história e filosofia da ciência e natureza da ciência

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HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA E NATUREZA DA
CIÊNCIA: UM OLHAR SOBRE OS ARTIGOS PUBLICADOS NOS
ANAIS DAS EDIÇÕES I, II, III E IV DO SINECT
Etiane Ortiz – [email protected]
Universidade Estadual de Londrina, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e
Educação Matemática
Londrina - Paraná
Resumo: Neste artigo, apresentamos os resultados de um levantamento analítico realizado
nos artigos dos anais do Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia (SINECT).
Esta pesquisa de natureza qualiquantitativa teve como objetivo investigar a luz do “Estado
da Arte”, o que os artigos das quatro edições do SINECT abordaram a respeito da temática
História e Filosofia da Ciência e Natureza da Ciência. Para tanto, buscou-se nas palavraschave dos artigos das edições de 2009, 2010, 2012 e 2014 do SINECT os termos: “Natureza
da Ciência”, “História da Ciência”, “Filosofia da Ciência” e “História e Filosofia da
Ciência”. Foram selecionados e analisados 13 artigos. A análise apontou que em
comparação as quatro edições do evento, houve um aumento no número de artigos
produzidos a respeito da História e Filosofia da Ciência e Natureza da Ciência. Ressalta-se
como importante conclusão desta investigação, a existência da pluralidade de formas de
pesquisas publicadas no evento a respeito do tema aqui investigado e a necessidade de que
mais pesquisas nessa linha sejam aprofundadas e divulgadas, possibilitando contribuições
para a área de Ensino de Ciências.
Palavras-chave: História e Filosofia da Ciência, Natureza da Ciência, SINECT, Ensino de
Ciências.
1
INTRODUÇÃO
A incorporação de uma dimensão histórico-filosófica no Ensino de Ciências é
amplamente discutida e reconhecida (MATTHEWS, 1994). Por essa razão, a relevância da
inserção da História e Filosofia da Ciência (HFC) no ensino tornou-se nos últimos anos
praticamente consensual na comunidade de pesquisa em Ensino de Ciências (MATTHEWS,
1994, LEDERMAN, 2007), isso com base no argumento de que a temática HFC se apresenta
como um possível caminho capaz de potencializar a contextualização desejada no ensino e,
então, promover discussões a respeito da Natureza da Ciência (NdC) (PEDUZZI, 2001).
As questões referentes à Natureza da Ciência constituem-se como sendo um dos
elementos centrais e inovadores da alfabetização científica e tecnológica da atualidade e,
portanto, são consideradas como um aspecto essencial do currículo de Ciências e, tratar de
aspectos da NdC sem recorrer a exemplos para contextualizá-los seria ineficiente. Com base
no exposto, a História e Filosofia da Ciência tem sido sugerida como sendo um dos caminhos
possíveis para essa contextualização, uma vez que, seja em qualquer nível de ensino que se
trabalhe com aspectos da NdC, os exemplos da História da Ciência são úteis para gerar
discussões a respeito da NdC e compreender sua natureza contextual (CLOUGH & OLSON,
2008).
Com base nesses apontamentos, o objetivo desta pesquisa foi investigar a luz do “Estado
da Arte”, o que os artigos das edições I, II, III e IV do Simpósio Nacional de Ensino de
Ciência e Tecnologia (SINECT) abordaram a respeito da temática História e Filosofia da
Ciência e Natureza da Ciência. Embora no SINECT não exista uma área temática específica
para a discussão desses temas, ele é um evento nacional que objetiva criar um espaço para
estudo, reflexão, troca de experiências, intercâmbio de pesquisas, debates e outras interações
dialógicas que visem analisar o contexto de sala de aula como objeto de investigação/ação,
tendo como suporte teórico as contribuições da ciência e da tecnologia sendo, portanto, mais
um espaço para a possibilidade de discussões a respeito do uso da HFC e NdC no Ensino de
Ciências.
