UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO DENISE RODRIGUES DA SILVA O EMPREENDEDOR EO CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL DA FIRMA Rio de Janeiro Março de 2012 ii DENISE RODRIGUES DA SILVA O EMPREENDEDOR EO CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL DA FIRMA Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos à obtenção do título de Doutor em Administração. Orientadora: Denise Lima Fleck, PhD Rio de Janeiro Março de 2012 iii S586e Silva, Denise Rodrigues da O Empreendedor e o Crescimento Sustentável da Firma / Denise Rodrigues da Silva. -- Rio de Janeiro: UFRJ, 2012. xxi, 241 p..: il.; 31 cm. Orientadora: Denise Lima Fleck Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, 2012. 1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento Empresarial. 3. Administração - Teses. I. Fleck, Denise Lima. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. CDD: 658.4012 iv Denise Rodrigues da Silva O EMPREENDEDOR E O CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL DA FIRMA Tese de Doutorado submetida à Banca Examinadora do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutora (D.Sc.). Aprovada por: Denise Lima Fleck, PhD COPPEAD/UFRJ – Orientadora e Presidenta da Banca Cesar Gonçalves Neto, PhD COPPEAD/UFRJ Donaldo de Souza Dias, D.Sc. Consultor José Vitor Bomtempo, D.Sc. EQ/UFRJ Mônica Esteves Rodrigues, D.Sc. Consultora Rio de Janeiro 2012 v Aos meus queridos pais – por seu amor, comprometimento e dedicação. vi AGRADECIMENTOS Ao longo dos quatro últimos anos, diversas atores foram de fundamental importância para que o presente trabalho pudesse ser realizado com sucesso. Agradeço àqueles que, dele participaram, me apoiaram ou colaboraram de alguma forma e permitiram que meu curso de doutorado pudesse ser concluído com êxito. Entre eles: Meus pais, que durante toda minha vida me incentivaram a estudar, que compreenderam a importância que o curso de doutorado tinha para mim, tiveram extrema paciência em relação a minhas variações de humor e se empenharam, assumindo muitas de minhas próprias tarefas, para que, apesar de ter retornado a minhas atividades no Banco Central, onde trabalho, pudesse ter tempo suficiente para concluir a tese; Minha avó, Waldemarina Moreira Rodrigues, falecida em outubro de 2011 e a meu avô Sebastião Rodrigues Marcelino, que sempre torceram para que eu conseguisse concluir o curso, apesar das grandes dificuldades enfrentadas ao longo desses quatro anos, e que sempre compreenderam a redução de minhas visitas a sua casa; Minha orientadora acadêmica, Denise Lima Fleck, por ter me apresentado estudos importantes na área de estratégia e crescimento organizacional; facilitado meu acesso à incubadora do Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pósgraduação em Engenharia (COPPE); lido as diversas tentativas de tese que escrevi; acreditado no que eu achava conseguir enxergar a partir das entrevistas; por ter me ajudado a tornar o texto mais agradável ao leitor; e pelas aulas de inglês; Minha orientadora técnica, Maria Ângela de Oliveira Musiello, por ter contribuído para que eu obtivesse uma licença de três anos pelo Programa de Pós-graduação do Banco Central; O Banco Central do Brasil, por ter me concedido uma licença de 3 anos, que me permitiu aprofundar meus conhecimentos em gestão empresarial; vii Os 68 participantes, identificadores de oportunidades, estado da arte, especializados, organizadores e breaking frees, que apesar do pouco tempo que geralmente tinham disponível, se prontificaram a dar as entrevistas que permitiram a execução deste trabalho; A pesquisadora Mônica Esteves, por ter facilitado meu acesso à incubadora da BioRio; A AMAP (Associação dos Revendedores de Autopeças do Estado do Rio de Janeiro), por ter facilitado meu acesso aos comerciantes da indústria de autopeças; Os gerentes das incubadoras da COPPE/UFRJ e BioRio, que me deram livre acesso aos empreendedores de empresas incubadas e graduadas; Minha irmã, que apesar de irriquieta se empenhou em manter-se razoavelmente silenciosa, para que eu pudesse ter a concentração necessária para estudar; Minhas tias, tios e primos, que sempre torceram por mim e me incentivaram; Meus colegas de trabalho, que torceram para que o trabalho pudesse ser concluído; Os funcionários da secretaria acadêmica secretaria Lucianita Barbosa do COPPEAD, particularmente à da Silva, pela ajuda prestativa, em todos os assuntos que precisei tratar junto à instituição ao longo desses quatro últimos anos; Os funcionários da reprografia do COPPEAD, que levaram em consideração minha forte alergia a papel reciclado, e nas turmas em que participei fizeram cópias em folhas brancas; Deus, por ter me ajudado a encontrar alguma lógica nos relatos dos entrevistados. viii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................1 2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................................4 2.1 O Conceito de Empreendedorismo ..................................................................................... 4 2.1.1 A Visão Clássica de Empreendedorismo ........................................................................... 5 2.1.1.1 A Teoria do Ciclo de Vida...................................................................................... 6 2.1.1.2 A Teoria do Empreendedorismo pelo Transbordamento do Conhecimento....... 8 2.1.2 A Visão Subjetivista do Empreendedorismo ..................................................................... 8 2.1.2.1 A Teoria do Desenvolvimento Econômico ............................................................ 9 2.1.2.2 A Teoria da Escola Austríaca de Empreendedorismo......................................... 12 2.1.2.3 Teorias Psicológicas e a Necessidade de Realização ........................................... 13 2.1.2.4 Donos de Pequenos de Negócios ........................................................................ 15 2.2 Os Desafios ao Crescimento da Firma ............................................................................... 16 2.2.1 Empreender em Bases Contínuas .................................................................................... 18 2.2.1.1 Versatilidade Empreendedora ............................................................................ 18 2.2.1.2 Julgamento Empreendedor ................................................................................ 19 2.2.1.3 Inventividade ...................................................................................................... 20 2.2.1.4 A Ambição Empreendedora ................................................................................ 