Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Norma dos Santos Lázaro, Eliane Moura Falavina dos Reis, Christiane Soares Pereira & Dalia dos Prazeres Rodrigues Laboratório de Referência Nacional de Cólera e outras Enteroinfecções Bacterianas – Laboratório de Enterobactérias LRNCEB/LABENT IOC/VPSRA/FIOCRUZ Outubro/2008 0 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais INDICE Página 1. Taxonomia ....................................................................................... 2. 2. Características Gerais ..................................................................... 4 3. Habitat ............................................................................................ 6 4. Características clínicas e patogenia ................................................ 6 5. Ecologia ........................................................................................... 10 6. Epidemiologia ................................................................................. 11 7. Diagnóstico Laboratorial – Coleta de Espécimes Clínicos .......... ... 12 7.1. Sangue............................................................................................ 12 7.2. Fezes ............................................................................................. 13 7.3. Transporte de espécimes clínicos ................................................. 15 . Diagnóstico Laboratorial de Salmonella spp. de Espécimes Fecais....... 16 Esquema de Isolamento - Fluxograma................................................ 17 8.1. Pré-Enriquecimento ....................................................................... 18 8.2. Enriquecimento Seletivo ................................................................ 18 8.3. Meios Seletivos-Indicadores .......................................................... 20 7.4. Identificação Bioquímica Presuntiva (Meios de Triagem) .............. 25 8.5.Caracterização Bioquímica Complementar ..................................... 31 9. Aspectos Gerais sobre os Antígenos das Enterobactérias .............. 41 10. Controle de Qualidade de Meios de Cultura, Reagentes e Equipamentos ................................................................................ 47 11. Anexos ............................................................................................. 50 12. Bibliografia ....................................................................................... 54 1 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 1. Taxonomia A designação do gênero Salmonella foi adotada em 1900 por Lignières em homenagem a Daniel Salmon, o qual isolou o microrganismo conhecido como Salmonella enterica sorovar Choleraesuis de suínos. Sua nomenclatura teve como orientação inicial informações relacionadas às condições clínicas ou ao hospedeiro do qual o microrganismo era isolado. Entretanto, a diversidade inicial de sorovares que apresentavam etiologia não específica de um determinado hospedeiro, levou inicialmente a designação do mesmo sorovar em hospedeiros distintos, em locais diferentes. A partir de 1920, um grupo de microbiologistas, liderados por Fritz Kauffmann em Copenhagen e por Philip Bruce White em Londres unificaram a taxonomia, tendo seu trabalho reconhecido pelo subcomitê de Salmonella da Sociedade Internacional de Microbiologia em 1933, como esquema de Kauffmann-White. A partir de então sua nomenclatura sofreu algumas modificações tendo por base a utilização de métodos clássicos e métodos moleculares, como AFLP, e seqüenciamento 16S rRNA, MLEE, FAFLP. Na atualidade o gênero é dividido em duas espécies e seis subespécies ou subgêneros, S.enterica (subespécies enterica, salamae, arizonae, diarizonae, houtenae e indica) e S.bongori. A forma de redação na nomenclatura atual como por ex. do sorovar Typhimurium, deve ser reportada como Salmonella enterica subespécie enterica sorovar Typhimurium. Contudo pode ser redigida de uma forma reduzida onde o nome do sorovar é iniciado com letra maiúscula, porém nunca itálico, como por exemplo, Salmonella sorovar Typhimurium ou Salmonella Typhimurium. Salmonella é o gênero de maior relevância na família Enterobacteriaceae, embora sua relação filogenética seja de certo modo conjuntural. Dependendo do método empregado, S.enterica é mais relacionada com Citrobacter do que com Escherichia coli (homologia de DNA) ou em sentido inverso quando empregado método de avaliação de grandes fragmentos (23S rRNA). 2 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Em geral, acredita-se que Salmonella e E.coli descendam de um ancestral comum a 160-180 milhões de anos, durante o período terciário, em paralelo com os invertebrados. E.coli e Salmonella difásica se adaptaram aos mamíferos, enquanto sorovares monofásicos permaneceram adaptados aos repteis. Em cada subespécie são reconhecidos diferentes números de sorovares tendo por base a caracterização de seus antígenos somáticos (O) e flagelares (H), perfazendo atualmente >2.500 sorovares. Entre as espécies, a subespécie S.enterica apresenta maior número de sorovares, sendo responsável por 99% dos isolamentos, usualmente de animais de sangue quente, cuja distribuição editada por Popoff M.Y. & Le Minor L., 2001 encontra-se apresentada na Tabela 1. Em 2002, foram incluídos 18 novos sorovares, sendo 12 pertencentes a S.enterica subespécie enterica, 2 subespécie salamae, 2 diarizonae, 1 houtenae e 1 S. bongori. Atualmente são reconhecidos cerca de 2510 sorovares incluídos em duas espécies S.enterica e S. bongori, como discriminados abaixo: Salmonella enterica subsp. enterica – 1490 sorovares Salmonella enterica subsp salamae - 500 Salmonella enterica subsp arizonae - 94 Salmonella enterica subsp diarizonae - 320 Salmonella enterica subsp houtenae 72 Salmonella entérica subsp. indica 12 Salmonella bongori 22 Em 2004 uma nova espécie foi proposta, tendo sido designada Salmonella subterranea. Seu isolamento foi efetuado em sedimento subterrâneo, de solo com baixo pH na Oak Ridge, Tennessee. Esta amostra apresentou forte inter-relação com S.bongori, através de seqüenciamento 16S rRNA além de algumas características como indol positivo, H2S e lisina descarboxilase negativa, pigmento amarelo e um flagelo lateral. A amostra tipo proposta é ATCC BAA-86. 3 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 1. Nomenclatura atual Espécies S.enterica Subespécies enterica salamae arizonae diarizonae houtenae indica ATCC no. 43971 43972 13314 43973 43974 43976 S.bongori 43975 2. Características Gerais Pertencente a família Enterobacteriaceae, sendo que morfologicamente bastonetes Gram negativos, geralmente móveis, formam ácido e, na maioria das vezes, gás a partir da glicose, excetuando-se os sorovares S. Typhi, S. Pullorum e S.Gallinarum (≤5% produzem gás). Também fermentam arabinose, maltose, manitol, manose, ramnose, sorbitol, trealose, xilose e dulcitol. A maioria das salmonelas de interesse clínico não fermenta lactose, contudo, muitas cepas podem adquirir esta característica através de transferência plasmidial. São oxidase negativo, catalase positivo, indol, Voges-Proskauer (VP), vermelho de metila (VM), malonato e uréia negativos. Produzem gás sulfídrico a partir da redução do enxofre por ação da enzima cisteína desulfidrase. Apresentam ainda como características metabólicas a capacidade de descarboxilar os aminoácidos lisina e ornitina, reduzir nitratos a nitritos e utilizar o citrato como fonte única de carbono. No entanto, ocorrem variações em função do sorovar e/ou subspécie. Por exemplo, S.Arizonae não fermenta o dulcitol, mas freqüentemente é malonato positivo. S. Pullorum não fermenta o dulcitol e S. Gallinarum não descarboxila ornitina e não produz gás a partir da fermentação da glicose. Somando-se a estas características, S. Pullorum e S. Gallinarum são imóveis, enquanto as salmonelas paratíficas são móveis. As características bioquímicas que permitem diferenciar as distintas subespécies dentro da espécie enterica e as espécies S. bongori e S. subterranea são apresentadas na tabela 2. 4 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 2. Características diferenciais de espécies e subespécies de Salmonella spp. Espécies Dulcitol ONPG(2h) Malonato Gelatinase Sorbitol Crescimento KCN L(+)Tartarato(a) Galacturonato γ-glutamyl transferase β-glucuronidase Mucato Salicina Lactose Lise-fago O1 Habitat normal animais Sangue quente + + + + + + - (75%) - + + + + + + + - (70%) + (75%) + + + + + + + - Indica Características houtenae + + + + + D + + diarizonae salamae + + + +(b) D + + arizonae enterica Subespécies S.enterica S.bongori S.subterranea d d + + d + d + + + + + + + + + D + + + +e ND ND ND ND ND ND Sangue frio e meio ambiente ? a: d-tartarato; b: S.Typhimurium (d), S.Dublin (-); +: ≥90% reações positivas; - : ≥90% reações negativas; d: diferentes reações(sorovares); e: crescimento sem produção de ácido 5 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 3. Diferenciação bioquímica entre S. Typhi, S. Paratyphi A e sorovares de S.enterica subsp. enterica mais freqüentes. S. Typhi S.Paratyphi A - + S. enterica subsp. enterica + Dulcitol +/- + + Arabinose -/ + + + + - + + + Dehidrolação Arginina +/- + + H2S +* - / (+) + - - + Glicose (gás) Ácido: Descarboxilação: Lisina Ornitina Citrato de Simmons + : positivo; -: negativo; (+) 75% positivo após 48 horas; *: fraco. 3. Habitat O habitat natural das salmonelas pode ser dividido em 3 categorias com base na especificidade do hospedeiro e padrão clínico por eles determinado: altamente adaptadas ao homem incluindo S. Typhi e S. Paratyphi A, B e C, agentes da febre entérica (febres tifóide e paratifoide); altamente adaptadas aos animais representadas por S. Dublin (bovinos), S.Choleraesuis e S. Typhisuis (suínos), S.Pullorum e S.Gallinarum (aves), responsáveis pelo paratifo dos animais. Entretanto, em determinadas situações (idade jovem, pacientes com doenças crônicas, idosos, imunocomprometidos) os sorovares S.Dublin e S.Choleraesuis podem determinar no homem, um quadro septicêmico, i.é., mais grave do que o causado por S.Typhi. A terceira categoria inclui a maioria dos sorovares que atingem indiferentemente o homem e animais, designadas salmonelas zoonóticas, as quais são responsáveis por quadro de gastrenterite (enterocolite) ou doenças de transmissão alimentar. Sua distribuição é mundial, sendo os alimentos os principais 6 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais veículos de sua transmissão. São responsáveis por significantes índices de morbidade e mortalidade, tanto nos países emergentes como desenvolvidos, determinando pequenos e grandes surtos envolvendo, principalmente, o consumo de alimentos de origem animal como ovos, aves, carnes e produtos lácteos. 