Para atingir o objetivo do presente artigo, buscou-se responder as seguintes questões
norteadoras: Qual o número de artigos produzidos no SINECT (edições I, II, III e IV)
relacionados à História e Filosofia da Ciência e à Natureza da Ciência? Em quais áreas
temáticas essas pesquisas foram apresentadas? Qual o objetivo de cada artigo encontrado? A
NdC foi abordada nesses artigos? De que forma?
Para tanto, a princípio considera-se importante apresentar a relação entre a História e
Filosofia da Ciência e Natureza da Ciência encontrada na literatura pertinente, haja vista que é
no contexto dessas discussões que se situa esta pesquisa.
1.1
A História e Filosofia da Ciência e a Natureza da Ciência
Diferentes autores, assim como vários estudos na área do Ensino de Ciências apresentam
argumentos a favor da inclusão de História e Filosofia da Ciência no ensino. As pesquisas na
área também ressaltam a importância da inserção de elementos de HFC na formação de
professores (DUARTE, 2004, p. 324-325; BISCAINO, 2012, p. 82-83).
A respeito disso, Matthews (1995), declara que uma abordagem em História, Filosofia e
Sociologia da Ciência (HFSC) pode auxiliar a resolver os problemas do ensino
contemporâneo de Ciências na medida em que elas (HFSC):
[...] podem humanizar as ciências e aproximá-las dos interesses pessoais, éticos,
culturais e políticos da comunidade; podem tornar as aulas de ciências mais
desafiadoras e reflexivas, permitindo, deste modo, o desenvolvimento do
pensamento crítico; podem contribuir para um entendimento mais integral de
matéria científica, isto é, podem contribuir para a superação do mar de falta de
significação que se diz ter inundado as salas de aula de ciências, onde fórmulas e
equações são recitadas sem que muitos cheguem, a saber, o que significam; podem
melhorar a formação do professor auxiliando o desenvolvimento de uma
epistemologia da ciência mais rica e mais autêntica, ou seja, de uma maior
compreensão da estrutura das ciências, bem como do espaço que ocupam no sistema
intelectual das coisas (MATTHEWS, 1995, p. 165).
Ainda, nas palavras desse autor, “a história e a filosofia da ciência podem dar às
idealizações em ciência uma dimensão mais humana e compreensível e podem explicá-las
como artefatos dignos de serem apreciados por si mesmos” (MATTHEWS, 1995, p. 184).
Assim, os elementos ligados à HFC podem vir a fornecer dados que ajudem a justificar
determinados conceitos, leis ou teorias, além de contribuírem para a compreensão de que os
conceitos são produto de um processo muitas vezes longo, não sendo apenas um produto que
surge já na sua forma pronta (WANG & MARSH, 2002, p. 174).
Essa complexa atividade de desenvolvimento do conhecimento científico precisa ser
apresentada ao aluno a fim de que ele perceba a Ciência como uma atividade humana. E esse
tipo de contextualização do desenvolvimento científico pode vir a ser alcançado a partir do
uso de uma abordagem histórica, pois
Uma educação científica que apresente a ciência como um fazer humano, portanto
contextualizado histórica e socialmente, que evidencie seu caráter inacabado,
transitório, bem como as rupturas e transformações pelas quais essa atividade passou
através dos séculos não pode, certamente, abdicar da história (MARTINS, 1998, p.
66).
Cabe ressaltar aqui que é comum encontrar na literatura estudos que se referem apenas à
História da Ciência (HC); porém, observa-se que estes acabam apresentando, mesmo que de
forma implícita, aspectos também filosóficos. Peduzzi (2001) enfatiza este aspecto quando
declara que:
Toda a opção didática à História da Ciência tem um embricamento inevitável com a
Filosofia da Ciência. Não existem escolhas neutras. Como assevera Lakatos, a
História da Ciência sem a Filosofia da Ciência é cega. A opção pelo uso da História
da Ciência, no ensino, sem uma devida fundamentação teórica é acéfala e vulnerável
à crítica (PEDUZZI, 2001, p. 155).
Em suas pesquisas, Matthews (1995) argumenta que a História das Ciências possibilitaria
o entendimento de como e em que circunstâncias ocorreram à construção de um dado
conhecimento, em um período histórico, e, por outro lado, a Filosofia das Ciências permitiria
conhecer as questões epistemológicas em que estão implicados os problemas científicos.
