_____________________________________________________________________________ CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO GESTÃO DE UNIDADES DE CUIDADOS Literacia em Saúde no Doente Coronário Isabel Gaspar Pereira Orientador: Professora Doutora Maria Manuela Frederico Ferreira Professora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem na Área de Especialização em Gestão de Unidades de Cuidados Coimbra, novembro de 2013 4 PENSAMENTO "Quanto mais conhecimento, mais vida." Pirkei Avot 5 AGRADECIMENTOS Esta dissertação contou com a ajuda e colaboração de amigos, colegas de trabalho e familiares. Gostaria de expressar toda a minha gratidão e o reconhecimento a todos que tornaram possível a sua concretização, a todos eles deixo aqui o meu agradecimento muito sincero. Ao Henrique, meu marido pelo carinho, compreensão, companheirismo, que me proporcionou, ajuda, incentivo, mesmo com as minhas ausências. Ao Bernardo, ao Tomás e à D. Maria, meus filhos e sogra pelo afeto, compreensão e encorajamento e disponibilidade em todos os momentos. O meu reconhecimento à Professora Doutora Manuela Frederico, pela compreensão, disponibilidade, e paciência que não só se disponibilizou a orientar esta tese, como ao longo de todo o trabalho me incentivou. Este trabalho não teria sido possível sem a autorização do Dr. João Morais e colaboração do Serviço de Cardiologia, consentidas para a aplicação dos questionários e sem a valiosa colaboração dos doentes coronários participantes neste estudo. A todos O MEU MUITO OBRIGADO 6 LISTA DE SIGLAS ACSS- Administração Central do Sistema de Saúde ALL- Adult Literacy and Life-skills Survery AVC- Acidente Vascular Cerebral CABG- Cirurgia de Revascularização Miocárdio CHD- Coronary Heart Disease CI- Confidence Interval CK-Creatinina Quinase Conh.FRG- Conhecimento dos fatores de risco gerais Conh.FRP- Conhecimento dos fatores de risco presentes CT- Colesterol Total DAC- Doença Arterial Coronária DC- Doença Coronária DCV- Doença Cardiovascular DGS- Direção Geral Saúde DIC- Doença Isquémica do Coração DM- Diabetes Mellitus DMV- Doença Multivaso DP- Desvio Padrão DR- Diário da República EACTS- European Association for Cardio-Thoracic Surgery EAM- Enfarte Agudo Miocárdio EAS-European Atherosclerosis Society ECG- Eletrocardiograma ESC- European Society of Cardiology FPC- Fundação Portuguesa de Cardiologia FR- Fatores de Risco FRCV- Fatores de Risco Cardiovascular FRG- Fatores de risco gerais 7 FRP- Fatores de risco presentes GDH- Grupos Diagnóstico Homogéneo HDL- Lipoproteínas de Alta Densidade HTA- Hipertensão Arterial IALS- International Adult Literacy Survey ICP- Intervenção Coronária Percutânea IECA- Inibidores da Enzima Conversora Angiotensina IMC- Índice Massa Corporal INE- Instituto Nacional Estatística INEM- Instituto Nacional de Emergência Médica INR- International Normalised Ratio IqNS- Inquéritos Nacionais de Saúde LDL- Lipoproteínas de Baixa Densidade M- Média MS- Ministério da Saúde OE- Ordem Enfermeiros OECD- Organization for Economic Co-operation and Development OMS- Organização Mundial de Saúde QM- Quilomicra RNSCA- Registo Nacional Síndrome Coronário Agudo RR- Relative Risk SCA- Síndrome Coronário Agudo SCA-NSTE=EAMSST-Enfarte Agudo Miocárdio Sem Elevação do Segmento ST SCA-STE=EAMCST- Enfarte Agudo Miocárdio Com Elevação Segmento ST SPC- Sociedade Portuguesa de Cardiologia TG- Triglicéridos TMO- Terapêutica Médica Otimizada UE- União Europeia VLDL- Lipoprotéinas de Densidade muito Baixa WHO- World Health Organization 8 RESUMO A literacia em saúde envolve a capacidade que os doentes têm em comunicar com os profissionais de saúde, ler informação, seguir recomendações e decidir como e quando procurar ajuda destes. Muitos doentes com doença coronária não entendem a melhor maneira de cuidar de si mesmos e prevenir a doença, desconhecem a relação entre os clássicos fatores de risco e a eclosão da doença. Alguns não estão sequer conscientes de que a doença cardíaca é evitável, através duma atuação efetiva sobre os fatores de risco modificáveis. Este estudo, descritivo correlacional, tem como objetivos avaliar e caracterizar os níveis de literacia em saúde em doentes com doença coronária, avaliar a influência da procura de folhetos/informação escrita e explorar a efetividade nas mudanças dos hábitos de vidas. O questionário é o instrumento de colheita de dados utilizado. A amostra é constituída por 51 doentes internados no serviço de Cardiologia, com diagnóstico de doença coronária. Destacam-se os seguintes resultados: A maioria dos sujeitos é do sexo masculino sendo 48, (94,1%), a média de idade é de 61 anos, estes indivíduos vivem com o cônjuge, estão reformados, auferem rendimentos entre os 500-1500€ e cerca de metade têm como habilitações o ensino secundário. A aquisição de conhecimento provém informações vindas de enfermeiro/médico. Os fatores de risco gerais mais referenciados para a doença coronária são os elevados níveis de colesterol, o hábito de fumar, a obesidade e a tensão arterial elevada. Por sua vez, a tensão arterial elevada, o hábito de fumar e o stress, são os fatores de risco mais presentes na sua doença coronária. O valor médio do nível de literacia é de 41,37 com desvio padrão de 8,78, numa escala de 0 a 72. Há valores acima de 60% de respostas negativas nas mudanças de hábito de vida. Apenas 13,7% dos inquiridos efetivaram quatro mudanças nos seus hábitos de vida. Os resultados permitem afirmar que, a idade não tem uma relação estatisticamente significativa com o nível de literacia em saúde, as habilitações literárias não influenciam o nível de literacia em saúde, este não difere consoante a procura de folhetos/informação escrita e que apenas uma pequena percentagem (7,45%) de mudanças nos hábitos de vida têm a ver com o nível de literacia em saúde. Palavras-chave: literacia em saúde, doença coronária, fatores de risco 9 ABSTRACT Health literacy involves the ability that patients have in communicating with health professionals, reading information, following recommendations and deciding how and when to seek their help. Many patients with coronary heart disease do not understand the best way to take care of themselves and prevent the disease, they are unaware of the relation between classic risk factors and the outbreak of the disease. Some patients are not even aware that heart disease can be prevented, through an effective action on the modifiable risk factors. This descriptive correlational study, aims to evaluate and characterize the levels of health literacy in patients with coronary disease, evaluate the influence of the demand for brochures / written information and explore the effectiveness of changes in their life habits. The questionnaire is the instrument used to collect information. The sample consists of 51 patients admitted to the cardiology service with a diagnosis of coronary heart disease. The study highlights the following results: The majority of subjects 48 (94.1%) are male, their average age is 61, these individuals live with their spouse, are retired, receive income between 500 - 1,500€ and about half of them have secondary scholarity. The acquisition of knowledge comes from information gathered from a nurse / doctor. The general risk factors most referenced for coronary heart disease are high cholesterol, smoking, obesity and high blood pressure. In turn, high blood pressure, smoking and stress are risk factors of most of their coronary disease. The level of literacy average is 41.37 with a standard deviation of 8.78 on a scale from 0 to 72. There are values above 60% of negative responses to changes in life habits. Only 13.7% of respondents conducted four changes in their lifestyle. The results indicate that age has no statistically significant relation with the health literacy level, educational attainment does not influence the level of health literacy, which does not differ depending on the search for flyers / written information and that only a small percentage (7.45%) changes in the patients' life habits have to do with the level of health literacy. Keywords: health literacy, coronary disease, risk factors 10 INDICE DE QUADROS Quadro 1- Caracterização da amostra quanto à idade…………………………… 69 Quadro 2- Nível de literacia em saúde baseado no conhecimento dos fatores de risco gerais e conhecimento dos fatores de risco presentes…………………. Quadro 3- Mudanças nos hábitos de vida…………………………………………. 75 77 Quadro 4- Coeficiente de correlação de Pearson entre o nível de literacia e a idade…………………………………………………………………………………… 79 Quadro 5- Resultados da aplicação de t de Student à Literacia consoante as habilitações literárias…………………………………………………………………. 80 Quadro 6- Resultados da aplicação de t de Student à literacia consoante a procura de folhetos/informação escrita……………………………………………. 81 Quadro 7- Coeficiente de correlação de Pearson entre o nível de literacia e as mudanças de hábitos de vida………………………………………………………. 82 11 INDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Caracterização da amostra quanto ao sexo………………………… 69 12 INDICE DE TABELAS Tabela 1- Distribuição da amostra segundo, com quem vive……………………. 69 Tabela 2 - Distribuição da amostra quanto às habilitações literárias…………… 70 Tabela 3 - Distribuição da amostra quanto à situação laboral…………………… 70 Tabela 4 - Distribuição da amostra quanto ao rendimento………………………. 70 Tabela 5 - Distribuição da amostra quanto ao tempo de diagnóstico…………… 71 Tabela 6 - Distribuição da amostra quanto ao cateterismo cardíaco, angioplastia (ICP) e cirurgia cardíaca (CABG)……………………………………. Tabela 7 - Distribuição da amostra relativamente à medicação que toma……... Tabela 8 - Distribuição da amostra quanto ao modo de aquisição de conhecimento………………………………………………………………………… Tabela 9 - Distribuição da amostra quanto ao conhecimento dos Fatores de Risco Gerais (FRG)………………………………………………………………….. Tabela 10 - Distribuição da amostra quanto ao conhecimento dos Fatores de Risco Presentes (FRP)………………………………………………………………. Tabela 11 – Distribuição da amostra quanto às vertentes de adesão nas mudanças nos hábitos de vida……………………………………………………… Tabela 12- Distribuição da amostra quanto ao número de mudanças nos hábitos de vida………………………………………………………………………. 71 72 72 73 74 75 77 Tabela 13 - Distribuição da amostra quanto à identificação dos medicamentos. 78 Tabela 14 - Distribuição da amostra quanto ao manuseamento da medicação. 78 13 14 SUMÁRIO Pág . INTRODUÇÃO………………………………………………………………………... 17 1- LITERACIA………………………………………………………..…………. 22 1.1-Literacia em saúde........................................................................................... 22 1.2-Literacia na doença cardiovascular................................................................. 24 2- PATOLOGIA CARDÍACA…………………………………………………. 28 2.1-Fatores de Risco............................................................................................. 30 2.2-Adesão Terapêutica........................................................................................ 44 2.3-Doença coronária.......................................................................................... 47 3- PAPEL DO ENFERMEIRO..................................................................... 56 4- METODOLOGIA…………………………………………………………… 58 4.1-Enquadramento ao tema............................................................................... 58 4.2-Tipo de Estudo.............................................................................................. 59 4.3-Variáveis........................................................................................................ 59 4.4-Hipóteses....................................................................................................... 61 4.5-População/amostra........................................................................................ 63 4.6-Instrumento de colheita de dados................................................................. 64 4.7-Considerações éticas.................................................................................... 66 4.8-Colheita de Dados......................................................................................... 67 4.9-Processamento e análise de dados.............................................................. 67 4.10-Discussão dos resultados............................................................................ 83 CONCLUSÃO...................................................................................................... 93 BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 97 ANEXOS Anexo I- Instrumento de colheita de dados Anexo II- Pedido de autorização dirigido ao Presidente do Conselho de Administração e respetivo deferimento Anexo III- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 15 16 INTRODUÇÃO A literacia refere-se a um processo dinâmico, que não se esgota na alfabetização, mas na capacidade de usar determinadas competências, implicando que o indivíduo questione e assume um papel ativo a nível pessoal, social e profissional (Loureiro et al, 2012). As intervenções protagonizadas em termos de literacia têm como objetivos produzir resultados, quer em termos de saúde (redução da morbilidade), quer sociais (qualidade vida) (Loureiro et al, 2012). Os mesmos autores, baseados em diferentes estudos, referem algumas consequências do fato dos indivíduos, possuírem um reduzido nível de literacia em saúde, nomeadamente: custos acrescidos nos cuidados de saúde; reduzido ou falso conhecimento sobre as doenças e tratamentos; menores competências de autogestão; menor capacidade para cuidar de pessoas em condições crónicas; erros de medicação; incapacidade para lidar, de forma adequada com os serviços de saúde. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre nós e são, também, uma das mais importantes causas de morbilidade, de incapacidade, invalidez e de anos potenciais de vida precocemente perdidos. Em Portugal, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por cerca de 40% dos óbitos, atingindo valores de 44,2% de óbitos por doença do aparelho circulatório, em 1990. Em 1960, 29,5% de óbitos e em 2011,30,7%. (INE – DGS/MS, INE, PORDATA). A prevalência de hipertensão arterial é, em Portugal de 42,1 %, sendo superior a 70 % nos homens entre 55 e 64 anos. O impacto económico e social da DIC e do AVC é, por isso, imenso (DR, nº 175, Setembro de 2005). Paradoxalmente, embora o número de mortes por doença cardiovascular esteja a diminuir em grande parte da União Europeia (U.E), exceto Europa de leste e central, o número de doentes cardiovasculares está a aumentar, relacionado com o aumento de longevidade e sobrevida destes doentes. Em 2007, de acordo com dados resultantes do Agrupamento em Grupos Diagnóstico Homogéneo (GDHs), ocorreram em Portugal 11.909 episódios de internamento hospitalar por enfarte agudo do miocárdio. 17 De acordo com a Carta Europeia do Coração (2008), “o peso associado da doença cardiovascular estabelecida pode ser reduzido com um diagnóstico precoce, tratamento adequado da doença, reabilitação e prevenção, nomeadamente através do aconselhamento em prol de um estilo de vida mais adequado”. Ao melhorar o processo de comunicação com os doentes, o profissional de saúde pode ser capaz de melhorar os resultados nas DCV. Há evidências de que um melhor conhecimento de sua condição pode melhorar a adesão do doente às mudanças de estilo de vida e medicamentos (Safeer et al, 2006). A doença cardiovascular é cada vez mais reconhecida como um problema de saúde pública, aumento das taxas de mortalidade e a prevalência de fatores de risco lentamente tornaram-se um problema que exige a intervenção de profissionais de saúde e diligências governamentais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 17 milhões de pessoas morrem a cada ano de doenças cardiovasculares em todo o mundo. Níveis adequados de literacia em saúde parecem resultar em melhorias da saúde e em mais qualidade de vida; por outro lado, níveis inferiores de literacia em saúde estão associados a saúde mais precária e mesmo a mais mortalidade. Aqueles que experienciam um enfarte do miocárdio podem passar por procedimentos como a angioplastia coronária (ICP) ou revascularização do miocárdio (CABG). Para garantir uma gestão otimizada destes ou qualquer outro procedimento na doença cardíaca, os doentes são obrigados aderir a mudanças na dieta e estilo de vida, os quais exigem um bom nível de literacia em saúde (Kilonzo et al, 2011). Há evidências de que um melhor conhecimento da sua condição pode melhorar a adesão a mudanças de estilo de vida e medicação. Existe, ainda, correlações estatisticamente significativas entre o conhecimento geral dos doentes sobre fatores de doença cardíaca coronária e fatores de risco e melhorias na perda de peso, atividade física, gestão de stress, mudanças na dieta (Safeer apud Alm-Roijer et al, 2004). Acresce que as intervenções para prevenir a doença cardiovascular são altamente rentáveis, de acordo com a declaração da American Heart Association. Uma análise de custo-efetividade mostra que programas de exercícios físicos e dieta, estratégias de controlo do tabagismo, planos de gestão da obesidade, e outras iniciativas acumulam valor ou poupam dinheiro ao longo do tempo, pois traduzem-se em ganhos de saúde, representados por indicadores subjetivos como seja a auto perceção de saúde quer por indicadores objetivos como seja a morbilidade. 18 Está a nossa população consciente desta realidade? Os indivíduos e os grupos estão capacitados para assumirem um maior controlo sobre fatores pessoais, sócio-económicos e ambientais, com a finalidade de melhorar a saúde? O que pensam quando se fala em determinantes da saúde, nomeadamente em fatores de risco, no âmbito das doenças cardiovasculares? Pessoas com baixo nível de literacia em saúde podem não ter a capacidade de autogerir a sua saúde e prevenir o desenvolvimento de doenças crónicas, através de adoção de estilo de vida saudáveis e modificação dos fatores de risco. Na medida em que os níveis gerais de saúde da população dependem de escolhas individuais relativamente à alimentação e ao estilo de vida, a literacia pode assumir um papel significativo, permitindo às pessoas aceder a informação que seja relevante para a sua saúde. Os baixos níveis de literacia têm sido responsáveis pela criação de grande parte da desigualdade social que se encontra em muitos dos resultados que os cidadãos portugueses mais valorizam – boa saúde física, capacidade de aceder a oportunidades de aprendizagem, confiança na participação social e na vida democrática e oportunidade de beneficiar de empregos estáveis e com salários elevados (Lima e Brum, 2009). O desafio essencial e fundamental é o de “criar uma dinâmica de interrelações de produção e partilha constante de informação e de conhecimento (literacia em saúde), de pro-actividade, de auto-controlo (capacitação) e da máxima autonomia possível no que respeita à saúde individual e colectiva (“empowerment” ou empoderamento) – a que corresponde também uma quota-parte de responsabilidade de cada um pela sua saúde e por extensão, pelo estado de saúde da sua comunidade” (Gonçalves e Ramos, 2010). Ao elaborar um estudo sobre “Literacia em Saúde no Doente Coronário”, na população com necessidade de intervenção hospitalar, existe como motivação, a experiência profissional de 10 anos de exercício profissional em Cardiologia. É patente a dificuldade que os doentes apresentam na compreensão das informações que lhes são transmitidas, quer sejam elas sobre a própria doença durante o internamento, como, com a necessidade de cumprir medidas farmacológicas (adesão terapêutica) e 19 não farmacológicas (alterar hábitos de vida) que são essenciais na evolução favorável do seu estado de saúde e prevenção de novos eventos, após a alta clínica. Num estudo efetuado no serviço de Cardiologia sobre a prevalência dos fatores de risco, verificou-se que a hipertensão arterial está presente em 68% dos indivíduos, 56,1 % tem dislipidémia, 32% diabetes, 17,2% tabagismo e 3,8% tem história familiar de doença coronária. Ainda nesse mesmo estudo, ao analisar a distribuição dos fatores de risco em função do género, verificou-se que existe pelo menos dois fatores de risco presentes com 36% nos homens e 36,6% nas mulheres e 28% dos homens têm três ou mais fatores de risco presentes e 29% das mulheres. Esta realidade presente leva a refletir sobre o papel dos profissionais de saúde nesta problemática nomeadamente, os enfermeiros. Estes são os profissionais que, ao passarem grande parte do tempo com os indivíduos e famílias, assumem um papel primordial na deteção dos problemas. Ao atender o indivíduo e família de uma forma global, os enfermeiros enfatizam sempre a manutenção e promoção da saúde, através da adoção e manutenção de comportamentos saudáveis, dentro do processo de cuidar que, segundo a Teoria do Cuidar de Swanson, inclui conhecer, estar com, fazer por, possibilitar e manter a crença. Pelo que foi referido, reveste-se de importância extrema a sua participação em programas de intervenção pluridisciplinares, na promoção da saúde. Neste contexto, e por todas estas razões, formulou-se a seguinte questão de investigação: Qual o nível de literacia em saúde no doente coronário e em que medida é influenciada pela procura de folhetos/informação escrita e pelas mudanças de hábitos de vida? Assim, os objetivos deste estudo são: * Avaliar e caracterizar os níveis de literacia em saúde em doentes com doença coronária * Avaliar a influência da procura de folhetos/informação escrita * Explorar a efetividade nas mudanças dos hábitos de vidas Tendo em conta a temática desta investigação, optou-se por um estudo descritivo correlacional, de abordagem quantitativa, cuja população são indivíduos internados no serviço de Cardiologia, por evento de DC ou SCA. 20 O instrumento de colheita de dados utilizado neste estudo é um questionário, disponível na tese- “Tradução, adaptação e validação de um questionário de conhecimento de fatores de risco cardiovascular para pacientes com doença arterial coronariana”, constituído por quatro partes distintas: Perguntas relativas ao grau de conhecimento geral dos fatores de risco na doença coronária Perguntas relativas ao grau de conhecimento e presença de fatores de risco específicos na sua doença coronária Perguntas relativas ao grau de adesão dos doentes nas mudanças de estilo de vida e tratamento Perguntas relativas à adesão dos doentes no manuseamento dos fármacos prescritos. Este trabalho está estruturado em duas partes. A primeira é dedicada à fundamentação teórica, de forma a constituir um enquadramento teórico e conceptual, que integram a problemática da literacia em saúde, a patologia cardíaca e o papel do enfermeiro. A segunda parte aborda a metodologia utilizada, descrevendo o tipo de estudo, as variáveis consideradas e a sua operacionalização, o processo de seleção da amostra, o instrumento de colheita de dados elaborado, o processo de colheita de dados e os pressupostos éticos considerados bem como as técnicas e medidas estatísticas utilizadas para o procedimento estatístico, com a interpretação e discussão dos mesmos, e respetivas conclusões do trabalho, tecendo algumas considerações que possam motivar para a reflexão dos profissionais empenhados em colaborar com os doentes com doença coronária. Não se pretende encontrar respostas definitivas e absolutas, apenas uma reflexão que possa ser aperfeiçoada pela partilha e por outros estudos que se possam seguir. No final faz-se referência à bibliografia consultada, e são apresentados os anexos, que complementam a apresentação do trabalho. 