1 A importância da fisioterapia após um trauma raquimedular Michele da Silva Panfilio 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Meija² Pós-graduação em Fisioterapia Neurofuncional – Faculdade Ávila Resumo O traumatismo raquimedular é uma lesão que ocorre nos elementos neurais do canal medular de forma traumática e abrupta que resulta em déficits neurológicos. Acomete a via de estímulos sensitivos e motores entre a medula e o encéfalo. É uma lesão que as literaturas definem como completa, quando atinge vias motoras e sensitivas, e incompleta quando compromete somente algumas vias motoras ou sensitivas. Possui etiologias dentre as principais estão: acidentes automobilísticos, ferimentos por arma de fogo, mergulho em água rasa e quedas de alturas. Predomina em jovens do sexo masculino no qual as literaturas denominam como produtivos, tornando-se assim um grande problema de saúde pública mundial. O objetivo deste estudo foi mostrar, a partir de revisão da literatura, de qual forma a fisioterapia pode contribuir com recursos fisioterapêuticos para uma melhor qualidade de vida e funcionalidade. Para elaboração da pesquisa, foram analisados estudos que demonstrasse as condutas fisioterapêuticas e os recursos mais utilizados bem como estudos que comprovassem a importância da fisioterapia nas pessoas que sofreram traumatismo raquimedular. As pesquisas foram obtidas nos bancos de dados: Scielo, Bireme, Lilacs , Revistas Científicas e livros na língua portuguesa. Para isso foram utilizados 20 artigos e 06 livros que demonstraram que a fisioterapia tem grande importância nos cuidados aplicados em um lesionado medular, executando condutas que auxiliam no alívio de sinais e sintomas, melhorando a funcionalidade e buscando melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Trauma raquimedular; Fisioterapia; Medula espinhal. 1. Introdução A medula espinhal é via de ligação entre o encéfalo e o corpo. Ela promove a condução de sinais de saída (eferentes), para o controle das funções corporais, e de entrada (aferentes), para informar ao cérebro o que está ocorrendo no corpo (ABRAHAMS, 2009). A lesão medular é definida pela American Spinal Injury Associantion (ASIA), como sendo uma diminuição ou perda da função motora e/ou anatômica, por trauma dos elementos neuronais dentro do canal vertebral, podendo ser total ou parcial (DINIZ et al. 2009). O trauma raquimedular (TRM) é uma lesão neurológica incapacitante, com grande impacto na sociedade, representando um problema de saúde pública (FERREIRA, 2012). A lesão ocorre, preferencialmente, no sexo masculino, na proporção de 4:1, na faixa etária entre 15 a 40 anos. Acidentes automobilísticos, queda de altura, acidente por mergulho em água rasa e ferimentos por arma de fogo têm sido as principais causas de traumatismo raquimedular (TRM) (DEFINO, 1999). A fisioterapia precoce, ainda no período hospitalar, por meio de diferentes técnicas cinesioterapêuticas, é eficaz em todas as fases da doença, previne deformidades, proporciona maior independência funcional e melhora a qualidade de vida (CAVENAGHI, 2005). 1 Pós-graduando em Fisioterapia Neurofuncional ² Orientadora:Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestre em Bioética e Saúde. 2 Apesar de existirem poucos estudos da fisioterapia na área do TRM, a mesma tem grande importância no tratamento contínuo e prolongado buscando sempre a independência funcional e evitando possíveis complicações que possam interferir na qualidade de vida de pessoas acometidas de traumatismo raquimedular. Este estudo bibliográfico tem por objetivo sintetizar os principais tratamentos fisioterapêuticos e mostrar a importância da fisioterapia na busca de uma melhor qualidade de vida em decorrência do trauma raquimedular. 2. A Medula Espinhal Segundo Abrahams, 2009: “A medula espinhal é uma estrutura ligeiramente cilindricamente achatada de 42 a 45 cm de comprimento e aproximadamente 2,5 cm de diâmetro em adultos. Ela é uma continuação da medula oblonga, a parte inferior do tronco encefálico no nível do forame magno, maior abertura na base do crânio. Depois, ela segue para baixo ao longo do pescoço por trás do canal vertebral, protegida pelos corpos vertebrais, que, em conjunto, formam a coluna vertebral”. Fonte: Acessado em: <http://www.manualmerck.net/?id=85&cn=823> Figura 1 – Anatomia da Medula Espinhal A medula subdivide-se em cervical, torácica e lombar, por onde se projetam 31 pares de nervos espinhais, que emergem dos forames de conjugação das vértebras, sendo oito pares de nervos cervicais, 12 pares de nervos torácicos, cinco pares de nervos lombares, cinco pares de nervos sacrais e um par de nervos coccigeos (EKMAN, 2007 apud SÁ et al. 2011). 