XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 24 A 27 DE AGOSTO DE 2016 Florianópolis FERRAMENTA COMPUTACIONAL PARA AVALIAÇÃO PÓSOPERATÓRIA DE PACIENTES COM IMPLANTE COCLEAR Guilherme Giacomini¹, Ana Luiza M. Pavan¹, João M. C. Altemani², Arthur M. Castilho³, Diana R. de Pina4 1Instituto de Biociências de Botucatu (IBB-UNESP), Botucatu/SP, Brasil ²Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UNICAMP), Campinas/SP, Brasil ³Coordenador do Grupo de Otologia – Hospital de Clínicas (HC-UNICAMP), Campinas/SP, Brasil 4Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-UNESP), Botucatu/SP, Brasil Resumo: O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma ferramenta para calcular o ângulo de profundidade de inserção de implantes cocleares, a partir de exames de tomografia computarizada. A ferramenta utiliza diferentes técnicas de processamento de imagem, tais como limiarização e contorno ativo. Com isto, pode-se comparar o ângulo de inserção médio de modelos de implantes de 3 fabricantes diferentes. A ferramenta desenvolvida pode, no futuro, comparar o ângulo de inserção do implante coclear com a resposta auditiva pós-operatória do paciente. Palavras-chave: implante coclear, tomografia computadorizada, ângulo de profundidade de inserção, processamento de imagem. Abstract: The aim of this study was to develop a tool to calculate the insertion depth angle of cochlear implants, from computed tomography exams. The tool uses different image processing techniques, such as thresholding and active contour. Then, we compared the average insertion depth angle of three different implant manufacturers. The developed tool can be used, in the future, to compare the insertion depth angle of the cochlear implant with postoperative response of patient's hearing. Keywords: cochlear implant, computed tomography, insertion depth angle, image processing. Introdução: O implante coclear (IC) é um recurso altamente benéfico e efetivo para a habilitação de indivíduos com deficiência auditiva neurossensorial [1, 2]. O IC, formado por uma conjunto de eletrodos, substitui parcialmente as funções da cóclea, transformando a energia sonora em sinais elétricos. A sobrevivência de estruturas neurais em quantidade suficiente no nervo coclear permite que esta estimulação elétrica seja transmitida para o córtex cerebral [2]. Imagens pós-implante são realizadas para confirmar o posicionamento do implante dentro da cóclea e a integridade do conjunto de eletrodos [1]. Existe um interesse crescente em avaliar precisamente a posição dos contatos dos eletrodos em relação às estruturas da cóclea e a profundidade de inserção do conjunto de eletrodos [1]. Exames de tomografia computadorizada (TC) produzem imagens do IC, nas quais os contatos dos eletrodos individuais podem ser distinguidos tridimensionalmente [1]. Várias técnicas para estimar a posição intracoclear exata do conjunto de eletrodos do IC foram descritas e utilizadas. Histopatologistas, cirurgiões e radiologistas tem utilizado diferentes métodos, cada um atendendo às necessidades específicas de sua área de investigação [3]. Desta maneira, há a necessidade de um método objetivo a fim de padronizar as medidas para avaliação pós-implante. Medidas da profundidade linear de inserção do implante não apresentam relevante importância clínica, uma vez que o tamanho da cóclea varia muito entre os pacientes [4]. Desta maneira, Xu et al. apresentou uma medida do ângulo de profundidade de inserção, de forma a ser menos dependente do tamanho da cóclea do paciente [4, 5]. Estudos mostraram que ICs de diferentes fabricantes influenciam na resposta à manutenção da audição residual após a cirurgia [4]. No entanto, estes não avaliam a relação entre o ângulo de inserção do implante e a resposta do paciente. Desta maneira, o objetivo deste trabalho foi desenvolver uma ferramenta para calcular o ângulo de inserção do IC, a partir de exames de TC. Com isto, pode-se comparar o ângulo de inserção médio de modelos de IC de 3 fabricantes diferentes. XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 24 A 27 DE AGOSTO DE 2016 Florianópolis Método: Para o estudo foram utilizados exames de TC de 5 crânios dissecados com implante de 3 modelos de IC, totalizando 15 exames. O método para cálculo do ângulo de inserção do IC, desenvolvido em Matlab, utiliza técnicas de limiarização e contorno ativo para segmentação e reconstrução 3D do implante. A medida de inserção de profundidade angular seguiu a metodologia proposta por Xu et al [5]. O ângulo de referência (0º) foi definido como o centro da janela redonda [3], a qual foi identificada a partir da análise de um radiologista experiente. Com o método, foi possível comparar o ângulo de inserção médio entre os 3 modelos de IC. Para comparação, utilizou-se testes t de Student entre os grupos (I, II e III), referentes aos diferentes modelos de IC. Resultados: Os resultados obtidos entre os modelos de ICs dos 3 fabricantes analisados são apresentados na figura 1. Discussão e Conclusões: Pela análise da figura 1, observa-se que há uma diferença significativa entre o ângulo de inserção para o IC do grupo II, quando comparado ao I e ao III. Estas diferenças são atribuídas à características físicas (tamanho, espessura, número de eletrodos e flexibilidade) dos ICs, uma vez que os mesmos crânios foram utilizados para os três grupos, retirando a variabilidade do tamanho das cócleas. Estas variações encontradas podem, na prática clínica, influenciar diretamente na resposta à manutenção da audição residual do paciente após a cirurgia. Figura 1. Medidas de ângulo de profundidade de inserção para implantes cocleares de 3 fabricantes diferentes. Os dados são apresentados como média ± desvio padrão. Letras diferentes indicam diferenças significativas (p<0,05) Desta forma, estes resultados preliminares mostram a eficiência do método desenvolvido para avaliação do ângulo de profundidade de inserção dos ICs, a partir da análise das imagens de TC. Como estudos futuros, almeja-se comparar o ângulo de inserção do IC com a resposta pós-operatória do paciente. Com isto, será possível estabelecer as características ideais dos ICs, tornando uma avaliação personalizada à cada paciente, pré e pósimplante. Com esta avaliação mais precisa antes da escolha do modelo de IC, almeja-se evitar traumas durante a cirurgia, além de melhorar a eficiência da resposta auditiva após a cirurgia. Além disto, a ferramenta desenvolvida pode ser aplicável para todas as sub-especialidades envolvidas na investigação coclear e assistência ao paciente. Agradecimentos: Os autores agradecem a CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro. Referências: 1. Verbist BM, Frijns JH, et al. Multisection CT as a valuable tool in the postoperative assessment of cochlear implant patients. AJNR Am J Neuroradiol. 2005; 26(2):424-9. 2. Ferrari DV, Sameshima K, et al. Neural Response relemetry on the nucleus 24 multichannel cochlear implant system: literature review. Rev Bras Otorrinolaringol. 2004; 70(1):112-8. 3. Verbist BM, Skinner MW, et al. Consensus panel on a cochlear coordinate system applicable in histologic, physiologic, and radiologic studies of the human cochlea. Otology & neurotology : official publication of the American Otological Society, American Neurotology Society [and] European Academy of Otology and Neurotology. 2010; 31(5):722-30. 4. Franke-Trieger A, Murbe D. Estimation of insertion depth angle based on cochlea diameter and linear insertion depth: a prediction tool for the CI422. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2015; 272(11):3193-9. 5. Xu J, Xu SA, et al. Cochlear view: postoperative radiography for cochlear implantation. Am J Otol. 2000; 21(1):49-56.