SIMULADO DISSERTATVIO PROVA D-8 GRUPO EXM RESOLUÇÃO DA PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS DE GRAMÁTICA QUESTÃO 1. (UNESP) Em troca dos artigos que enriquecem sua vida, os indivíduos vendem não só seu trabalho, mas também seu tempo livre. As pessoas residem em concentrações habitacionais e possuem automóveis particulares com os quais já não podem escapar para um mundo diferente. Têm gigantescas geladeiras repletas de alimentos congelados. Têm dúzias de jornais e revistas que esposam os mesmos ideais. Dispõem de inúmeras opções e inúmeros inventos que são todos da mesma espécie, que as mantêm ocupadas e distraem sua atenção do verdadeiro problema, que é a consciência de que poderiam trabalhar menos e determinar suas próprias necessidades e satisfações. (Herbert Marcuse, filósofo alemão, 1955.) Caracterize a noção de liberdade presente no texto de Marcuse, considerando a relação estabelecida pelo autor entre liberdade, progresso técnico e sociedade de consumo. Marcuse apresenta uma visão crítica sobre a prática da liberdade como atualmente: o excepcional progresso técnico (a partir do pós-guerra) resultou em uma oferta exagerada de bens de consumo e na criação de um modo de vida administrado: a multiplicidade de bens oculta a falta de conteúdo; o trabalho torna-se alienante (mero meio para obter recursos para a compra de bens); o tempo livre transforma-se em tempo de “lazer”, parte da esfera do consumo. QUESTÃO 2. (UNESP) Em 1922, Ele marcha sobre Roma. Ele é a Itália em movimento. A Revolução prossegue. Depois de meio século de letargia, a nação cria seu próprio regime. Surge o Estado dos italianos. Seu poder manifesta-se. Suas virtudes vêm à tona. Seu império está em formação. Esse grande renascimento (...) terá o nome Dele. Em todo o mundo se inaugura um século italiano: o século de Mussolini. (Augusto Turati (1928), citado por Donald Sassoon. Mussolini e a ascensão do fascismo, 2009.) O perfil de Benito Mussolini foi escrito em 1928 e mostra algumas características do fascismo italiano. Identifique, a partir do documento, como esse perfil de Mussolini, traçado pelo autor do texto, caracteriza a ideologia fascista e se opõe aos princípios políticos democráticos. O texto afirma que o fascismo foi um movimento revolucionário que tirou a Itália da letargia e associa essa transformação a um grande renascimento caracterizado pela preponderância do Estado e pela liderança de Mussolini. Tais circunstâncias políticas eliminaram os direitos civis criados pela democracia liberal e introduziram a ditadura. O Estado fascista tinha na sua essência o corporativismo, uma vez que assumia a função de unir o capital e o trabalho. Dessa maneira, era antiliberal, por criar um rigoroso planejamento capitalista, e antioperário, por eliminar suas manifestações mais autênticas. QUESTÃO 3. (UNICAMP) Entre Luz e Fusco Entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. Nem durou muito a nossa despedida, foi o mais que pôde, em casa dela, na sala de visitas, antes do acender das velas; aí é que nos despedimos de uma vez. Juramos novamente que havíamos de casar um com o outro, e não foi só o aperto de mão que selou o contrato, como no quintal, foi a conjunção das nossas bocas amorosas... talvez risque isso na impressão, se até lá não pensar de outra maneira; se pensar, fica. E desde já fica, porque, em verdade, é a nossa defesa. O que o mandamento divino quer é que não juremos em vão pelo santo nome de Deus. Eu não ia mentir ao seminário, uma vez que levava um contrato feito no próprio cartório do céu. Quanto ao selo, Deus, como fez as mãos limpas, assim fez os lábios limpos, e a malícia está antes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes... oh! minha doce companheira da meninice, eu era puro, e puro fiquei, e puro entrei na aula de S. José, a buscar de aparência a investidura sacerdotal, e antes dela a vocação. Mas a vocação eras tu, a investidura eras tu. (Machado de Assis, Dom Casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 195-196.) a) Em que medida a imagem presente no título desse capítulo