Soluções Eletrolíticas Propriedades de soluções eletrolíticas a partir de processos eletródicos - Condutividade Definições: Resistência Elétrica (R): é a capacidade de um corpo qualquer se opor à passagem de corrente elétrica pelo mesmo, quando existe uma diferença de potencial aplicada. A unidade no SI é ohm (). Resistividade Elétrica (): (também resistência elétrica específica) é uma medida da oposição de um material ao fluxo de corrente elétrica, a qual pode ser definida pela seguinte equação: R= ρ l A - em que: l é o comprimento do material e A a área de seção reta do material. - a unidade da resistividade elétrica no SI é ohm·metro (·m) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 1 Soluções Eletrolíticas Propriedades de soluções eletrolíticas a partir de processos eletródicos - Condutividade Definições: Condutância Elétrica (G): é o recíproco da resistência elétrica (G = 1/R). a unidade no SI é ohm-1 (-1) que tem o nome de siemens (S), isto é: S = -1. - A condutância do material (amostra) diminui com o comprimento atravessado (l) pela corrente e aumentada com a área da seção reta (A) do material condutor. - Assim: G=κ A l - em que: é condutividade . - Com a condutância em siemens e com as dimensões geométricas em metros, a unidade no SI de condutividade é siemens por metro (S·m-1). Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 2 Soluções Eletrolíticas Propriedades de soluções eletrolíticas a partir de processos eletródicos - Condutividade das soluções Eletrolíticas - A medida fundamental para estudar o movimento de íons em solução é a da resistência elétrica (R) da solução. - A técnica padrão é incorporar uma célula de condutividade num braço de uma ponte de resistência e buscar o equilíbrio, como é usual nas medidas de resistências elétricas. - É preciso fazer a medida com a corrente alternada, pois a corrente contínua levaria à eletrólise e a polarização dos eletrodos, isto é, à modificação da composição das camadas da solução em contato com os eletrodos. - Corrente alternada com frequência da ordem de 1 kHz pode evitar a polarização. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 3 Soluções Eletrolíticas Propriedades de soluções eletrolíticas a partir de processos eletródicos Condutividade das soluções Eletrolíticas - A condutividade de uma solução depende do número de íons presentes; - Assim é normal usar a condutividade molar (m), definida por: Λm = κ/c - onde c é a concentração em quantidade de substância do eletrólito. • No SI a unidade de condutividade molar pode ser siemens metro quadrado por mol (S·m2·mol-1) - A condutividade molar (m) de um eletrólito seria independente da concentração se condutividade () fosse proporcional à concentração do eletrólito. - Porém, na prática, a condutividade molar varia com a concentração do eletrólito. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 4 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas - Condutividade molar versus concentração do eletrólito - O que se observa é que há duas classes de eletrólitos – Forte e Fraco. - Fatos: - em eletrólito fraco a concentração de íons é quase que exclusivamente devido ao grau de dissociação; - em eletrólito forte, quando diluído a mobilidade dos íons é praticamente independente da concentração. Mas quando concentrado as interações são cada vez mais forte. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 5 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Forte - Friedrich Kohlrausch e colaboradores (1869 - 1890) - Numa extensa série de medidas mostrou que em baixas concentrações as condutividades molares dos eletrólitos fortes variam linearmente com a raiz quadrada da concentração; - isto é: m = °m – K·c1/2 Lei de Kohlrausch - em que: °m é a condutividade molar limite lim Λm=lim κ =Λ ° m c c→0 c→ 0 ( ) e K é uma constante experimental que depende mais da estequiometria do eletrólito do que da natureza dos íons. