PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR DA DISCIPLINA DE FILOSOFIA 1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA O estudo da filosofia, muitas vezes, tem se confundido com o acumulo de datas e referências ao passado, bem como a memorização de conceitos isolados. Esta maneira de se entender a filosofia, parece dotá-la de um determinado sentido, como se o sentido filosófico residisse no passado. Dessa forma, a prática da disciplina em sala de aula proporciona um ambiente onde é possível redimensionar esta perspectiva de interação histórica, que se detêm no passado, para uma dimensão inovadora. Dimensão que entende a filosofia a partir da construção do futuro, numa perspectiva crítica do passado, juntamente com a necessidade de transformação do presente. Destacando a importância do conteúdo da disciplina de Filosofia para o Ensino Médio, pois esta abarca os valores da civilização como um todo em seus fundamentos. Sobre o ensino de Filosofia, as Diretrizes Curriculares explicitam a “concepção de cidadania que queremos para nós e que desejamos difundir para os outros” e que se clarifica em três dimensões distintas: estética, ética e política. A dimensão estética, representada pela “abertura para a diversidade, a novidade e a invenção”, revela “um dos aspectos fundamentais em que a cidadania se exercita, a saber, a sensibilidade”. Do ponto de vista ético, a intenção é que o educando forme sua identidade autônoma, como sujeito moral que reconhece o outro em sua identidade própria. A dimensão política se revela na descoberta da participação democrática, na atitude de tolerância e de reconhecimento dos direitos humanos. Para o Ensino Médio o objetivo da disciplina de Filosofia é apresentar o surgimento da filosofia, bem como, seu desenvolvimento na história da humanidade, ressaltando os aspectos mais marcantes, para desenvolver a autonomia intelectual do pensamento e assim criar uma condição básica para a compreensão e interpretação crítica. Colocar os estudantes em contato com diferentes concepções filosóficas, ou seja, com conteúdos que sirvam de pretexto para desenvolver determinadas competências que tornem o aluno capaz de filosofar por si mesmo. A noção de competência, de maneira geral, designa uma capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar situações novas. Nesse sentido, as competências não são elas mesmas saberes ou atitudes, mas “mobilizam, integram e orquestram tais recursos”. Essa mobilização “só é pertinente em situação, sendo cada situação singular, mesmo que se possa tratá-la em analogia com outras, já encontradas”. Além disso, “o exercício da competência passa por operações mentais complexas, subentendidas por esquemas de pensamento, que permitem determinar e realizar uma ação relativamente adaptada à situação”.1 1 PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000. p.15. 2. CONTEÚDOS CONTEÚDOS ESTRUTURANTES 1º Ano: Mito e Filosofia. Estética. 2º Ano: Teoria do Conhecimento. Filosofia da Ciência. 3º Ano: Ética. Filosofia Política. CONTEÚDOS BÁSICOS 1º Ano: 1. Para que Filosofia? A atitude filosófica. A atitude crítica. Definições de filosofia. Objetivo: Introduzir uma perspectiva crítica e atenta acerca da filosofia e seu método. 2. Do mito à filosofia. O nascimento da epopéia. Tempo de deuses e heróis. No começo o caos. Objetivo: Situar a gênese hermenêutica de onde se estabelece o surgimento da filosofia e sua relação com o mito. 3. A filosofia dos Pré-socráticos. Parmênides: o ser como idêntico e imutável. A realidade como ‘fluxo contínuo’ dos seres e a ‘unidade dos opostos’ em Heráclito. Objetivo: Abordar o método parmenídico de investigação partindo da distinção entre ser e não-ser. E desenvolver a concepção heraclitiana da relação entre uno e múltiplo, bem como o conceito de “luta dos contrários”. 