21 1- LITERACIA Este “rótulo”, entrou no vocabulário português recentemente, para uns tem uma transparência inquestionável, até invejável, para outros acaba por ser mais um termo, (Pinto apud Martins, 2005). No primeiro Estudo Nacional de Literacia, levado a cabo por uma equipa coordenada por Ana Benavente em 1996, explicava que, se o conceito de alfabetização traduz o ato de ensinar e de aprender (a leitura, a escrita e o cálculo), o conceito literacia “traduz a capacidade de usar as competências (ensinadas e aprendidas) de leitura, de escrita e de cálculo”. Apesar de ser consensual que o conhecimento relacionado com aspetos de saúde não é uma condição suficiente para a mudança comportamental, este tipo de conhecimento é entendido como condição necessária de utilização. O reportório de conhecimentos necessário para maximizar a probabilidade de adoção de comportamentos saudáveis (nomeadamente, o de adesão terapêutica a novos hábitos alimentares e de exercício físico) é amplo e complexo. Para além dos conhecimentos factuais (por exemplo, acerca do que faz mal ou bem para a saúde – o que nem sempre é consensual mesmo em meio cientifico), a adoção de comportamentos de saúde implica também um conjunto de competências emocionais, cognitivas e comportamentais que permitem a utilização desses conhecimentos nos contextos em que importa serem aplicados (Santos, 2010). 1.1- Literacia em saúde "Literacia em saúde representa as habilidades cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para ter acesso a, compreender e utilizar a informação de forma a promover e manter uma boa saúde “ (OMS, 2009). 22 Nesta perspetiva mais abrangente, a alfabetização de saúde é vista como um resultado da promoção de saúde e os esforços de educação para a saúde como benefícios pessoais e sociais. Monteiro (2009) refere que a literacia em saúde inclui a capacidade que os doentes têm em comunicar com os profissionais de saúde, ler informação médica, tomar decisões acerca de tratamentos, seguir recomendações médicas e decidir como e quando procurar ajuda médica. Vários estudos demonstraram que a baixa literacia em saúde, embora mais prevalente em populações com fracos recursos, afeta pessoas de todas as idades, raças e estratos económicos. Para Zarcadoolas apud Santos (2010) sistemas de saúde centrados no doente exigem um papel ativo por parte dos indivíduos, tornando-os parte integrante dos processos de tomada de decisão em áreas que tem a ver com a saúde. É assim fundamental munir o doente com competências para lidar com o sistema de saúde e com a gestão da sua saúde e doença. Uma das competências fundamentais passa pelo conhecimento sobre diferentes aspetos de saúde (e de cuidados de saúde), bem como pela capacidade de utilização desse conhecimento. Ao nível da literacia em saúde essas competências incluem a recolha, avaliação e análise da informação, a procura de ajuda, e ainda a capacidade para se movimentar e negociar dentro do sistema de saúde (Loureiro, 2012). Rothman et al citados por Santos (2010) referem que os conhecimentos em saúde fazem parte de um conceito mais abrangente, usualmente referido como literacia em saúde. Há bastante evidência, em como pessoas com baixa literacia em saúde (incluindo competência numérica em saúde) têm menor capacidade de compreensão dos conteúdos em folhetos informativos sobre alimentos ou sobre fármacos, bem como menos facilidade em movimentar-se no sistema de saúde. Baixa literacia em saúde é, também a dificuldade dos indivíduos em compreender qual é o seu estado de saúde e quais são as necessidades de mudança de comportamentos, planos de tratamentos e de auto-cuidados, podendo relacionar-se com baixa literacia no geral, baixo nível de conhecimentos sobre saúde ou inibição resultante do embaraço e medo do ridículo (Teixeira, 2004); relaciona-se igualmente com perceção de baixa auto-eficácia na prevenção e gestão de problemas de saúde, bem como com comportamentos ineficazes de saúde: uso inadequado de 23 medicamentos, uso excessivo dos serviços de saúde, ou ineficácia em lidar com situações de emergência (Zarcadoolas apud Santos, 2010). Numa meta-analise, Dewalt et al citados por Santos (2010) verificaram que uma baixa literacia está também associada a maiores taxas de hospitalização, diminuição na utilização de medidas preventivas, e pobre adesão aos regimes terapêuticos. Não admira assim que a baixa literacia em saúde tenha sido identificada em diversos estudos como um fator de risco para diversas patologias nomeadamente as que têm o comportamento como agente patogénico relevante e que implicam auto-gestão da patologia, como por exemplo: obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, cancro, etc. 1.2- Literacia na doença cardiovascular Perante o aumento das doenças cardiovasculares, surgiram soluções relacionadas com o avanço da tecnologia, tratamentos biomédicos, cirúrgicos e farmacológicos, que pretendem, não só proporcionar uma cura, mas pelo menos promover situações de melhorias; a pessoa que vive essa situação de saúde muitas vezes espera respostas da medicina para melhorar o seu estado. Mas a realidade é diferente, a doença fornece uma visão geral de cronicidade cardiovascular caracterizada pelo desequilíbrio e incerteza, onde a pessoa é a grande responsável pela sua saúde. O desafio para essas pessoas "é a capacidade de cuidar de si, reconhecer e controlar seus sintomas, aderir a um regime de tratamento muito complexo, e ajustar ou estabelecer novos comportamentos ou prevenir agudizações da doença” (...). O auto-cuidado, torna-se assim uma medida promissora e eficaz para prevenir e tratar a doença (Fernandez et al, 2012). Existe uma crescente consciência de que a literacia em saúde e saúde estão fortemente ligadas e como os tratamentos vão-se tornando cada vez mais diversificados, existe uma maior necessidade de indivíduos com doença arterial coronária (DAC) para serem alfabetizados (Kilonzo et al, 2011). Safeer (2006) refere que há evidências de que um melhor conhecimento da sua condição pode melhorar a adesão do doente às mudanças de estilo de vida e terapêuticas. Citando Alm-Roijer et al (2004) , aponta correlações estatisticamente significativas entre o conhecimento dos doentes em geral sobre a doença cardíaca coronária, fatores de risco e melhorias na perda de peso (p = 0,040), atividade física (p = 0,005), gestão do stress (p = 0,004), mudanças na dieta (p <0,001), e os objetivos 24 de tratamento de longo alcance para os níveis lipídicos (p = 0,018). O autoconhecimento também foi positivamente relacionado com a adesão às drogas antihipertensivas (p = 0,003). Adelsward e Sachs citados por Safeer (2006) referem ainda, que muitas doenças cardiovasculares são doenças de números: leituras de valores de tensão arterial, os resultados analíticos dos níveis lipídicos e valores de INR (International Normalised Ratio). Os doentes entendidos serão capazes de perceber como as implicações de seus resultados podem influenciar a sua adesão à terapêutica. Os números também podem ser um poderoso motivador para a mudança, especialmente em termos de doenças "silenciosas" como hipertensão e dislipidemia em que uma pessoa pode não se sentir doente. Para haver eficácia, os doentes devem conhecer e entender a normalidade de valores e perante os seus resultados, saber como estes se desviam da norma. Sem um nível de aritmética básica, não se pode identificar quantos comprimidos são para tomar, quando são agendadas as consultas médicas, e como usar um registo de números de telefone para chamar um profissional de saúde. Sem a capacidade aritmética computacional, a determinação da quantidade de sódio de um rótulo de um determinado alimento é difícil, se não impossível. A matemática analítica permite que as pessoas compreendam se a tensão arterial ou os níveis de colesterol estão dentro da normalidade, a necessidade de efetuar rastreios, e a monitorização dos níveis de açúcar no sangue. Finalmente, o cálculo estatístico de saúde, o maior nível da numerácia, permite que as pessoas possam decidir sobre os riscos e benefícios de várias opções de tratamento, como por exemplo, o de fazer angioplastia ou bypass coronário (Golbeck et al apud Safeer 2006). Muitos doentes não entendem a melhor maneira de cuidar de si mesmos e prevenir a doença. Alguns não estão sequer conscientes de que a doença cardíaca é evitável. A compreensão da doença e o conhecimento geral de como cuidar de si mesmo para manter a doença controlada são muitas vezes problema em doentes com baixa literacia em saúde. Há doentes que admitem não entender o suficiente sobre a sua condição física e a toma de medicamentos (incluindo a finalidade e possíveis efeitos colaterais) afetando a sua adesão ao tratamento (Simpson et al citados por Safeer, 2006). 25 Segundo Monteiro (2009), muitos estudos demonstraram que a idade avançada pode ser uma barreira à literacia em saúde, confirmando um estudo efetuado por Ávila (2005), sobre literacia em adultos revelando que a relação entre literacia e idade tornase ainda mais nítida, à medida que aumenta a idade diminuem regularmente as competências de literacia. Os portugueses constam-se entre os piores informados no que respeita à patologia cardiovascular. (…) Um dos maiores fatores de risco das doenças cardiovasculares é a ignorância das populações, Serra e Silva (2009), na carta europeia do coração. Ávila (2005), no seu estudo sobre a Literacia dos Adultos concluiu que o único domínio da literacia, em que a vida profissional da maioria dos portugueses parece requerer é o cálculo. Essa pode mesmo ser uma das razões que justifica que, em Portugal, os resultados da literacia quantitativa sejam um pouco mais elevados do que os da literacia documental e em prosa, não só no conjunto da população, mas também na maioria dos grupos profissionais. Com isto não se está a querer sugerir que as práticas de cálculo sejam especialmente elevadas, nem especialmente complexas (uma vez que remetem quase sempre para operações aritméticas simples), mas sim que a sua utilização no quotidiano profissional torna ainda mais nítida a escassez do exercício da leitura e da escrita. O cenário modifica-se um pouco perante situações que remetem para o relacionamento dos cidadãos com as instituições, ou quando estão em causa cuidados de saúde. Tarefas como a leitura de folhetos de medicamentos, a leitura de informação institucional e ainda o preenchimento de formulários, implicam, com maior frequência, o apoio de terceiros. Neste último caso, perto de 40% dos indivíduos com reduzidas competências de literacia afirmam necessitar, com alguma frequência, de ajuda. Segundo a mesma autora, se a perspetiva adotada for centrada não nos indivíduos e no plano pessoal, mas antes na sociedade como um todo, os dados analisados ao longo do estudo permitem avançar um conjunto de fatores históricos e estruturais que ajudam a perceber o fraco perfil de literacia do país. Meios familiares de origem extremamente carenciados de habilitações literárias, insuficiente expansão do sistema de ensino, modos de vida quotidiana pobres em práticas de literacia e tecido económico e profissional muito pouco qualificado e mesmo desqualificante quanto á competências de leitura, escrita e cálculo, são alguns dos fatores que convergem na 26 produção dos fracos níveis de literacia encontrados entre a população adulta portuguesa. Infelizmente, os dados sobre o nível de literacia em Portugal mantém-se em concordância com o Estudo Nacional de Literacia de 1994, verificando-se que a maior parte dos inquiridos situa-se em níveis de literacia baixos ou muito baixos, sendo bastante reduzidas as percentagens correspondentes aos níveis superiores de literacia. No Nível 0 situam-se 10,3% dos inquiridos, cujo posicionamento revela a incapacidade de resolver corretamente qualquer das tarefas. Os Níveis 1 e 2 englobam as maiores percentagens (37,0% e 32,1%, respetivamente). Finalmente, no Nível 3 localiza-se 12,7% da população e no Nível 4 surge apenas 7,9%. Mais tarde, em 1998, confirmado através do International Adult Literacy Survey (IALS), o retrato que emerge quanto à distribuição das competências de literacia na sociedade portuguesa é bastante negativo: quase metade dos inquiridos revela acentuadas dificuldades no uso de informação escrita na vida quotidiana (Nível 0 e 1) e apenas uma minoria se localiza nos níveis mais altos (Níveis 3 e 4). No entanto, Monte (2011), no seu estudo sobre “Efeito das Habilitações Académicas no Risco de Doença Cardiovascular de uma População de Alto Risco Cardiovascular da USF Gualtar” com recurso ao “10 - year risk of cardiovascular disease by Framingham risk-score”, identificou o valor máximo de risco de DCV (45) encontrado para o nível correspondente a menos habilitações académicas (nível 1), mas também para o nível de maiores habilitações (nível 4). Parece existir uma associação inversa entre habilitações académicas do nível 1, 2 e 3 e risco de DCV, não acontecendo o mesmo para o nível mais elevado de habilitações académicas (nível 4). A frequência do ensino superior não parece ser um fator de proteção para os FRCV e consequentemente para o risco de DCV. A literacia em saúde varia com o contexto e com o ambiente e não está necessariamente relacionada com os anos de escolarização ou a capacidade de leitura. Uma pessoa que “funciona” adequadamente em casa ou no trabalho, pode ter literacia inadequada num ambiente hospitalar (Monteiro, 2009). 27 2- PATOLOGIA CARDÍACA As doenças cardiovasculares, nomeadamente os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e a Doença Coronária (DC) ou Doença Isquémica do Coração (DIC), são a principal causa de mortalidade em Portugal, tal como se verifica em muitos países ocidentais, sendo considerada, no entanto, das mais elevadas da Europa e do Mundo. Estas doenças são responsáveis por perto de 50% das mortes ocorridas em 1999 (42 998 num total de 100 252 mortes), contando-se, também, entre as principais causas de morbilidade, invalidez e anos potenciais de vida perdidos na população portuguesa, segundo a circular normativa da DGS Nº: 03/DSPCS de 06/02/06. Estas doenças são, assim, a principal causa de morte em Portugal em ambos os sexos (39% de todos os óbitos observados em 1999). Observa-se, no entanto, uma tendência decrescente a nível nacional e em todos os grupos etários, sendo que 52% destes óbitos correspondem a doenças cerebrovasculares e 22% a doença isquémica do coração. Segundo a OECD (2010) as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade em quase todos os países da União Europeia (UE). Juntos, Doença Isquémica Cardíaca (DIC) e Acidente Vascular Cerebral (AVC) compreendem 60% de todas as mortes cardiovasculares, e causou um quarto de todas as mortes nos países da UE em 2008. A DIC sozinha foi responsável por 15% de todas as mortes. Além da Holanda, os países com as mais baixas taxas de mortalidade por DIC são quatro, os países localizados no Sul da Europa: França, Portugal, Espanha e Itália. Isso dá suporte à hipótese comum de que há fatores de risco subjacentes, como a dieta, que explicam as diferenças de mortalidade por DIC nesses países. Não são conhecidas causas precisas. Julga-se, pois, que a etiologia destas doenças é multifactorial, não passível de uma identificação precisa e unívoca. Trigo et al (2001) refere que neste sentido, o modelo monoetiológico, de cariz médico, tem vindo a ser substituído por concepções mais complexas, em que se pondera a ação conjugada de micro- e macro-processos, na manutenção da saúde e na eclosão da doença. 28 Neste esquema entram em diálogo, por um lado, o sistema nervoso central, o endócrino, o imunitário e, por outro, o sistema psicológico, social e cultural. Assim, em termos de causalidade, definiu-se o conceito de fator de risco, para designar, quer um aspeto do comportamento individual ou do estilo de vida, quer a exposição ambiental ou uma característica herdada que, com base nos resultados de estudos epidemiológicos, se sabe estarem associados à ocorrência de uma ou mais doenças e que, portanto, se julga importante evitar. O mesmo autor descreve ainda, que, quando falamos em fatores de risco se possam definir não só diferentes tipos de exposição, mas também diferentes direções do seu impacto. Quanto aos tipos de exposição ao risco, podemos distinguir, quer os riscos genéticos (história familiar), constitucionais (sexo) e biológicos (colesterol), quer os psicológicos (comportamento tipo A), sociais (pobreza) ou psicossociais. Por outro lado, em relação à direção do impacto destas exposições, devem ser genericamente concebidas como tendo um sentido bi-direccional – do biofisiológico ao psicossocial e vice-versa. Contudo, é particularmente elevada a frequência com que as pessoas estão expostas aos riscos psicossociais (ira, comportamento tipo A, adversidade social), os quais se traduzem por um aumento na perceção de stress. Esta, por seu turno, parece ter consequências negativas sobre os mecanismos homeostáticos do organismo, conduzindo frequentemente à perturbação e à doença (cefaleias, dores lombares e dorsais, alergias, hipertensão essencial, estados depressivos e ansiosos, alterações dos sistemas nervoso central, endócrino e imunológico) ou mesmo a estados de exaustão vital (burnout, esgotamento e episódios agudos de doença). Em reforço deste argumento é conhecida a íntima relação entre os clássicos fatores de risco (hipertensão arterial, dislipidémia, diabetes mellitus, sedentarismo, obesidade, menopausa, hábitos tabágicos e história familiar) e a eclosão da DAC. Esta relação, por sua vez, depende diretamente de padrões comportamentais e reações emocionais aprendidas (excetuando o caso da menopausa e da história familiar), os quais se constituem como estilos de vida regulares em resposta às agressões e pressões do meio ambiente. Segundo este ponto de vista, os próprios fatores clássicos de risco resultam, em parte significativa, do comportamento, designadamente dos hábitos alimentares, onde se inclui o álcool e o tabaco, bem como da atividade física. Outros riscos para a saúde, em particular para a DAC, não dependem da vontade, da iniciativa ou da motivação das pessoas expostas. Resultam antes de condições completamente involuntárias, como sejam a idade, o sexo ou o nível sócio-económico, 29 incluindo-se também neste aspeto a menopausa e a história familiar. Pela classificação proposta pela 27th Bethesda Conference, citado por Trigo et al (2001), em que estes riscos são definidos como não modificáveis, a profilaxia ou a redução do risco está particularmente posta em causa. Por inerência, qualquer medida de intervenção deverá centrar-se na prevenção da doença nos grupos identificados como mais vulneráveis, ou na alteração da exposição a outros riscos modificáveis (fatores clássicos e psicossociais de risco). 