Desenvolvimento vegetativo de pimentão

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Desenvolvimento vegetativo de pimentão cultivado com lâminas
e frequências de irrigação
Richard Alberto Rodríguez Padrón1, Luis Rázuri Ramírez2, Roxanna Rosales Cerquera3,
Helena Maria Camilo de Moraes Nogueira4 e Jorge Luis Ugarte Mujica5
1
Engenheiro Agrônomo, Universidade Central da Venezuela, M.Sc. em Engenharia de Irrigação e Drenagem, Universidade dos
Andes (ULA-CIDIAT), Doutorando em Engenheira Agrícola, Universidade Federal de Santa Maria, RS-Brasil.
([email protected]) 2Professor da Universidade dos Andes. Engenheiro Agrícola, Universidade Nacional Agrária. M.Sc. em
Engenharia Hidráulica, Opção Irrigação e Drenagem, Universidade dos Andes (ULA-CIDIAT) ([email protected]) 3Estudante de
Agropecuária do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria, RS-Brasil ([email protected]) 4Professora
do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria, Lic. Matemática e Química, Mestre em Engenheira de Produção,
Doutoranda em Engenheira Agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria, RS-Brasil ([email protected])
5
Engenheiro Agrônomo, M.Sc. em Botânica Agrícola, Universidade Central da Venezuela ([email protected])
Resumo - O manejo adequado da irrigação pode conduzir a excelentes resultados na produção, qualidade do fruto e ao
uso racional da agua. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de lâminas e frequências de irrigação nos parâmetros
agronômicos e morfométricos da cultura do pimentão. Os tratamentos foram baseados na aplicação de lâminas de 60, 80
e 100% da ETc com frequências de irrigação diárias e a cada dois dias. As parcelas foram constituídas por três linhas
(3×33 m), com densidade de plantio de 2,5 plantas/m2 (0,4×1,0 m). O delineamento experimental foi em blocos
casualizado em esquema fatorial 3×2, com quatro repetições. O sistema de irrigação foi localizado (gotejamento). A
evapotranspiração de referência foi calculada com base no método de evaporação do tanque classe A. Foram avaliados
os parâmetros agronômicos de produção e morfométricos, altura da planta, diâmetro do caule, desenvolvimento da raiz
no final do ciclo da cultura, comprimento, largura e matéria seca dos frutos. As lâminas de irrigação não influenciaram
(p>0,05) sobre o comprimento, a largura dos frutos e o diâmetro do caule, mas influenciaram sobre a altura da planta, a
matéria seca dos frutos e o desenvolvimento da raiz (p<0,05). As frequências de irrigação diária com lâminas de 60% e
a cada dois dias com lâminas de 80% ETc podem ser consideradas como estratégias para a gestão de água em pimentão
sem afetar os parâmetros de crescimento e produtividade.
Palavras-chave: Capsicum annuum, déficit de irrigação, intervalo de irrigação, desenvolvimento radicular, manejo da
irrigação.
Vegetative development of culture bell pepper with levels
and frequencies of irrigation
Abstract – Proper irrigation management can lead to excellent results in the production, fruit quality and the rational use
of water. The aim of the work was to evaluate the effect of frequencies and levels of irrigation in the agronomic
parameters and morphometric of the culture of the bell pepper. The treatments were based in the application of levels of
60, 80 and 100% ETc with frequencies of daily irrigation and every two days. The plots consisted of three lines (3×33
m), with a planting density of 2.5 plants/m2 (0.4×1.0 m). The experimental design was a randomized block in factorial
diagram 3×2, with four replications. The irrigation system was located (drip). The reference evapotranspiration was
calculated based on the evaporation method of tank class A. Were evaluated the agronomic parameters of production
and morphometric, plant height, diameter stem, root development at the end of the cycle, length, width and fruit dry
matter. Irrigation levels had not effect (p>0.05) on the length, width of fruits and stem diameter (p>0.05), but it had
effect on plant height, fruit dry matter and root development (p<0.05). The frequency of daily irrigation with level 60%
and every two days with 80% ETc level may be considered strategies for water management of culture bell pepper
without affecting the growth and productivity parameters.