4. Características clínicas e patogenia A dose infectante varia de 105 a 108 células, porém em pacientes imunocomprometidos têm sido observadas doses ≤103 para alguns sorovares, envolvidos em surtos de doenças de transmissão alimentar (DTA). A manifestação clínica inclui quadros entéricos agudos ou crônicos, além de localização extraintestinal, como infecções septicêmicas, osteomielite, artrite, hepatite, etc. Os microrganismos penetram por via oral invadindo a mucosa intestinal, com disseminação para a submucosa, resultando em enterocolite aguda. Normalmente o quadro diarréico é moderado, sem a presença de sangue, entretanto, em alguns quadros clínicos, pode ocorrer perda de pequeno volume de fezes associado a tenesmo e sangue. Seu transporte, através do sistema reticulo endotelial, aliado a capacidade de multiplicação no interior dos macrófagos, possibilitam sua manutenção e disseminação no organismo. Indivíduos subnutridos ou com deficiências do sistema imune podem apresentar infecções de extrema gravidade, como por exemplo, à incidência de bacteremia em pacientes aidéticos, dos quais 20 a 60% relatam infecção gastrintestinal prévia. Sua virulência é multifatorial, incluindo mobilidade, habilidade de penetrar e replicar nas células epiteliais, resistência à ação do complemento, produção de entero, cito e endotoxina, sendo desconhecido o exato papel de cada um, para a manifestação da doença. Em alguns sorovares a virulência é mediada por um plasmídio, em uma região do operon de 8Kb que contem os genes spvR ABCD, cuja origem ainda encontra-se desconhecida. A relação entre a presença deste plasmídio de virulência e sorovar já se encontra bem estabelecida em S.Dublin, S.Gallinarum e S.Choleraesuis. Em pacientes imunodeprimidos a salmonelose pode ser assintomática ou ainda determinar diarréia auto-limitada em 95% dos casos. As infecções clínicas 7 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais humanas determinadas por Salmonella spp. apresentam quatro síndromes clínicas distintas: gastrenterite, febre entérica, septicemia com ou sem infecções localizadas e determinar o estado de portador assintomático. Entre a totalidade de sorovares S.Enteritidis e S.Typhimurium são os sorovares de maior prevalência em casos de septicemia e infecções localizadas. 4.1. Infecções gastrentéricas: O quadro clinico humano pode variar com fezes diarréicas de características aquosas semelhante à diarréia colérica a consistentes com sangue oculto ou visível e muco. O quadro diarréico regride usualmente de 3 a 4 dias. Pode ocorrer febre (39ºC) em cerca de 50% dos casos e normalmente de curta duração (dois dias), cólicas abdominais leves a intensas quando ocorre invasão dos linfonodos (linfadenite mesentérica), podem mimetizar apendicite. Desenvolvimento de síndrome de cólon irritado (SCI), que se caracteriza por diarréia branda persistente seguida de quadro agudo de gastrenterite. Em pacientes portadores de SCI, a persistência como portador assintomático em 31% após cinco anos. Em pacientes hospitalizados, portadores de câncer, o quadro reincide ocasionando quadro de pneumonia semelhante àquele ocasionado por Pneumocystis. Salmonella permanece presente nas fezes após cessarem os sintomas, com uma média de excreção durante o período de cinco semanas. O estágio de portador persiste por até nove semanas em 90% dos adultos, sendo em crianças <5 anos inferior a sete semanas. A freqüência deste estagio entre manipuladores de alimentos usualmente é reduzida (0,5%). Entre estes profissionais normas de educação e higiene no manuseio de alimentos representam os principais aspectos para minimizar o risco de transmissão alimentar. 4.2. Bacteremia Febre entérica é usualmente determinada por S.Typhi, S.Paratyphi A e C e S.Sendai entretanto pode ser determinada por outros sorovares. Sua freqüência é mais elevada entre pacientes do sexo masculino, acometendo de 1 a 4% dos pacientes imunodeprimidos (especialmente doenças do sistema reticoendotelial, linfoma, leucemia, câncer, lúpus sistêmico e outras doenças vasculares. O risco de 8 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais desenvolvimento de bacteremia entre pacientes com HIV é de 20-100 vezes maior do que na população normal. Entre estes somente 20% dos pacientes apresentam quadro posterior diarréico. Usualmente a bacteremia é apresenta elevada prevalência em adultos, os quais tem como histórico o uso prévio de drogas imunosupressoras. Entre estes pacientes, a complicação subseqüente usualmente é a pneumonia, sendo entre idosos a responsável por elevados índices de letalidade. 4.3. Infecções do Sistema Nervoso Central As infecções incluem meningites, ventriculite, abcessos, empiema subdural. A presença de diarréia e outros sintomas gastrentericos é apontada em 50% dos casos. Embora a bacteremia seja comum em pacientes com AIDS, complicações do sistema nervos central raramente são apontadas. A maior prevalência destas infecções é apontada entre pacientes de longo período de hospitalização, drenagem cirúrgica, terapia antimicrobiana prolongada, especialmente em pacientes com HIV. Os sorovares de maior prevalência em bacteremia e nas infecções do sistema nervoso central são S. Typhimuriume S.Enteritidis. 4.4. Infecções em outros sítios Variam de bacteriuria ao comprometimento de juntas (mais comuns), de ossos a tecidos e endocardites (<1 a 0.1%), e raramente no baço, genital e complicações pulmonares. Podem determinar infecções no trato urinário, de maior prevalência em mulheres, das quais 50% com quadro diarréico. Os principais fatores de risco são imunossupressão, cistite, pielonefrite, abscesso renal e manuseio de repteis, entretanto a maioria dos casos ocorre em pacientes sem fatores de risco conhecidos. Alem das meningites, Salmonella é reconhecida por ocasionar lesões endovasculares e osteomielite acometendo 7 a 10% dos pacientes >50 anos. Em pacientes que apresentam como fatores de risco a diabetes, Infecção por HIV e aterosclerose a presença de Salmonella é observada em placas 9 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais arteroscleróticas, tendo em vista a propriedade de se multiplicar nos fagócitos encontradas nestas placas. Entre as complicações da gastrenterite podem ser citadas a rabdomiolise (injúria do músculo esquelético, usualmente acompanhado de falha renal; osteomielite que pode levar ao aparecimento de aneurisma abdominal aórtico, com elevado índice de mortalidade, linfadenite mesentérica, apendicite, peritonite, colecistite, pericardite, pleutopneumonia, insuficiência renal, têm sido amplamente apontadas como infecções extra-intestinais determinadas por Salmonella. Artrite reativa, artrite inflamatória e a síndrome de Reiter (ocorrência simultânea de uretrite e/ou cervicite, conjuntivite e artrite) tem sido reportadas por uma ampla variedade de enteropatógenos incluindo Salmonella spp. A incidência de artrite reativa e síndrome de Reiter em surtos variam de 6-29% e 3% respectivamente. Estudos recentes apontam entre pacientes com o marcador imunogenético HLA-B27 apresentam elevada probabilidade de desenvolver a síndrome de Reiter. A antibioticoterapia não é efetiva para o tratamento de artrite reativa. 5. Ecologia Salmonella spp. é eliminada em grande número nas fezes contaminando o solo e água. A sobrevida no meio ambiente pode ser muito longa, em particular na matéria orgânica. Pode permanecer viável no material fecal por longo período (anos), particularmente em fezes secas, podendo resistir mais de 28 meses nas fezes de aves, 30 meses no estrume bovino, 280 dias no solo cultivado e 120 dias na pastagem, sendo ainda encontrada em efluentes de água de esgoto, como resultado de contaminação fecal. Os produtos agrícolas não processados, como hortaliças e frutas e os alimentos de origem animal, como as carnes cruas, o leite e os ovos, são veículos freqüentes de salmonelas. A contaminação de origem fecal é geralmente a fonte para os produtos agrícolas, pela exposição à água contaminada; para o leite e ovos, através da exposição direta e para a carne, usualmente durante as operações de abate. 10 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais A contaminação cruzada é o fator principal no caso de alimentos elaborados como cereais, chocolate, doces, produtos a base de soja, produtos a base de ovos pasteurizados, leite em pó, ingredientes de rações para animais (farinha de peixe, de penas e de ossos) e condimentos. A contaminação durante a elaboração ou preparo pode resultar do contato direto com alimentos antes de sua cocção ou proveniente do meio ambiente, como no caso de superfícies contaminadas em cozinhas ou indústrias. Comparando com outros bastonetes Gram negativos, as salmonelas são relativamente resistentes a vários fatores ambientais. A adaptabilidade fisiológica de Salmonella é demonstrada por sua habilidade para proliferar em valores de pH entre 7.0 e 7.5 (extremos 3.8 – 9.5), temperatura de 35 - 43oC (extremos 5 a 46oC) e uma atividade hídrica (≥0,94), ocorrendo variações entre sorovares e/ou cepas. Nos produtos secos como o chocolate, o cacau em pó, as especiarias ou o leite em pó e em produtos congelados como os sorvetes, o normal é a sobrevivência por períodos de tempo prolongados. A bactéria é sensível ao calor, não sobrevivendo à temperatura superior a 700C, no entanto a termorresistência pode incrementar-se com menor coeficiente de atividade de água. A inativação ocorre rapidamente em temperatura de pasteurização em alimentos com atividade de água ≥0,95 a qual quando inferior, aumenta a termorresistência. Esta associação entre tolerância ao sal e ácido resistência são interdependentes. Certos processos como salmoura (≥9,0%) e defumação têm efeito limitado na sobrevivência das salmonelas, podendo sobreviver por vários meses na salmoura com cerca de 20% de sal, em produtos de elevado teor protéico ou de gordura. Como exemplos, podem ser citados a carne seca defumada e o pescado, onde apresentam capacidade de sobrevivência de várias semanas a meses. A relativa resistência que estes microrganismos apresentam à dessecação, congelamento, salmoura e defumação, explica porque sobrevivem em muitas classes de alimentos. O efeito bactericida das condições ácidas varia de acordo com a natureza do ácido utilizado no processo, onde os ácidos acético e propiônico são mais inibitórios que os ácidos lático e cítrico. 