CF Guia do Animador Familiar 4 Bloco II Plano Geral de Trabalho

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CF Guia do Animador Familiar 4
Bloco II
Plano Geral de Trabalho
Etapas para o 4º ano de Catequese
«Tens Palavras de Vida Eterna»
Setembro
Mês
Encontro Introdutório
Etapa
Tema
Tempo
(datas)
Somos
1
testemunhas
Cristo
de 1
2
3
4
Aprendemos a Evangelizar 1
2
com os Apóstolos
2
3
4
1
2
3
3
4
Aprendemos a escutar o 1
4
Senhor
2
3
4
1
5
2
3
4
1
6
2
3
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1
7
2
3
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1
8
2
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4
1
9
2
3
4
Bloco II
4ª Etapa
Aprendemos a escutar o Senhor
Objetivo:
Ao longo desta etapa a família procura:
– Aprender a manejar e a ler a Bíblia;
– Conhecer o Antigo Testamento, começando pelo Pentateuco e pelos Livros Proféticos;
– Descobrir o amor de Deus na imagem do Pastor do seu Povo;
– Aperceber-se do lugar central de Cristo na Sagrada Escritura;
– Descobrir o significado do nome de Deus e como ele se manifesta, principalmente em Jesus
Cristo;
– Louvar o Senhor pelo dom da sua Palavra.
– Descobrir como a mensagem bíblica se realiza na vida da Igreja e seus membros.
– Comprometer-se a aprofundar a fé pela leitura da Sagrada Escritura.
JANEIRO
Pais
Filhos
Família
Semana
(na paróquia)
(na paróquia)
(em casa)
“Hoje cumpriu-se a
1ª
passagem da escritura
que ouvistes” (Lc 4, 21) /
“Eu sou aquele que sou”
(Ex 3, 14)
(Cat 11 e 12)
Síntese do diálogo
2ª
Sugestões para o
em família
diálogo em família
“Hoje cumpriu-se a
passagem da escritura
que ouvistes” (Lc 4, 21) /
“Eu sou aquele que sou”
(Ex 3, 14)
(Cat 11 e 12)
“Fala, senhor: teu servo
3ª
escuta” (1 Sam 3, 10)
“O Senhor é meu
Pastor” (Sl 22/23, 1)
Cat 13 e 14
4ª
Domingo em família
O Senhor é meu
Pastor, nada me falta
A família na família cristã
vivendo o Dia do Senhor
Síntese do diálogo
em família.
Sugestões para o diálogo
em família
“Fala, senhor: teu servo
escuta” (1 Sam 3, 10)
“O Senhor é meu
Pastor” (Sl 22/23, 1)
Cat 13 e 14
Leitura integrada:
No guia do Catequista «Tens Palavras de Vida Eterna», pp.229 – 299.
No Catecismo da Criança «Tens Palavras de Vida Eterna», pp. 49 – 64.
1ª Semana
Diálogo em família
Acompanhar a explicação com a apresentação do Guia dos Pais nas páginas 75 a 86.
Os pais, ao longo da semana, vão falar com os filhos sobre a Bíblia, a sua leitura –
sublinhando com alegria que esta foi recebida como o primeiro e grande presente de
Natal – e praticar com eles a sua leitura: como interpretar uma referência bíblica no
contexto dos 73 livros que a constituem. Mas esses importantes exercícios culminam
numa aprendizagem ainda mais importante: Jesus também lia a Bíblia, conhecia-a bem
e… certo dia, ao ler um texto do Profeta Isaías, Jesus faz uma afirmação extraordinária:
que a Bíblia, pela voz do Profeta, tinha declarado a vinda do Ungido para «anunciar a
Boa Nova aos pobres»… e que Ele era aquele que cumpria esse anúncio (Lc 4, 16-21) .
Depois de saboreado o texto, prossegue o diálogo sobre a Bíblia, a sua leitura, a sua
importância para os judeus e os cristãos, introduzindo o termo «Pentateuco» a partir das
cinco (penta) ânforas (teuco) que estão desenhadas no catecismo e o texto sobre o
episódio em que Moisés se confronta com a sarça ardente e Deus diz a Moisés «Eu sou
Aquele que sou». A partir da mensagem de que Deus está sempre com o seu Povo se
chegará ao momento em que essa presença encarna em Jesus Cristo.
2ª Semana
Na Paróquia
O encontro começa com a reflexão dos pais sobre a experiência do Natal que
acabaram de viver as famílias e que teve um início marcante com a Celebração de Natal
em que as crianças receberam as suas Bíblias. Gostaram de as receber? Tem sido
possível consultá-la, estabelecer um pequeno programa de leituras? Qual será o melhor
sistema de leitura para as crianças e os pais? É importante preparar as leituras da
celebração dominical com uma leitura prévia?
Caso seja necessário, ver com os pais um sistema de consulta que permita às
famílias conhecerem antecipadamente os textos das leituras dominicais, por exemplo,
através
da
Agenda
Litúrgica,
pela
consulta
do
site
http://www.portal.ecclesia.pt/ecclesiaout/liturgia/liturgia_site/default/default.asp
I.
Encontro de Pais:
“Hoje cumpriu-se a passagem da escritura que ouvistes” (Lc 4, 21) “Eu sou aquele
que sou” (Ex 3, 14)
EXPERIÊNCIA HUMANA
Trabalho em pequenos grupos – 20 min.
De acordo com os interesses e conhecimento prévio do grupo sobre a Bíblia, o
Animador pode apresentar um breve resumo sobre as questões centrais relativas à
estrutura da Bíblia, os seus livros e as duas divisões entre Antigo e Novo Testamento,
detendo-se um pouco mais no Antigo Testamento uma vez que é este que será abordado
nas próximas catequeses. Também pode fornecer previamente alguns textos aos pais, no
dia ou com alguma antecedência, dependendo do tempo disponível para o Encontro,
dividindo-os em grupos, de modo que a informação seja preparada e apresentada pelos
próprios pais. Sugere-se a leitura da Introdução Geral da edição da Bíblia que foi
entregue às crianças.
(Apresentamos a Introdução Geral da edição da Difusora Bíblica:)
INTRODUÇÃO GERAL
A Sagrada Escritura é o conjunto dos livros escritos por inspiração divina, nos quais Deus se
revela a si mesmo e nos dá a conhecer o mistério da sua vontade. Divide-se em duas grandes
secções: ANTIGO TESTAMENTO, que contém a revelação feita por Deus antes da vinda de
Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo; NOVO TESTAMENTO, que contém a revelação feita
directamente por Jesus Cristo e transmitida pelos Apóstolos e outros autores sagrados.
A SAGRADA ESCRITURA, PALAVRA DE DEUS AOS HOMENS
Deus falou aos homens através de outros homens por Ele escolhidos para esse fim, mas
sobretudo por meio de seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1,1-2). Desse modo, a Palavra de Deus
tornou-se linguagem humana sem deixar de ser Palavra de Deus, assim como o Filho de Deus
se fez homem sem deixar de ser Deus; e sujeitou-se, tal como Ele, às limitações e
condicionamentos da palavra humana, excepto no erro formal. Tais condicionamentos são:
Condicionamentos de tempo Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos
entender a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em
que foi escrito cada um deles.
Condicionamentos de espaço Os livros da Bíblia nasceram em vários lugares geográficos,
cada qual com o seu ambiente próprio: uns na Palestina, outros no mundo helénico e outros no
Império Romano. E um livro também é filho do meio em que nasceu.
Condicionamentos de raça Os livros da Bíblia procedem quase todos do povo semita, mais
concretamente do povo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferente do
nosso. É preciso conhecê-lo, para entender a Palavra de Deus.
Condicionamentos de cultura Os livros da Bíblia são obra de muitos autores com mentalidade
e cultura diferentes, às vezes distanciados entre si por vários séculos. Tudo isso marcou a
Bíblia e deve ser tido em conta, pois os autores sagrados, embora escrevessem sob inspiração
de Deus, não foram privados da sua personalidade.
TRANSMISSÃO DA PALAVRA DE DEUS A Palavra de Deus, no Antigo
Testamento, revelou-se através da Tradição e da Sagrada Escritura. Com Cristo, Palavra em
pessoa, começa uma nova Revelação: o Evangelho. Os transmissores desta nova Palavra são
os Apóstolos, que dão origem à Tradição Apostólica. Os Evangelistas, mais tarde, inspirados
pelo Espírito Santo, recolhem e fixam essa Tradição por escrito, dando assim origem à Sagrada
Escritura do Novo Testamento.
Por isso, diz o concílio Vaticano II: “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão
intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando elas da mesma fonte
divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim.” (Dei Verbum, 9)
INSPIRAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA A Inspiração é o que caracteriza e
essencialmente distingue a Bíblia de todos os outros livros humanos. Acreditar na Inspiração
da Sagrada Escritura foi sempre um dogma de fé para os Judeus e para a Igreja. Os Judeus
dividiam a Bíblia em três partes: a Lei (Torá), que era considerada a Palavra de Deus por
excelência; os Profetas (Nebiîm), que falaram em nome de Deus; e os Escritos (Ketubîm),
formando todos juntos os «Livros santos» (1 Mac 12,9). Jesus Cristo e os Apóstolos citaramnos como Palavra de Deus (Act 1,16; 4,25). Mas São Paulo e São Pedro é que nos transmitem
os dois textos clássicos sobre esta verdade. Paulo diz: «Toda a Escritura é divinamente
inspirada» (theopneustos: 2 Tm 3,14-17); e Pedro afirma: «Mas sabei, antes de mais, que
nenhuma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo, é que
os homens santos falaram em nome de Deus.» (2 Pe 1,21)
Os Santos Padres também são unânimes em afirmar que Deus é o autor da Sagrada Escritura e
que o hagiógrafo é instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua fé nesta verdade em
vários concílios e documentos. O último e o mais expressivo é a constituição dogmática Dei
Verbum (DV), do concílio Vaticano II, que diz: “As coisas reveladas por Deus que se
encontram escritas na Sagrada Escritura foram consignadas por inspiração do Espírito
Santo.” E mais adiante, falando da natureza desta inspiração, acrescenta: “porque escritos por
inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor e, como tais, foram confiados à Igreja.
Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das
suas faculdades e capacidades para que, agindo Deus neles e por eles, pusessem por escrito,
como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria.” (n.° 11) Portanto, segundo
a constituição Dei Verbum, os livros sagrados são produto da acção transcendente de Deus que
suscita, dirige e envolve inteiramente a actividade humana, agindo em constante coordenação
com ela.
Esta acção divina estendeu-se a todas as faculdades e actos do homem que concorreram para a
produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os géneros literários
que neles se encontram. No entanto, longe de tornar o hagiógrafo passivo, tal acção favorece a
sua livre espontaneidade; porque o homem é tanto mais livre e activo quanto mais o Espírito
Santo o acompanha. Deus, quando actua no homem, fá-lo sempre com suma delicadeza,
respeitando a sua liberdade e a sua maneira de ser, mas valorizando-as e potenciando-as. A
Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico, mas uma obra em que Deus e o homem
intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com as suas faculdades e conforme
a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros autores dos livros sagrados.
A VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA Diz também a Dei Verbum: “E assim
como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado
pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve aceitar que os livros da Escritura ensinam com
certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse
consignada nas Sagradas Letras.” (DV, 11)
A verdade da Bíblia é a consequência imediata da Inspiração. Com efeito, se Deus é o autor da
Bíblia, se toda ela é obra do Espírito Santo, não pode conter qualquer afirmação que vá contra
a verdade e a santidade do mesmo Deus. No entanto, não podemos buscar na Bíblia qualquer
verdade, mas só a que interessa à salvação do homem, ou seja, a verdade religiosa, e só aquela
que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse registada nas Escrituras. Trata-se de uma
verdade não puramente especulativa, mas concreta, que não se dirige apenas à inteligência,
mas ao homem todo; uma verdade que é preciso descobrir através dos muitos e variados
géneros literários; uma verdade progressiva, revelada por etapas, obedecendo à pedagogia de
Deus em relação aos homens; uma verdade que está em toda a Bíblia e não apenas num livro
ou num texto isolado. Por isso, a verdade dos textos sagrados só resulta da totalidade da
Bíblia, como a santidade da Igreja resulta do conjunto dos baptizados e não de cada um
individualmente.
A INTERPRETAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA “Porque Deus na Sagrada
Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura,
para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos
realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras.”
(DV, 12)
Para esse fim, o Vaticano II lembra que é preciso ter em conta os géneros literários, os sentidos
bíblicos e certas regras teológicas de interpretação.
Os géneros literários. A verdade é proposta e expressa de um modo ou de outro, conforme se
trate de géneros históricos, proféticos, poéticos, etc. Estes géneros devem ser entendidos como
os entenderam os povos semitas ou helenistas, no tempo em que foi escrito cada um dos livros
(DV, 12).
Os sentidos bíblicos. Tradicionalmente, têm-se distinguido na Bíblia os sentidos seguintes:
literal, pleno, típico e acomodatício.
O Sentido literal é aquele que o autor quis dar ao texto. Pode ser próprio e impróprio, figurado
ou metafórico. O próprio é aquele em que as palavras são tomadas no seu significado corrente;
o impróprio é aquele em que as palavras são tomadas no sentido conotativo ou figurado, por
exemplo: «Vós sois o sal da terra.» (Mt 5,13)
O Sentido pleno é o significado mais profundo do texto; sendo inicialmente pretendido pelo
autor divino, só se descobre à luz de uma revelação posterior, especialmente à luz do Novo
Testamento. Este sentido resulta do facto de a Bíblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro
é presente, e que, ao inspirar um determinado texto, já conhece toda a revelação posterior nele
implícita; e o hagiógrafo ou autor humano, que apenas conhece e tem presente o mistério que
Deus quer revelar nesse determinado momento histórico da escrita. Exemplo claro disto são as
profecias messiânicas do Antigo Testamento: para nós são claras, porque o Messias já veio;
mas o significado que hoje lhes atribuímos não foi atingido plenamente pelo autor sagrado, e
só Deus o teve presente desde o princípio.
O Sentido típico dá-se quando certos acontecimentos, instituições, pessoas, etc., por vontade de
Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e pessoas de ordem superior.
Assim, a serpente de bronze erguida por Moisés (Nm 21,8-9) é figura de Cristo crucificado (ver
Jo 3,14); a passagem do Mar Vermelho (Ex 14,22) é figura do Baptismo (1 Cor 10,2); o maná
(Ex 16,14) é figura da Eucaristia (Jo 6).
O Sentido acomodatício consiste em dar às palavras da Sagrada Escritura um sentido diferente
daquele que o autor lhes quis dar, devido a uma certa semelhança entre a passagem bíblica e a
sua aplicação. Este sentido é muito usado na liturgia e na pregação. Temos um exemplo claro
nas festas de Nossa Senhora, em que a Liturgia relaciona com a Virgem Maria textos que se
referem à sabedoria divina (Pr 8,22-36; Sir 24,14-16).
Regras teológicas de interpretação. Além do já aduzido, o Concílio aponta estes princípios que
devem reger a interpretação da Sagrada Escritura: “A Sagrada Escritura deve ser lida e
interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita” (DV,12); ou seja: o mesmo Espírito
que inspirou os livros santos deve iluminar os teólogos que, docilmente e com espírito de fé, se
dedicam a interpretá-los. Cabe aos exegetas, “de harmonia com estas regras, esforçar-se por
entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo
preparatório, vá amadurecendo o juízo da Igreja.” A função dos exegetas é preparar e não
substituir o juízo último da Igreja, pois só esta “goza do divino mandato e do ministério de
guardar e interpretar a Palavra de Deus” (DV,12).
OS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA Os livros da Sagrada Escritura, tanto do
Antigo como do Novo Testamento, agrupam-se em três conjuntos: históricos, sapienciais e
proféticos, conforme o género literário que neles predomina.
Nesta obra, cada conjunto e cada livro são precedidos de uma Introdução. Nela são dadas
todas as informações necessárias para enquadrar o texto no seu contexto histórico, geográfico
e literário e se apontam os seus objectivos e a sua mensagem teológica.
UNIÃO DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO O Antigo Testamento é a
história da revelação de Deus ao povo de Israel, narrada e explicada pelos autores sagrados e
escrita nos livros da Antiga Aliança, como verdadeira Palavra de Deus. Estava orientado,
“sobretudo, a preparar, a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras a vinda de
Cristo, Redentor universal, e a do Reino messiânico” (DV,15). Embora a sua missão fosse
preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantém esse mesmo sentido para os homens
de hoje. «A Lei (AT) foi nosso pedagogo para nos conduzir a Cristo» (Gl 3,24). A experiência
do povo de Israel é útil também para quem continua à procura de Cristo. Todos temos
necessidade de nos preparar para os novos adventos de Cristo, que se realizam na Liturgia e na
vida cristã, rumo à Parusia do Senhor.
O Antigo Testamento dá-nos a conhecer Deus e o ser humano e o modo como Deus se relaciona
com o homem e a mulher. Porque esse conhecimento está adaptado às pessoas a quem se
dirige, no Antigo Testamento encontram-se “imperfeições e coisas restritas a um tempo
determinado.” Realmente, Deus tolerou modos imperfeitos de observar a lei moral: poligamia,
divórcio, vingança, etc. Mas isso manifesta a pedagogia divina, que vai conduzindo o povo do
imperfeito ao mais perfeito. Por isso, o Antigo Testamento conduz à perfeição do Novo
Testamento.
Para além disso, o Antigo Testamento já exprime um vivo sentido de Deus, contém doutrinas
preciosas sobre Deus e a sua transcendência, sobre a criação, sobre o ser humano enquanto
imagem de Deus, sobre a Providência, etc.; e oferece-nos um tesouro admirável de orações.
Por isso, “os cristãos devem aceitar devotamente esses mesmos livros”, como raiz do Novo
Testamento e do Cristianismo (DV,15).
A SAGRADA ESCRITURA NA IGREJA A constituição Dei Verbum diz que “a
Igreja sempre venerou as divinas Escrituras a par com o próprio Corpo de Cristo”; que sempre
as considerou e continua a considerar, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra
suprema da sua fé; e, por último, chama-lhes “a fonte pura e perene da vida espiritual” (n.°
21).
Mas, para ser realmente a fonte da vida espiritual, é preciso que a Bíblia volte a ser “a
alma da teologia”, da pregação, da pastoral, da catequese e de toda a instrução cristã (DV,
24). Que todos, sacerdotes, religiosos e fiéis mantenham um contacto íntimo e constante com os
Livros sagrados através da leitura assídua, do estudo e da meditação. “Porque desconhecer as
Escrituras é desconhecer a Cristo” (São Jerónimo). Para isso, são precisas traduções
acompanhadas das notas explicativas correspondentes, em todas as línguas vivas, para que
cada um as possa ler na sua língua materna (DV, 25).
REFLETINDO
Em assembleia: partilha e aprofundamento – 20 min.
Após os grupos apresentarem, em plenário, a partilha dos pais, o(a) Animador(a)
abre para:
«1. Antigo Testamento, mas não velho
Antigo e velho, embora tendo em comum um longo tempo de existência, não são bem a
mesma coisa. Enquanto velho, habitualmente, se diz daquilo que, pelos anos e/ou pelo
uso, está gasto e/ou desatualizado e, consequentemente, é posto de parte (na melhor das
hipóteses, conservado como peça de museu), com o antigo passa-se ou pode passar-se
exatamente o contrário: porque existe há muito tempo e, por isso mesmo, pode ser
detentor de uma longa tradição e da experiência e vida que dela emana, por tudo isso, o
antigo ocupa um lugar privilegiado quer em instituições quer, sobretudo, na
consideração das pessoas.
Hoje, talvez sejam poucos os que (ainda) chamam à primeira parte da Bíblia, comum a
judeus e cristãos, Velho Testamento. Mas continua a haver quem o considere ou sinta a
tentação de o tratar como tal. Por várias razões: por ter páginas cujo sentido até os
maiores especialistas têm dificuldade em interpretar; outras, por parecerem contrárias à
moral cristã [nomeadamente no (ab)uso da violência] ou aos dados das ciências (por
exemplo, sobre a formação do universo e do ser humano). E, depois, para que serve o
Antigo Testamento, se entretanto apareceu um Novo?
Foi por algumas destas razões que, já no século II, Marcião, um membro da Igreja cristã
de Roma, defendeu a exclusão total e definitiva do Antigo Testamento, com um Deus
pressupostamente legalista e violento, e a sua substituição por uma parte dos livros do
Novo Testamento (quase todo o Evangelho de Lucas e 10 cartas paulinas), com o Deus
bondoso de Jesus Cristo. A heresia daqui nascida (o chamado Marcionismo)
desapareceu há muito. Mas, não os defensores do principal argumento em que se
apoiava: a referida oposição na imagem de Deus. Quem, porém, assim pensa, não
conhece, ou conhece muito mal, toda a revelação divina, incluindo a anterior a Cristo.
E, consequentemente, está em desacordo com a posição da Igreja.
Leiam-se, por exemplo, estas palavras da Constituição Dogmática sobre a Divina
Revelação (Dei Verbum) do II Concílio do Vaticano: “A «economia» do Antigo
Testamento estava destinada, mais que tudo, a preparar, a anunciar profeticamente e a
simbolizar com várias figuras a vinda de Cristo redentor universal e o Seu reino
messiânico. Além disso, os livros do Antigo Testamento manifestam a todos o
conhecimento de Deus e do homem e o modo pelo qual o Deus, justo e misericordioso,
trata os homens, segundo a condição do género humano nos tempos anteriores à
salvação estabelecida por Cristo. Estes livros, embora contenham algumas coisas
imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, uma verdadeira pedagogia divina (…).
