8 DOMINGO - O Estado do Maranhão - São Luís, 30 de janeiro de 2011 COMPORTAMENTO Transtornos de imagem aumentam no verão A morte da modelo Isabelle Caro, em novembro de 2010, reacendeu a discussão sobre os transtornos de imagem relacionados ao perfil de beleza que nunca é atingido; veja como lidar com o problema e como identificar os sintomas SAIBA MAIS Kamila Almeida Do Jornal Zero Hora P ORTO ALEGRE - A imagem do corpo extremamente magro da modelo e atriz francesa Isabelle Caro chocou o mundo em 2007. Isabelle, que havia entrado em coma um ano antes ao pesar 25 quilos – ela media 1,65m –, tornou-se símbolo de uma campanha contra a anorexia. No ano passado, anunciou que chegara aos 42 quilos, mas acabou morrendo no dia 17 de novembro, aos 28 anos, o que só foi revelado em dezembro. O fato levantou novamente a polêmica sobre os transtornos de imagem relacionados ao perfil de beleza que nunca é atingido. Considerada um problema psiquiátrico, a anorexia é um dos que mais matam – de 20% a 25% dos casos resultam em falência do organismo. Uma boa parcela acaba em internação hospitalar e a maioria consegue conviver bem com a doença ao longo da vida. Assim, aconteceu com a jovem N.*, 20 anos. Há cinco anos, após uma crise de fúria, precisou ser internada durante um mês. O ataque foi desencadeado depois que a mãe insistiu que a filha comesse uma fatia de bolo. Após receber alta, precisou tomar cinco tipos diferentes de remédios para aplacar a ansiedade e a depressão. “Em momentos de crise, cheguei a beber xampu para vomitar. Queria parar de me sentir gorda, nojenta. Me chamavam de esquelética, mas a imagem que eu via o espelho refletir era de uma obesa”, conta a jovem, que cursa Nutrição e mora em Canoas. Medindo 1,58m, a jovem chegou a pesar 35 quilos. Hoje A modelo e atriz francesa Isabelle Caro causou polêmica ao posar nua, em 2007, para uma campanha contra a anorexia, mostrando seu corpo devastado pela doença. Isabelle havia sido hospitalizada devido a problemas pulmonares e, segundo amigos, estava bastante fraca. A imagem de seu corpo extremamente magro, feita pelo fotógrafo Oliviero Toscani — conhecido por suas idéias provocadoras e pelos anúncios da grife Benetton — para uma campanha organizada pela marca de roupas italiana No- I- ita, rodou o mundo e incitou amor e ódio de diversos segmentos. Na época, Isabelle explicou que tinha aceitado posar para alertar as jovens sobre o perigo das dietas, da ditadura da moda e da anorexia. Ela morreu no dia 17 de novembro, aos 28 anos. lemática. Depois de meia década com a doença adormecida, a relação com o alimento mudou bastante, mesmo assim é uma luta diária para não ter recaídas. “Amo estar viva e comer é algo necessário. Me sentia muito mal ter tanta gente morrendo de fome e eu com essa ‘doença de rico’”, afirma. Pessoas com transtornos de imagem não enxergam a própria imagem e se vêem sempre mais gordos mantém 43 quilos. Não era o caso de abrir o apetite. Fome ela tinha de sobra. O fato é que se sentia impotente diante de um prato de comida. “Eu ficava ner- vosa, as mãos suavam. Isso era pior diante de outras pessoas. Parecia que todo mundo estava me olhando e me julgando. Eu queria comer, mas não con- seguia”, relata. A dificuldade em lidar com a comida se desenvolveu na garota por volta dos 7 anos, mas foi aos 13 que se tornou mais prob- Epidemia - A doença da jovem de Canoas preocupa os especialistas e já está se tornando uma epidemia, que tende a aumentar no verão, conforme a psicóloga e terapeuta familiar Ieda Zamel Dorfman. Se antes o descaso com o alimento e a rebeldia dos adolescentes eram vistos como "coisas da idade", de alguns anos para cá, vem deixado o meio médico em alerta. “Os pais precisam ficar mais atentos ao comportamento dos filhos. Assim que notarem qualquer sinal do problema devem buscar um especialista e impedir que a doença fique incontrolável. Doenças como essas não são aceitas pela sociedade, mas é o paciente quem menos aceita”, diz a endocrinologista Patrícia Santafé. *Os nomes foram omitidos a pedido dos personagens Os distúrbios Anorexia Fatores desencadeantes: - Baixa auto-estima: paciente se acha muito gorda, começa a emagrecer e não sabe a hora de parar; - Desilusão amorosa: o namoro terminou e ela começa a achar que é porque está gorda e se emagrecer vai se tornar mais atraente; - Adolescentes em busca da beleza definida pela sociedade. Características da doença: - Atinge em média a faixa etária entre os 11 e 18 anos, mantendo uma média de 10 meninas para um menino; - Magreza extrema. A doença se manifesta aos poucos no cérebro, e a paciente chega a perder mais de 10 quilos em três meses; - O problema não é a ausência de fome, mas sim o pavor de se alimentar e engordar; - A visão fica distorcida com relação à imagem diante do espelho. Quanto mais emagrecem, mais acham que estão gordas. Atenção aos sinais: - Deixam de comer. Sempre que chamados para uma refeição, dão alguma