11 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 6. Epidemiologia A salmonelose é uma das zoonoses mais complexas em sua epidemiologia e controle, cujos PA drões diferem de uma região para outra. Isto se deve a diferenças nos hábitos alimentares, práticas de elaboração de alimentos, criação de animais e padrões de higiene e saneamento. O controle das salmoneloses representa um desafio para a Saúde Pública, tendo em vista a emergência de novos sorovares e a reemergência de outros em determinadas áreas, tanto nos países emergentes quanto naqueles industrializados. O fator epidemiológico mais destacado nos animais é o estado de portador, onde a falta de sintomas e as dificuldades técnicas para sua detecção antes ou durante a inspeção dos produtos de origem animal, os convertem em fonte contínua de contaminação do meio ambiente e, portanto, dos alimentos. Qualquer alimento que contém Salmonella é um risco potencial para o consumidor, cuja veiculação é facilitada, na atualidade, pela mudança nos hábitos alimentares da população. A necessidade cada vez mais intensa de produção/oferta de alimentos tem como fatores de risco, falhas quanto ao manuseio, transporte muitas vezes em condições inadequadas, aliados à ausência de critérios básicos de higiene e saneamento, os quais favorecem a disseminação. Considerando que sua principal via de transmissão está na cadeia alimentar, sua presença em animais, criados com objetivo comercial, aponta este microrganismo como o mais incidente e relevante agente etiológico de enteroinfecções. Isto resulta em milhões de dólares em perdas para a indústria, particularmente de bovinos, suínos e aves, tanto para o mercado interno quanto para exportação, onde em alguns países, a rigidez na inspeção representa uma necessidade constante de qualidade. Neste contexto, observa-se o aumento da resistência de Salmonella spp. aos antimicrobianos, com o percentual se elevando de 17% na década de 70 para 31% 12 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais no final dos anos 80 incluindo-se a resistência as fluoroquinolonas. Tal fato vem culminando neste século com o aparecimento, em diferentes paises, de cepas produtoras de diferentes tipos de beta-lactamases. A incidência de resistência bacteriana a antimicrobianos representa risco à saúde humana e animal. Este tema de extrema importância tem sido objeto de atenção de instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Escritório Internacional de Epizootias (OIE) e Codex Alimentarius, que vêm discutindo soluções globais para o problema. Tal fato tem por base sua distribuição mundial, sendo detectadas na maioria das espécies animais utilizados para consumo humano, além de animais silvestres e domésticos. 7. Diagnóstico Laboratorial - Espécimes clínicos 7.1. Sangue O hemocultivo reveste um interesse especial no caso de febre tifóide e paratifóide, porém não é constantemente positivo. Os percentuais de positividade, na ausência de tratamento antibiótico, são de 90% durante a primeira semana de evolução, 75% na segunda, 40% na terceira e 10% na quarta semana. Os hemocultivos são negativos nas síndromes de infecções transmitidas por alimentos (infecções intestinais), no entanto, estes sorovares podem causar septicemia em indivíduos imunocomprometidos. Principais cuidados para coleta: • A coleta deve ser efetuada antes da utilização de antimicrobianos • Efetuar a desinfecção da superfície dos frascos de cultivo (álcool 70ºGL); • Fazer a assepsia do sítio de punção (álcool 70ºGL ou solução iodada) em movimentos concêntricos do centro para a extremidade; Volume para cultura: Adultos: 20mL, coletados com seringa, divididos em duas alíquotas para inoculação em dois frascos de meio de cultura (inocular 10mL/100mL de meio enriquecido 13 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais acrescido de anticoagulante SPS (Polianetolsulfonato sódico). Crianças: (inocular 1mL/10mL de meio enriquecido acrescido de SPS). Peso Volume total <1,5 kg 1 mL < 4 kg 1 mL 4-13 kg 3 mL 13-25 kg 10 mL >25 kg 20 mL Processamento das amostras de sangue • Todas as culturas de sangue (hemocultura) devem ser incubadas a 35ºC e quando o hemocultivo por efetivado por metodologia tradicional, avaliado por 7 dias. Paralelamente pode ser empregada a semeadura direta em meio seletivo-indicador. • A partir do crescimento de colônias com morfologia típica, deverá ser efetuado o isolamento e subseqüente identificação bioquímica e antigênica. • Caso ocorra o recebimento de sangue coagulado, deve ser efetuada a dilaceração do coágulo, através de uma pipeta e em seqüência a semeadura em meio de enriquecimento e paralelamente em seletivo-indicador. 7.2. Fezes: Aspectos relevantes para a coleta • As fezes devem ser coletadas durante a fase aguda, antes de se iniciar o tratamento com antibióticos. • Swabs retais devem ser priorizados para pacientes com infecção ativa, do mesmo modo que para crianças ou indivíduos com dificuldade de obtenção de amostras. 14 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais • A pesquisa de Salmonella Typhi nas fezes é indicada a partir da segunda semana da doença, assim como na convalescença e na detecção de portadores. Fezes de emissão espontânea: • Estas amostras devem ser colhidas em recipientes de boca larga, limpos e/ou esterilizados, sendo mantidos sem processamento laboratorial por um período máximo de duas horas após a coleta. Como amostra deve ser tomada de 0,5 a 2g de fezes e quando da presença de sangue ou muco, esta deve ser a porção selecionada para a avaliação laboratorial. • Evitar a coleta de espécimes fecais a partir das roupas do paciente, da superfície de camas e/ou chão. Espécimes retais: • Umedecer o swab em solução fisiológica ou água destilada esterilizada; • Introduzir o swab na ampola retal do paciente ou comunicante, comprimindo-o em movimentos rotatórios suaves, por toda a extensão da mesma; • Processar no período até duas horas e caso não seja possível, introduzir o swab no meio de Cary & Blair. Neste meio de transporte o espécime pode ser conservado por até cinco dias em refrigeração. Coleta de fezes em papel filtro. • Utilizar tiras de papel de filtro, tipo xarope ou mata-borrão, com dimensões de 2,5cm de largura por 6,0cm de comprimento. • As fezes diarréicas ou emocionadas em água, devem ser espalhadas em 2/3 de uma das superfícies do papel, com auxílio de um fragmento de madeira (palito individual) ou de qualquer outro material semelhante, disponível no momento. 15 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais • As tiras de papel de filtro devem ser acondicionadas em invólucros plásticos após dessecar naturalmente. Sob estas condições, Salmonella se mantém viável por um período aproximado de 30 dias. 7.3. Transporte de espécimes clínicos • Utilizar na medida do possível containeres plásticos ou de isopor para manutenção por período curto (duas a quatro horas) de transporte das amostras; • Envolver os isolados ou espécimes clínicos com plástico ou papel e colocá-los em outra embalagem no interior da caixa de transporte; • Manter as fichas contendo as informações clínicas e/ou epidemiológicas à parte de espécimes clínicos; • Para reutilização dos containeres para transporte, efetuar a desinfecção utilizando solução de hipoclorito de sódio (100 ppm); Exame direto de fezes: avaliação presuntiva • Presença de piócitos e células mononucleares indicam processo inflamatório. • A presença de polimorfonucleares é indicativa de síndrome disenteriforme ou colite determinada por patógenos invasivos. • Células mononucleares podem predominar em pacientes com febre tifóide. Metodologia: Utilizar solução de azul de metileno de Loeffler, misturado em igual quantidade com as fezes, colocada sobre lâmina, coberta por lamínula e examinar com microscópio ótico (objetiva de 10X e 40X). 8. Diagnóstico Laboratorial de Salmonella spp em Espécimes Fecais A procura de uma metodologia ideal para o isolamento de Salmonella, tem sido uma constante entre os pesquisadores o que tem trazido melhorias na especificidade, sensibilidade, simplicidade e rapidez na execução dos exames bacteriológicos. 16 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Numerosos métodos e técnicas assegurando o isolamento de diferentes sorovares de Salmonella procedentes de distintas fontes, têm sido descritos. As fórmulas incluem componentes que não só inibem o crescimento de certas espécies bacterianas, como também revelam uma variedade de características bioquímicas, que são importantes na identificação preliminar do microrganismo. Particularmente, em relação aos alimentos, o isolamento de Salmonella representa um problema para os bacteriologistas em função do baixo número de microrganismos presentes, associados a uma microbiota mista e numerosa, considerando-se ainda a complexa composição dos alimentos. Neste caso, as técnicas de cultura convencionais envolvem as etapas subseqüentes de préenriquecimento, enriquecimento seletivo e isolamento em meios seletivos indicadores. Por outro lado, no caso de espécimes clínicos, durante a fase aguda da doença, se um espécime é apropriadamente obtido, procedimentos de enriquecimento não são requeridos pelo fato de que um grande número de células está presente. Contudo na forma crônica, ou mesmo, na identificação de portadores, caldos de enriquecimento seletivo e agar seletivo são necessários. 17 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Esquema de Isolamento Fezes (suspensão) Swab fecal/retal Semeadura Direta Agar EMB Agar MacConkey Enriquecimento Caldo Selenito Cistina Caldo Tetrationato Kauffmann Caldo Rappaport Vassiliadis* 18/24h-37ºC *18/24h-43ºC 18/24h-37ºC Isolamento Agar Hektoen Agar SS Agar XLD Agar Sulfito Bismuto Agar Verde Brilhante Isolamento 5 -10 colônias: Meio de Triagem Caracterização bioquímica Identificação antigênica 18 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 8.1. Pré-Enriquecimento Na etapa de pré-enriquecimento, o espécime é enriquecido em um meio não seletivo para restaurar salmonelas injuriadas, a uma condição fisiológica estável. A água peptonada a 1,0% tamponada e o caldo lactosado são comumente usados, mas outros meios tais como triptona de soja e caldo nutriente, podem ser empregados. O caldo lactosado pode eventualmente ser inconveniente como préenriquecimento quando utilizado em amostras que contém alta população de microrganismos fermentadores da lactose, pois a subsequente redução do pH do meio pode limitar a multiplicação de salmonelas, em particular das células injuriadas, no entanto a literatura aponta que Salmonella se multiplica a uma faixa ampla de pH (pH 3.8 – 9.5). 8.2. Enriquecimento Seletivo O enriquecimento seletivo determina um aumento contínuo de Salmonella restringindo a proliferação de outras bactérias. Devido à utilização dos diferentes agentes inibitórios adicionados aos meios, estes também diferem em sua seletividade e aplicação específica. Diferentes tipos de inibidores têm sido propostos para enriquecimento seletivo de salmonelas, sendo a bile, o tetrationato, o selenito e corantes como o verde brilhante e o verde malaquita, os mais usados. Estes inibidores são incorporados aos meios, isolados ou em combinação. Vários meios de enriquecimento são conhecidos, destacando-se o Caldo Tetrationato, o Caldo Tetrationato-Verde Brilhante segundo MULLER-KAUFFMANN, Caldo Selenito, Caldo Gram-Negativo, Caldo Cloreto de Magnésio-Verde Malaquita segundo RAPPAPORT, o Caldo Rappaport-Vassiliadis, e variações destes. Caldo Tetrationato A seletividade do Caldo Tetrationato depende de sua capacidade de restringir a multiplicação de coliformes. Sorovares de Salmonella (exceto 19 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Choleraesuis, Typhisuis, Gallinarum e Pullorum) possuem a enzima tetrationatoredutase e, consequentemente, são capazes de multiplicar-se no meio. Porém, o desenvolvimento excessivo de Proteus, que também produz essa enzima, pode interferir na detecção de Salmonella. Neste caso, o Caldo Tetrationato - Verde Brilhante segundo Muller-Kauffmann contendo verde brilhante e bile, inibe a multiplicação de Proteus. Caldo Selenito Um outro meio de enriquecimento, o Caldo Selenito vem sendo recomendado para o enriquecimento de Salmonella em espécimes fecais, o qual vem sendo recomendado para o isolamento de S. Typhi e S. Paratyphi B, sendo também útil para a detecção de outros sorovares de Salmonella, mesmo quando os microrganismos