2.1-Fatores de Risco (FR) De acordo com Colombo e Aguillar (1997) os Fatores de Risco (FR) podem ser classificados em modificáveis e não modificáveis. Os últimos incluem idade, sexo, raça e história familiar de doença aterosclerótica (hereditariedade). Os FR modificáveis, ou seja, aqueles sobre os quais o doente e mesmo a equipe de saúde podem atuar, são dislipidemia, hipertensão arterial (HTA), diabetes mellitus (DM), tabagismo, sedentarismo, stress e obesidade. Aconselha-se a modificação radical dos fatores de risco e do estilo de vida em todos os doentes após o diagnóstico de doença coronária. A prevenção secundária é essencial porque a incidência de eventos isquémicos continua a aumentar significativamente após a fase aguda. A inscrição num programa de reabilitação cardíaca após a alta poderá ajudar o doente a aderir ao regime terapêutico e contribuir para a alteração dos fatores de risco, nomeadamente nos que apresentam múltiplos fatores de risco modificáveis, sendo essenciais para reduzir o risco de reestenose da artéria revascularizada e a progressão da doença coronária. Considera-se, Fator de Risco “ uma característica ou um traço de um individuo ou população que está presente precocemente na vida e associa-se ao aumento do risco de desenvolver uma doença futura” Pires (2009). Os estudos epidemiológicos na área da medicina que estudam as possíveis relações dos vários fatores determinam a frequência e a distribuição da doença. Pollock e Wilmore (1990) contribuíram bastante para a identificação e o conhecimento de condicionantes intrínsecas e extrínsecas aos indivíduos com doença coronária. Condicionantes essas definidas como fatores de risco (FR) para a doença coronárias podem ser utilizadas como preditores no desenvolvimento do quadro da doença, 30 desempenhando um papel importante na prevenção primária e secundária, American Heart Association, (1989). Segundo as recomendações europeias para a prevenção das doenças cardiovasculares (2007), o termo “síndrome metabólica” refere-se a uma combinação de vários fatores que tendem a agrupar-se – obesidade, hipertensão, colesterol HDL baixo, triglicerídeos elevados e glicémia elevada – e a provocar um aumento do risco de diabetes e DCV. Isto significa que, se um componente é identificado, está recomendada a avaliação sistemática dos restantes em simultâneo com uma abordagem ativa de gestão de todos estes fatores de risco. A atividade física e o controlo do peso permitem reduzir significativamente o risco de aparecimento de diabetes nos indivíduos com síndrome metabólica. São fundamentais intervenções no estilo de vida, incluem a cessação do tabagismo e controle rigoroso da tensão arterial, aconselhamento sobre dieta e controle de peso, e incentivo à atividade física. Estas intervenções terão uma maior possibilidade de serem implementadas se iniciadas o mais precocemente possível, nomeadamente durante o internamento. Abordando os fatores de risco um a um, verifica-se a sua importância na doença coronária. Dislipidémia De entre os fatores de risco modificáveis, a dislipidemia em geral e a hipercolesterolemia em particular tem uma relação com a doença aterosclerotica bem demonstrada em numerosos estudos e, no seu controle, uma correspondente redução das doenças cardiovasculares (Perdigão et al, 2010). As dislipidemias podem ser primárias ou secundárias. Designam-se como primárias as dislipidemias de origem genética ou familiar que resultam de perturbações herdadas que podem ocorrer na síntese, degradação ou remoção das partículas lipoproteicas. As causas de dislipidemias secundárias são a diabetes mellitus, o hipotiroidismo, o síndrome de cushing, o síndrome nefrótico, a insuficiência renal, a hepatite e o alcoolismo (Fernandes, 2011). O colesterol elevado é o fator de risco mais comum na doença cardiovascular, que está relacionada com a morte de cerca de 17 milhões de pessoas anualmente (Carta Europeia do Coração, 2009). 31 Desde há algumas décadas, múltiplos estudos, epidemiológicos, clínicos, anatomopatológicos e de experimentação animal, confirmam a importância dos níveis plasmáticos elevados de colesterol e, mais especificamente, do colesterol das LDL, na etiologia da aterosclerose, e portanto, existindo uma forte relação entre os níveis de colesterol e a morte por doença coronária. Peritos em cardiologia preventiva estabeleceram que, em termos fisiológicos, os níveis de colesterol normais encontram-se entre 140 a 180 mg/dl (3.6 a 4.7 mmol/L). Estes níveis agravam-se com a idade ou em indivíduos que apresentem outros fatores de risco como o tabaco, diabetes ou hipertensão. Pesquisas efetuadas com seres humanos demonstraram que uma dieta rica em colesterol promove enfarte do miocárdio, bem como constitui em si, um grande perigo para a saúde independentemente do seu efeito em termos de colesterol no sangue. No caso de existir uma elevação de colesterol no sangue o risco aumenta uma vez que o colesterol é o maior componente das placas que se formam nas paredes das artérias. O impacto que os níveis de colesterol podem ter em termos do desenvolvimento ou reincidência da doença coronária é normalmente analisado pela relação existente entre o colesterol total e as proporções de LDL e HDL, sendo este o indicador individual de risco (Pires, 2009). Citando Byrne e Leren (1991), o mesmo autor refere ainda que, os estudos realizados com indivíduos em fase de reabilitação, indica que a diminuição do colesterol sérico reduz os riscos de reincidência, abrandando a progressão de doença coronária. A aplicação de dietas específicas em conjugação com a ausência do tabaco pode resultar numa diminuição de 47% dos enfartes do miocárdio. Segundo as recomendações da ESC/EAS para a abordagem clínica das dislipidemias (2011), o metabolismo lipídico pode estar alterado de várias maneiras, levando a alterações na função e/ou níveis das lipoproteínas plasmáticas. Este facto, por si só e através da interação com outros fatores de risco cardiovasculares, pode condicionar o desenvolvimento da aterosclerose. As dislipidemias abrangem um largo espectro de anomalias lipídicas, algumas das quais são de grande importância na prevenção da DCV. A elevação do colesterol total (CT) e do colesterol das lipoproteínas de baixa densidade (C-LDL) recebeu a maior parte das atenções, particularmente porque pode ser modificada com alterações do estilo de vida e da terapêutica medicamentosa. 32 Os triglicéridos, outro tipo de lípidos são os que resultam fundamentalmente da ingestão alimentar e compõem 95% dos lípidos do tecido adiposo, sendo também partes essenciais das lipoproteinas VLDL e QM. No que respeita às funções que desempenham no organismo, os triglicéridos são fontes energéticas através dos seus ácidos gordos. Segundo as recomendações portuguesas para a prevenção primária e secundária da aterosclerose (2009), a relação entre o colesterol total (CT), o colesterol das LDL (CLDL) e das HDL (C-HDL) e a doença aterosclerótica assenta em bases científicas inquestionáveis. A doença aterosclerótica pressupõe a deposição de colesterol da parede arterial, no espaço subendotelial, pelo que pode afirmar-se que o colesterol e o “principal” fator de risco pois, sem esse mecanismo, não há aterosclerose. Os triglicéridos (TG) estão também relacionados com um maior risco de doença coronária, no entanto, particularidades metabólicas, que os relacionam com outros fatores e marcadores de risco, têm dificultado a compreensão do seu papel na doença cardiovascular aterosclerótica, tornando menos enfáticas as respetivas indicações terapêuticas. O perfil lipídico deve incluir obrigatoriamente o doseamento do colesterol total, do CHDL e dos triglicéridos, após o cumprimento de um jejum de 12 horas. Com base nestes valores pode determinar-se o C-LDL e o índice aterogénico, que corresponde à relação CT/C-HDL. Este índice tem um relevante significado prático, pois, com exceção dos doentes em prevenção secundaria, com história familiar de risco cardiovascular precoce ou com evidência de aterosclerose subclínica, os indivíduos que apresentem uma relação CT/C-HDL < 5 não necessitam de tratamento farmacológico. Hipertensão Arterial A hipertensão arterial (HTA) constitui um dos maiores e atuais problemas de saúde pública, sendo a doença cardiovascular mais comum e o fator de risco mais significativo no desenvolvimento da doença aterosclerótica cerebral e coronária, representa inúmeras complicações nomeadamente tromboses, acidentes vasculares cerebrais, enfartes do miocárdio, angina de peito, problemas renais e perda gradual de visão, entre outros. A hipertensão arterial (HTA) obriga o coração a exercer mais força para conseguir levar o sangue arterial a todo o corpo. Este esforço leva a um aumento do músculo cardíaco (hipertrofia) e à dilatação do coração. Como consequência o 33 coração deixa de ser capaz de bombear o sangue necessário ao organismo e mesmo ao músculo cardíaco, podendo originar angina de peito (Pires, 2009). Segundo Perdigão (2010), a prevalência da HTA em Portugal Continental, em indivíduos com mais de 18 anos, verificada no Inquérito Nacional de Saúde de 2005/2006, foi de 20%. No estudo AMALIA (2008), a prevalência da HTA referida pelos 38.893 indivíduos inquiridos e que expressam uma amostra representativa da população portuguesa com idade igual ou superior a 40 anos, foi de 23,5%. Quando as medidas não farmacológicas são insuficientes há que recorrer aos fármacos, no entanto, dever-se-á ter presente que os fármacos não curam a hipertensão, somente a controlam. Assim, uma vez iniciado o tratamento medicamentoso deverá, em princípio, ser continuado e mantido por toda a vida. Os objetivos da terapêutica farmacológica são controlar a pressão arterial com o menor número e a menor dose de fármacos e também prevenir a incidência das complicações cardiovasculares causadas pela hipertensão arterial (Pires, 2009). Segundo as recomendações de 2007 para o Tratamento da Hipertensão Arterial, em doentes que sobrevivem a um enfarte do miocárdio, a administração precoce de antihipertensores reduz a incidência de recorrência de enfarte recorrente do miocárdio e a mortalidade. Estes efeitos benéficos podem ser atribuídos às propriedades protetoras específicas destes fármacos, mas também possivelmente à pequena redução da pressão arterial associada. O tratamento anti-hipertensor é também benéfico nos doentes hipertensos com doença coronária crónica. O objetivo da terapêutica em termos tensionais deverá ser o de obter valores iguais ou inferiores a 140/90 mm Hg, embora nos indivíduos idosos se possam aceitar valores um pouco mais elevados. Podemos referir que a HTA é conhecida como “doença silenciosa”, por não apresentar sintomas. Assim sendo, a única forma de saber se tem hipertensão é a avaliação da pressão arterial. Esta deve ser controlada mais precocemente em indivíduos obesos, diabéticos, fumadores ou com história de doença cardiovascular na família. Vários estudos têm vindo a evidenciar que mudanças de alguns estilos de vida, como o exercício físico e a perda de peso são de grande importância na diminuição dos valores da pressão arterial (Gaziano apud Pires, 2009). 34 Diabetes Mellitus Segundo as recomendações relativas a diabetes, pré-diabetes e doenças cardiovasculares (2007), a diabetes e as doenças cardiovasculares surgem frequentemente como os dois lados de uma mesma moeda: a diabetes mellitus (DM) foi considerada como equivalente a doença das artérias coronárias e, inversamente, muitos doentes diagnosticados com doença das artérias coronárias sofrem igualmente de diabetes ou das suas alterações percursoras. A diabetes é considerada um dos fatores de risco para a doença coronária. Para Duarte apud Pires (2009), a sua combatividade faz-se notar quando se constata que os indivíduos jovens com doença coronária são muito frequentemente diabéticos. Citando agora Ridker (2003) a pessoa diabética tem um risco acrescido de morbilidade e mortalidade, sendo que 75% de todas as mortes entre as pessoas diabéticas resultam de DC. Este facto poderá ter relação direta com outros fatores de risco que estão associados à diabetes. Segundo as recomendações relativas a diabetes, pré-diabetes e doenças cardiovasculares (2007), a diabetes não tem uma definição única. É uma doença crónica complexa, que se caracteriza por uma perturbação metabólica caracterizada por hiperglicemia crónica com perturbação do metabolismo dos hidratos de carbono, gorduras e proteínas, que resulta da secreção ou ação deficitárias da insulina, ou ambas. A diabetes tipo 1 deve-se essencialmente à ausência de produção endógena de insulina pancreática, enquanto na diabetes tipo 2 o aumento de glicemia resulta de processos mais complexos. Tradicionalmente, a diabetes era diagnosticada com base em sintomas devidos a hiperglicemia, mas nas últimas décadas a tónica tem sido colocada na necessidade de identificar a diabetes e outras formas de alterações da glicose em indivíduos assintomáticos. Segundo Carneiro (2004), citando vários autores, a doença coronária constitui uma causa major de mortalidade em diabéticos, expressa – entre outros – pelos seguintes factos objetivos: • Quando comparados com doentes não-diabéticos, os diabéticos apresentam uma incidência superior de doença coronária – DC (55%), um quadro isquémico mais grave e uma taxa superior de isquemia silenciosa; 35 • Estudos epidemiológicos confirmam que a presença de diabetes duplica a taxa de mortalidade, mesmo após ajustes para outros fatores de risco cardiovascular, quer na DM tipo I como tipo II; • A extensão e a gravidade da doença coronária em diabéticos são superiores aos não diabéticos, com taxa superior de doença multivaso; • O risco de enfarte agudo do miocárdio (EAM) é superior nos diabéticos, sendo que a presença de DM só por si coloca os doentes no grupo de alto risco para DC; • As complicações pós-EAM são mais frequentes em doentes diabéticos, com taxas superiores de angina e insuficiência cardíaca; • Existe uma relação linear entre a intolerância à glucose e a incidência de eventos cardiovasculares. A causa de morte mais comum em adultos europeus com diabetes é a doença das artérias coronárias (DAC). O risco de DAC que apresentam é duas a três vezes superiores ao de indivíduos sem diabetes. A combinação de diabetes tipo 2 e DAC prévia identifica doentes com risco especialmente elevado de mortalidade coronária. Doentes com Síndromes Coronárias Agudas (SCA) e diabetes mellitus concomitante enfrentam um risco elevado de complicações. A sua mortalidade absoluta é elevada, correspondendo a 7-18% ao fim de 30 dias e 15-34% ao fim de 1 ano, e o risco relativo ajustado de mortalidade varia entre 1,3 e 5,4, sendo ligeiramente superior nas mulheres do que nos homens, o que é revelador da importância do papel desempenhado pelas alterações gluco-metabólicas. Os doentes com diabetes apresentam mortalidade e morbilidade mais elevadas após cirurgia de bypass (CABG) ou em doentes sujeitos a intervenções coronárias percutâneas (ICP) do que os não diabéticos (Recomendações relativas a diabetes, pré-diabetes e doenças cardiovasculares, 2007). Tabagismo Para Pires (2009), o tabaco contém substâncias, das quais grande parte tem efeitos nefastos em diversos aparelhos e sistemas do corpo humano. Neste conjunto evidenciam-se pela importância dos seus efeitos: a Nicotina, o Alcatrão e o Monóxido de Carbono. A nicotina é um alcalóide e é o principal responsável pela grande dependência dos seus consumidores. Esta substância provoca um aumento do 36 trabalho cardíaco e, simultaneamente provoca a diminuição do calibre dos vasos reduzindo a chegada de sangue em quantidades necessárias para o bom funcionamento cardíaco. Os enfartes do miocárdio resultam desta carência de sangue e oxigénio nas células do miocárdio. A nicotina é também responsável por um aumento da capacidade de coagulação do sangue, podendo originar a formação espontânea de coágulos (ou trombos). O monóxido de carbono é um gás e a sua ação exerce-se pela diminuição de transporte de oxigénio pelo sangue. A incidência de enfarte do miocárdio aumenta seis vezes nas mulheres e três vezes nos homens que fumam pelo menos 20 cigarros por dia (em comparação com os indivíduos que nunca fumaram) segundo as recomendações portuguesas para a prevenção primária e secundária da aterosclerose (2009). Vários investigadores referem que os fumadores sofrem um aumento dos níveis de fibrinogénio no plasma e como consequência é aumentada a probabilidade de isquémia silenciosa e de arritmias (Barry, et al citados por Pires, 2009). O coração é um dos principais órgãos atingidos pelo tabaco. A Organização Mundial de Saúde desde 1985 que indica que um quarto das doenças cardiovasculares é provocado pelo uso do tabaco e que, entre os 45 e os 54 anos, a mortalidade dos fumadores por enfarte é tripla em relação à dos não fumadores. A carta europeia do coração (2009) refere igualmente que os fumadores têm, em média, menos dez anos de vida do que os não fumadores. O tabaco é responsável por 20% da mortalidade por doença coronária. Sedentarismo Segundo as recomendações portuguesas para a prevenção primária e secundária da aterosclerose (2009) a epidemia de sedentarismo crescente das populações nas últimas décadas, por ser contrária à natureza humana, dificulta a expressão de genes protetores, os quais só se conseguem exprimir em contextos de maior atividade. Surgem assim as doenças hipocinéticas, de que a aterosclerose e seus fatores de risco são exemplos, O sedentarismo revela-se como o fator de risco com maior prevalência, na aquisição de doenças cardiovasculares, independentemente do sexo. É evidente a importância 37 de se adotar um estilo de vida ativo que, de alguma forma, também ajude a controlar e a diminuir outros fatores de risco como a obesidade (Gaspar, 2004). Rocha (2012) reforça a ideia sobre os perigos da inatividade física, a que é atribuída 6% da carga da doença coronária, 7% da carga da diabetes tipo 2 e um em cada 10 cancros da mama e do colon. A inatividade física, em 2009, foi inclusivamente identificada como o quarto fator de risco das doenças não transmissíveis. Gaspar (2004) refere ainda que, a inatividade física reduz a normal e fisiológica circulação sanguínea porque os músculos não exercem o seu importante papel (contração muscular) que permite o retorno venoso. Ao comprometer o trabalho conjunto dos músculos e das válvulas venosas, a inatividade atrasa o retorno venoso e favorece a formação de trombos (massa de plaquetas, globos brancos, vermelhos, e fibrina). Por sua vez, os trombos são responsáveis por muitos dos distúrbios cardiovasculares mais graves, onde se destacam a doença cardíaca isquémica e os acidentes vasculares cerebrais isquémicos. Entre os fatores predisponentes para a formação de trombos encontram-se, para além das perturbações da circulação sanguínea, o stress hemodinâmico, as lesões na parede interna dos vasos sanguíneos (íntima), e a hipertensão arterial. Apenas meia hora de exercício físico por dia pode levar a um decréscimo de 50% dos riscos de se contrair uma doença cardíaca, diabetes e obesidade. Assim, por exemplo, uma pequena quantidade de atividade física pode influenciar positivamente o sistema fibrinolítico, reduzindo o risco de problemas cardíacos. Porém, se aumentarmos a quantidade ou intensidade da atividade física podemos, para além disso, fortalecer o miocárdio e melhorar a aptidão cardíaca e hipóteses de sobreviver a um ataque cardíaco. Obesidade A obesidade é um estado, que se desenvolve sempre que existe um balanço positivo de energia; em alguns casos porque a energia ingerida é superior à despendida e noutros por excesso de ingestão alimentar (de calorias, sódio, gorduras e álcool, doces e açúcar), ou por incapacidade do organismo se adaptar à energia (Pires, 2009). 38 Também a Organização Mundial de Saúde (2005), refere a obesidade como uma doença em que o excesso de gordura corporal acumulada pode atingir graus capazes de afetar a saúde. A prevalência da obesidade, a nível mundial, é tão elevada que a OMS considerou esta doença como a epidemia global do século XXI. Diz ainda que, neste século a obesidade tem uma prevalência igual ou superior à da desnutrição e das doenças infeciosas; e que a não serem tomadas medidas para prevenir e tratar a obesidade, mais de 50% da população mundial será obesa em 2025. A prevalência da pré-obesidade e da obesidade na população portuguesa adulta tem sido avaliada através do Índice de Massa Corporal (IMC), com uma prevalência média de cerca de 34% para a pré-obesidade e de 12% para a obesidade, sendo de realçar a grande percentagem de homens com pré-obesidade e obesidade, em relação às mulheres (Programa de combate à obesidade, 2005). A população portuguesa, avaliada em idade pediátrica dos 6 aos 18 anos e na idade adulta dos 18 aos 65 anos apresenta cerca de um terço de crianças e jovens e cerca de metade da população adulta com peso excessivo, incluindo obesidade e préobesidade segundo estudos da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, da Faculdade de Antropologia da Universidade de Coimbra, da Escola Nacional de Saúde Pública e da Childhood Obesity Surveillance Initiative, divulgados pela Direcção-Geral da Saúde em 2011. O peso excessivo pode ser um fator que traz prejuízos para a saúde. Está comprovado cientificamente, através de estudos epidemiológicos e clínicos, que o peso excessivo, e particularmente quando atinge o grau II de obesidade, é um importante fator de risco para a diabetes tipo 2 (cerca de 80% dos doentes diabéticos tipo 2 tem excesso de peso), de hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares, de doenças osteo-articulares e mesmo de alguns tipos de cancro. Pires (2009), citando vários autores, refere que no estudo Framigham, verificou-se que as pessoas com excesso de peso (mais de 20% do peso considerado normal), apresentam uma taxa de mortalidade, relacionada com a doença coronária, duas vezes e meia maior, comparada com pessoas de peso normal. Em relação a vários destes fatores de risco persiste um desconhecimento estrutural na população, pouco preparada para assumir a sua quota-parte de responsabilidade na defesa da sua própria saúde. A nossa população, na sua maior parte, ingere cinco 39 vezes mais sal do que devia, come gordura em quantidades enormes, usa e abusa do açúcar, tem peso para além do desejável e por vezes, clara obesidade, não encontrando motivação ou condições para fazer exercício (Madeira, 2009) in destaque da SPC sobre a Carta Europeia do Coração. Stress Nos nossos dias está comprovada a correlação entre emoção, razão e corpo físico (psicossomática). Uma outra conceção ainda mais abrangente combina uma visão da doença assente numa dinâmica de fatores originários da interação do corpo com a mente que engloba uma dimensão ecológica e social da mesma (doença sociossomática) (Recomendações portuguesas para a prevenção primária e secundária da aterosclerose, 2009). Segundo Carlos Manso (1987) o stress é a resposta generalizada inespecífica, induzida por estímulos físicos, sociais e psicológicos vulnerabilizantes. Define-se então, o stress por um conjunto complexo de acontecimentos presentes no ambiente com os quais a pessoa interage. Estes acontecimentos põem em jogo perícias individuais de adaptação que, por fim, são invertidas em respostas fisiológicas construtivas ou destrutivas (Pires, 2009). Segundo Nogueira (2010), stress pode ser definido como um conjunto de fatores externos ou ambientais aos quais as pessoas estão expostas e a reação comportamental ou biológica a estes. O stress psicossocial pode ser definido como um evento psicossocial com consequências fisiopatológicas. Pires (2009) considera stress agudo, situações em que a atuação biológicocomportamental induzida pelo estímulo provocador do stress se manifesta rapidamente e dura pouco tempo, com retorno às condições basais. Nogueira (2010) descreve ainda, que em situações de stress agudo, a ativação do