Fisiologia I Data: 17 de Dezembro de 2007 (18ª aula) Docente: Prof. A. Escalda Desgravado por: David N. Moreira, Joana S. Jorge e M.ª Carolina Ferreira Tema: Músculo Cardíaco Já todos ouviram falar do músculo cardíaco: “o coração é uma bomba” que aspira o sangue, apresentando um músculo estriado com características especiais… - É chamado estriado pois apresenta estrias, tem também um sarcómero (com actina e miosina), e é diferente do músculo-esquelético (ou estriado): as aurículas formam um um sincício (syncytium), independente do sincício dos ventrículos (a contracção das aurículas dá-se independentemente da contracção dos ventrículos). - Na função do coração, onde os ventrículos se contraem depois das aurículas, tem que haver uma coordenação muscular. Esta coordenação é feita por um tecido especial, que comanda o batimento cardíaco, primeiramente a contracção das aurículas e posteriormente a dos ventrículos, o tecido nodal. O nódulo sino-auricular (que está ao nível da aurícula direita) despolariza e leva o impulso a toda a massa da aurícula (poeticamente comparado com o atirar uma pedra a um lago, originando ondas concêntricas, que se vão espalhando e despolarizando toda a aurícula). O estímulo chega então ao outro nódulo aurículo-ventricular, situado no pavimento da aurícula direita, na transição para o ventrículo. É neste nódulo que se dá um atraso, chamado atraso fisiológico, sendo este muito importante para a função do coração (a contracção das aurículas tem que ser diferenciada em tempo da contracção dos ventrículos, para que o sangue saia do coração e não passe da aurícula para o ventrículo, seguido do ventrículo para a aurícula). 1/11 - O atraso fisiológico na propagação do impulso é então feito pelo nódulo aurículo-ventrícular, havendo a distribuição do impulso pela rede de Purkinje, e consequente contracção dos ventrículos. A despolarização percorreu então todo o coração, que vai voltar a repolarizar (voltar a um estado calmo), para que se dê uma nova despolarização. Uma característica muito importante do coração é a sua capacidade de responder a estímulos nervosos, capacidade essa que nos vai condicionar o diaa-dia. Temos um ritmo quando estamos sossegados, cerca de 60 batimentos/min, havendo um determinado volume sistólico (volume de sangue em cada sístole que é lançado na aorta no lado esquerdo ou na artéria pulmonar no lado direito), que vai aumentar quando fazemos exercício, quando nos excitamos por qualquer motivo ou nos zangamos com alguém, através das catecolaminas produzidas). O sistema nervoso autónomo (simpático e parasimpático) influência o funcionamento do coração. Propriedades do coração: Automatismo – capacidade de gerar estímulos para poder gerar contracção (presente no músculo liso e coração) Dromotropismo (ou condutibilidade) – o estímulo vai ser conduzido por um tecido especial de condução ou até inclusivamente conduzido pela própria massa muscular. Batmotropismo (ou excitabilidade) – tecido pode ser excitável Inotropismo (ou contractilidade) – permite uma maior ou menor força por parte do coração, consoante a quantidade de sangue presente no coração. Tonicidade – (presente em todos os tipos de músculo) 2/11 Apresenta também bastantes canais proteícos – Gap junctions – que levam a que a despolarização passe mais rapidamente de célula para célula (condutibilidade mais rápida), permitindo uma mais rápida contracção cardíaca. A despolarização tem diferentes potenciais de acção: o potencial de acção ao nível do nódulo sinusal é diferente do potencial de acção ao nível do nódulo auriculoventricular, que é por sua vez diferente do das fibras de purkinje. São bases iónicas que estão na base dos diferentes potenciais de acção (há vários canais que abrem e fecham, tanto para o sódio, como para o potássio, cloro, cálcio, deixando passar os diferentes iões, levando às diferentes configurações nos potenciais de acção). No gráfico: Massa ventricular (no ventrículo): todos eles partem dos cerca de 90 mV. No ventrículo, o plateau (ou planalto) é maior do que ao nível da aurícula (que pode até nem existir nesta). O potencial de repouso é negativo, até à entrada de Na+, que faz com que o potencial suba, passando o valor zero → Há uma subida de potencial, uma despolarização. Posteriormente, a descida do potencial de acção é devida à entrada de Cl- para a célula. O plateau que se 3/11 segue (planalto) é característico da entrada de mais Na+ e, principalmente, de Ca2+. O K+ sai, voltando o potencial de repouso (como ocorre na repolarização de qualquer