PM/06/13 às 23:53

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PM/06/13 às 23:53
Hip Hop
Numa tradução literal hip hop significa movimentar os quadris (to hip, em inglês) e saltar (to
hop). Atualmente, ele é um movimento cultural, social e político que reúne, basicamente,
três elementos: a música rap, artes plásticas (grafite) e dança (break e street dance).
No Brasil, esta cena não ficou apenas no protesto contra as condições de vida na periferia.
Grande parte das bandas também trabalha para melhorar a vida em suas comunidades,
porém, nem todo grupo de rap é do movimento hip hop. A inclusão depende justamente do
viés social do grupo.
Existe até um conceito para essa participação na sociedade: posse, que designa a associação
de bandas de rap e outras pessoas ligadas ao movimento. As posses foram criadas nos
Estados Unidos para que os rappers, breakers e grafiteiros trocassem informações.
Os integrantes das posses muita vez atuam em ONGs. Nesse sentido, o rap conseguiu fazer
com que jovens da periferia ganhassem poder político.
Como disse o poeta alemão Rainer Maria Rilke: “uma obra de arte é boa quando surge da
necessidade”. O rap é música da necessidade, que atrai jovens pobres da periferia em busca
de identidade. O estado de ser invisível é uma metáfora constante da condição do jovem
negro da periferia na sociedade brasileira. A cultura hip-hop, no Brasil, deu voz à
invisibilidade.
Foi com ela que jovens como os rappers do Racionais MCs passaram de consumidores de
uma música pop norte-americana para produtores de uma música pop brasileira, que, apesar
de estar dentro do mercado fonográfico do país, funciona como estorvo, um espinho, um
incômodo.
O rap é um exemplo do impacto do capitalismo tardio multinacional na cultura brasileira. Foi
este sistema que trouxe o rap norte-americano para o Brasil, porém, paradoxalmente, é
contra este sistema que muitas posses ligadas ao rap nacional lutam. Talvez daí surja o
paradoxal discurso dos Racionais, que ao mesmo tempo quer participar da sociedade de
consumo e do capitalismo tardio, os quais esse mesmo discurso muita vez reconhece como
forças repressoras e injustas.
O rap dos Racionais demonstra, por sua vez, que a homogeneização da cultura dita “jovem”
é impossível porque as apropriações que são feitas dessa cultura nem sempre caminham
junto com aquilo que o modelo do capitalismo tardio prega. O rap dos Racionais ocorre
temporalmente junto e espacialmente dentro de uma inquestionável globalização do universo
cultural da população mais jovem das periferias, porém, esta globalizacão não está isenta de
aspectos locais, os quais fazem, muita vez, que o “local” predomine sobre o “global”.
A cultura do hip hop é, portanto, uma forma de representação dessa realidade fraturada,
uma maneira de compreender essa separação e representá-la através de um discurso muita
vez tão agressivo quanto a própria separação.
Os discursos dos rappers e do hip hop mostram uma cidade recheada por construções que
separam os diferentes, que “destroem” o espaço público e aumentam ainda mais essas
diferenças, pois o mesmo muro que protege o rico é também a barreira que ressalta a
separação e acirra os conflitos. A São Paulo dos rappers é uma cidade onde a segregação
social aparece cristalizada na figura dos condomínios fechados, shopping centers, casas que
são enclaves fortificados, centros de “clausura” que relegaram ao segundo plano o espaço
público.
Um exemplo desse discurso, muita vez regressivo e violento, está, em São Paulo, na figura
dos pichadores. Para estes cidadãos, a pichação é a forma encontrada para combater uma
violência ainda maior: a da invisibilidade social que os muros e a pobreza inculcam no jovem
superexplorado da periferia. O mesmo ocorre com o discurso agressivo dos rappers
paulistanos. Nesse novo discurso e nessa forma de comportamento, tudo o que for
genuinamente produzido pela periferia vem carregado de enfrentamento.
Sobreviventes, para estes jovens da periferia, o enfrentamento é seu único discurso. Eles
combatem a cidade opressiva e murada com uma postura saída deste mesmo ambiente que
a sociedade lhes empurra goela abaixo. São produtores de discursos gerados num ambiente
opressor, mas contrários a ele. Contrários à fortificação da cidade e às apropriações privadas
do espaço público feita por aqueles que fecham fecham ruas, colocam guaritas na calçada e
impedem uma das principais funções do espaço público moderno: permitir a liberdade de
circulação.
Nesse sentido, sua similaridade com o futurismo é assustadora. Suas músicas, assim como
as obras futuristas, são mais conhecidas por seu manifesto do que por seu valor artístico. Da
mesma forma que o Manifesto Futurista é um elogio à máquina e uma demonstração de ódio
ao passado e amor ao mundo moderno, as letras das músicas dos rappers também são uma
busca de conciliação desesperada com a modernidade, com a sociedade de consumo e com
todas as máquinas que ela pode oferecer.
Da mesma forma que o futurista queria produzir no observador a vertigem, o discurso dos
rappers, recheado da narração de experiências, individuais ou coletivas, onde a violência é
generalizada, também procura a vertigem daquele que o ouve, mas a vertigem pelo vigoroso
e hostil anúncio ultra-realista da violência.
Fontes:
Folha de S. Paulo
Dayrell, Juarez; A Música Entra em Cena – O rap e o funk na socialização da juventude;
Editora UFMG; 2005
por Renato Roschel
Assim como alguns discursos literários (Rubem Fonseca, Marcelino Freire, João Antônio,
Marçal Aquino e outros) e cinematográficos da atualidade (O invasor, Amores brutos), que
são recheados de violência, o discurso de tom violento e intimidador dos rappers joga luzes
sobre o quadro assustador das grandes metrópoles e serve como lupa para visualizar a
realidade urbana dos nossos dias.
