Aula Teórica 7 – Imagem Latente Emulsões - 3 de Novembro de 2008 Licenciatura em Fotografia, 3º ano, 2008-2009 Departamento de Fotografia – Luis Pavão Escola Superior de Tecnologia de Tomar Sensibilidade à luz dos cristais de prata Os cristais de prata são estruturas incolores, ou ligeiramente amareladas, que agregam de forma ordenada iões de prata e de bromo, iodo ou cloro. A prata tem carga positiva (Ag +) e o halogeneto tem carga negativa (Cl- ou Br-). No mesmo cristal podem coexistir dois ou mesmo três halogenetos diferentes. A dimensão de um cristal é muito variável, em função das emulsões, podendo variar entre centésimos de mícron até 5 mícron (5 milésimos de milímetro). O processo fotográfico consiste no seguinte: por acção da luz e radiações ultravioleta, estes cristais desagregam-se e forma-se átomos de prata livres, que contribuem para a imagem fotográfica. Quanto maior for a dimensão física do cristal maior é a sua superfície e maior a probabilidade de serem atingidos e destruídos por fotões. Assim uma emulsão com cristais grandes terá uma sensibilidade à luz maior do que outra com cristais pequenos. Uma das formas importantes de se controlar a sensibilidade à luz da emulsão é através da forma como os cristais crescem dentro do banho inicial. Factores como a temperatura do banho, agitação, concentração do banho, rapidez de descarga dos sais de prata, têm influência na dimensão dos cristais de prata formados, logo na sensibilidade à luz da emulsão. São portanto os cristais incolores que reagem à luz, desagregando-se, formando-se prata metálica, de cor negra. Se os edifícios cristalinos forem puros, apenas com iões de prata e halogeneto, sem outros elementos estranhos, serão mais resistentes à acção da luz, aguentam melhor o embate dos fotões. Mas se contiverem impurezas, que podem ser outros materiais como átomos de ouro ou enxofre, a estrutura cristalina vai ter imperfeições, que tornam mais fácil a sua desagregação. Por isso estes elementos são usados como sensibilizadores. Quando presentes na emulsão em pequenas quantidades, podem multiplicar por 10 ou por 100 a sensibilidade inicial à luz. Estrutura do cristal de prata Teoricamente o cristal de prata é formado por uma estrutura regular e geométrica, composta por iões de prata de carga positiva e iões de bromo e alguns iões de iodo, de cargas negativas, que se mantêm arrumados num sistema cristalino cúbico com distâncias regulares entre si. Na realidade estes cristais contém sempre algumas imperfeições, que são de vários tipos: 1. Iões intersticiais de prata, de carga positiva, que se encontram fora do seu lugar e que resultam de deslocações e tempestades no interior do cristal. 2. Buracos positivos, ou seja espaços vagos deixados por estes iões de prata. Escola Superior de Tecnologia de Tomar - Luis Pavão – 2008-2009 3. Pontos de sensibilidade, que resultam de compostos químicos estranhos ao cristal e que formam um centro defeituoso e mais frágil, por onde tem início a revelação (desagregação) do cristal. Teorias da formação da imagem latente A teoria da Gurney-Mott é considerada hoje a teoria certa, que melhor explica a formação e o comportamento da imagem. Parte de pressupostos: 1. Existem iões de prata livres dentro do cristal de prata, que não se encontram na malha regular da estrutura cristalina, antes estão entre estes; formaram-se porque se libertaram da estrutura cristalina. 2. Estes iões de prata, ditos intersticiais, deslocam-se dentro do cristal e o seu movimento cresce com a temperatura; a temperaturas muito baixas não se movem. 3. Os cristais apresentam pontos de sensibilidade, que são prata metálica formada e concentrada em certos pontos, ou compostos de sulfureto de prata ou ligas de prata e ouro. Estes pontos do cristal são inicio da formação da imagem latente. Processo de formação da imagem latente de acordo com a teoria de Gurney-Mott Quando exposto à luz, os iões de bromo libertam electrões, que saltam para níveis de energia superiores e ficam livres para vaguear pelo cristal. Neste aspecto o cristal oferece alguma condutividade. Estes electrões acabam por se concentrar nos pontos de sensibilidade do cristal, porque a prata metálica que existe nesses pontos tem um nível de energia inferior (metal) e pode atrair estes electrões que permanecem aí agarrados. Assim, no