célula). Nódulo sino-auricular: Aqui, o potencial de repouso não está ´´sossegado`` (há uma ligeira subida dos potenciais de repouso, característica dos potenciais dos pace-makers, nos nódulos sino-auricular, sinusal e auriculoventricular). Há no início uma descida ligeira, devido à saída de K+. Posteriormente ocorre uma subida do potencial de acção (entrada lenta de Na + e de Ca2+), seguida de uma entrada rápida de Ca2+ e saída de K+ por último. São então necessárias bases iónicas: Na+, K+, Cl-, mas acima de tudo de Ca2+, muito importante para a despolarização da fibra do miocárdio. Este, como no músculo-esquelético, encontra-se ao nível do retículo sarcoplasmático (que se encontra bastante desenvolvido). A sua entrada é feita livremente através das trocas feitas com o Na+ na bomba Na+/Ca2+/K+. A sua excreção dá-se para a parte externa da membrana plasmática, através de uma bomba ATPase dependente. O Ca2+ existente, abundantemente, no retículo sarcoplasmático, vai-se unir à troponina C, fazendo deslizar a tropomiosina, levando à interacção da actina e da miosina, dando-se a contracção muscular (tal como no músculo esquelético). 4/11 Ao nível do retículo sarcoplasmático, bem como do líquido extracelular, também existe a calcecrestina (ou calcecristina?) (proteína que capta o Ca2+, retendo-o no retículo sarcoplasmático). No entanto, quando ele sai do retículo sarcoplasmático e vai ter com a troponina C, o Ca2+ fica disperso no líquido extracelular. O fosfolambão, por sua vez, capta o Ca2+, trazendo-o de volta para o retículo sarcoplasmático (processo que dispende energia). Como o coração contrai e relaxa muitas vezes por minuto, é necessário que haja uma eficaz libertação e também uma captação do Ca2+ (esta pelo fosfolambão) para dentro do retículo, para que não ocorram falências cardíacas. Resumo: Ca2+ + troponina C → contracção muscular No relaxamento muscular → Ca2+ trazido de volta ao retículo sarcoplasmático pelo fosfolambão (proteína) Nota: há outros factores que fazem variar estes fenómenos. Neste gráfico podem ser comparadas as tensões dos músculos esquelético e cardíaco (praticamente iguais). No entanto, como a distensão do sarcómero no músculo-esquelético é bastante maior, a distensibilidade e contracção deste músculo é maior (à volta do pericárdio, músculo cardíaco, existe também uma membrana que impede que o coração se distenda muito). 5/11 Ciclo cardíaco (ou Revolução cardíaca) Consiste numa diástole, numa sístole e novamente uma diástole, sendo que os fenómenos que se passam do lado direito do coração são precisamente os mesmos que se passam do lado esquerdo. Ao enchimento ventricular segue-se a contracção isovolumétrica e um esvaziamento e relaxamento ventricular e posteriormente volta a acontecer o enchimento ventricular, existindo válvulas que comandam estes fenómenos: do lado esquerdo a válvula auriculo-ventricular ou mitral e a aórtica (válvula semilunar correspondente e do lado direito a válvula tricúspida, que é a válvula auriculoventricular e a válvula pulmonar ou direita. 6/11 Este gráfico permite perceber como se dá o funcionamento do ciclo cardíaco: No ponto A a válvula mitral abre pelo que o ventrículo ainda não está cheio de sangue mas vai aumentando de volume devido ao enchimento. Quando o ventrículo está cheio a válvula mitral fecha (ponto C) e para que o sangue saia do ventrículo é necessária uma determinada pressão, havendo uma fase de aumento de tensão, uma contracção dentro do ventrículo (neste caso, o esquerdo) e abre-se a válvula aórtica (ponto D), o que permite a saída do sangue. Ao sair há uma injecção rápida e posteriormente mais lenta do sangue que leva a uma diminuição gradual da pressão dentro do ventrículo e fecho da válvula aórtica (ponto F). Quando esta fecha há um relaxamento isovolumétrico que leva a que o sangue flua para dentro do ventrículo novamente, repetindose o ciclo. O Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático vão alterar os potenciais de repouso da célula. Neste gráfico é possível observar um potencial de repouso padrão. Mas, se houver uma estimulação simpática ocorre um aumento da contractilidade e da frequência cardíaca devido a um maior aumento do potencial de repouso (entrada mais rápida de cálcio) ocorrendo a despolarização. Se houver uma estimulação parassimpática, o potencial de repouso é mais baixo e demora mais tempo até atingir o potencial de despolarização, o sódio e o cálcio entram mais lentamente e depois despolariza. 