O discurso de grupos de rap, inseridos completamente na cultura hip hop, como o dos
paulistanos Racionais MCs, aponta para um quadro de violência horizontal. Não somente
violência entre classes, mas violência dentro das próprias classes, pobres ou ricas, a qual
acabou criando uma arquitetura de muros, guardas, portões e cães ferozes, que, por sua
vez, formou uma cidade e colonizou as mentes dos seus cidadãos.
A São Paulo dos Racionais é uma cidade-bunker, cidade-praça-de-guerra, separada por
guaritas, cercas elétricas, gritantes abismos sociais e por muita, muita violência.
A cultura hip hop foi um dos caminhos que os jovens das periferias de grandes cidades como
São Paulo encontraram para, de alguma forma, enfrentar essa situação monstro. Ela é a
fórmula utilizada pelos jovens pobres e negros dessas metrópoles para registrar a opressão,
a violência, o preconceito e a miséria em que se vive.
Como todo movimento contrário ao status quo, o hip hop já foi clandestino e marginal.
Atualmente,
no
Brasil,
ele
é
um
movimento
totalmente
inserido
na
indústria
de
entretenimento, apesar de algumas bandas como os Racionais MCs permanecerem próximas
às suas primeiras idéias. Hoje, o hip hop engloba música (o rap — Rythm and Poetry — e a
discotecagem), dança (break e street dance) e artes plásticas (o grafite).
Rap
O rap nasceu da música funk dos EUA, que, por sua vez, é fruto da música soul, a qual
surgiu de uma união do rhythm and blues, uma música profana, com o gospel, uma música
protestante negra. Nos anos 70, nos EUA, o funk havia passado por um intenso processo de
comercialização, o qual desembocou na febre das discotecas e dos grandes bailes, de onde
surgiu o rap.
Este estilo musical nasceu mais especificamente no bairro nova-iorquino do Bronx, em 1971,
quando a jovem Cindy Campbell, que precisava de dinheiro para voltar a estudar, pediu ao
seu irmão Clive que organizasse uma festa.
Quando morava em sua terra natal, Kingston, na Jamaica, Clive costumava freqüentar os
bailes locais. Ele ficava encantado com os enormes equipamentos de som dos DJs, e como
eles “conversavam” ritmicamente, numa batida repetitiva, no início de cada música.
A festa dos irmãos Campbell foi um sucesso: a entrada custava 25 centavos de dólar para as
moças e 50 para os rapazes. O baile só parou às 4 da madrugada. Clive então passou a
organizar outras festas e, em 1973, ele deu uma grande festa nas ruas do Bronx. Desde
então, Clive passou a ser conhecido como Kool Herc, apelido que usava para pichar os trens
do metrô.
Nessa época, Clive tinha 18 anos e era o primeiro DJ que falava num ritmo entrecortado.
Com dois toca-discos funcionando ao mesmo tempo e duas cópias de cada disco, podia tocar
o mesmo trecho sem parar. Ele tinha dançarinos que executavam seu número ao som do
break, e daí surgiu o nome “breakdancers” ou, como Kool Herc os chamava, b-boys.
Porém, foi o jovem Joseph Saddler quem realmente criou o rap que existe hoje. Para
Sandler, a maioria das canções tinha apenas dez segundos que valiam a pena, e, se esses
trechos fossem agrupados e repetidos se poderia estendê-los para criar noites inteiras de
baile. Metido em seu quarto no Bronx, ele criou uma forma de ouvir um toca-discos com
fones de ouvido, enquanto o outro aparelho animava a festa. Com esse macete, um DJ
poderia tocar ininterruptamente os mesmos dois discos, porém fazendo com que os trechos
se misturassem, criando assim novas combinações.
Foi assim que Sandler se tornou o DJ Grandmaster Flash, que passou a tocar e comandar
grandes bailes. Foi ele quem inventou o scratch — técnica que produz sons ao girar
manualmente e em sentido contrário um LP sob a agulha de um aparelho de som. Também
foi ele quem criou o back spin, uma técnica que permite ao DJ extrair do disco uma frase
rítmica, um groove (parte da música que se repete e determina o ritmo da canção), para
repeti-lo várias vezes, modificando assim o andamento normal da música utilizada (essa
repetição do groove é conhecida como looping e ocorre ao longo de toda música). O back
spin é, portanto, uma espécie de bricolagem sonora que possibilita ao DJ a criação de
músicas apenas com os pedaços de outras músicas.
Estas técnicas somadas ao advento do sampler — aparelho que copia sons pelo computador
(os grooves que o DJ usa na música) — e do mixer — aparelho que o DJ usa para “colar”
uma música na outra — possibilitaram fazer com que o DJ fosse capaz de criar infinitas
músicas compostas por meio de colagens de trechos de diferentes canções (normalmente
consagradas).
Quando esta técnica começou a ganhar espaço, surgiu então a figura dos MCs — abreviatura
de “master of ceremony” (mestre-de-cerimônia), que cantavam e animavam os bailes ao
som das músicas criadas pelos DJs.
Foram os MCs que inventaram o rap — abreviatura de “rhythm and poetry” (ritmo e poesia).
Este tipo de música, em seu início, era basicamente feito com um rapper que se apresentava
cantando sobre uma base instrumental criada pelo DJ. As letras das músicas dos rappers são
sempre faladas ou declamadas.
Com o passar do tempo e com a disseminação do rap entre os guetos norte-americanos,
surgiu então a cultura do hip hop, que engloba música, arte e dança.
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