21 2.2.2 Gerenciar a Complexidade .............................................................................................. 21 2.2.3 Aprovisionar Recursos Gerenciais ................................................................................... 23 2.2.4 Gerenciar a Diversidade .................................................................................................. 24 2.2.5 Navegar em Ambiente Turbulento .................................................................................. 26 2.3 Motivações para o Emprendedorismo .............................................................................. 28 2.4 A Pesquisa ......................................................................................................................... 29 3 O MÉTODO ..................................................................................................................... 30 3.1 Pergunta da Pesquisa ........................................................................................................ 30 3.1.1 As Entrevistas................................................................................................................... 31 3.1.1.1 A Unidade de Análise .......................................................................................... 31 3.1.1.2 A Coleta de Dados ............................................................................................... 33 3.1.1.2.1 Setor de Autopeças e Afins .......................................................................... 33 3.1.1.2.2 O Setor de Varejo de Informática ................................................................ 37 3.1.1.2.3 Os Participantes do Setor de Biotecnologia ................................................. 41 ix 3.1.1.2.4 Os Participantes do Setor de Tecnologia ..................................................... 45 3.1.1.3 As Perguntas das Entrevistas .............................................................................. 49 3.1.1.4 A Análise dos Dados ............................................................................................ 49 3.1.1.5 Transcrição das Entrevistas ................................................................................. 50 3.1.1.6 A Análise .............................................................................................................. 50 3.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................................................ 58 4 RESULTADOS.................................................................................................................. 59 4.1 Definição dos Cinco Perfis Motivacionais ......................................................................... 59 4.2 Classificação dos Entrevistados nos 5 Perfis Motivacionais.............................................. 61 4.3 Descrição dos 5 perfis ....................................................................................................... 64 4.3.1 Identificadores de Oportunidades ................................................................................... 64 4.3.2 Estado da Arte ................................................................................................................. 67 4.3.3 Especializados .................................................................................................................. 70 4.3.4 Organizadores .................................................................................................................. 71 4.3.5 Breaking Frees ................................................................................................................. 74 5 ANÁLISE ......................................................................................................................... 78 5.1 Empreender em Bases Contínuas ..................................................................................... 78 5.1.1 Versalidade Empreendedora ........................................................................................... 79 5.1.1.1 Identificadores de Oportunidades ...................................................................... 79 5.1.1.2 Estado da Arte .................................................................................................... 80 5.1.1.3 Especializados...................................................................................................... 81 5.1.1.4 Organizadores ..................................................................................................... 83 5.1.1.5 Breaking Frees ..................................................................................................... 84 5.1.2 Julgamento Empreendedor ........................................................................................... 85 5.1.2.1 Identificadores de Oportunidades ...................................................................... 85 5.1.2.2 Estado da Arte ..................................................................................................... 86 5.1.2.3 Especializados...................................................................................................... 87 5.1.2.4 Organizadores ..................................................................................................... 87 5.1.2.5 Breaking Frees ..................................................................................................... 88 5.1.3 Inventividade ................................................................................................................... 89 5.1.3.1 Identificadores de Oportunidades ...................................................................... 89 5.1.3.2 Estado da Arte ..................................................................................................... 91 5.1.3.3 Especializados...................................................................................................... 93 5.1.3.4 Organizadores ..................................................................................................... 96 x 5.1.3.5 Breaking Frees ..................................................................................................... 96 5.2 Aprovisionar Recursos Gerenciais ..................................................................................... 98 5.2.1 Identificadores de Oportunidades ................................................................................... 99 5.2.2 Estado da Arte ............................................................................................................... 