4. Platão e o horizonte hermenêutico onde se estabelece o sensível e o inteligível. Objetivo: Explorar a doutrina de Platão acerca da problemática entre mundo sensível e mundo inteligível. 5. Estética: introdução conceitual. Objetivo: Desenvolver a conceituação estética no uso vulgar, nas artes e na filosofia. 6. Concepções estéticas. O naturalismo Grego. A estética medieval. O naturalismo renascentista. Iluminismo e academismo: a estética normativa. A estética romântica. A ruptura do naturalismo. O pós-modernismo. Objetivo: Contextualizar a história das concepções estéticas. 7. Kant e a crítica do juízo estético. Objetivo: caracterizar introdutoriamente a estética kantiana. 8. A estética de Schopenhauer: uma metafísica da música. Objetivo: esclarecer a concepção de “metafísica da música” presente no pensamento do filósofo. 2º Ano: 1. O que é conhecimento. Formas de conhecer. Conhecimento discursivo. A possibilidade do conhecimento. Objetivo: Situar a concepção de conhecimento na história da filosofia. 2. Teoria do conhecimento na Idade Moderna e Contemporânea. Racionalismo. Empirismo. Criticismo kantiano. Objetivo: Caracterizar as principais teorias do conhecimento e suas problemáticas. 3. Descartes: a vida é sonho? Penso logo existo. Objetivo: Demonstrar o racionalismo em Descartes, bem como, sua concepção de sujeito. 4. As indagações metafísicas. Objetivo: Apresentar a metafísica e seus períodos. 5. A importância e força da linguagem. A origem da linguagem. A linguagem como atividade humana. Objetivo: Caracterizar o que vem a ser a linguagem especificadamente humana e vincular a origem da linguagem com a origem do mundo. 6. O conhecimento e o método científico. Objetivo: Abordar o conhecimento científico e o método da investigação científica. 7. A estrutura das revoluções científicas: A ciência como resolução de quebra-cabeças. Objetivo: Refletir acerca da epistemologia e da noção de método científico, adotando como parâmetro de discussão uma concepção paradigmática da ciência. 3º Ano: 1. O exercício de reflexão. Objetivo: Ensinar o desenvolvimento do exercício de reflexão. 2. O homem é um ser que interroga. Objetivo: Questionar a característica fundamental do homem. 3. A lógica instrumental. Objetivo: Abordar noções fundamentais da lógica. 4. A pluralidade ética. Objetivo: Abordar a ética sob a perspectiva da pluralidade filosófica. 5. Introdução à filosofia moral e a liberdade. Objetivo: Demonstrar o caráter histórico e social da moral e discutir a liberdade incondicional e o livre-arbítrio. 6. As concepções éticas. Objetivo: Estudar concepções de ética na história da filosofia. 7. O homem, a natureza e o trabalho: a ordem econômica da sociedade. Texto de Paul Ricoeur: “Alienação e objetivação no trabalho”. Objetivo: Demonstrar como a filosofia contemporânea busca um novo sentido para a existência humana, caracterizando essas três dimensões que se completam e atuam integradamente no processo real da vida das pessoas. 8. O homem na ordem política da sociedade: poder e dominação. Objetivo: Abordar as relações entre os homens, que já não são mais apenas de troca entre iguais, mas relações de poder que pressupõem e consolidam situações de desigualdade entre as pessoas. 9. O agir pessoal e a prática social: a ética e a política. As filosofias políticas. Texto de Emmanuel Mounier: “Le Personalismo”. Objetivo: Desenvolver o problema fundamental da filosofia contemporânea: o agir humano. Abordar os critérios da ação humana. 10. O conceito de filosofia Latino Americana. Objetivo: Caracterizar o surgimento da filosofia Latino Americana. 11. Evolução das idéias filosóficas na América Latina. Objetivo: Demonstrar o desenvolvimento da filosofia na América Latina. 12. Metafísica e Ontologia do ser Latino Americano. Objetivo: Estudar a constituição Metafísica e Ontológica da América Latina. 