A contracção muscular Investigadores entre 1930 e 1960 propuseram que a contracção muscular se devia à contracção dos filamentos. Foi Andrew Huxley (1957) que propôs o Sliding Filament Model, de acordo com o qual os filamentos de actina e de miosina deslizam para dentro um do outro. 16 A contracção muscular A teoria “walk-along” descreve como é que a contracção muscular pode ocorrer através dum movimento cíclico de ligação e desprendimento das cabeças de miosina à actina. • A chegada dum impulso nervoso à junção neuromuscular conduz à libertação de acetilcolina na fenda sináptica. A acetilcolina abre canais catiónicos que conduzem um fluxo despolarizante de Na+ para o interior do sarcoplasma (via túbulos T). http://www.unmc.edu/Physiology/Mann/mann14.html • A acção despolarizante do Na+ conduz à abertura de canais de Ca2+ no retículo sarcoplasmático, que saem para o sarcoplasma onde se encontram as miofibrilhas. 17 A contracção muscular Os iões ligam-se à troponina no filamento de actina (Fase 1 da figura). Ocorre uma alteração conformacional no complexo de troponina, que faz com que a tropomiosina se desloque sobre a actina, deixando a descoberto os locais activos sobre a molécula de actina. As cabeças de miosina ligam-se a estes locais activos. Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ Ca2+ 18 A contracção muscular Quando uma cabeça de miosina se liga a um sítio activo na actina, ocorrem alterações nas forças intramoleculares entre a cabeça de miosina e o braço da ponte cruzada, que faz com que a cabeça da miosina se incline na direcção do braço, puxando o filamento de actina (fica a 450). Esta inclinação súbita das cabeças de miosina (resultante de alterações do seu estado conformacional) dá origem à força de deslocamento e só é possível graças à libertação da energia previamente armazenada na miosina. Ao curvar-se, ocorre a libertação do ADP e Pi que estavam ligados à cabeça de miosina (Fase 2 da figura). 19 A contracção muscular Liga-se uma molécula de ATP na zona da cabeça de miosina de onde se libertou a molécula de ADP. Isto conduz à libertação da cabeça de miosina do sitio activo da actina (Fase 3 da figura). 20 Rigor mortis Algumas horas após a morte, todos os músculos do corpo ficam num estado de contracção designado rigor mortis; os músculos contraem e ficam rígidos, mesmo sem quaisquer potenciais de acção. Esta rigidez deve-se à perda de ATP, que é necessário para promover a separação da actina da miosina. Os músculos permanecem em rigor mortis até à deterioração das proteínas musculares, cerca de 15 a 25 horas depois da morte. 21 A contracção muscular A acção ATPásica da cabeça de miosina conduz à hidrólise das moléculas de ATP em ADP e Pi. A energia resultante da degradação conduz à alteração conformacional da cabeça de miosina, que passa a estar novamente a um ângulo de 900 em relação à actina (Fase 4 da figura). Nesta posição, pode combinar-se com um novo sitio activo da actina (mais adiante), e todo o ciclo se repete mais uma vez. Desta forma os filamentos de actina são empurrados na direcção do centro do sarcómero. Cada uma das ponte cruzadas actua independentemente com a actina. Quanto maior o número de ponte cruzadas maior a força da contracção. 22 A contracção muscular: o ciclo das pontes cruzadas 23 Término da contracção muscular • O ciclo das pontes cruzadas continuará a processar-se enquanto o Ca2+ se mantiver ligado à troponina C. O complexo de troponina interage com a tropomiosina, e os locais activos da actina ficam expostos permitindo a interacção actomiosínica. • O relaxamento da fibra ocorre quando cessam os impulsos do motoneurónio e, consequentemente, quando termina a libertação de acetilcolina na placa motora. Parte da acetilcolina é degradada a colina e acetato pela acetilcolinesterase que está ligada à fina camada de tecido conectivo que preenche a fenda sináptica. A outra parte difunde-se para o exterior da fenda sináptica. • O Ca2+ é reincorporado activamente no retículo sarcoplasmático, libertando-se da troponina. • A tropomiosina modifica a sua posição relativamente às subunidades de actina, inibindo a interacção entre a actina e a ponte cruzada. 