sistema nervoso simpático medeia o aumento da frequência e do débito cardíaco e da pressão arterial condicionando uma maior turbulência junto de lesões ateroscleróticas obstrutivas e com isso um maior stress hemodinâmico que pode influenciar a estabilidade da placa de ateroma. Os doentes que tiveram como precipitante no evento cardíaco um fator emocional, parecem ter respostas biológicas prolongadas e mais intensas a esse tipo de estímulos. Se essa resposta coincide com lesão da placa aterosclerótica pode resultar no aparecimento de uma SCA. 40 Enquanto, o stress agudo pode causar manifestações de doença coronária em indivíduos que têm já patologia aterosclerótica de base mais ou menos intensa, o stress crónico o stress psicossocial pode iniciar a DCV (Nogueira, 2010). Também, o stress favorece os comportamentos de adição e influencia os comportamentos de risco na doença cardiovascular (tabagismo, obesidade, sedentarismo, etc.). Segundo as recomendações portuguesas para a prevenção primária e secundária da aterosclerose (2009), um qualquer episódio de doença cardiovascular é, também ele, um fator de stress adicional importante para todas as pessoas e para as suas famílias; o stress e os diversos processos mentais associados alicerçam a adesão à terapêutica e determinam o envolvimento na prevenção e reabilitação cardiovascular. Depressão A depressão é uma síndrome, que se traduz pela expressão verbal e não-verbal de sentimentos tristes, muitas vezes acompanhada de ansiedade, irritação, ou mesmo cólera. A OMS classifica a depressão como uma das doenças emergentes a nível mundial. Segundo Esteves (2010), a depressão constitui um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença coronária em pessoas saudáveis e pode mesmo despoletar síndromes coronárias agudas, tendo ainda um impacto negativo no prognóstico. Para Nogueira (2010) a prevalência de depressão major ao longo da vida é de 16,2%. Em indivíduos com patologias de outro foro orgânico, esse valor sobe para 20-50% e para os sintomas depressivos moderados esta percentagem é ainda maior. Muitas vezes ocorre de forma insidiosa, levando a que a pessoa não distinga a situação como doença mas sim como parte da sua própria personalidade. Rugulies et al apud Nogueira (2010) publicaram uma metanálise de 11 estudos prospetivos de indivíduos assintomáticos onde se observou um RR (Relative Risk) de 1,49 (CI 95% 1,16-1,92) de doença coronária na presença de sintomas depressivos, aumentando este valor para 2,69 (CI 95% 1,63-4,43) no caso de depressão clinicamente diagnosticada. Isto sugere uma associação “dose resposta” entre depressão e SCA. Neste estudo os autores mostraram que quanto maiores os scores de sintomas depressivos, maior a frequência, gravidade e precocidade de eventos cardíacos. De notar que indivíduos com patologia depressiva, mesmo que ligeira, tinham maior probabilidade de desenvolver doença cardíaca isquémica do que aqueles sem essa sintomatologia. Esse aumento de risco era independente de fatores 41 de risco convencionais, o que aponta para a depressão como fator de risco primário para o desenvolvimento de patologia coronária com manifestações clínicas. A depressão também tem impacto negativo no prognóstico da DC, influenciando a mortalidade cardíaca e total, a ocorrência de eventos cardíacos adversos, a necessidade de procedimentos cirúrgicos de revascularização e ainda a capacidade funcional e a qualidade de vida do doente (Esteves, 2010). Acresce, infelizmente, que muitas pessoas têm, não apenas um, mas dois ou mais fatores de risco, os quais se potenciam na agressão ao aparelho cardiovascular, Hugo Madeira (2009) em Carta Europeia do Coração. Idade e Sexo Pires (2010) refere que a idade e o sexo são dois fatores de risco, sobre os quais ainda não há muita informação. Relativamente à idade, a causa deve-se ao processo de envelhecimento e consequente endurecimento progressivo das artérias, denominado por arteriosclerose, por isso, em todos os estudos realizados até à data observou-se que a doença coronária, seja qual for a sua manifestação, é muito rara abaixo dos trinta e cinco anos de idade. A partir deste momento, a frequência de aparecimento vai aumentando progressivamente. A relação de frequência de aparecimento da doença entre homens e mulheres é de 6 a 1 antes dos cinquenta, já que os estrogénios (hormonas femininas) possuem um papel protetor das artérias coronárias. Após a menopausa, a incidência desta doença aumenta nas mulheres devido a uma diminuição, normal, das ditas hormonas. Assim sendo existe um retardamento de dez a quinze anos no aparecimento de doença coronária comparativamente com os homens. A diminuição dos níveis de estrogénio durante o processo de menopausa, que começa por volta dos 50 anos, está associada a maiores níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL) e baixos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL). De acordo com Ferreira (2012), a diminuição do estrogénio natural que ocorre na menopausa leva a um menor HDL e maior LDL aumentando assim o risco de doença cardíaca. 42 Hereditariedade Segundo Tavares (2008), o reconhecimento da natureza familiar da DC tem ganho preponderância ao longo dos anos. O final da década de 1970 e início da década de 1980 testemunharam a emergência dos primeiros grandes estudos da potencial utilidade clínica da história familiar. O aumento do risco de morte cardiovascular em homens jovens com história familiar de DC é de 5 vezes mais, independente dos principais fatores de risco, sustentando a ideia de que fatores hereditários são determinantes importantes. Para Pires (2009), a hereditariedade representa igualmente outro fator de risco para a aterosclerose e para a doença coronária. Em certas famílias, muitas pessoas apresentam angina de peito, enfarte, morte súbita ou acidente vascular cerebral, em idades bastante jovens. Esta tendência familiar pode resultar da transmissão hereditária de uma suscetibilidade essencial para o desenvolvimento das lesões arteriais; da transmissão hereditária dos fatores de risco, tais como hipercolesterolémia ou hipertensão; da influência do meio ambiente sobre os hábitos e sobre o comportamento das crianças. Em relação à história familiar, constata-se que os descendentes em primeiro grau de pessoas com doença coronária prematura (antes dos 50 anos nos homens e dos 65 nas mulheres) têm um maior risco cardiovascular, considerando o risco tanto mais significativo quanto mais precoce é a ocorrência de enfarte do miocárdio nos familiares, idem. Outros fatores determinantes Outros há que, embora indiretamente, influenciam a saúde cardiovascular. Estão neste caso o rendimento disponível nas famílias, a educação, as condições de vida e de trabalho, pois que são as populações que vivem em piores condições socioeconómicas as mais afetadas pela doença cardiovascular (Carta Europeia do Coração, 2009). Segundo Perdigão (2011), apesar das taxas de mortalidade cardiovascular que variam com a idade, sexo, condição sócio-económica, etnia e região geográfica tenham vindo a diminuir de modo consistente, nas últimas décadas, em Portugal e na Europa Ocidental, só recentemente diminuíram nos países da Europa Central e de Leste. Para esta evolução têm contribuído tanto as alterações dos estilos de vida que se 43 relacionam com os fatores de risco convencionais, tais como tabagismo, pressão arterial e colesterol, como as terapêuticas médicas baseadas na evidência. A abordagem das questões inerentes à promoção de estilos de vida saudáveis e ativos deve implicar, desde logo, uma reflexão acerca do significado desta expressão tão comummente utilizada. De acordo com a Organização Mundial de Saúde a expressão estilo de vida remete para o agregado de decisões individuais que afetam a vida (e a saúde) do indivíduo, e que dependem dele. Esta componente de decisão individual é fundamental, salientando-se paradigma da escolha em comportamentos de saúde (Silva, 2012). Para Teixeira (2011), segundo uma perspetiva popular no estudo e promoção de comportamentos ligados a saúde, o ser humano é orientado e impelido para agir essencialmente em função de metas e benefícios antecipados, da auto-avaliacão das suas próprias capacidades para as atingir, e da eficácia da sua função executiva, a que vulgarmente se designa “forca de vontade”. E sabe-se quanto isto pode ser difícil em doentes polimedicados, com dificuldades económicas e muitas vezes pouco informados sobre os objetivos e benefícios da prevenção (Perdigão, 2009). 2.2-Adesão terapêutica Em instituições hospitalares, aproximadamente 100% dos doentes cumprem o regime terapêutico prescrito. Apesar do referido regime se mostrar na maioria dos casos (cerca de 90%) adequado e eficaz e de contribuir para o alívio da sintomatologia, quando regressam a casa, muitos doentes deixam de seguir o tratamento recomendado (Dunbar-Jacob e Mortimer-Stephens apud Dias et al 2011). Para Cardoso (2010), a adesão terapêutica assume um papel de particular importância nos indivíduos portadores de doenças crónicas e tem vindo a merecer grande atenção por parte da comunidade científica pelo impacto na qualidade da saúde das populações, através da eliminação de comportamentos de risco, difusão de meios de prevenção e a adoção de comportamentos de saúde a par dos avanços, na terapêutica. Antunes (2011) de acordo com vários autores, cita que na atualidade, as reduzidas taxas de adesão aos tratamentos de longo prazo, constituem um dos grandes problemas de saúde no mundo, atendendo à elevada prevalência de doenças crónicas 44 e têm vindo a ocupar um lugar cada vez mais importante nas preocupações dos profissionais de saúde, particularmente dos enfermeiros, bem como, dos doentes e famílias, ao percecionarem as graves repercussões da não adesão, quer ao nível pessoal, como social e económico. Este fenómeno afeta cerca de 50% dos indivíduos nos países mais desenvolvidos e esta percentagem é ainda maior nos países em desenvolvimento, contribuindo significativamente para o aumento de hospitalizações, diminuição da qualidade de vida e consequente aumento da morbilidade e mortalidade. Cardoso (2010), de acordo com vários autores, refere que as consequências da não adesão terapêutica incluem resultados desfavoráveis nos indicadores de saúde, ao interferir negativamente no tratamento das doenças crónicas, com repercussões na sua incidência e prevalência e na utilização e otimização dos recursos do sistema de saúde representando assim um importante problema de saúde pública. Segundo o mesmo autor e de acordo com as Guidelines da Sociedade Europeia de Cardiologia e da Associação Americana de Cardiologia, o prognóstico da doença coronária depende, não somente da terapêutica farmacológica, como também de aspetos não farmacológicos, nomeadamente alteração do estilo de vida (alimentação saudável, perda de peso, restrição de sal, exercício físico, cessação tabágica e limitação na ingestão de bebidas alcoólicas). No contexto das doenças cardiovasculares a adesão é fundamental para o sucesso da terapêutica proposta pois dela depende a cura, o controle e prevenção da doença. A não adesão à terapêutica e às medidas não farmacológicas diminui a eficácia do tratamento e expõe o indivíduo à instabilidade clínica o que pode levar para a recorrência ou agravamento dos sintomas da doença coronária (Van Der Wal; Lunelli; e Santos apud Cardoso 2010). A Organização Mundial de Saúde (OMS) define adesão à terapêutica de longa duração “(…) como o grau de coincidência do comportamento de um indivíduo - toma da medicação, seguimento da dieta ou alterações do estilo de vida - com as recomendações acordadas com os profissionais de saúde (…)” esta definição é reforçada e citada por vários autores que defendem o papel ativo do doente e a importância da existência de concordância deste com os profissionais de saúde (Lima; Soler; Meiners apud Antunes, 2011). 45 Gama (2010), diz que conceitualmente, o não seguimento ao tratamento medicamentoso precisa ser assumido, como um problema de múltiplas dimensões, pois vários fatores podem estar envolvidos, como: características sócio-demográficas (idade, escolaridade e nível socioeconómico); doenças (cronicidade, sintomatologia); crenças, hábitos culturais e de vida; tratamento (custo, reações indesejáveis, esquemas complexos); instituição (acesso, atendimento) e o relacionamento com os profissionais de saúde. O conceito de não adesão terapêutica ocorre então quando se verifica um desvio do comportamento do doente em relação às recomendações do profissional de saúde. Este desvio não se refere apenas à medicação prescrita, mas inclui também o não seguimento das indicações relacionadas com hábitos de saúde e estilos de vida saudáveis, a não comparecência nas consultas médicas, ou a não realização de exames de diagnóstico, (Antunes, 2011). A não adesão terapêutica pode ser considerada como um processo ativo, intencional, em que o doente toma conscientemente a opção de não cumprir o regime terapêutico, ou não intencional, no caso de ser devido a descuido ou negligência por parte do doente, não cumprindo assim o tratamento, omitindo doses e horários, idem. Nesta perspetiva, a adesão é vista como uma alternativa, em que o indivíduo tem liberdade de escolha e assume a responsabilidade sobre o seu tratamento. Neste processo de tomada de decisão estão presentes conceitos de concordância, cooperação e parceria entre doente e profissional de saúde (Machado, 2009). Maia (2008) de acordo com vários autores refere que, este fenómeno constitui um problema da prática clínica diária de enorme complexidade, que durante bastante tempo foi negligenciado, mas que atualmente, devido ao seu impacto negativo no sistema de saúde e pelas suas implicações económicas e sociais, tem vindo a ser alvo de uma crescente atenção da comunidade científica, dos profissionais de saúde, de políticos e dirigentes. Bugalho e Carneiro (2004) advogam que, a não adesão terapêutica afeta os esforços terapêuticos, diminuindo os benefícios clínicos da medicação e aumentando a utilização desnecessária de meios de diagnóstico e tratamentos. Na perspetiva destes autores, a falta de um controlo efetivo da terapêutica em qualquer doença, leva a custos diretos três a quatro vezes superiores aos custos decorrentes de um controlo eficaz e a custos indiretos (por diminuição da produtividade, reforma antecipada e morte) igualmente significativos. De modo que, intervenções para melhorar a adesão 46 terapêutica beneficiam o sistema de saúde e consequentemente contribuem para a melhoria da saúde da população. O seguimento do tratamento medicamentoso e a educação em saúde são questões indissociáveis.2 A doença cardiovascular assume atualmente uma importância única na sociedade, na medida em que se assume como uma das principais causas de morte e de morbilidade na Europa e no Mundo. Em alguns países da União Europeia a mortalidade por doença coronária representa cerca de 65% de toda a mortalidade. De acordo com a WHO (2011), em 2030, caso se mantenham as mesmas condições, morrerão 23,3 milhões de pessoas devido a alguma forma da doença cardiovascular, este aumento será mais evidente nos países mediterrâneos. 2.3-Doença Coronária A patologia cardíaca é de um modo geral, o conjunto de doenças que afetam o aparelho cardiovascular, designadamente o coração e os vasos sanguíneos, neste caso concreto, aborda-se a doença coronária. Para Carneiro (2011), Doença Coronária (DC) é o termo habitualmente utilizado para descrever a acumulação de depósitos de gordura e de tecido fibroso (placas) no interior das artérias que fornecem sangue ao coração, ou seja, as artérias coronárias. Esta formação de placas nas artérias coronárias é denominada de aterosclerose coronária e pode levar a que estes vasos sanguíneos se tornem significativamente mais estreitos. Em consequência, verifica-se uma diminuição do fornecimento de sangue a determinadas zonas do músculo cardíaco, o que desencadeia um tipo de dor no tórax designado por angina de peito. A aterosclerose pode igualmente conduzir à formação de um coágulo de sangue dentro de uma artéria coronária estreitada. Este evento é responsável pela ocorrência de um ataque cardíaco, o qual pode causar uma lesão significativa do músculo cardíaco. Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) Segundo Leon et al, (1996), Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) corresponde ao desenvolvimento agudo ou súbito de uma área localizada ou circunscrita de necrose miocárdica devido a isquemia grave, secundária a um fluxo sanguíneo e/ou uma oxigenação inadequada. Um enfarte do miocárdio em evolução é um processo no qual 47 um segmento do miocárdio se encontra em progressão de isquemia por necrose efetiva e que geralmente corre em oclusão de uma artéria coronária. Este conceito implica que o processo pode ser parado antes que chegue ao estádio final. Devido a grandes mudanças nos biomarcadores disponíveis para o diagnóstico, os critérios de enfarte agudo do miocárdio foram revistos (Guidelines em European Heart Journal, 2012). Nos atuais estados de consenso internacional, a definição de "enfarte agudo do miocárdio" o termo (EAM) deve ser usado quando há evidência de necrose miocárdica numa clínica consistente com isquemia do miocárdio. Síndrome Coronário Agudo (SCA) O Registo Nacional de Síndrome Coronária Aguda (RNSCA) da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), constata que as doenças cardiovasculares permanecem no topo da lista de causas de morte, e embora o seu peso relativo tenha sofrido um decréscimo gradual passando de 44,2% em 1990, para 32,2% no ano de 2006, a taxa de mortalidade por doença cardiovascular permanece inaceitavelmente elevada, sendo considerada uma das mais elevadas da Europa e do mundo. De entre as mortes por doença cardiovascular, 23% são devidas a doença cardíaca isquémica, com destaque evidente para a Síndrome Coronária Aguda (SCA), que compreendem um grupo de condições clínicas que resultam da doença aterotrombótica coronária em fase instável. As SCA incluem o EAM com ou sem supradesnivelamento do segmento ST e a angina instável (Santos, 2009). Distinguir doentes com SCA de entre o grande número de doentes com suspeita de dor torácica/cardíaca, representa um desafio diagnóstico. O diagnóstico de SCA é definido como a presença de angor em repouso nas últimas 48 horas associada a 1) alterações eletrocardiográficas isquémicas – desvios do segmento ST ou ondas T negativas; e/ou 2) elevação de biomarcador (troponina cardíaca ou CK-MB) acima do valor de referência. Para o diagnóstico de SCA com supradesnivelamento de ST considera-se a elevação persistente (> 30 minutos) do segmento ST. Os restantes serão considerados como SCA sem supradesnivelamento de ST. Angina Instável é, segundo Théroux (1998), a transição de uma fase crónica para uma fase aguda de patologia das coronárias e de condições de estabilidade clínica para 48 condição de instabilidade, como decorrência do desencadeamento de agregação plaquetária local e formação de trombo pela ativação de uma placa aterosclerótica. Segundo as recomendações para o diagnóstico e tratamento de síndromes coronárias agudas em doentes que não apresentam elevação persistente do segmento ST (2011), os biomarcadores, nomeadamente, as troponinas cardíacas desempenham um papel fundamental de diagnóstico e estratificação de risco, tornando possível distinguir entre EAMSST (enfarte do miocárdio sem elevação do ST) e angina instável. O principal sintoma que desencadeia o desenrolar do diagnóstico e a cascata terapêutica é a dor torácica, mas a classificação dos doentes é baseada no eletrocardiograma (ECG). Podem encontrar-se duas categorias de doentes: 1. Doentes com dor torácica aguda e elevação persistente (>20 min) do segmento ST. Denomina-se Síndrome Coronária Aguda com elevação do ST (SCA-STE), reflete geralmente uma oclusão coronária total aguda. O objetivo terapêutico é conseguir uma reperfusão rápida, completa e mantida através de angioplastia primária ou terapêutica fibrinolítica. 2. Doentes com dor torácica aguda, mas sem elevação persistente do segmento ST. Estes doentes podem apresentar depressão do segmento ST persistente ou transitória ou inversão da onda T, ondas T planas, pseudo-normalização das ondas T ou ausência de alterações no ECG na apresentação inicial. A estratégia inicial para estes doentes consiste em aliviar a isquemia e os sintomas, monitorizar o doente com ECG, seriar dados e repetir as medições dos marcadores de necrose miocárdica. O diagnóstico inicial da SCA sem elevação do ST, baseado na medição das troponinas, deverá ser posteriormente classificado como EM sem elevação do ST ou angina instável. Nalguns doentes, a doença coronária será posteriormente excluída como causa dos sintomas. Sintomatologia/manifestações clínicas Os sinais que devem levantar a suspeita de se tratar de um EAM são, para Gavina e Pinho (SD): 49 - Desconforto ou dor torácica: geralmente surge no meio do peito, sobre a zona do esterno, e pode ser sentido como aperto, pressão, ardência ou peso, geralmente durando mais de 30 minutos; - Desconforto noutras áreas do tronco como um ou ambos os braços, pescoço, mandíbula, entre as omoplatas ou imediatamente abaixo do esterno (zona do estômago); - Falta de ar, que geralmente também se associa a mal-estar torácico; - Outros sinais e sintomas como hipersudorese (“suores frios”), náuseas e vómitos, que geralmente surgem em associação aos anteriores, mas que podem surgir isoladamente, principalmente nos doentes idosos ou nos diabéticos. Para Cavagnoli e Peruzzolo (SD), os doentes com Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) apresentam pulso rápido e fraco e, com frequência, diaforese. A dispneia, ocasionada pelo comprometimento da contratibilidade do miocárdio isquémico, é comum e acompanhada de congestão e edema pulmonar. O diagnóstico de Enfarte Agudo do Miocárdio pode ser firmado tardiamente, ou até mesmo passar despercebido, porque o doente idoso não apresenta os sinais e sintomas comuns do EAM. Esses sinais e sintomas incluem: temperatura corporal baixa, redução da pressão arterial, queixas de desconforto e transpiração, sintomas semelhantes a outras doenças. Geralmente, não há dor e, além disso, o idoso é mais suscetível a sofrer um EAM silencioso. Dor no meio do peito, descrita como um aperto, um peso ou opressão - por vezes com irradiação ao braço esquerdo, costas e pescoço - podendo ser acompanhada de suores, náuseas, vómitos, falta de ar e ansiedade. São estes os sintomas mais comuns de um Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) para o INEM (2012). Também a Fundação Portuguesa de Cardiologia (2011), descreve alguns sinais de aviso de ataque cardíaco, que são: * Mal-estar no peito, incluindo sensação de compressão ou dor no meio do peito, por de trás do esterno. * Mal-estar e/ou dor que alastra a outras áreas da parte de cima do corpo, como um ou ambos os braços, as costas, o pescoço, o maxilar ou o estômago. * Falta de ar, com ou sem mal-estar no peito. 