Neles se encontram sublimes doutrinas acerca de Deus, uma salutar sabedoria sobre a
vida humana e admiráveis tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o
mistério da nossa salvação” (DV 15).
A razão principal para o seu consequentemente acolhimento, por parte dos cristãos,
provém da unidade do Antigo e Novo Testamento: este “está latente no Antigo, e o
Antigo torna-se claro no Novo. Na verdade, apesar de Cristo ter alicerçado a nova
Aliança no seu Sangue, os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente
assumidos na pregação evangélica, adquirem e manifestem a sua significação plena no
Novo Testamento que, por sua vez, os ilumina e explica” (DV 16).
Um dos mais elucidativos exemplos desta unidade é oferecido em Lc 4, 14-21, um texto
que termina com a afirmação de Jesus:
2. “Hoje, cumpriu-se a passagem da Escritura que ouvistes”
Trata-se de uma cena paradigmática e programática. Paradigmática ou exemplar em,
pelo menos, três pontos:
– Tanto a Jesus como aos Apóstolos é o Espírito Santo, recebido com particular
intensidade, que os impele a realizar a sua missão, respetivamente, messiânica e
missionária: Jesus, depois do seu Batismo, apresenta-se como o Ungido pelo Espírito do
Senhor (Lc 3, 21-22; 4, 18); os Apóstolos são transformados por esse mesmo Espírito
na manhã de Pentecostes (Act 2, 1ss).
– Como Jesus inicia a sua atividade pública na sinagoga da Nazaré, também no tempo
pós-pascal e segundo os Atos dos Apóstolos (o segundo volume da obra do Evangelista
Lucas), os missionários do Ressuscitado, com destaque para S. Paulo, começavam
sempre o seu anúncio do Evangelho pelas sinagogas, nas terras onde elas existissem.
– Finalmente, quer Jesus quer os Apóstolos fundamentam a mensagem que transmitem
na revelação de Deus no Antigo Testamento: Jesus repete-o, particularmente, depois de
ressuscitar, aos discípulos de Emaús e aos restantes (Lc 24, 27.44-47); e estes, a partir
daí, sempre que falam de Jesus como Messias, pela sua morte e ressurreição, apoiam-se
em passagens do Antigo Testamento que, muitas vezes, citam.
Neste último ponto, manifesta-se também o aspeto programático da intervenção de
Jesus na sinagoga de Nazaré: o que, já em Is 61, 1-2a e 58, 6, aparece como programa
da atividade do Profeta que aí se apresenta, é assumido por Jesus como programa da sua
atividade de Messias ou Ungido do Senhor.
E S. Lucas, com uma arte de composição literária que manifesta em muitos outros
textos da sua obra, dá um especial realce à passagem bíblica que cita, ao colocá-la no
centro da intervenção de Jesus: antes de fazer a leitura (vv. 16-17), Jesus levanta-se,
recebe o livro de Isaías e desenrola-o; depois de ler (v. 20), faz o contrário e em ordem
inversa, isto é, enrola-o, entrega-o e senta-se. Perante isto, não eram apenas todos os que
estavam na sinagoga que tinham os olhos fixos n’Ele (v. 20). Também os leitores ou
ouvintes de hoje se deixam facilmente possuir pela mesma curiosidade: que irá Ele
dizer?
O que Ele nos diz é muito mais do que, visto superficialmente, parece ser transmitido
pela brevíssima homilia que profere: Hoje, cumpriu-se esta passagem da Escritura que
ouvistes” (v. 21). É mais, por diversas razões:
– Porque o verbo cumprir, no original grego, está no pretérito perfeito, um tempo verbal
indicativo de uma ação completada no passado, mas que continua a realizar-se no
presente: cumpriu-se e continua a cumprir-se. Quando?
– No hoje colocado no princípio: um hoje que se irá repetir, sempre que Ele anunciar a
Boa Nova aos pobres (6, 20) e os salvar de toda a espécie de carências. No Evangelho
de Lucas esse hoje, que permanentemente se atualiza, já tinha aparecido em 2, 10 (na
boca do Anjo que anuncia o nascimento do Salvador) e reaparece em 5, 26; 19, 5-9 e 23,
4, relativamente a algumas das suas intervenções salvíficas. Mas será um hoje redutível
a elas?
– Em vez de ouvistes, deveria traduzir-se, à letra, por está nos vossos ouvidos. E não
deverá estar sempre nos ouvidos do crente o que Deus disse? Para mais, sabendo que a
sua Palavra permanece eternamente (1 Ped 1, 25, com a citação de Is 40, 8), ou ainda
que Jesus, como Ele próprio diz, não veio revogar a Lei e os Profetas, mas cumpri-los
(Mt 5, 17).
Quer dizer que, sempre que o crente escuta esta Palavra e, conquistado por ela, a põe em
prática, se atualiza o hoje da salvação realizada por Jesus Cristo: para quem a cumpre e
para quem usufruir do bem por ela produzido. Que bem?
3. “A Boa Nova aos pobres”
Pobres, tanto no Antigo Testamento como no Novo, são os carenciados de toda a
espécie de bens: em primeiro lugar, os materiais e naturais, como a alimentação, a
saúde, a liberdade; mas também os sobrenaturais. Até porque na raiz dos males
causados ou ignorados pelos homens, está, muitas vezes, a ausência de Deus. E os que
são materialmente pobres, devido ao desprezo ou exploração dos outros, são também os
que mais fácil e frequentemente se voltam para Deus, com veementes pedidos de
socorro e de justiça.
É a esses pobres, nesse sentido pleno do termo, que Jesus primariamente se dirige. E,
consequentemente, não se limita a oferecer-lhes os bens naturais de que precisam, mas,
juntamente com eles, abre-lhes o caminho para o maior bem: o Deus que, n’Ele e por
Ele, quer estabelecer o seu Reino.
O mesmo acontece, ou deve acontecer, na Igreja que nasceu do anúncio deste Reino e
na qual já se iniciou. Dos últimos a proclamar a necessidade de a Igreja e, como ela,
toda a humanidade se preocupar em promover o desenvolvimento integral da pessoa
humana, foi Bento XVI na sua encíclica “Caridade na Verdade (n. 11): “O autêntico
desenvolvimento do ser humano diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em
todas as suas dimensões. Sem a perspetiva duma vida eterna, o progresso humano neste
mundo fica privado de respeito. (…) Tal desenvolvimento requer uma visão
transcendente da pessoa, tem necessidade de Deus: sem Ele, o desenvolvimento ou é
negado ou acaba confiado unicamente às mãos do ser humano, que cai na presunção da
auto salvação e acaba por fomentar um desenvolvimento desumanizado. Aliás, só o
encontro com Deus permite deixar de ver no outro sempre e apenas o outro, para
reconhecer nele a imagem divina, chegando assim a descobrir verdadeiramente o outro
e a maturar um amor que se torna cuidado do outro e pelo outro.”
Nada disto é novo. Já Jesus o expunha, por exemplo, no duplo mandamento do amor,
em que o amor de Deus é condição para um verdadeiro amor ao próximo; e este, uma
consequência necessária daquele. E Ele realizou-o, citando o Antigo Testamento e como
caminho para se alcançar a vida eterna (Lc 10, 25-28).
4. Da Aliança ao Testamento
São duas palavras que, no seu significado (pelo menos, o mais corrente nos nossos
dias), nada parecem ter a ver uma com a outra. Aliança é um acordo ou pacto entre
pessoas, grupos. Testamento diz-se do documento pelo qual uma pessoa declara as suas
últimas vontades, principalmente em relação aos seus bens, para depois da sua morte.
Enquanto este, habitualmente, só então entra em vigor, a aliança decorre entre vivos e
para que eles vivam.
Mas, já neste aspeto, há um ponto de encontro: também o testamento serve, de certo
modo, para prolongar a vida de uma pessoa que morre, naquilo que faz parte da sua vida
e pelo qual se empenhou enquanto viva.
Não foi, no entanto, diretamente por isso que aos livros bíblicos, relativos à aliança de
Deus com o seu povo, se chamou Testamento. Nenhum dos intervenientes perdeu a
vida, pelo menos para sempre. Quando o povo correu esse risco, por infidelidade à
aliança, Deus logo a renovou, por fidelidade à mesma aliança. Mesmo da Antiga
Aliança, diz o Catecismo da Igreja Católica (n. 121) que ela “nunca foi revogada”.
Historicamente, a passagem da aliança a testamento deve-se ao termo grego diathêkê
que, primariamente, significa “disposição”, no sentido próprio de dispor ou pôr em
ordem. Levada à prática, pode ser concretizada numa convenção entre duas partes – a
aliança – ou numa determinação aplicável no tempo posterior à morte – o testamento.
Ora, foi predominantemente por diathêkê que os autores da tradução da Bíblia para
grego (a chamada versão dos LXX, realizada entre os séc. III – I a.C.) traduziram o
hebraico Berit, que em si significa somente aliança. Seguiu-se, séculos mais tarde, a
tradução para latim. E aí, para o referido termo hebraico, em vez de foedus (aliança),
optou-se por testamentum (testamento) que assim definitivamente se impôs entre os
cristãos, para designar os livros que documentam a antiga e a nova aliança. É possível
que, para esta tradução, tenham contribuído também passagens do Novo Testamento em
que diathêkê já é entendida como testamento, em sentido próprio (Gal 3, 15-17; Heb 9,
16-17; e, de um modo menos claro, 2 Cor 3, 14-15).
Mas esta evolução linguística, mesmo que não tenha sido totalmente intencional – pelo
menos, na passagem do grego para o latim – acabou por ser preciosa para o modo como
devemos abordar a Bíblia. Trata-se de um documento que tem de ser necessariamente
respeitado e seguido, como se faz em relação a um testamento. No seu cerne e
fundamento está uma aliança de vida ou de morte, respetivamente, para quem lhe é fiel
ou infiel.
Que assim é, pode deduzir-se do acontecimento salvífico que levou à primeira aliança
de Deus com o seu Povo – o Deus que nele se revela como:
5. IaHWeH – “Eu sou Aquele que sou”
É assim que Ele se manifesta, a Moisés e a nós, no final de Ex 3, 1-14, um texto que
descreve o início de uma mudança radical nos destinos do seu Povo, uma verdadeira
passagem da morte, no Egipto, para a vida, numa terra boa e espaçosa, terra onde corre
o leite e o mel (v. 8).
Ex 3, 1-14:
“Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian.
Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O
anjo do SENHOR apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu,
e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada.
Moisés disse: «Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se
consome a sarça?» O SENHOR viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do
meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» Ele disse: «Não te
aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra
santa.» E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o
Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus.
O SENHOR disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu
clamor diante dos seus inspetores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a
fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e
espaçosa, para uma terra que mana leite e mel, terra do cananeu, do hitita, do amorreu,
do perizeu, do heveu e do jebuseu. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou
até mim, e vi também a tirania que os egípcios exercem sobre eles. E agora, vai; Eu te
envio ao faraó, e faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel.»
