão a óbito devido às causas diretas ou
indiretas da própria queimadura (OLIVEIRA et al, 2007; RABELLO et al, 2009; SOUZA et
al, 2009; SILVA et al, 2010).
As crianças são as principais vítimas desse tipo de trauma, que ocorre principalmente em
ambiente doméstico (acidente ou violência) (Barbosa et al, 2007; Oliveira et al, 2007;
Paschoal & Pereira, 2009; Vendrusculo et al, 2010) e desencadeia excessivo sofrimento físico
e psicológico tanto do paciente quanto para a família. Além desses aspectos, vale ressaltar o
elevado custo hospitalar do tratamento de queimadura (MARTINS & ANDRADE, 2007).
O tratamento destes pacientes sempre foi um grande desafio aos cirurgiões plásticos em todo
o mundo, tanto pela complexidade das lesões, quanto pela necessidade de cuidados intensivo
e multidisciplinar, envolvendo os mais diversos profissionais de saúde, como clínicos,
intensivistas, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros e auxiliares com
especialização nesta área. Partindo-se deste entendimento e dos conhecimentos acumulados
nas últimas décadas em relação ao atendimento inicial ao queimado e ao manejo cirúrgico de
suas feridas, desenvolveu-se o conceito dos Centros de Tratamento de Queimados (CTQ):
unidades fechadas, com equipe multidisciplinar, especializada no tratamento de pacientes
vítimas de queimaduras.
¹ Pós-graduada em Fisioterapia Dermatofuncional
² Orientadora: Fisioterapeuta Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direito
em Saúde.
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No Brasil, existem 35 CTQ’s cadastrados pelo Ministério da Saúde, disponibilizando um leito
especializado para cada 327.167 habitantes, o que representa um déficit de leitos, tendo em
vista, por exemplo, o modelo americano, que disponibiliza um leito para cada 140.000
habitantes.
As queimaduras acontecem quando agentes químicos, térmicos, elétricos ou radioativos
causam feridas traumáticas, de forma parcial ou total na pele. Os pacientes apresentam graves
alterações morfológicas por terem sofrido queimaduras (ALCANTARA et al., 2009).
A intervenção fisioterapêutica neste tipo de lesão é de extrema importância, no que se refere à
diminuição das seqüelas deixadas pela lesão, na melhoria da qualidade de vida e da
integração, não só física, mas também psicológica, do individuo na sociedade.
O fisioterapeuta possui aptidões específicas, certas metodologias e linhas de conhecimento
que irão atuar no tratamento. Para cada fase cronológica do avanço da queimadura, o
fisioterapeuta possui um recurso específico que irá permitir que a lesão se cicatrize de
maneira correta e evitando complicações futuras (GUIRRO & GUIRRO, 2007).
Este trabalho tem por objetivo descrever a assistência fisioterapêutica com pacientes
queimados, através de uma revisão de literatura, possibilitando, assim, oferecer subsídios
científicos, na perspectiva de contribuir para assistência e ações adequadas, partindo da
necessidade de enfatizar o papel do fisioterapeuta em vitimas de queimaduras destacando os
principais recursos utilizados e suas particularidades no tratamento das lesões acometidas por
exposição a agentes térmicos., visando dar suporte para as vítimas deste tipo de lesão,
ajudando-as a possuir uma noção maior e melhor de como elas podem tratar os diversos tipos
de queimaduras e suas conseqüências ao organismo, desde a hora que ocorreu a lesão até ao
total restabelecimento da área afetada ou do sistema comprometido.
Sabe-se que a queimadura quando não bem tratada em sua fase inicial, produzirá seqüelas que
prejudicam não só a estética, mas também a qualidade de vida da vítima.
A importância do estudo de como evitar as seqüelas, não só na área queimada, mas também
em lesões nos outros sistemas supostamente prejudicados, é de extrema relevância porque
proporciona subsídios suficientes não só para a vítima, mas também para o profissional que
irá reabilitá- la, tornando o tratamento mais rápido, objetivo e eficaz.
Posto isto, justificou-se a realização desta pesquisa, visto que a mesma, pode servir como guia
para o tratamento de reabilitação dos pacientes acometidos por queimaduras, fornecendo
metodologias e combinações de recursos fisioterapêuticos já praticados na atualidade com
grande êxito na área de queimados e novas técnicas que ainda estão sendo estudadas para
reabilitação deste tipo de lesão.
O presente trabalho relata a incidência de queimaduras no Brasil, abordando a anatomia,
histologia e fisiologia da pele, conceituando queimaduras e os vários critérios de classificação
das lesões, a fisiopatologia das queimaduras, tratamento medico e fisioterapêutico e os
recursos fisioterapêuticos específicos para reabilitação de uma queimadura.
Ao final esse estudo, traz uma análise dos resultados e a discussão do assunto em questão, o
que levou às considerações conclusivas do mesmo.
2. Incidência de Queimaduras no Brasil
Estima-se que no Brasil ocorram em torno de 1000.000 de acidentes por queimaduras ao ano,
sendo que 100.000 pacientes procurarão atendimento hospitalar e, destes, cerca de 2.500
pacientes irão falecer direta ou indiretamente de suas lesões (GOMES, 2001).