24 Junção neuromuscular As fibras musculares esqueléticas são inervadas por fibras nervosas mielinizadas que tem origem nos corpos dos neurónios motores situados nos cornos anteriores (ou ventrais) da medula espinal. Junto aos músculos, a fibra nervosa ramifica e estimula de 100 a 1000 fibras musculares esqueléticas (em média) (Kandel et al, 2000, Principles of Neuroscience). Cada terminação nervosa realiza uma junção com uma zona especializada da fibra muscular: a placa motora (motor end-plate). Ao conjunto da terminação nervosa, fenda sináptica e placa motora chama-se junção neuromuscular. http://www.mc.ntu.edu.tw/department/anatomy/Histology/skeletal.html 25 Junção neuromuscular O potencial de acção gerado em cada junção neuromuscular viaja em ambas as direcções até ao fim da fibra muscular. Em geral, existe somente uma junção por fibra muscular. • Na zona da junção neuromuscular a membrana invagina, formando o botão sináptico ou goteira. • O espaço entre a terminação nervosa e a membrana da fibra muscular é a fenda sináptica (cerca de 70 nm de largura em MacIntosh et al, 2006, Skeletal Muscle, Human Kinetics). • No botão sináptico, a membrana muscular forma inúmeras invaginações para o interior designadas por fendas subneurais (subneural clefts), que aumentam 26 consideravelmente a área em que o neurotransmissor (a acetilcolina) pode actuar. Libertação das vesículas com acetilcolina Guyton & Hall, 2005, Textbook of Medical Physiology. Em condições de repouso, uma vesícula de acetilcolina pode ocasionalmente fundir-se com a membrana do terminal nervoso e libertar o seu conteúdo para a fenda sináptica. Quando isso ocorre dá-se um mini potencial da placa motora. Este tem de cerca de 0.5 mV e dura alguns ms (Kandel et al, 2000, Principles of Neuroscience). Quando um potencial de acção chega à terminação nervosa conduz à abertura de canais de Ca2+ dependentes da voltagem. O Ca2+ difunde-se da fenda sináptica para o interior da terminação nervosa. Como resultado a concentração de Ca2+ aumenta cerca de 100×. O Ca2+ estímula a fusão das vesículas de acetilcolina com a membrana neuronal. A velocidade de fusão das vesículas de acetilcolina aumenta 10,000×. Estas fundem-se com a membrana e libertam o seu conteúdo molecular, de acetilcolina, para a fenda sináptica – um processo designado por exocitose. Quando chega um impulso nervoso à junção neuromuscular, são libertadas cerca de 125 vesículas de acetilcolina na fenda sináptica. 27 Geração do potencial de acção na fibra muscular Após o terminal do neurónio motor libertar acetilcolina, a membrana da placa motora despolariza rapidamente. Este potencial pós-sináptico excitatório é o potencial da placa motora (end-plate-potential). O variação do potencial da placa motora é de cerca de +70 mV (na área adjacente à membrana o potencial do músculo passa rapidamente de – 90 mV a – 20 mV). Esta variação rápida de potencial deveu-se à abertura dos receptores nicotínicos (canais catiónicos permeáveis ao Na+, K+ e Ca2+). 1) Entra Na+ e sai K+ através dos canais catiónicos que abrem sob acção da acetilcolina. 