4 Risco ergonômico nas práticas da equipe de enfermagem

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relatos de pesquisa
RISCO ERGONÔMICO NAS
PRÁTICAS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
DE UMA UTI
Maykon dos Santos Marinho*
Camila Tambone de Almeida**
Everaldo Nery de Andrade***
RESUMO
Os riscos ergonômicos compreendem o local inadequado de
trabalho, levando os profissionais da enfermagem a uma
exposição exacerbada aos perigos presentes no ambiente de
trabalho, ocasionando efeitos adversos à saúde desse
trabalhador, desencadeando no aparecimento de doenças e
acidentes de trabalho. Este estudo teve por objetivo
identificar situações de risco ergonômico envolvendo os
profissionais de enfermagem que trabalham na unidade de
terapia intensiva. Esta pesquisa, de natureza qualitativa,
descritiva e exploratória foi realizada em um hospital público,
no município de Jequié/BA, tendo como participante uma
equipe de enfermagem que atuava na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI). O instrumento de coleta de dados utilizado
foi um questionário semiestruturado e para a análise de
conteúdo foi utilizada a categorização temática proposta por
Minayo. Tal análise identificou que a equipe de enfermagem
percebe a existência de riscos em seu ambiente de trabalho
na UTI, uma vez que praticamente todos os tipos de riscos
foram citados. A falta de recursos materiais e de
equipamentos foi uma constante nas falas, o que torna as
condições de trabalho precárias.
Sendo assim, é
imprescindível que os profissionais busquem formas para
modificar suas condutas e atitudes e que estejam preparados
para enfrentar mudanças com o intuito de amenizar
problemas aos quais estão expostos diariamente, através da
aquisição do conhecimento de seus direitos e deveres para
que consigam trabalhar com mais segurança e menos danos
para sua saúde.
Palavras-chave Riscos Ocupacionais. Unidades de Terapia Intensiva.
Enfermagem.
* Graduado em Enfermagem pela
UFBA. Especialista em Enfermagem
em
cuidado
Pré-Natal
(UNIF
ESP). Mestrando
do
PPGMLS/
UESB. Bolsista pela CAPES. E-mail:
mayckon_ufba@ hotmail.com.
** Graduada em Enfermagem pela
Faculdade de Tecnologia e Ciências.
Especialista em enfermagem em
UTI. E-mail: [email protected].
*** Doutorando pelo programa
multicêntrico em Ciências Fisiológicas (UFBA/UFMG/USP). Professor
Assistente – UESB, Jequié/BA. Email: [email protected].
contribuído para a disseminação de temas
1 INTRODUÇÃO
como riscos ocupacionais e ambientais,
A discussão a respeito da saúde do
ergonomia, equipamentos de trabalho,
trabalhador tem sido ampliada nas últimas
divisão do trabalho e outros, que vêm
décadas, aproximando áreas diversas
promovendo uma busca por um espaço
como
saúde,
de trabalho que ao mesmo tempo proteja
sociologia, entre outras. A contribuição
e previna o trabalhador, proporcionando
destas
qualidade de vida ao mesmo.
192
engenharia,
temáticas
psicologia,
tão
impares
tem
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.8, n.1, p.192-205, jan./jun. 2015
Maykon dos Santos Marinho, Camila Tambone de Almeida, Everaldo Nery de Andrade
Não há um só espaço de trabalho
pacientes
críticos,
que prescinda de normas de regulação
cuidados
complexos
referentes à adequação ergonômica, no
monitorização contínua e assistência de
entanto
enfermagem
são
poucas
as
indústrias,
sendo
contínua
e
necessário
intensivos,
e
intensiva
estabelecimentos, instituições, organiza-
(SANTOS et al., 2010). Neste contexto, a
ções que realmente têm seguido a risca
equipe de enfermagem, disponibiliza um
as
o
maior tempo à assistência dos indivíduos
estabelecimento de níveis de segurança
que se encontram neste local, o que
que preservem a saúde do trabalhador
implica numa maior exposição a este
em seu ambiente laboral. A ergonomia,
ambiente, estando mais susceptíveis aos
em termos genéricos trata justamente da
riscos ocupacionais e as consequências
relação entre o homem e seus ambientes
que estes podem desencadear na saúde
de trabalho, tendo três objetivos básicos
dos profissionais.
