Arquivos Catarinenses de Medicina ISSN (impresso) 0004- 2773 ISSN (online) 1806-4280 RELATO DE CASO Melanoníquia estriada - relato de caso de tratamento cirúrgico Melanonychia striate - case report of surgical treatment Fernando Passos da Rocha1, Hiram Laranjeira Almeida Jr2, Jefferson André Pires3, Djalma José Fagundes4 Resumo well as the presentation of the unusual case of a white child, female with pigmented lesion on the nail bed of the thumb who underwent surgical treatment. A melanoníquia estriada (ME) se caracteriza pela presença de estrias longitudinais de coloração café ou negras na lâmina ungueal, resultado de um aumento no depósito de melanina. A ME entra no diagnóstico diferencial das lesões pigmentares de origem não neoplásicas e neoplásicas. Quando da presença de melanoníquia estriada deve-se excluir o diagnóstico de melanoma subungueal, sendo importante a realização o mais precisa possível do ato operatório no sentido de evitar sequelas no leito ungueal bem como afastar o diagnóstico de melanoma. O presente trabalho tem como objetivo uma revisão sobre a ME como também a apresentação do caso atípico de uma criança branca, feminina, com lesão pigmentada no leito ungueal do dedo polegar que foi submetida a tratamento cirúrgico. Keywords: Nail diseases. Nails. Surgery. Introdução A melanoníquia estriada (ME) se caracteriza pela presença de estrias longitudinais de coloração café ou negras na lâmina ungueal, resultado de um aumento no depósito de melanina. Sua localização mais frequente é nas unhas do primeiro e segundo dedos das mãos estando relacionada a maior utilização destes dedos bem como há maior possibilidade de traumatismos (1-3) . Sua prevalência é maior em pessoas de pele escura e em americanos afro-descendentes maiores de 20 anos. Nos japoneses acomete cerca de 10 a 20 % da população sendo também comum em hispano-descendentes, contudo não se sabe exatamente o percentual nesse grupo. Nas crianças é um achado raro. Descritores: Doenças das unhas. Unhas. Cirurgia. Abstract The striated melanonychia (ME) is characterized by the presence of longitudinal ridges Black or coffee in the nail plate, the result of an increase in the deposit of melanin. The ME enters the differential diagnosis of pigmented lesions of origin non-neoplastic and neoplastic. When the presence of striated melanonychia must exclude the diagnosis of subungual melanoma, is important to have as precise as possible of the surgery to prevent sequelae in the nail bed and out the diagnosis of melanoma. This paper aims to review on the ME as A primeira referência à melanoníquia estriada na literatura data de 1917 e foi feita por Montgomery em relação a uma paciente que apresentou essa alteração pigmentar após tratamento radioterápico para lesões de eczema nas mãos (4). A melanoníquia estriada entra no diagnóstico diferencial das lesões pigmentares de origem não neoplásicas (nevos melanocíticos, de origem constitucional, medicamentosa, onicomicoses, entre outras) e das de origem neoplásica (melanoma). Nos casos de melanoma subungueal, a melanoníquia estriada pode ser um presente sinal precoce de sua manifestação (5). O trabalho apresenta uma criança com lesão pigmentada no leito ungueal do dedo polegar que foi submetida a tratamento cirúrgico sendo o material enviado ao labo- 1. Cirurgião Plástico Professor. Assistente do Departamento de Cirurgia da Universidade Católica de Pelotas – UCPEL – Pelotas – RS 2. Professor de dermatologia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Pelotas (RS), Brasil. 3. Residente de Cirurgia Geral da UFPel-RS. 4. Prof. Associado do Departamento de Cirurgia da UNIFESP – SP. Arq Catarin Med. 2014 out-dez; 43(4): 54-56 54 Melanoníquia estriada - relato de caso de tratamento cirúrgico ratório da anatomia patológica no sentido de estabelecer o diagnóstico. Este trabalho foi autorizado para publicação pelo Conselho de Ética e Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas-RS. to da frequência nestes dedos provavelmente se deva à essas regiões estarem mais expostas a traumatismos(6). O melanoma subungueal acomete preferencialmente indivíduos entre a sexta ou sétima década de vida, com a mesma incidência entre os sexos (6). Não há um sinal clínico que confirme clinicamente a presença de melanoma subungueal, chegou-se a considerar o sinal de Hutchinson como indicativo do melanoma subungueal, mas nem sempre os achados histo-patológicos confirmaram o melanoma (5). Relato de caso Criança de 03 anos de idade encaminhada ao serviço