Assim, o Ensino de Ciências da Natureza tomaria outros encaminhamentos, podendo ganhar
características mais humanas e oportunizar uma melhoria na aprendizagem.
Conforme essas discussões, já amplamente conhecidas, Ortiz (2015) comenta que a
História e a Filosofia da Ciência são apontadas na literatura pertinente como um meio para
contribuir com a compreensão da natureza do conhecimento científico, visto que um dos
problemas relativos ao Ensino de Ciências consiste na dificuldade dos alunos compreenderem
a forma pela qual a Ciência apreende o mundo. Em razão disso, uma abordagem históricofilosófica possibilitaria evitar o dogmatismo e compreender a Ciência como um conhecimento
mutável, em que métodos e padrões de racionalidade são historicamente situados. Podendo
promover assim, relevantes discussões a respeito da Natureza da Ciência.
Esses debates com relação a aspectos da Natureza da Ciência a pelo menos duas décadas
passou a ser considerado um dos principais componentes do ensino (LEDERMAN, 2007). De
forma geral, considera-se que conhecimentos a respeito do que é a Ciência, como ela produz
seu conhecimento e quais são seus limites, são elementos fundamentais para que um cidadão
possa avaliar criticamente informações relacionadas a conteúdos científicos (PRAIA et al.,
2007). Tais debates podem contribuir para levar o aluno a entender como se dá a construção
do conhecimento científico. Contudo, assim como o conhecimento científico, a própria
concepção de Natureza da Ciência também é dinâmica (ABD-EL-KHALICK & LEDERMAN
2000), e não há um consenso a respeito da sua definição entre filósofos, historiadores da
ciência, cientistas e educadores.
Todavia, apesar de não existir um consenso em relação a uma única Natureza da Ciência,
Moura (2014) enfatiza que de modo geral, a NdC é entendida como um conjunto de
elementos que tratam da construção, estabelecimento e organização do conhecimento
científico. Isto pode abranger desde questões internas, como método científico e relação entre
experimento e teoria, até questões externas, como a influência de elementos sociais, culturais,
religiosos e políticos na aceitação ou rejeição de ideias científicas.
A compreensão da Natureza da Ciência é considerada um dos preceitos fundamentais
para a formação de alunos e professores mais críticos e integrados com o mundo e a realidade
em que vivem. Por essa razão, a defesa pela incorporação de discussões a respeito da NdC no
ensino tem sido uma constante em diversos âmbitos da educação, desde as políticas
governamentais até as pesquisas acadêmicas, haja vista que um dos fins básicos da educação
científica é garantir que os estudantes adquiram uma compreensão adequada da Natureza da
Ciência (PETRUCCI & DIBAR URE, 2001). O que pressupõe compreender seu
funcionamento interno e externo, como se constrói e se desenvolve o conhecimento científico
que é produzido, os métodos utilizados para validar este conhecimento, os valores implícitos
ou explícitos nas atividades da comunidade científica, os vínculos com a tecnologia, às
relações com a sociedade e com o sistema técnico-científico e as contribuições deste
conhecimento para a cultura e o progresso da sociedade como um todo (ACEVEDO DÍAZ,
2005).
Entretanto, levando em conta a complexidade da questão, também é bastante arriscado
estabelecer uma suposta “concepção adequada de ciência” como se fosse à única. Para que o
professor possa promover uma imagem adequada da construção do conhecimento científico é
imprescindível que ele tenha um conhecimento das características essenciais do trabalho
científico, uma vez que, concepções deformadas podem levar a um ensino errôneo da
Natureza da Ciência (GIL-PÉREZ et al., 2001).
No entendimento de Carvalho (2001), é necessário que todas as pessoas se apropriem da
compreensão de aspectos da NdC para se posicionarem frente a estas discussões, favorecendo
o processo de alfabetização científica e tecnológica da população. Considerando-se a
importância dos indivíduos conhecerem como se dá o processo de desenvolvimento da
Ciência, até para poder emitir uma opinião quando se deparar com situações onde seja
necessário o seu posicionamento como cidadão diante de questões que envolvem a Ciência, é
necessário que ele seja preparado para elaborar possíveis julgamentos.