orientações
necessárias
para
ao
Os riscos ergonômicos compreen-
indivíduo, prevenção de acidentes, como
dem o local inadequado de trabalho, o
também, ajudar a evitar o aparecimento
levantamento e transporte manual de
de
peso, exigência de postura inadequada,
que
são:
possibilitar
patologias
o
conforto
específicas
para
determinado tipo de trabalho (BORGES,
controle
rígido
de
produtividade,
2011).
imposição de ritmos excessivos, trabalho
de
em turno e noturno, jornadas de trabalho
Tratamento Intensivo (UTI), além de
prolongadas, monotonia e repetitividade e
intenso,
e
outras situações causadoras de stress
desgastante tanto para os pacientes,
físico e/ou psíquico (SIMÃO et al., 2010).
quanto para a equipe multidisciplinar em
De acordo com Cavalcante et.al. (2006),
saúde que atua neste ambiente, devido
essas condições insatisfatórias de saúde
aos riscos biológicos, físicos, químicos,
também estão relacionadas a fatores
ergonômicos
biológicos,
O
trabalho
é
em
complexo,
e
Unidade
agressivo
psíquicos
a
que
os
físicos,
químicos,
psicos-
profissionais estão expostos (BONFIM;
sociais, os quais podem causar danos à
SOARES, 2011).
saúde dos profissionais que atuam em
Esta
unidade
pode
ser
assim
UTI.
definida como sendo um local destinado à
De acordo com Castro e Farias
prestação de assistência especializada à
(2008) e Marinelii (2013), os riscos físicos
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193
Risco ergonômico nas práticas da equipe de enfermagem de uma UTI
se
referem
aos
ruídos,
vibrações,
Neste contexto, o presente estudo
radiações ionizantes e não ionizantes,
apresenta
temperaturas
extremas,
pressões
situações de risco ergonômico envolvendo
anormais
umidades,
iluminação
os profissionais de enfermagem que
inadequada e exposição a incêndios e
trabalham na UTI. Essa identificação
choques elétricos. Os riscos químicos por
poderá
sua vez, dizem respeito ao manuseio de
estratégias de prevenção, pois uma vez
gases
que o risco está presente, medidas que
e
e
vapores
anestésicos,
o
objetivo
auxiliar
na
identificar
elaboração
reduzam
riscos biológicos estão relacionados aos
aplicadas. Assim, acredita-se que a forma
microrganismos como bactérias, fungos,
como a equipe de enfermagem de uma
protozoários, vírus e material infecto-
UTI percebe os riscos ocupacionais aos
contagioso presentes no dia-a-dia dos
quais estão expostos, poderá oferecer
profissionais
da
indícios
ergonômicos
compreendem
Os
riscos
o
local
efeitos
para
uma
devem
de
antissépticos, esterilizantes e poeiras. Os
UTI.
seus
de
ser
transformação
organizacional, na medida em que se
inadequado de trabalho, levantamento e
concorre
para
transporte de pesos, postura inadequada,
ambiente
de
erro de concepção de rotinas e serviços,
implicando em melhorias na qualidade de
mobiliários.
vida dos profissionais bem como na
Diante deste quadro, os riscos
a
proposição
trabalho
de
um
saudável,
assistência prestada ao paciente.
ocupacionais em profissionais da saúde
tem sido foco de pesquisas nos últimos
2 METODOLOGIA
anos na Enfermagem (FELLI, 2009). Para
reduzir os problemas decorrentes da
Trata-se
de
uma
pesquisa
de
exposição do trabalhador à estes riscos
caráter descritivo e exploratório com
ocupacionais, faz-se necessário a adoção
abordagem qualitativa.
de medidas no ambiente de trabalho.