Gomes (2001), relata que 2/3 dos acidentes com queimaduras acontecem em casa, atingindo
na maioria adolescentes e crianças, sendo os adolescentes com líquidos combustíveis e as
crianças com líquido superaquecidos. Em crianças acima de 3 anos, as queimaduras são
ocasionadas por chama direta, muito comum no Brasil lesões por combustão de álcool,
responsáveis por quase 20% de todas as queimaduras em nosso país. As queimaduras por gás,
em razão da grande extensão acometida, a elétrica e a química, pela agressividade desses
agentes, são menos freqüentes.
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O Brasil é o único país no mundo que utiliza álcool diariamente como produto de limpeza e
para acender churrasqueiras. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em
conjunto com a sociedade Brasileira de Queimados baixou uma portaria de proibição do
álcool liquido visando a redução dos índices de queimaduras com esse produto (LIMA &
BAPTISTA, 2008).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em Resolução – RDC nº46, de 20 de
fevereiro de 2002, determina que o álcool etílico comercializado com graduações acima de
54º GL à temperatura de 20ºC deverá ser comercializado unicamente em solução na forma de
gel desnaturado e no volume máximo de 500g em embalagens resistentes ao impacto.
3. Anatomia e histologia da pele
A pele é o maior órgão do corpo humano em superfície e peso, formando um revestimento
externo em todo o corpo (SPENCE, 1991). Em adultos, cobre uma área em torno de 2 metros
quadrados e pesa de 4,5 a 5 kg (TORTORA & GRABOWSKI, 2002).
A pele consiste em duas partes principais: a epiderme, a parte superficial e a derme, a parte
mais profunda (TORTORA & GRABOWSKI, 2002).
3.1. Epiderme
De acordo com Junqueira & Carneiro (2008), a epiderme é a camada protetora da pele em
contato com o meio externo, sendo composta por 5 camadas: germinativa, espinhosa,
granulosa, lúcida e córnea. A camada germinativa, responsável pela renovação da epiderme,
rica em células-tronco. Calcula-se que a epiderme humana se renove a cada 15 a 30 dias. A
Camada espinhosa, formada por células achatadas com expansões citoplasmáticas que se
mantém unidas, dando a célula um aspecto espinhoso. A camada granulosa, tem apenas
algumas camadas de células achatadas, contém grânulos basófilos denominados grânulos de
querato-hialina, que produz queratina e substancias impermeáveis a água e outras moléculas
(CORMACK, 2003).
- Camada transparente ou lúcida, consiste de várias camadas de células achatadas intimamente
ligadas, perdem todas as suas inclusões citoplasmáticas com exceção das fibrilas de queratina
e uma substancia chamada eleidina. A camada córnea, é a mais superficial da epiderme,
formada por células mortas que são chamadas de corneificadas desde que seu citoplasma seja
substituído por queratina. Essas células formam uma cobertura ao redor do corpo protegendo
contra invasão de substancias do meio externo e restringindo a perda de água do corpo
(SPENCE, 1991).
3.2. Derme
De acordo com Spence (1991) a derme é formada de tecido conjuntivo fibroso, fibras elásticas
e colágenas, sendo supridos por vasos sanguíneos, linfáticos, nervos e glândulas sudoríparas.
É composta por duas camadas:
- Camada papilar logo abaixo da epiderme, é delgada e constituída de tecido conjuntivo
frouxo, esta ligada as papilas dérmicas.
- Camada reticular contém feixes de colágeno entrelaçados grosseiramente, não é tão
vascularizada, exceto onde as glândulas e os folículos pilosos se estendem através dela.
3.3. Anexos da Pele
Os pêlos se originam na derme, estão distribuídos em quase todo o corpo, com a função de
proteção da pele (GUIRRO & GUIRRO, 2004).
Segundo Andris et al. (2006), os pêlos consistem em hastes longas e finas de queratina, cada
haste pilosa apresenta uma extremidade alargada sendo bulbo ou raiz. Cada pêlo está
localizado dentro de uma bainha revestida por folículo piloso ao qual tem inervação e
irrigação sanguínea abundantes. O bulbo piloso contém melanócitos, que determinam a cor
dos pêlos. Andris et al. (2006) referem que as unhas são placas de queratina dura, localizada
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na superfície dorsal das falanges distais. São formadas por raiz, placa, leito ungueal, lúnula,
pregas ungueais e cutícula, com função protetora das extremidades distais dos dedos
(DANGELO & FATTINI, 2005).
As glândulas sebáceas estão anexas aos pêlos, situam-se na derme e sua secreção é uma
mistura de lipídios, com a função de lubrificar a pele e ação bactericida. As glândulas
sudoríparas também se localizam na derme ou tela subcutânea tendo como função a regulação
da temperatura corporal (GUIRRO & GUIRRO, 2004).
3.4. Hipoderme
A hipoderme não faz mais parte da pele, é formada por tecido conjuntivo frouxo, responsável
pelo deslizamento da pele sobre as estruturas onde se apóia, além de servir como depósito de
gordura (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2008).