de cirurgia plástica para remoção de lesão pigmentada subungueal localizada no 1º quirodáctilo da mão esquerda assintomática e de crescimento lento (Fig.1). O exame histopatológico é fundamental para o diagnóstico diferencial entre melanoma e ME, porém a falta do hábito da realização de biópsias da matriz ungueal contribui para que o diagnóstico de melanoma subungueal seja feito tardiamente, com consequente piora do prognóstico (4). A biópsia pode ser tangencial ou excisional (3,8). O ato operatório foi realizado, respeitadas as condições de assepsia e anti-sepsia, sob anestesia geral com utilização de garrote com faixa de látex visando controle do sangramento e melhor possibilidade de identificação dos elementos anatômicos. A ressecção cirúrgica incluiu toda a espessura da unha da matriz ungueal até seu bordo externo (Fig.2) sendo realizada aproximação da matriz e da polpa digital reconstituindo desta maneira a anatomia do dedo. No presente caso tínhamos uma criança com suspeita de melanoníquia estriada onde deveríamos excluir o diagnóstico de melanoma subungueal, sendo importante a realização o mais precisa possível do ato operatório no sentido de evitar sequelas no leito ungueal bem como afastar o diagnóstico de melanoma. Tivemos como contuta a biópsia excisional pois caso a doença fosse benigna a paciente estaria curada e com a falha na pigmentação corrigida, sendo poupada de outro procedimento cirúrgico. O curativo cirúrgico realizado foi o de rotina para cirurgia de mão transcorrendo o pós-operatório sem intercorrências. O resultado do exame anátomo-patológico confirmou melanoníquia estriada conforme Figura 3, onde podem ser observadas alongamento das cristas epidérmicas e aumento na quantidade de melanina na camada basal, sendo compatível com lentigo subungueal. A paciente foi acompanhada no pós-operatório tardio conforme Figura 4 dois anos após o procedimento cirúrgico, demonstrando resultado estético e funcional adequados. Bibliografia 1. Leung AK, Woo TY. Melanonychia striata with multiple toenail involvement in a child. J Natl Med Assoc 2004; 96: 1232–1234. Discussão 2. Usman A, Silvers D, Scher R. Longitudinal melanonychia in children. J Am Acad Dermatol 2001; 59 (2) 547–548. O diagnóstico diferencial mais importante da ME é o melanoma subungueal sendo que sua não identificação precoce poderá acarretar consequências fatais ao paciente. A ME pode preceder o aparecimento do melanoma subungueal apresentando algumas características que podem confundir o especialista (3). O diagnóstico clínico pode ser dificultado devido as diversas peculiaridades da dermatoscopia no aparato ungueal, caso for realizada deve-se utilizar um dermatoscopio comum com aumento de 10 vezes e se necessária imersão em fluído utilizar o gel de ultrassom (7). 3. Mannava KA, Mannava S, Koman LA, Robinson-Boston L, Jellinek N. Longitufianl melanonychea: detection and management of nail melanoma. Hand Surg. 2013; 128(1): 133-9. 4. Ronger S et al. Dermoscopic examination of nail pigmentation. Arch Dermatol 2002; 138 (1):1327-33. 5. Amin B et al. Histologic distinction between melanonychia and melanoma. Am J Surg Pathol 2008; 32: 835. A ME e o melanoma subungueal apresentam manifestações clinicas semelhantes sendo ambos mais frequentes em pessoas de pele escura porém o melanoma subungueal é ligeiramente mais frequente nas mãos afetando principalmente os dedos polegar e indicador, nos pés atinge preferencialmente o hálux; este aumen- 6. Baran R, Kechijian P. Longitudinal melanonychia (melanonychia striata): diagnosis and management. J AmAcad Dermatol 1989; 21: 1165- 1175. 55 Arq Catarin Med. 2014 out-dez; 43(4): 54-56 Melanoníquia estriada - relato de caso de tratamento cirúrgico 7. Di Chiacchio ND, de Farias DC, Piraccini BM, Hirata SH, Richert B, Zaic M, Daniel R, Fanti PA, Andre J, Ruben BS, Fleckman P, Rich P, Haneke E, Chang P, Cherit JD, Scher R, Tosti A. Consensus on melanonychea nail plate dermatoscopy. An Bras Deramtol. 2013; 88 (2): 309-313. 8. Lee MD, Humphreys T. Nail Biopsy for melanonychia. Skinmed. 2013; 10 (5): 309-311. Figuras Fig. 3 - Microfotografia da peça excisada. (HE- Aumento 20X) Fig. 1 - Detalhe da Melanoníquea Estriada em 1º quirodáctilo da mão esquerda. Fig. 4 - Pós-operatório de 2 anos. Fig. 2 - Detalhe do Intra-operatório já com a melanoníquea excisada. Endereço para correspondência: Fernando Passos da Rocha. Praça Piratinino de Almeida,13. Pelotas, RS, 96030-001, Brasil. E-mail: [email protected]. Arq Catarin Med. 2014 out-dez; 43(4): 54-56 56