3 Uma lesão medular ocorre segundo COELHO et al. (2000) apud SANCHES (2012), devido a morte dos neurônios e a quebra de comunicação entre os axônios oriundos do cérebro e suas conexões com os neurônios da medula interrompendo a comunicação entre o cérebro e todas as partes do corpo que ficam abaixo da lesão. A lesão da medula espinhal é uma das mais graves complicações que causam incapacidade no ser humano, pois provoca falência de uma série de funções vitais como: locomoção, sensibilidade, sexualidade, sistema urinário e intestinal e do sistema nervoso autônomo (NEVES, 2007). Algumas complicações decorrentes de uma lesão medular são: bexiga e intestino neurogênicos, espasticidade, úlcera de pressão, deformidades ósteoarticulares, trombose venosa profunda, ossificação heterotópica e síndromes dolorosas (VALL; BRAGA, 2005). 3. Traumatismos da Medula Espinhal O traumatismo da medula espinhal (TME) é um grande problema de saúde no Brasil e no mundo em razão dos danos neurológicos freqüentemente associados, apresentando maior incidência em indivíduos adultos do sexo masculino (SARTORI et al. 2009). Nos primeiros minutos do TRM são comuns complicações como a hipertensão arterial e disritmias cardíacas, seguidas da fase de choque, resultante da diminuição do tônus simpático e perda das respostas motora e sensitiva, com duração de três a seis semanas, caracterizada por manifestações cardiovasculares e neurológicas importantes, destacando-se a diminuição do retorno venoso pelo vaso dilatação periférica; a diminuição do volume sistólico e débito cardíaco; a bradicardia e a diminuição da tolerância ao exercício; a alteração da termorregulação; a diminuição do fluxo sanguíneo para os músculos em atividade e a paralisia flácida (Cavenaghi, 2005). Segundo Sartori (2009), entende-se por reabilitação neurológica um processo que busca o desenvolvimento das capacidades remanescentes, permitindo que o indivíduo alcance o objetivo principal, que é a reintegração familiar e comunitária dentro das maiores possibilidades físicas e funcionais. Para Cavenaghi (2005), é imprescindível para reabilitação desses pacientes, o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar e com intervenção fisioterapêutica precoce, assim que o paciente chega ao Hospital, seja no pronto-atendimento, na enfermaria ou na unidade de terapia intensiva. E conforme Sá et al. (2011), O atendimento fisioterapêutico visando à reabilitação do paciente TRM, geralmente inicia-se no âmbito hospitalar logo após a lesão. No entanto deverá continuar a domicílio, pois só assim poderá ser elaborado um plano de tratamento de acordo com a realidade social do paciente, sempre levando em conta a individualidade de seu caso. A reabilitação física de tais pacientes se inicia na fase aguda, logo após a ocorrência do trauma, especialmente através dos cuidados preventivos contra a formação de ulceras de pressão e deformidades dos segmentos “paralisados”, esvaziamento vesical e intestinal realizado de maneira adequada e cuidados com os distúrbios vasomotores (Sartori, 2009). 4. Classificação da lesão da medula espinhal Segundo Dreeben (2010), a American Spinal Injury Association classifica as lesões de medula espinal da seguinte forma: (1) tetraplegia (paralisia total dos quarto membros e do tronco, inclusive dos músculos respiratórios, causada pela lesão da medula espinal cervical: (2) paraplegia (paralisia total dos membros inferiores e parte do tronco causada pela lesão dos segmentos torácicos ou lombares da medula espinal, ou da cauda eqüina). 