Keywords: Capsicum annuum, deficit irrigation, irrigation interval, root development, irrigation management.
Introdução
O pimentão (Capsicum annuum L.) é uma solanácea de
origem americana, ocorrendo formas silvestres no México,
América Central e América do Sul (Filgueira, 2008; Souza
et al., 2011). O cultivo tem sua importância devido aos
altos lucros econômicos, que é possível obter por unidade
de superfície, além de seu alto valor nutricional é colocado
mundialmente pelos nutricionistas entre os sete alimentos
de consumo diário (Castillo,1985).
O déficit hídrico afeta o crescimento e o
desenvolvimento dos cultivos em todo o mundo. A
frequência e a intensidade do déficit hídrico constituem
um dos fatores mais importantes nas limitações da
produção agrícola mundial. Segundo Ortolani & Camargo
(1987), sem considerar os efeitos extremos, esta limitação
Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.2, p.49-55, abr. 2015
49
é responsável por 60 ou 70% da variabilidade final da
produção, por esta razão, o planejamento da agricultura
irrigada é de vital importância ao conhecimento das
condições meteorológicas durante o período de
desenvolvimento da planta, principalmente, nas épocas de
baixa precipitação e elevada demanda na evaporação.
Atualmente a água disponível para a agricultura é
geralmente limitada e o conhecimento da relação entre
produtividade, qualidade do produto e o regime de
irrigação é um importante fator para maximizar o efeito do
suprimento da água (Papadopoulos, 2000).
O uso da água pelas plantas e todos os processos
fisiológicos estão diretamente relacionados ao seu status
no sistema solo-água-planta-clima, sendo assim, o
conhecimento das inter-relações entre esses fatores são
fundamentais para o planejamento e a operação de
sistemas de irrigação para se obter máxima produção e boa
qualidade do produto (Trani & Carrijo, 2004). A fisiologia
das plantas em condições de stress hídrico, segundo
Tambussi (2004), o mais importante são os conhecimento
dos fatores que podem ocorrer resultados cruciais nos
vegetais, prejudicando para a elaboração de modelos
mecanísticos de natureza preditiva, como por exemplo, o
estudo dos possíveis efeitos das mudanças climáticas, a
partir de uma perspectiva ecofisiológica. A análise da
interação das plantas com os fatores ambientais é
fundamental para compreender a distribuição das espécies
nos diferentes ecossistemas e o rendimento do cultivo está
fortemente limitado pelo impacto de stress ambiental
(Nilsen & Orcutt, 1996).
Por ser a produção de pimentão realizada em campo,
especialmente durante a estação seca, ou em casas-devegetação com cobertura plástica, a irrigação é uma
prática fundamental para suprir a demanda hídrica das
plantas. Assim, o manejo correto da irrigação é
fundamental para o sucesso da cultura. Irrigar por
gotejamento sem a adoção da prática de fertirrigação é
pouco eficiente e, em regra, não traz ganhos econômicos
compensadores (EMBRAPA, 2012).
O recurso de água para a agricultura está em declínio e
a população continua crescendo. Considera-se que o
manejo eficaz deste recurso é importante e o uso eficiente
da água de irrigação é a chave para a sustentabilidade e
rentabilidade da cultura. O impacto vivido pelo alto
consumo de água em regiões onde a água é limitada
incentiva o desenvolvimento de novas técnicas para
analisar e gerir eficientemente a água. Até recentemente, a
tecnologia não era parte dos fatores de produção, mas
atualmente apresenta importância econômica e social que
exige o uso de algumas técnicas e práticas culturais que
afetam a produção rentável. Entre eles tem-se o melhor
uso da água, como por exemplo, a programação e o
manejo da água com o transporte de minerais através da
irrigação. O manejo adequado e a qualidade da água de
irrigação são de fundamental importância para a obtenção
50
Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.2, p.49-55, abr. 2015
de alta produtividade, qualidade, redução de custos e ao
uso racional da água.