Nesse contexto, a necessidade de compreensão da Natureza da Ciência, tornou-se uma
questão deveras premente no ensino para possibilitar a superação de ideias distorcidas a
respeito da Ciência. Tendo isso em vista, Melo (2005) defende que a História da Ciência e a
Filosofia da Ciência são os fundamentos ou os alicerces para atingir o conhecimento
científico, pois a sua inserção no ensino pode contribuir para entender as relações da ciência
com a tecnologia, com a cultura e com a sociedade.
Por fim, cabe explicitar aqui que a HFC e a NdC estão relacionadas, mas não são
exatamente a mesma coisa (MCCOMAS, 2008). Como visto, a HFC é uma das maneiras
possíveis de se discutir questões referentes à Natureza da Ciência. É uma maneira de
contextualizar discussões epistemológicas, permitindo tanto a compreensão de conteúdos
científicos quanto o aprendizado de noções a respeito das ciências; é um caminho de
humanização da Ciência e que pode propiciar o alcance de diversos propósitos formativos.
Além de já ser recomendada para o Ensino das Ciências desde o início do século XX
(FORATO, 2009) e definido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN e PCN+) como
estratégia formativa de alunos reflexivos e críticos cientificamente (BRASIL, 2000).
2
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente artigo foi elaborado à luz da metodologia do “Estado da Arte”, também
conhecido como “Estado do Conhecimento”. Segundo Ferreira (2002), as produções
caracterizadas como “Estado da Arte” são conhecidas por apresentarem uma pesquisa de
caráter bibliográfico, inventariante e descritivo a respeito da produção científica.
Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio de
mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do
conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados
e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições
têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações
em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários.
(FERREIRA, 2002, p. 258).
As pesquisas elaboradas por meio do “Estado da Arte” são realizadas com o
levantamento dos dados e suas análises, tendo como fontes de referência os catálogos de
universidade, associações e órgãos de fomento à pesquisa, entre estes podemos citar os
bancos de teses e dissertações, periódicos e anais de eventos, os quais são acessíveis por meio
de bibliotecas e acervos digitais. Neste artigo, para o levantamento e obtenção dos dados
foram utilizados os anais das quatro edições do Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e
Tecnologia (SINECT), que ocorreram, respectivamente, em 2009, 2010, 2012 e 2014.
Tal levantamento foi realizado por meio da identificação e análise das seguintes palavraschave: “Natureza da Ciência”, “História da Ciência”, “Filosofia da Ciência” e “História e
Filosofia da Ciência”, que foram utilizadas como critério de recorte, bem como na análise dos
resumos. O critério de seleção das palavras foi devido à relação existente entre a História e
Filosofia da Ciência e a Natureza da Ciência apresentada na fundamentação deste artigo.
Optou-se por analisar o resumo devido ao seu caráter informativo e sua capacidade de
apresentar a ideia completa do que é apresentado ao longo da investigação (FERREIRA,
2002). Ainda, conforme Ferreira,
[...] podemos ler cada resumo como um dos gêneros do discurso ligado à esfera
acadêmica, com determinada finalidade e com certas condições específicas de
produção. Cada resumo é lido como um enunciado estável delimitado pela
alternância dos sujeitos produtores, pela noção de acabamento de todo e qualquer
enunciado e pela relação dos parceiros envolvidos em sua produção e recepção
(FERREIRA, 2002, p. 267).
Concluída a seleção, dos 860 artigos publicados nos anais do SINECT, o número de
artigos encontrados com base no recorte utilizado para a análise reduziu para 13, os quais
compõem o corpus desta pesquisa. A análise do corpus foi realizada mediante criação de
quadros-resumos contendo informações relevantes para o “Estado da Arte”, buscando
responder em uma primeira análise quantitativa “quando?” e “onde”? as pesquisas foram
realizadas e em um segundo momento com um olhar voltado para a pesquisa qualitativa “o
que?” as pesquisas realizaram e “como?” foram realizadas. Considerou-se relevante na
composição desses quadros, o ano do evento em que o artigo foi divulgado, os objetivos dos
artigos e a metodologia adotada pelos autores. Para a elaboração dos quadros, foi realizada a
leitura dos resumos dos artigos que compõe o corpus desta investigação.