estão presentes em pequeno número. A adição de cistina melhora a qualidade do meio de cultura. Caldo Rappaport. O Caldo Cloreto de Magnésio-Verde Malaquita (Caldo Rappaport) vem demonstrando eficácia na detecção de Salmonella. A associação do cloreto de magnésio com um corante bacteriostático (verde malaquita) veio a se constituir no meio de enriquecimento para a maioria dos sorovares de Salmonella, com exceção de S. Typhi. Posteriormente, uma modificação desse meio, resultante da diminuição da concentração de verde malaquita e adotando-se a temperatura de 430C para incubação, o qual foi denominado meio de Rappaport-Vassiliadis, vem evidenciando maior eficiência quando da utilização de pequenas quantidades de inóculo, bem como por inibir totalmente os microrganismos competitivos. Caldo Gram Negativo (Caldo GN) Este meio é utilizado para o enriquecimento seletivo de bactérias Gram negativas, particularmente Shigella e Salmonella, a partir de todo tipo de 20 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais espécimes clínicos. Devido à concentração relativamente baixa de desoxicolato, é menos inibidor de Escherichia coli e outros coliformes, enquanto a maior concentração de manitol em relação a glicose, limita o crescimento de Proteus e favorece o de Salmonella e Shigella, que são fermentadores do manitol. Tabela 4. Características dos meios de enriquecimento seletivos MEIOS Caldo Selenito SUBSTÂNCIAS INIBIDORAS Selenito de sódio BACTÉRIAS INIBIDAS BACTÉRIAS FAVORECIDAS Coliformes Salmonella sorovares Typhisuis, Choleraesuis, Gallinarum, Pullorum Salmonella spp. Caldo GN Citrato Desoxicolato de sódio Gram positivos, Coliformes, Proteus Maioria das Enterobacteriaceae Caldo Rappaport Cloreto de magnésio Verde malaquita Gram positivos, coliformes S. Typhi Shigella Salmonella spp. Caldo Tetrationato Sais biliares iodo Gram positivos, coliformes Salmonella sorovares Pullorum, Gallinarum, Typhisuis, Choleraesuis, Typhi, Paratyphi Salmonella spp. 8.3. Meios Seletivos-Indicadores Além dos meios de enriquecimento, tem-se a considerar no esquema de diagnóstico das enterobactérias os chamados meios indicadores seletivos, de natureza sólida, que desempenham uma função primordial para o isolamento de diferentes membros desta família. 21 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Todos estes meios contêm um sistema diagnóstico para permitir diferenciação de Salmonella com outras bactérias, em função das diferenças em suas propriedades inibitórias e no aspecto macroscópico das colônias (Tabela 4). Estes são comumente baseados na incapacidade da maioria das salmonelas para fermentar a lactose e, em alguns casos, outros substratos, tais como a sacarose e a salicina, bem como na capacidade de produção de sulfeto de hidrogênio. Vários meios, tais como o Agar Verde Brilhante, Agar Entérico Hektoen, Agar Xilose Lisina Desoxicolato (XLD), Agar Salmonella-Shigella (Agar SS) e Agar Sulfito de Bismuto, são amplamente usados nos métodos padrões para o isolamento de Salmonella. O Agar SS, XLD e Hektoen são relacionados à média seletividade e à incidência de numerosas reações falso-positivas, enquanto o Agar Sulfito de Bismuto e Verde Brilhante, apresentam alta seletividade. O Agar Sulfito de Bismuto é altamente recomendado para o isolamento de S. Typhi, entretanto não deve ser utilizado se foi estocado por período superior a 24–36 horas. Da mesma forma, tem demonstrado inibir outros sorovares de Salmonella a menos que seja refrigerado a 4oC por no mínimo 24 horas antes de uso. Meios de baixa seletividade tais como Agar Eosina Azul de Metileno e Agar MacConkey poderão ser utilizados para o isolamento de Salmonella quando provenientes de material clínico, onde espera-se um maior número. Mais recentemente, novos meios de cultura que incorporam substâncias cromogênicas em sua fórmula estão disponíveis no mercado, os quais por serem seletivos e indicadores, permitem a diferenciação de Salmonella de outras bactérias, pelo desenvolvimento de cores características para cada gênero/grupo bacteriano. Dentre os meios cromogênicos, destacam-se o Agar Rambach, Cromocen SC, CHROMagar Salmonella. O Agar Rambach vem sendo utilizado para identificar Salmonella em gêneros alimentícios e amostras clínicas, permitindo a diferenciação com membros do gênero Proteus e outras bactérias entéricas. Além de um composto cromogênico que indica a presença de β-galactosidase, própria dos coliformes, possibilita a 22 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais identificação de Salmonella por formar ácido a partir do propilenoglicol que, em combinação com um indicador de pH, resulta em uma coloração vermelho carmin, característica de suas colônias. A presença de fragmentos de ß-galactosidase, característica dos coliformes é evidenciada pelo desenvolvimento de colônias azul-esverdeadas ou violetaazuladas. Outras enterobactérias ou bactérias Gram-negativas, como por exemplo, Proteus, Pseudomonas, Shigella, S. Typhi e S. Paratyphi A apresentam colônias incolores. CROMOCEN SC é um meio para a detecção, isolamento, diferenciação e/ou contagem de Salmonella (exceto S. Typhi) e coliformes totais de outras bactérias Gram-negativas. O meio se baseia na combinação de uma reação cromogênica para detectar a atividade β-galactosidase e uma reação bioquímica de degradação de fontes de carbono que produzem uma diminuição do pH, com a conseqüente alteração de cor do indicador incluído na formulação. Salmonella (exceto S. Typhi) apresenta colônias com centro vermelho e bordas mais claras; coliformes (exceto Klebsiella e Citrobacter), colônias verde-azuladas e Klebsiella e Citrobacter, colônias violeta. As colônias incolores ou com pigmentação própria, correspondem a outras bactérias Gram-negativas. CHROMagar Salmonella é um meio seletivo e diferencial para o isolamento e identificação presuntiva de Salmonella spp. de outras bactérias coliformes e não coliformes em amostras fecais e de alimento. Colônias de Salmonella incluindo S. Typhi se caracterizam pela cor púrpura, outras espécies bacterianas são inibidas, incolores ou azuis. COLOREX Salmonella é um meio cromogênico para isolamento e diferenciação de Salmonella spp., incluindo S. Typhi, diretamente de espécimes clínicos e de alimento. Apresenta em sua composição uma mistura cromogênica especial que permite diferenciar Salmonella de outras bactérias, com base na cor e morfologia das colônias além de inibir bactérias Gram-positivas. Colônias de Salmonella se apresentam na cor púrpura, E. coli e outros coliformes, azulesverdeadas enquanto os microrganismos incapazes de hidrolizar o composto cromogênico são incolores. 23 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais A recuperação de múltiplos sorovares de Salmonella em um espécime requer dois ou mais meios seletivos-indicadores, e a escolha de um deles, ou do esquema a ser utilizado para o isolamento e identificação deste microrganismo, é, em grande parte, uma questão de preferência pessoal. Portanto, na escolha do meio, deve-se levar em consideração o espécime a ser analisado e os sorovares usualmente detectados. Salienta-se ainda que, a interação dos meios de enriquecimento e seletivos com a temperatura e tempo de incubação, seria fundamental para melhor isolamento desta bactéria. A prevalência de Salmonella no ambiente natural e nos setores de alimentos tem realçado a necessidade de procedimentos analíticos mais rápidos e equivalentes em sensibilidade e especificidade, aos métodos culturais comuns, os quais estão baseados em testes bioquímicos miniaturizados, novos meios de cultura, métodos baseados em anticorpos e hibridização de DNA . Apesar de vários destes métodos serem considerados rápidos, a maioria dos sistemas de detecção de Salmonella, ainda recorre aos métodos culturais para ressuscitar células injuriadas e ampliar a população de Salmonella em caldo de cultura. Desta forma, pré-enriquecimento, enriquecimento seletivo ou procedimentos pós-enriquecimento, ou alguma combinação destes, deve ser usada em conjunto com métodos rápidos. 24 Enterobactérias Bactérias favorecidas Aspecto das colônias Não fermentadoras transparentes Fermentadoras Púrpura / verde metálico sais biliares cristal violeta eosina / azul de metileno Inibidores Não fermentadoras Incolores/ discretamente amarelas Fermentadoras Vermelhas Enterobactérias fermentação da lactose Detectado Indicadores fermentação da lactose sacarose lactose azul de bromotimol fucsina ácida citrato férrico lactose proteose peptona extrato de levedura AGAR HEKTOEN Salmonella Shigella sais biliares Salmonella Shigella xilose, lactose sacarose, produção de H2S, descarboxilação da lisina desoxicolato de sódio vermelho de fenol citrato férrico xilose, lactose sacarose extrato de levedura AGAR XLD Salmonella verde brilhante fermentação lactose sacarose vermelho de fenol proteose peptona extrato de levedura lactose sacarose AGAR VERDE BRILHANTE Fermentadoras: Fermentadoras Fermentadoras Fermentadoras Amarelas Núcleo rosado, Salmão Não fermentadoras; periferia clara Não Amarelo fermentadoras esverdeadas Não Cor do meio Descarboxilação da fermentadoras Verdes a Lisina incolores azuladas Não Produção de Produção de H2S vermelho-púrpura ao fermentadoras H2S Ponto negro no redor das colônias Produção de H2S centro Ponto negro no Vermelhas centro Ponto negro no centro Salmonella Shigella sais biliares citrato de sódio fermentação fermentação lactose, sacarose, lactose salicina produção deH2S H2S vermelho neutro citrato férrico lactose proteose peptona peptona proteose peptona vermelho neutro lactose sacarose proteose peptona AGAR SS MAC CONKEY eosina, azul de metileno Carboidratos Fontes de aminoácido AGAR EMB Tabela 5. Características dos Meios Seletivos - Indicadores 25 S.Typhi - Colônias negras circundadas por halo de brilho metálico. Outros sorovares: Colônias negras ou verdes Salmonella particularmente S. Typhi verde brilhante sulfito de bismuto produção de H2S redução do bismuto sulfito de bismuto sulfato de ferro glicose proteose peptona extrato de levedura AGAR SULFITO DE BISMUTO Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 8.4. Identificação Bioquímica Presuntiva (Meios de Triagem) Uma vez selecionadas colônias sugestivas nos meios indicadores seletivos, estas serão transferidas para meios de triagem, tais como Agar Ferro-Açúcar Triplo (Agar TSI), Agar Ferro - Dois Açucares (Kligler – KIA), Agar Lisina Ferro (LIA), Meio de Costa & Vernin (CV), Meio IAL (modificação do meio de Rugai e Araújo), Agar Motilidade-Indol-Lisina (MILi), Agar Motilidade-Indol-Ornitina (MIO) e Meio EPM, isolados ou em associação, os quais proporcionam uma caracterização bioquímica presuntiva, indicando quais testes bioquímicos complementares são necessários para identificar os microrganismos. A associação do LIA, EPM, MIO ou Mili, com qualquer um dos demais meios de triagem indica a probabilidade de Salmonella que, após complementação bioquímica será submetida à caracterização antigênica. Agar Ferro - Açúcar Triplo (Agar TSI) Este meio é utilizado para diferenciar bacilos Gram negativos com base na fermentação de carboidratos (glicose - lactose - sacarose), produção de sulfeto de hidrogênio e gás. Propicia a verificação da fermentação da glicose pela bactéria, conferindo coloração amarela na base. Caso haja fermentação da lactose e/ou sacarose a colocação da parte superior do tubo será o amarelo. Quando estes dois 24 açúcares não são fermentados o ápice permanece com a cor original (âmbar). A produção de H2S é indicada pela cor negra na base do tubo e a produção de gás, indicada pela formação de bolhas ou rachaduras no meio. Microrganismos como Proteus, Edwardsiella, Citrobacter e Salmonella podem apresentar o mesmo aspecto. Agar Ferro - Dois Açúcares (Kligler Iron Agar - KIA) Este meio apresenta as mesmas indicações, leitura e interpretação do Agar TSI, porém com diferença na sua formulação por não conter sacarose. 