O cenário constituiu-se de uma
Além disso, o reconhecimento dos riscos
Unidade de Terapia Intensiva do Hospital
envolvidos
trabalho
Geral Prado Valadares (HGPV), situado
configura uma estratégia válida para
no município de Jequié-BA. Esta UTI tem
minimizar e evitar intercorrências na
capacidade para 10 leitos, sendo que
no
processo
de
saúde do trabalhador.
194
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Maykon dos Santos Marinho, Camila Tambone de Almeida, Everaldo Nery de Andrade
desses, 2 são reservados para cirurgias
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
cardíacas e 1 para isolamento.
da Faculdade de Tecnologia e Ciência -
De um universo amostral composto
FTC (Protocolo 17/2008). O respeito à
por 12 Enfermeiros e 32 Auxiliares de
liberdade de decisão em participar da
Enfermagem, a amostra deste Estudo foi
pesquisa e privacidade dos participantes
composta de 03 enfermeiros, 04 técnicos
foi garantido. Todos os entrevistados
de enfermagem, aos quais preencheram
assinaram o Termo de Consentimento
os
Livre
seguintes
critérios
de
inclusão:
trabalhavam na UTI do referido hospital,
e
Esclarecido,
conforme
as
orientações da Resolução 466/2012.
Em Junho de 2012 foi entregue um
preencheram o termo de consentimento
fechamento
ofício à coordenação da UTI do Hospital
amostral se deu no momento em que foi
lócus do estudo, requerendo a UTI como
percebida a saturação teórica emitida nas
campo
“falas” dos informantes, ou seja, no
imediatamente concedido. O período de
momento em que os dados se repetiam,
coleta correspondeu aos três meses
foi
novos
subsequentes à entrega do ofício à
RICAS;
coordenação da UTI supracitada, sendo
livre
e
esclarecido.
cessada
participantes
a
O
inclusão
de
(FONTANELLA;
de
pesquisa,
o
qual
foi
que os profissionais foram abordados nos
TURATO, 2008).
Os enfermeiros participantes foram
respectivos turnos de trabalho.
“ENF”,
A técnica utilizada para a obtenção
ordinal
dos dados foi a entrevista. O roteiro da
correspondente à ordem de aplicação dos
entrevista foi construído com perguntas
instrumentos,
pré-formuladas
identificados
seguida
com
do
as
iniciais
número
e
os
técnicos
de
iniciais
“T-ENF”
entrevista o pesquisador agendou uma
ordinal
correspondente
à
número
ordem
de
realizar
a
data e um horário com os participantes.
As entrevistas foram gravadas e depois
aplicação dos instrumentos.
Seguiram-se, nesse estudo,
Para
maneira
direta
do
individual.
de
enfermagem foram identificados com as
seguida
e
aplicadas
as
orientações da Resolução 466/2012 do
transcritas, lidas, separadas, respeitandose a singularidade de cada sujeito.
Conselho Nacional de Saúde (CNS) sobre
Para a análise do conteúdo das
a pesquisa em seres humanos. Para
falas dos entrevistados foram seguidos os
tanto, o trabalho foi enviado e aprovado
passos preconizados por Minayo (2007),
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Risco ergonômico nas práticas da equipe de enfermagem de uma UTI
pré-análise, em que foi realizada uma
leitura flutuante do material, formulação
Categoria 1: Percepções da equipe de
enfermagem
sobre
os
riscos
ocupacionais no cotidiano da UTI
de objetivos, preparação de materiais; a
segunda etapa foi a de exploração do
Nas falas pode-se identificar que
material, momento em que as unidades
há por parte da equipe de enfermagem a
de sentido das falas foram extraídas para
percepção da existência de riscos em seu
categorização seguindo a modalidade
ambiente
temática e posteriormente, tratamento e
interessante observar que praticamente
interpretação
todos os tipos de riscos foram citados. Os
ancorados
dos
no
resultados
obtidos,
referencial
teórico
de
elementos
trabalho
destacados
na
UTI.
