Texto - Carnaval em Cabril

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Um dia de Entrudo
Caretos, Entrudo, desfile e baile. Assim se viveu o Entrudo tradicional de Cabril.
As origens do Carnaval encontram-se nos antigos rituais romanos que celebravam o fim
do Inverno e o começo da Primavera. Esta época de Carnaval é constituída pelos três
dias que antecedem a quarta-feira de cinzas, no calendário religioso ocidental, em que
se inicia o período de abstinência de Quaresma, que tem duração de 40 dias. Daí o nome
Carnaval, “adeus carne” ou Entrudo, nome que recorda a entrada (introitus) na
Quaresma.
Em Cabril, perde-se no tempo a memória da origem do Entrudo, contudo, e mantende a
audácia e a vontade de participar, a aldeia ainda tem uma grande tradição relacionada
com esta festividade, fiel às tradições, que se encontra já profundamente enraizada na
identidade cultural e social da terra. A festa não se faz com plumas, nem com fantasias
de borboletas, palhaços ou super-homens. A figura típica é o Careto - com o disfarce
trapalhão - que usa máscaras com “aspecto ameaçador” e se fantasia com roupas e
objectos velhos, com o intuito de desenvolver a criatividade e a expressividade dos
mascarados, bem como divulgar a cultura ancestral das festas carnavalescas ligadas à
freguesia de Cabril. Depois de vestidas dessa forma, as pessoas tornam-se misteriosas e
os seus comportamentos mudam, ficando mais imprevisíveis, espontâneas e
“diabólicas”, sentindo-se completamente à vontade para executarem quase todo o tipo
de brincadeiras.
Este ano, os foliões do Entrudo contaram com o grupo de teatro Filandorra que
apresentou, no largo da aldeia, a peça “O Pranto de Maria Parda”, uma sátira à
sociedade que foi encenada de forma bem portuguesa, para divertir e aplaudir. Os
idosos do Centro Social e Paroquial de Cabril não ficaram indiferentes e juntaram-se à
festa. Assistiram à peça, montaram uma “barraquinha” para venda de doces e
apresentaram disfarces criativos confeccionados por eles. Em Cabril, esteve também a
TV Barroso e a Rádio Montalegre que, durante toda a tarde, fizeram cobertura do
acontecimento e entrevistaram alguns habitantes da freguesia.
Tradição que é tradição diz que no dia de Entrudo há duas coisas que se têm de cumprir:
comer um saboroso cozido ao almoço e “correr o Entrudo” pelas ruas da aldeia. Claro
está que, em Cabril, nada disso foi esquecido.
Um dos momentos altos do dia foi precisamente o desfile de Caretos que caminhou, ao
toque das concertinas e dos bombos, num “frenesim eléctrico”, sem grandes excessos e
desregramentos, até às aldeias vizinhas, onde pregaram partidas, dançaram, gritaram e
correram para atormentar as velhas e as crianças, tentando fazer rir quem assistiu ao
desfile e participou na folia. Todo o percurso do cortejo foi acompanhado pelos dois
típicos bonecos de Entrudo, o Pai Velho, puxado por um burro numa carroça, e o Filho,
puxado por dois chibos. Foi então válido o ditado “é carnaval, ninguém leva a mal”.
A nível alimentar, o Entrudo na aldeia foi celebrado com uma comida farta e gorda,
compreendendo carnes de porco. O prato da ocasião foi a orelheira de porco, o pé de
porco, o salpicão e a chouriça. Um outro aspecto alimentar do dia esteve nas sobremesas
específicas, entre as quais se destacaram as filhós, as rabanadas e a aletria.
Ao entardecer, e depois de feito o desfile pelas aldeias de Cabril, realizou-se o baile dos
caretos ao som de música alusiva ao dia e atribuíram-se os prémios aos que se
distinguem pelo melhor “disfarce trapalhão”. Coube ao júri a atribuição ou não de
prémios, dependendo da qualidade criativa e expressiva dos disfarces apresentados. Este
ano, o 3º prémio foi atribuído à Prostituta (David Oliveira), o 2º ao “Sou Mecânico só
ao Domingo” (Luís Gonçalves) e o 1º prémio foi dado ao disfarce de Padre (Hélder
Sousa).
A aldeia mergulhou numa “tonteira” de brincadeiras que só terminou com a queima do
Entrudo numa explosão de fogo. A acompanhar o cortejo fúnebre houve muitos prantos
à mistura. O dia foi uma verdadeira festa, que envolveu ritmos, dança, cânticos,
algazarra e muita diversão.
Tânia Eiriz de Sousa
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