26 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Agar Lisina-Ferro (LIA) É um outro meio para identificação presuntiva de enterobactérias. A descarboxilação da lisina é evidenciada pela coloração púrpura (alcalina) da base que neutraliza o ácido (amarelo) formado pela fermentação da glicose. A desaminação da lisina é vista no ápice (vermelho) e a produção de H2S (negro) na base do tubo. Meio de Costa e Vernin (CV) Este meio é uma modificação do meio de Monteverde (Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 53:105,1955) e é composto de uma camada semi-sólida e outra sólida, permitindo avaliar as seguintes reações: indol (tampão de algodão), fermentação da lactose e sacarose, produção de gás, hidrólise da uréia, produção de H2S o qual se forma na interface entre semi-sólido e sólido e motilidade. Permite identificação dos principais gêneros de enterobactérias indicando a presença de bactérias não fermentadoras. O ataque à lactose ou sacarose, ou ambas, com a produção de ácido, torna o meio vermelho. A presença de um anel negro na base da camada sólida indica produção de H2S; a turvação difusa ou não da parte semi-sólida, revela a motilidade; a coloração azul, distribuída por todo o meio, identifica as bactérias produtoras de urease. Além desses testes, o aparecimento de uma coloração rósea ou vermelha na tira de papel de filtro ou no algodão, caracteriza as bactérias produtoras de indol. Meio IAL (INSTITUTO ADOLFO LUTZ) Elaborado para triagem de enterobactérias; consiste de 9 provas em apenas um tubo de ensaio: indol (tampa), fermentação da sacarose e glicose, produção de gás, fenilalanina desaminase, hidrólise da uréia, produção de H2S, descarboxilação da lisina e motilidade. Este meio identifica os principais gêneros de enterobactérias, indicando também a presença de bactérias não fermentadoras e Vibrio. 27 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Meio MIO (Motilidade- Indol – Ornitina) Meio MILi (Motilidade – Indol- Lisina) Estes meios evidenciam a descarboxilação dos aminoácidos ornitina ou lisina, a motilidade e a produção de indol. A motilidade é interpretada pela difusão do microorganismo na zona da inoculação; a descarboxilação da ornitina ou lisina é evidenciada pela coloração púrpura (alcalina) da base, que neutraliza o ácido (amarelo), formado pela fermentação da glicose. A produção de indol é observada pela formação de um anel vermelho após acrescentar 2-4 gotas do reativo de Kovac’s à superfície do meio. Meio EPM O meio EPM é uma modificação do meio de Rugai e Araújo, evidenciando a produção de gás por fermentação da glicose, produção de H2S, hidrólise da uréia e desaminação do triptofano. Tabela 6. Características diferenciais entre Kligler Iron Agar, Triple Sugar Iron Agar e Lysine Iron Agar Kligler Iron Agar Triple Sugar Iron Agar Lysine Iron Agar 28 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Fontes de aminoácidos (desaminação) peptona, extrato de carne extrato de levedura peptona, extrato de carne extrato de levedura peptona extrato de levedura lisina não não lisina Fermentação de carboidratos lactose (1%), glicose (0.1%) lactose (1%), sacarose (1%) glicose (0.1%) glicose (0.1%) Indicador de pH vermelho de fenol ácido = amarelo alcalino = vermelho vermelho de fenol ácido = amarelo alcalino = vermelho bromocresol purpura: acido = amarelo alcalino = púrpura tiossulfato de sódio tiossulfato de sódio tiossulfato de sódio sulfato ferroso sulfato ferroso citrato de ferro amoniacal aminoácidos (descarboxilação) Fonte para produção de H2S Indicador da produção de H2S Tabela 7. Características diferenciais de TSI , KIA, MIO, MILi e LIA Fontes de aminoácidos (desaminação) aminoácidos (descarboxilação) Fermentação de carboidratos Indicador de pH Fonte para produção de H2S Indicador de produção de H2S TSI e KIA MIO/MILi LIA peptona, extrato de carne extrato de levedura peptona extrato de levedura ornitina ou lisina peptona extrato de levedura lisina não ornitina ou lisina lisina lac+sac+glic = TSI lac+ glic = KIA glicose (0,1%) glicose (0.1%) vermelho de fenol ácido = amarelo alcalino = vermelho bromocresol purpura: acido = amarelo alcalino = púrpura bromocresol purpura: acido = amarelo alcalino = púrpura tiossulfato de sódio não tiossulfato de sódio sulfato ferroso não citrato de ferro amoniacal 29 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 8. Reações nos meios de triagem TSI e KIA* LEITURA INTERPRETAÇÃO DIAGNÓSTICO PRESUNTIVO Escherichia,Klebsiella Enterobacter Providencia,Serratia Reação ácida (amarelo) e gás na profundidade. Reação ácida na superfície. Ausência de H2 S. fermentação da glicose fermentação da lactose e/ou sacarose, inclusive com produção de gás Reação ácida e gás na profundidade. Superfície alcalina (vermelha). Presença de H2S Reação ácida sem gás na profundidade, superfície alcalina. ausência de H2S. fermentação da glicose sem ataque à lactose e/ou sacarose Salmonella, Edwardsiella Citrobacter,Proteus glicose fermentada apenas formando ácido; nenhuma ação sobre a lactose e sacarose Shigella, Salmonella Proteus Providencia,Serratia, Yersinia Meio inteiramente ácido com gás. Presença de H2S. Meio inteiramente ácido, sem gás. Ausência de H2S fermentação da glicose com gás; fermentação da glicose e/ou sacarose fermentação da glicose com formação de ácido; fermentação da lactose e/ou sacarose Citrobacter,Proteus Escherichia coli, Serratia * Para a interpretação do Agar Kligler (KIA) não considerar a fermentação sobre a sacarose Tabela 9. Reações no Agar Lisina-Ferro (LIA) Microrganismos Base Ápice Púrpura Púrpura Salmonella Amarelo Púrpura avermelhado Proteus,Morganella Amarelo Púrpura avermelhado Providencia Amarelo Púrpura Citrobacter Amarelo/ Púrpura Púrpura Escherichia Amarelo Púrpura Shigella Púrpura Púrpura Klebsiella Exceção: S.Paratyphi A = base amarela/ ápice púrpura H2S + +/+ - 30 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 10. Reações observadas no meio de Costa e Vernin (CV) Leitura Microrganismos Meio inalterado, com certa alcalinidade no ápice (esverdeado ou azulado). Presença de H2S; ausência de gás; móvel ou imóvel Reações idênticas às acima citadas, sem H2S Meio inalterado no prazo de 24h, podendo se acidificar em períodos mais longos (fermentação lenta); ausência de H2S; móvel ou imóvel Meio inteiramente azul, com produção ou não de H2S; dificuldade na leitura da mobilidade. Camada sólida azul e amarelo-azulado na porção semi-sólida (ataque à sacarose). Presença de H2S. Meio totalmente vermelho, por vezes podendo apresentar áreas amareladas (redução); grande produção de gás. Ausência de H2S. Mobilidade presente ou não. Ápice do meio sólido com discreta alcalinidade na Tribo Klebsielleae. Meio com discreta acidez na profundidade, ligeira alcalinização na superfície. Presença de H2S, Móvel Meio inalterado com 24 h; pequena alcalinização na superfície, acentuando-se após 48 h. Forte tonalidade azul-esverdeada na superfície. Ausência ou discreto crescimento no meio semisólido. Salmonella, Edwardsiella Citrobacter Certos sorovares de Salmonella H2S Shigella Providencia Proteus Proteus vulgaris Escherichia Enterobacter Klebsiella Serratia (meio sem gás) Citrobacter Pseudomonas Tabela 11. Interpretação do meio EPM Base Superfície Produção de gás Formação de bolhas ou rachaduras no meio Produção de H2S Presença de pigmento negro de qualquer intensidade Hidrólise da uréia Coloração azul-esverdeada (fraca) na base indica prova positiva Desaminação do triptofano Reação positiva: verde escuro ou acastanhado Reação negativa: superfície inalterada 31 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 8.5. Caracterização Bioquímica Complementar Embora seja possível uma identificação preliminar com base nas características das colônias e reações bioquímicas, nos diferentes meios indicadores seletivos e de triagem, a identificação de membros da família Enterobacteriaceae requer a utilização de provas bioquímicas complementares, Como provas preliminares destacam-se a detecção da produção de citocromo-oxidase e a redução do nitrato para a inclusão nesta família. Além destas, dispõe-se de uma variedade de provas diferenciais complementares, destacando-se entre outras, aquelas amplamente utilizadas em laboratórios clínicos, as quais permitem avaliar as características metabólicas, contribuindo para a identificação posterior dos gêneros/espécies. Estas características são: fermentação de carboidratos, produção de indol, reação de vermelho de metila, produção de acetil-metil-carbinol, utilização de citrato, produção de urease, descarboxilação de aminoácidos, produção de sulfeto de hidrogênio e motilidade. Citocromo-Oxidase Os citocromos são hemoproteínas que contém ferro e funcionam como a última ligação da cadeia respiratória aeróbica, transferindo eletrons (hidrogênio) ao oxigênio com a formação de água. O sistema citocromo é encontrado nos organismos aeróbios ou microaeróbios e anaeróbios facultativos. Portanto, o teste da oxidase é importante na identificação de microrganismos que não possuem a enzima ou são anaeróbios obrigatórios. O teste é muito útil em estudos preliminares para diferenciação shigelloides) de de outras Enterobacteriaceae enterobactérias (negativas, como, por exceto Plesiomonas exemplo, Aeromonas, Pseudomonas e Vibrio (positivas). A prova de citocromo-oxidase utiliza certos reativos corantes, como o dicloridrato de p-fenilenodiamina ou oxalato de p-amino-dimetil-anilina, que atuam como aceptores artificiais de eletrons, substituindo o oxigênio. Estes são incolores no estado reduzido, mas na presença de citocromo-oxidase e oxigênio atmosférico se oxidam formando um produto de tonalidade azul ou rosa, respectivamente. 