4. Fisiologia da pele
A pele atua protegendo a integridade física e bioquímica do corpo, mantém a temperatura
corpórea constante e fornece informações sensoriais sobre o ambiente circundante. Para a
regulação da temperatura corporal, a pele conta com alterações vasomotoras como
vasoconstrição e vasodilatação das arteríolas presentes na derme e com a produção do suor
pelas glândulas sudoríparas. Quanto à manutenção da integridade bioquímica, a pele também
conta com a excreção das glândulas sudoríparas produtoras de suor, o qual contém cloretos. Já
as informações sensoriais ocorrem através de terminações nervosas que informam ao cérebro
sobre alterações de temperatura, toque, pressão, traumas e dor (GUYTON, 1998; SPENCE,
1991).
5. Queimaduras
Queimadura é toda lesão provocada pelo contato direto com alguma fonte de calor ou frio,
produtos químicos, corrente elétrica, radiação, ou mesmo alguns animais e plantas (como
larvas, água-viva, urtiga), entre outros. Se a queimadura atingir 10% do corpo de uma criança
ela corre sério risco. Já em adultos, o risco existe se a área atingida for superior a 15%.
Quando se faz uma avaliação das causas das queimaduras, observa-se que, na maioria das
vezes, a falta de cuidado é o principal elemento responsável. O manuseio descuidado de
produtos em altas temperaturas, como líquidos quentes ou objetos incandescentes, e a
atividade de crianças em ambientes perigosos, como a cozinha, podem ser considerados como
a principal causa desta terrível lesão que é a queimadura. A dor causada pela queimadura faz
com que, na situação de emergência domiciliar, as pessoas utilizem pomadas, ungüentos e
crendices populares, que na maioria dos casos só pioram o quadro clínico.
5.1. Diagnóstico etiológico
- Queimaduras térmicas;
- Queimaduras químicas;
- Queimaduras elétricas;
- Queimaduras por radiação;
- Queimaduras por atrito;
- Outras. (PICCOLO, 2008).
Costuma-se classificar as queimaduras de acordo com a profundidade da pele lesada. Esta
classificação é importante para se avaliar o prognóstico (previsão de cicatrização e cura) da
queimadura. Quanto mais superficiais, melhor o prognóstico, já as queimaduras mais
profundas têm um prognóstico mais grave (SAÚDE TOTAL, 2008).
5.2. Classificação das queimaduras de acordo com a profundidade:
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As queimaduras podem ser classificadas de primeiro, segundo e terceiro grau com base na
aparência dos sinais e sintomas de lesão dos tecidos. Também podem ser consideradas de
espessura parcial ou de espessura total, de acordo com a destruição dos tecidos. Numa
queimadura de espessura parcial não existe invasão da derme e os tecidos podem regenerar-se
na espessura total, todas as camadas da pele ficam destruídas e o tecido subcutâneo, o
músculo e o osso podem também ser atingidos.
Podemos classificar as queimaduras da seguinte forma:
5.2.1 Queimadura superficial ou 1º grau: Nesta queimadura, o traumatismo e a lesão celular
ocorre apenas na parte externa da epiderme. Devido à natureza avascular da epiderme externa,
não ocorrerá sangramento. Normalmente, ocorre uma leve reação inflamatória e a pele estará
dolorida ao toque, mas não se formarão bolhas e a cicatrização normalmente ocorrerá dentro
de 2 a 5 dias. Haverá também algum “despelamento”(descamação) da epiderme externa. De
maneira geral as queimaduras de primeiro grau podem ser tratadas clinicamente com a
utilização de pomadas e evoluem satisfatoriamente.
5.2.2 Queimadura superficial de espessura parcial ou 2º grau: Numa lesão de espessura
parcial, a lesão ocorre através da epiderme até as camadas superiores da derme. A camada
epidérmica é completamente destruída, mas a camada dérmica sofre apenas lesão leve a
moderada. Este tipo de queimadura é extremamente doloroso, devido à irritação das
terminações nervosas e dos sensores para a dor que sobrevivem ao insulto térmico.
Recuperação ocorrerá em 2 a 3 semanas, por conservação de elementos viáveis para a
regeneração dos tecidos, com presença de despigmentação.
5.2.3 Queimadura profunda de espessura parcial ou 2º grau profundo: Envolve a
destruição da epiderme e uma grave lesão também da camada dérmica. A maioria das
terminações nervosas, folículos pilosos e glândulas sudoríparas serão lesionadas, com a
destruição da maioria da derme. Esta é ainda uma lesão dolorosa, porque nem todas as
terminações nervosas foram destruídas. O tecido pode estar anestesiado imediatamente após o
traumatismo provocado pela queimadura. Haverá o desenvolvimento de escaras, ou de tecido
morto resultante da lesão e da destruição tissular, em decorrência da presença da lesão
necrosada e do plasma. Cicatrização espontânea de forma lenta ou necessidade de enxerto em
caso de aprofundamento da queimadura Pode levar a retração cicatricial e cicatrizes
hipertróficas.
5.2.4 Queimadura de espessura integral ou 3º grau: Neste caso todas as camadas
epidérmicas e dérmicas estão completamente destruídas. A extensão da lesão leva à necrose
de coagulação das células, destruição dos vasos sanguíneos, edema maciço e infiltração
celular na ferida. Devido à completa destruição das terminações nervosas na área, a ferida
estará relativamente indolor. É altamente provável a ocorrência de infecção e todos os
esforços precisam ser feitos para manter um mínimo de infecção.