4 5. Mecanismo de lesão no traumatismo raquimedular De acordo com Dreeben (2010): Lesão por reflexão: mecanismo mais comum de lesão, responsável por alta porcentagem de TRM lombares ou cervicais nos níveis de T12 a L2 e C4 a C7. As lesões em reflexão podem causar: fraturas anteriores dos corpos vertebrais, dos ligamentos espinais posteriores; rupturas discais; luxação anterior do corpo vertebral. Lesão por reflexão-rotação – pode causar: fraturas de pedículos, lâminas e facetas articulares; luxações e subluxações das articulações da facetas; ruptura dos ligamentos posterior e interespinhoso. Lesão por compressão – pode causar: fraturas côncovasdas placas terminais das vértebras; fraturas cominutivas; fraturas em gota d`água; rupturas do disco intervetebral. Lesão por hiperextensão – pode causar: fraturas dos processos espinhosos, das facetas e das lâminas; fraturas por avulsão da superfície anterior das vértebras; rupturas do ligamento longitudinal anterior; ruptura discal. 6. Comprometimentos clínicos do traumatismo raquimedular (TRM) De acordo com Dreeben (2010): A arreflexia (choque espinal); Os déficits sensoriais e motores; A disreflexia (hiper- reflexia); Hipotensão postural (hipotensão ortostática); O déficit do SNS (sistema nervoso simpático); O déficit respiratório; Os déficit das funções vesical e intestinal; Os déficit das função sexual; Comprometimentos indiretos: atelectasia e pneumonia. 7. Capacidades funcional e de assistência do TRM A seguir estão relacionados as principais capacidades funcionais e de assistência do traumatismo raquimedular em seus respectivos níveis de lesão, segundo Dreeben (2010): a) Segmento mais distal inervado. Níveis de C1, C2 e C3: totalmente dependente de assistência para realiza as AVD e transferências; independente para utilizar cadeira motorizada (com encosto reclinável e controlável eletricamente), que disponha de um respirador e de um microcontrole ou controles de sopro e sucção; apresente habilidade na cadeira de rodas e no leito. b) Segmento mais distal inervado. Nível de C4: totalmente dependente de assistência para realizar AVD, transferências, tosse, respiração glossofaríngea e inspeção de pele; pode utilizar uma haste presa à cabeça ou a boca (ou dispositivo de soprar-sugar, ou órtese de mão) para digitar no teclado do computador; e é capaz de jogar jogos de mesa (como cartas ou xadrez), pintar ou desenhar; independente na cadeira de rodas motorizada com 5 controles de cabeça, a boca, queixo oi dispositivo de soprar-sugar; apresenta habilidades na cadeira de rodas e no leito. c) Segmento mais distal inervado. Nível de C5: depende de alguma assistência e suporte para AVD, para se vestir, para realizar transferências com pranchas de deslizamento e barra giratória acima da cabeça, para inspeção de pele para tosse com compressão manual do diafragma: consegue dirigir automóvel com controles manuais; apresenta habilidade co a cadeira de rodas e no leito; independente com cadeira de rodas manual com aro ao redor dos pneus e cadeira de rodas motorizada com controles de braços; consegue alimentar-se e pode aliviar a pressão d) Segmento mais distal inervado. Nível de C6: depende de muito pouca assistência para as AVD; pode ser independente com equipamentos de adaptação para alimentar-se (utiliza também a força da gravidade), realiza auto cuidado e cuidado com higiene vesical e intestinal, transferências (com prancha de deslizamento), inspeção da pele, tosse (com compressão do abdome), dirige, prepara refeições rápidas e pratica esportes em cadeiras de rodas; não consegue arrumar os sapatos; apresenta habilidade na cadeira de rodas e no leito; pode utilizar a cadeira de rodas manual com aros nos pneus por todo o tempo e cadeira de rodas motorizadas para longas distâncias e para locomove-se na comunidade. e) Segmento mais distal inervado. Nível de C7: Independente nas AVD alimenta-se, vestese, realiza atividades de autocuidado, transferências (com ou sem prancha de deslizamento), cuidado para função vesical e intestinal, tosse com compressão manual, realiza tarefas domésticas leves e dirige; consegue entra e sair do carro; apresenta habilidade na cadeira de rodas e no leito; independente na cadeira manual com superfície de atritos no aros. f) Segmento mais distal inervado. Níveis de C8 a T1: Independente nas AVD, realiza tarefas domésticas leves, prepara refeições, faz transferências e dirige automóvel; consegue trabalha (em ambiente sem obstáculos físicos); habilidade na cadeira de rodas e no leito; independente com uma cadeira de rodas manual