2) A despolarização local origina a abertura de canais de Na+ dependentes da voltagem. Gera-se um potencial de acção que se propaga ao longo do músculo! Kandel et al, 2000, Principles of Neuroscience, NY: MacGraw-Hill. 28 O potencial de acção na fibra muscular O potencial de acção dura de 1 a 5 ms. A velocidade de condução é de 3 a 5 m/s). De maneira a promover a contracção muscular os potenciais de acção têm de penetrar profundamente no interior da fibra muscular. Fazem-no através do sistema de túbulos T, que penetra até ao interior da fibra. A despolarização conduz então à libertação de iões Ca2+ pelo retículo sarcoplasmático. Os canais de Ca2+ permanecem abertos durante alguns ms, libertando o Ca2+ no sarcoplasma que rodeia as miofibrilhas. A concentração de Ca2+ pode aumentar até 2 × 10-4 M, 500× mais do que no repouso (< 10-7 M), isto é 10× mais do que o necessário para promover máxima contracção muscular. Este ao ligar-se à troponina C começa o processo de contracção muscular (Guyton & Hall, 2005). 29 O potencial de acção na fibra muscular Widmaier et al, 2006, Vander´s Human Physiology: The Mechanisms of Body Funcion, McGraw-Hill. Os túbulos T estão em contacto com as paredes laterais das cisternas do retículo sarcoplasmático através de estruturas designadas por pés de junção. Os pés de junção são constituídos por proteínas integrais de membrana. Ligada ao Túbulo-T encontra-se uma modificação do canal de Ca2+ sensível à voltagem conhecido por receptor de dihidropiridina (DHP) (pelo facto de se ligar a uma classe de drogas conhecidas por dihidropiridinas). O papel principal do receptor DHP é funcionar como sensor de voltagem. Ligado à membrana da cisterna do RS encontra-se o receptor de rianodina. Esta proteína forma um canal de Ca2+. A chegada dum potencial de acção aos Túbulos-T induz uma alteração de conformação no receptor DHP, que é transmitida ao receptor de rianodina, abrindo o canal catiónico que permite a saída de iões Ca2+ para o 30 sarcoplasma. Depleção do Ca2+ do citosol A contracção muscular continua enquanto as concentrações citosólicas de Ca2+ estiverem elevadas (pulso de Ca2+ dura ~0.05 ms). Em repouso, a concentração citosólica de Ca2+ é aproximadamente 10-7 M, podendo subir até cerca dos 10-4 M quando o músculo é excitado. O Ca2+ é activamente bombeado para o exterior do citosol por vários transportadores: • 90% do Ca2+ é bombeado para o interior do SR pela Ca2+ ATPase (SERCA). • O Ca2+ é bombeado para o exterior da fibra muscular por transportadores existentes na membrana celular: Ca2+ ATPase, trocador Na+/ Ca2+ (3:1). • O Ca2+ é bombeado para o interior dos mitocôndrios através dum trocador Na+/ Ca2+ (2:1) e de um uniporter de Ca2+. 31 Tipos de contracção muscular A força exercida num objecto por um músculo em contracção chama-se tensão muscular. A força exercida num músculo por um objecto (habitualmente o seu peso) designa-se carga. A tensão muscular e a carga são forças opostas. A variação do comprimento da fibra muscular vai depender da magnitude relativa da tensão e da carga. Na contracção isométrica ou estática o músculo desenvolve tensão mas não varia de comprimento. Ocorrem, por exemplo, quando o músculo sustenta um peso. Este tipo de contracção é particularmente útil para medir a força da contracção muscular. Na contracção dinâmica o músculo varia de comprimento durante a contracção. Na contracção concêntrica ou miométrica o músculo diminui de comprimento. Nesta situação a carga é inferior à tensão muscular. Se a carga for superior à tensão desenvolvida pelo músculo, então ocorre uma contracção de alongamento designada por excêntrica ou pliométrica. 