2.1
Análise dos resultados
Dos 860 artigos publicados nos anais das quatro edições do SINECT realizadas em 2009,
2010, 2012 e 2014, foram selecionados para a análise à luz do “Estado da Arte” 13 artigos,
sendo que 12 deles continha pelo menos uma das palavras-chave utilizadas como critério de
recorte: “Natureza da Ciência”, “História da Ciência”, “História e Filosofia da Ciência” e
“Filosofia da Ciência”. Apenas um dos artigos não apresentou nenhuma das palavras, porém
ao realizar a leitura do resumo, constatou-se que a pesquisa era relevante para a investigação
em questão, sendo incorporado ao corpus desta pesquisa.
No quadro a seguir, apresenta-se a distribuição da quantidade total de artigos publicados
e os respectivos anos de divulgação; a quantidade de artigos encontrados nessas classificações
com as palavras-chave mencionadas acima; o percentual de pesquisas divulgadas com a
temática em questão por evento em relação ao número total; e ainda, o percentual de artigos
selecionados por evento com relação ao total de pesquisas selecionadas para análise.
Quadro 1 - Distribuição da quantidade total de artigos encontrados e total de artigos
analisados.
Evento – Ano
Nº total
de artigos
Nº de artigos
selecionados
para análise.
Porcentagem
em relação ao
total de artigos.
I SINECT/2009
II SINECT/2010
III SINECT/2012
IV SINECT/2014
118
233
241
268
1
4
2
6
0,84%
1,71%
0,83%
2,23%
Porcentagem em
relação ao nº de
artigos selecionados
para análise.
7,69%
30,76%
15,38%
46,15%
Observando a terceira coluna do Quadro 1, verifica-se que ao longo das edições do
SINECT a publicação de artigos que abordaram os temas HFC, HC, NdC ou Filosofia da
Ciência sofreu oscilações. Todavia, houve aumento no número de pesquisas produzidas na
última edição do evento, possivelmente em virtude também do aumento das discussões na
área do Ensino de Ciências a respeito das contribuições que um ensino orientado por
elementos contextuais pode oferecer para o ensino de disciplinas científicas e para a formação
inicial de professores (TEIXEIRA et al., 2009). Contudo, a respeito dessas evidências,
acredita-se que há necessidade de mais pesquisas na área seguindo essa linha.
Na sequência, o Quadro 2 apresenta as instituições nas quais foram realizadas as
pesquisas selecionadas para a análise deste artigo e o número de artigos produzidos por cada
instituição acerca dos temas HFC e NdC.
Quadro 2 - Instituições nas quais os artigos foram produzidos e número de artigo produzido
por instituição.
Instituição
Universidade Estadual de Londrina – PR
Universidade Federal de Viçosa – MG
Instituto Federal Fluminense – RJ
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – PR
Universidade Federal do Paraná – PR
Universidade do Estado do Pará – PA
Universidade de São Paulo – SP
Nº de artigos produzidos
7
1
1
1
1
1
1
Ao observar o Quadro 2, nota-se a expressiva quantidade de artigos (7 – 53,8%)
produzidos pela Universidade Estadual de Londrina (PR) a respeito da HFC e NdC, enquanto
as 6 outras instituições que tiveram artigos publicados nos anais do SINECT apresentaram
apenas um artigo cada (1 – 7,69%).
A seguir, o Quadro 3 mostra as palavras-chave que aparecem nos artigos de acordo com
as palavras elencadas para o critério de seleção desta pesquisa e o evento em que foi
apresentado o respectivo artigo.
Quadro 3 - Distribuição dos artigos segundo as palavras-chave apresentadas e o evento em
que a pesquisa foi apresentada.