momento da exposição à luz, forma-se uma carga eléctrica negativa nos pontos de sensibilidade, por concentração destes electrões libertados. Esta carga negativa é o suficiente para atrair os iões de prata (carga positiva), que estão livres no interior do cristal e que como vimos são móveis à temperatura ambiente. Quando atingem os pontos de sensibilidade combinam-se com os electrões e forma-se prata metálica, que se deposita nesse local. Quando se formou uma certa quantidade de prata metálica o cristal passa a ser revelável. A revelação tem inicio em torno dos pontos de prata já existentes e propaga-se para o resto do corpo do cristal. Os iões intersticiais deixam buracos de carga positiva no cristal, que se deslocam igualmente para a superfície e aí libertam iões negativos de bromo, que passam a átomos de bromo e são absorvidos pela gelatina circundante. Quando a quantidade de prata formada num cristal atinge uma certa quantidade, o cristal altera o seu estado e passa a ser revelável, fica estabilizado e permanece nesse estado até entrar no revelador. Caso o cristal não acumule prata em quantidade suficiente permanece instável e esta prata tem um carácter reversível, passando a ião de prata e desfazendo o efeito da exposição. Emulsões – Teórica 7 – Imagem Latente 2 Escola Superior de Tecnologia de Tomar - Luis Pavão – 2008-2009 Revelação física e revelação química Na revelação física das imagens de prata usamos um revelador ácido, que contém nitrato de prata, um ácido fraco e um agente redutor da prata: a emulsão exposta é introduzida neste banho e o redutor vai lentamente reduzindo o nitrato de prata a prata metálica, que se deposita sobre os grãos pontos de sensibilidade já existentes e que contém prata fotolitica, resultante da exposição à luz. A prata da imagem provém maioritariamente do revelador. A revelação pode ser feita antes ou depois do fixador, ou seja podemos fixar primeiro e revelar depois que obtemos uma imagem. O poder de amplificação deste sistema é muito inferior ao da revelação alcalina química e portanto as emulsões assim reveladas precisam de muito mais exposição à luz do que se reveladas por um sistema químico. Na revelação química o revelador é um redutor poderoso e que funciona num meio alcalino, não contém prata, apenas converte em prata os iões de prata da emulsão. O seu poder de amplificação da imagem é enorme, da ordem de 10 000 000 (dez milhões) e permite exposições menores, as emulsões são expostas correctamente com muito menos luz. Experiencias comprovativas Comparação do resultado da exposição à luz de duas emulsões, uma à temperatura de 20 ºC e a outra à temperatura de – 186 ºC (negativa), a temperatura do ar liquido. A emulsão exposta a baixa temperatura, produz uma imagem fraca, porque o iões de prata intersticiais não se movem, perdem a mobilidade na baixa temperatura. O cristal atingido pela luz liberta electrões, que se movem livremente e são agarrados pelos pontos de sensibilidade (prata), mas não são neutralizados pelos iões de prata, acabando por regressar ao seu estado energético inicial e libertando uma fosforescência verde (característica do brometo exposto no frio). Desmultiplicando esta exposição à luz a baixa temperatura, em duas, quatro, oito e dezasseis exposições equivalentes a baixa temperatura, obtemos resultados interessantes. Numa das emulsões a temperatura baixa é sempre mantida. Na outra emulsão, permite-se um aquecimento intercalar entre cada exposição e a seguinte, veremos que a emulsão com aquecimento intercalar dá resultados mais próximos de uma exposição à temperatura de 20 ºC. O que confirma a teoria, porque o aquecimento pontual permite a mobilidade dos iões de prata e o processo de formação da imagem latente pode completar-se. A baixa temperatura uma parte do processo de formação da imagem latente realiza-se (libertação de electrões e sua atracção para os pontos de sensibilidade), mas a segunda parte do processo não se realiza (deslocação de iões de prata, combinação com estes electrões e a formação de prata). Adaptado e traduzido em Novembro de 2003, a partir do livro de Stroboel, Compton. Current, Zackia “Photographic Materials and Processes”, páginas 266 e seguintes. Outra bibliografia: Neblette, C. B., Photography, its materials and processes Emulsões – Teórica 7 – Imagem Latente 3