13. A Filosofia Contemporânea da América Latina. Objetivo: Apresentar os principais aspectos da Filosofia Latino Americana atuais. 3. METODOLOGIA DA DISCIPLINA Aulas expositivas sobre o conteúdo; esquematização do conteúdo no quadro negro; leitura prévia e em sala dos textos selecionados para as aulas; realização de trabalhos conceituais como forma de exercícios reflexivos. Para abordarmos os desafios contemporâneos encontrados em sala de aula utilizaremos a TV e o laboratório de informática. 4. AVALIAÇÃO Serão feitas no mínimo três avaliações da disciplina a cada bimestre, totalizando ao final do semestre, pelo menos, seis avaliações da disciplina. A avaliação da disciplina será progressiva e contínua, pois têm em vista os objetivos expressos na proposta de ensino. Para a realização das avaliações serão utilizados: testes de aproveitamento oral; apresentações de seminários; provas escritas, com e sem consulta; trabalhos em forma de pesquisa para o aprofundamento do conteúdo; tarefas específicas para fazer em casa; e participação em sala de aula. A obtenção da nota bimestral será através do sistema somatório. A nota final da disciplina corresponde à média aritmética dos quatro bimestres. A Recuperação Paralela será contínua em sala de aula, onde cada conteúdo avaliado será retomado na forma de revisão e no final do bimestre o aluno terá direito a uma Recuperação Paralela de nota resolvendo uma prova com a nota do bimestre. 5. BIBLIOGRAFIA 1. ABRÃO, Bernadete Siqueira. História da Filosofia. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1999. 2. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e Martins, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia. 2º ed. São Paulo: Moderna, 1993. 3. BAYER, Raymond. História da estética. Tradução José Saramago. Lisboa: Editorial Estampa, 1979. 4. BOCAIÚVA, Izabela Aquino. A origem do mundo – A origem da linguagem. In Revista de filosofia Sofia, ano IV, nº 06, outubro de 1998, p.21-28. 5. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 13º ed. São Paulo: Editora Ática, 2004. 6. CALDERA, Alejandro Serrano. Filosofia e crise: pela filosofia latino-americana. Tradução Orlando dos Reis. Petrópolis: Vozes, 1994. 7. DESCARTES, René. Meditações. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2004. 8. DOMINGUES, Ivan. A abordagem estrutural do texto filosófico. In Estruturalismo, memória e repercussões. Rio de Janeiro: Diadorin, s/d, p. 137-152. 9. ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Tradução de Leandro Konder. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975, p.191-196. 10. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. São Paulo: Nova Cultural, 1999. 11. MORRENTE, Manuel García. Fundamentos de filosofia I: Lições preliminares. Tradução e prólogo de Guilhermo de la Cruz Coronado. São Paulo: Mestre Jou, 1970. 12. MOUNIER, E. Le personalisme. Oeuvres III. Tradução de A. J. Severino. Paris: Seuil,1962. 13. NIETZSCHE, F. Obras incompletas. In Os pensadores. Consultoria de Marilena Chauí. São Paulo: Nova Cultural, 2005. 14. PLATÃO. A república. Tradução de J. Guinsburg. São Paulo: Difusão Européia do livro, 1965. 15. QUESADA, Francisco M. Despertar y proyecto del filosofar latino americano y Proyecto y realización del filosofar latino americano. México: FCE, 1981. 16. REALE, Giovanni. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 1990. 17. RICOEUR, Paul. História e verdade. Tradução de F. A. Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense, 1968. 18. ROMEYER-DHERBEY, Gilbert. Os sofistas. Tradução de João Amado. Lisboa: Edições 70, 1986. 19. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Portugal: Rés Editora, s/d. 20. SEED, Governo do Paraná. Diretrizes curriculares de filosofia para o ensino médio. Curitiba: Impresso oficial, 2006. 21. SOUZA, José Cavalcante de (dir). Os Pré-Socráticos: fragmentos, doxografia e comentários. São Paulo: Abril Cultural, 1978.