50 Outros sinais incluem: fraqueza ou fadiga inexplicáveis, ansiedade ou nervosismo pouco habitual, indigestão ou dor como se tivesse gases, ou suores frios súbitos, náuseas, vómitos, tonturas e colapso. Nas recomendações para o diagnóstico e tratamento de síndromes coronárias agudas em doentes que não apresentam elevação persistente do segmento ST (2011), a manifestação clínica engloba uma grande variedade de sintomas. A manifestação clínica típica é a pressão ou peso retroesternal (“angina de peito”), irradiando para o braço esquerdo, pescoço ou maxilar, que pode ser intermitente (normalmente com a duração de alguns minutos) ou persistente. Estas queixas podem ser acompanhadas de outros sintomas tais como diaforese, náusea, dor abdominal, dispneia e síncope. No entanto, não são raras as manifestações atípicas. Estas manifestações podem incluir dor epigástrica, indigestão, dor torácica penetrante, dor torácica de características pleuríticas ou dispneia crescente. As queixas atípicas são mais frequentemente observadas em doentes mais idosos (>75 anos),em mulheres, em doentes com diabetes, insuficiência renal crónica ou demência. A ausência de dor torácica leva à sub-identificação e ao sub-tratamento da doença. Diagnóstico Segundo as recomendações para o diagnóstico e tratamento de síndromes coronárias agudas em doentes que não apresentam elevação persistente do segmento ST (2011), distinguir doentes com SCA de entre o grande número de doentes com suspeita de dor cardíaca, representa um desafio diagnóstico, especialmente nos casos em que não existem sintomas claros ou alterações eletrocardiográficas. Apesar dos tratamentos modernos, as taxas de mortalidade, e o reinternamento de doentes com SCA continuam a ser elevados. O sintoma mais comum de SCA é a dor torácica típica. O fluxograma diagnóstico inicial de SCA-NSTE é um diagnóstico feito por exclusão de partes, com base no ECG, ou seja, ausência de elevação persistente do segmento ST. Os biomarcadores (troponinas) permitem distinguir o NSTEMI da angina instável. Diferentes modalidades de exames imagiológicos, permitem excluir ou confirmar diagnósticos diferenciais. O diagnóstico e a estratificação do risco estão intimamente ligados. 51 Tratamentos Uma estratificação de risco precoce é essencial para a seleção da estratégia de tratamento médico e de revascularização. Os grandes objetivos da angiografia coronária e da revascularização são o alívio sintomático e a melhoria do prognóstico a curto e a longo prazo. Restabelecimento do fluxo coronário e reperfusão do tecido miocárdico. Ainda, segundo as recomendações para o diagnóstico e tratamento de síndromes coronárias agudas em doentes que não apresentam elevação persistente do segmento ST (2011), existem vários tipos de tratamento a efetuar, que são: - Agentes anti-isquémicos Os fármacos anti-isquémicos diminuem a procura de oxigénio miocárdico (ao reduzir a frequência cardíaca, diminuir a pressão arterial, reduzir a pré-carga e a contractilidade do miocárdio) ou aumentam o fornecimento de oxigénio miocárdico (ao induzir a vasodilatação coronária). Os fármacos anti-isquémicos disponíveis para o tratamento, são os nitratos, betabloqueadores e antagonistas dos canais de cálcio. - Agentes antiplaquetares A ativação plaquetar e a subsequente agregação, desempenham um papel dominante na propagação da trombose arterial e, consequentemente, são o alvo terapêutico chave no tratamento de SCA. A terapêutica antiplaquetar deve ser instituída o mais cedo possível com vista a reduzir o risco de complicações isquémicas agudas e eventos aterotrombóticos recorrentes. - Anticoagulantes Os anticoagulantes utilizados para inibir a produção e/ou a atividade da trombina, reduzindo assim os eventos relacionados com trombos. Existe evidência de que a anticoagulação é eficaz quando combinada com inibição plaquetar e que a combinação das duas é mais eficaz do que qualquer dos tratamentos isoladamente. Revascularização coronária A revascularização contribui para o alívio dos sintomas, reduz o tempo de internamento e melhora o prognóstico. As indicações e o timing para a 52 revascularização miocárdica e a escolha da abordagem preferencial (ICP ou CABG), dependem de vários fatores, incluindo a condição do doente, a presença de fatores de risco, as co-morbilidades e a extensão e gravidade das lesões identificadas na angiografia coronária. Cateterismo cardíaco Realizado num laboratório de hemodinâmica, este é um exame invasivo, com uma abordagem não cirúrgica que utiliza o Rx, para avaliar o coração e as artérias coronárias, podendo em caso de EAM ajudar a determinar a localização da obstrução. Procedimento que envolve a passagem de um tubo oco de pequeno diâmetro (cateter), fino e flexível, através de um vaso (habitualmente na artéria da virilha ou do pulso) até ao coração, com o doente acordado usando apenas anestesia local. Este cateter vai progredir ao longo da artéria picada até ao local das artérias coronárias, as quais após injeção de produto de contraste para os raios x, são visualizadas podendo analisar-se o local de obstrução e sua gravidade. A este procedimento dá-se o nome de angiografia. Quando estas obstruções/estreitamentos são significativas existe a possibilidade de se efetuar um procedimento de dilatação da artéria com um balão que quando posicionado dentro da artéria e junto do aperto da artéria é insuflado durante alguns segundos de forma a dilatá-la e restaurar o fluxo sanguíneo. Este processo é denominado de angioplastia ou Intervenção Coronária Percutânea (ICP). Na maioria das vezes, este procedimento é complementado com a colocação/implantação de uma malha metálica (stent) que permite manter a permeabilidade da artéria. Segundo as recomendações para o tratamento do enfarte agudo do miocárdio em doentes com elevação persistente do segmento ST (2008), em doentes que se apresentem com sintomas clínicos no prazo de 12 horas após a primeira sintomatologia e com elevação persistente do segmento ST ou de novo ou suspeita do mesmo, bloqueio do ramo esquerdo, devem realizar reperfusão mecânica (ICP) ou farmacológica o mais rapidamente possível. Cirurgia Coronária Em alguns casos, mesmo após se identificarem as obstruções coronárias, pode não ser tecnicamente possível efetuar a angioplastia. Neste caso, o tratamento pode passar apenas pelo uso de medicamentos específicos para a prevenção do enfarte e 53 suas complicações, ou por uma cirurgia coronária. A Cirurgia de Revascularização Miocárdica (CABG) cria caminhos alternativos à passagem de sangue, estabelecendo uma ponte (bypass) que contorna a estenose da artéria que impedia o fluxo de sangue normal. Isso é conseguido através da utilização de uma artéria saudável, mais frequentemente a artéria mamária interna, que se localiza atrás do esterno. Outras pontes podem ser construídas utilizando a veia safena ou artéria radial. Segundo as recomendações conjuntas da ESC/EACTS para a revascularização do miocárdio (2010), a revascularização do miocárdio, quer por cirurgia de pontagem coronária (CABG), quer por intervenção coronária percutânea (ICP), é uma pedra angular bem estabelecida no tratamento da doença coronária (DC), há quase meio século. Os dois tipos de revascularização têm sido protagonistas de avanços tecnológicos significativos, em particular no que diz respeito à utilização de stents cobertos com fármaco na ICP e de enxertos arteriais na CABG, mas o seu papel no tratamento de doentes com DC estável tem sido desafiado pelos avanços no tratamento médico, referido como terapêutica médica otimizada (TMO) e que inclui abordagens intensivas a nível farmacológico e no estilo de vida. As duas estratégias de revascularização apresentam diferenças que devem ser reconhecidas. Na CABG, são colocados enxertos que promovem derivações aos vasos coronários de médio lúmen, a jusante da(s) lesão(ões) crítica(s), que asseguram um acréscimo de fluxo sanguíneo com nutrientes para o miocárdio e garantem proteção contra novas lesões proximais, obstrutivas. Pelo contrário, os stents coronários pretendem restaurar o fluxo normal dos vasos epicárdicos nativos, sem oferecer proteção contra novas lesões proximais ao stent. Os melhores resultados da revascularização do miocárdio são obtidos quando a mesma é orientada para a redução da isquemia. Em situações agudas, as estenoses coronárias críticas são facilmente identificáveis por angiografia, enquanto, que em doentes com DC estável e doença multivaso (DMV), a identificação da lesão culpada necessita de uma avaliação anatómica e funcional. Diversas situações clínicas, estáveis ou agudas, podem ser tratadas de modo diferente, incluindo por ICP ou revascularização cirúrgica. Os riscos previstos e a morbilidade após CABG ou ICP são diferentes. Desta forma, os doentes e médicos precisam de “equacionar a conveniência a curto prazo da ICP, menos invasiva, contra a durabilidade de uma abordagem cirúrgica mais invasiva.” 54 Por sua vez, os enfermeiros precisam desenvolver uma confiança no relacionamento com seus doentes a fim de, efetivamente avaliar os seus níveis de conhecimento sobre a doença e seus tratamentos. Devem proporcionar um ambiente confortável onde os doentes são capazes de os consultar para esclarecer quaisquer malentendidos, expor suas dúvidas e equacionar mudanças nos seus hábitos de vida, para serem mais saudáveis e melhorar o seu estado de saúde. 55 3- PAPEL DO ENFERMEIRO Existe uma consciência crescente de que a literacia em saúde e saúde estão fortemente ligados, e como os tratamentos se tornaram mais diversificados, existe uma maior necessidade de alfabetizar os doentes com doença arterial coronária (DAC). Muitos doentes com doença coronária estão dependentes de uma gestão farmacológica. Anteriormente, as prescrições baseavam-se apenas nos antagonistas dos canais de cálcio. Hoje, o regime de medicação estabelecido na doença cardiovascular (DCV), consiste em medicamentos anticoagulantes, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora angiotensina (IECA), antiplaquetares e uma estatina (Sociedade Europeia de Cardiologia, 2007). Literacia em saúde é uma questão que pode ter um impacto considerável sobre os tratamentos dos doentes, exigindo uma adesão à medicação e mudanças de estilo de vida. Doentes com baixos níveis de literacia em saúde fazem menos perguntas e consequentemente, estão mais propensos a erros. Isso pode ter consequências importantes para os doentes, familiares e profissionais de saúde. Sendo um conceito útil e presente no atendimento e prestação de cuidados, os enfermeiros devem estar cientes das estratégias e devem considerar a sua aplicação continua na melhoria da "literacia em saúde” aos doentes. Sabe-se que os baixos níveis de literacia em saúde afetam a perceção de saúde das pessoas e a deficiente literacia em saúde afeta todos os setores da sociedade. Kilonzo (2011) refere que a falta de alfabetização em saúde pode resultar na não-adesão medicamentosa ou sobredosagem acidental com implicações para os próprios doentes, para a família e os serviços de saúde. Aqueles que sofrem um enfarte do miocárdio podem passar por procedimentos como a angioplastia (ICP) ou revascularização do miocárdio, através de cirurgia. Para garantir uma gestão otimizada destes ou qualquer outro procedimento ou doença cardíaca, os doentes são obrigados a aderir a mudanças na dieta e estilo de vida, os quais exigem um bom nível de literacia em saúde. A literacia em saúde apresenta muitos desafios na linha da frente de atendimento ao doente. Para os enfermeiros de cardiologia ao educar doentes todos os dias, a tomada 56 de consciência deste fator na educação não pode ser subestimada. Rabelo et all (2007) referem que com a chegada da epidemiologia clínica, foi possível conhecer a DAC e a possibilidade de intervenções por meio de prevenção primária, secundária e terciária. No contexto de uma equipe multidisciplinar, o enfermeiro tem o papel de identificar e realizar ações educativas e efetivas na busca de resultados para a promoção, proteção e recuperação de saúde do indivíduo e da comunidade. Os achados epidemiológicos sobre a doença arterial coronária (DAC) que sinalizam essa doença é multifatorial e permitem o direcionamento das políticas em cardiologia preventiva, visando a redução da incidência de enfarte e de suas consequências de mortalidade e morbidade, através do controle efetivo dos fatores de risco (FR) identificados. A atualização e o conhecimento da prevalência desses fatores, isolados ou combinados, são essenciais para que os profissionais de saúde envolvidos no cuidado desses indivíduos possam estabelecer estratégias de educação, seguimento e reavaliação. A Enfermagem é por sua vez, uma profissão que não existe sem a cooperação coletiva e sem trabalho em equipa. Os profissionais de enfermagem trabalham para prestar cuidados de saúde e ajudam os seres humanos, por isso, o constante aperfeiçoamento nas relações humanas, comunicação e capacitação tecnológica são fundamentais. Estes deverão ainda, reconhecer componentes da comunicação promotoras de maior literacia em saúde para, avaliar quais os problemas existentes entre os utentes/clientes e os técnicos de saúde, usar ferramentas para alterar situações de défice no empoderamento do cidadão no domínio da literacia em saúde e intervir no campo da comunicação em saúde , gerir conflitos e desenvolver competências de relacionamento através da linguagem assertiva. Kilonzo (2011) de acordo com vários autores refere que um baixo nível de literacia em saúde limita o envolvimento do doente na tomada de decisão e de comportamentos de auto-cuidados que sejam necessárias em doenças cardíacas crónicas. Doentes com níveis ótimos na gestão de auto-cuidado têm geralmente uma melhor qualidade de vida, evitando a re-hospitalização, reduzindo assim os custos de saúde. Ainda o mesmo autor refere que, indivíduos com baixos níveis de literacia em saúde são muitas vezes relutantes em procurar ajuda ou fazer perguntas, a menos que tenham um "confidente" para pedir. Os doentes com doença cardíaca precisam sentir-se confortáveis, solicitando e confiando em profissionais de saúde aptos na gestão da sua terapêutica e na prestação de todos os tipos de cuidados. 57 4 – METODOLOGIA Neste capítulo são expostas as opções metodológicas relativas à justificação dos instrumentos e procedimentos para a recolha e análise dos dados obtidos neste estudo. A metodologia é caracterizada por Fortin (2009), como o conjunto das técnicas e métodos utilizados para a elaboração do processo de investigação científica onde se expõem os objetivos da investigação, a questão de investigação, as variáveis consideradas e a sua operacionalização, o processo de seleção da amostra, o instrumento de colheita de dados elaborado; o processo de colheita de dados e os pressupostos éticos considerados; bem como as técnicas e medidas estatísticas utilizadas para o procedimento estatístico. 4.1-Enquadramento ao tema O conhecimento sobre fatores que promovem e defendem a saúde e sobre os fatores de risco para a saúde, bem como a capacidade de utilizar e aplicar de forma efetiva esse mesmo conhecimento, é determinante para adoção de comportamentos e estilos de vida saudáveis. A literacia em saúde inadequada ou de baixo nível associa-se a cuidados de saúde de pior qualidade e maior custo. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre nós e são, também uma das mais importantes causas de morbilidade: incapacidade e invalidez, anos potenciais de vida precocemente perdidos. O peso associado à doença cardiovascular pode ser reduzido com um diagnóstico precoce, tratamento adequado, reabilitação e prevenção, nomeadamente através do aconselhamento em prol de um estilo de vida mais adequado. Tendo por base estes pressupostos, é pertinente estudar a literacia em saúde em doentes com doença coronária e por sua vez, as evidências indicam uma correlação entre o conhecimento dos fatores de risco cardiovascular, mudanças de estilo de vida e adesão ao tratamento. Neste sentido, formulou-se a Questão de Investigação: Qual 58 o nível de literacia em saúde no doente coronário e em que medida é influenciada pela procura de folhetos/informação escrita e pelas mudanças de hábitos de vida? Para resposta à questão de investigação, foram traçados os seguintes objetivos: * Avaliar e caracterizar os níveis de literacia em saúde em doentes com doença coronária * Avaliar a influência da procura de folhetos/informação escrita * Explorar a efetividade nas mudanças dos hábitos de vidas A escolha de doentes coronários deve-se ao fato de estar a exercer funções no internamento do serviço de Cardiologia, possibilitando melhor acesso aos doentes internados, minimizando o tempo gasto na distribuição e esclarecimento na entrega dos questionários. 4.2-Tipo de Estudo A investigação proposta caracteriza-se por um estudo descritivo correlacional, de abordagem quantitativa. Segundo Fortin (2009), a investigação é descritiva correlacional, quando num dado momento são medidos vários conceitos e se tenta descobrir os que têm relações entre si, tem por objetivo explorar relações entre variáveis e descrevê-las. Um quadro teórico guia o investigador na associação dos conceitos entre si. À descrição dos fatores segue-se a verificação das relações e esta é feita quando há uma boa razão para crer que essa relação existe. A explicação consiste em determinar as razões pelas quais tal e tal variável estão associadas entre si. Tratando-se de descrever conceitos, fatores ou uma população, usa-se um método quantitativo, porque se pretende obter informações exprimindo-as em valores numéricos (Fortin, 2009). 4.3-Variáveis As variáveis são as unidades de base da investigação. Elas são qualidades, propriedades ou características de pessoas, objetos de situações suscetíveis de 59 mudar ou variar no tempo. As variáveis tomam diferentes valores que podem ser medidos, manipulados ou controlados (Fortin, 2009). A mesma autora caracteriza a variável independente como sendo um elemento que é introduzido numa situação de investigação com vista a exercer um efeito sobre uma outra variável. Esta variável é considerada como a causa do efeito produzido na variável dependente. Neste estudo foram definidas, as seguintes variáveis independentes: - Idade: medida numa escala numérica, em anos - Habilitações Literárias: medida numa escala ordinal por categorias de ensino, primário (até ao 4º ano), secundário (do 5º ao 12º ano) e superior (bacharelato, licenciatura, mestrado, doutoramento) - Aquisição de conhecimentos através de folhetos/informação escrita: medida através de resposta/escolha dirigida aos folhetos/informação escrita, relativamente a “onde adquiriu o conhecimento que tem sobre a doença cardíaca”. - Grau de adesão nas mudanças de hábitos de vida: medido através de resposta dicotómica (sim/não) nas perguntas relativas ao grau de adesão nas mudanças dos hábitos de vida e tratamento, considerando valor nulo o “não” e valor 1 o “sim”. Variável dependente é a que sofre o efeito da variável independente; é o resultado predito pelo investigador. Variáveis independentes e variáveis dependentes estão em correlação: a variável independente, produz um determinado efeito sobre a variável dependente (Fortin, 2009). A variável dependente deste estudo é o nível de literacia em saúde no doente coronário. Esta variável representa o conhecimento dos fatores de risco gerais e a forma como estão presentes no doente coronário. Os conhecimentos dos fatores de risco foram divididos em dois grupos, um avalia o grau de conhecimento geral dos fatores de risco para a doença coronária e o outro avalia o grau de conhecimento e presença desses fatores de risco específicos para a sua doença coronária. As questões foram avaliadas através de um score que, quanto maior é o seu valor maior é o grau de conhecimento. O primeiro grupo, fatores de risco gerais (FRG) contém dez perguntas em que o doente sabe reconhecer determinados fatores de risco na doença coronária (obesidade, elevados níveis de colesterol, elevados níveis de diabetes, hábitos de exercício físico, stress, hábito de fumar, alimentação, hereditariedade, 60 tensão arterial elevada e tristeza/humor deprimido) e o segundo, fatores de risco presentes (FRP) com oito perguntas (obesidade, elevados níveis de colesterol, elevados níveis de diabetes, hábitos de exercício físico, alimentação, stress, hábito de fumar e tensão arterial elevada) em que o doente aplica ou reconhece em si mesmo esses mesmos fatores. As possibilidades de resposta foram: muitíssimo, muito, um pouco, nada e não sei. A literacia em saúde no doente coronário foi considerada como variável dependente considerando os conhecimentos dos fatores de risco gerais mais os presentes. O conhecimento dos fatores de risco gerais tem score mínimo de 0 (todas as respostas “Não sei”) e score máximo de 40 (todas as respostas “muitíssimo”). Por sua vez, o conhecimento dos fatores de risco presentes apresenta um score mínimo de 0 (todas as respostas ”não sei”) e um score máximo de 32 (todas as respostas “muitíssimo”). Tratada como sendo a soma do conhecimento dos fatores de risco gerais e o conhecimento dos fatores de riscos presentes, cujo valor mínimo é de 0 e valor máximo de 72. As variáveis atributo são características pré-existentes dos participantes num estudo. Elas são geralmente constituídas por dados demográficos (Fortin, 2009). Assim, as variáveis socio-demográficas representadas neste estudo, são: - Idade, Sexo, Com quem vive, Habilitações literárias, Situação laboral, Rendimentos. Apesar de a idade e as habilitações literárias serem características dos participantes, foram identificadas como sendo variáveis independentes. 