com aros convencionais. g) Segmento mais distal inervado. Níveis de T4 a T6: Independente para realizar atividades no leito, nas AVD, na cadeira de rodas, transferência e tarefas rotineiras de manutenção de casa; pode subir e descer meios-fios e empinar a cadeira de rodas; pode participar de esportes em cadeiras de rodas; consegue adotar a postura ereta fisiológica em uma mesa ortostática (ou suporte para ficar de pé) utilizando OJTP. Alguns pacientes conseguem percorre distancias curtas com OJTP. h) Segmento mais distal inervado. Níveis de T9 a T12: Independente para andar dentro de casa utilizando OJTP bilaterais e muletas (ou andador); utiliza cadeira de rodas apenas para conservar energia. i) Segmento mais distal inervado. Níveis de L2, L3 e L4: Consegue realizar marcha funcional independente com OJTP bilaterais e muletas; utiliza cadeira de rodas apenas para conservar energia. j) Segmento mais distal inervado. Níveis de L4 e L5: Consegue realizar marcha funcional independente com OJTP bilaterais e muletas (ou bengalas); utiliza cadeira de rodas apenas por conveniência e para poupar energia. 6 8. Processo de tratamento fisioterapêutico Um plano de conduta abrangente e individualizado é essencial. Todas estas características são mais bem conduzidas em centros de reabilitação experientes que podem fornecer assistência na modificação doméstica, novo treinamento para dirigir e reabilitação vocacional (SANCHES et al. 2012). Para tal adotou-se o protocolo estabelecido pela Associação Americana de Lesão Medular (ASIA) e a Medida de Independência Funcional (MIF). (SARTORI et al. 2009). A Associação Americana do Trauma Raquimedular (Asia – American Spine Inury Association) desenvolveu padrões para a avaliação e classificação neurológica do TRM, que apresentou grande aceitação em nível mundial (FERREIRA et al. 2012). A avaliação neurológica baseia-se na sensibilidade e na função motora e possui uma etapa compulsória, em que se determina o nível da lesão neurológica, motor e sensitivo, e se obtêm números que, em conjunto, fornecem um escore. A outra etapa é opcional (avaliação da sensibilidade profunda, propriocepção, dor profunda) e não participa na formação do escore, mas acrescenta importantes informações na avaliação clínica dos pacientes (MAGALHÃES et al. 2011). Fonte: DREEBEN, Olga. Mds: Manual de sobrevivência para fisioterapia; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. Figura 2 – Escala ASIA de Incapacidade 7 Atualmente, os programas de reabilitação têm usado como fonte de informações, a escala de Medida de Independência Funcional (MIF) (POMPEU et al. 2010). A Medida de Independência Funcional (MIF), empregada para a avaliação da independência funcional, verifica o desempenho do individuo para a realização de um conjunto de 18 tarefas, referentes às subescalas de autocuidados, controle esfincteriano, transferências, locomoção, comunicação e cognição social (ANDRADE et al. 2010). Assim Riberto (2004), complementa que cada uma dessa atividades é avaliada e recebe uma pontuação que parte de 1 (dependência total) a 7 (independência completa), assim a pontuação total varia de 18 a 126. Fonte: Acessado em: <http://dc432.4shared.com/doc/iq8ROtGT/preview.html> Tabela 1 - Medida de Independência Funcional (MIF) 9. Escala de Ashoworth Esta escala avalia o tônus muscular do paciente (capacidade ou prontidão do músculo para se contrair). Essa avaliação torna-se importante à medida que pacientes com lesão medular podem apresentar uma série de variações do tônus, tais como: flacidez (ausência de tônus), 8 hipotonia (tônus diminuído), hipertonia (tônus aumentado), rigidez (estado grave de hipertonia, resulta incapacidade de mover os membros afetados) e espasticidade (tônus muscular alterado dependente da velocidade – quanto mais rápido for mobilizado o membro, maior será a resistência gerada) (SÁ et al. 2011). Fonte: Acessado em : <http://www.actafisiatrica.org.br/detalhe_artigo.asp?id=53> Tabela 2 – Escala Modificada de Ashworth 10. Índice de Barthel Segundo Sá et al. (2011). Tem por função avaliar o grau de autonomia (independência) de um paciente, levando em conta 10 itens de mobilidade e cuidados com AVDs. Cada atividade possui um escore com pontuação que variam entre, zero (dependente), cinco (necessidade de ajuda ou supervisão), dez (parcialmente dependente) e quinze (independente) sendo que o final somar-se-iam 100 pontos.com a soma da pontuação do teste podemos então classificar o grau de independência do paciente de acordo com a escala abaixo: 0 -15 = dependência total; 20-35 = dependência grave; 40-55 = dependência moderada; 60-95 = dependência leve; 100 = independente. O conhecimento sobre a doença, sinais e sintomas clínicos e as respectivas consequências funcionais por meio de instrumentos validados, oferecem subsídios aos fisioterapeutas para estabelecimento de objetivos e adequação da conduta ao prognóstico do paciente (POMPEU et al. 2010). Torna-se então fundamental o processo de reabilitação na vida desses pacientes, auxiliando-os principalmente na busca de independência funcional para atividades de vida diárias (AVDs),para que possam posteriormente, de acordo com seu quadro específico, tomarem de volta suas vidas sociais e profissionais (SÁ et al. 2011). 9 O fisioterapeuta atua por meio de técnicas respiratórias, que incluem percussão, vibração, técnicas de tosse assistida, aspiração, dentre outras, que são eficazes na remoção de muco das vias aéreas (FERREIRA et al. 2012). Portanto é primordial que a musculatura respiratória esteja funcionando normalmente, uma vez que o seu comprometimento pode levar à hipoventilação, redução na tolerância ao exercício e, em casos extremos, á insuficiência respiratória (SILVA et al. 2011). 11. Cinesioterapia A fisioterapia evita ou ameniza efeitos deletérios da mobilidade por meio da cinesioterapia, sendo a mobilização precoce, os exercícios terapêuticos e o treinamento funcional, os métodos mais simples e efetivos (SISÇÃO et al. 2007). A resistência aplicada nos músculos mais potentes do membro superior pode produzir irradiação para os fracos, em outras áreas do corpo. E desse modo, em conformidade com os resultados obtidos, que podemos sugerir que o uso de padrões funcionais de movimento pode melhorar a execução de transferências. Programas de treinamento após a lesão medular espinhal, têm impacto direto na função e qualidade de vida, permitindo, assim, participação em atividades físicas e da vida diária de pacientes lesados medulares (NUCIATO et al. 2009). Dessa forma, Cavenagui et al. (2005), em um trabalho de atualização, verificaram a aplicabilidade e os efeitos da cinesioterapia na reabilitação de pacientes com trauma raquimedular durante a permanência hospitalar, e concluíram que há necessidade de novas pesquisas no campo da fisioterapia com foco na reabilitação funcional do paciente lesado raquimedular e na prevenção das comorbidades às quais eles estão expostos, principalmente durante a fase hospitalar. 12. Eletroterapia A terapia com raios laser de baixa potência é uma técnica capaz de acelerar o processo de reparação de tecidos biológicos traumatizados (ABREU et al. 2011). A eficácia da EENM em melhorar a força muscular isométrica está fundamentalmente na literatura. A melhora da força ocorre como resultado do aumento da tensão funcional aplicada ao músculo e como resultado da reversão do recrutamento do nervo motor (STARKEY, 2001). Vários sistemas de EENM/ergometria combinados foram desenvolvidos especificamente para pacientes com LME para determinar se contrações repetidas, de baixo nível, induzidas pela EENM contra baixas resistências irão produzir respostas cardiopulmonares e adaptação similares às observadas em população saudáveis (ROBINSON, 2001). 13. Reorientação para posição vertical Voltar a caminhar é o objetivo principal tanto dos pacientes que apresentam paraplegia como dos profissionais (EDELSTEIN, 2006). A necessidades da cadeira de rodas incrementa o arsenal simbólico da condição da deficiência que a pessoa, acometida pela LME, enfrenta. Expressa as características de incapacidades funcionais e as desvantagens que as pessoas podem apresentar diante dos aspectos físicos, sensoriais e psicossociais, reforçando a segregação e sentimentos discriminatórios ante a sociedade (COSTA et al. 2010). 