O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de lâminas e
frequências de irrigação nos parâmetros agronômicos e
morfométricos do cultivo do pimentão.
Material e Métodos
O presente estudo foi realizado de agosto 2008 até
janeiro 2009, na área experimental do Instituto de
Investigações Agropecuárias (IIAP-ULA), localizada em
San Juan de Lagunillas, Estado Mérida, Venezuela
(8°30′25″N, longitude 71° 21′ 11″ W e altitude de 1100
m). O clima da região é seco e cálido com temperatura
média anual de 22 °C, máxima de 27 °C e mínima de 17
°C e precipitação média anual de 500 mm. O solo é de
textura franco fino, com profundidade efetiva de 21 cm
(Ochoa & Malagón, 1979). As condições climáticas
durante o ensaio foram: a temperatura média de 22,8 °C; a
umidade relativa média 70% e a precipitação de 260,90
mm.
A variedade de pimentão cultivada foi o híbrido
Tirano, amplamente utilizado na região devido a sua alta
produção. A distância da semeadura foi de 0,4 m entre
planta e 1,0 m entre fileira e densidade de semeadura de
2,5 plantas/m2. O ciclo vegetativo do cultivo consistiu-se
em 135 dias. Os tratamentos fundamentaram-se em aplicar
duas lâminas de irrigação deficitária de 60 e 80% da ETc,
com um tratamento controle de 100% da ETc, com duas
frequências de irrigação, diária e a cada dois dias. A partir
do transplante até 22 dias (fase fenológica inicial do
cultivo) e aplicou-se a todos os tratamentos uma lâmina de
irrigação de 100% ETc para assegurar o estabelecimento
das plantas. As lâminas de 60, 80 e 100% da ETc foram
aplicadas a partir do dia 23 até 152 dias após o transplante.
Cada parcela possuía 3 m de largura e 33 m de
comprimento, área total de 2.376 m2, população total de
5.940 plantas. O delineamento experimental foi de blocos
ao acaso, em esquema fatorial (2 frequências × 3 lâminas)
com quatro repetições. Utilizou-se o sistema de irrigação
localizada, com um lateral por fileira, com a separação
entre os emissores de 20 cm e vazão do emissor de 0,75
L/h. O cálculo da evapotranspiração de referência (ETo)
se baseou no método do tanque classe A instalado a 10 m
do ensaio. Calculou-se a evapotranspiração do cultivo
(ETc) assumindo os valores de coeficiente do cultivo
(Allen et al., 2006). As colheitas comerciais efetuaram-se
aos 81, 89, 96, 102, 108, 119, 126 e 133 dias após o
transplante. As variáveis avaliadas consistiram em
parâmetros agronômicos, parâmetros morfométricos da
planta e do fruto, avaliando-se a produção a cada colheita
efetuada e medindo-se a massa total dos frutos por planta.
De 15 em 15 dias durante o ciclo do cultivo, em 8 plantas
selecionadas por tratamento na fileira central foram
avaliados os parâmetros morfométricos da planta: a altura
da planta; o diâmetro do caule, em cada colheita mediu-se
a largura; o comprimento e a massa seca dos frutos. A
avaliação do desenvolvimento da raiz foi realizada no
final do ciclo do cultivo em quatro plantas selecionadas
por tratamento. Os manejos agronômicos foram: poda das
folhas; tutoramento; controle de plantas daninhas;
aplicação de inseticidas e fungicidas. Também se
empregou a fertirrigação a cada dois dias, todas as plantas
receberam a mesma quantidade de fertilizante (368 kg/ha
de 13N-14P2O5-13K2O, 290 kg/ha de nitrato de amônio a
36% e 396 kg/ha nitrato de potássio a 35%) para obter 50
t/ha de produto fresco.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de
regressão. Fez-se a comparação de médias pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade. No processamento dos
dados foi utilizado o software ASSISTAT® versão 7.7
(Silva & Azevedo, 2009).