32 A relação comprimento-tensão no sarcómero Gordon et al, 1966, J Physiol, 184:170-192. A relação comprimento-tensão representa a força (tensão) que uma fibra muscular gera quando estimulada em diferentes comprimentos (estes diferentes comprimentos são controlados experimentalmente). No ponto A, o filamento de actina está completamente afastado do filamento de miosina, não havendo qualquer sobreposição entre os dois (estado 1 da Figura 14). Neste ponto, a tensão desenvolvida pelo músculo é nula. À medida que o sarcómero diminui de tamanho, o filamento de actina começa a sobrepor-se ao filamento de miosina e a tensão muscular gerada pela fibra aumenta (estamos a ir do ponto A → B, e do estado 1→ 2 na Figura 14). 33 A relação comprimento-tensão no sarcómero Gordon et al, 1966, J Physiol, 184:170-192. Entre os 2.2 µm e os 2 µm o sarcómero produz a sua tensão máxima (entre os estados 2 e 3). Aos 2.2 µ m os filamentos de actina sobrepuseram-se completamente a todas as cabeças de miosina, mas ainda não chegaram ao centro do filamento de miosina (estado 2). A tensão produzida pelo músculo diminui à medida que o sarcómero encolhe porque começa a dar-se sobreposição dos filamentos de actina (estamos a ir do ponto C → D , e estado 3 → 5). À medida que a compressão continua, os filamentos de miosina são esmagados, e como é natural a força de contracção diminui rapidamente. 34 A relação comprimento-tensão no músculo inteiro Neste gráfico encontra-se representada a tensão muscular em função do estiramento muscular. Existem duas curvas de tensão: - A de cima indica a tensão muscular, em função do estiramento muscular, quando o músculo se encontra contraído. - A debaixo indica a tensão muscular, em função do estiramento muscular, quando o músculo não está contraído (no músculo relaxado). Guyton & Hall, 2005, Textbook of Medical Physiology. Como se pode observar, mesmo no músculo relaxado, o estiramento muscular conduz ao aumento da tensão muscular. Esta tensão resulta das forças elásticas exercidas pelo tecido conectivo, o sarcolema, os vasos sanguíneos, nervos e aí por diante. Assim, para um dado estiramento muscular o aumento de tensão provocado pela contracção muscular (aquele que é associado só à tensão gerada pelo músculo) é uma subtracção entre a curva superior e a curva inferior (que acomoda o aumento de tensão não associado à contracção muscular). 35 A relação comprimento-tensão no músculo inteiro Quando o músculo se encontra no seu estado de repouso normal, os seus sarcómeros têm cerca de 2 µm. Nestas condições o músculo ao contrair-se encontra-se no seu máximo de força de contracção. Guyton & Hall, 2005, Textbook of Medical Physiology, Pennsylvania: Elsevier À medida que o estiramento muscular aumenta, a tensão activa (diferença entre as duas curvas) diminui. O músculo esquelético contraí-se muito rapidamente quando nenhuma força se opõem à sua contracção (em média uma contracção completa demora cerca de 0.1 s). À medida que a força que se opõem à contracção aumenta, a velocidade de contracção do músculo diminui. 36 Fontes de energia para a contracção muscular A contracção muscular depende de energia (sob a forma de ATP). O ATP é utilizado: • Actomiosina ATPase; • Ca2+ ATPase; • Na+-K+ ATPase (membrana celular). A concentração de ATP no sarcoplasma é de cerca de 4 mM, o suficiente para manter a contracção muscular durante 1 a 2 seg. A refosforilação do ADP é necessária ao funcionamento do músculo. Existem três fontes de energia para a contracção muscular: • A creatina é convertida numa molécula chamada fosfocreatina que funciona como um reservatório de energia rápida (concentração 4 a 8× maior do que a do ATP). 