foram
É
ruídos,
escolhido. Em seguida, construíram-se
temperatura,
iluminação,
categorias de análise que permitiram
escorregadio,
identificar: (1) Percepções da equipe de
características de risco físico. Em relação
enfermagem sobre os riscos ocupacionais
aos ruídos,Silva et al. (2013) afirma que a
no cotidiano da UTI; (2) Dificuldades no
exposição ao ruído por um longo período
Processo de Trabalho; (3) Situações de
de
variabilidade na UTI.
comprometimentos
que
tempo
sociais
no
são
próprios
pode
das
determinar
físicos,
indivíduo
piso
e
mentais
no
e
seu
desempenho laboral. Em conformidade
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
com o exposto, os profissionais abaixo se
Na caracterização da equipe de
enfermagem
que
fizeram
parte
manifestaram sobre os ruídos na UTI:
da
amostra, constatou-se que 86% eram do
sexo feminino, com idade igual a 37±5
anos e experiência de trabalho em UTI de
1,6±0,5 anos.
[...] o ruído atrapalha muito né, as
vezes você fica meia irritada,
rapaz, quando essas bombas,
esses aparelhos resolvem soar,
não tem quem aguente o alarme,
ai você começa desconcentrar,
você começa a fazer uma coisa ai
vai e volta. (T-ENF, 1)
Ao serem questionados sobre os
riscos
ergonômicos
na
UTI,
os
profissionais emitiram respostas que se
[...] Os ruídos incomodam bastante
às vezes a gente em casa
continua ouvindo o alarme do
aparelho. (ENF, 2)
afinam com as categorias que se seguem.
Além dos ruídos, o desconforto
térmico foi citado pelos trabalhadores
196
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Maykon dos Santos Marinho, Camila Tambone de Almeida, Everaldo Nery de Andrade
como fatores de risco de acidentes.
atuais que definem os quesitos e critérios
Segundo Arsego (2008), a temperatura
para
dos ambientes merece o maior cuidado,
temperatura e umidade em ambiente de
ao
trabalho,
buscar
condições
ambientais
de
o
uso
de
devam
prevenção
temperaturas extremas (frias ou quentes)
decorrer
são desagradáveis e até prejudiciais à
2013; CASTRO, 2014).
influenciando
fatores
para
que
a
podem
(MARINELLI,
no
O piso da UTI foi considerado
desempenho do trabalho humano, tanto
como fonte potencial de risco de queda,
sobre a produtividade quanto sobre os
pois o material utilizado é muito liso, em
riscos
vista
de
acidentes.
diretamente
doenças
desses
condicionado,
contribuir
trabalho adequadas e confortáveis, pois
saúde,
de
ar
Bezerra
(2006)
disto,
com
propensão
ao
ressalta que a exposição a temperaturas
deslizamento.
extremas e mudanças de temperatura
(2003) assegura em seu estudo sobre
podem
o
riscos laborais em uma UTI neonatal que
desenvolvimento de agravos à saúde,
os pisos escorregadiços são uns dos
como por exemplo, gripe, resfriado, otite,
fatores de riscos mais comuns que
artrite, pneumonia e até sinusite.
provocam a ocorrência dos acidentes no
ser
propícias
para
Nesse
sentido,
Bozza
trabalho, corroborando assim, com os
[...] A UTI é um ambiente frio, a
pessoa fica fria, a temperatura lá
dentro fica é de 17 a 22 graus,
mas normalmente tá em 19°c,
então é muito frio, quando a gente
sai, sente aquele calozão fora, um
choque térmico né? fora, eu
mesma fico resfriada direto.(TENF, 3)
Além dos agravos à saúde já
mencionados, Naked (2005) considera
que
outros
provocados
problemas
pelos
podem
choques
ser
térmicos
discursos
dos
profissionais
de
enfermagem:
[...] pode acontecer assim uma
queda
devido
ao
piso
escorregadio, as vezes naquela
agilidade que você esteja com o
paciente ai pode levar uma queda.