Moisés disse a Deus: «Quem sou eu para ir ter com o faraó e fazer sair os filhos de
Israel do Egipto?» Ele disse: «Eu estarei contigo. Este é para ti o sinal de que Eu te
enviei: quando tiveres feito sair o povo do Egipto, servireis a Deus sobre esta
montanha.»
Moisés disse a Deus: «Eis que eu vou ter com os filhos de Israel e lhes digo: ‘O Deus
dos vossos pais enviou-me a vós’. Eles dir-me-ão: ‘Qual é o nome dele?’ Que lhes direi
eu?» Deus disse a Moisés:
«EU SOU AQUELE QUE SOU.» Ele disse: «Assim dirás aos filhos de Israel: ‘Eu sou’
enviou-me a vós!»”
Uma passagem que humanamente seria impossível: de um lado, um só indivíduo,
Moisés; do outro, um povo organizado e poderoso, com faraó e a sua imbatível máquina
de guerra. Por isso, é perfeitamente compreensível a reação de Moisés: primeiro, com a
confissão da sua incapacidade: Quem sou eu?... (v. 11); depois, com a necessidade de
saber o nome de Deus, que o está a enviar (v. 13). Quer dizer que o nome d’Ele é tão
importante como a capacidade de que carece Moisés. O nome de Deus é que o tornará
capaz de realizar uma missão, para a qual só com Deus estaria à altura. Porquê?
O nome é identificativo da pessoa e, consequentemente, torna possível uma relação com
ela, na individualidade que a distingue de todas as outras. Pelo nome, a pessoa está ou
torna-se muito mais presente naqueles que a conhecem. Por isso, não basta a Moisés
saber que Deus é o de Abraão, Isaac e Jacob, como até então era conhecido. Neste caso,
continuaria, de certo modo, limitado às (in)capacidades humanas daqueles, a quem no
passado se havia revelado. Ora Ele é, tinha de ser, muito mais do que aquilo que tinha
feito a esses antepassados. E, de facto, o nome por que agora se dá a conhecer mostra
que Ele é infinitamente mais do que aquilo que até então d’Ele se sabia. Em quê?
Provavelmente, a expressão Aquele que sou pretende explicar o nome próprio IaHWeH,
originariamente dado a Deus no lugar sagrado onde Moisés com Ele se encontra. É uma
palavra parecida com o verbo hebraico hwh (ser, existir, estar), num tempo e voz verbal
correspondente à terceira pessoa do singular do presente e/ou futuro do indicativo. Se
aqui é traduzido na primeira pessoa, por Aquele que sou, e não é, deve-se ao facto de ser
Deus a falar de si próprio.
Com esta tentativa de explicação, exprimem-se uma série de características de Deus, por
Ele manifestadas na vida que foi dando ao seu povo ao longo da sua história:
– A vida e vitalidade que, num grau infinito, só Ele tem: só Ele é ou existe, como
inesgotável fonte de vida. Isto é, Ele vive, na medida em que dá às suas criaturas a vida
que Ele tem. Se o não fizesse, deixaria de ser o que o seu nome exprime.
– A transcendência com que está para além de tudo o que é terreno, limitado, caduco:
Eu sou Aquele que sou; portanto, ser humano algum pretenda saber tudo o que Ele é
realmente, o seu Mistério, para a Ele se impor.
– A imanência com que, no mesmo grau, se torna presente junto dos seus: Ele é ou está
com eles, para lhes dar a vida de que necessitam e só d’Ele podem obter. Por isso, em
vez de está, pode traduzir-se por estarei, conforme antes promete a Moisés (v. 12).
Perante o poder e o peso que este nome foi adquirindo, não admira que, depois do exílio
na Babilónia (587–538 a.C.), os judeus, por respeito sagrado, fossem deixando de o
pronunciar. Em vez de IaHWeH, passaram a dizer, sobretudo, Adonai, que, por sua vez,
foi traduzido para grego por Kyrius (Senhor). É assim, como Senhor, que ele aparece na
maioria das Bíblias (nalgumas, com todas as letras em maiúsculo) e em todos os textos
litúrgicos da Igreja Católica.
6. Da Lei ao Pentateuco
Os judeus, ainda hoje, chamam Lei aos primeiros cinco livros da sua Escritura (para
nós, cristãos, o Antigo Testamento), um nome por que, de resto, também é conhecida no
Novo Testamento. Mas Lei, porquê? Tanto mais que a correspondente palavra hebraica
é Tora – um termo proveniente de um verbo que significa “lançar”, o qual, entre outros
usos, era aplicado às palavras que se “lançavam” na catequese administrada ao povo.
Por isso, em regra, Tora deveria traduzir-se por instrução ou ensinamento.
Só que o conteúdo dessas catequeses tinha um valor obrigatório, próprio de uma lei.
Não porque fosse constituído só por leis. Há muita legislação, e de vários géneros,
nesses primeiros livros da Bíblia. Mas a maior parte dos textos são de teor histórico. E
as leis que contêm tornam-se muito mais obrigatórias, devido aos acontecimentos em
que aparecem situadas, e que foram e continuam a ser vitais para o povo que deles
nasceu e vive: o êxodo do Egipto e a aliança realizada no Sinai – o primeiro, para acabar
um extermínio mortífero; a aliança, para garantir o futuro de uma existência na
autonomia e na paz. E ambos, com Deus, o Senhor, como protagonista determinante.
Porque se tratava de acontecimentos fundacionais, precisavam de ser permanentemente
atualizados e em todos os âmbitos da vida do povo, sobretudo no culto, com as
celebrações e as catequeses que dele faziam parte. Delas foram-se formando, de geração
em geração, tradições cujo conteúdo básico era adaptado a novas circunstâncias
históricas pelas quais o povo ia passando.
Até que chegou uma altura em que essas tradições se revelaram vitalmente ainda mais
preciosas: quando, com a destruição de Jerusalém, em 587, e a deportação para a
Babilónia, desapareceram outras instituições fundamentais para a existência do povo,
como eram o território, o templo e o rei. Restava aos sobreviventes exilados a memória
das origens, transmitida oralmente e por escrito. E foi a isso que eles se agarraram para,
mesmo em terra estranha, manterem a sua identidade.
Foi então que, para isso, um grupo de peritos, predominantemente de ascendência
sacerdotal, recolheu essas tradições e as organizou numa obra a que chamaram Livro da
Lei de Moisés, que se tornou leitura obrigatória, primeiro para os judeus que viviam na
diáspora e, depois, também para os da Palestina. Passaram, para isso, a reunir-se, cada
sábado, em edifícios a que chamam, ainda hoje, sinagogas. Se este povo tem conseguido
sobreviver a todas as vicissitudes por que tem passado ao longo da sua história, deve-o
fundamentalmente a este livro que, entretanto e ainda antes da era cristã, foi acrescido
com os restantes livros da sua Escritura.
Os cristãos, a partir de Jesus Cristo e dos Apóstolos, adotaram-o também como livro
sagrado. Mas com uma diferença: o livro da Lei deixou de ter, para eles, o lugar
insubstituível que hoje ainda conserva nas sinagogas judaicas. Com Cristo, a antiga
aliança, sem ser revogada, é completada por uma nova e eterna aliança. E, nessa, o lugar
principal passou a ser ocupado pelos livros que mais d’Ele falam: os Evangelhos. E,
talvez por isso, passaram a chamar ao livro da Lei, Pentateuco – os “cinco livros”
iniciais da Bíblia.»
Guia do Catequista, pp. 231-234 e 249-252.
ILUMINADOS PELO EVANGELHO
Leitura bíblica e reflexão, com a possibilidade dos participantes fazerem a
sua partilha – 30 min.
Para preparar a leitura podem ser usados os mapas da Palestina que estão na Pasta
de Material Pedagógico Auxiliar do Catecismo 4, que situam a Galileia e Nazaré.
Lê-se Lc 4, 14-21.
“Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda
a região. Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam. Veio a Nazaré, onde tinha sido
criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para
ler.
Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em
que está escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres;
enviou-me a proclamar a libertação aos cativos
e, aos cegos, a recuperação da vista;
a mandar em liberdade os oprimidos,
a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.»
Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam
na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje
esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.»”
O texto é interiorizado através da Lectio Divina, como temos vindo a fazer:
1 – O que diz o texto bíblico em si?
Lc 4, 14-21: Naquele primeiro sábado, depois de Jesus ter sido batizado, e voltou para
Nazaré, sua terra, conforme nos conta S. Lucas. Jesus faz a leitura na sinagoga e depois
explica-a, como se se tratasse de uma catequese. S.Lucas é bastante metódico na sua
explicação: primeiro, diz S. Lucas que Jesus desenrolou o livro. Depois, que o enrolou.
O rolo que então entregaram a Jesus, tinha sido escrito por Isaías, que viveu muito
séculos antes de Jesus. O que é que podem significar as suas palavras aplicadas a Jesus?
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu”.
Quando é que o Espírito Santo desceu sobre Jesus, de um modo especial?... Vimos isso
há pouco tempo: foi no seu Batismo.
Repararam no que S. Lucas escreve no versículo 14? ... Já foi o Espírito Santo que fez
Jesus voltar para a Galileia e é o Espírito Santo que lhe dá a força e sabedoria
necessárias para cumprir o que Deus quer dele. E reparem: “porque me ungiu”. A unção
sabemos que consiste em ser untado ou ungido com azeite, pois o azeite fortalece. E
desde tempos imemoriais, anteriores ao nascimento de Jesus, quem era especialmente
ungido era o rei e, mais tarde, o sacerdote, e até chegou a ser também o profeta. Eram
ungidos para desempenharem bem a sua missão especial, a missão que lhes tinha sido
dada por Deus. Deus, que pelo seu Espírito Santo, lhes conferia coragem e sabedoria. O
título que se dava ao rei, por causa desta unção, era Cristo (em grego) ou Messias (em
hebraico) e foi assim que os discípulos de Jesus lhe começaram a chamar.
Se a unção dava o Espírito Santo e Jesus recebeu o Espírito Santo no Batismo, então
pode dizer-se que Ele foi ungido no Batismo… mesmo sem azeite. Se o Espírito Santo
era recebido de outra maneira, então podia dizer-se que a pessoa que o recebia está
ungida… pelo Espírito Santo. Portanto, também estas palavras de Isaías se aplicavam a
Jesus: Ele tinha recebido a unção do Espírito Santo, no seu Batismo.
E para que é que Ele recebeu o Espírito Santo, tal como refere o versículo 18: “Para
anunciar a Boa Nova aos pobres”… Uma boa notícia para os deserdados, os cativos, os
cegos, os oprimidos pelo mal que lhes era infligido e, também, pelo mal que
praticavam. Foi para salvar a pessoa do sofrimento que Jesus foi ungido com a força e a
sabedoria do Espírito Santo. Com Jesus ia, assim, começar um tempo novo. Aquele de
que fala Isaías no versículo 19…
Com Jesus, o Ungido pelo Espírito Santo, começava um ano de graça, de felicidade.
Um ano, aqui, significa uma época, um tempo novo, de muita alegria.