5.2.5 Queimadura elétrica ou 4º grau: Envolve a completa destruição de todos os tecidos,
desde a epiderme até (e inclusive) o tecido ósseo subjacente. Este tipo de queimadura ocorre
normalmente em resultado do contato com a eletricidade e, se a corrente for forte o suficiente,
também poderão ocorrer fraturas do osso subjacente. A Recuperação com tratamento
cirúrgico obrigatório (desbridamento e enxerto) em tempo variável. Possível retração e perda
da forma e função da pele. Possível perda de extremidades (dedo, mão, pé).
5. 3. Classificação da queimadura quanto a superfície corporal atingida
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A classificação segundo a extensão corporal atingida leva em conta a porcentagem de
superfície corporal queimada. A palma da mão representa 1% da superfície corporal, de forma
que, toda lesão que seja maior que a palma da mão da pessoa, deve receber atendimento
especializado, após os primeiros socorros. Polaski e Tennison desenvolveram a regra dos
nove onde há área da superfície do corpo em segmentos equivalem aproximadamente 9% do
total. Então, cada segmento corresponde a um percentual, ou seja, o corpo é dividido em
múltiplos de nove.
Por ser um método mais rápido em queimaduras maiores e mais espalhadas, usa-se a regra
dos nove onde:
Adulto
Criança
Cabeça e pescoço
Tronco anterior
Tronco posterior
Membro superior
Membro inferior
9%
18%
18%
18% (9% cada)
36% (18 % cada)
21%
18%
18%
18% (9 % cada)
24 % (12% cada)
Períneo
1%
1%
Fonte: Coelho (2008)
Tabela 1: Regra dos nove para calcular a superfície corporal queimada
5.4. Diagnóstico quanto à complexidade das queimaduras
5.4.1. Pequeno queimado
Considera-se como queimado de pequena gravidade o paciente com:
- Queimaduras de primeiro grau em qualquer extensão, e/ou
- Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida até 5% em crianças menores de 12
anos e 10% em maiores de 12 anos.
5.4.2. Médio queimado
Considera-se como queimado de média gravidade o paciente com:
- Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida entre 5% a 15% em menores de
12 anos e 10% e 20% em maiores de 12 anos, ou
- Queimaduras de terceiro grau com até 10% da área corporal atingida em adultos, quando
não envolver face ou mão ou períneo ou pé, e menor que 5% nos menores de 12 anos, ou
- Qualquer queimadura de segundo grau envolvendo mão ou pé ou face ou pescoço ou axila.
5.4.3. Grande queimado
Considera-se como queimado de grande gravidade o paciente com:
- Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida maior do que 15% em menores de
12 anos ou maior de 20% em maiores de 12 anos, ou
- Queimaduras de terceiro grau com mais de 10% da área corporal atingida no adulto e maior
que 5% nos menores de 12 anos, ou
- Queimaduras de períneo, ou
- Queimaduras por corrente elétrica, ou
- Queimaduras de mão ou pé ou face ou pescoço ou axila que tenha terceiro grau.
Observação: Será igualmente considerado grande queimado o paciente que for vítima de
queimadura de qualquer extensão que tenha associada a esta queimadura uma ou mais das
seguintes situações: lesão inalatória, politrauma, trauma craniano, choque de qualquer origem,
insuficiência renal, insuficiência cardíaca, insuficiência hepática, diabetes, distúrbios da
coagulação hemostasia, embolia pulmonar, infarto agudo do miocárdio, quadros infecciosos
graves decorrentes ou não da queimadura, síndrome compartimental, doenças consuptivas ou
qualquer outra afecção que possa ser fator de complicação à queimadura (PICCOLO, 2008).
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6. Fisiopatologia das queimaduras
Segundo Vale (2005), a queimadura compromete a integridade funcional da pele, responsável
pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação
da superfície corporal. Portando, a magnitude do comprometimento dessas funções depende
da extensão e profundidade da queimadura.
A injúria térmica provoca no organismo uma resposta local, traduzida por necrose de
coagulação tecidual e progressiva trombose dos vasos adjacentes num período de 12 a 48
horas. A ferida da queimadura a princípio é estéril, porém o tecido necrótico rapidamente se
torna colonizado por bactérias endógenas e exógenas, produtoras de proteases, que levam à
liqüefação e separação da escara, dando lugar ao tecido de granulação responsável pela
cicatrização da ferida, que se caracteriza por alta capacidade de retração e fibrose nas
queimaduras de terceiro grau.
Nas grandes queimaduras, além da resposta local, o dano térmico desencadeia ainda uma
reação sistêmica do organismo, em conseqüência da liberação de mediadores pelo tecido
lesado. Ocorre extenso dano à integridade capilar, com perda acelerada de fluidos, seja pela
evaporação através da ferida ou pela seqüestração nos interstícios, que é agravada por
subprodutos da colonização bacteriana. Além disso, nas queimaduras extensas, superiores a
40% da área corporal, o sistema imune é incapaz de delimitar a infecção, que, sistematizandose, torna rara a sobrevida nesses casos. Essa resposta sistêmica manifesta-se por febre,
circulação sangüínea hiperdinâmica e ritmo metabólico acelerado, com aumento do
catabolismo muscular, decorrente de alteração da função hipotalâmica (aumento da secreção
de glucagon, cortisol e catecolaminas), da deficiência da barreira gastrointestinal (passagem
de bactérias e seus subprodutos para a circulação sistêmica), da contaminação bacteriana da
área queimada (liberação sistêmica de bactérias e subprodutos), da perda de calor (evaporação
através da ferida levando à hipotermia) e da perda de fluidos (desequilíbrio hidroeletrolítico).