37 Fontes de energia para a contracção muscular A energia combinada do ATP e da fosfocreatina é capaz de manter a contracção muscular durante 5 a 8 seg (Guyton & Hall, 2005, Medical Physiology). • A glicólise liberta energia que é convertida em ATP (2.5× mais rápida na produção de ATP que o Ciclo de Krebs). O ATP é usado directamente na contracção muscular ou para sintetizar fosfocreatina. As reacção glicolíticas podem ocorrer na ausência de O2, de tal maneira que a contracção muscular consegue suster-se durante mais de 1 min na ausência de O2. • Metabolismo oxidativo. Isto significa que o O2 combina-se com os produtos finais da glicólise gerando mais ATP (o ácido pirúvico entra no ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs, que conduz à produção final de água e CO2). Mais de 95% da energia usada pelos músculos provém desta fonte. São consumidos glicídos, lipídos e proteínas. 38 Tipos de fibras musculares As fibras musculares esqueléticas não tem todas as mesmas características mecânicas e metabólicas. Diferentes tipos de fibras podem ser identificadas com base: • Na velocidade máxima de contracção – rápida ou lenta. • Na via preferencial que utilizam para produzir ATP – glicólise anaeróbia ou ciclo de Krebs. As fibras lentas e as fibras rápidas contêm formas de miosina com diferentes velocidades máximas de degradação do ATP. As fibras que contém miosina com baixa actividade ATPásica designam-se fibras lentas (também conhecidas por fibras do tipo I). As fibras que contém miosina com elevada actividade ATPásica designam-se fibras rápidas (também conhecidas por fibras do tipo II). A velocidade do ciclo das cabeças de miosina é cerca de quatro vezes maior nas fibras rápidas do que nas fibras lentas. No entanto, a força exercida por ambos os tipos de fibras é idêntica. 39 Tipos de fibras musculares O segundo tipo de classificação das fibras do músculo esquelético depende do tipo de maquinaria enzimática utilizada na síntese do ATP. Algumas fibras contém inúmeros mitocôndrios e por isso têm uma elevada capacidade de fosforilação oxidativa. Estas fibras são conhecidas como fibras oxidativas. Estas fibras estão rodeadas por inúmeros vasos sanguíneos que lhes fornecem o oxigénio e os nutrientes necessários à oxidação. Também contêm mioglobina que armazena oxigénio e aumenta a velocidade de difusão do oxigénio para o interior da fibra. As grandes quantidades de mioglobina nas fibras oxidativas dão um aspecto de vermelho escuro a estes músculos, que são conhecidos por fibras musculares vermelhas. 40 Tipos de fibras musculares As fibras glicolíticas têm poucos mitocôndrios e possuem uma elevada concentração de enzimas glicolíticas e de glicogénio. Estas fibras estão rodeadas por um número reduzido de vasos sanguíneos e contêm pouca mioglobina. A falta de mioglobina é responsável pelo aspecto pálido destes músculos e pela sua designação por fibras musculares brancas. Com base nestas características podem-se distinguir três tipos de músculo esquelético: 1) Fibras oxidativas lentas que combinam baixa actividade ATPásica da miosina com elevada capacidade oxidativa (tipo I). 2) Fibras oxidativas rápidas que combinam elevada capacidade ATPásica da miosina com elevada capacidade oxidativa e intermediária capacidade glicolítica (tipo IIa). 3) Fibras glicolíticas rápidas que combinam elevada capacidade ATPásica da miosina com elevada capacidade glicolítica (tipo IIb). O quarto tipo de fibras, fibras glicolíticas lentas, não é encontrado. 41 Mais diferenças entre as fibras oxidativas e glicolíticas As fibras glicolíticas têm geralmente diâmetros maiores que as fibras oxidativas. O número de filamentos grossos e finos por unidade de secção recta da fibra muscular é mais ou menos o mesmo para todo o tipo de fibras musculares esqueléticas. Assim, quanto maior o diâmetro da fibra muscular, maior o número de fibras finas e grossas a actuar em paralelo para produzir força, e assim maior a tensão máxima produzida pelo músculo. Portanto, a fibra glicolítica média desenvolve mais tensão quando contrai do que a fibra oxidativa média. As fibras glicolíticas rápidas são pouco resistente à fadiga, enquanto que as fibras oxidativas lentas são muito resistentes à fadiga, o que lhes permite manter a actividade contráctil durante longos períodos de tempo sem perda de tensão. As fibras oxidativas rápidas tem uma capacidade intermédia de resistência à fadiga. 