2 – Que nos diz o texto bíblico a nós?”
Durante um breve momento de silêncio, cada um é convidado a reler o texto a partir
desta questão: o que me diz a mim este texto?
3 – Que dizemos nós ao Senhor, em resposta à sua Palavra?”
O animador convida a um breve momento de partilha…
4 – Que conversão da mente, do coração e da vida nos pede o Senhor?”
O catequista convida os pais/famílias a registarem a proposta de conversão da mente, do
coração e da vida num cartão, para que esta proposta possa ser posta em prática, tanto
individualmente como em casal.
Segue-se um momento de oração:
“Deus Pai, que velas sobre o teu povo há muitas gerações,
com o escriba Esdras e toda a sua comunidade nós também confessamos:
a alegria do Senhor é a nossa proteção.
Bendito sejas Tu para sempre.
Nós Te recomendamos todos os nossos irmãos e irmãs na fé
que trabalham para fazer conhecer,
compreender e amar a Palavra nas Santas Escrituras”.
“Pai, nós Te damos graças pelo corpo de Cristo,
ao qual nos incorporaste pelo batismo e confirmação,
para que sejamos membros vivos desse corpo.
Nós Te pedimos pelos apóstolos, os profetas, os catequistas
e todos os que têm missões na Igreja.
Guarda-nos a todos na unidade”.
“Cristo Jesus, nosso mestre e nosso irmão,
bendito sejas Tu, porque realizaste as palavras dos profetas.
Reconhecemos em Ti a presença do Espírito em toda a sua plenitude.
Tu és para nós o libertador, a luz e o benfeitor soberano.
Nós Te pedimos pela tua Igreja:
que ela traga a Boa Nova,
que ela anuncie a libertação do mal e revele a luz do mundo”.1
No final, o(a) Animador(a) dedica algum tempo para dar sugestões aos pais sobre
o Diálogo em Família na semana seguinte, seguindo o Guia dos Pais, pp. 87-98.
Também se lhes deve explicar que serão pedidas às crianças duas séries de leituras de
textos bíblicos de Lucas e Mateus, pedindo aos pais para acompanharem as crianças
nessas tarefas de modo que o Compromisso (das Catequeses 11 e 12) seja um
verdadeiro compromisso em Família.
II.
Catequese das crianças:
“Hoje cumpriu-se a passagem da escritura que ouvistes” (Lc 4, 21) / “Eu sou aquele
que sou”(Ex 3, 14)
O(a) Catequista, depois do acolhimento adequado, começa por provocar as
crianças a partilharem o que aconteceu no Diálogo em Família.
Em seguida, o(a) Catequista faz a catequese 11, “Hoje cumpriu-se a passagem da
escritura que ouvistes” (Lc 4, 21) (Guia do Catequista, pp.231- 265) revendo com as
crianças os conteúdos trabalhados em casa e relativos à Experiência Humana e à
introdução e conclusão da Palavra. Depois, o texto de Lucas é lido em clima de oração,
pedindo-se às crianças que procurem agradecer a vinda de Jesus e tudo o que a sua
encarnação significa para «um ano favorável da parte do Senhor». Pode pedir-se às
1
De http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=446, em dezembro de 14.
crianças que ilustrem os sentimentos de alegria e esperança que as palavras do Profeta
lhes transmitem, para depois oferecerem às suas famílias.
Depois, o Catequista trabalha com as crianças a Expressão de Fé, em torno dos
demais textos de Lucas (Lc 2, 1-14; Lc 5, 17-26; Lc 19, 1-10; Lc 23, 33-43) e incluindo
o Compromisso, ao qual se pode agregar a proposta de ensaiarem em casa e cantarem
todos os dias o Cântico «Hoje, o Senhor está connosco». Notará que estes textos são
também a base da Experiência Humana da Catequese 12, “Eu sou aquele que sou” (Ex
3, 14).
Tomando como articulação entre as catequeses a proposta de conclusão da
Experiência Humana atrás referida, o Catequista pode propor a Palavra da Catequese
12, Ex 3, 1-14, um texto através do qual Deus se revela e se manifesta – a Moisés e a
nós – descrevendo uma mudança radical nos destinos do seu Povo, uma passagem da
morte para a vida, da tristeza para a esperança. É importante e agradável para as
crianças escutarem as explicações que são fornecidas pelo ponto 1. da Palavra. E, depois
de lido o texto, deve concluir-se com as explicações contidas no ponto 3. da Palavra e
terminar a Catequese com o cântico indicado. Sugere-se, como complemento ao
Compromisso que está indicado no final da Catequese 12, a leitura de Mt 1, 18-25; Mt
18, 19-20 e Mt 28, 16-20, tal como inscrito no Catecismo, p. 56. As leituras dos textos
serão acompanhadas pelos pais, pelo que as crianças têm boas possibilidades de as
conseguir realizar.
3ª Semana
Diálogo em Família
«Fala, senhor: teu servo escuta» (1 Sam 3, 10)/
«O Senhor é meu Pastor»(Sl 22/23, 1)»
Acompanhar a explicação com a apresentação do Guia dos Pais nas páginas 8792 e 93-98.
Em casa, os pais vão ajudar as crianças a compreender que Deus chama algumas
pessoas para serem os seus intérpretes, os Profetas, descobrindo assim um novo
conjunto de livros da Bíblia. Mas Deus chama cada um de nós, tal como chamou o
menino Samuel, pelo nome. E quando nós respondemos ao Senhor, descobrimos no
nosso coração que Ele é «Meu Pastor»! E porque o Senhor é como um pastor muito
cuidadoso e amoroso com as suas ovelhas, sabemos que, tendo uma fé boa e verdadeira,
nada de importante nos faltará, tal como descreve o Profeta Ezequiel em Ez 34, 13.6.9.11.14-16. Conclui-se com a leitura de Jo 10, 1-18, da qual as crianças estão
convidadas a retirar as palavras que lhe pareceram mais belas!
4ª Semana
Domingo em Família
O Senhor é meu Pastor, nada me falta
Este encontro acontece na paróquia antes da Eucaristia. Simultaneamente, os pais
e os filhos têm os seus encontros e preparam-se para participar de uma forma mais ativa
(porque toda a participação deve ser ativa) na celebração eucarística da comunidade. Os
pais podem partilhar com a comunidade a forma como procuram corresponder à
chamada do Senhor, como leigos que são, no mundo e na Igreja. Esta partilha pode ser
feita com uma breve introdução às leituras da celebração: introduzindo as leituras,
chamam também a atenção para a importância da escuta da Palavra, e reforçam esta
importância com a descoberta que têm feito em casa com os filhos no contexto da
Catequese Familiar. As crianças podem ilustrar pequenos cartões com o Salmo 22/23, a
que os pais juntarão algumas frases resultantes da sua reflexão que a seguir se indica, e
que serão oferecidos à comunidade de fé no final da eucaristia. Sendo possível, também
podem organizar um «Café com testemunho» para o final da eucaristia, um pequeno
convívio com os demais paroquianos em que o resultado da reflexão é oferecido através
de pequenas apresentações orais, cartazes, projeções, … sobre como «os fiéis leigos são
pessoalmente chamados pelo Senhor, de quem recebem uma missão para a Igreja e para
o mundo».
I.
Encontro de Pais:
«Chamados pelo Senhor»
No encontro dos pais, o(a) Animador(a) tendo presente que estes abordarão com
os filhos, em casa, as catequese 13 e 14 do Catecismo da criança, «Fala, Senhor: o teu
servo escuta (1 Sam 3, 10)» e «O Senhor é meu Pastor (Sl 22/23, 1)» (pp.57 a 64).
EXPERIÊNCIA HUMANA
Trabalho em pequenos grupos – 20 min.
Depois do acolhimento inicial, os pais, em pequenos grupos, refletem partindo do
seguinte texto, que lhes é entregue fotocopiado:
“A chamada não diz respeito apenas aos Pastores, aos sacerdotes, aos religiosos e
religiosas, mas estende-se aos fiéis leigos: também os fiéis leigos são pessoalmente
chamados pelo Senhor, de quem recebem uma missão para a Igreja e para o
mundo. Lembra-o S. Gregório Magno que, ao pregar ao povo, comentava assim a
parábola dos trabalhadores da vinha: «Considerai o vosso modo de viver, caríssimos
irmãos, e vede se já sois trabalhadores do Senhor. Cada qual avalie o que faz e veja se
trabalha na vinha do Senhor».2
De um modo especial o Concílio, com o seu riquíssimo património doutrinal, espiritual
e pastoral, dedicou páginas maravilhosas à natureza, dignidade, espiritualidade, missão
e responsabilidade dos fiéis leigos. E os Padres conciliares, feitos eco do chamamento
de Cristo, convidaram todos os fiéis leigos, homens e mulheres, a trabalhar na Sua
vinha: «O sagrado Concílio pede instantemente no Senhor a todos os leigos que
respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz
de Cristo, que nesta hora os convida com maior insistência, e ao impulso do Espírito
Santo. De modo particular os mais novos tomem como dirigido a si próprios este
chamamento e recebam-no com alegria e magnanimidade. Com efeito, é o próprio
Senhor que, por meio deste sagrado Concílio, mais uma vez convida todos os leigos a
que se unam a Ele cada vez mais intimamente, e, sentindo como próprio o que é d'Ele
(cf. Fil 2, 5), se associem à Sua missão salvadora. 11 Ele quem de novo os envia a todas
as cidades e lugares aonde Ele há de chegar (cf. Lc 10, 1) ».3 …
Ao mesmo tempo, o Sínodo acentuou como o caminho pós-conciliar dos fiéis leigos não
tem estado isento de dificuldades e de perigos. Em especial podem recordar-se duas
2
3
S. Gregorio Magno, Hom. in Evang. I, XIX, 2: PL 76, 1155.
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 33.
tentações, de que nem sempre souberam desviar-se: a tentação de mostrar um exclusivo
interesse pelos serviços e tarefas eclesiais, por forma a chegarem frequentemente a uma
prática abdicação das suas responsabilidades específicas no mundo profissional, social,
económico, cultural e político; e a tentação de legitimar a indevida separação entre a fé
e a vida, entre a aceitação do Evangelho e a ação concreta nas mais variadas realidades
temporais e terrenas.”
Christifideles laici, Papa João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-sinodal, Sobre a
vocação e missão dos leigos na igreja e no mundo, 30 de Dezembro1988, 2.
“que os fiéis leigos escutem o chamamento de Cristo para trabalharem na Sua vinha,
para tomar parte viva, consciente e responsável na missão da Igreja, nesta hora
magnífica e dramática da história.”
Christifideles laici 3.