7. Tratamento
O tratamento do paciente queimado é multidisciplinar onde cada área de atuação terá extrema
importância. O médico terá como objetivo manter suas funções vitais e evitar complicações; a
enfermagem terá como objetivo a monitoração do paciente durante o tempo de internação; o
fisioterapeuta terá como objetivo viabilizar ao paciente uma reabilitação motora, deixando-o
completamente independente e sem seqüelas, quando possível (O´SULLIVAN, 2004).
7.1. Tratamento médico:
O objetivo principal do tratamento das feridas por queimadura é o fechamento e a cura. É um
dos objetivos também estabilizar o paciente abordando os principais problemas que
colocariam sua vida em risco. São esses: estabelecer e manter a via aérea, prevenir
hemorragias, estabelecer extensão e profundidade da queimadura, reduzir ou prevenir perda
de líquidos com a hidratação, limpar a ferida, tratar a dor, prevenir contra infecções e
complicações secundárias.
O tratamento cirúrgico precoce do tecido queimado, desbridamento extenso do tecido
necrótico e enxertia de pele, quando possível, diminui a mortalidade associada a queimaduras
graves. Além disso, o uso de anti-microbianos, como: creme de sulfadiazina de prata e nitrato
de prata, diminui a possibilidade de infecções nas feridas.
Tratamento com antibióticos também são prescritos devido aos micro-organismos presentes
na própria unidade de tratamento de queimados. Todos os pacientes com lesões por
queimaduras devem receber reforço da vacina antitetânica, se não receberam uma dose de
reforço nos últimos cinco anos.
7.2. Tratamento Fisioterapêutico
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De acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) e da American Burn Society
entre outras, o tratamento fisioterapêutico, quando realizado uma intervenção precoce, é o
diferencial para que o indivíduo queimado receba alta do hospital com o mínimo de sequelas
possíveis e que uma reabilitação motivadora tenha sido realizada (KNOPLICH, 2007).
As ações da Fisioterapia são bastante amplas, apresentando condutas importantes desde o
momento inicial da internação ao acompanhamento ambulatorial.
O tratamento da Fisioterapia em pacientes queimados terá como objetivos principais o retorno
as Atividades de Vida Diária (AVD’s) e uma melhor qualidade de vida global. Para isso a
reabilitação do paciente tem como foco: manutenção do Arco de Movimento (ADM),
manutenção ou restauração da força muscular, diminuição do risco de infecções, obtenção de
deambulação independente, mínima formação de cicatrizes prevenção de contraturas e
deformidades, aumento da capacidade aeróbia e restauração da resistência cardiovascular.
Para dar inicio a qualquer tratamento na área de saúde é necessário uma anamnese, uma
avaliação de como se encontra o paciente, tendo em vista as áreas queimadas e profundidade
das lesões. O fisioterapeuta precisa avaliar também a habilidade do paciente de realizar os
movimentos ativos de todos os membros. É comum o ADM estar limitado pelo edema, escara
e até dor, mas, é fundamental que seja observado para ter como referência durante todo o
tratamento. É dever do Fisioterapeuta obter uma história do paciente com seus familiares,
para saber se o paciente já tinha alguma deformidade ou lesão preexistente, alguma limitação,
qualquer coisa que possa afetar o potencial do tratamento e conseqüentemente de sua
reabilitação (PORTER, 2005).
As avaliações devem ser freqüentes tendo em vista que cada pessoa reage de uma forma
diferente ao tratamento e às lesões causadas pelo trauma. A avaliação inicial determinará
quais áreas deverão ser tratadas primeiramente. As prioridades do tratamento inicial serão
reduzir os edemas, preservação do Arco de Movimento, movimentação ativa dos membros.
Realizar exercícios respiratórios são importantes a fim de evitar complicações pulmonares,
como: pneumonia, edema pulmonar e embolia pulmonar. O posicionamento do paciente
também é de grande importância para que no futuro ele não apresente contraturas e
deformidades, e seu objetivo no inicio do período de internação é diminuir o edema e manter
os tecidos moles alongados.
A deambulação deve ser iniciada o mais rápido possível, a não ser em casos de enxertos em
membros inferiores. Caso contrário, a deambulação sem dispositivos auxiliares deve ser
conseguida o mais cedo possível. Caso o paciente apresente dor ao ser colocado de pé, iniciar
de forma gradativa a posição ortostática.
Curativos compressivos ajudam a minimizar o edema e controlar a formação de cicatrizes.
Tem-se no mercado vestuários compressivos, que podem ser feitos sob encomenda ou não.