4.4-Hipóteses A hipótese é um enunciado formal sobre as relações antecipadas entre variáveis, que necessita de verificação empírica, tendo como ponto de partida o quadro teórico (Fortin, 2009). Neste sentido, as hipóteses formuladas foram de encontro ao enquadramento teórico sobre literacia em saúde. Segundo Monteiro (2009), muitos estudos demonstraram que a idade avançada pode ser uma barreira à literacia em saúde. Um outro estudo efetuado por Ávila (2005) revelou que a relação entre literacia e idade torna-se ainda mais nítida, à medida que esta aumenta diminuem as competências de literacia. Tendo por base estas 61 conclusões, surgiu a hipótese 1: O nível de literacia em saúde no doente coronário correlaciona-se negativamente com a idade. Monte (2011) no seu estudo sobre “Efeito das Habilitações Académicas no Risco de Doença Cardiovascular de uma População de Alto Risco Cardiovascular da USF Gualtar” com recurso ao “10 – year risk of cardiovascular disease by Framingham riskscore”, identificou o valor máximo de risco de DCV (45) encontrado para o nível correspondente a menos habilitações académicas (nível 1), mas também para o nível de maiores habilitações (nível 4). Parece existir uma associação inversa entre habilitações académicas do nível 1, 2 e 3 e risco de DCV, não acontecendo o mesmo para o nível mais elevado de habilitações académicas (nível 4). A frequência do ensino superior não parece ser um fator de proteção para os FRCV e consequentemente para o risco de DCV. Também, Ávila (2005) no seu estudo sobre a “Literacia dos Adultos”, concluiu que “…meios familiares carenciados de habilitações literárias…convergem na produção dos fracos níveis de literacia…”. Estes resultados levaram à formulação da hipótese 2: O nível de literacia em saúde no doente coronário difere consoante as habilitações literárias. Uma das competências fundamentais passa pelo conhecimento sobre diferentes aspetos de saúde, bem como pela capacidade de utilização desse conhecimento. Rothman RL, et al citados por Santos (2010) referem que os conhecimentos em saúde fazem parte de um conceito mais abrangente, usualmente referido como literacia em saúde. Há bastante evidência, em como pessoas com baixa literacia em saúde (incluindo competência numérica em saúde) têm menor capacidade de compreensão dos conteúdos em folhetos informativos sobre alimentos ou sobre fármacos…”. Cerca de 40% dos indivíduos com reduzidas competências de literacia necessitam do apoio de terceiros em tarefas como a leitura de folhetos de medicamentos ou leitura de informação institucional (Ávila, 2005). Por conseguinte, foi formulada a hipótese 3: O nível de literacia em saúde no doente coronário difere consoante a procura de folhetos/informação escrita. Safeer (2006) refere que há evidências de que um melhor conhecimento da sua condição pode melhorar a adesão do doente às mudanças de estilo de vida e terapêuticas. Outros autores apontam correlações estatisticamente significativas entre o conhecimento dos doentes em geral sobre a doença cardíaca coronária, fatores de risco e melhorias na perda de peso (p = 0,040), atividade física (p = 0,005), gestão do 62 stress (p = 0,004), mudanças na dieta (p <0,001), e os objetivos de tratamento de longo alcance para os níveis lipídicos (p = 0,018). O auto-conhecimento também foi positivamente relacionado com a adesão às drogas anti-hipertensivas (p = 0,003). Por outro lado, Teixeira (2004) refere que baixa literacia em saúde é, também a dificuldade dos indivíduos em compreender qual é o seu estado de saúde e quais são as necessidades de mudança de comportamentos, planos de tratamentos e de autocuidados. Santos (2010) reforça essa ideia, com a perceção de baixa auto-eficácia na prevenção e gestão de problemas de saúde, bem como com comportamentos ineficazes de saúde. Há doentes que admitem não entender o suficiente sobre a sua condição física e a toma de medicamentos (incluindo a finalidade e possíveis efeitos colaterais) afetando a sua adesão ao tratamento (Safeer, 2006). Neste sentido, foi formulada a hipótese 4: A adesão nas mudanças dos hábitos de vida relaciona-se positivamente com o nível de literacia em saúde no doente coronário. 4.5-População/amostra A população-alvo é definida por Fortin (2009), como sendo um grupo de pessoas ou de elementos que têm características comuns. A população deste estudo é constituída pelos doentes internados no serviço de Cardiologia (internamento e Unidade de Cuidados Intensivos) por evento de DAC ou SCA. A amostra é constituída por 51 indivíduos, tendo sido excluídos os que não soubessem ler nem escrever, que tivessem uma acuidade visual inadequada para auto-preencher o questionário, demência ou patologia psiquiátrica. O diagnóstico de doença coronária foi previamente efetuado por médico cardiologista. A determinação dos critérios de exclusão prendem-se com razões metodológicas, de forma a eliminar a possibilidade de haver interferência de outra patologia e garantir a colaboração e compreensão dos indivíduos para procederem ao correto preenchimento do instrumento de colheita de dados. 63 4.6-Instrumento de colheita de dados Dadas as características do instrumento de medida – questionário, e pensando ser o que mais se adequa à amostra em estudo, foi o método de colheita de dados escolhido. Fortin (2009) refere que o questionário é um instrumento de medida que traduz os objetivos de um estudo com variáveis mensuráveis e que ajuda a organizar, normalizar e controlar os dados de tal modo que as informações procuradas possam ser colhidas de forma rigorosa. A escolha incidiu, sobre um questionário disponível na tese - “Tradução, adaptação e validação de um questionário de conhecimento de fatores de risco cardiovascular para pacientes com doença arterial coronariana”- artigo original inglês- “ Transcultural adaptation and validation of a questionnaire about the knowledge of cardiovascular risks factors”. Para efetuar a colheita de dados e medir as variáveis definidas foi construído um instrumento de colheita de dados (Anexo I), de forma a delimitar a informação pertinente a recolher, através da formulação das perguntas, obedecendo a uma ordem, organizadas em 4 grupos: o Perguntas relativas ao grau de conhecimento geral dos fatores de risco na doença coronária o Perguntas relativas ao grau de conhecimento e presença de fatores de risco específicos na sua doença coronária o Perguntas relativas ao grau de adesão dos doentes nas mudanças de estilo de vida e tratamento o Perguntas relativas à adesão dos doentes no manuseamento dos fármacos prescritos. O questionário original atribui pontos de 0 a 9, sendo 0 menos importante e 9 muito importante. Após uma reflecção ponderada e minuciosa, a opção foi transformar os pontos em escalas de Likert mais simples de entender, adaptando-se melhor à realidade portuguesa. Nas perguntas relativas ao grau de conhecimento geral dos fatores de risco na doença coronária e ao grau de conhecimento e presença de fatores de risco específicos na 64 sua doença coronária, a escala escolhida foi: Muitíssimo/ Muito/Um pouco/Nada/Não sei. Nas perguntas relativas ao grau de adesão dos doentes nas mudanças de estilo de vida e tratamento. Resposta dicotómica: Não/Sim e se Sim de que forma, especificando que mudanças se efetuaram concretamente. Nas perguntas relativas à adesão dos doentes no manuseamento dos fármacos prescritos, duas partes: - Quatro perguntas- Sobre a identificação dos medicamentos que toma habitualmente, prescrita para a dislipidémia, anti-diabéticos orais, anti-hipertensores e antitrombóticos. Se resposta positiva, por nomeação ou reconhecimento, “Sim nomeação”, “Sim reconhecimento”. Se não sabe identificar a resposta, é negativa, ou ainda com a possibilidade de resposta “Não se aplica”. - Quatro perguntas- Sobre alteração da dose prescrita por sua iniciativa, deixar de comprar por ser demasiado caro, necessidade de ajuda na compreensão das prescrições/receitas e se toma medicação prescrita a outros, com opção de resposta: Muitíssimo/Muito/Um pouco/Nada. Para facilitar a recolha de dados, pretendendo uma quantidade de informação o mais completa possível, dividiu-se o questionário em 4 partes, são elas: Parte I - Elementos sócio-demograficas - pretende-se avaliar aspetos sóciodemográficos, nomeadamente elementos de natureza pessoal: idade, sexo, com quem vive, habilitações literárias, situação laboral e rendimentos. Parte II - Elementos relacionados com a doença cardíaca - pretende-se conhecer o tempo de diagnóstico e a realização de cateterismo cardíaco, angioplastia/tratamento ou cirurgia cardíaca e, no caso de a resposta ser afirmativa/positiva, foi questionado a quanto tempo, sendo uma resposta aberta. Ainda, nesta parte, é assinalada qual a medicação que toma atualmente e onde adquiriu o conhecimento que tem sobre a doença cardíaca, podendo ser de escolha múltipla. Parte III - Questões respeitantes às variáveis relacionadas com o conhecimento dos fatores de risco, contendo perguntas relativas ao grau de conhecimento geral dos fatores de risco para a doença coronária e perguntas relativas ao grau de conhecimento e presença de fatores de risco específicos para a sua doença coronária. Na escala de Likert escolhida, foi atribuído um valor de acordo com a sua ponderação 65 (score) em termos de nível de conhecimento sobre os fatores de risco: Muitíssimo=4, Muito=3, Um pouco=2, Nada=1 e Não sei=0. Parte IV - Questões dirigidas ao conhecimento sobre hábitos de vida e adesão ao tratamento, contendo perguntas relativas ao grau de adesão nas mudanças dos hábitos de vida e tratamento e perguntas relativas ao conhecimento/manuseamento e adesão dos medicamentos. As primeiras, direcionadas ao conhecimento sobre hábitos de vida e adesão ao tratamento, com resposta dicotómica (sim/não) e no caso de a resposta ser afirmativa, foi questionado “de que forma” ou “de quanto para quanto”, pretendendo avaliar a efetividade das mudanças, com resposta aberta. Foi atribuída uma ponderação de um valor á resposta “sim” e valor nulo ao “não”, certificando a efetividade das mudanças de hábitos de vida. A quantidade mínima de mudanças será nenhuma (zero) com a totalidade de respostas “não” e a quantidade máxima de mudanças será todas (oito) com a totalidade de respostas “sim”. As segundas, para averiguar o grau de conhecimento/manuseamento e adesão dos medicamentos, foram criadas duas possibilidades de respostas afirmativas com a nomeação (dizer o nome correto do medicamento) e o reconhecimento (identificar a embalagem sem saber o nome), uma resposta negativa e uma quando não se aplica a toma desse medicamento. Foram atribuídos valores de acordo com o grau de importância: Sim nomeação=3, Sim reconhecimento=2, Não=1 e Não se aplica=0. As terceiras, relativas ao manuseamento e adesão dos medicamentos, foram consideradas quatro respostas numa escala de Likert e atribuída pontuação (score) de acordo com a sua importância: Muitíssimo=1, Muito=2, Um pouco=3 e Nada=4. 4.7-Considerações éticas Para realização deste estudo foram tidas em consideração os aspetos ético-legais referenciados por Fortin (2009): o respeito pelo consentimento livre e esclarecido, o respeito pelos grupos vulneráveis, o respeito pela vida privada e pela confidencialidade das informações pessoais, o respeito pela justiça e pela equidade e o equilíbrio entre as vantagens e os inconvenientes. Neste trabalho foram cumpridas as normas e orientações referentes aos procedimentos éticos tais como, pedido de autorização para a realização do estudo e 66 aplicação do questionário dirigido ao Presidente do Conselho de Administração da instituição envolvida, assim como, ao Diretor de Serviço de Cardiologia (Anexo II). Foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo III) aos participantes antes do preenchimento do questionário, explicando-lhes o objetivo do estudo e a importância da necessidade da sua participação. 4.8-Colheita de dados Os questionários foram distribuídos a todos os doentes internados no serviço de Cardiologia (Internamento e Unidade de Cuidados Intensivos), de abril a junho de 2013, que cumprissem com os critérios de inclusão e que aderiram livremente ao estudo com o seu consentimento. 4.9-Processamento e análise de dados Após a colheita de dados, foi efetuada uma primeira análise e seleção de todos os questionários, no intuito de eliminar aqueles que porventura se encontrassem incompletos ou mal preenchidos. Posteriormente, processada a sua codificação e inserção em base de dados e aplicação dos procedimentos de estatística descritiva e inferencial, com recurso à IBM Software Package for Social Sciences (SPSS) Statistics versão 20 para Microsoft Windows. A parte descritiva da estatística tem por objetivo destacar o conjunto dos dados brutos tirados de uma amostra de maneira que sejam compreendidos (Fortin, 2009). Para a análise exploratória de dados foi utilizada estatística descritiva (distribuição de frequências -absolutas (nº) e relativas (%), média, desvio padrão, mínimo, máximo, percentis) para descrever o comportamento das variáveis. A estatística inferencial foi usada para determinar a relação entre elas e verificação de hipóteses, servindo para generalizar os resultados de uma amostra de sujeitos, ao conjunto da população (Fortin, 2009). O nível de significância adotado como estatisticamente significativo para todos os testes utilizados no estudo das hipóteses, foi considerado para valores de p ≤0,05. Nas variáveis a estudar, antes da utilização dos testes estatísticos, aplicou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk (dependendo se o valor de N ser superior ou inferior a 30) com a correção de Lilliefors, para avaliar a normalidade das variáveis em estudo tendo em conta a hipótese: H0-a distribuição é normal; se p≤0,05 rejeito H0, 67 (Laureano, 2011). Aplicado teste de Levene para comparação de variâncias, considerando haver diferenças significativas se o valor de prova for inferior a 5%. O teste revelou que a variável nível de literacia apresenta distribuição normal com valores de p=0,2. Por esse motivo, foram aplicados testes paramétricos, que foram: Teste t de Student para comparação entre médias em amostras independentes, aceitando-se haver diferenças significativas se o valor de prova for inferior a 5%. Coeficiente de Pearson que é uma medida de associação linear entre variáveis quantitativas, que varia entre -1 e 1. Quanto mais próximo dos extremos se encontrar maior é a associação linear. O nível de significância utilizado neste teste de hipóteses foi estabelecido para valores de p<0,05, valores mais usuais em ciências sociais. A consistência interna designa a concordância existente entre todos os enunciados individuais que constituem o instrumento de medida. Ela refere-se à homogeneidade de um conjunto de enunciados que servem para medir diferentes aspetos de um mesmo conceito (Fortin, 2009). Assim para verificar a consistência interna das escalas relativas ao grau de conhecimento dos fatores de risco gerais, dos fatores de risco presentes e ao grau de adesão das mudanças de hábitos de vida foi utilizada o cálculo do coeficiente de Alfa (α) Cronbach. Fortin (2009) refere que o valor dos coeficientes varia entre 0.00 e 1,00; um valor elevado indica uma grande consistência interna. Segundo vários autores, considera-se Alfa (α) Cronbach aceitável e adequado com valor superior a 0,7. Neste estudo, para o conjunto de perguntas relativas ao conhecimento dos fatores de risco gerais obteve-se o valor de α=0,705. Para o conjunto de perguntas relativas ao conhecimento dos fatores de risco presentes obteve-se o valor de α=0,560 e para o conjunto de perguntas relativas ao grau de adesão nas mudanças de hábitos de vida obteve-se o valor de α=0,735. Como se pode confirmar pelos resultados de α, os valores foram α>0,7 em duas escalas. No entanto, obteve-se um valor baixo, relativamente ao conjunto de perguntas sobre o conhecimento de fatores de risco presentes (α=0,560), mas que foi considerado adequado mantê-las no estudo. Assim sendo considera-se existir homogeneidade dos enunciados de um mesmo conceito, medidos por uma escala. 68 Características sócio-demográficas A população em estudo caracteriza-se por ser maioritariamente masculina 48 homens (94,1%), (gráfico1).Os indivíduos têm idades compreendidas entre os 32 anos (Mín.) e 84 anos (Máx.),com uma média de idade de 61,04 anos, 75% dos indivíduos têm 69 anos, (quadro 1). 42 (82,4%) Indivíduos vivem com o cônjuge (tabela 1), 22 (43,1%) têm ensino primário e 25 (49%) o ensino secundário (tabela 2), 31 (60,8%) está reformado (tabela 3) e 29 (56,9%) indivíduos auferem rendimentos entre os 500 e 1500 €, (tabela 4). Gráfico 1- Caracterização da amostra quanto ao sexo Quadro 1- Caracterização da amostra quanto à idade Idade Mín. Máx. Valor médio Percentil 75 Desvio padrão 32 84 61,04 69,00 9,67 Tabela 1 - Distribuição da amostra segundo, com quem vive Com quem vive nº % Sozinho 6 11,8 Cônjuge 42 82,4 Filhos/parentes 3 5,9 Total 51 100 69 Tabela 2 - Distribuição da amostra quanto às habilitações literárias Habilitações Literárias nº % Ensino Primário 22 43,1 Ensino Secundário 25 49,0 Ensino Superior 4 7,8 Total 51 100 Tabela 3 - Distribuição da amostra quanto à situação laboral Situação laboral nº % Empregado 16 31,4 Desempregado 4 7,8 Reformado 31 60,8 Total 51 100 Tabela 4 - Distribuição da amostra quanto ao rendimento Rendimento nº % <500€ 12 23,5 > 500 <1500€ 29 56,9 >1500 <2500€ 4 7,8 > 2500€ 4 7,8 Total 51 100 70 Elementos relacionados com a sua doença cardíaca O tempo de diagnóstico da doença foi há menos de 1 ano para 24 inquiridos (47,1%) e mais de 3 anos para 22 (43,1%), (tabela 5). 46 Indivíduos foram submetidos a cateterismo cardíaco (90,2%) e 35 fizeram angioplastia (68,6%), apenas 3 foram sujeitos a cirurgia cardíaca (5,9%), (tabela 6) Tabela 5 - Distribuição da amostra quanto ao tempo de diagnóstico Tempo de diagnóstico nº % < 1 ano 24 47,1 >1 ano<3anos 5 9,8 > 3 anos 22 43,1 Total 51 100 Tabela 6 - Distribuição da amostra quanto ao cateterismo cardíaco, angioplastia (ICP) e cirurgia cardíaca (CABG) Sim Não Total Intervenção nº % 46 90,2 Angioplastia (ICP) 35 Cirurgia cardíaca CABG) 3 Cateterismo cardíaco nº % nº % 5 9,8 51 100 68,6 13 25,5 48 94,1 5,9 41 80,4 44 86,3 Relativamente às respostas da pergunta sobre “há quanto tempo” foi submetido a cateterismo cardíaco, angioplastia e cirurgia cardíaca, não foram possíveis de serem tratadas por heterogeneidade das mesmas. A medicação que os doentes mais tomam é para a hipertensão 38 (74,5%), para a dislipidémia 35 (68,6%) e antitrombóticos 31 (60,8%), (tabela 7). 71 Tabela 7 - Distribuição da amostra relativamente à medicação que toma Sim Não Total Medicação Tensão nº 38 % 74,5 nº 13 % 25,5 nº 51 % 100 Ritmo cardíaco 12 23,5 39 76,5 51 100 Diabetes 20 39,2 31 60,8 51 100 Colesterol 35 68,6 16 31,4 51 100 Circulação 31 60,8 20 39,2 51 100 Dores no peito 8 15,7 43 84,3 51 100 Falta de ar 1 2,0 50 98,0 51 100 Ansiedade 10 19,6 41 80,4 51 100 Depressão 2 3,9 49 96,1 51 100 Dormir 7 13,7 44 86,3 51 100 O conhecimento adquirido, sobre doença cardíaca foi, maioritariamente, através de palavras de enfermeira/médico com 47 (92,2%) de respostas, 11 (21,6%) foram ainda adquirir conhecimentos em folhetos/informação escrita, 6 (11,8%) com pessoas com a mesma doença e 5 (9,8%) com familiares/vizinhos, (tabela 8). Tabela 8 - Distribuição da amostra quanto ao modo de aquisição de conhecimento Aquisição de conhecimento nº % Palavras enfª/médico 47 92,2 Folhetos/informação escrita 11 21,6 Pessoa com mesma doença 6 11,8 Familiares/Vizinhos 5 9,8 Total 51 100 72 Conhecimento dos fatores de risco Relativamente ao conhecimento dos fatores de risco gerais e presentes foram consideradas apenas as respostas “muitíssimo” e “muito”, fazendo um “Total”, visto que, são as mais importantes e maior influência têm na doença coronária. Verificou-se que os fatores de risco gerais mais identificados são, os níveis elevados de colesterol e o hábito de fumar com 46 (90,2%) de respostas, seguido da obesidade e tensão arterial elevada com 42 (82,3%) e 41 (80,4%) de respostas respetivamente. Os fatores de risco menos referenciados foram a tristeza/humor deprimido e o hábito de exercício físico com 15 (29,5%) e 7 (13,7%) de respostas, (tabela 9). Tabela 9 - Distribuição da amostra quanto ao conhecimento dos Fatores de Risco Gerais (FRG) Fatores de risco gerais (FRG) Muito Muitíssimo Total nº % nº % nº % Obesidade 22 43,1 20 39,2 42 82,3 Níveis elevados colesterol 27 52,9 19 37,3 46 90,2 Níveis elevados diabetes 22 43,1 10 19,6 22 62,7 Hábito exercício físico 5 9,8 2 3,9 7 13,7 Stress 25 49,0 9 17,6 34 66,6 Fumar 17 33,3 29 56,9 46 90,2 Alimentação 26 51,0 9 17,6 35 68,6 Hereditariedade 17 33,3 4 7,8 21 41,1 Tensão arterial elevada 28 54,9 13 25,5 41 80,4 Tristeza/humor deprimido 14 27,5 1 2,0 15 29,5 Verificou-se que os fatores de risco presentes mais referenciados foram a tensão arterial elevada, o hábito de fumar e o stress, com 28 (54,9%), 27 (52,9%) e 24 (47,1%) respostas respetivamente, sendo que o hábito de fumar foi o mais identificado com 17 respostas “muitíssimo”. O fator de risco menos referenciado foi o hábito do 73 exercício físico com apenas 3 (5,9%) de respostas. A obesidade, os elevados níveis de colesterol e a alimentação foram referenciados com 43,1; 43,2 e 41,2% respetivamente. A diabetes foi apontada como sendo fator de risco presente em 33,3% das respostas, (tabela 10). Tabela 10 - Distribuição da amostra quanto ao conhecimento dos Fatores de Risco Presentes (FRP) Fatores de risco presentes (FRP) Muito Muitíssimo Total n % n % n % Obesidade 17 33,3 5 9,8 22 43,1 Níveis elevados colesterol 11 21,6 11 21,6 22 43,2 Níveis elevados diabetes 15 29,4 2 3,9 17 33,3 Hábito exercício físico 3 5,9 0 0 3 5,9 Alimentação 15 29,4 6 11,8 21 41,2 Stress 16 31,4 8 15,7 24 47,1 Hábito fumar 10 19,6 17 33,3 27 52,9 Tensão arterial elevada 21 41,2 7 13,7 28 54,9 Neste estudo, o conhecimento sobre os fatores de risco gerais (conhFRG) apresenta um valor médio de 25,08 com um desvio padrão de 5,81. 