Palavra-chave
Natureza da Ciência
História da Ciência
Filosofia da Ciência
História e Filosofia da
Ciência
I SINECT
1
II SINECT
3
1
1
III SINECT
1
-
IV SINECT
3
2
2
Pode-se observar no Quadro 3 que as palavras-chave que mais foram citadas nos artigos
foram: História da Ciência (6), História e Filosofia da Ciência (4) e Natureza da Ciência (3).
Apesar da palavra-chave “Filosofia da Ciência” ser citada apenas uma vez especificamente, os
demais artigos que seguem essa linha de pesquisa acabam apresentando, mesmo que de forma
implícita, aspectos também filosóficos.
O quadro seguinte apresenta as áreas temáticas nas quais os artigos que constituíram o
corpus desta pesquisa foram encontrados.
Quadro 4 - Áreas temáticas nas quais os artigos foram publicados.
Área temática
Ensino de Ciências
Ensino de Biologia
Ensino de Física
Ensino de Química
Educação Tecnológica e Profissional
Quantidade de artigos
4
3
3
2
1
Como pode ser observado no Quadro 3, os artigos relacionados aos temas HFC, HC, NdC
e Filosofia da Ciência concentraram-se mais na área temática Ensino de Ciências. O que vem
de encontro com o que Matthews (1994) e Lederman (2007) apontam a respeito da
importância atribuída a inserção da História e Filosofia da Ciência no ensino e que essa
incorporação tornou-se nos últimos anos praticamente consensual na comunidade de pesquisa
em Ensino de Ciências.
Dos objetivos
A análise dos objetivos foi realizada por meio da leitura dos resumos acompanhada de
um processo reflexivo que possibilitou fazer três agrupamentos para acomodar os artigos com
base nas propostas apresentadas. Os agrupamentos podem ser observados na sequência:
a.) História e Filosofia da Ciência – Nesse grupo foram acomodados os artigos que tiveram
como objetivo, trabalhar diretamente com o tema HFC, tais objetivos foram: Silva (2014)
mostrou uma forma específica da utilização da História e Filosofia da Ciência no Ensino de
Ciências fazendo uso de uma fonte histórica primária; Costa e Batista (2014) apresentaram
um panorama geral das publicações que abordam investigações empíricas de abordagens
históricas e/ou filosóficas em sala de aula; Biscaino e Camargo (2012) analisaram se no
processo de formação inicial de licenciandos em Física haviam um desenvolvimento da
História e Filosofia da Ciência e o que diziam esses licenciandos sobre a utilização desse
enfoque em situações de estágio de regência e Jacinski (2009) analisou a contribuição da
perspectiva histórica e sociocultural das ciências para pensar uma aproximação dialógica entre
formação científica e humana na educação tecnológica.
b.) Natureza da Ciência – Para esse grupo, os objetivos relacionados à NdC foram os de
Visitação e Silva (2014), que buscaram investigar as concepções de Natureza da Ciência
(NdC) veiculadas nas narrativas históricas dos livros didáticos de biologia e, Matos e Silva
(2014), que discutiram elementos da NdC, tomando o episódio histórico em que Semmelweis
busca identificar a natureza da febre puerperal, e enfatizaram os mecanismos de construção e
negociação da Ciência.
c.) História da Ciência – Foram alocados nesse grupo, os artigos que tiveram como objetivo
tratar especificamente de aspectos da História da Ciência, foram eles: Ortiz e Silva (2014)
investigaram se os estudantes de um curso de Ciências Biológicas compreenderiam melhor o
episódio da Descoberta da dupla hélice do DNA usando uma abordagem em História da
Ciência; Rangel et al. (2014) investigaram se a utilização de jogos como intervenção em uma
aula cujo conteúdo abordava a História das Ciências era eficaz e contribuía para que fosse
adotado na futura prática das licenciandos de um curso de licenciatura em Química; Silva et
al. (2012) verificaram a percepção a respeito da História da Ciência dos alunos de um Curso
de Licenciatura Plena em Ciências Naturais – habilitação em Química de uma Universidade
Pública de Belém do Pará; Rosa e Silva (2010) analisaram a História da Ciência que estava
sendo apresentada nos livros didáticos de Biologia do Ensino Médio; Zamberlan e Silva
(2010) analisaram alguns livros didáticos de biologia do ensino médio, descreveram e
discutiram a forma de apresentação de um conteúdo específico – o conteúdo de competição -,
e verificaram como estava sendo realizada tal apresentação; Rigolon e Obara (2010) buscaram
reiterar o valor histórico das analogias nos processos da construção do conhecimento
científico em várias áreas do saber e Camillo (2010) analisou como o tema História da
Ciência aparecia no discurso dos alunos de uma sala do segundo ano do Ensino Médio.