Essas peças do vestuário devem ser usadas 23 horas por dia, sendo removidas apenas para a
higiene, por durante 12 meses. O uso precoce e continuo da pressão trará como resultado uma
cicatriz mais uniforme e maleável e sua proteção. A partir do momento que a cicatriz já esteja
pálida e macia, o uso da compressão não se torna mais necessária.
O acompanhamento fora da unidade hospitalar se torna necessário tendo em vista que muitas
vezes as cicatrizes podem não acompanhar o processo de crescimento da criança, resultando
em possíveis deformidades e limitações, podendo ser necessária a liberação cirúrgica do
tecido cicatricial.
8. Recursos fisioterapêuticos específicos para reabilitação de uma queimadura
Como já foi citado anteriormente, para cada fase de uma queimadura existe um recurso
terapêutico especifico que irá contribuir na reparação da lesão. A queimadura pode ser
caracterizada de quatro formas (graus), cada uma possuindo características específicas.
Discutir-se-á como cada recurso fisioterapêutico irá contribuir no reparo de forma específica,
depois iremos explicar como em cada fase
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esse recurso será administrado, dependendo do grau que a lesão apresentará (GUIRRO &
GUIRRO, 2007).
8.1. Posicionamento
Toda vez que um paciente é acometido por uma infecção aguda, que inviabiliza a
movimentação espontânea no leito, ele está correndo risco de desenvolver patologias
secundárias que poderão piorar drasticamente o quadro clínico dele. Dentre estas patologias
poderemos citar as ulcerações (escaras), contraturas de tecidos moles ou articulares, posturas
viciosas e até problemas respiratórios. O fisioterapeuta irá atuar de forma que no momento em
que a pessoa queimada estiver na fase de cicatrização ele possa posicioná-la de forma que a
articulação se oponha ao efeito de encurtamento proporcionado pelo processo de reparação.
Ele terá a preocupação de em pequenos espaços de tempo estar movendo o paciente de forma
sutil, mas que permita a ele a alternância de posições, evitando assim, que em certos locais
fique muito tempo parados ou que esquentem, diminuindo bruscamente a chance do
surgimento de seqüelas secundárias. A elevação dos membros queimados é de extrema
importância porque atua na melhora do retorno venoso linfático, prevenindo assim, a
formação de edemas no local. (GUIRRO & GUIRRO, 2007).
Segundo Porter (2005), os suportes podem ser estáticos ou dinâmicos.
a) Suportes estáticos
Os suportes estáticos são usados quando é essencial manter uma determinada posição articular
até que o movimento possa ser iniciado ou manter uma posição de repouso satisfatória entre
os exercícios.
b) Suportes dinâmicos
Os suportes dinâmicos podem permitir o movimento controlado de várias articulações. Por
exemplo, um suporte para a extensão metacarpofalangianas para todos os quatro dedos
permite alguma flexão desses dedos, concedendo assim que os tendões extensores lesionados
movimentem-se numa amplitude limitada, porém sem se alongar demais.
Na imobilização alguns pontos são importantes e deverão ser observados. Para Porter (2005) a
posição precisa ser eficaz, porém não necessariamente à posição da função. As articulações
não devem estar incluídas desnecessariamente nos suportes. Deve ser evitado o enfaixamento
firme. Os suportes devem ser enfaixados uniformemente. Os enxertos e os retalhos não devem
estar sujeitos à pressão do material do suporte. As proeminências ósseas devem ser evitadas
quando possível ou necessitam de acolchoamento dentro do suporte. A compressão do nervo
deve ser evitada. A correção e prevenção de deformidade são essenciais, como também é a
atividade muscular. Portanto, a imobilização dinâmica e intermitente deve ser utilizada
quando possível.
8.2 Cinesioterapia respiratória
As complicações pulmonares, após queimaduras graves, são de extrema relevância porque
atingem uma porcentagem de 24% a 84%, causando mortes, principalmente por pneumonia,
e, piorando drasticamente o quadro clínico do queimado. Dependendo da maneira como a
vitima foi acometido pela queimadura, essas porcentagens podem se elevar mais ainda. As
principais complicações, decorrentes na queimadura, no sistema respiratório são causadas por:
Lesão por inalação: a grande concentração de gases como monóxido de carbono, dióxido de
enxofre e hidrocarbonetos ao entrarem nas vias aéreas, causam danos nas mucosas
respiratórias, podendo ser reversíveis ou não dependendo da quantidade de tempo que a
vítima ficou exposta.
Doenças restritivas: dependendo do grau pode causar pneumonia, edema pulmonar ou
atelectasia. Complicações tardias: sendo as mais comuns, embolia pulmonar e edema
pulmonar. Antes da execução do tratamento preventivo de patologia das vias aéreas,
decorrentes das queimaduras, o fisioterapeuta deve fazer uma avaliação morfodinâmica, com
.
10
o propósito de verificar através da ausculta pulmonar a presença de ruídos patológicos, bem
como observar a expansão da caixa torácica.
A remoção das secreções acumuladas pela imobilização e o uso de aparelho respiratório são
importantes preocupações do fisioterapeuta na área de queimados. A remoção do muco
aderente (possivelmente infectado) exige a aplicação de três procedimentos básicos:
- Drenagem postural adequada,
- Técnicas manuais
- Exercícios controlados de respiração e tosse.