42 Tipos de fibras musculares Widmaier et al, 2006, Vander´s Human Physiology: The Mechanisms of Body Funcion, McGraw-Hill 43 Tipos de fibras musculares Nos seres humanos, muitos músculos são combinações dos vários tipos de fibras musculares, em proporções variáveis dependendo da acção do músculo. A proporção dos diferentes tipos de fibra musculares varia de pessoa para pessoa. A tabela 20.2 indica, em quatro estudos com atletas de endurance, que a incidência de fibras tipo I é mais elevada, e que a incidência de fibras de tipo II é mais baixa, nos atletas do que nos controlos. A tabela 20.3 indica, num estudo longitudinal em que pessoas não treinadas (b) são sujeitas a treinos de endurance (a), que há conversão de fibras do tipo II em fibras do tipo I, e fibras do tipo IIb em IIa (em MacIntosh et al, 2006, Skeletal Muscle, Human Kinetics). 44 Alterações musculares Todos os músculos do corpo estão continuamente a ser alterados para se adequarem às funções que lhes são pedidas. Ocorrem alterações no seu diâmetro, comprimento, força, irrigação, e até tipo de fibras musculares que o compõem (mas só ligeiramente). O aumento de massa muscular resulta dum aumento do número de filamentos de actina e de miosina em cada fibra muscular, provocando um aumento das fibras musculares individuais. Isto normalmente ocorre como resultado de se ter contraído o músculo até próximo da sua força máxima ou à sua força máxima. Paralelamente, ocorre também um aumento dos sistemas enzimáticos que fornecem energia ao músculo. O aumento do comprimento do músculo é motivado por estiramento do mesmo acima do seu comprimento normal. Nestas condições, são adicionados novos sarcómeros às extremidades das fibras musculares, onde estas se ligam aos tendões. Os processos de hipotrofia são opostos, com degradação dos filamentos, sistemas enzimáticos e sarcómeros entretanto críados. 45 A mecânica da contracção muscular Cada neurónio motor inerva várias fibras musculares, o número de fibras inervadas depende do tipo de músculo. O neurónio motor mais as fibras musculares que inerva constituem uma unidade motora. No músculo, as fibras musculares de diferentes unidades motoras, estão misturadas umas com as outras (em conjuntos de 3 a 15 fibras). Isto permite que a contracção muscular se dê com ajuda de várias unidades motoras. As fibras musculares duma unidade motora pertencem ao mesmo tipo de fibra. Em geral, pequenos músculos que agem rapidamente e com elevado controlo têm poucas fibras musculares por unidade motora. Por outro lado, os músculos que requerem pouco controlo, podem ter centenas de fibras musculares por unidade motora. Olho Rosto e pescoço Pé Braço Perna em MacIntosh et al, 2006, Skeletal Muscle, Human Kinetics 46 Somatório de contracções musculares As diferentes unidades motoras podem operar de maneira a aumentar a intensidade da contracção muscular. O somatório ocorre de duas maneiras: (1) aumento do número de unidades motoras que se contraem simultaneamente - somatório de unidade motoras múltiplas ou somatório espacial. (2) aumento da frequência da contracção somatório de onda ou somatório temporal. Widmaier et al, 2006, Vander´s Human Physiology: The Mechanisms of Body Funcion, McGraw-Hill. 47 Somatório de unidades motoras múltiplas (ou somatório espacial) A contracção dum músculo implica a excitação de uma ou mais unidades motoras. O