Com base nessas acomodações, observa-se que a maioria dos artigos analisados tiveram
como objetivo investigar, analisar, discutir, descrever e reiterar questões relacionadas à
História da Ciência (7 artigos – 53,8%). Logo após, nota-se uma quantidade intermediária de
artigos que tiveram como objetivo analisar, mostrar, apresentar questões relacionadas à
História e Filosofia da Ciência (4 artigos – 30,7%) e por fim, verifica-se uma quantidade
menos expressiva de artigos que tiveram como objetivo específico investigar e discutir
questões relacionadas à Natureza da Ciência (2 artigos – 15,3%).
Como objetivo dessa pesquisa, também investigou-se de que forma a NdC foi abordada
nos artigos. Encontrou-se especificamente apenas 2 artigos, como já citado acima, sendo que
em um deles foi investigado as concepções de Natureza da Ciência veiculadas nas narrativas
históricas dos livros didáticos de biologia e, no outro, foi encontrado um estudo teórico no
qual discutiu-se elementos da NdC, tomando o episódio histórico em que Semmelweis busca
identificar a natureza da febre puerperal.
Das metodologias
As metodologias dos artigos analisados foram desenvolvidas de diversas formas, como
fazendo uso de questionários, entrevistas, observações, caderno de campo, análise em
documentos, levantamento em periódicos e análise de livros didáticos. Observou-se ainda a
presença de artigos teóricos, além de pesquisas que fizeram uso de metodologias de análise
como a Análise textual discursiva, Análise de Conteúdo e Análise de Discurso.
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta pesquisa foi investigar a luz do “Estado da Arte” o que os artigos das
edições I, II, III e IV do Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia (SINECT)
abordaram a respeito da temática História e Filosofia da Ciência e Natureza da Ciência.
Com base no movimento interpretativo realizado, foi possível observar que ao longo das
edições do evento analisadas, um número reduzido de artigos que abordaram essas questões
foi encontrado – de 860 artigos publicados, 13 estavam relacionados com a HFC e NdC.
Acredita-se que o número não tão expressivo a respeito dessas abordagens seja devido ao fato
do evento não ter uma área temática específica para discutir essas questões e a maior parte das
publicações concentrar-se em pesquisas que envolvam de fato, implicações da Ciência e
Tecnologia no ensino. Todavia, observou-se que da I a IV edição do evento, o número de
artigos que tratam da HFC e NdC teve um aumentou, possivelmente em virtude do
crescimento de discussões e publicações na área do Ensino de Ciências a respeito das
contribuições do uso de uma abordagem histórico-filosófica e aspectos de Natureza da
Ciência no ensino de disciplinas científicas.
A Universidade Estadual de Londrina (PR) foi à instituição que mais produziu artigos
nessa linha de pesquisa, e a área temática onde foi encontrado o número mais expressivo de
artigos foi à área de Ensino de Ciências, corroborando com o que Matthews (1994) e
Lederman (2007) apontaram a respeito da importância atribuída a inserção da História e
Filosofia da Ciência (HFC) no ensino, e que essa incorporação tornou-se nos últimos anos
praticamente consensual na comunidade de pesquisa em Ensino de Ciências.