A atuação fisioterapêutica deve constar das seguintes técnicas:
- Desobstrução brônquica,
- Drenagem postural,
- Reexpansão pulmonar
- Reeducação da função muscular respiratória (GUIRRO & GUIRRO, 2007).
8. 3 Cinesioterapia geral
A atividade física, quando o paciente ainda está em fase de recuperação, pode ser muito
incômoda e dolorosa, mas a atividade física precoce para este individuo é de extrema
importância para a manutenção da amplitude articular . A deambulação também deve ser
iniciada precocemente a fim de proporcionar ao paciente a oportunidade de manter um
contato social e exercitar os membros inferiores, evitando possíveis perturbações funcionais.
Antes de iniciar qualquer tratamento precoce neste tipo de paciente, deve-se fazer uma análise
criteriosa acerca de seus limites funcionais já existentes, para que os mesmo sejam
respeitados. A massagem prévia, antes de qualquer manejo do paciente, servirá para aumentar
a mobilidade tecidual, evitando assim mais danos, não só em áreas adjacentes à queimadura,
mas, sim na própria região lesada (GUIRRO & GUIRRO, 2007).
O exercício é essencial durante a cicatrização de lesões por dois motivos. Primeiro pelo fato
de estimular a circulação e, portanto aumentar o fornecimento de oxigênio. Segundo, o
exercício promove tensão no tecido, direcionando assim a reestruturação do colágeno. A
tensão excessiva no tecido neoformado pode promover o rompimento das novas fibras ou até
mesmo a sua proliferação em excesso.
8. 4. Eletroterapia
As correntes elétricas atuarão neste tipo de cicatrização no que se diz respeito à recuperação
da função motora perdida ou diminuída. O estimulo elétrico produzido pelo FES gera no local
um aumento da atividade muscular por influência das propriedades morfológicas, fisiológicas
e bioquímicas que estimularão o aumento da força muscular (AGNE, 2008).
8. 5. Ultrassom
Há um consenso no sentido de que o ultrassom pode acelerar a resposta inflamatória,
promovendo entre os efeitos desencadeados por este processo, as liberações de histamina, de
fatores de crescimento pela granulação de macrófagos, mastócitos e plaquetas, além de
incrementar a síntese de fibroblastos e colágeno. (FABRINI, 2013).
8. 6. Laser
Este recurso é muito utilizado, quando a lesão por queimadura se encontra em aberto, porque
ele bioestimula a regeneração da área através do reparo tecidual. A sua utilização é rápida,
não invasiva e efetiva. (FABRINI, 2013).
8. 7. Crioterapia
O frio, quando é aplicado logo após a lesão, serve para aliviar a dor e diminuir a severidade,
principalmente quando a lesão é de primeiro grau e segundo grau. Segundo Guirro & Guirro
(2007), este método é muito eficiente e recomendável porque o resfriamento local é benéfico,
.
11
visto que ele permite uma vasoconstrição, limitando o escape de plasma e a prevenção da
hipóxia secundária e diminuição do metabolismo celular. A crioterapia pode ser utilizada
neste tipo de tratamento com as seguintes finalidades:
- Minimizar a formação de edemas, bolhas e promover a analgesia;
- Auxilia no processo de cicatrização;
- Alongamento do tecido conjuntivo.
8. 8. Radiação ultravioleta
As possíveis ações deste recurso estão relacionadas ao efeito bactericida atenuantes na
cicatrização. Este recurso só é empregado, nesta fase, e ainda está em fase de estudo, mas, em
todos os casos de infecções na área lesionada, houve melhora significativa na maioria dos
casos (FABRINI, 2013).
8. 9. Radiação infravermelha
Segundo Agne (2008), este recurso é empregado para alivio da dor, aumento da mobilidade
articular e reparo de lesões de tecidos moles. Os efeitos fisiológicos já catalogados pelos
estudiosos deste recurso são:
- Vasodilatação,
- Aumento do fluxo sanguíneo,
- Aumento da leucocitose,
- Aumento da fagocitose,
- Aumento do metabolismo,
- Relaxamento muscular e de outras estruturas,
- Analgesia,
- Aceleração de cicatrização
O tratamento multidiciplinar na reabilitação de queimados é de extremamente importância. O
tratamento fisioterápico deve incluir o encaminhamento a psicólogos para cuidar desse
componente emocional, principalmente em relação às queimaduras acidentais em
adolescentes e crianças, assim como o preparo para a cirurgia.
9. Materiais e métodos
O referente trabalho consiste em uma revisão de literatura descritiva, sobre a assistência
fisioterapêutica em queimados. O presente estudo foi realizado durante os meses de Agosto e
Setembro de 2013. Assim, buscou-se investigar pelos livros, base de dados científicos e
revistas especializadas informações publicadas sobre o assunto. Utilizou-se as seguintes
palavras-chave: queimaduras, fisioterapia em queimados, recursos fisioterapeuticos.
Como critérios de inclusão foram considerados aqueles com relevância acadêmica científica e
de acordo com os objetivos propostos no nosso estudo. Foram excluídos aqueles sem
relevância acadêmica, e fora do contexto dos objetivos citados.