32 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Redução de Nitratos A capacidade de um microrganismo reduzir nitrato a nitrito é uma característica importante utilizada na identificação e diferenciação de espécies de muitos grupos de microrganismos. Todas as enterobactérias, exceto certos biotipos de Panthoea agglomerans e Erwinia, reduzem nitratos. Os microrganismos que reduzem nitratos têm a capacidade de retirar oxigênio destes para formar nitritos e outros produtos de redução. A presença de nitritos no meio teste é evidenciada pela cor vermelha após adição de dois reagentes: solução A (ácido sulfanílico - 0,8g, ácido acético – 30 mL, água destilada – 75 mL) e solução B (alfa-naftilamina – 0,5g, ácido acético – 30 mL, água destilada - 75mL). Pesquisa da produção de indol Indol é um dos produtos metabólicos de degradação do aminoácido triptofano. As bactérias que possuem a enzima triptofanase são capazes de hidrolisar e desaminar o triptofano com produção de indol, ácido pirúvico e amônia. A prova está baseada na formação de um complexo de cor vermelha quando o indol reage com o grupo aldeído do p-dimetilaminobenzaldeído (reativos de Kovacs ou Ehrlich). Deve-se usar um meio rico em triptofano. Prova do Vermelho de Metila Esta prova é uma análise quantitativa de produção de ácidos fortes (lático, acético, fórmico) a partir da glicose através da via da fermentação ácida mista. Visto que muitas espécies de enterobactérias podem produzir quantidades suficientes de ácidos fortes detectáveis pelo indicador vermelho de metila durante as fases iniciais da incubação, somente os organismos que podem manter este pH baixo após incubação prolongada (48 a 72 h) superando o sistema estabilizador de pH do meio, é que podem ser chamados de vermelho de metila positivos. 33 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Prova de Voges-Proskauer O ácido pirúvico, composto principal formado pela degradação fermentativa da glicose, é metabolizado através de várias vias, de acordo com os sistemas enzimáticos que possuem as diferentes bactérias. Uma destas vias leva à produção de acetoína (acetil-metil-carbinol), um subproduto inativo. Os organismos tais como membros do grupo Klebsiella-Enterobacter-Hafnia-Serratia produzem acetoína como principal subproduto do metabolismo da glicose e formam quantidades menores de ácidos mistos. Na presença de oxigênio atmosférico e de hidróxido de potássio a 40%, a acetoína é convertida em diacetila e o alfa-naftol atua como catalizador para revelar um complexo de cor vermelha. Reações no VM e VP Glicose Ácido pirúvico Acetilmetilcarbinol (Acetoína) Fermentação ácida mista pH < 4,4 VM + Butilenoglicol Diacetila KOH + Ar Alfa-naftol Complexo vermelho = VP + Utilização do Citrato O citrato de sódio é um sal de ácido cítrico, um composto orgânico simples que constitui um dos metabólitos do ciclo dos ácidos tricarboxílicos (Ciclo de Krebs). Algumas bactérias podem obter energia por via diferente da fermentação de carboidratos, utilizando citrato como única fonte de carbono. A avaliação desta característica é importante na identificação de muitos membros da família Enterobacteriaceae. Qualquer meio utilizado para detectar utilização de citrato 34 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais pelas bactérias deve ser isento de proteínas e carboidratos como fontes de carbono. O meio contém citrato de sódio, um ânion, como única fonte de carbono e fosfato de amônia como única fonte de nitrogênio. As bactérias capazes de utilizar o citrato também são capazes de extrair nitrogênio do sal de amônio, levando à alcalinização do meio a partir da conversão do NH3 em hidróxido de amônia (NH4OH). Como indicador é utilizado o azul de bromotimol, que na presença de reação positiva ocorre a viragem para um pH acima de 7,6, sendo evidenciado pela tonalidade azul do meio. Hidrólise da Uréia A urease é uma enzima presente em muitas espécies de microrganismos que podem hidrolisar a uréia. A uréia é uma diamina do ácido carbônico; todas as aminas são facilmente hidrolisadas com liberação de amônia e dióxido de carbono. A amônia reage em soluçâo para formar carbonato de amônio resultando na alcalinização e aumento do pH do meio. São utilizados dois meios para a detecção de urease, o Caldo Uréia de Stuart e o Agar Uréia de Christensen. O caldo de Stuart é fortemente tamponado com sais de fosfato a um pH 6,8. O organismo em estudo deve produzir quantidades relativamente grandes de amônia para superar o sistema e elevar suficientemente o pH do meio para produzir uma viragem do indicador (acima de 8,0), sendo seletivo para espécies de Proteus. O Agar Uréia de Christensen possui um sistema tampão muito mais fraco, permitindo detectar produções menores de amônia sendo, portanto apropriado para a análise de bactérias que apresentam formação escassa de urease ativa. Produção de sulfeto de hidrogênio Capacidade de certas espécies de bactérias para liberar enxofre na forma de H2S a partir de aminoácidos ou de outros compostos. A produção de H2S pode ser detectada em um sistema analítico se as seguintes condições estiverem presentes: liberação de sulfeto a partir da cisteína ou do tiossulfato por ação enzimática bacteriana; acoplamento do sulfeto com o íon hidrogênio para formar 35 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais H2S; detecção do H2S pelos sais de metais pesados tais como ferro, bismuto ou chumbo, na forma de sulfeto de metal pesado, um precipitado negro. H2S + metal pesado = sulfeto = precipitado negro Descarboxilases As descarboxilases representam um grupo de enzimas substrato-específicas, capazes de atuar sobre a porção carboxíla dos aminoácidos, formando aminas de reação alcalina. Lisina, Arginina e Ornitina são os três aminoácidos habitualmente avaliados na identificação das enterobactérias e produzem as seguintes aminas específicas: Lisina cadaverina Ornitina putrescina Arginina citrulina Na conversão de arginina para citrulina intervém uma desidrolase ao invés de uma descarboxilase, visto que na primeira etapa, o NH2 é retirado da arginina. Em seqüência, a citrulina é transformada em ornitina que em seguida sofre descarboxilação para formar putrescina. Durante os períodos iniciais da incubação o meio torna-se amarelo devido à fermentação da pequena quantidade de glicose presente. Se o aminoácido for descarboxilado, formam-se aminas alcalinas e o meio volta à cor púrpura original. Fenilalanina desaminase A fenilalanina é um aminoácido que por desaminação forma um cetoácido, o ácido fenilpirúvico. Entre os membros da família Enterobacteriaceae, somente espécies dos gêneros Proteus, Morganella e Providencia possuem a enzima desaminase, necessária para esta conversão. A prova da fenilalanina baseia-se na detecção de ácido fenilpirúvico no meio, após o crescimento do organismo teste. A prova é positiva quando aparece uma cor verde, visível após a adição de uma solução de cloreto férrico a 10%. Fenilalanina desaminação__ ácido fenil pirúvico Cloreto férrico 10% 36 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Fermentação de carboidratos Fermentação é um processo metabólico de oxidação - redução que tem lugar em um ambiente anaeróbico, no qual um substrato orgânico serve como aceptor de hidrogênio (elétron) em lugar do oxigênio. Nos sistemas de provas bacteriológicas este processo é detectado por observação da mudança de cor dos indicadores de pH quando os produtos ácidos são formados. A fermentação dos carboidratos produz ácido, ou ácido e gás. A produção de gás (dióxido de carbono e hidrogênio) se detecta pelo acúmulo de gás em um tubo de vidro (tubo de Duhram) invertido no meio. 37 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 12. Comportamento de Salmonella spp. nas diferentes provas bioquímicas Meios TSI/KIA LIA Reações Reação ácida e gás na profundidade. Superfície alcalina (vermelha). Presença de H2S Reação ácida sem gás na profundidade, superfície alcalina. Discreta produção ou ausência de H2S. Base e ápice cor púrpura, presença de H2S (Exceção: S.Paratyphi A = base amarela/ ápice púrpura) Reações idênticas às acima citadas, sem H2S CV Meio inalterado, com certa alcalinidade no ápice (esverdeado ou azulado). Presença de H2S na interfase sólida/semi-sólida; ausência de gás; móvel ou imóvel Reações idênticas às acima citadas, sem H2S REAÇÃO NEGATIVA – não há viragem do pH URÉIA Lisina Descarboxilase Positivo:Reação alcalina (cor púrpura do meio) e amarelo no meio controle. (exceção S. Paratyphi) LDC Ornitina Descarboxilase Positivo: Reação alcalina (cor púrpura do meio) e amarelo no meio controle (exceção S. Gallinarum – ODC negativo) ODC Coloração vermelha do meio após adição do reagente Vermelho de Metila (VM) Meio sem alteração após adição dos reagentes VogesProskauer (VP) Fenilalanina desaminase (FD) Meio inalterado após colocação do reagente Positivo: Reação alcalina – cor azul do meio Utilização do Citrato Meio SIM Indol H2S Motilidade Negativo – anel amarelo após colocação do reagente – Kovacs Presença de pigmento negro de qualquer intensidade ou somente na picada (cepas imóveis) Crescimento ao longo da picada (imóvel) ou turvação do meio (móvel) Fermentação de açucares Glicose Lactose Manitol Sacarose Positivo (reação ácida) com/sem gás no tubo de Durhan Negativo Positivo Negativo 38 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 13. Percentuais de positividade/negatividade nas provas bioquímicas para Salmonella spp. Reação Positiva ou negativa + Percentual de isolamento de Salmonella que apresentam esta reação2 100 TSI glicose (gás) + 91,93 TSI lactose - 99,24 TSI sacarose - 99,5 TSI H2S + 91,6 LIA + 98 SIM (H2S) + 97 SIM (indol) - 98,9 SIM (motilidade) + 97 Hidrólise da uréia - 99 Lisina descarboxilase + 94,65 Ornitina descarboxilase + 97 Reação de Voges-Proskauer - 100 Reação do Indol - 98,9 Provas1 TSI glicose (ácido) 1. Ewing, W.H. & Ball, M.M. The biochemical reactions of members of the genus Salmonella.NationalCommunicable Disease Center. Atlanta, Georgia,USA.1966. 2. Estes percentuais indicam que nem todas as cepas apresentam as reações marcadas como + ou _. 3. Salmonella Typhi é anaerogênica 4. Salmonella enterica susp.arizonae dá reações + ou – para lactose, porém é sempre β-galactosidase positiva; Salmonella enterica susp.salamae dá reação – para lactose e – para β-galactosidase. 