Da análise dos objetivos, constatou-se que os artigos tiveram objetivos diversos ao tratar
de questões que envolviam a HFC e NdC. De modo geral, os objetivos puderam ser
organizados em três grandes grupos: História e Filosofia da Ciência, Natureza da Ciência e
História da Ciência. O grupo relacionado a artigos com objetivos relacionados diretamente a
tratar de questões de História da Ciência foi o que apresentou o maior número de
acomodações (7 artigos – 53,8%). O segundo grupo com maior acomodação dos objetivos
analisados foi o História e Filosofia da Ciência (4 artigos – 30,7%). E por fim, a menor
incidência foi de artigos cujos objetivos estavam relacionados diretamente a tratar de aspectos
da Natureza da Ciência (2 artigos – 15,3%), em que um deles, foi investigado as concepções
de Natureza da Ciência veiculadas nas narrativas históricas dos livros didáticos de biologia e
o outro, discutiu elementos da NdC, tomando o episódio histórico em que Semmelweis busca
identificar a natureza da febre puerperal.
Os resultados aqui expostos podem suscitar algumas reflexões. Pelo fato do evento
SINECT configura-se como um espaço para estudo, reflexão, troca de experiências,
intercâmbio de pesquisas, debates e outras interações dialógicas que visem analisar o contexto
de sala de aula como objeto de investigação/ação, tendo como suporte teórico as contribuições
da Ciência e da Tecnologia, acredita-se que o número reduzido de artigos que tratem de
questões relacionadas à NdC no contexto de sala de aula pode ser um indicativo da
necessidade de mais pesquisas que trilhem esse caminho, uma vez que a compreensão de
aspectos da Natureza da Ciência aparece cada vez mais associado à alfabetização científica.
Vale ressaltar ainda que, um dos principais objetivos do Ensino das Ciências é a
aprendizagem da NdC, tanto para desenvolver uma melhor compreensão da Ciência e seus
métodos, como para contribuir para tomar mais consciência das interações entre a Ciência, a
Tecnologia e a Sociedade (HODSON, 1994).
Acredita-se que é de fato, imprescindível e premente um esforço no sentido de tornar a
incorporação da Natureza da Ciência e uma abordagem histórico-filosófica no Ensino de
Ciências como um projeto amplo e articulado, tanto na formação de professores – que
precisam ter uma visão mais adequada de Ciência – quanto na de alunos, cujas concepções
distorcidas e simplistas precisam ser trabalhadas, problematizadas e se possível, superadas.
Assim, se já existe um aparente consenso na literatura pertinente de que a História e a
Filosofia da Ciência e a Natureza da Ciência são importantes e que a HFC é um dos caminhos
possíveis para se trabalhar com aspectos da NdC, talvez o interessante fosse investir esforços
e pesquisas para a construção e avaliação de ações concretas e não meramente pontuais acerca
de como, quais estratégias e métodos para se fazer a inserção de aspectos de NdC por meio da
HFC no ensino de disciplinas científicas, haja vista que pouco se encontrou a respeito desses
assuntos nos artigos analisados.
Por fim, acredita-se que esta pesquisa constitua-se em uma possível contribuição para a
reflexão e o debate acerca das lacunas e possibilidades de investigação a respeito da HFC e
NdC no Ensino de Ciências.
Agradecimentos
Agradecemos ao apoio financeiro concedido pela CAPES.
4
REFERÊNCIAS
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HISTORY AND PHILOSOPHY OF SCIENCE AND NATURE OF
SCIENCE: A LOOK AT THE ARTICLES PUBLISHED IN THE
ANNALS OF THE EDITIONS I, II, III AND IV OF SINECT
Abstract: In this article, we present the results of an analytical survey held in articles of the
proceedings of the National Symposium on Science and Technology Education (SINECT).
This search of qualitative-quantitative nature aimed to investigate the light of the "State of the
art" what the articles of the four editions of the SINECT has approached about the history
and philosophy of science and nature of science. To that end, sought the keywords: "nature of
science", "history of science", "philosophy of science" and "history and philosophy of
science" in articles of the edition 2009, 2010, 2012 and 2014 of the SINECT. Were selected
and analyzed a total of 13 articles. The analysis pointed out that in comparison the four
editions of the event there was an increase in the number of articles produced about the
history and philosophy of science and nature of science. It is emphasized how important
conclusion of this investigation, the existence of the plurality of forms of research published
in event on the subject here investigated and the need for research in this line be deepened
and disclosed to allow for contributions in the area of Teaching Science.
Key-words: History and Philosophy of Science, Nature of Science, SINECT, Teaching
Science.
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