75% Dos doentes têm um valor de conhecimento sobre fatores de risco gerais de 29,00, quando o valor máximo de conhecimento registado foi de 35 e o mínimo de 9, (quadro 2). Quanto ao conhecimento sobre os fatores de risco presentes (conhFRP), este apresenta um valor médio de 16,54 com um desvio padrão de 4,51. 75% Dos doentes apresentaram um valor de conhecimento dos fatores de risco presentes em si de 19, quando o valor máximo de conhecimento foi de 25 e o mínimo de 7, (quadro 2). Como a literacia em saúde nos doentes coronários (literacia), foi considerada a soma do conhecimento dos fatores de risco gerais e presentes. Estes apresentam um nível de literacia em saúde 74 com valor mínimo de 18 e máximo de 57, com valor médio de 41,37 e 75% dos doentes apresentam um nível de literacia em saúde de 48,25; (quadro 2). Quadro 2- Nível de literacia em saúde, baseado nos conhecimentos dos FRG e FRP Mín. Máx. Valor médio Percentil 75 Desvio padrão ConhFRG 9 35 25,08 29,00 5,81 ConhFRP 7 25 16,54 19,00 4,51 Literacia 18 57 41,37 48,25 8,78 Conhecimento sobre hábitos de vida e adesão ao tratamento Os indivíduos foram questionados quanto ao grau de adesão nas mudanças de hábitos de vida, feita uma análise descritiva com distribuição de frequências, a resposta dominante foi o “não” com número de respostas superiores a 30, ou seja, uma média de 65,43% de respostas negativas em todas as vertentes, com exceção na alteração da alimentação com 26 (51%) de respostas afirmativas, (tabela 11). Tabela 11 – Distribuição da amostra quanto às vertentes de adesão nas mudanças nos hábitos de vida Mudanças nos hábitos de vida Não nº Sim % n º Total % nº % Perda peso 34 66,7 17 33,3 51 100 Redução níveis colesterol 35 68,6 15 29,4 50 98 Redução níveis glicose 38 74,5 12 23,5 50 98 Aumento exercício físico 37 72,5 13 25,5 50 98 Redução stress 35 68,6 15 29,4 50 98 Alteração hábito fumar 31 60,8 18 35,3 49 96 Alteração alimentação 24 47,1 26 51,0 50 98 Redução tensão arterial 33 64,7 17 33,3 50 98 75 Nas respostas afirmativas, referentes às mudanças nos hábitos de vida, analisadas as respostas abertas que pretendem evidenciar a sua efetividade, verificou-se o seguinte: - Relativamente à perda de peso, em 17 respostas obtidas, 3 perderam menos de 3kg, 5 entre 5kg a 10kg e 7 mais de 10kg. - Relativamente à redução dos níveis de colesterol, em 15 respostas obtidas,10 referiram atingir os valores normais, ou seja valores inferiores a 190 mg/dl - Relativamente à redução dos níveis de glicose, em 12 respostas obtidas, 6 referiram conseguir valores inferiores a 110 mg/dl - Relativamente ao aumento da frequência de exercício físico, em 13 respostas obtidas, 9 fazem caminhadas, 2 hidroginástica e 1 anda no ginásio - Relativamente à redução de stress, em 15 respostas obtidas, 5 referiram terem-se reformado, 5 conseguiram uma vida mais calma e 5 alteraram sua forma de pensar - Relativamente à alteração do hábito de fumar, em 18 respostas obtidas, 17 disseram que deixaram de fumar - Relativamente à alteração na alimentação, em 26 respostas obtidas, 12 referiram comer menos gorduras, 5 mais peixe, 3 mais legumes e 2 menos carne. - Relativamente à redução dos valores de tensão arterial, em 17 respostas obtidas, todas elas referiram ter conseguido valores normais. O número de mudanças dos hábitos de vida variou entre zero e oito, sendo que houve 9 (17,6%) de indivíduos que não efetuaram qualquer mudança e que apenas 2 (3,9%) efetuaram todas elas. O maior número de mudanças efetuado pelo maior número de indivíduos foi num total de quatro efetuado por 7 indivíduos (13,7%). Acima de cinco mudanças, apenas 9 (17,6%) indivíduos as efetivaram na sua vida. (tabela 12). A média de mudanças nos hábitos de vida efetuadas foi de 2,65, com desvio padrão de 2,22. 75% Dos indivíduos de efetivaram mudanças nas suas vidas, fizeram-no em, pelo menos quatro itens, (quadro 3). 76 Tabela 12- Distribuição da amostra quanto ao número de mudanças nos hábitos de vida MHV nº % Zero 9 17,6 Uma 9 17,6 Duas 9 17,6 Três 6 11,8 Quatro 7 13,7 Cinco 2 3,9 Seis 4 7,8 Sete 1 2,0 Oito 2 3,9 Total 49 96,1 Quadro 3 - Mudanças nos hábitos de vida (MHV) MHV Mín. Máx. Valor médio Percentil 75 Desvio padrão 0 8 2,65 4 2,22 Conhecimento/manuseamento e adesão dos medicamentos Questionados os doentes sobre o saber identificar qual o medicamento prescrito para diminuir níveis de colesterol, diminuir níveis de glicose, diminuir níveis de tensão arterial e diminuir formação de trombos, as respostas foram: Para o colesterol, 21 (41,2%) indivíduos nomeiam corretamente o medicamento, assim como 19 (37,3%) para a tensão arterial e trombos. Por sua vez, 15 (29,4%) apenas reconhece a medicação para a tensão arterial e 11 (21,%) não sabem identificar a 77 medicação dos trombos. A maioria, 31 (60,8%) não toma qualquer medicação para a diabetes, (tabela 13). Tabela 13 - Distribuição da amostra quanto à identificação dos medicamentos Identificação medicamentos Sim por nomeação Sim por reconhecimento nº Não Sabe nº nº % Colesterol 21 41,2 14 27,5 6 Diabetes 8 15,7 6 11,8 Tensão arterial 19 37,3 15 Trombos 19 37,3 6 Não se aplica % Total nº % 19,6 51 100 31 60,8 51 100 9,8 12 23,5 51 100 21,6 15 29,4 51 100 % nº % 11,8 10 6 11,8 29,4 5 11,8 11 Questionados os doentes, sobre a alteração da dose de medicamento prescrito aumentando ou diminuindo por sua vontade, o deixar de comprar os medicamentos por serem demasiado caros, o pedir ajuda para compreender as prescrições/receitas e sobre as vezes que toma medicamentos prescritos de outras pessoas, confirmou-se que a alteração da dose não se verifica para a maioria dos indivíduos, 43 (84,3%), assim como, 45 (88,2%) não deixam de comprar a medicação por ser demasiado cara e por sua vez 49 (96,1%) não toma medicação prescrita de outra pessoa. Por outro lado há 16 (31%) indivíduos que pedem “um pouco” de ajuda na compreensão das prescrições/receitas e 10 (19,6%) pedem “muito”, (tabela 14). Tabela 14 - Distribuição da amostra quanto ao manuseamento da medicação Manuseamento medicação Muitíssimo Muito % Um Pouco nº % Nada nº % Total nº % nº nº % Altera dose 1 2,0 0 0,0 7 13,7 43 84,3 51 100 Deixa de comprar 2 3,9 0 0,0 4 7,8 45 88,2 51 100 Pede ajuda 2 3,9 10 19,6 16 31,4 23 45,1 51 100 Toma de outros 0 0,0 0 0,0 2 3,9 49 96,1 51 100 78 Análise do nível de literacia em saúde no doente coronário consoante a idade Hipótese 1: O nível de literacia em saúde no doente coronário correlaciona-se negativamente com a idade Para analisar a correlação entre o nível de literacia e a idade, foi utilizado o teste de correlação linear de Pearson (r), porque segundo Laureano (2011), este aplica-se quando se pretende testar a existência de relação entre duas variáveis quantitativas. Existe relação linear se o coeficiente de correlação de Pearson (r) ≠0 e se p≤0,05, rejeito H0, (não existe relação entre o nível de literacia e a idade). Após aplicação do teste verificou-se que Pearson (r) = -0,232 e com sig. (2 extremidades) p=0,112, sendo p>0,05, revelou existir correlação não estatisticamente significativa entre o nível de literacia e a idade, (quadro 4). O nível de literacia não apresenta diferenças significativas com a idade, ou seja, o avanço da idade não interfere negativamente com o nível de literacia. Quadro 4 - Coeficiente de correlação de Pearson entre o nível de literacia e a idade Variáveis r de Pearson Nível de significância (p) Literacia e idade - 0,232 0,112 Análise do nível de literacia em saúde no doente coronário consoante as habilitações literárias Hipótese 2: O nível de literacia em saúde no doente coronário difere consoante as habilitações literárias Para testar a diferença de nível de literacia em saúde consoante as habilitações literárias, pretendeu-se utilizar o teste paramétrico ANOVA. Este aplica-se quando se tem uma variável quantitativa (dependente) e se pretende comparar a sua média em dois ou mais grupos populacionais definidos por uma variável qualitativa (independente) (Laureano, 2011). No entanto, como o número de indivíduos com ensino superior é <5, considerado apenas dois grupos de ensino. O ensino primário com N=21 e o secundário/superior com N=27, resultante da soma de N=23 (ensino 79 secundário) e N=4 (ensino superior). Assim foi utilizado o Teste t de Student cuja aplicação é justificada quando se tem uma variável quantitativa (dependente) e se pretende comparar a sua média em dois grupos populacionais independentes definidos por uma variável qualitativa (independente) (Laureano, 2011). Foram tidos em conta os pressupostos (normalidade e homogeneidade das variâncias). Relativamente ao primeiro pressuposto, ao aplicar teste da normalidade foi considerado na estatística segundo Shapiro-Wilk, por ter n <30 nas diferentes classes, que demonstrou resultados de p=0,838 no ensino primário e p=0,884 no ensino secundário/superior. Como p>0,05 nos dois grupos, verifica-se que a distribuição é normal. Para o segundo pressuposto, teste da homogeneidade das variâncias, foi baseado no teste de levene com resultados de F=0,269 e p=0,607. Com estes valores assume-se que as variâncias de nível de literacia são iguais nos dois grupos, porque p>0,05, aceita-se H0 (a média de literacia é igual consoante as habilitações literárias). Pressupostos verificados e efetuado Teste t de Student à literacia consoante ás habilitações literárias, e de forma geral, verificou-se que existe uma melhor média do nível de literacia nos indivíduos com ensino secundário/superior (42,11), no entanto estas diferenças não são estatisticamente significativas, (quadro 5). Como os valores de t=-0,654 e p=0,516, então aceita-se H0. Não existem evidências estatísticas para se afirmar que o nível de literacia na análise dos dados seja significativamente diferente nos 2 grupos de habilitações literárias, ou seja, as habilitações literárias não influenciam o nível de literacia. Quadro 5 - Resultados da aplicação de t de Student à Literacia consoante as habilitações literárias nº Média Desvio padrão Ensino primário 21 40,42 9,65 Ensino secundário/superior 27 42,11 8,16 t p -0,654 0,516 80 Análise do nível de literacia em saúde no doente coronário consoante a procura de folhetos/informação escrita Hipótese 3: O nível de literacia em saúde no doente coronário difere consoante a procura de folhetos/informação escrita. Para analisar o nível de literacia em saúde nos doentes coronários com a procura de folhetos/informação escrita, foi utilizado o teste paramétrico Teste t de Student, cuja aplicação é justificada na hipótese 2. Foram tidos em conta e verificados os pressupostos. Existe distribuição normal entre as amostras, dos indivíduos que procuraram os folhetos/informação escrita e dos que não procuraram. Feito pelo teste da normalidade (Kolmogorov-Smirnov, por ter n>30), com valores de p=0,200. Não existem evidências estatísticas para se afirmar que a média do nível de literacia é diferente com a procura de folhetos /informação escrita. Como no teste de levene o valor de F=2,694 e p=0,108; sendo p>0,05, assume-se H0 (a média de literacia em saúde é igual consoante a procura de folhetos/informação escrita), ou seja não existe diferença de variância entre os grupos. Por outro lado, como o valor t=0,090 e de p=0,929, então aceita-se H0. Não existem diferença estatisticamente significativa entre a média do nível de literacia entre os que procuram e os que não procuram os folhetos/informação escrita. A média do nível de literacia com procura de folhetos/informação escrita é de 41,60, valor semelhante sem procura (41,31), (quadro 6). Por isso conclui-se que o nível de literacia em saúde não difere consoante a procura de folhetos/informação escrita. Quadro 6 - Resultados da aplicação de t de Student à literacia consoante a procura de folhetos/informação escrita Folhetos/informação escrita nº Média Desvio padrão Sim 10 41,60 5,92 Não 38 41,31 9,46 t p 0,090 0,929 81 Análise da correlação da adesão nas mudanças de hábitos de vida e o nível de literacia em saúde no doente coronário Hipótese 4: A adesão nas mudanças dos hábitos de vida relaciona-se positivamente com o nível de literacia em saúde no doente coronário A regressão linear simples aplica-se quando se tem duas variáveis quantitativas, uma dependente (explicada) e outra independente (explicativa) e se pretender descrever a relação linear entre elas, (Laureano, 2011). A relação linear entre a adesão nas mudanças de hábitos de vida e os níveis de literacia é verificada através do coeficiente de correlação linear de Pearson. Como Pearson (r)=0,273 e nível de significância p=0,066 constata-se a existência de uma relação linear positiva e fraca entre o nível de literacia e as mudanças de hábitos de vida, (quadro 7). Quadro 7 - Correlação entre o nível de literacia e as mudanças de hábitos de vida Variáveis r de Pearson Nível de significância (p) Literacia e MHV 0,273 0,066 A avaliação do valor da regressão, é calculado pelo quadrado do valor da correlação, isto é (0,273)2. Assim, verifica-se por estes resultados que, apenas 7,45 % das mudanças de hábitos de vida são explicados pelo nível de conhecimentos de fatores de risco gerais e presentes, ou seja, pelo nível de literacia. 82 4.10- Discussão dos resultados Nesta etapa, é feita uma reflexão sobre a investigação realizada, dando ênfase aos dados considerados mais significativos, confrontados com a literatura científica consultada. Esta investigação é constituída por 51 indivíduos, em que a maioria dos sujeitos é do sexo masculino sendo 48, (94,1%). As mulheres, apenas 3 (5,9%), com idades entre 50 e 60 anos, não estão em número significativo para serem estudadas. Este fato não exclui a existência de um maior número de mulheres com diagnóstico de doença coronária, até porque, vários estudos têm demonstrado que após a menopausa, as mulheres experimentam um aumento do risco de doença cardíaca. Neste estudo, não existem dados suficientes para se caraterizar a amostra por sexo. As mulheres não possuíram critérios de inclusão na amostra devido à idade avançada, com evidentes incapacidades na compreensão do instrumento de colheita de dados. Esta realidade não confirma a investigação de Coelho (2010), que ao estudar o perfil de doentes com enfarte do miocárdio num hospital universitário, verificou que, de todos os doentes estudados, 28,9 e 71,1% eram do género feminino e masculino respetivamente. Do mesmo modo, num estudo de Damásio (2012) os diagnósticos de SCA existem em maior número nos homens do que nas mulheres. Nos SCA-NSTE 69,7% nos homens contra 30,3% nas mulheres e nos SCA-STE 74% nos homens contra 25% nas mulheres. No presente estudo, a média de idade é de 61,04 anos com DP=9,67. 75% Dos indivíduos tem 69 anos, distinguindo-se um pouco do RNSCA (2ª fase), em que a idade média é de 66 anos. A maioria dos indivíduos, 42 (82,4%) vive com o cônjuge, estando de acordo com os censos 2011, a maioria da população residente em Portugal está casada (87,09%). De igual modo, no estudo realizado por Lunelli et al (2009), em doentes com doença arterial coronária, 78,3% eram casados, Dos inquiridos, 25 (49,0%) têm ensino secundário, 31 (60,8%) está reformado e com um rendimento entre 500 a 1500€ para 29 inquiridos (56,9%). Estes dados não estão de acordo com o Estudo Amália (2011), visto que nele há uma maioria de indivíduos (37%) com o ensino primário e estão no ativo (54,8%). Por outro lado aproxima-se do estudo de Lunelli et al (2009), que mostra 47,8% da sua população aposentada e 66,3% vive com um rendimento até dois salários mínimos com uma média de 83 escolaridade de 6,4 anos. Segundo o Censos de 2011, 50% da população portuguesa tem pelo menos o 9º ano de escolaridade, o que vai de encontro à população em estudo. Relativamente à realização de cateterismo cardíaco/coronariografia, no estudo 46 (90%) indivíduos foram submetidos ao exame com 68,6% de ICP. A recolha dos dados foi efetuada em 3 meses, pelo que o tempo não foi suficiente para confirmar dados já existentes no próprio serviço, cujo valor percentual de ICP foi de 43,8 %, num período de 3 anos (Maio 2010 a Maio 2013). Estes últimos vão de encontro com o RNSCA (2ªfase) que revela valores de 43% de ICP. O conhecimento adquirido sobre a doença cardíaca foi maioritariamente através de palavras de enfermeira/médico com 47 (92,2%) respostas, o que está de acordo com o 4º inquérito nacional de saúde 2005/2006 em que o médico ou enfermeiro foi a fonte da informação do diagnóstico de doença crónica mencionada por mais de 90%. Relativamente ao conhecimento dos fatores de risco presentes, verificou-se que os fatores mais referenciados e autorelatados foram a tensão arterial elevada, o hábito de fumar e o stress com 54,9, 52,9 e 47,1% respetivamente. O fator de risco menos referenciado foi o hábito de fazer exercício físico com apenas 5,9 %. Os resultados diferem do estudo de Pires (2010) sobre fatores de risco da doença coronária e qualidade de vida “estudo exploratório no concelho de Odivelas”, em que foi constatada a existência de hipertensão arterial em 82% da amostra no diagnóstico clínico e em 83% no diagnóstico clínico percebido. Verificou-se, igualmente que a maioria das pessoas referiu nunca ter fumado (54%) contra 46% que se distribuíram pelos itens (algumas vezes, regularmente, frequentemente e sempre). Neste estudo, a percentagem de indivíduos que referiram o stress como fator de risco presente é um valor significativo (47,1%), o que vai de encontro ao estudo de Rodrigues (2010), sobre “impacto do stress e hostilidade na doença coronária”, em que nos resultados obtidos, ressalva-se o impacto do stress na doença coronária, uma vez que são os indivíduos com EAM os que apresentam maiores níveis de stress. Os resultados obtidos na Perceived Stress Scale (PSS) mostram que o grupo clínico (M=21.53, DP=5.69), comparativamente com o não clínico (M=17.26, DP=6.09), apresentou níveis de stress mais elevados (t = 2.80, p<0.05). Vários estudos existentes na literatura, Serra apud Rodrigues (2010), corroboram com estes resultados, afirmando que elevados níveis de stress afetam o estado de saúde do indivíduo, propiciam o aparecimento de doenças, tais como a HTA, diabetes e doença 84 cardíaca. Concluiu também que a única variável que contribui significativamente para a diferenciação entre o grupo de doentes cardíacos e o grupo de indivíduos saudáveis é a perceção de stress. Os elevados níveis de colesterol, a obesidade e a alimentação foram referenciados em 43,2, 43,1 e 41,2 % respetivamente. A diabetes foi apontada como sendo fator de risco presente em 33,3 % das respostas. Estes resultados diferem novamente do estudo de Pires (2010), visto que em relação à hipercolesterolémia, os itens clínicos apresentam um valor de 69%, em relação aos itens clínicos percebidos de 54%, em relação à obesidade, verificou-se existir nesta amostra referenciação clínica em 36% dos inquiridos e em ter mais peso para a sua altura, obesidade percebida 56% e que a grande maioria dos indivíduos eram diabéticos tipo II, a fazer terapêutica antidiabética oral, sendo 87,7%, utentes referenciados pelos seus médicos de família, dentro dos quais existiram 3 indivíduos que negaram a patologia e 5 que disseram ignorar o diagnóstico. No presente estudo, a diabetes foi dos fatores de risco presentes menos referenciados e por isso, considerado, também, uma não prioridade com uma correspondente não adesão nas mudanças de hábitos de vida com 38 respostas (74,5%). A dislipidémia é, um dos fatores de risco gerais mais referenciados (90,2%), e como fator de risco presente (43,2%), é um conhecimento consistente, que faz parte do diaa-dia da população em estudo. Embora, este último com percentagens inferiores ao estudo de Fernandez (2008), sobre “o conhecimento dos fatores de risco na doença coronária após ICP: uma preocupação fundamental para a prática de enfermagem”, o presente estudo corrobora com o segundo, onde a maioria dos inquiridos foi capaz de identificar o colesterol elevado (87%), o tabagismo e a hipertensão com 83% e 82% respetivamente, como fatores modificáveis. Dos inquiridos, 46% identificaram a diabetes como sendo um fator de risco modificável. Apenas um terço dos participantes reconheceram todos os seis fatores de risco modificáveis. Uma grande proporção de doentes fumadores, com altos níveis de colesterol ou hipertensos, identificou estes fatores como sendo de risco, por outro lado um terço dos diabéticos não reconheceram essa condição como fator de risco para a doença cardíaca. O conhecimento dos fatores de risco presentes, neste estudo, apresenta baixos valores, com valor médio de 16,54 e DP=4,51. No entanto, também os fatores de risco mais referidos como estando presentes foram a hipertensão arterial e o hábito de fumar, com 54,9 e 52,9 % das respostas. 