de Dom Casmurro define a natureza da narrativa do romance? b) No emprego da segunda pessoa, não há coincidência do interlocutor. Indique duas marcas linguísticas que evidenciam essa não coincidência, explicitando qual é o interlocutor em cada caso. a) A obra Dom Casmurro é narrada em 1a pessoa por um personagem atormentado pelo ciúme. Isso torna difícil distinguir com clareza o que se refere às suas vivências efetivas, relatadas com relativa objetividade — associandose a “luz” —, e o que é apenas fruto da subjetividade do narrador — o que pode ser identificado ao vocábulo “fusco”, entendido aqui como sombrio. Sendo a obra permeada pelo duplo posicionamento de Bento Santiago, o enredo transita entre o que está na luz e o que é apenas sombra. Ainda com relação à imagem apresentada no título do referido capítulo, cabe lembrar que o nome do personagem-narrador contém em si uma dualidade semelhante: por um lado, é Bento e Santo (luz); por outro, é Iago, vilão da peça Otelo, de Shakespeare (sombra). b) Inicialmente o enunciador se vale da segunda pessoa do singular para se referir ao leitor do romance, o que se dá no trecho “a malícia está antes na tua cabeça perversa”, desqualificando a malícia deste em oposição à ingenuidade de Bentinho e Capitu, a quem o adjunto adverbial “na [cabeça] daquele casal de adolescentes” faz alusão. Já na passagem “a vocação eras tu, a investidura eras tu”, não é mais o leitor, mas sim a personagem Capitu que o pronome de segunda pessoa do singular (“tu”) tem como referência. Isso se evidencia pelo vocativo “oh! minha doce companheira de meninice”, com o qual a personagem é evocada pelo narrador, constituindo-se uma apóstrofe. QUESTÃO 4. (FUVEST) Leia o texto. Ditadura / Democracia A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação: “Não posso me queixar”. Millôr Fernandes, Millôr defi nitivo: a bíblia do caos. a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justifique sua resposta. b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até “queixar”), pondo no plural a palavra “cidadão” e fazendo as modificações necessárias. a) Sim. O enunciado “não posso me queixar” pode ser lido em dois sentidos: como “não tenho motivos para me queixar”, ou “estou proibido de me queixar”. A primeira interpretação cria um efeito de sentido positivo, dando a impressão de que o indivíduo está satisfeito com o regime de seu país. A segunda, em contrapartida, produz um efeito crítico, negativo, manifestando a insatisfação do cidadão com a ditadura. Esta interpretação fica subentendida, logo o enunciador tem como se eximir de responsabilidades se for interpelado por alguma autoridade: pode afirmar que não fez críticas ao regime, uma vez que não há marcas gramaticais explícitas que o denunciem. b) A segunda parte do texto assumiria a seguinte forma: Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o que acham de seu país, eles respondem sem hesitação: “Não posso me queixar”. Colocando-se no plural a palavra “cidadão”, ocorrem algumas transformações no trecho: o pronome “qualquer” assume a forma “quaisquer”, concordando com “cidadãos”, do mesmo modo que as formas verbais “acham” e “responderão”. Além disso, o pronome “eles”, com função anafórica, retoma o termo “cidadãos”, o que justifica sua flexão no plural. A palavra “ditadura” não vai para o plural porque, acompanhada do artigo “uma”, já transmite a ideia de uma ditadura qualquer. Da mesma maneira, “seu país” segue no singular, uma vez que já deixa implícita a noção do respectivo país, do próprio país. O trecho entre aspas é transcrição de fala em discurso direto, por isso não vai para o plural: indica a fala de qualquer um dos cidadãos, a resposta que seria dada por qualquer um deles. Observação: A forma verbal “respondem” está flexionada no presente, respeitando a construção original. Mas é importante registrar que foi empregada em sentido não literal: como a forma “perguntar” está no futuro do subjuntivo (em “se você perguntar (...)”), a correlação em sentido literal seria com a forma “responderão”, no futuro do presente do indicativo.