mesmo músculo irá conter unidades motoras de diferentes tamanhos (com mais ou menos fibras musculares por unidade), com as unidades maiores a fornecerem 50× mais força de contracção do que as unidades mais pequenas. As unidades motoras menores são excitadas com muito mais facilidade do que as maiores porque são inervadas por fibras nervosas menores, cujos corpos celulares na medula apresentam uma maior excitabilidade. As gradações de força muscular durante contracções fracas ocorrem a intervalos muito pequenos, mas os intervalos tornam-se progressivamente maiores com o aumento da intensidade de contracção, devido à entrada em funcionamento das unidades motoras maiores. O principal mecanismo através do qual o córtex motor promove o aumento da força (tensão) em determinado grupo muscular, é precisamente recrutando mais unidades motoras, efeito que é designado por somatório de unidades motoras múltiplas. Guyton & Hall, 2005, Human Physiology. 48 Somatório de onda (ou somatório temporal) No músculo esquelético a duração do período de contracção é muito superior à duração do potencial de acção que o desencadeia (tempo contracção (~100 ms) /tempo potencial acção (1-2 ms) >>1). Assim, o potencial de acção termina durante a fase inicial do período de contracção. Deste modo, se o motoneurónio for estimulado repetidamente, e se o segundo impulso atingir o músculo antes de ocorrer o relaxamento completo após o primeiro impulso, este tende a contrair-se ainda mais. Como o músculo ainda se encontra num estado de contracção parcial quando se inicia a segunda contracção, o grau de encurtamento final será ligeiramente superior ao que cada um dos impulsos isoladamente geraria (nível superior de tensão). 49 Somatório de onda (ou somatório temporal) O fenómeno de somatório de onda começa a ocorrer quando a frequência de estimulação ultrapassa ~10 impulsos por segundo (Heckamn et al., 2008, in Conn (ed). Neuroscience in Medicine, Humana Press, Cap 19). Se o músculo for estimulado com frequências progressivamente maiores, atinge-se finalmente uma frequência em que as contracções sucessivas se fundem e não são distinguidas umas das outras. Este estado denomina-se por tetanização e a frequência mais baixa em que ocorre é conhecida como frequência crítica. Na tetanização um número suficiente de iões Ca2+ é mantido no sarcoplasma, mesmo entre potenciais de acção, de tal maneira que o estado contráctil é mantido sem relaxação entre potenciais de acção. 50 Receptores de propriocepção Existem duas modalidades de propriocepção: • Sensibilidade em relação à posição estacionária dos membros (sentido de posição). • Sensibilidade em relação ao movimento dos membros (cinestesia). Estas sensações são importantes para controlar os movimentos dos membros, manipular objectos com diferentes massas e formatos, e para a manutenção da postura vertical. Dois tipos principais de mecanoreceptores nos músculos esqueléticos: • Fuso neuromuscular (muscle spindle) • Orgãos tendinosos de Golgi (Golgi tendon organ) 51 Fuso neuromuscular • Os fusos neuromusculares são receptores sensoriais encapsulados. Têm um formato de fuso (80 a 250 µm de diâmetro máximo, até 10 mm de comprimento) e encontram-se no interior dos músculos esqueléticos (MacIntosh et al, 2006, Skeletal Muscle). • Assinalam alterações no comprimento do músculo, e indirectamente alterações nos ângulos realizados entre os músculos. http://www.ucl.ac.uk/~sjjgsca/MuscleSpindle.gif • Cada fuso tem três componentes: 1. Fibra muscular intrafusal – constituída por uma zona central não contráctil, à qual se enrolam as fibras sensoriais, e por zonas polares contrácteis, à qual se enrolam os motoneurónios gama. 2. Terminações nervosas sensoriais mielinizadas (de grande diâmetro). 