104 5.2.3 Especializados ................................................................................................................ 108 5.2.4 Organizadores ................................................................................................................ 110 5.2.5 Breaking Frees ............................................................................................................... 111 5.3 Gerenciar a Complexidade ............................................................................................... 117 5.3.1.Identificadores de Oportunidades................................................................................. 117 5.3.2 Estado da Arte ............................................................................................................... 122 5.3.3 Especializados ................................................................................................................ 123 5.3.4 Organizadores ................................................................................................................ 126 5.3.5 Breaking Frees ............................................................................................................... 127 5.4 Navegar em Ambiente Turbulento ................................................................................. 131 5.4.1 Captura de Valor para a Firma ....................................................................................... 132 5.4.1.1 Identificadores de Oportunidades ................................................................... 132 5.4.1.2 Estado da Arte .................................................................................................. 134 5.4.1.3 Especializados ................................................................................................... 137 5.4.1.4 Organizadores .................................................................................................. 139 5.4.1.5 Breaking Frees .................................................................................................. 140 5.4.2 Políticas Públicas............................................................................................................ 144 5.4.2.1 Identificadores de Oportunidades ................................................................... 144 5.4.2.2 Estado da Arte .................................................................................................. 148 5.4.2.3 Especializados ................................................................................................... 149 5.4.2.4 Organizadores .................................................................................................. 153 5.4.2.5 Breaking Frees .................................................................................................. 154 5.4.3 O Potencial Papel dos Bancos Comerciais no Crescimento das MPMEs ....................... 159 5.4.3.1 Provedor de Recursos ....................................................................................... 160 5.4.3.1.1 Captação de Recursos para Posterior Repasse ........................................ 160 5.4.3.1.2 Viabilização da Captação de Recursos Junto a Terceiros ......................... 163 5.4.3.2 Difusor de Informações ..................................................................................... 163 5.4.3.2.1 Informações de Fomento ao Empreendedorismo ................................... 165 5.4.3.2.2 Informações Conjunturais ........................................................................ 165 5.4.3.2.3 Informações Regulamentares .................................................................. 166 xi 5.4.3.2.4 Informações de Registro .......................................................................... 166 5.4.3.2.5 Informações de Âmbito Social ................................................................. 167 5.4.3.2.6 Informações Comerciais ........................................................................... 167 5.4.3.3 Consultor ........................................................................................................... 168 5.4.3.4 Controlador ....................................................................................................... 170 5.4.3.4.1 Informações de Controle .......................................................................... 170 5.4.3.4.2 Acompanhamento ..................................................................................... 170 5.4.3.4.3 Planejamento ............................................................................................ 171 5.4.3.4.4 Coordenação .............................................................................................. 173 5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS – A Ambição Empreendedora ................................................. 184 5.5.1 Firmas com Vontade de Crescer e Consideráveis Habilidades para o Crescimento ..... 185 5.5.2 Empreendedores com Pouca Vontade de Crescer e Consideráveis Habilidades para o Crescimento ............................................................................................................................ 187 5.5.3 Empreendedores com Vontade de Crescer , mas sem Consideráveis Habilidades para o Crescimento ............................................................................................................................ 191 5.5.4 Empreendedores com Limitada Vontade de Crescer e sem Habilidades Consideráveis para o Crescimento................................................................................................................. 193 6 DISCUSSÃO .................................................................................................................. 197 6.1 Tipos de Serviços Empreendedores e Gerenciais Prestados........................................... 197 6.1.1 Serviços Empreendedores Clássicos .............................................................................. 198 6.1.2 Serviços Gerenciais Técnicos ......................................................................................... 199 6.1.2.1 Serviços de Criação............................................................................................ 199 6.1.2.2 Serviços de Transferência Técnica/Tecnológica ................................................ 200 6.1.3 Serviços de Organização ...................................................................................... 200 6.1.4 Desserviços ao crescimento sustentável.............................................................. 