(T-ENF,2)
[...] o piso da UTI é muito liso,
mesmo usando o propé, a gente
fica escorregando, e isso é um
perigo né? a gente pode numa
emergência levar uma queda feia
né?. (T-ENF, 1)
relacionados com ar condicionado, como
irritação nos olhos, garganta e nariz,
ansiedade e dores de cabeça. Considera,
ainda que o emprego das legislações
Os riscos biológicos foram citados
em todas as falas, referindo perceber o
risco biológico como inerente à sua
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Risco ergonômico nas práticas da equipe de enfermagem de uma UTI
prática
profissional
nas
essa vulnerabilidade está associado à
atividades cotidianas. A contaminação por
natureza manual das ações de cuidado, o
contágio
perfuro
que propicia o contato físico com os
cortantes, o próprio ambiente foi citado
pacientes. Por conseguinte, as próprias
como
mais
características da profissão têm colocado
recorrentes, sendo um dos riscos que
os trabalhadores entre os que mais
mais atingem a equipe.Os profissionais
sofrem acidente de trabalho com material
reconhecem o risco e entendem que a
biológico
consciência de cada trabalhador é um
(CANALLI; MORIYA; HAYASHIDA, 2010).
fator determinante para a prevenção.
Neste contexto, salienta-se a importância
com
um
e
presente
secreções
dos
e
problemas
de
[...] situação de risco em relação a
contagio com secreções, sangue,
perfuro cortantes, [...] a questão do
ambiente
em
si
que
é
contaminado. (T-ENF, 4)
potencialmente
compreender
contaminado
diversos
fatores,
incluindo a percepção frente ao risco e o
desenvolvimento de consciência crítica
em relação ao risco biológico e sua
prevenção.
[...] Ter cuidado para não se
contaminar com, por exemplo, o
sangue do paciente, as secreções
do
paciente,
fezes,
urina,
secreções
gástricas,
[...]
a
ventilação é forte, que saem do
paciente traqueostomizado, do
paciente entubado, pode atingir a
face e as vias aéreas absorver
aquelas
secreções,
aquelas
gotículas que podem estar com
certeza, uma grande probabilidade
de estarem contaminadas, pois
são pacientes graves. [...] Cuidado
com os perfuro cortantes.(ENF, 3)
É o risco de pegar uma doença
pelo sangue de pacientes, que
pode estar contaminado. Tem
risco, mas fica na escolha de cada
um se prevenir, ou não[...]. (TENF,2)
Riscos oriundos da movimentação
de
pacientes
também
foram
bem
destacados, tanto no que diz respeito ao
transporte como nos horários de banho e
de mudanças de decúbito. De acordo com
Ribeiro e Shimizu (2007) e Leite et al.
(2007), a manipulação do paciente, o
transporte do mesmo auxiliado por macas
e cadeiras de rodas, o seu deslocamento
para realização de exames, as rotinas de
higienização do paciente, de desinfecção
e esterilização de materiais contaminados,
manejo, reposição de materiais, acelerado
risco
ritmo de trabalho e uma gama de outros
biológico é evidenciada ao se considerar
procedimentos causa cansaço, dores no
serem os profissionais da enfermagem
corpo,
que mais se expõe ao risco ocupacional,
incapacidade
Assim,
198
a
exposição
ao
desânimo,
nos
sentimentos
de
profissionais,
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Maykon dos Santos Marinho, Camila Tambone de Almeida, Everaldo Nery de Andrade
favorecendo assim, o aparecimento de
essas limitações frequentemente fazem
doenças ocupacionais e acidentes no
com que o profissional lance mão de
trabalho.
formas
alternativas
cuidado.