“Ao responder à pergunta «quem são os fiéis leigos», o Concílio, ultrapassando
anteriores
interpretações
prevalentemente
negativas,
abriu-se
a
uma
visão
decididamente positiva e manifestou o seu propósito fundamental ao afirmar a plena
pertença dos fiéis leigos à Igreja e ao seu mistério e a índole peculiar da sua vocação, a
qual tem como específico «procurar o Reino de Deus tratando das coisas temporais e
ordenando-as segundo Deus».4«Por leigos — assim os descreve a Constituição Lumen
gentium — entendem se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem
ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em
Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu
modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca,
na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão».5
Já Pio XII, dizia: «Os fiéis, e mais propriamente os leigos, encontram-se na linha mais
avançada da vida da Igreja; para eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade humana.
Por isso, eles, e sobretudo eles, devem ter uma consciência, cada vez mais clara, não só
de pertencerem à Igreja, mas de ser a Igreja, isto é, a comunidade dos fiéis sobre a terra
4
5
Conc. Ecum. Vat. II,, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 31.
Ibid., 31.
sob a guia do Chefe comum, o Papa, e dos Bispos em comunhão com ele. Eles são a
Igreja...».6”
Christifideles laici 9.
«Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15), renovando
o seu impulso missionário. Uma grande, empenhativa e magnífica tarefa é confiada à
Igreja: a de uma nova evangelização, de que o mundo atual tem tanta necessidade. Os
fiéis leigos devem sentir-se parte viva e responsável desta tarefa, chamados como são a
anunciar e a viver o Evangelho ao serviço dos valores e das exigências da pessoa e da
sociedade.
Christifideles laici 33.
“Não há dúvida de que a formação espiritual deve ocupar um lugar privilegiado na vida
de cada um, chamado a crescer incessantemente na intimidade com Jesus Cristo, na
conformidade com a vontade do Pai, na dedicação aos irmãos, na caridade e na justiça.
Escreve o Concílio: a Esta vida de íntima união com Cristo alimenta-se na Igreja com as
ajudas espirituais que são comuns a todos os fiéis, sobretudo a participação ativa na
sagrada Liturgia, e os leigos devem socorrer-se dessas ajudas, de modo que, ao cumprir
com retidão os próprios deveres do mundo, nas condições normais da vida, não separem
da própria vida a união com Cristo, mas, desempenhando a própria atividade segundo a
vontade de Deus, cresçam nela».7”
Christifideles laici 60.
Questões para a reflexão:
Temos consciência de que somos chamados pessoalmente por Deus? E a que nos
chama, concretamente na nossa vida de leigos? Correspondemos a esse «trabalho na
vinha»?
Esta nossa experiência de Catequese Familiar, na linha da formação espiritual, de que
fala o texto, em que medida nos tem ajudado a identificar e a viver o chamamento do
6
Pio XII, Discurso aos novos Cardeais (20 de Fevereiro de 1946): AAS 38 (1946), 149.
7
Conc.. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 4.
Senhor: no casamento, na família, na educação dos filhos, na vida da comunidade de fé?
De algum modo também nos tem ajudado a viver cristãmente o nosso trabalho e
amizades, e junto de todos, a testemunhar a nossa fé? Temos uma perspetiva equilibrada
de todas as nossas responsabilidades, à luz da nossa vocação cristã? Que lugar tem na
nossa vida a participação na Liturgia?
REFLETINDO
Em assembleia: partilha e aprofundamento – 25 min.
Depois da partilha em plenário, o(a) Animador(a) leva os pais a situar-se mais
profundamente no contexto do chamamento que Deus lhes faz, pessoalmente, pelo seu
nome, mais uma vez socorrendo-se do percurso de aprendizagem sobre a Palavra de
Deus que está a ser proposto às crianças
«1. “Livros históricos” – que história?
“Livros históricos” é o título que, em muitas edições cristãs da Bíblia, se atribui aos
livros que começam com o de Josué e terminam com o segundo livro dos Macabeus.
Mas há edições que dão o mesmo título aos do Pentateuco, partindo do princípio de que
também eles, sendo predominantemente narrativos, falam de história.
As edições que fazem uma distinção, apoiam-se na divisão seguida pelos judeus: para
eles, pelas razões vistas na catequese anterior, o Pentateuco forma um grupo à parte: o
dos “livros da Lei (de Moisés)”. Aos que se seguem (os nossos “Livros Históricos”)
chamam “Profetas Anteriores”. De facto, fala-se neles de vários profetas, a começar por
Samuel. Sendo profetas que nada deixaram escrito, distinguem-se dos profetas
escritores (Isaías e os seguintes), que os judeus intitulam de “Profetas Posteriores”.
Esta distinção e denominação, na versão judaica da Bíblia (conhecida também por
“texto massorético”), acaba por ser útil para compreendermos em que sentido são de
entender os “Livros Históricos”. Isto é, que género de história é descrita neles e no resto
da Bíblia. Será no mesmo sentido em que, modernamente e sobretudo em meios
científicos, se fala de história?
A questão tem sido levantada, também e principalmente, acerca da relação entre o
conteúdo da Bíblia e o de outras ciências, nomeadamente a cosmologia, a biologia e a
antropologia, que tratam da origem e formação da vida no universo. Ainda hoje, há
quem provoque conflitos sobretudo em relação aos dois primeiros capítulos do Génesis:
entre o chamado criacionismo (pretensamente seguido nesses capítulos) e o
evolucionismo (mais ou menos defendido pelas referidas ciências naturais).
Quem ainda assim pensa, esquece um princípio fundamental numa interpretação séria
de qualquer texto: o seu género literário. Quem não sabe ou não quer distinguir, por
exemplo, um romance de um livro científico, é, no mínimo, ofensivo para quem os
escreveu. E, sendo um docente, não respeita aqueles a quem ensina.
A Bíblia não é, no todo e em cada parte, um livro científico. Falando de acontecimentos
da história, interpreta-os à luz da fé e de Deus, para alimentar essa mesma fé. No seu
conjunto, apresenta uma Verdade que, segundo o II Concilio do Vaticano, foi nela
“consignada por Deus, para nossa salvação” (DV 11). É só nesse sentido e com esse
objetivo, que os seus autores se serviram de dados da história (ou de outras ciências),
sem se preocuparem, primariamente, com a sua exatidão científica. Interessava-lhes,
acima de tudo, ver o dedo de Deus nos acontecimentos que narraram. E só nesse campo
é de julgar a sua exatidão… também pelos homens e mulheres de ciência que, aliás e em
muitos casos, são também homens e mulheres de fé, que se alimentam, primariamente, a
partir da Sagrada Escritura, interpretada – e bem – como Palavra de Deus, o Senhor de
tudo o que acontece na história.
Sobre esta amistosa relação entre fé e ciência pode ler-se o Catecismo da Igreja
Católica, nº 159 ou ainda os nºs 282-289, estes mais sobre a criação e o modo como dela
se deve falar na catequese.
É, portanto, com os olhos da fé que, primariamente, devem ser lidos os “Livros
Históricos” da Bíblia: como parte da história da salvação e para a salvação de quem os
lê – designadamente o texto de 1 Sam 3, 1-10 que narra:
2. A vocação de Samuel – juiz e profeta
Samuel exerceu um papel decisivo numa das fases mais importantes da história do povo
de Deus: a passagem do período dos juízes (séc. XII – XI a.C.) para o regime
monárquico (séc. X – VI). Foi ele o último dos juízes, que tinham a missão de manter a
unidade religiosa, entre as doze tribos, julgando, para isso, questões ou situações que a
podiam pôr em perigo. Perante a necessidade de uma organização maior, também nos
campos político e militar, foi ele que, por mandato de Deus, ungiu os primeiros reis –
Saul e David – com os quais nasceu o primeiro estado de Israel. Como chegou ele a esse
patamar?
Ainda bebé, foi levado por Ana, sua mãe, para o santuário de Silo, onde, na altura, se
encontrava a “Arca da Aliança” (1 Sam 1-2). Aí, na presença de Deus, cresceu entre os
sacerdotes do templo, presididos por Heli. Iria ser, também ele, um simples sacerdote
como os outros, se…
Deus, que no seu amor o “conhecia” desde o seio materno (1 Sam 1), reservava-o para
uma missão superior à de um comum ministro do altar: admiti-lo, como seu profeta, na
sua intimidade, para receber as suas revelações e delas ser medianeiro.»
Guia do Catequista, pp. 267-268.
ILUMINADOS PELO EVANGELHO
Leitura bíblica e reflexão, com a possibilidade dos participantes fazerem a
sua partilha – 10 min.
Lê-se 1 Sam 3, 1-10.
“O jovem Samuel servia o Senhor sob a direção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava
raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava
deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus
ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus.
O Senhor chamou Samuel. Ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de
Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu
filho; volta a deitar-te.» O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio
dizer a Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho;
volta a deitar-te.»
Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a
palavra do Senhor. Pela terceira vez, o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter
com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o Senhor quem
chamava o menino e disse a Samuel: «Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra
vez, responde: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. Veio o
Senhor, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E
Samuel respondeu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!»”
Leitura orante do texto:
1 – O que diz o texto bíblico em si?
«1 Sam 3, um texto a ler e a interiorizar, sob a orientação do mesmo Espírito com que
foi escrito: primeiro, no que diz respeito à deterioração religiosa em que o povo estava
progressivamente a cair. Aqueles que mais deviam escutar o Senhor, os filhos de Heli,
sacrificavam aos próprios interesses tanto o culto, só a Deus devido, como o bem do
povo (2, 13ss). Por isso, o Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não
eram frequentes (3,1). Destacava-se, já então, Samuel, que até a noite passava junto da
Arca de Deus (3,3).
E é precisamente aí, na escuridão e silêncio da noite, que se faz ouvir a voz de Deus. A
princípio de um modo indistinto. Daí que o jovem, ansioso por discernimento, recorra
ao conselho de Heli. Só à terceira vez, o sacerdote se apercebe de que era o Senhor
quem chamava o menino. E a resposta só poderia ser esta: Fala, Senhor: o teu servo
escuta! (3,10).
Nela se exprime a máxima entrega e disponibilidade: dar-se como servo, todo ouvidos
às palavras do seu Senhor. Outras figuras, marcantes para os destinos do povo de Deus,
se tinham sujeitado – ou haveriam de fazê-lo – totalmente ao Senhor como seus servos:
Moisés (Nm 12, 7-8); Josué (Jos 24, 29); David (2 Sam 7,5); todos os profetas (p. ex.
Zac 1, 6)… até àquele que haveria de ficar conhecido por “servo de IaHWeH” (Is 42,1;
50, 4-5) e que, pelo modo como na vida e na morte se entregou a Deus Senhor, iria ser
modelo para Jesus Cristo: também Ele, tomando a condição de servo, (…) rebaixou-se a
si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte da cruz (Fil 2, 7-8).