Resultados e Discussão
Na Figura 1, apresenta-se a evolução da produção
durante todo o ciclo de produção nas frequências de
irrigação estabelecidas, nas 2a, 4a, 6a e 7a colheitas, a
frequência de irrigação demostrou diferenças estatísticas
(p<0,05). Sendo a frequência de irrigação diária a que
obteve melhor desempenho. A frequência de irrigação a
cada dois dias mostrou a sua melhor produção na 4ª
colheita expressando sua máxima produção na lâmina de
80% ETc. As frequências apresentaram interação na 6ª
colheita, sendo a lâmina de 80% ETc de frequência de
irrigação a cada dois dias a de maior produção, seguido da
lâmina de 60% ETc de frequência de irrigação diária.
Os tratamentos de frequência diária com lâminas de 60
e 80% ETc apresentaram maior produção nas 1ª e 2ª
CV % 26,74
Sig.
ns
1.2
35,76
ns
33,98
ns
L100 (a)
L80 (a)
L60 (a)
1.0
42,52
ns
52,75
ns
31,32
Interação
(aA)
(bA)
(aA)
(b)
(b)
(b)
24,91
ns
colheitas obtendo sua máxima produção na 2ª colheita. O
tratamento de 100% ETc atingiu sua máxima produção na
3ª colheita, nesta frequência de irrigação recomenda-se
aplicar a lâmina de 60% ETc. O déficit hídrico poderá
acelerar a maduração do fruto, no entanto González et al.
(2007) menciona que é fundamental para concentrar a
maduração do fruto um curto período de tempo para
diminuir o custo, provando a possibilidade de induzir um
comportamento mais determinada da colheita mediante a
mudança da gestão da irrigação, demonstrando que o
déficit da água sustentado no ciclo do cultivo como em
75% ETc não acelerou a maturação. Também Orgaz et al.
(1992) afirmaram que o déficit hídrico acelera a
maturação dos cultivos indeterminados, como por
exemplo, o algodão. Enríquez et al. (2011) afirmaram que
aplicar uma lâmina de irrigação correspondente ao 75% da
evaporação se obtém uma produção ótima.
Na frequência de irrigação a cada dois dias e lâmina de
100% ETc superou em produção nas 1ª, 2ª e 3ª colheitas,
obtendo sua máxima na 4ª colheita, também foram na 4ª
colheita que as lâminas de 60 e 80% ETc obtiveram suas
máximas produções, o que quer dizer que a frequência de
irrigação a cada dois dias influenciou na maturação e
produção do pimentão. A produção caracterizou-se por
apresentar curva sigmoide (Figura 1), apresentando maior
dispersão na frequência de irrigação diária e
comportamento mais homogêneo na frequência a cada
dois dias, sendo a lâmina de 80% ETc a que apresentou
melhor produção. Boicet et al. (2001) consideram que a
irrigação é possivelmente o fator de maior importância na
produção e qualidade na pimenta para o consumo fresco,
com mais relevâncias que outros, prestado igualmente
grande atenção como os fertilizantes, os tratamentos
fitossanitários, a data de semeadura.
CV % 32.,97
Sig.
ns
26,41
ns
(a)
(a)
(a)
L(60)
Média
0.6
17,32
ns
31,32
45,91
Interação
ns
(aA)
(aA)
(aA)
(a)
(a)
(a)
29,32
ns
0.8
(F2)
L 8 0 (a)
L(100)
L(80)
L(60)
L 6 0 (a)
0.6
0.4
0.4
0.2
0.2
28,87
ns
(b)
(b)
(b)
L 1 0 0 (a)
2
Produção (kg/m )
2
Produção (kg/m )
L(100)
L(80)
16,06
ns
L100 (b)
L80 (b)
L60 (b)
1.0
(F1)
0.8
35,44
ns
1.2
Média
0.0
0.0
81
89
96
102
108
Dias após do plantio
119
126
133
81
89
96
102
108
119
126
133
Dias após do plantio
Figura 1. Comportamento da produção do cultivo do pimentão, com frequências de irrigação diária, a cada dois dias e
lâminas de irrigação 60, 80 e 100% ETc.
Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.2, p.49-55, abr. 2015
51
Os parâmetros do fruto, comprimento e largura não
tiveram efeito significativo (Tabela 1), que está de acordo
com Enríquez et al. (2011), onde determinaram que as
variáveis comprimento e largura do fruto não
apresentaram diferenças estatísticas significativas.
Também, Furlan et al. (2002), em experimento com
pimentão em cultivo protegido utilizaram as lâminas de
60, 80, 100 e 120% da evaporação do tanque classe A
reduzido e observaram que o fator lâmina não influenciou
o diâmetro dos frutos, apresentando valores médios
variando entre 6,52 e 6,79 cm. O maior conteúdo de
matéria seca em frutos foram nas lâminas de 60% ETc em
ambas as frequências, oscilando entre 7,23 e 8,19 g.
Pulupol et al. (1996) afirmaram que o peso do fruto seco
do tomate foi afetado quando se aplicou irrigação
deficitária durante todo o ciclo da cultura, a água
economizada da irrigação deficitária não compensou a
redução dos rendimentos quando se aplicou irrigação
deficitária durante a floração e a maturação. O diâmetro
do caule não foi significativamente influenciado pelas
frequências e lâminas de irrigação. Santana et al. (2004)
avaliaram o efeito de diferentes tensões de água no solo
(10, 30, 50 e 60 kPa) para o pimentão verificaram que o
diâmetro do caule das plantas foram maiores quando a
irrigação foi realizada com menor tensão de água no solo e
que foi significativamente influenciado pelas tensões de
água no solo.
As alturas das plantas apresentaram interações entre as
frequências de irrigação (p<0,05, Tabela 1). A maior
altura da planta foi na frequência diária com lâmina de
60% ETc, seguida da frequência a cada dois dias e lâmina
de 80% ETc, considerando que o déficit da água estimula
o crescimento da planta. Adeoye (2014) concluiu que o
intervalo de irrigação de 3 e 3 dias apresentou maior
crescimento nas plantas do que a irrigação diária, obtendo
diferença entre os parâmetros de crescimento (diâmetro do
caule, altura da planta e a área foliar). Estas observações
estão de acordo com (Gadissa & Chemeda, 2009; Akinbile
& Yussouf, 2011; Halim, 2013). Também, Enríquez et al.
(2011) obtiveram melhor resposta na altura da planta
aplicando lâminas de irrigação de 75% da evaporação EV
atingindo altura máxima de 105 cm, também menciona
que o tratamento que aplicou 100% EV atingiu 93 cm e o
tratamento de 50% EV obteve 96 cm. Lima et al. (2006),
trabalhando com pimentão submetidos a duas lâminas de
irrigação (0,80 e 1,20 ETc), duas frequências (1 dia e 2
dias) e duas doses de cobertura morta de palhada de milho
(0 e 1.000 kg/ha) concluiu que o tratamento com lâmina
de 80% da ETc com cobertura e com frequência de 2 dias
produziu plantas de maior altura, tais resultados são
relevantes para áreas sujeitas a déficit hídrico.
A análise de regressão mostrou que o modelo
quadrático expressa bem à variação da altura da planta e o
diâmetro do caule em função aos dias após do plantio e as
diferentes lâminas de reposição de água no solo (Figura
2). A menor altura foi de 72,44 cm correspondente à
irrigação de 100% ETc e a maior altura registrada 91,56
cm na lâmina de 60% ETc.
