Catanduva, 16 de abril de 2010. Excelentíssimo Senhor Presidente Barack Obama, Como cidadão brasileiro e, acima de tudo, habitante do planeta Terra, não posso deixar de expressar meu desapontamento diante da postura de Vossa Excelência e, mais especificamente, de seu governo, durante a conferência climática de Copenhague. Isso se deve à indisposição de seu governo para assumir uma política ambiental mais engajada, mesmo frente a uma iminente catástrofe climática global. A meu ver, alguém que exerce o cargo de Presidente dos Estados Unidos, nação mais rica e poderosa do mundo, como é o caso de Vossa Excelência, deveria dar o exemplo para os governantes de outros países, tomando posições mais firmes sobre este assunto. Além disso, o senhor tem o dever de “prestar contas” ao mundo pelo fato de seu país ser, ao lado da China, o maior emissor de gases poluentes, como o dióxido de carbono. Assim, levando em conta esses fatores, é realmente vergonhoso o papel que o senhor desempenhou em Copenhague. Os motivos, principalmente de cunho econômico, que levaram Vossa Excelência a tomar tal atitude podem até ser entendidos quando analisamos a posição ocupada pela economia dos Estados Unidos. Entretanto, esta atitude que, a curto prazo, gera vantagens para seu país, pode, a longo prazo, ter um reflexo catastrófico para todo o planeta. Nesse contexto, o Excelentíssimo Presidente não acha correto abdicar de uma ínfima parcela de crescimento econômico, hoje, em prol de assegurar um futuro para seu país e para o mundo? Além disso, o crescimento econômico que seria “perdido” num primeiro momento poderia ser recuperado mais tarde de forma sustentável, bastando, para isso, o incentivo a esse tipo de desenvolvimento, como a busca de formas de energias mais limpas. Esse também seria o momento certo para repensar o modelo de vida levado pela sociedade norte-americana, baseado num consumismo insustentável, que caminha para o colapso. Um exemplo disso são os efeitos da crise econômica mundial na população de seu país, que sofreu (e ainda vem sofrendo) com vários problemas dessa ordem. Assim, como uma pessoa consciente dos problemas ambientais enfrentados pelo mundo, peço, humildemente, para que Vossa Excelência repense seu posicionamento quanto às políticas de combates às mudanças climáticas. Se “sem sacrifício não há vitória”, é justo desacelerar um pouco a economia para que o mundo seja salvo deste funesto futuro que nos assombra. Respeitosamente, VEJAMOS AS QUALIDADES DO TEXTO: • ESTRUTURA 1. INTRODUÇÃO Nesta parte, o autor já deixou claro "a que veio", ou seja, apresentou-se (em linhas gerais, só para situar o seu ponto de vista) e expôs o objetivo de seu texto, ou seja, manifestar o seu repúdio ao fato de o referido presidente não ter assinado o acordo proposto em Copenhague. 2. DESENVOLVIMENTO O autor se vale das informações presentes na coletânea. Ele, baseado nelas, prevê os argumentos do líder e procura refutá-los. Trata-se de um raciocínio lógico, centrado em argumentos práticos, sem as pieguices que, normalmente, aparecem quando o tema é a "degradação da natureza", isto é, aqueles argumentos que já são estereótipos (clichê), do tipo "Enquanto o homem não se conscientizar que, destruindo a natureza, estará destruindo a si mesmo...". 3. CONCLUSÃO O autor fez um último apelo, com claro objetivo de sensibilizar o destinatário. Valeu-se de uma citação veemente para justificar a mudança de postura do interlocutor. O tom fica mais apelativo (uma verdadeira pressão psicológica) ao colocar nas mãos do presidente o futuro do planeta. A conclusão não foi uma mera parte (formalidade) do texto, mas a oportunidade da "cartada final", um último e contundente recurso para persuasão. • INTERLOCUÇÃO Ficou evidente a presença de um emissor (primeira pessoa) e de um receptor definidos ("Vossa Excelência", "o senhor"). Houve um diálogo, um apelo direto. É um erro muito comum o estudante "disfarçar" o texto dissertativo- argumentativo de carta, apenas colocando um vocativo no início e deixando tudo na impessoalidade, de modo que não há uma interação entre os interlocutores. Trata-se, entretanto, de um grave equívoco! • PROGRESSÃO DAS IDÉIAS As idéias progridem retomando o que foi anteriormente posto, ou seja, acrescenta-se e se retoma, retoma-se e se acrescenta, numa verdadeira "teia" (donde vem a palavra TEXTO, particípio do verbo TECER), uma trama, um "costurado" de idéias que se interligam GRAMATICALMENTE através dos recursos de coesão. No texto, "isso" (retomando algo anteposto), "além disso" (acrescentando um novo dado ou idéia), "assim" (dando a entender que está retomando e, ao mesmo tempo, concluindo uma idéia) etc. • LINGUAGEM Linguagem simples, direta, em norma padrão, e, principalmente, sem os períodos longos que, na maioria das vezes, tornam o texto prolixo, confuso ou mesmo um não-texto. O autor empregou verbos na terceira pessoa ao se referir ao pronome de tratamento "Vossa Excelência", como "manda o figurino". Além do mais, seguiu à risca aquela instrução (lembra?) que estudamos de não abreviar tal pronome quando se tratar de presidentes (chefes de estado).