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 6 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Lei da condutividade independente dos íons - em 1876 F. W. Kohlrausch de forma empírica enunciou a lei da condutividade independente ou da migração independente dos íons. - “ Em diluição infinita (c → 0), a “condutividade molar” dos eletrólitos é uma propriedade aditiva, sendo dada pela soma de contribuições fixas e características dos íons constituintes, chamadas de condutividades molares limites do cátion e do ânion”. - Kohlrausch mostrou que m° pode ser expressa como a soma das contribuições dos íons separados. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 7 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Lei da condutividade independente dos íons - Condutividades molares limites (m°), em água, a 298 K Pares de Pares de 2 -1 2 -1 eletrólitos m°/(S·cm ·mol ) Δm°/(S·cm ·mol ) eletrólitos m°/(S·cm2·mol-1) KCl NaCl KNO3 NaNO3 KI NaI 149,86 126,45 144,96 121,55 150,32 126,91 23,41 23,41 23,41 - Com isto pode-se afirmar que: KCl KNO3 NaCl NaNO3 BaCl2 Ba(NO3)2 149,86 144,96 126,45 121,55 139,94 135,04 Δm°/ (S·cm2·mol-1) 4,90 4,90 4,90 m° = +·+ + -·- Condutividade molar limite do cátion Condutividade molar limite do ânion Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 8 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares limites dos íons - O conhecimento das condutividades molares limites dos íons permite diversas aplicações. a) Determinação da condutividade molar de eletrólitos fracos e de sais dificilmente solúveis. - A relação: m° = +·+ + -·- é válida tanto para eletrólitos fortes como para fracos, embora as condutividades molares limites dos íons só possam ser determinadas pelo estudo de eletrólitos fortes. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 9 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares limites dos íons Exemplo 1: A condutividade molar limite (m°) do ácido acético (HAc). valores tabelados m°(HAc) = (H+) + (Ac-) obtida a partir dos ácidos fortes (por exemplo: HCl) obtida a partir dos acetatos solúveis (são eletrólitos fortes) Alternativa: m°(HAc) = m°(HCl) + m°(NaAc) - m°(NaCl) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 10 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares limites dos íons - Em soluções de sais dificilmente solúveis (pouco solúveis) é praticamente impossível realizar medidas de condutividade. Exemplo 2: A condutividade molar limite (m°) do cloreto de prata. m°(AgCl) = (Ag+) + (Cl-) valores tabelados Alternativa: m°(AgCl) = m°(AgNO3) + m°(NaCl) - m°(NaNO3) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 11 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares limites dos íons - Determinação da solubilidade de sais dificilmente solúveis - a solubilidade de um sal, numa dada temperatura, é expressa pela concentração da solução saturada. - pois tem-se o seguinte equilíbrio: Mν+Aν-(s) ν+Mz+(aq) + ν-Az-(aq) - Lembrando que: m = /c - e que em solução saturada de sais pouco solúveis é extremamente diluída, a sua condutividade molar está muito próxima da condutividade molar limite. - isto é: m m° e assim : m° = /s Solubilidade Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 12 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares limites dos íons Determinação da solubilidade de sais dificilmente solúveis Exercício: Determinar a solubilidade (expressar em conc. em quantidade de substância) do AgCl na água, a 25,0 °C, sabendo que a condutividade da solução saturada deste sal é 3,41x10-6 S·cm-1. Tendo-se usado uma água cuja condutividade era de 1,60x10-6 S·cm-1. Dado: m°(AgCl) = 138,3 S·cm2·mol-1 Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 13 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica - A condutividade varia com a adição do titulante, pois tem-se a seguinte situação: Titulado A + B + (C + D) [AD] + C + B Titulante - Três comportamento possíveis Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 14 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica 1) Quando a condutividade decresce Exemplo: titulação do ácido forte por base forte ou o inverso. - neste caso os íons H+ e OH-, que possuem elevadas condutividades, são