[...] O risco é que a gente pega
muito peso, [...] porque muitas
vezes tem poucos funcionários,
[...] e ai a gente ta virando duas
pessoas, três pessoas, pra ta
mudando de decúbito, [...] porque
no banho você leva muito tempo
no banho. (T-ENF,4)
Os riscos ocupacionais são
agravantes como coluna e outros
procedimentos repetitivos que no
caso afetam porque todos os
pacientes tomam banho no leito,
todos os pacientes precisam de
realizar mudança de decúbito,
temos que transportar o paciente
para a sala de raio-x dou outro
lado do hospital. (T-ENF,1)
Muitas
para
vezes
realizar
o
assumem
a
deficiência de infra-estrutura como uma
questão própria. Dessa forma, seu tempo
é consumido nas tentativas de resoluções
dessa carência.
[...] Um problema que tem
acontecido é a falta de alguns
materiais, aí tem que ficar vendo
qual que utiliza no lugar, assim um
pouco da padronização que já
estamos acostumados podendo
atrasar nossa atividade e até
interferir
na
assistência
ao
paciente. (T-ENF, 3)
A falta de recursos materiais e de
equipamentos impede que as atividades
sejam realizadas com eficiência, tornando
Desse
modo,
nas
falas
dos
profissionais, foi possível observar que há
uma relação entre a existência de fatores
de risco no ambiente de trabalho e a
qualidade de vida da equipe, ficando claro
que
os
riscos
ocupacionais
podem
acontecer durante os desempenhos do
cuidado, através da contaminação por
contágio
cortantes,
com
secreções
fatores
como
e
perfuro
ruídos,
temperatura, iluminação, entre outros.
Categoria 2: Dificuldades no Processo
de Trabalho
as condições de trabalho precárias. Os
profissionais necessitam improvisar, e o
processo de cuidar torna-se desanimador
devido as dificuldades encontradas nas
condições de trabalho. Diante desse
problema, os profissionais tentam fazer o
melhor que podem, porém isso implica a
perda
de
tempo,
que
poderia
ser
destinado à assistência, resultando em
prejuízo para a qualidade do cuidar.
Surge, então, irritação e cansaço do
profissional.
Os profissionais apontam essa falta
As limitações materiais foram uma
constante nas falas. Para Costa (2005),
de material como impactante para a
realização
de
um
atendimento
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com
199
Risco ergonômico nas práticas da equipe de enfermagem de uma UTI
qualidade, atribuindo também para falta
como intercorrências com os pacientes,
de organização da administração para a
fazendo com que toda equipe se mobilize
resolução desses problemas. O exemplo
rapidamente em prol da assistência a um
disso está exposto na fala de alguns
paciente, panes, falta de material, déficit
profissionais, pois além da falta de
na escala de pessoal, instabilidades nos
materiais, existe a falta de profissionais
quadros de pacientes que perpassam o
para que possam atender a demanda da
planejamento
unidade.
pensadas (CAMPOS; DAVID, 2011).
das
ações
inicialmente
Com isso, a variabilidade altera
[...] devido a gente tá com pouco
enfermeiro, o caso do período da
manhã e muito paciente a gente
não tá dando a assistência que eu
acho que a gente poderia dar...
...eu acho assim que se tivesse
mais gente ou mais enfermeiros
eu acho que ajudaria; por que a
gente tem que fazer evolução de
todos eles. (ENF, 4)
negativamente o processo saúde-doença
dos
profissionais
resultando
em
de
enfermagem,
irritabilidade,
cansaço,
tensão muscular, dores, elevação da
pressão arterial, envelhecimento precoce
e estresse (CRUZ, 2008). Entretanto,
apesar das repercussões negativas na
Com isso, compreende-se que o
saúde, a presença da variabilidade é
das
percebida pela equipe intensivista como
dificuldades enfrentadas pela equipe da
uma consequência natural do processo de
unidade
trabalho
fazer
profissional
e,
a
está
acima
preocupação
com
a
instituído
neste
setor,
excelência no atendimento torna-se parte
considerando-se as características da
das atividades desenvolvidas.