39 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 14. Caracterísiticas bioquímicas diferenciais de Salmonella spp. , Edwardsiella tarda Proteus mirabilis Proteus vulgarsis Salmonella spp. Salmonella Typhi +/- + + + + +/- + - + +/+/-/+ +/+ - + +/-/+ -/+ + + - + -/+ -/+ + + - + - -/+ + +/- + + - + + + - + + - -/+ +/- + + + + + - +/- + -/+ + - -/+ -/+ +/+/-/+ +/+ + +/- +/-/+ + +/- + + - -/+ + + + -/+ + + + + + + - + + - - - - - + + - - - - - + - - + + +/- +/- +/- - - - +/- - - + + + + - + - +/- - + - + + - - Cirobacter diversus Citrobacter freundii Glicose (gás) Fermentação Manitol Lactose Sacarose Dulcitol ONPG Vermelho Metila Voges Proskauer Indol Citrato Simmons Acetato Malonato H2S Mobilidade Hidrólise da uréia Fenilalanina desaminase Lisina descarboxilase Arginina dehidrolase Ornitina descarboxilase KCN Citrobacter amalonaticus Proteus spp., Citrobacter spp. e Edwardsiella tarda. + : positivo; - : negativo 40 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Tabela 15. Diferenciação bioquímica entre S. enterica subsp. enterica, Citrobacter sp. e Edwardsiella tarda S. enterica sub. enterica Citrobacter freundii Citrobacter diversus Edwardsiell a tarda Descarboxilação: Lisina + - - + Ornitina + [-] + [+] Indol - - + + Citrato Simmons + + + - H2S +/ [+] - + Urease - +/- +/- - KCN - + + - ONPG - + - - + : positivo; - : negativo; [+] : 76 a 89% positivo; [-] : 11 a 25% negativo. Tabela 16. Diferenciação entre Citrobacter freundii e Salmonella arizonae e S.diarizonae LDC Glicerol Malonato ODC Gelatinase Citrobacter freundii - + - - - Salmonella arizonae + - + + + (lenta) Salmonella diarizonae + - + + + (lenta) LDC: lisina descarboxilase; ODC: ornitina descarboxilase Tabela 17. Diferenciação entre Salmonella Paratyphi C e Salmonella Choleraesuis Dulcitol + H2S + Mucato - S.Choleraesuis - - - S.Choleraesuis var. Kunzendorf - + - + - S. Paratyphi C (Vi ou Vi ) S. Paratyphi C é essencialmente adaptada ao homem S.Choleraesuis possui característica ubiquitária 41 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 9. Aspectos Gerais sobre os Antígenos das Enterobactérias Antígenos comuns: Todas as espécies da família Enterobacteriaceae apresentam um antígeno comum, também designado de antígeno de “Kunin”. Sua presença usualmente não é avaliada tendo em vista que não representa um critério relevante para a diferenciação entre gêneros ou espécies. Antígeno de parede ou antígeno “O” (Ohne): composição lipopolissacaridica (hexosamina (3.5 a 4.5%), complexo fosfolipídico (20 a 30%), polissacarídeos (60%). É termoestável (1hora a 100oC), não sendo destruído pelo álcool etílico a 50oGL. A aglutinação das células bacterianas pelo antissoro específico, apresenta como características ser lenta, formar grânulos finos não dissociáveis pela agitação, tendo em vista que a reação ocorre pela interrelação entre a parede celular das células bacterianas. Este antígeno é composto de três partes: • Porção lipídica, a qual é responsável pela toxicidade e características pirogênicas; • Porção basal ou “core”; • Polissacarídeo, característico da especificidade somática das formas lisas (S). É constituído de cadeias repetitivas, cujo arranjo espacial confere natureza definida. Esta, aliada ao tipo de ligação, determinam a especificidade dos antígenos “O “. Cepas em fase lisa (“S”-Smooth) apresentam colônias com superfícies homogêneas, brilhantes, bordos regulares indicativos de antígeno “O” completo. A ocorrência de mutação que afete sua porção basal, ou na síntese de sua cadeia resulta na perda da especificidade do antígeno. São designadas rugosas “R” (Rough) de superfície e bordos irregulares. São autoaglutináveis em solução salina, facilmente fagocitáveis e sensíveis a ação do complemento e como conseqüência, perdem sua capacidade patogênica. 42 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Antígeno flagelar ou antígeno “H” (Hauch): Estão presentes nas enterobactérias móveis, sua composição é protéica, designada flagelina. As diferenças antigênicas surgem devido a variações na estrutura primária (contendo aminoácidos) das diferentes moléculas de flagelina. A estrutura flagelar possui como uma característica importante de termolabilidade podendo ser destruídos a 100oC, bem como após ação lenta do álcool 50oGL, sendo resistentes à solução de formol a 0,5%. Anticorpos flagelares se fixam aos flagelos, cuja aglutinação apresenta como característica, a formação de grumos espessos que se dissociam rapidamente através de agitação. Esta ocorre em tempo mais rápido do que aglutinação somática, devido ao número existente na célula se apresentar mais elevado, quando comparado à aglutinação somática (entre as células bacterianas). O arranjo espacial e características intrínsecas ao gênero possibilitam a produção de dois tipos de flagelos distintos. Em uma população bacteriana de uma cepa de Salmonella spp, que produza dois tipos distintos de flagelo, a freqüência de variação de células que apresentam um dos tipos ou fases é na ordem de 104. Antígeno de superfície ou envoltório “Vi” (Félix & Pitt): apresenta sua localização espacial externa, a qual impede a detecção do antígeno somático. Usualmente encontra-se presente em cepas de S.Typhi isoladas de pacientes, podendo também ser detectados em S.Paratyphi C e S. Dublin. São termolábeis podendo ser destruídos através do aquecimento da suspensão a 100oC por 10-15 minutos. Apresenta como relevância, a possibilidade de uso como ferramenta epidemiológica através de um conjunto de preparados fágicos. 43 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Caracterização Antigênica de Salmonella: A sorotipificação complementar na constitui identificação uma de importante ferramenta epidemiológica Salmonella permitindo determinar a prevalência/emergência ou apontar tendências de um sorovar em distintas zonas geográficas, bem como identificar surtos, conhecer as fontes de infecção e vias de transmissão. A identificação dos sorovares é definida pelo esquema de Kauffmann & White, (Poppof & LeMinor, 2001) e envolve a identificação dos antígenos somáticos e flagelares. Esquema de Kauffmann-White Baseado nos componentes antigênicos somáticos O e flagelares H foi estabelecido o esquema denominado Kauffmann-White, este contém informações quanto as espécies, sub-espécies e apresenta listadas as fórmulas antigênicas de todos os sorovares. Sua editoração é efetuada pelo Centro Colaborador para referência e pesquisa em Salmonella da Organização Mundial de Saúde (Instituto Pasteur-Paris), sendo revisado anualmente quanto à caracterização de novos soravares e a editoração completa desta listagem é efetivada a cada cinco anos. Apresenta-se representado sob a forma de tabela, contendo o conjunto das características antigênicas, compreende na 1a coluna a estrutura somática, cujos sorovares que apresentam tais características são identificados por letras maiúsculas. Ex. grupo A(O:2), grupo B(O:4); grupo C1(O:6,7), grupo C2 (O:6,8,20), grupo D (O:9), grupo E1 (O:3,10), grupo E2 (O:3,15), grupo E4 (O:1,3,19),etc. A 2a e 3a colunas apresentam suas estruturas flagelares, indicadas por letras minúsculas (fase 1) e a fase 2, representada por números arábicos, além de letras minúsculas.. Exemplos: S.Typhimurium: 1,4,[5],12: i : 1,2 S.Enteritidis: 1,9,12: g,m: - S.Typhi: 1,9,12,[Vi]: d: - S. Agona: 1,4,12:f,g,s:- S. Paratyphi: 1, 2,12:a:- S.Saintpaul: 1, 4, 5, 12:e,h:1,2 44 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Em relação aos antígenos O e H, alguns aspectos que devem ser considerados: Antígeno O: • Fatores que identificam o grupo antigênico por exemplo, o fator O:4, o fator O:9. • Aqueles que tem pouco ou nenhum valor discriminatório estando associados a outros fatores, por exemplo O:12, associado com O:2, O:4 e O:9 como ocorre com S. Paratyphi A (O:1,2,12), S.Typhimurium (O:1,4,5,12) e S. Enteritidis (O:1,9,12). • Aqueles que surgem como conseqüência de uma modificação da estrutura dos antígenos, por exemplo: O:5 resultante de uma reação de acetilação presente nas unidades repetidas do polissacarídeo responsável pela especificidade O:4,12; O:1 resulta da inserção de uma cadeia de galactose no polissacarídeo como é o caso do sorovar S. Typhimurium O:1,4,5,12. Antígenos H Alguns sorovares de Salmonella dispõem de apenas uma fase flagelar, i.e. monofásicas como S. Enteritidis (9,12:g,m:-), S.Typhi (9,12 [VI]:d:-), porém a grande maioria dos sorogrupos apresentam duas fases flagelares ou seja são cepas difásicas como por exemplo S.Typhimurium (1,4,5,12:i:1,2) e S.Hadar (6,8:z10:e,n,x) que expressam a fase 1 (antígenos i ou z10) e fase 2 (antígenos 1,2 e e,n,x respectivamente), contudo também são reconhecidas cepas desprovidas de flagelos (imóveis). Identificação antigênica Alguns sorovares apresentam características bioquímicas, as quais associadas ao quadro clínico do paciente possibilitam orientar com maior facilidade sua caracterização, entretanto faz-se obrigatória em todos os casos a caracterização antigênica empregando os antissoros específicos. 45 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Ex. Salmonella Typhi: ausência de gás em glicose, produção reduzida de H2S, lisina descarboxilase positiva, ornitina descarboxilase e uso do citrato de Simmons como fonte única de carbono, negativas. Salmonella Paratyphi A: produção de gás em glicose, ornitina descarboxilase positiva, produção de H2S, lisina descarboxilase e uso do citrato de Simmons como fonte única de carbono negativas. Principais cuidados: • Nunca utilizar crescimento a partir de meios de cultura que contenham carboidratos; • Semear preferentemente a cepa em tubo 13x100 contendo Agar Nutriente inclinado, envasado com bizel longo (4 a 5 cm); • Preparar uma suspensão utilizando solução salina (0.85% NaCl); • A suspensão deverá apresentar turbidez correspondente ao tubo 3 da escala de MacFarland. Usualmente o volume de solução salina adicionada ao tubo contendo Agar nutriente inclinado é aproximadamente 1,5mL. • Realizar o teste somente a partir de cultivos recentes (máximo de 18-24h de crescimento a 37°C); • Para efetuar avaliação em amostras com antígeno de envoltório, efetuar a retirada, através do aquecimento da suspensão em banho-maria (100°C por 15 minutos); • Observar se a suspensão apresenta-se homogênea antes de realizar o teste, certificando-se que esteja em sua forma lisa. Execução do teste de soroaglutinação rápida: • Semear a cepa isolada em agar nutriente inclinado; • Incubar a 37o C por 18-24 horas; • Preparar suspensão adicionando solução salina (0,85%); • Homogeneizar a suspensão; 46 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais • Em uma lâmina de vidro adicionar uma gota (10µl) de antissoro polivalente e uma gota da suspensão bacteriana, homogeneizando com o auxílio de uma alça utilizada dentro dos procedimentos de rotina; • Impelir movimentos rotatórios e observar até o período de um minuto em caixa de Huddleson a presença de aglutinação (grumos finos); • Em seqüência repetir o procedimento empregando antissoros somáticos específicos (grumos finos - somáticos); • Para a caracterização dos antígenos flagelares (grumos espessos) é necessário que o laboratório possua antissoros que permitam fazer a diferenciação entre sorovares com estrutura comum. Ex. Hg,m; Hg,p; Hg,q; Hg,m,s; Hf,g,s; Hg,z51; Hg,z62 , etc • Particularmente no diagnóstico de Salmonella Typhi, empregar inicialmente o antissoro Vi para caracterização do antígeno de envoltório. Caso a reação seja positiva, aquecer a suspensão em banho-maria (15 minutos a 100oC) reavaliando com antissoro Vi. Caso não seja observada aglutinação, confirmar a estrutura somática através do antissoro “OD”; • A identificação conclusiva de S.Typhi deverá ser efetivada através da caracterização do antígeno flagelar Hd; Variações que afetam a Tipagem Antigênica em Salmonella spp.: Variação Capsular (V-W): fenotípica • Impede aglutinação somática; • Utilizada em avaliação epidemiológica (lisotipia em Salmonella Typhi); • Quando as cepas apresentarem aglutinação com antissoro Vi, a suspensão bacteriana deve ser submetida ao aquecimento em banho-maria (100oC-15 minutos) e em seqüência reavaliadas para confirmar a eliminação desta estrutura. Variação da estrutura somática (S-R): genotípica • Apresenta como característica fundamental ser de natureza genotípica. • Determina alterações quanto à morfologia colonial. 