10 A realização das funções de alcance dos membros superiores para as pessoas que utilizam cadeiras de rodas representam a possibilidade de maior interação com o ambiente, e maior independência para as atividades de vida diária, lazer e atividade laborais (MEDOLA et al. 2009). A prescrição ortótica para pacientes com paraplegia é influenciada primariamente pelo nível da lesão da medula espinhal. As órteses projetadas para postura de pé aplicam sobre o usuário um sistema de forças de quatro pontos, a saber, forças direcionadas posteriormente, a partir da porção média do tórax e da porção média do tórax e da porção média da perna, e anteriormente, a partir da região dorso-lombar e dos pés (EDELSTEIN, 2006). Fonte: EDELSTEIN, Joan E. Órteses: abordagem clínica / Joan E. Edelstein e Jan Bruckner; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Figura 3 – Sistema de forças de quatro pontos necessários para manter-se de pé com auxílio ortótico Estimulação elétrica funcional (FES) se refere à tecnologia auxiliar em desenvolvimento que pode gerar movimentos propositados e úteis dos membros, aplicando ativação elétrica de músculos paralisados ou espásticos. Em pacientes selecionados com lesão da medula espinal, pode-se conseguir a posição de pé e a marcha, coordenando as ações de músculos fracos, paralisados ou sem controle sinérgico e com os movimentos voluntários remanescentes (ROSE, 2007). O aparecimento de alternativas às órteses sob medida, tais como as estruturas para ficar de pé, estimulação elétrica funcional e cadeiras de roda que ficam de pé, permite que a equipe de reabilitação promova um encontro mais racional entre as capacidades funcionais do paciente e o equipamento mais apropriado (EDELSTEIN, 2006). No Brasil, a qualidade de vida tem sido pesquisada, especialmente, em condições crônicas de saúde-doença (BAMPI et al. 2008). Contudo, as seqüelas decorrentes desse trauma, assim como as dificuldades sociais, fazem com que os níveis de qualidade de vida destes indivíduos sejam inferiores aos da população em geral, mesmo em países desenvolvidos (BRUNOZI et al. 2011). 14. Metodologia 11 O presente estudo foi realizado por meio de revisão da literatura, incluindo neste estudo artigos e livros em português, publicados no período de 1999 à 2012. Com abordagem de assuntos sobre a lesão medular, traumatismo raquimedular, tratamento fisioterapêutico e reabilitação. Foram excluídos artigos e livros que estavam fora da abordagem do tema e com periódicos que estivessem com o ano fora do tempo estipulado para a pesquisa. Para a atualização da literatura e discussão, foram realizados consultas nas bases de dados Scielo, Bireme, Lilacs, Revistas Científicas como: Revista Neurociências, Revista Coluna/Columna. Por meio das seguintes palavras-chave: lesão medular, trauma raquimedular, reabilitação e fisioterapia. Através do levantamento foram utilizados 20 artigos e 06 livros para enriquecer a fundamentação teórica do trabalho em pesquisa. 15. Resultado e discussão Através da busca na literatura resultou-se como definição para o traumatismo raquimedular, como sendo uma instalação inesperada e abrupta, com forte potencial para causar seqüelas que em muitos casos se tornam irreversíveis, tanto como paraplegia, quanto para tetraplegia. Devido ser uma ocorrência em faixas etárias consideradas como produtiva, tornou-se um enorme problema de saúde pública mundial. A maior parte das lesões medulares ocorre como resultado de traumas causados por acidente de automóvel, queda ou ferimento por projétil de arma de fogo (GARANHANI et al. 2009). A prevenção desde tipo de trauma exige a identificação das características dos indivíduos envolvidos, causas, níveis de lesão e deficiências, características pessoais e clínicas, além do conhecimento das situações nas quais o mesmo ocorreu, constituindo o ponto de partida para a estruturação de programas preventivos, pois a sua incidência pode variar de acordo com o local e o momento histórico (VASCONCELLOS et al. 2011). A fisioterapia, como parte da reabilitação, tem o importante papel de auxiliar o indivíduo com lesão medular e seus familiares nessa readaptação física e funcional precocemente, executando e orientando exercícios e atividades funcionais, cuja finalidade é prevenir complicações cardiorrespiratórias e músculo-esqueléticas, e torná-lo independente de acordo com seu potencial residual (GARANHANI et al. 2009). Aumentar a Capacidade Respiratória Manter a ADM e evitar contratura Manter a integridade