clientela e da assistência prestada a ela,
vejamos algumas falas:
Categoria 3: Situações de variabilidade
na UTI
O trabalho de enfermagem em
ambiente hospitalar, em especial em UTI,
tem como característica a variabilidade, o
que significa que o cuidado prestado não
é uma relação simplória que se justapõe à
técnica. Lida-se com eventos diversos
200
O ritmo da UTI é muito intenso. Os
pacientes aqui são muito graves,
são pacientes que precisam de
muita atenção. Paciente de UTI, já
é um paciente que precisa de um
cuidado
maior,
porque
são
pacientes que já chegam bem
debilitados. É difícil a gente ter um
plano na mão, em que você não
sabe o que vai acontecer daqui a
pouco. Então toda hora acontece
alguma coisa que vai fugir da
nossa rotina. (T-ENF,2)
C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.8, n.1, p.192-205, jan./jun. 2015
Maykon dos Santos Marinho, Camila Tambone de Almeida, Everaldo Nery de Andrade
[...] na Terapia Intensiva o
paciente é muito instável. (...) Aqui
a gente tem o paciente na mão
através dos diagnósticos. [...] Na
verdade dá pra você se antecipar.
Mas ainda assim acontecem
intercorrências com os doentes.
(T-ENF,3)
trabalho. Contudo, a mobilização contínua
Na terapia intensiva, agora é uma
coisa, daqui a pouco é outra.
Muda tudo derrepente. Na terapia
intensiva a gente lida o tempo todo
com a imprevisibilidade, que no
meu ver está ligado a essa
variabilidade. A variabilidade está
presente todos os dias (T-ENF,1)
reações que traduzem em riscos à saúde,
dessas
desgaste
potencialidades,
no
repercutindo
trabalhador,
alguma
forma
na
como descrito a seguir:
Tem dias que eu fico muito
cansada, que eu não tô afim, Tem
dias que a gente vem amando
trabalhar e tem dias que não, tem
dias que fico muito estressada (TENF, 4)
enfermagem depara-se constantemente
[...] As vezes eu perco um pouco a
paciência. Não me prejudica na
interação com a equipe, mas a
energia fica pesada, faço as
coisas meio que arrastada, fico
com
enxaqueca,
dores
muscaulares. (T-ENF,2)
com diversas situações diferentes das
quais estavam previstas para acontecer
O replanejamento é
evidente e conduz os profissionais a
[...] Saio daqui exausta, sem
vontade de falar com ninguém,
com vontade só de ir logo pra
casa. A cobrança sobre o
enfermeiro é muito grande. Tem
que gostar muito do que faz. (...) A
gente
costuma
dizer
que
enfermeiro não tem vida. (ENF, 3)
modificarem o modo de desempenho das
suas funções, a fim de dar conta das
tarefas, as falas a seguir revelam esta
situação:
O tempo inteiro eu me replanejo.
Toda hora muda o que eu ia fazer
e eu vou fazer outra coisa. (TENF,4)
[...] Por estar na terapia intensiva,
num plantão simples você pode ter
que se replanejar. (ENF, 2)
de
do
um
produtividade e resultando no acúmulo de
Como descrito acima, a equipe de
durante o plantão.
corpo
gera
Pelos relatos destacados verificase que a vivência da UTI implica em
diversas
alterações
profissionais
na
de
saúde
dos
enfermagem,
de
manifestando-se através de vários sinais
variabilidades a equipe de enfermagem,
e sintomas que podem limita-los no
precisa estar acionando constantemente
desempenho e melhor desenvolvimento
as suas potencialidades psico-cogntivas e
de
motoras para alcance de suas metas de
padecimento psico-físico causando uma
Diante
das
situações
suas
tarefas,
além
de
gerar
grande perda e danos à saúde.