removidos sob a forma de H2O e substituídos por outros de menores condutividades. - se é a titulação da solução de ácido clorídrico por solução de hidróxido de sódio temos a seguinte reação: H+(aq) + Cl-(aq) + (Na+(aq) + OH-(aq)) H2O(l) + Na+(aq) + Cl-(aq) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 15 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica H+(aq) + Cl-(aq) + (Na+(aq) + OH-(aq)) H2O(l) + Na+(aq) + Cl-(aq) m 0 Vpf Vgasto Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 16 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica 2) Quando a condutividade permanece praticamente inalterada - Caso onde ocorre reações de precipitação. Exemplo: a titulação de uma solução de KCl por solução padrão de AgNO3 K+(aq) + Cl-(aq) + (Ag+(aq) + NO3-(aq)) AgCl(s) + K+(aq) + NO3-(aq) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 17 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica K+(aq) + Cl-(aq) + (Ag+(aq) + NO3-(aq)) AgCl(s) + K+(aq) + NO3-(aq) m 0 Vpf Vgasto Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 18 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica 3) Quando a condutividade cresce Exemplo: a titulação de um ácido fraco por uma base fraca. - é o caso da titulação de solução de ácido acético com solução de hidróxido de amônio. CH3COOH(aq) + (NH4OH(aq)) H2O(l) + NH4+(aq) + CH3COO-(aq) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 19 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Aplicações das condutividades molares Determinação do ponto final em análise titrimétrica – Titulação Condutométrica CH3COOH(aq) + (NH4OH(aq)) H2O(l) + NH4+(aq) + CH3COO-(aq) m 0 Vpf Vgasto Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 20 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Fraco - Os eletrólitos fracos não são totalmente ionizados em solução; - Assim a condutividade molar provém do equilíbrio de ionização ou dissociação destes; - por exemplo, em uma solução de um ácido fraco, HA, o seguinte equilíbrio é estabelecido: HA(aq) + H2O(l) - em que temos: K a= H3O+(aq) + A-(aq) a H O a A + - 3 a HAa H O 2 =1 pelo fato da água ser o solvente Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 21 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Fraco HA(aq) + H2O(l) H3O (aq) + A (aq) + - K a= a H O a A + - 3 a HA - A condutividade depende do número de íons em solução e, portanto, do grau de ionização, , do eletrólito. - Considerando uma solução diluída tem-se que: ai (ci/c°), pois i 1, isto é, a solução tem comportamento de solução diluída ideal. - No equilíbrio teremos que: c(H3O+) = ·c c(A) = ·c c(HA) = (1-)·c Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 22 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Fraco HA(aq) + H2O(l) - Tendo que : H3O (aq) + A (aq) + - K a= a H O a A + - 3 a HA ai (ci/c°) c(H3O+) = ·c c(A) = ·c c(HA) = (1-)·c - Então: 2 K a= α (c / c °) (1−α) ou {[ Ka 4(c / c °) α= 1+ 2(c /c °) Ka Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano ] } 1 /2 −1 23 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Fraco HA(aq) + H2O(l) H3O+(aq) + A-(aq) - Na diluição infinita o ácido (eletrólito) está completamente ionizado, assim: m = m° - Já em soluções diluídas de eletrólito fraco somente uma fração () está ionizada, - Portanto: m = ·m° ou = m / m° Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 24 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Fraco HA(aq) + H2O(l) - tendo Ka , m = ·m° e a equação: H3O+(aq) + A-(aq) α(c /c °) 1 α =1+ K a - chega-se à lei da diluição de Ostwald que é: Λm(c / c °) 1 1 = + Λm Λm ° K (Λ °)2 a m Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 25 Soluções Eletrolíticas Condutividade das soluções Eletrolíticas Eletrólito Fraco - Determinação de pKa por medida de condutividade - exemplo: - Uma solução aquosa de ácido acético 0,0100 mol·dm-3 tem, à 298 K, condutividade molar de 1,65 mS·m2·mol-1. Sabendo que a condutividade molar limite deste ácido é 39,05 mS·m2·mol-1 calcule o grau de ionização e o pKa. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 26 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons - Para compreendermos as medidas de condutividades devemos saber a razão de os íons se deslocarem a velocidades diferentes, de terem condutividades molares diferentes e de as condutividades molares dos eletrólitos fortes serem função decrescente da raiz quadrada da concentração em quantidade de substância. - Para isto devemos considerar que, embora o movimento de um íon em solução seja sempre aleatório, a presença de um campo elétrico introduz uma componente orientada do movimento e há uma migração do íon através da solução. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 27 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons Velocidade de migração - O campo elétrico () que aparece entre dois eletrodos com diferença de potencial de é dado por: ε= Δϕ l - em que l é a distância entre os eletrodos - Neste campo, um íon com carga z·e, sofre uma força cujo modulo é: F =|z|eε =|z|e Δϕ l Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 28 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons Velocidade de migração - Um cátion responde a aplicação do campo sendo acelerado para o eletrodo negativo e um ânion no sentido oposto. - Este movimento acelerado é de curta duração; - quando o íon se desloca através do solvente, sofre uma força de atrito retardadora, Fatr , proporcional a sua velocidade, s, isto é: raio do íon Fatr s ou Fatr = 6· ·a·s Fórmula de Stokes Velocidade de migração Viscosidade do solvente Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 29 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons Velocidade de migração (s) mas F e Fatr atuam em direções opostas e os íons adquirem rapidamente uma velocidade terminal, a velocidade de migração, s, quando uma força equilibra a outra. F =|z|eε F = Fatr Fatr = 6·π·η·a·s - e assim: |z|eε s= 6π ηa Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 30 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons Mobilidade iônica (u) - Como vimos: s ou s = u· - em que u é a mobilidade iônica, isto é, a velocidade do íon por unidade de campo elétrico (gradiente de potencial). - assim: s u= ε ou u= |z|e 6π ηa Mobilidades iônicas na água a 298 K [u/(10-8 m2·s-1·V-1)] H+ 36,23 OH- 20,64 Na+ 5,19 Cl- 7,91 K+ 7,62 Br- 8,09 Zn2+ 5,47 SO42- 8,29 Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 31 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade - A utilidade das mobilidades iônicas se manifesta na relação que elas proporcionam entre as grandezas acessíveis às medidas e às grandezas teóricas. - Temos que: - Isto é: u = z·F·u assim: m° = (+·z+·u+ + -·z-·u-)F Número de carga (igual ao modulo da valência) - por exemplo: para o CuSO4 (z:z) onde z = 2 - tem-se que: m° = z(u+ + u-)F Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 32 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade = z·F·u Por que esta relação é válida? - Imagine a seguinte situação em solução eletrolítica (um eletrólito forte) sob a ação de um campo elétrico: área A on âni + tio á C _ n t s +· t s -· Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 33 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade Considerando que: - c é a concentração do eletrólito - + o número de cátions por unidade formal de eletrólito - - o número de ânions por unidade formal de eletrólito - z+ o número de carga do cátion - z- o número de carga do ânion teremos que: +·c e -·c são as concentrações de cátions e ânions [para uma espécie qualquer (cátion ou ânion) vamos simplificar para: ·c] Com isto teremos que a densidade numérica, isto é, o número de partículas por unidade de volume será: n = ·c·NA Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 34 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade área A - Com isto teremos que: n _ o i ân + n tio á C s -· t t s +· - o número de íons que atravessa a área A, imaginária, durante o intervalo t é igual ao número de íons que estiverem à distância s·t desta área e, portanto, ao número de íons no volume s·t·A; - o número de íons de cada espécie nesse volume