desculpa ou mentem que comeram na casa de um amigou ou no colégio; - Ficam irritados com freqüência e sempre acham que as pessoas estão contra ele; - Não querem mais participar de atividade familiar e se afastam dos amigos; - Optam por roupas largas para disfarçar a perda de peso; - Começam a adotar estratégias para provar que estão se alimentando, como cozinhar. Passam a preparar refeições em demasia e a oferecer para a família, mas não comem; - Diminuição importante da ingestão de líquidos. Tratamento: - O primeiro passo é fazer com que o paciente ou familiares identifiquem os sintomas; - Somente um grupo formado por psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, endocrinologistas e terapeutas familiares pode ajudar a reverter o transtorno; - Como os viciados em drogas, os anoréxicos estão sempre sujeitos a recaídas. Por isso, o acompanhamento médico deve ser constante; - Internação hospitalar é necessária em casos de extrema desnutrição. Conseqüências: - A perda exagerada de massa óssea por conta do déficit alimentar pode levar à osteoporose precoce; - A ausência de nutrientes no organismo pode provocar atraso na menstruação. Interfere na fertilidade. Dicas para a família: - Mantenha horários para as refeições e organize para que todos compareçam e se sentem à mesa; - Fique atento aos sinais. Como são confundidos com características da adolescência, muitos pais não dão a devida atenção; - Tente manter o diálogo e arrume meios de reforçar a auto-estima do seu filho. Dizer coisas do tipo "como essa roupa ficou bem em você" ou "como você está bonita hoje" são algumas das dicas; - Procure ajuda assim que desconfiar do comportamento do seu filho em relação à comida. Quanto mais cedo chegar a ajuda médica, mais fácil é para contornar a doença; - Provavelmente, seu filho não aceitará que tem algum problema. Insista sem conflitos. Lembre-se: ele não acredita que esteja doente e não se enxerga magro como você o vê. Bulimia Fatores desencadeantes: - Perdas: separações, mudanças e outros fatores estressantes para a paciente e/ou para sua família; - Ansiedade. Características da doença: - Compulsão alimentar: a pessoa come mais do que o normal e de maneira voraz; - Para compensar o descontrole e prevenir o aumento de peso, induz o vômito, abusa de laxantes e diuréticos; - Preocupação excessiva com a forma corporal e o peso; - Trata-se de um círculo vicioso, geralmente desencadeado pelo sentimento de baixa auto-estima. Atenção aos sinais: - Atos exagerados como devorar uma torta inteira ou comer um prato de feijão com arroz no meio da tarde às escondidas; - Idas imediatas ao banheiro após as refeições para vomitar; - Queixas constantes de dores no estômago ou na garganta; - Mudança de humor e irritabilidade, como choro e raiva constantes; - Inchaço entre o rosto e o pescoço; - Calosidades nos dedos podem ser um indício de que a pessoa está provocando o vômito; - Obsessão por exercícios físicos. Conseqüências: - Deterioração dos dentes: o vômito tem ácido que compromete o esmalte dos dentes, podendo resultar, inclusive, em cáries; - Gastrite; - Dores de garganta; - Problemas no esôfago, resultado do refluxo do conteúdo do esto- mago durante os vômitos; - Síndrome de intestino irritável (tem como sintomas dor e distensão abdominal e há um aumento no número de evacuações e amolecimento das fezes); - Desidratação como conseqüência do uso de medicamentos como diuréticos. Vigorexia Fatores desencadeantes: - Baixa auto-estima e fragilidade emocional. Características: - Faz parte de um subtipo do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), chamado de Transtorno Dismórfico Corporal; - Em geral, é o personal trainer quem encaminha o paciente para o tratamento, mas a família deve estar atenta aos sinais de obsessão. Atenção aos sinais - Por mais musculoso que seja, o indivíduo se olha no espelho e enxerga alguém fraco, magro demais; - Uso de qualquer produto para conquistar a forma física almejada, como anabolizantes e medicamentos veterinários injetáveis, prejudiciais à saúde; - A vida social e profissional começa a ser afetada, e o paciente tem dificuldade para dispensar energia em outro foco que não seja a malhação; - O máximo de tempo do dia é gasto com malhação; - Se isola na academia para conseguir o que ele quer com o corpo; - Se olha pelo menos seis vezes por dia no espelho. Tratamento: - Terapia e uso de antidepressivos que repõem a transmissão de serotonina no cérebro. Conseqüências: - Exigem demais do coração e também de outros órgãos vitais, podendo desencadear problemas crônicos, como cardiopatias; - Ansiedade generalizada; - Insônia; - Depressão; - Déficit de atenção; Dicas : - O excesso de malhação pode causar problemas na musculatura, por isso é bom sempre ter um ortopedista de confiança a quem consultar; - Procure um especialista e fale sobre as suas angústias para entender o motivo que faz com que os músculos sejam tão importantes para você.