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Risco ergonômico nas práticas da equipe de enfermagem de uma UTI
que
também
seja
permanentemente,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
desenvolvida
programas
de
capacitação em reconhecimento de riscos
Este estudo, sob a perspectiva da
no trabalho e promoção de medidas que
ergonomia, possibilitou identificar e avaliar
visem o bem estar dos enfermeiros que
os riscos ocupacionais a que estão
trabalhem em UTI.
expostos
os
trabalhadores
É
de
imprescindível
os
formas
para
enfermagem de uma UTI durante sua
profissionais
jornada de trabalho.
modificar suas condutas e atitudes e que
Os dados coletados denotam que
estejam
busquem
que
preparados
para
enfrentar
os profissionais de enfermagem estão
mudanças com o intuito de amenizar
frequentemente expostos a riscos de
problemas aos quais estão expostos
natureza física, biológica e ergonômica,
diariamente, através da aquisição do
que
por
conhecimento de seus direitos e deveres
e/ou
doenças
para que consigam trabalhar com mais
eles:
ruídos,
segurança e menos danos para sua
desconforto térmico, riscos de queda
saúde. Além disso, os gestores precisam
devido
investir em recursos humanos e materiais,
podem
acidentes
ser
de
responsáveis
trabalho
ocupacionais,
são
ao
piso
escorregadio,
com
traçar medidas de redução do estresse
cortantes,
ocupacional através de ginástica laboral e
movimentação e transporte de pacientes,
promover educação continuada. Ademais,
limitação de materiais e a variabilidade na
a prática de avaliação médica deve ser
UTI.
uma atividade frequente, a fim de prevenir
contaminação
secreções
por
e
contágio
perfuro
Dessa forma, espera-se que este
estudo subsidie o planejamento e a
os
agravos
à
sua
saúde
dos
trabalhadores.
implementação de melhorias no ambiente
Esta pesquisa não se esgota nos
de trabalho com a participação efetiva dos
objetivos aqui propostos, ela vem abrir
trabalhadores
espaço para se pensar sobre trabalhos
nas
estratégias
de
mudança e propõe que seja criado um
que
Comitê
educação voltada para a prevenção e
de
Ergonomia
para
contemplem
operacionalizar o processo de avaliação e
informação
implementação das melhorias na UTI; e
ambientais
202
a
e
uma
proposta
respeito
ocupacionais,
de
de
riscos
além
da
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Maykon dos Santos Marinho, Camila Tambone de Almeida, Everaldo Nery de Andrade
possibilidade
de
um
estudo
de
intervenções necessárias para corrigir ou
ocupacionais identificados no processo da
pesquisa.
amenizar os problemas estruturais e
ERGONOMIC RISK IN PRACTICE NURSING TEAM OF AN ICU
ABSTRACT
Ergonomic risks include inadequate workplace, leading the nursing
professionals at a heightened exposure to hazards present in the
workplace, causing adverse health effects that worker, triggering the onset
of diseases and accidents. This study aimed to identify ergonomic risk
situations involving nursing professionals working in the intensive care
unit. This research, qualitative, descriptive and exploratory nature was
performed in a public hospital in the city of Jequié-BA, with the participant
a nursing staff that worked in the Intensive Care Unit (ICU). The data
collection instrument used was a semi-structured questionnaire and
content analysis was used thematic categorization proposed by Minayo.
This analysis identified that the nursing team realizes that there are risks in
their work environment in the ICU, since virtually all types of risks were
cited. The lack of material resources and equipment was a constant in the
speech, which makes the precarious working conditions. Therefore, it is
essential that professionals look for ways to modify their behavior and
attitudes and who are prepared to face changes in order to alleviate
problems to which they are exposed daily through the acquisition of
knowledge of their rights and duties so that they can work with more safety
and less damage to your health.
Keywords:
Occupational Risks. Intensive Care Units. Nursing.
Artigo recebido em 04/04/2015 e aceito para publicação em 05/05/2015
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