é: (s·t·A)·( ·c·NA) - assim o fluxo através da área considerada será: Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 35 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade - assim o fluxo através da área considerada será: o número de cada tipo de íon que passa através da área divido pelo valor da área e pela duração do intervalo de tempo. sΔ tAν cN A - isto é: J (íons)= =sν cN A AΔ t - cada íon é portador da carga z·e, então o fluxo de carga ( a densidade de corrente) é: J (carga )=|z|esν cN A =|z|sν cF - mas: s = u· e então: J (carga)=|z|uν cFε Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 36 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade - No entanto a corrente I, através da área, provocada pelo movimento dos íons que estamos analisando, é: |z|uν cFAΔ ϕ l I = J·A I =|z|uν cFεA= - Mas, também, de acordo com a lei de Ohm: Δϕ κ AΔ ϕ I= =GΔ ϕ = R l = |z|·u· ·c·F z = |z| - como: λ= κ ν c λ =zuF m° = (+·z+·u+ + -·z-·u-)F Conc. dos íons (+ ou -) Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 37 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade Número de Transporte (ti) - É definido como a fração da corrente gerada pelo movimento dos íons de uma certa espécie (i). - Para uma solução com as duas espécies de íons, cátions (+) e ânions (-) temos que: It -= I I+ t += I - mas: I = I + + I- - logo: Corrente pertinente aos ânions Corrente total t+ + t - = 1 Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 38 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade Número de Transporte (ti) - O número de transporte limite (ti°), define-se de maneira semelhante, tomando porém a solução do eletrólito a diluição infinita. - Na condição de diluição infinita podemos considerar que não há interações iônicas. - Como temos que a corrente associada a cada tipo de íon está relacionada com a mobilidade dos íons pelas seguintes equações: |z+|u+ν +cFAΔ ϕ I += l |z -|u-ν -cFAΔϕ I -= l I+ t += I It -= I I = I+ + I - |z+|ν +u+ t + °= |z +|ν +u+ +|z -|ν -u- |z -|ν -ut - °= |z+|ν +u+ +|z -|ν -u- Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 39 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade ut - °= u+ +u - Número de Transporte (ti) - como |z+|·+ = |z-|·- para todas as espécies iônicas, logo: - e como: + = |z+|·u+·F e u+ t + °= u+ +u- - = |z-|·u-·F, logo: ν +λ + ν λ = + + ν +λ + +ν -λ - Λ m ° ν +λ +=t + °Λm ° λ+ = |z+|·u+·F ν -λ ν -λ t - °= = ν +λ + +ν -λ - Λ m ° ν -λ -=t - °Λm ° λ- = |z-|·u-·F t + °= Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 40 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade Número de Transporte (ti) Medidas dos números de transporte - Existem três métodos para a determinação experimental do número de transporte. - a) Método de Hittorf: baseado na observação das variações de concentrações nas regiões catódicas e anódicas; - b) Método da fronteira móvel: acompanha-se diretamente o movimento de uma fronteira formada numa coluna de eletrólito que indica o movimento dos íons, - c) Método baseado na medida da f.e.m de células galvânicas de concentração. ** Independente do método as condições experimentais devem ser tais que o transporte ocorra apenas por migração, ou seja, os fenômenos de difusão e convecção devem ser eliminados, ou pelo menos minimizados. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 41 Soluções Eletrolíticas Mobilidade dos íons e Condutividade Número de Transporte (ti) - Método Hittorf (J. W. Hittorf – 1853) Célula de Hittorf Coulômetro (Coulombímetro) de Cobre Fonte DC Fonte:http://www.phywe.fr/index.php/fuseaction/download/lrn_file/versuchsanleitungen/P3060401/e/L EC06_04_LV.pdf Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 42 Soluções Eletrolíticas Número de Transporte (ti) - Método Hittorf (J. W. Hittorf – 1853) O método se baseia no seguinte: - a eletrólise de uma solução provoca modificações nas concentrações das espécies iônicas nas vizinhanças dos eletrodos, devido às mobilidades dos diversos íons serem diferentes. - fazendo-se a eletrólise em uma célula de Hittorf é possível determinar as concentrações inicial e final, nos compartimentos anódico e catódico, o que permitirá calcular o número de transporte das espécies iônicas de um eletrólito. ** A migração dos íons é acompanhada pela migração do solvente, pois estes estão solvatados. Nestas circunstâncias, é necessário realizar as determinações das quantidades de íons presentes no início e no final da eletrólise usando como referência uma massa ou volume constante de solvente. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 43 Soluções Eletrolíticas Número de Transporte (ti) - Método Hittorf (J. W. Hittorf – 1853) - Vamos considerar o caso de um eletrólito 1:1 do tipo AX e que os eletrodos são inertes em relação aos íons provenientes do eletrólito. - Determinação do número de transporte do cátion: - Como já vimos anteriormente: I+ t += I q+ t += q - em que: • q é a carga total que circulou durante a eletrólise (carga esta que pode ser determinada pelo coulômetro); • q+ é carga transportada pelos cátions durante a eletrólise - Como determinar q+? Lembre-se, para o ânion: It -= I t -= |q -| q e que: Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano t + + t- = 1 44 Soluções Eletrolíticas Número de Transporte (ti) - Método Hittorf (J. W. Hittorf – 1853) - Como determinar q+? Para o caso de eletrólise com eletrodos inertes e sendo os íons do eletrólito espécies não eletroativas tem-se o seguinte: - durante a eletrólise, no cátodo (polo negativo) ocorre a redução e isto faz com que cátions A+z migrem para este compartimento e ânions X-z saiam. - se conhecemos ou determinamos as quantidades inicial e final de cátions presentes no compartimento catódico, encontramos a quantidade que migrou durante a eletrólise; - se nc° é a quantidade de substância inicial do cátion presente no compartimento catódico e nc a quantidade de substância do cátion no final da eletrólise neste compartimento; - então ncm, a quantidade de substância do cátion que migrou para o compartimento catódico, devido a eletrólise será dada por: nc = nc° + ncm ou ncm = nc - nc° Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 45 Soluções Eletrolíticas Número de Transporte (ti) - Método Hittorf (J. W. Hittorf – 1853) - Como determinar q+? - conhecendo: - então: ncm = nc - nc° nmc z +F t += q e tendo que: e q+ = ncm·z+·F t+ + t - = 1 - Análise semelhante também pode ser feita para o ânion neste compartimento (compartimento catódico). - Buscando uma determinação mais precisa, recomenda-se a determinação do número de transporte de uma espécie iônica nos dois compartimentos. - Eletrodos ativos também pode ser usados, pois a essência do método está no balanço de massa nos compartimentos devido a eletrólise. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 46 Soluções Eletrolíticas Número de Transporte (ti) - Método Hittorf (J. W. Hittorf – 1853) Exemplo: 1) Uma solução de LiCl foi eletrolisada numa célula de Hittorf usando eletrodos inertes. Após passar uma corrente de 0,790 A durante 2,00 h, a massa de LiCl (M = 42,39 g·mol -1) do compartimento anódico diminuiu de 0,793 g. reação global: 2H2O(l) + 2Cl-(aq) → Cl2(g) + H2(g) + OH-(aq) a) Calcule os números de transporte para os íons. b) Se Λ°m(LiCl) é 115,0 S·cm2·mol-1, quais são as condutividades iônicas e as mobilidades iônicas? 2) Uma solução 7,545×10-3 mol·kg-1 de CdI2, foi eletrolisada usando eletrodos inertes numa célula de Hittorf. A massa de cádmio depositada no catodo foi de 0,03462 g. 152,64 g de solução foi retirada do compartimento anódico e apresentou 0,3718 g de CdI2. Calcule os números de transporte para os íons. reação global: CdI2(aq) Cd(s) + I2(aq) 3) Uma solução de AgNO3 foi eletrolisada usando eletrodos de prata visando calcular o número de transporte da Ag+ e do NO3-. Foi analisado apenas o compartimento anódico. Após a aplicação de 140,28 mA durante 500 s, foi verificado que a quantidade de substância de AgNO3 da solução mudou de 1,08 mmol para 1,50 mmol. A partir desses dados, calcule o número de transporte dos íons. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 47 Soluções Eletrolíticas Interações íon-íon e Condutividade dos eletrólitos - Como vimos a condutividade molar diminui linearmente com a raiz quadrada da concentração, na região de concentrações moderadas; - O que é dado pela lei Kohlrausch: m = °m – K·c1/2 - Os eletrólitos fortes encontram-se completamente ionizados em todas as concentrações, embora em concentrações maiores se possam formar pares iônicos, especialmente quando os íons são bi ou trivalentes; - Portanto, a causa responsável pela diminuição da condutividade molar com a concentração deve ser atribuída, neste caso, essencialmente à redução da mobilidade iônica permanecendo constante o número de íons disponíveis para o transporte da corrente, pelo menos enquanto a concentração for moderada. - A teoria de P. Debye e E. Hückel (1923) propõe um modelo de estrutura para uma solução eletrolítica onde o coeficiente de atividade iônico médio é dependente da raiz quadrado da concentração do eletrólito (c1/2). Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 48 Soluções Eletrolíticas Interações íon-íon e Condutividade dos eletrólitos - De acordo com esta teoria um eletrólito forte possui uma “estrutura” em que cada íon está envolvido por uma atmosfera de carga igual e oposta. A densidade de carga desta atmosfera diminui radialmente do íon central para a periferia, mas sendo perfeitamente simétrica, os centros da atmosfera e do íon central coincidem perfeitamente. Atmosfera iônica sem a ação de um campo elétrico - No entanto para levar em conta o efeito do movimento na condutividade, é preciso alterar a imagem de atmosfera iônica como uma nuvem de carga com simetria esférica. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 49 Soluções Eletrolíticas Interações íon-íon e Condutividade dos eletrólitos - Quando um íon está em movimento devido a ação de campo elétrico, a atmosfera iônica deste não se ajusta instantaneamente em torno deste de forma simétrica. + - Atmosfera iônica sob a ação de um campo elétrico - O efeito geral deste desequilíbrio, uma vez que as duas cargas envolvidas têm sinais opostos, é o aparecimento de uma força retardadora do movimento do íon. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 50 Soluções Eletrolíticas Interações íon-íon e Condutividade dos eletrólitos - Esta força retardadora tem três contribuições: - Primeira: a força de atrito proporcional à velocidade do íon em relação ao solvente considerado imóvel. A que já foi considerada quando definimos velocidade de migração (tendo a lei de Stokes como válida); - Segunda: a força que tem origem num efeito assimétrico ou de relaxação da atmosfera iônica. - Terceira: a força que tem origem num efeito eletroforético, assim chamado pela semelhança com o que se opõe ao movimento de uma partícula coloidal num campo elétrico. O solvente em torno de um íon positivo contém mais íons negativos do que positivos. Mas as cargas negativas com água de hidratação deslocam-se em direção oposta ao movimento do íon positivo. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 51 Soluções Eletrolíticas Interações íon-íon e Condutividade dos eletrólitos - A formulação quantitativa destes efeitos não é simples. Mas com base nestes argumento, P. Debye, E. Hückel e depois L. Onsager (1926) estabeleceram uma relação entre a condutividade molar e condutividade molar limite, que é conhecida como equação de Onsager. m = °m – (A + B· °m)·c1/2 - em que: Aα 2 z ηT 1/ 2 e z3 B α 3/ 2 T são constantes que dependem da natureza do solvente e da valência dos íons do eletrólito. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 52 Soluções Eletrolíticas Interações íon-íon e Condutividade dos eletrólitos experimental teórico Dependência entre as condutividades molares e a raiz quadrada da força iônica, em comparação com a dependência prevista pela teoria de Debye-Hückel e Onsager. Fonte: ATKINS, P. W.; PAULA, J. de, Físico-Química, 9ª. ed.,Vol. 2, Rio de Janeiro, LTC, 2012. Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 53 Físico-química C1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 54