7/11 Comparando as curvas controle e a da estimulação simpática, no segundo a inclinação é mais abrupta, diminuindo o tempo para a despolarização mas, tanto a estimulação simpática como a parassimpática e a normal não aumentam a amplitude do potencial de acção. A grande alteração dá-se no potencial de repouso, isto é, o potencial do simpático é mais rápido enquanto o parassimpático tem um potencial mais negativo e uma inclinação mais alongada no tempo até atingir o potencial de repouso. Percebese assim que o simpático aumente a frequência e o parassimpático a baixe. O volume sistólico também vai ter alterações. Ao fazer uma estimulação simpática há um aumento do volume sistólico. Pode dizer-se que o Sistema Nervoso Simpático aumenta a frequência cardíaca e o volume sistólico e o Sistema Nervoso Parassimpático diminui a frequência e o volume sistólico. A força desenvolvida durante a contracção do músculo (inotropismo) é também aumentada pela estimulação simpática, tendo uma força de contracção inotrópica positiva, isto é, aumenta-a. 8/11 Por sua vez, o Parassimpático diminui a força de contracção, o que se traduz num efeito inotrópico negativo. Mas o aumento da força de contracção não se pode dar constantemente, tem limites, não podendo aumentar constantemente porque o coração para aguentar essa força vai ter que distender durante o relaxamento. Além disso, a membrana do pericárdio limita a distensibilidade do coração. Este facto é explicado pela Lei de Frank-Starling, em que a interacção da actina e da miosina leva a que estas não fiquem em contacto: Em a) a actina e a miosina estão bastante integradas uma na outra e pode-se desenvolver uma pequena força de contracção. Se o músculo for distendido vai haver uma maior interacção entre a actina e a miosina até determinado ponto porque quando se distende muito, estas deixam de interagir e não existe contracção muscular. Se se aumentar a força ao nível do relaxamento, a distensão cardíaca vai aumentar também a força de contracção até um determinado nível. Fran-Starling idealizou que se se aumentar o aporte de sangue ao coração, atribui-se-lhe uma pré-carga (além da carga habitual que varia entre os 70 ou 80ml por cada batimento, podendo ir até aos 120-130mL por batimento. Não há uma expulsão completa do sangue: ficam sempre 40-50 mL no ventrículo) levando a que tenha que existir uma 9/11 distensibilidade maior. À medida que se vai distendendo o coração, este vai-se contrair ainda mais. Todavia, quando se ultrapassa o nível de interacção entre a actina e a miosina deixa de haver contracção e o coração entra em falência. Esquematicamente, pode dizer-se que o coração tem uma determinada carga que faz distender o elemento elástico e, consequentemente, há um aumento de tensão ao nível do elemento contráctil, levando a que este se possa contrair. Assim, há um movimento da carga: existe contracção. Se se aumentar muito a carga até determinado nível há contracção e a partir desse nível deixa de se contrair. A pré-carga é o enchimento ventricular e a pós-carga é a dificuldade na saída de sangue dos ventrículos. Estes dois factores condicionam o débito cardíaco, a frequência cardíaca e, por conseguinte, o inotropismo; No fundo, condicionam a função cardíaca em si. O débito cardíaco (quantidade de volume de sangue expulso por unidade de tempo, normalmente em minutos) depende do volume da frequência cardíaca e do volume ou débito sistólico: Débito cardíaco = Frequência cardíaca x Volume sistólico Este débito influencia a pressão arterial que, por sua vez, aumenta com a resistência periférica: Débito cardíaco = pressão arterial x resistência Por sua vez, a Pré-carga condiciona o encurtamento ou da fibra miocárdia. Este aumento ou encurtamento da fibra do miocárdio vai determinar também o aumento do débito sistólico. 10/11 A pressão arterial muito elevada aumenta o tamanho do ventrículo esquerdo e se o ventrículo está maior há mais sangue lá dentro e aumenta o débito sistólico. Trata-se de um ciclo quase vicioso. Se se aumentar a contractilidade a força inotrópica positiva do coração também vai aumentar o encurtamento da fibra do miocárdio que conduz ao débito cardíaco e ao aumento da pressão arterial. Se ocorrer um aumento da pressão arterial, há pós-carga que condiciona o encurtamento da fibra do miocárdio, ou seja, a pré-carga aumenta o encurtamento da fibra do miocárdio e a pós-carga diminui o encurtamento dessa mesma fibra. Esta tabela é um resumo de quase tudo o que foi falado de músculos e é importante. O sítio de regulação do cálcio no músculo liso é a calmodulina que por sua vez se une ao caldesmon. 11/11