da pele, livre de úlceras de pressão ou outras lesões Com exercícios de respiração profunda; exercícios de fortalecimento dos músculos respiratórios; Ajudando o paciente a tossir; Alongar os músculos abdominais; Realizar exercícios de ADMP; Utilizar talas; Realizar alongamentos seletivo para preservar a função Seguir um programa de posicionamento; Utilizar dispositivos para aliviar a pressão; Instruir o paciente quanto às medidas e ás atividades para aliviar a pressão e a inspeção diária da pele; 12 Aumentar a força de todos os músculos inervados remanescentes Reorientar o paciente para posição vertical Promover o retorno precoce das habilidades necessárias à mobilidade funcional e às AVD Realizar fortalecimento seletivo durante a fase aguda; Fazer exercícios de resistência; Fortalecer o deltóide, os extensores do ombro, o bíceps e o trapézio dos pacientes com tetraplegia e todos os músculos do membro superior quando há paraplegia; Utilizar mesa ortostática e cadeira de rodas; Usar faixa abdominal; Enfatizar o rolar independente; Realizar atividades de mobilidade no leito; Treinar paciente para assumir posição sentada; Treinar paciente para posicionamento em quatro apoios; Treinar paciente para colocar-se na posição ajoelhada; Treinar paciente para realizar transferência; Ensinar mobilidade com cadeiras de rodas; Treinar paciente para utilizar as órteses para deambular; Fonte: DREEBEN, Olga. Mds: Manual de sobrevivência para fisioterapia; Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. Tabela 3 – Padrões de tratamento na lesão medular espinal (LME) 16. Conclusão O traumatismo raquimedular é uma das lesões neurológicas consideradas mais graves e dependendo do nível de lesão como a mais incapacitante que um indivíduo pode ser acometido, ocasionando uma paraplegia ou até mesmo uma tetraplegia. Atualmente constitui um problema gravíssimo de saúde pública no mundo todo, pois sua devastadora incapacitação torna o tratamento prolongado e pode levar o ser humano a sérios danos nas funções e locomoção. As principais etiologias conforme as literaturas são: os acidentes automobilísticos, ferimentos por arma de fogo, quedas de grandes alturas e mergulhos em água rasa. Sendo que a etiologia dependerá sempre do local ocorrido e das características do envolvido nesse trauma. Sua prevenção dependerá do mesmo fator. A fisioterapia tem uma extrema importância na busca da funcionalidade e na melhoria da qualidade de vida de pessoas que são acometidas por trauma raquimedular. Através de condutas como a cinesioterapia que favorece a manutenção de amplitude de movimento, evita complicações circulatórias devido a imobilização de membros por períodos extensos e promove correção de possíveis patologias respiratórias decorrentes ao trauma. A eletroterapia que possui recursos como a Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) que é uma técnica terapêutica que ativa o músculo esquelético, controlando a atrofia por desnervação. Para tanto, 13 um indivíduo que deseja caminhar novamente já pode se beneficiar com recursos também muito utilizados que são as cadeiras de rodas e órteses de vários modelos, que com o passar dos tempos o avanço tecnológico busca uma perfeição e melhor adequação ao lesionado medular. O estudo permitiu a elaboração de material para uma melhor abordagem clínica, avaliação e até padrões de tratamentos em um lesado medular, além de identificar fatores de prevenção que possam ajudar a minimizar as ocorrências desse trauma que afeta o mundo inteiro. Referências ABRAHAMS, Peter. Atlas descritivo do corpo humano / Amber Books; Tradução Adílson Monteiro. 1, Ed. – São Paulo : Rideel, 2009. ABREU, Lorrine Maria. et al. Efeito do laser de baixa intensidade no trauma agudo medular – Estudo Piloto. Conscientiae Saúde, 2011;10(1):11-16. ANDRADE, Suellen Marinho. et al. Independência funcional e qualidade de vida em paciente com seqüelas neurológicas: a contribuição de um grupo terapêutico interdisciplinar. Ciências & Cognição 2010; vol. 15(2):155-164 <http://www.cienciaecognicao.org>. BAMPI, Luciana Neves da Silva. et al. Qualidade de vida em pessoas com lesão medular traumática: um estudo com o Whoqol-bref. Ver. Bras Epidemiol. 2008; 11 (1): 67-77. 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