3. Terminações nervosas motoras mielinizadas (de pequeno diâmetro). 52 Fuso neuromuscular • Quando as fibras intrafusais são esticadas, as terminações sensoriais são esticadas, aumentando a sua velocidade de disparo. • Como as fibras intrafusais estão dispostas paralelamente às fibras http://www.unmc.edu/Physiology/Mann/pix_4b/musclespindle2.gif extrafusais (o restante músculo), quando o músculo estica, as fibras intrafusais também esticam. • Quando os motoneurónios gama excitam as regiões polares das fibras intrafusais, estas contraem-se e a zona central do fuso alonga. Isto aumenta a velocidade de disparo do receptor sensorial e aumenta a probabilidade de que um estiramento do músculo active o receptor sensorial. Ou seja, ajusta a sensibilidade do fuso neuromuscular. 53 Fuso neuromuscular http://education.vetmed.vt.edu/Curriculum/VM8054/Labs/Lab10/lab10.htm • Quando o músculo é esticado, existem duas fases no processo: (1) fase dinâmica de aumento do comprimento; (2) fase estática de estabilização no novo comprimento. O fuso neuromuscular sinaliza ambas as partes. 54 Fuso neuromuscular • Existem dois tipos de fibras musculares intrafusais: 1. Fibras de Saco Nuclear; 2. Fibras de Cadeia Nuclear. Um fuso neuromuscular típico contém 2 a 3 fibras de saco nuclear e um número variável de fibras de cadeia nuclear, normalmente 5. • Existem dois tipos de fibras sensoriais: 1. Primárias (Ia) - Uma única fibra do tipo Ia termina na zona central do fuso, recebendo informação de todas as fibras intrafusais. 2. Secundárias (II) - Número variável (até 8) de fibras do tipo II. Recebem informação das fibras de cadeia nuclear e de saco nuclear estática. • Existem dois tipos de fibras motoras gama: 1. Estáticas – inervam a fibra de saco nuclear estática e as fibras de cadeia nuclear. 2. Dinâmicas – inervam a fibra de saco nuclear dinâmica. Kandel et al, 2000, Principles of Neuroscience, NY: MacGraw-Hill. 55 Fuso neuromuscular • As fibras Ia codificam a velocidade de alteração do comprimento do músculo e o seu comprimento. As fibras II são particularmente sensíveis ao comprimento do músculo. 56 Orgãos tendinosos de Golgi • Os orgãos tendinosos de Golgi estão localizados nas junções entre os músculos e os tendões. • Estruturas encapsuladas com cerca de 1 mm de comprimento e 0.1 mm de diâmetro. • Cada orgão é inervado por um único neurónio aferente (Ib), que perde a sua camada de mielina quando entra na cápsula. Este ramifica, inervando toda a estrutura. • O orgão é constituído por inúmeras fibras de colagéneo, que quando esticadas comprimem as terminações nervosas, promovendo o disparo do neurónio. • O orgão tendinoso de Golgi é especialmente sensível a alterações na tensão muscular. 57 Orgãos tendinosos de Golgi Os órgãos tendinosos de Golgi são preferencialmente activados pela contracção das fibras muscular ligadas aos feixes de fibras de colagéneo que contêm o receptor. O nível médio de actividade dos órgãos tendinosos de Golgi num músculo dá uma medida da força total do músculo contraído. Ao lado, encontra-se a representação gráfica das respostas de órgãos tendinosos de Golgi do músculo anterior da tíbia de gatos (Schäfer et al, 1999, Brain Research, 846: 210–218). O paradigma experimental designa-se ramp-and-hold stretch. Aumenta-se a tensão muscular por distensão do músculo, uma vez chegada à tensão desejada o comprimento do músculo é mantido constante, depois regressa ao estado inícial. 58 Bibliografia • Kandel et al., 2000, Principles of Neuroscience, NY: MacGraw-Hill. • Guyton & Hall, 2005, Textbook of Medical Physiology, Pennsylvania: Elsevier. • Widmaier et al., 2006, Vander´s Human Physiology: The Mechanisms of Body Funcion, NY: McGraw-Hill. 59