Nas Figuras 3, encontram-se o desenvolvimento
radicular nas diferentes lâminas e frequências, observa-se
que à medida que diminui a lâmina de água aplicada (60%
ETc), a raiz apresenta maior profundidade, as raízes
adventícias são maiores e grossas e uma diminuição de
cabelos absorventes em comparação com 100% ETc
(p<0,01, Tabela 2), também essa lâmina foi a que
apresentou o maior crescimento vegetativo. Nilsen &
Orcutt (1996) afirmaram que como estratégia a planta
aumenta a capacidade de absorção de água graças ao
incremento da superfície radicular e com a diminuição da
resistência hidráulica, sendo frequente em plantas
conhecidas como desperdiçadoras de água.
Tabela 1. Média dos parâmetros morfométricos da planta e fruto do cultivo do pimentão, com frequência de irrigação diária, a cada
dois dias e lâminas de irrigação 60, 80 e 100% ETc.
Lâmina
(%)
CF
(mm)
LF
(mm)
100
80
60
CV(%)
Sig.
81
80
82
4,46
ns
78
77
78
2,07
ns
100
80
60
CV (%)
Sig.
80
81
78
1,90
ns
77
75
77
3,05
ns
MSF
AP
(g)
(cm)
Frequência de irrigação diária
7,23
72,44 aB
7,49
74,75 aB
8,14
91,56 aA
7,65
ns
p<0,05
Frequência de irrigação cada dos dias
7,99 a
74,66 aB
7,49 b
90,78 aA
8,19 a
78,38 bAB
1,52
12,46
p<0,05
p<0,05
CF = Comprimento do fruto; LF = Largura do fruto; MSF = Massa seca do fruto; AP = Altura da planta; DF = Diâmetro do caule.
Médias seguidas com a mesma letra não apresentam diferença estatisticamente significativa entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
ns: não significativo; CV: coeficiente de variação (%)
52
Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.2, p.49-55, abr. 2015
DC
(mm)
17,24
18,35
17,56
6,35
ns
17,11
18,41
17,15
6,52
ns
menciona que o excesso de água no solo diminui a
quantidade de raízes no perfil do solo.
As variáveis de crescimento, produção e
desenvolvimento radical do pimentão foram influenciadas
pelas frequências e pelas lâminas de irrigação aplicadas e
mostraram a interação do efeito da água nas respostas das
variáveis. Demonstra-se que o déficit de água no ciclo da
cultura acelera a maturação dos frutos. A maior
sensibilidade do estresse hídrico mostrou-se nas fases de
floração e crescimento dos frutos, enquanto o crescimento
vegetativo é menos sensível à escassez de água.
Obtiveram-se diferenças nas frequências de irrigação
estabelecidas, sendo a frequência de irrigação diária a que
apresentou melhor desempenho, concordando com
(Rodríguez et al., 2014). O planejamento adequado das
frequências e lâminas de irrigação podem favorecer
algumas características dos parâmetros agronômicos e
morfométricos sem prejuízo no produto final.
Tambussi (2004) afirma que adotam como estratégia
inversa, às plantas que poupam agua, elas minimizam as
perdas de água por diversas vias, tais como o fechamento
estomático e a diminuição da transpiração cuticular,
dentro desta mesma linha conservadora poderiam incluirse as plantas que produzem menos biomassa aérea ao
sofrer déficit hídrico e aumentando a proporção relativa da
massa radicular. Enríquez et al. (2011) indicaram que o
excesso na aplicação de água interfere no
desenvolvimento radicular, obtendo-se para o tratamento
75% EV, média de 15,5 g e sendo 57% superior aos
tratamentos 50 e 100% EV. Viloria et al. (1998)
concluíram que a presença de maior massa radical
determinou em grande parte a produção de frutos de maior