85 Esta investigação vai de encontro ao estudo sobre “Educação Alimentar na Formação de Adultos Contributos para a Educação/Promoção da Saúde” efetuado por Augusto (2011) onde se apurou que “alguns alunos apresentam diversas patologias. Metade dos inquiridos refere a presença de níveis elevados de colesterol e de tensão arterial. Constata-se ainda que uma percentagem significativa de indivíduos (10% a 55%) não conhece a sua situação de saúde em relação às patologias apresentadas”. Este fato associa-se ao baixo nível de adesão nas mudanças de hábitos de vida, com uma média de respostas negativas de 65,43% e visto em termos de número de mudanças de hábitos de vida, quatro mudanças foi o maior número apresentado pelo maior número de indivíduos, que são 7 (13,7%). Existem 9 indivíduos (17,6%) que não efetuaram qualquer mudança, o mesmo número de inquiridos referiu ter efetivado apenas uma e duas. O máximo de mudanças efetuadas, que são oito, fora referido por apenas 2 indivíduos (3,9%). Resultados semelhantes ao do estudo de Lunelli et al (2009), em que a “maioria dos pacientes não aderiu à terapêutica não farmacológica evidenciando uma subvalorização da necessidade da modificação preventiva dos hábitos de vida para controlo dos fatores de risco. Por outro lado a maioria dos pacientes é mais aderente ao manejo farmacológico dos que às medidas de autocuidado que compõe o manejo não farmacológico da doença”. Estas mudanças quando, efetivamente foram assinaladas revelaram-se em termos de perda de peso, em 17 respostas obtidas, 3 perderam menos de 3kg, 5 entre 5kg a 10kg e 7 mais de 10kg; à redução dos níveis de colesterol, em 14 respostas obtidas, 10 referiram atingir os valores normais, ou seja valores inferiores a 190 mg/dl; à redução dos níveis de glicose, em 11 respostas obtidas, 6 referiram conseguir valores inferiores a 110 mg/dl; ao aumento da frequência de exercício físico, em 13 respostas obtidas, 9 fazem caminhadas, 2 hidroginástica e 1 anda no ginásio; à redução de stress, em 16 respostas obtidas, 5 referiram terem-se reformado, 5 conseguiram uma vida mais calma e 5 alteraram sua forma de pensar; à alteração do hábito de fumar, em 20 respostas obtidas, 17 responderam que deixaram de fumar; à alteração na alimentação, em 26 respostas obtidas, 12 referiram comer menos gorduras, 5 mais peixe, 3 mais legumes e 2 menos carne; à redução dos valores de tensão arterial, em 16 respostas obtidas, todas elas referiram ter conseguido valores normais. 86 Estes dados podem mostrar o desconhecimento do doente sobre a doença e a desmotivação para a tratar quando assintomática e crónica, nomeadamente incidir em mudanças de estilo de vida alterando os fatores de risco modificáveis. Neste estudo, a medicação tomada autoreferida, é para a hipertensão com 74,5%, para a dislipidémia (68,6%) e antitrombóticos (60,8%). Estes dados coincidem com os apresentados no 4º inquérito nacional de saúde 2005/2006, em que o consumo de medicamentos, nas duas semanas anteriores à entrevista, foi realizado por 52,8% da população. Os principais motivos deste consumo estão associados à HTA (15,6%), à dor nas articulações (10%) e à redução do nível de colesterol (9,5%). Há que referir que a população inquirida não padecia apenas de doença cardíaca. Relativamente à identificação dos medicamentos, a maioria sabe nomear o medicamento que toma para o colesterol (41,2%), tensão arterial e trombos com 37,3%, à exceção dos diabetes cujas respostas foram maioritariamente o “não se aplica” com 60,8%. Perdigão (2010) no estudo Hipócrates “Prevalência e caracterização da hipercolesterolémia em Portugal” concluiu que 56% da população avaliada tinha Colesterol total >190 mg/dl e/ ou medicação hipolipemiante. Pode-se verificar que, a apresentação de elevados níveis de colesterol (43,2%) e a toma de medicação autoreferida em 68,6%, confirmam os resultados existentes no estudo Hipócrates com um valor de 55,9%. Quando questionados sobre o manuseamento da medicação, os inquiridos foram perentórios em confirmar que não alteram a dose, não deixam de comprar nem tomam medicação de outros, com 84,3, 88,2 e 96,1% respetivamente. Por outro lado pedem ajuda na compreensão das prescrições/receitas “um pouco” com 31,4% e “muito” com 19,6%. O fato de pedir ajudar pode indiciar que o nível de literacia dos indivíduos em estudo é baixo, também verificado num estudo de Bosworth (2010) sobre desafios e estratégias para melhorar a literacia em saúde e competências do doente, tendo-se verificado que, aproximadamente metade (46%) dos doentes do estudo era incapaz de ler e indicar corretamente uma ou mais das instruções da bula em cinco prescrições comuns. Segundo um estudo de Santos (2010) sobre “a adesão à terapêutica em doentes com patologia cardíaca”, o nível de conhecimentos sobre a patologia, bem como informação sobre os efeitos da medicação exercem uma influência considerável na adesão à terapêutica, sendo que quanto mais conhecimentos e informações possuírem maior adesão à terapêutica apresentam. Conseguiram aferir que mais de 87 metade da amostra (54,5 %) revela uma “boa adesão” à terapêutica, sendo que os doentes com Doença Coronária (58,3 %) apresentam uma maior percentagem do que os doentes com IC (50,0 %). Por sua vez, são os doentes com IC (35,0 %) que têm maior percentagem na “baixa adesão”, comparativamente aos doentes com Doença Coronária (29,2 %). Num estudo citado por Pina (2011), que incidiu sobre os fatores de risco e adesão aos tratamentos em doentes com risco cardiovascular, concluiu que, 38% dos participantes não cumpriam o regime terapêutico, no entanto, no presente estudo 90,8% dos inquiridos tomam medicação. Visto que, também no presente estudo, existe uma “boa” adesão terapêutica, pode-se inferir que os doentes, possivelmente, não estejam convencidos da real importância de mudar alguns dos seus hábitos, esperando somente das medicações o controlo dos fatores de risco e a prevenção de eventos coronários. Para verificação da hipótese “O nível de literacia em saúde no doente coronário correlaciona-se negativamente com a idade”, foi usado teste de correlação linear de Pearson (r) e adotou-se como estatisticamente significativos resultados com valores p≤0,05, pelo analisado, a correlação não é estatisticamente significativa, porque o nível de sig. é p=0,112. Assim, o nível de literacia em saúde assume diferenças pouco significativas independentemente da idade. Este resultado não corrobora com o estudo de Ávila (2005), sobre “A Literacia dos Adultos: Competências-Chave na Sociedade do Conhecimento ”na análise da composição etária dos vários níveis de literacia revela diferenças significativas entre eles, com os mais jovens a serem maioritários nos níveis de competências mais altos e os mais velhos a predominarem nos níveis mais baixos. Se a análise for efetuada confrontando as competências de literacia (em termos médios) obtidas em cada escalão etário, a relação entre literacia e idade tornase ainda mais nítida: à medida que aumenta a idade, diminuem regularmente as competências de literacia. A quebra é especialmente acentuada para a literacia em prosa e documental, e um pouco menor no caso da literacia quantitativa. Seja como for, o padrão descendente mantém-se nas três escalas. Embora os níveis de literacia mais baixos atinjam as maiores proporções entre os mais velhos, não deixam de ter valores significativos em todos os grupos de idades, mesmo entre os mais jovens. Para verificação da hipótese “O nível de literacia em saúde no doente coronário difere consoante as habilitações literárias”, foi usado teste de correlação linear de Pearson (r). Averigua-se que o nível de literacia não difere significativamente consoante as habilitações. Os resultados obtidos têm nível de significância de p=0,516. Deduz-se que, tanto nos indivíduos com baixa escolaridade como média e alta, não existe 88 diferença significativa no nível de literacia, visto que o valor médio encontrado é 40,42 para o ensino primário e 42,11 para o ensino secundário / superior. Este fato também foi constatado no estudo de Ferreira (2012), sobre “a evolução dos fatores de risco em Portugal”, onde se verificou que, nos indivíduos com nível de ensino baixo, onde os fatores de risco cardiovascular foram mais prevalentes em todos os IqNS. Contudo e apesar da prevalência dos fatores de risco cardiovasculares ser maior nos indivíduos com níveis de ensino baixo, é de realçar o aumento gradual da tendência dos fatores de risco cardiovasculares para indivíduos com níveis de ensino médio alto e alto ao longo dos IqNS. Sugerindo que apesar da melhoria das condições de vida e educação adquirida, a presença de comportamentos saudáveis nem sempre é compreendida e adotada. Ávila (2005) tornou claro que a posse de qualificações escolares mais elevadas não se traduz forçosamente no domínio das competências de leitura, escrita e cálculo consideradas necessárias para enfrentar as exigências das sociedades atuais. Concluiu também, que os percursos escolares muito reduzidos (inferiores ao básico 2) dificilmente possibilitam a aquisição dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de competências de literacia acima dos Níveis 1 e 2. Uma vez mais, estas discrepâncias, ou desajustamentos, conduzem a que se questione, não só o funcionamento da escola, mas também o modo como as aquisições escolares podem sofrer, ao longo dos trajetos de vida, efeitos dos quadros sociais de existência, tanto a nível profissional como extra profissional. Monteiro (2009) ao estudar “A Literacia em Saúde” demonstrou que os indivíduos, que responderam ter concluído o 1.º ano de escolaridade são os que mais dificuldades têm em ler folhetos. Isto vai também de encontro à conclusão empírica de que a baixa escolaridade tem consequências na vida das pessoas em múltiplos aspetos, criando dificuldades e barreiras. Assim, no essencial os resultados permitem concluir que a maioria dos utentes não têm a literacia desejável mas apenas a minimamente adequada, ou seja, não estão completamente ‘às escuras’ quando têm de interagir com informação escrita na área da saúde mas apercebem-se das suas dificuldades quando têm de ler rótulos nos frascos dos medicamentos, sentindo igualmente necessidade de recorrer a outras pessoas para as ajudarem a ler folhetos hospitalares (Monteiro, 2009). Este autor, refere ainda média de 18,22 para capacidade de leitura fácil, 11,48 para capacidade de leitura difícil e 11,94 para dificuldade de compreensão- informação escrita. 89 Assim, para verificação da hipótese “O nível de literacia em saúde no doente coronário difere consoante a procura de folhetos/informação escrita”, foi usado teste paramétrico Teste t de Student, tendo-se verificado que também neste estudo, não houve diferença de nível de literacia em saúde consoante a procura de folhetos/informação escrita, visto que a sua média com procura ou sem procura de folhetos/informação escrita é semelhante em ambos os casos, com médias de 41,60 e 41,31 respetivamente. Ávila (2005), no seu estudo, refere que perante situações que remetem para o relacionamento dos cidadãos com as instituições, ou quando estão em causa cuidados de saúde, as tarefas como a leitura de folhetos de medicamentos e a leitura de informação institucional implicam, com maior frequência, o apoio de terceiros. As percentagens de respostas são de 25,4% e 34,4%, respetivamente, para níveis de literacia 1e 2. Kilonzo (2011) refere que o uso continuado do jargão científico reduz potencialmente a literacia em saúde do doente alfabetizado e pode aumentar o risco de pouca procura de cuidados de saúde. Pode-se deduzir que, o baixo nível de literacia em saúde é originado pela escassa procura de folhetos/informação escrita e que também, a baixa procura de folhetos/informação escrita é provocada pelo baixo nível de literacia, sendo necessário a ajuda de terceiros no acesso a tarefas sociais, nomeadamente aos cuidados de saúde. Para verificação da hipótese “A adesão nas mudanças de hábitos de vida relaciona-se positivamente com o nível de literacia em saúde no doente coronário”, foi utilizada a regressão linear simples entre as mudanças de hábitos de vida e a literacia. A qualidade do modelo é avaliada segundo o coeficiente de correlação linear de Pearson (r), que revela uma relação de intensidade fraca entre a literacia e as mudanças de hábitos de vida, com r=0,273, verificando-se que apenas 7,45% das mudanças de hábitos de vida são explicados pelo nível de conhecimentos dos fatores de risco gerais e presentes (literacia). Esta revelação vai de encontro ao estudo de Dosse (2009),em que os resultados obtidos na sua pesquisa sobre adesão de pacientes hipertensos ao tratamento conclusões: medicamentoso 61,76% e não demonstraram medicamentoso assiduidade às permitiram consultas; as seguintes 86,76% não apresentaram adesão ao tratamento medicamentoso de acordo com protocolo de Morisky-Green; 85,29% têm pelo menos um hábito de vida não saudável, ou seja, não aderiram totalmente ao tratamento não medicamentoso; os principais motivos referidos 90 pelos pacientes hipertensos para a sua não adesão ao tratamento foram: emocional (69,1%), não souberam relatar o motivo (10,3%) e alimentação (8,8%). Marques (2010), também no seu estudo sobre “Motivos da não adesão ao tratamento médico” de entre os diversos motivos identificados destacam-se o fator económico e o apoio familiar, que, associado a outros, como o estudo precário, analfabetismo, os mitos, as crenças e as tradições vividas por eles no passado, exerceram grande influência sobre suas decisões de acatarem ou não o tratamento médico prescrito. Dewalt et al, citados por Santos (2010) numa meta-analise, verificaram que uma baixa literacia está também associada a maiores taxas de hospitalização, diminuição na utilização de medidas preventivas, e pobre adesão aos regimes terapêuticos. Assim sendo, os doentes com patologia coronária crónica ou aguda, desconhecem a existência dos fatores de risco, nomeadamente os modificáveis e não aplicam sobre eles mudanças voluntárias e saudáveis, de forma a encontrar uma solução para melhorar o seu estado de saúde. Perante esta realidade, quais são então as consequências ou resultados advindos deste modo de perspetivar a literacia em saúde? Mais do que isso, o que acontece quando o modo de intervenção/ação não é pensado desta forma e os indivíduos possuem um reduzido nível de literacia em saúde? Loureiro (2012) evidencia diferentes consequências: custos acrescidos nos cuidados de saúde; reduzido ou falso conhecimento sobre as doenças e tratamentos; menores competências de autogestão; menor capacidade para cuidar de pessoas em condições crónicas; erros de medicação; incapacidade para lidar com sucesso com o sistema de cuidados de saúde e utilização dos serviços de saúde de forma desadequada. Vale a pena pensar nisso! 91 92 CONCLUSÃO Chegado ao momento de conclusão do estudo sobre “A literacia em saúde no doente coronário” que teve como objetivo entender mais profundamente, como os doentes coronários conhecem os fatores de risco tanto a nível geral como presentes nas suas vidas, por forma a relacionar esse conhecimento com eventuais mudanças de hábitos de vida. Essa preocupação prende-se com o que, na literatura se diz, em Portugal os níveis de literacia nos adultos é em média dos mais reduzidos. Por outro lado, os fatores de risco cardiovasculares, nomeadamente, os modificáveis são uma prioridade constante nos indivíduos que apresentam doença cardíaca, mais especificamente, doença coronária. Está provado que alterações voluntárias nos fatores de risco por parte dos doentes têm um contributo muito positivo na melhoria da qualidade de vida como na prevenção de novos eventos coronários e por sua vez, redução de cuidados de saúde tanto em internamentos como em tratamentos invasivos ou farmacológicos. Tendo esta doença surgido ligada a um leque infindável de problemas, os quais ultrapassam o modelo biomédico, surge a necessidade de intervenção das várias ciências humanas. Assim, estas têm uma importante contribuição a dar, quando da mudança de comportamento e de estilos de vida. O sofrimento e os custos causados pelas doenças cardiovasculares deram-lhes uma marcada preponderância, de tal forma que estas doenças se podem considerar, hoje, como verdadeiras doenças sociais: doenças com génese e com repercussão social. De forma particular, os enfermeiros de cardiologia, enfrentam diariamente pessoas que, muitas vezes desconhecem o motivo por que está a ser tratado. Como maior grupo de prestadores de cuidados, são os primeiros e o ponto mais consistente de contato nos cuidados de saúde. Na sua prática, têm a oportunidade e a responsabilidade de educar para minimizar as complicações e promover linhas orientadoras de adoção de comportamentos de adesão a tratamentos farmacológicos que permite normalizar valores de tensão arterial, colesterol e diabetes, e formação de 93 trombos. Os tratamentos não farmacológicos incluem mudanças de estilos de vida, como, alimentação melhorada, prática de exercício físico e cessação tabágica. A pesquisa bibliográfica assentou na recolha e análise de algumas obras que contribuíram no enriquecimento da pesquisa, tais como: livros, teses publicações periódicas, artigos científicos. Para a recolha de dados, foi elaborado um questionário baseado numa tradução, adaptação e validação de um questionário sobre o conhecimento dos fatores de risco cardiovascular para doentes com doença coronária. As limitações assentaram basicamente na preocupação de construir um instrumento que ajudasse na recolha de dados mas que fosse também acessível aos doentes. Inicialmente foi criado um questionário baseado e adaptado em questionários para a recolha de dados com tradução, adaptação e validação, para a população portuguesa: Test of Functional Health Literacy in Adults e Functional Health Literacy Measure: REALM – Rapid Estimate of Adults Literacy in Medicine- teste , TOFHLA – Test of Functional Literacy in Adults ou S-TOFHLA (versão reduzida), CARRF-KL – Cardiovascular Disease Risk Factors- Knowledge level, MMARS - Morisky Medication Adherence Scale, MARS - Medication Adherence Rating Scale, BMQ - Brief Medication Questionnaire. Após pré teste, confirmou-se que o questionário era demasiado comprido, os inquiridos demoravam cerca de uma hora a preenchê-lo e solicitavam a presença da investigadora. As perguntas sobre hábitos de vida saudáveis eram confusas no entender dos doentes. Outra limitação prende-se com o tipo de amostragem não aleatória utilizada, o que interfere na representatividade da amostra implicando que os resultados não possam ser generalizados à população com doença coronária. Este método de amostragem favorece a auto-selecção, podendo os doentes que participaram constituir uma amostra enviesada. Apesar das limitações existentes, cumpriu-se com os objetivos propostos, na avaliação e caracterização dos níveis de literacia em saúde nos doentes coronários, na identificação dos fatores de risco presentes e na efetividade das mudanças de hábitos de vida no doente coronário. Pela análise dos dados, chegou-se algumas conclusões, que caraterizam os doentes do Serviço de Cardiologia. Estes são maioritariamente do sexo masculino, têm uma média de idade de 61,04 anos, com um mínimo de 32 e máximo de 84 anos. Os 94 indivíduos vivem com cônjuge, estão reformados, com rendimentos entre os 5001500€ e cerca de metade têm ensino secundário. A maioria realizou cateterismo cardíaco com ICP. Os conhecimentos adquiridos sobre a doença e fatores de risco foram através de palavras de enfermeira/médico. A tensão arterial elevada, o hábito de fumar e o stress, foram os fatores de risco mais autorelatados como estando presentes nas suas vidas, no entanto, o seu nível de conhecimento (literacia) é baixo, (média de 41,37), levando igualmente a baixos níveis de adesão a mudanças de hábitos de vida, ficando aquém do que seria ideal, visto que a maioria não efetuou qualquer mudança. A toma da medicação apresenta altos valores de adesão, sabendo identificar os medicamentos tanto através da nomeação como do reconhecimento. A terapêutica antihipertensiva e hipolipemiante são a mais tomada e reconhecida. Deduz-se que os fatores de risco da hipertensão arterial e dislipidémia estão bem assimilados pelos doentes coronários. No entanto ainda existem outros fatores de risco modificáveis que não estão tão bem assumidos, pelo que permanece ainda um empenho por parte dos profissionais de saúde, principalmente, os enfermeiros na educação para as mudanças de estilo de vida, para práticas de hábitos salutares como sejam a prática de exercício físico, a cessação tabágica e uma alimentação saudável. De encontro à questão formulada no início deste estudo, “Qual o nível de literacia em saúde no doente coronário e em que medida é influenciada pela procura de folhetos/ informação escrita e pelas mudanças de hábitos de vida” verificou-se que o nível de literacia em saúde apurado tem um valor baixo e por outro lado, tanto a procura de informação escrita como as mudanças de hábitos de vida têm pouco significado/importância no nível de literacia em saúde, nos doentes coronários, internados neste Serviço de Cardiologia desta Instituição. Para melhorar estes resultados, fica a proposta de se efetuar uma avaliação de conhecimentos dos fatores de risco presentes na admissão do doente à unidade de Cardiologia e de uma reavaliação desse conhecimento 3 ou 6 meses depois da alta. A distribuição de folhetos/informação escrita adequada ao nível de escolaridade seria uma mais-valia no ensino do doente/cuidadores ou outros potenciais doentes. Por outro lado, saber que mudanças de hábitos de vida foram efetivadas após a alta e apurar os benefícios sentidos que daí resultaram. 95 Sugere-se igualmente, a inclusão de um psicólogo na equipe multidisciplinar, a introdução de medidas de organização de trabalho para facilitar a vigilância e monitorização nas mudanças de hábitos de vida por forma a minimizar a presença de fatores de risco modificáveis na vida das pessoas. A educação sobre os vários fatores de risco, sempre prioridade dos enfermeiros porque têm um papel facilitador na transição de saúde-doença, promove as disposições individuais necessárias à mudança ou à consciencialização de um novo significado à transição e permite uma integração à nova condição de saúde da pessoa. Este trabalho poderá ser um ponto de partida para futuras investigações/estudos ou instrumentos de medida no sentido de procura de soluções para a melhoria de cuidados em doentes cada vez mais atentos e exigentes. Seria igualmente interessante alargar o estudo a outros serviços/hospitais, implementando uma cultura de educação ao doente coronário. 96 BIBLIOGRAFIA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DO SISTEMA DE SAÚDE, Instituto Público (ACSS,I.P.) – Doenças Cardiovasculares- Lisboa, Julho 2012. ISBN:978989-96226-4-7 AMENDOEIRA José – Cuidado de Enfermagem, Intenção ou Ação -o que pensam os estudantes- Revista Nursing, Julho/Agosto 2000. [Consult. 6 Outubro 2013]. 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