10. Resultados e discussão
O tratamento de pacientes queimados sempre foi um desafio devido à complexidade das
lesões e pela necessidade de cuidados intensivos de equipe de profissionais multidisciplinares.
A fisioterapia é de extrema importância no tratamento e melhora do paciente queimado, sendo
necessário que esse profissional apresente aprimoramento e educação especializada para tais
cuidados (YOKATA et al, 2006; FAUSTINO, 2007).
Durante a realização deste artigo, no decorrer das revisões, foi percebido que os recursos
utilizados são bem destintos, o que faltava especificamente era organizá-los de acordo com
sua aplicabilidade com a cronologia da lesão.
O posicionamento e imobilização têm início no dia da admissão, exigindo cuidados e atenção
constantes para que não ocorram contraturas. O paciente está propenso ao desenvolvimento de
contraturas devido a cicatrização hipertrófica e a formação de colágeno através das
.
12
articulações. Podem ser usadas, com grande eficácia, técnicas de facilitação neuromuscular
proprioceptiva de contração-relaxamento.
Segundo Borges (2010), as queimaduras podem causar, além de hiperemia restrita à área
queimada, alterações celulares e imunológicas decorrentes do insulto e o envolvimento das
vias respiratórias. Rocha et al (2010) acrescentam, citando que, decorrente disto, surge a
questão a dificuldade respiratória como causa de mortalidade e informam que os progressos
na qualidade da terapia de queimaduras nos últimos tempos colaboram para o aumento da
longevidade. Com a fisioterapia respiratória, deve ser trabalhado o posicionamento do
paciente, evitando o desenvolvimento de afecções secundárias, que poderão piorar os
problemas respiratórios.
Andrade et al.(2010) citam, ainda, o laser terapêutico, como um recurso valioso no tratamento
de queimados, pela sua capacidade de induzir cicatrização rápida e organizada. Associado ao
laser, Rocha et al. (2010) citam a crioterapia com a finalidade de aliviar a dor, o
infravermelho, para aumento da mobilidade articular e reparo de lesões de tecidos moles, o
ultrassom, com o objetivo de acelerar a síntese de fibroblastos e colágeno, e o TENS, para
melhora da inervação sensorial.
Em cada estágio da queimadura, a fisioterapia atua com recursos singulares, permitindo à
lesão cicatrizar de maneira correta, evitando complicações e melhora da qualidade de vida,
reintegrando o indivíduo ao convívio social, além de citar a unidade de queimaduras como um
recurso necessário, combinando uma equipe bem praticada, com realizações rápidas e o fácil
acesso às salas de operações.
No processo de pesquisa, a literatura mostrou-se escassa quando abordada a prática da
fisioterapia dentro de uma Unidade de Queimados, embora tenha observado que são distintas
as técnicas fisioterapêuticas aplicadas para o tratamento de queimaduras, variando conforme o
tipo de lesão.
11. Conclusão
Com a realização deste trabalho e conseqüente estudo, fica claro que o tratamento
multidisciplinar é de fundamental importância para o paciente queimado.
Cada área de atuação se completa, dando ao tratamento um toque mais humanizado e mais
responsável. E quanto mais cedo se inicia o tratamento, maiores as chances do paciente não
ficar com nenhuma seqüela.
A Fisioterapia em si possui inúmeros recursos para melhor atender ao paciente e, realizada de
forma correta, por que não dizer possibilitar sua reabilitação completa quando possível dando
ao paciente um retorno as suas funções e atividades de vida diárias, através de um processo de
tratamento motivador, agradável e prazeroso.
Deve-se ressaltar também a importância dos cuidados para com as crianças que são em sua
maioria as vítimas de acidentes domésticos, educando seus pais sobre os fatores de risco neste
ambiente. Medidas simples como a elevação de membros e cabeceira, imobilização das
regiões articulares e o uso de Sulfadiazina de Prata podem mudar a evolução do quadro. Esses
procedimentos iniciais podem ser realizados em uma unidade de atendimento primário, com
posterior encaminhamento do paciente para uma Unidade Especializada, onde lhe serão
oferecidos tratamentos mais complexos e específicos.
O desenvolvimento de um estudo que verifique diferentes pesquisas, cujo objetivo baseie-se
em tratamento e/ou avaliação fisioterapêutica nas complicações por queimaduras, torna-se
interessante a partir do momento em que se percebem as diferentes possibilidades de recursos
fisioterápicos que podem ser utilizados e sua importante contribuição na recuperação deste
tipo de paciente.
Identificamos, nessa revisão, com surpresa, pequena quantidade de pesquisas em queimaduras
relacionadas à fisioterapia, o que denota a necessidade de mais estudos que abordem tal tema
e que possam contribuir com o conhecimento, proporcionando novas abordagens terapêuticas
aos pacientes queimados, os quais representam um dos maiores desafios dos cuidados de
.
13
saúde, em virtude das dramáticas alterações fisiológicas que apresentam além de gerarem um
oneroso impacto financeiro ao sistema de saúde.
A partir dos resultados obtidos, conclui-se que o conhecimento inerente às seqüelas de
queimaduras é importante para a identificação do impacto das queimaduras em nosso meio. A
fisioterapia age com eficácia no tratamento de pacientes queimados, evitando complicações e
diminuindo as seqüelas funcionais e estéticas.
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