peso e tamanho. Por outro lado, Ferreyra et al. (1985)
mencionaram que a quantidade de raízes diminui
significativamente com a aplicação excessiva de água, este
efeito estaria relacionado com a areação deficiente que
limita o crescimento da raiz. Também, Kramer (1974)
100
100
(F1 )
(F2 )
80
Altura da planta (cm)
Altura da planta (cm)
80
60
Y = - 0,0037 x2 + 1,0493 x - 2,1752
r2 = 0,9839
L(100)
40
L(80)
20
L(60)
Y = - 0,0032 x2 + 0,9650 x + 0,0818
r2 = 0,9864
60
Y = - 0,0042 x2 + 1,1328 x - 1,0931
r2 = 0,9823
L(80)
Y = - 0,0051 x2 + 1,3963 x - 3,8420
r2 = 0,9827
L(60)
Y = - 0,0035 x2 + 1,0402 x + 0,9311
r2 = 0,9857
20
2
Y = - 0,0047 x + 1,3394 x - 5,3676
r2 = 0,9852
0
0
0
20
40
60
80
100
120
140
0
160
20
40
60
80
100
120
140
160
Dias após do plantio
Dias após do plantio
20
20
(F2 )
(F1 )
15
15
L(100)
10
Y = - 0,0009 x2 + 0,2718 x - 2,4197
r2 = 0,9921
L(80)
Y = - 0,0008 x2 + 0,2597 x - 1,7503
r2 = 0,9951
5
L(60)
Diâmetro do caule (mm)
Diâmetro do caule (mm)
L(100)
40
10
L(100)
Y = - 0,0011 x2 + 0,2782 x - 1,5688
r2 = 0,9909
L(80)
Y = - 0,0011 x2 + 0,3005 x - 2,0791
r2 = 0,9886
L(60)
Y = - 0,0009 x2 + 0,2484 x - 1,0173
r2 = 0,99943
80
100
5
Y = - 0,0011 x2 + 0,3040 x - 2,4943
r2 = 0,9893
0
0
0
20
40
60
80
100
Dias após do plantio
120
140
160
0
20
40
60
120
140
160
Dias após do plantio
Figura 2. Altura da planta e diâmetro do caule de pimentão com frequências de irrigação diária, a cada dois dias, lâminas
de irrigação (60, 80 e 100% ETc) e equações de regressão ajustadas aos dados médios.
L: lâmina de irrigação; F1: frequência de irrigação diária; F2: frequência de irrigação cada dois dias.
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Figura 3. Desenvolvimento radicular do cultivo do pimentão, com frequência de irrigação diária, a cada dois dias e
lâminas de irrigação 60, 80 e 100% ETc. L: lâmina de irrigação; F1: frequência de irrigação diária; F2: frequência de
irrigação cada dois dias.
Tabela 2. Desenvolvimento radicular do cultivo do pimentão, com frequência de irrigação diária, a cada dois dias e
lâminas de irrigação 60, 80 e 100% ETc.
Lâmina (%)
100
80
60
100
80
60
CV(%)
Sig.
Comprimento (cm)
Largura (cm)
Frequência de irrigação diária
32,81 bA
20,90 bB
32,37 bA
30,17 bA
31,56 bA
30,12 aA
Frequência de irrigação cada dos dias
30,21 aB
36,10 aB
32,64 aA
42,19 aA
24,99 bC
34,86 aB
3,02
4,77
p<0,01
p<0,01
Área (cm2)
686,74 bB
977,98 bA
950,91 aA
1090,84 aB
1378,41 aA
871,340 aC
6,82
p<0,01
Nas colunas, médias seguidas com a mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (p<0,05).
Conclusão
De acordo com os resultados obtidos, a frequência de
irrigação e a quantidade de água aplicada têm efeitos sobre
os parâmetros de crescimento e na produtividade do
cultivo do pimentão. A frequência de irrigação diária com
lâmina de 60% ETc e, com frequência de irrigação a cada
dois dias com lâmina de 80% ETc podem serem
consideradas como uma estratégia efetiva para a gestão de
água em pimentão.
Agradecimentos
Os autores desejam expressar seu agradecimento ao
IIAP-ULA pelo apoio prestado para realizar esta pesquisa,
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Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.9, n.2, p.49-55, abr. 2015
em especial ao pessoal que trabalhou na estação
experimental San Juan por sua valiosa colaboração.
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