Todos eles são figuras nas quais, devido a esta sujeição, Deus se tornou presente de um
modo tão intenso, que foram assim constituídos seus especiais mediadores,
nomeadamente como profetas, isto é, boca de Deus (Os 6,5; Jer 15, 19). Foi sobretudo
dos seus testemunhos de fé, das suas bocas e mãos, que, direta ou indiretamente, se
formou a Sagrada Escritura, a Palavra que o Senhor nos diz, para sermos, também nós,
seus mensageiros, numa variedade de carismas e missões em que se inclui também:
Nota: não sei se incluiria a parte que se segue da vocação a ser catequista neste contexto
de lectio com os pais… Eventualmente deixaria apenas a referência sem o
desenvolvimento todo do nº 3; Qualquer coisa como: em que se inclui também a
vocação a ser catequista, ou, como pais, a ser testemunhas da fé para os filhos, na
comunidade e nos diversos meios sociais e profissionais em que estamos inseridos.
3. O catequista – uma vocação
Talvez nem todos tenham consciência disso, mas é verdade: para alguém ser catequista,
precisa de ter vocação.
A começar, obviamente, pela vocação básica: os sacramentos da iniciação cristã –
Batismo, Confirmação e Eucaristia – “são o fundamento da vocação comum de todos os
discípulos de Cristo – vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. E
conferem as graças necessárias para a vida segundo o Espírito, nesta existência de
peregrinos em marcha para a Pátria” (CIC 1533).
Uma vocação na Igreja em que se é então inserido e, como tal, para o apostolado: “Toda
a Igreja é apostólica, na medida em que, através dos sucessores de Pedro e dos
Apóstolos, permanece em comunhão de fé e de vida com a sua origem. Toda a Igreja é
apostólica, na medida em que é «enviada» a todo o mundo. Todos os membros da
Igreja, embora de modos diversos, participam deste envio. «A vocação cristã é também,
por natureza, vocação para o apostolado». E chamamos «apostolado» a «toda a
atividade do Corpo Místico» tendente a «alargar o Reino de Cristo à terra inteira» (AA
2)” (CIC 863).
É dentro desta vocação comum para o apostolado que “alguns leigos se sentem
chamados interiormente por Deus a assumirem a tarefa de catequistas. A Igreja suscita,
faz o discernimento desta vocação divina, e confere a missão de catequizar. Deste
modo, o Senhor Jesus convida, de uma forma específica, homens e mulheres para O
seguirem como Mestre e formador dos discípulos. Este chamamento pessoal de Jesus
Cristo e a relação com Ele são o verdadeiro motor da ação do catequista: «é deste
conhecimento amoroso de Cristo que jorra o desejo de O anunciar, de evangelizar e de
levar outros ao ‘sim’ da fé em Jesus Cristo» (CIC 429)” (DGC 231).
Trata-se, portanto, de uma graça – a do infinito amor de Deus em Cristo, que tem
sempre a iniciativa. Ainda que o convite possa surgir através de alguém, dentro e até
fora da Igreja (o amor de Deus não tem limites), quem, de facto, chama é o Deus que se
revela e atua, principalmente, em Cristo. É Ele que toca o coração de todos aqueles que
acolhem o seu amor e por ele se deixam transformar.
E, sendo uma graça recebida, tem de ser vivida como graça ou, se preferirmos, como
carisma – a graça personalizada e em ação em quem a recebe. Um carisma que se
exprime numa total dedicação: a graça, com a gratuidade que lhe é própria, não se pode
deixar limitar por nada. Nem sequer pelas carências humanas: tantas vezes é a
consciência que se tem delas que nos leva a entregar-nos ainda mais ao Deus que tudo
pode. Veja-se aquilo de que Ele foi capaz em Cristo – precisamente na sua maior
limitação humana, a sua morte.
Por tudo isto, a vocação tem de estar em permanente realização. Deus, porque nos ama,
está sempre a chamar: por exemplo, para cada encontro de catequese, através da Palavra
que aí transmite aos catequizandos, servindo-se do catequista que a acolhe e dela dá
testemunho… como seu servo!»
Guia do Catequista, pp. 268-270.
2 – Que nos diz o texto bíblico a nós?”
Durante um breve momento de silêncio, cada um é convidado a reler o texto a partir desta
questão: o que me diz a mim este texto?
3 – Que dizemos nós ao Senhor, em resposta à sua Palavra?”
O animador convida a um breve momento de partilha…
4 – Que conversão da mente, do coração e da vida nos pede o Senhor?”
O catequista convida os pais/famílias a registarem a proposta de conversão da mente, do
coração e da vida num cartão, para que esta proposta possa ser posta em prática, tanto
individualmente como em casal.
Depois de realizada a tarefa, continua:
«4. Profetas – pessoas incómodas
Popularmente, são mais conhecidos como pessoas que predizem o futuro. Uma espécie
de adivinhos. Mas, nem sequer o termo, na sua origem grega, tinha inicialmente esse
sentido: Profêtês começou por indicar o porta-voz de uma divindade perante o povo.
Mas, como nos lugares em que alguns deles atuavam (por exemplo, em Delfos, na
Grécia antiga) se procurava, acima de tudo, conhecer o futuro (que, ainda hoje, tantas
dores de cabeça nos causa), só por isso é que o termo adquiriu o sentido secundário de
previsor.
É possível que, para esta aceção, tenha contribuído também uma interpretação cristã da
missão dos profetas do Antigo Testamento: a de que Deus os enviou para vaticinarem e
prometerem o Messias futuro. Uma interpretação, porém, que a própria Bíblia contradiz:
nela, são relativamente poucos os textos exclusivamente messiânicos, provenientes de
profetas. O que não impediu que, posteriormente, muitos outros textos do Antigo
Testamento tenham sido aplicados pelos cristãos a Jesus Cristo – e bem – como
plenitude da revelação de Deus.
Já o correspondente termo hebraico mais frequente no Antigo Testamento – nabi –
significa o chamado (por Deus) para ser chamador (do povo). Uma missão, já então,
incómoda, antes de mais, em relação a quem o profeta era enviado por Deus. Aqueles
que, na Bíblia, ficaram reconhecidos como tal (porque falsos profetas, sempre os
houve), esses tornaram-se necessários como voz crítica, vinda de Deus, para corrigir
instituições políticas e cultuais de sucessivos desvios da sua missão em favor do povo.
Por isso, o profetismo teve o seu período áureo no tempo da monarquia (a partir do séc.
XI) e aí, principalmente, em dois dos períodos mais atormentados da existência de
Israel: quando foram destruídos, respetivamente, os reinos do norte (722) e do sul (587).
Foi sobretudo então que estes homens de Deus questionaram o status quo em que se
estava a cair. E isto, em duas perspetivas, conforme a situação:
– Como críticos, confrontavam o presente com o passado histórico: desmascaravam o
modo como principalmente os detentores de maiores responsabilidades atuavam – como
uma negação das origens e, consequentemente, da identidade do povo, que assim corria
sério perigo de desaparecer. Quando isso veio de facto a acontecer, então passaram a
atuar sobretudo:
– Como visionários, olhando para o futuro: não se resignavam a desgraças, mas no meio
delas, anunciavam um mundo novo, no qual não só seria ultrapassada a realidade
presente (e passada), mas em que a história atingiria a sua consumação final.
Relativizavam assim quer o poder dos poderosos quer a impotência dos fracos. E
sempre em nome do mesmo Deus Criador e Senhor da história, por quem eram
permanentemente incomodados. Sim, a sua vida não foi fácil. Depararam-se com
constantes incompreensões, mesmo da parte do povo mais simples, e até com violentas
perseguições, vindas sobretudo dos detentores do poder. E teriam ficado para sempre
marginalizados, se a história não lhes viesse a dar razão, como, de facto, aconteceu.
Foi então que as suas palavras acabaram por ser aceites e até religiosamente
conservadas, principalmente naquela parte do Antigo Testamento, a que hoje
chamamos:
5. Os Livros Proféticos
São ao todo dezasseis: primeiro, os quatro maiores; a seguir, os doze menores
(excluindo alguns que estão agregados aos maiores). Mas não incluem a obra de todos
os profetas. Outros houve que são referidos noutros livros bíblicos: por exemplo, de
Moisés, reconhecido também como profeta, fala-se no Pentateuco; e de Samuel, Elias e
Eliseu (entre outros), nos chamados Livros Históricos (aos quais, por isso, os judeus
preferem chamar “Profetas Anteriores”). A diferença maior é esta: nos Livros
Históricos, estão a vida e obra, sobretudo, dos profetas mais antigos; nos Livros
Proféticos, está a obra dos posteriores e são muito escassos os dados biográficos.
Mas uns e outros foram redigidos, pelo menos definitivamente, em épocas, nalguns
casos, muito posteriores àquelas em que esses profetas viveram: depois e como
consequência da destruição de Jerusalém (587) e do exílio, principalmente na Babilónia,
que se seguiu. Foi no meio desse desastre que, a princípio, alguns dos sobreviventes e,
depois, a grande maioria dos restantes se aperceberam da verdade das anteriores
profecias: afinal os profetas tinham razão. Mais: afinal a catástrofe tinha sido prevista e,
como tal, pelo menos permitida por Deus, através dos seus mensageiros. Havia,
portanto, que redobrar na confiança nesse mesmo Deus – acolhendo, finalmente, a sua
mensagem, tal e qual a havia transmitido a esses seus enviados.
Foi neste contexto e com esta finalidade que todas as profecias foram sendo recolhidas e
definitivamente reunidas em livros. Em muitos casos, já haveria coleções delas,
provenientes de pessoas que, direta ou indiretamente, tinham convivido com esses
profetas e procuraram que as suas palavras se não perdessem. Agora, pelas razões
vistas, tornavam-se imensamente mais preciosas: com elas se poderia garantir o futuro
do povo de Deus e ajudá-lo a manter-se como tal.
Percebe-se assim qual era o objetivo da redação das profecias, em todas as suas fases:
não eram escritas para satisfazer a curiosidade dos vindouros, mas para atualizá-las,
adaptando-as a novas situações sócio-religiosas. Como na altura em que originariamente
foram proferidas tinham sido determinantes para a história do povo de Deus, também
nas fases em que foram fixadas por escrito deveriam responder a novos problemas.
Devido a esta permanente atualização, os textos foram, em muitos casos, sendo
acrescidos de novos textos. Um dos livros onde isso mais se nota é o de Isaías: para
além das profecias do profeta conhecido por esse nome e que viveu no séc. VIII a.C. em
Jerusalém (Is 1-39), estão nele contidas também as profecias de um outro profeta que
atuou entre os deportados para a Babilónia, próximo do fim do exílio (Is 40-55), e ainda
as de um terceiro que atuou em Jerusalém imediatamente a seguir ao fim do exílio,
portanto depois de 538 (Is 56-66). Sem esquecer que, pelo meio, se encontram textos
ainda mais posteriores, sobretudo no que toca ao Primeiro Isaías.
De resto, todos os livros proféticos obedecem a um esquema mais ou menos idêntico: a
uma primeira parte com profecias de condenação, segue-se uma segunda parte com
anúncios de salvação. No livro de Ezequiel (constituído profeta depois de ter sido
exilado para a Babilónia) são, respetivamente, os capítulos 1-32 e 33-48. Faz, portanto,
parte da mensagem de salvação, originariamente dirigida aos exilados, aquilo que está
escrito em Ez 34, 1-31, sobre:
3. Deus como único pastor do seu povo
Lê-se Ez 34, 1-31.
“Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, profetiza contra
os pastores de Israel, profetiza e diz a esses pastores:
Assim fala o Senhor Deus: ‘Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos!
Não devem os pastores apascentar o rebanho? Vós, porém, bebestes o leite, vestistes-
vos com a sua lã, matastes as rezes mais gordas e não apascentastes as ovelhas. Não
tratastes das que eram fracas, não cuidastes da que estava doente, não curastes a que
estava ferida; não reconduzistes a transviada; não procurastes a que se tinha perdido;
mas a todas tratastes com violência e dureza.
Por isso, à falta de pastor, elas dispersaram-se e, na sua debandada, tornaram-se a presa
de todos os animais dos campos. As minhas ovelhas vagueiam por toda a parte, pelas
montanhas e pelas colinas elevadas; o meu rebanho anda disperso por toda a superfície
do país; ninguém se preocupa nem as vai procurar.’
Por isso, pastores, ouvi a palavra do Senhor: ‘Pela minha vida – oráculo do Senhor Deus
– porque as minhas ovelhas ficaram entregues à pilhagem e se tornaram a presa de todos
os animais dos campos, por falta de pastor; porque os meus pastores não se preocupam
com o meu rebanho; porque eles se apascentam a si mesmos e não apascentam o meu
rebanho’. Por isso, pastores, ouvi a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus: ‘Aqui
estou Eu contra os pastores! Vou tirar as minhas ovelhas das suas mãos e não permitirei
que apascentem mais as minhas ovelhas; e eles não se apascentarão mais a si mesmos.
Da sua boca arrancarei as minhas ovelhas, e elas nunca mais serão uma presa para
eles.’»
O Senhor é o Bom Pastor – Porque assim fala o Senhor Deus: «Eis que Eu mesmo
cuidarei das minhas ovelhas e me interessarei por elas. Como o pastor se preocupa com
o seu rebanho, quando se encontra entre as ovelhas dispersas, assim me preocuparei Eu
com o meu. Reconduzi-lo-ei de todas as partes por onde tenha sido disperso, num dia de
nuvens e de trevas. Arrancá-los-ei de entre os povos e os reunirei dos vários países, a
fim de os reconduzir à sua própria terra e os apascentar nos montes de Israel, nos vales e
em todos os lugares habitados da região.
Eu os apascentarei em boas pastagens; o seu pasto será nas montanhas elevadas de
Israel; estarão tranquilas em bons pastos; comerão em férteis prados, nos montes de
Israel. Sou Eu que apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar –
oráculo do Senhor Deus. Procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei a que se
tinha tresmalhado; cuidarei a que está ferida e tratarei da que está doente. Vigiarei sobre
a que está gorda e forte. A todas apascentarei com justiça.»
«A imagem do pastor é antiquíssima. Existe, quase se poderia dizer, desde que o
homem é homem; ou, pelo menos, desde que precisou de juntar e manter em rebanhos
os animais dos quais recebia meios de subsistência, como o leite e a carne, a pele e a lã.
Como, mesmo assim, sentia que a sua vida estava sujeita a contingências e perigos que
as capacidades humanas eram insuficientes para debelar, começou a chamar pastores a
divindades, reconhecidas como detentoras de todas as fontes de vida.
A imagem aparece-nos de vários lados na antiguidade: pelo menos, desde a
Mesopotâmia ao Egipto e à Grécia. E dos deuses passou aos reis, muitos deles
considerados de ascendência divina e, como tal, responsáveis máximos pela ordem do
mundo.
Talvez tenha sido por causa desta visão da monarquia que a imagem só foi adotada em
Israel a partir dos profetas Jeremias e Ezequiel. Mas, desde então, com relativa
frequência, tanto em relação ao rei e à restante classe dirigente como, sobretudo, a Deus.
No referido texto de Ezequiel isso é claro: tendo os responsáveis terrenos pela vida do
povo falhado na sua missão de o apascentar, como era seu dever, por isso o rebanho foi
disperso e se tornou presa de ferozes animais selvagens provenientes da Babilónia (34,
1-6); e, por essa mesma razão, o Senhor, como verdadeiro proprietário do rebanho, vai
assumir também a tarefa de o apascentar (34, 7-10), fazendo-o antes de mais, regressar
dos lugares onde se encontra disperso para a sua terra, em Israel (34, 11-16).
Para os exilados era uma mensagem de esperança: Deus, o Senhor, não tinha esquecido
o seu povo e haveria de restabelecê-lo numa paz e integridade semelhantes àquelas que,
no passado, lhe havia proporcionado depois de o libertar da escravidão do Egipto. Ou
seja, Ezequiel baseava-se no acontecimento salvífico fundacional. Afinal, as condições
em que o povo vivera no Egipto tinham sido bem piores; e o Deus que então se revelara
como Aquele que é ou existe, não podia negar-se a si mesmo. Mas, por enquanto (em
pleno exílio), as palavras do profeta não passavam de uma promessa… cheia de
esperança bem fundamentada.
É possível que só depois de se ter tornado realidade – com o fim do exílio em 538 – só
então tenha sido escrito o restante texto: 34, 17-22, onde se estabelecem regras para uma
sã convivência entre os membros do povo; e 34, 23-31, com a promessa de um
descendente de David, um Ungido ou Messias, para dirigir os destinos do povo.
Sobretudo este último ponto teve realização plena em Jesus Cristo – como o bom pastor
que, ao dar a vida pelas suas ovelhas, vai infinitamente mais além do que qualquer
pastor terreno é capaz de fazer (Jo 10, 1-21). Por isso é d’Ele e para Ele que vivem os
pastores que, até aos nossos dias, têm a missão de conduzir a sua Igreja… também
como profetas.»
Guia do catequista, pp. 285-288.
Oração final (encerra a Exortação Pós-sinodal Christifideles laici):
“Ó Virgem santíssima,
Mãe de Cristo e Mãe da Igreja,
com alegria e admiração
nos unimos ao teu Magnificat,
ao teu canto de amor reconhecido.
Contigo damos graças a Deus,
« cuja misericórdia se estende
de geração em geração »,
pela maravilhosa vocação
e pela multiforme missão
dos fiéis leigos,
que Deus chamou pelo seu nome
para viverem em comunhão de amor
e de santidade com Ele
e para estarem fraternamente unidos
na grande família dos filhos de Deus,
enviados a irradiar a luz de Cristo
e a comunicar o fogo do Espírito,
em todo o mundo,
por meio da sua vida evangélica.
Virgem do Magnificat,
enche os seus corações
de gratidão e de entusiasmo
por essa vocação e para essa missão.
Tu que foste,
com humildade e magnanimidade,
«a serva do Senhor »,
dá-nos a tua mesma disponibilidade
para o serviço de Deus
e a salvação do mundo.
Abre os nossos corações
às imensas perspetivas
do Reino de Deus
e do anúncio do Evangelho
a toda a criatura.
No teu coração de mãe
estão presentes os tantos perigos
e os muitos males
que esmagam os homens e as mulheres
do nosso tempo.
Mas, estão presentes também
as tantas iniciativas de bem,
as grandes aspirações aos valores,
os progressos feitos
em dar abundantes frutos de salvação.
Virgem corajosa,
inspira-nos força de ânimo
e confiança em Deus,
para que saibamos vencer
todos os obstáculos que encontramos
no cumprimento da nossa missão.
Ensina-nos a tratar as realidades do mundo
com vivo sentido de responsabilidade cristã
e na alegre esperança
da vinda do Reino de Deus,
dos novos céus e da nova terra.
Tu que estiveste no Cenáculo
com os Apóstolos em oração,
à espera da vinda do Espírito de Pentecostes,
invoca a Sua renovada efusão
sobre todos os fiéis leigos, homens e mulheres,
para que correspondam plenamente
à sua vocação e missão,
como vides da « verdadeira videira »,
chamados a dar « muito fruto »
para a vida do mundo.
Virgem Mãe,
guia-nos e apoia-nos para vivermos sempre
como autênticos filhos e filhas
da Igreja do teu Filho
e podermos contribuir para a implantação
da civilização da verdade e do amor sobre a terra,
segundo o desejo de Deus
e para a Sua glória.
Ámen.”
II.
Encontro das crianças
O Senhor é meu Pastor!
O(a) Catequista, depois de acolher as crianças e dialogar com elas sobre o
Diálogo em família, faz uma catequese, sintetizando as catequeses 13 («Fala, Senhor:
teu servo escuta (1 Sam 3, 10) » e 14 («O Senhor é meu Pastor (Sl 22/23)») seguindo o
Guia do Catequista, da página 267 a 299.
Deve começar por recuperar cuidadosamente o que as crianças aprenderam sobre
os Livros Históricos da Bíblia e questionando-as sobre a construção da «Arca da
Aliança» e os conceitos que lhe estão associados: os Mandamentos da Lei e o que
significa Aliança. O Catequista apresenta a Arca do grupo e dela retira uma imagem de
Samuel, para quem a atenção deve voltar-se. Samuel, um menino de idade aproximada
da das crianças… a quem Deus chama pelo nome. O texto 1 Sam 3, 6-10 deve ser lido
com calma e beleza, ajudando as crianças a interiorizar a experiência do chamamento.
Em casa já conversaram sobre como Deus nos chama e agora podem partilhar o que têm
pensado sobre isso… o que os faz sentir… O Catequista deve sublinhar o Batismo como
um momento especial do chamamento de Deus.
Mas, quem é este Deus que chama? Vamos conhecê-lo um pouco mais através de
Ezequiel, um Profeta. Quem são os Profetas? Onde podemos encontrar as suas
profecias? As crianças são convidadas a partilhar o que leram e analisaram nas páginas
61 e 63 do catecismo. Depois, o texto de Ezequiel é lido e comentado entre todos,
podendo concluir-se com o cântico «O Senhor é meu pastor: nada me faltará». Em todo
este processo, procure-se que as crianças se sintam envolvidas, já que o Senhor nos
chama a cada um pelo seu nome…
O encontro terminará com a Expressão de Fé: sem dificuldades o Catequista combina a
proposta da Catequese 13 com a da Catequese 14. Uma vez que as crianças estão cada
vez mais crescidas e já plenamente dentro da dinâmica da Catequese Familiar, o
encontro em grupo deve evoluir cada vez mais para a partilha do que se descobriu e
aprendeu em casa e a oração e celebração conjunta da fé. Se o grupo tiver evoluído o
suficiente, o Catequista também pode propor alguma forma de partilha das descobertas
que estão a ser feitas sobre a Bíblia, preparando as crianças para crescerem como
agentes de evangelização. Assim se completarão os Compromissos que o Catecismo 4
propõe, numa dádiva aos que talvez não conheçam ainda ou não conheçam tão bem a
riqueza da Palavra de Deus contida na Bíblia. Podem começar pela preparação dos
cartões com o Salmo 22/23, para oferecer à comunidade de fé no final da eucaristia e
que serão preparados em conjunto com os pais.
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