47 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais • Usualmente apresenta ausência de estabilidade em solução salina. • Sua ocorrência impede o diagnóstico antigênico tendo em vista que determina reações inespecíficas ou cruzadas. Variação flagelar (OH-O): fenotípica • Permitem a formação de grandes flocos que se dissolvem com agitação; • Importantes na caracterização conclusiva dos sorovares de Salmonella spp; • Apresentam natureza fenotípica. Quando da perda de uma de suas fases, podem ser, na maioria das vezes, recuperados utilizando o meio de Craigie (agar semi-sólido -0,5%): Semear a cepa Adicionar antissoro de fase conhecida Repicar cepa e caracterizar fase desconhecida Variações mediadas por fagos: • Presença de fagos temperados: grupos A, B, D de Salmonella spp. • Conversão lisogênica: fração 12 (Salmonella spp.) 10. Controle de Qualidade de Meios de Cultura, Reagentes e Equipamentos. 1. Principais aspectos quanto à manutenção: • Somente devem ser recebidos meios de cultura, adquiridos através de compra, cujo prazo de validade seja ≥ seis meses da data de recebimento; • Apertar todas as tampas dos frascos; • Observar prazo máximo de estocagem; • Registrar quantitativo em estoque, recepção e saída; • Nenhum meio de cultura pode ser utilizado após a data de vencimento: a revalidação somente pode ser efetuada pelo fabricante. 48 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 2. Estocagem dos meios de cultura • Proteger da luz solar e calor; • Manter em área com ventilação. 3. Preparo dos meios de cultura: • Seguir obrigatoriamente as instruções do fabricante; • Preparar a quantidade mínima, suficiente para o uso; • Observar o tempo de validade de meios preparados, estocados sob condições adequadas. Duração máxima de meios de cultura Meio de cultura 4°C 4°C Embalagem plástica Agar sangue Agar EMB Agar MacConkey 15 dias 15 dias 15 dias 50 dias 60 dias 60 dias Agar SS Agar XLD Agar Hektoen Agar Verde Brilhante 6 dias 5 dias 5 dias 2 dias 10 dias 10 dias 10 dias 4 dias Agar Sulfito Bismuto 24 horas 24 horas Tubos com agar Meio de Cultura Bucha de algodão Bucha de 4°C algodão - TA N° semanas N° semanas Fechamento hermético-plástico4°C - N° meses Agar LIA 1-2 1-2 3-6 Agar TSI 1-2 2-4 3-6 Agar KIA 3-4 2-4 2-4 Agar Müller Hinton 1-2 2-4 3-6 Agar Nutriente 3-4 1-2 2-4 Agar Uréia 3-4 1-2 2-4 Agar Citrato 3-4 1-2 2-4 Agar Fenilalanina 3-4 1-2 2-4 49 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Controle de Qualidade de Meios de Cultura • Controlar o pH de cada partida de meio; • Efetuar teste de esterilidade; • Realizar teste de desempenho: inocular uma alça do crescimento da cepa padrão e incubar nas condições de rotina até obter turvação correspondente ao tubo 0.5 da escala de MacFarland. • Anotar e registrar resultados em cada lote, como o exemplo abaixo. Meio de cultura:______________________________________ Cepas para controle: positivo:__________________________ negativo:__________________________ Data Data - Lote Controle Fabricação Data Vencimento pH Desempenho Esterilidade Responsável +/+/- 50 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 11. ANEXOS Meios de Cultura e Reagentes Os meios de cultura, reagentes e soluções não discriminadas abaixo foram preparados segundo as especificações ditadas pelos fabricantes. 10.1. Água Peptonada 1% Tamponada (pH 7,2) Peptona ........................................................................... 10,0 g Cloreto de sódio ................. ............................................ 5,0 g Fosfato de sódio bibásico ................................................ 3,5 g Fosfato de potássio monobásico .................................... 1,5g Água destilada ............................................................ 1000 ml. Suspender e dissolver os componentes em água destilada, esterilizar em autoclave a 121°C por 15minutos. pH final: 7,2 ± 0,2 a 2°C 10.2. Meio de Costa & Vernin (CV) A - Base Semi-Sólido Peptona............................................................................20,0 g Cloreto de Sódio............................................................. 5g Solução de Azul de Timol ............................................. 3 mL Indicador de Andrade .................................................... 10 mL Agar ............................................................................... 5g Água destilada ............................................................... 1000 mL Adicionar todos os elementos à água e aquecer até dissolver completamente o Agar. Ajustar o pH a 7,3 ou 7,4. Distribuir quantidades exatas do meio em balões e esterilizar a 121°C por 15 minutos. 51 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais B - Base Sólida Peptona (Bacto) .......................................................... 1g Triptona ou tripticase ................................................... 5 g Tiossulfato de Sódio .................................................... 0,2 g Sulfato ferroso Amoniacal............................................ 0,2 g Solução de Azul de Timol ........................................... 3 mL Indicador de Andrade ................................................... 10 mL Agar .............................................................................. 20 g Água destilada .............................................................. 1000 mL Adicionar os componentes em água destilada e aquecer em banho maria fervente até completa dissolução. Ajustar o pH a 7,3 ou 7,4. Distribuir quantidades exatas do meio em balões e esterilizar a 121°C por 15 minutos. Preparo e distribuição final do meio Fundir as bases e resfriar entre50 a 60°C, aproxima damente. Adicionar a cada um deles, na proporção de 5mL por cada 100 mL de meio, a solução de uréia e açúcares. Distribuir inicialmente o agar semi-sólido em volume de 2,5mL em tubos esterilizados de 13mm de diâmetro com altura variável. Deixar solidificar à temperatura ambiente cerca de 30 minutos, e acrescentar em seguida, volume idêntico por tubo, da base sólida. Inclinar os tubos de modo a deixar uma base de 2 a 3cm de altura, aproximadamente. Solução de Azul de Timol Azul de Timol .............................................................. 1,6 g NaOH 0,1N .................................................................. 34,4 mL Água destilada .............................................................. 65,6 mL Indicador de Andrade Fucsina ácida ............................................................... 0,5 g Hidróxido de Sódio N ................................................. 16 mL Água destilada ............................................................ 100 mL Dissolver a fucsina em água destilada e adicionar o hidróxido. 52 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Solução de Uréia e Açúcares Uréia ........................................................................... 20 g Lactose ....................................................................... 30 g Sacarose ...................................................................... 30 g Água destilada ............................................................. 100 mL Dissolver a mistura por aquecimento brando em banho maria e esterilizar por filtração. Conservar em geladeira. A semeadura é executada com auxílio de agulha, introduzindo-a até o terço superior da metade da camada semi-sólida e sob a forma de estrias, na superfície da parte sólida. Neste meio, poderá ser pesquisada a produção de indol, fixando no tampão, após a inoculação, uma tira de papel de filtro, embebida no reativo para pesquisa de indol ou então impregnando o próprio algodão (hidrófilo) na sua base interna, com esse reativo. Incubar a 37°C durante 2 4 a 48 horas. 10.3. Meio para Fermentação de Carboidratos Peptona ............................................................... 10 g Extrato de Carne ................................................. 3 g Cloreto de Sódio ................................................. 5 g Indicador de Andrade ........................................... 10mL Água destilada ...................................................... 1000mL Ajustar pH a 7,1 – 7,2. Distribuir em volumes de3 a 5mL e esterilizara121°C por 15 minutos. Os carboidratos glicose, lactose, sacarose e manitol são incorporados ao meio, na concentração final de 1,0%, os demais carboidratos são geralmente utilizados a 0,5%. A glicose, manitol, dulcitol, salicina, adonitol e inositol, podem ser incluídos ao meio básico e esterilizados a 121°C por 15 minutos, pois resistem a este processo. No entanto a lactose, sacarose, celobiose, arabinose, ramnose e xilose devem ser esterilizados a parte, principalmente sob a forma de soluções a 10 ou 53 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 20%, recorrendo-se para tanto, aos processos físicos, como a filtração ou o aquecimento a 121°C por 10 minutos, seguido de resf riamento brusco. A presença de ácido no meio, em decorrência do metabolismo da bactéria, é revelada pela viragem do indicador de Andrade para uma coloração avermelhada. 12. Bibliografia • Balfour, A.E., Lewis, R. &Ahmed, S. 1999. 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Manual for the Laboratory Identification and Antimicrobial Susceptibility Testing of Bacterial Pathogens of Public Health Importance World. in the Developing WHO/CDS/CSR/RMD/2003.6 www.cdc.gov/drugresistance/manual. 57 Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT 58 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 59 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 60 Interpretação dos testes de confirmação no ensaio de Salmonella pelo método ISO 6579 (2007) Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT 61 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Esquema de análise de Salmonella pelo Método BAM/FDA (2006) 62 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 63 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Identificação Bioquímica Presuntiva – LIA x TSI BAM/FDA (2006) Reação no LIA Reação no TSI Ações Ápice e base alcalinos com/sem H2S (típica) Ápice alcalino, base ácida, com/sem H2S (típica) continuar Ápice e base alcalinos com/sem H2S (típica) Ápice e base ácidos, com/sem H2S (atípica) continuar Base ácida, ápice alcalino com/sem H2S (atípica) Ápice alcalino, base ácida, com/sem H2S (típica) continuar Base ácida, ápice alcalino com/sem H2S (atípica) Base e ápice ácidos (atípica) descartar 64 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Método MLG/FSIS (2004) 65 Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais 66 descartar Continuar ** Base ácida sem H 2S ápice alcalino Base ácida sem H 2S ápice alcalino Base ácida com/sem H 2S ápice alcalino Base alcalina ou ácida sem H 2S, ápice alcalino Base e ápice alcalinos com H 2S Base ácida, ápice alcalino sem H 2 S Base ácida sem H 2S ápice alcalino Base ácida com H 2S, ápice alcalino Base e ápice ácidos sem H 2S Base e ápice ácidos com H 2S - + - + •S. Typhisuis – eventualmente encontrada em suínos nos Estados Unidos •** S. enterica subsp. arizonae ou diarizonae Sem alteração de cor no meio continuar Base e ápice alcalinos sem H 2S - 67 descartar descartar Continuar * Continuar continuar continuar Base ácida, ápice alcalino sem H 2 S + + Base e ápice alcalinos com H 2S + Base ácida, ápice alcalino com H 2 S Ações Base e ápice alcalinos com H 2S Poli H Base ácida/ápice alcalino com H 2 S Poli O LIA TSI Método MLG/FSIS (2004) Gênero Salmonella: Características Epidemiológicas e Laboratoriais Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ LRNCEB/LABENT