201 6.2 A complementaridade dos serviços pró-crescimento ..................................................... 203 6.3 Medidas para aumentar a eficiência de serviços prestados pelas MPMEs. ................... 208 6.4 Medidas para o Aumento da Disponibilidade de Serviços Pró-Crescimento .................. 213 6.5 Potencial Participação dos Bancos Comerciais no Crescimento das MPMEs ................. 215 6.5.1 Provedor de Recursos .................................................................................................... 215 6.5.2 Difusor de Informações ................................................................................................. 216 6.5.3 Consultor ....................................................................................................................... 217 6.5.4 Controlador.................................................................................................................... 217 7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 219 7.1 Implicações da Pesquisa .................................................................................................. 225 xii 7.2 Limitações do Estudo ...................................................................................................... 228 7.3 Sugestão para Estudos Futuros ........................................................................................ 229 REFERENCIAS ................................................................................................................... 231 xiii LISTA DE SIGLAS ACC - Adiantamento sobre Contrato de Câmbio AMAP – Associação dos Revendedores de Autopeças do Rio de Janeiro ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária APL – Arranjos Produtivos Locais BB – Banco do Brasil BIORIO - Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro BDMG – Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CDB - Certificado de Depósito Bancário CDC – Código de Defesa do Consumidor CDI – Certificado de Depósito Interbancário CEFETEC - Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis CENPES - Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello CERASA - Centralização dos Serviços Bancários S/A COPPEAD – Instituto COPPEAD de Administração/UFRJ CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COPPE – Insituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-graduação em Engenharia DOC - Documento de Crédito FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos FINIMP - Financiamento à Importação GIS - Geographic Information Science xiv IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBOVESPA – Indice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor INCOTERMS - International Commercial Terms / Termos Internacionais de Comércio INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores MPMEs - Micro , Pequenas e Médias Empresas MPP - Modelo de Programação de Planejamento ONU – Organização das Nações Unidas P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PGBC - Procuradoria-Geral do Banco Central do Brasil PIB – Produto Interno Bruto PPP – Parceria Público Privada PRIME – Programa Primeira Empresa Inovadora PROCON – Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor RH – Recursos Humanos SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial TED -Transferência Eletrônica Disponível TI - Tecnologia da Informação TJLP - Taxa de Juros de Longo Prazo UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro xv LISTA DE FIGURAS Figura7-1 Vontade de Crescimento x Habilidade para o Crescimento ..................................... 221 xvi LISTA DE QUADROS Quadro 1-1 Os Cinco Desafios ao Crescimento da Firma (FLECK, 2009) .................................... 17 Quadro 3-1 Distribuição das Falas dos Entrevistados por Desafios ............................................ 52 Quadro 3-2 Distribuição das Falas dos Entrevistados por Desafios e Aspectos Teóricos .......... 53 Quadro 3-3 Descrição do Comportamento dos Empreendedores dos 4 Setores em Relação aos Desafios de Fleck (2009): Autopeças, Varejo de Informática, Biotecnologia e Tecnologia ........ 55 Quadro 3-4 Passos para a Identificação das Motivações dos Entrevistados ............................. 56 Quadro 4-1 Os 5 Perfis Motivacionais ........................................................................................ 61 Quadro 5-1 Características Temperamentais dos 5 Perfis Motivacionais ................................. 98 Quadro 5-2 Os 5 Perfis Motivacionais e o Desafio Aprovisionar Recursos Gerenciais ............ 116 Quadro 5-3 Os 5 Perfis e o Desafio Gerenciar a Complexidade ............................................... 131 Quadro 5-4 Os 5 Perfis e o Desafio Navegar em Ambiente Turbulento .................................. 143 Quadro 5-5 Os 5 OPerfis e as Dificuldades em Relação às Políticas Governamentais ............. 158 Quadro 5-6 Os Quatro Potenciais papéis dos Banco Comerciais .............................................. 184 Quadro 6-1 Medidas para Elevar a Eficiência de Serviços Pró-crescimento em MPMEs ........ 212 Quadro 6-2 Medidas para Elevar a Disponibilidade de Prestadores de Serviços PróCrescimento a MPMEs .............................................................................................................. 214 Quadro 7-1 Perfis Motivacionais .............................................................................................. 220 Quadro 7-2 Potenciais Papéis dos Bancos Comerciais no Crescimento de MPMEs ................ 224 xvii LISTA DE TABELAS Tabela 1-1 Definições de MPMEs ................................................................................................ 32 Tabela 3-2 Descrição dos Grupos e Entrevistados por Tamanho da Empresa, segundo Classificação do IBGE/SEBRAE ..................................................................................................... 32 Tabela 3-3 Descrição dos Participantes do Setor de Autopeças ................................................. 36 Tabela 3-4 Descrição dos Participantes do Grupo do Varejo de Informática ............................. 40 Tabela 3-5 Descrição dos Participantes do Setor de Biotecnologia ............................................ 44 Tabela 3-6 Descrição dos Participantes do Setor de Tecnologia ................................................ 47 Tabela 4-1 Concentração de Breaking Frees e Breaking Ups nos 4 Grupos................................ 59 xviii RESUMO SILVA, Denise Rodrigues. O Empreendedor e o Crescimento Sustentável da Firma. Tese (Doutorado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 O presente estudo investiga a influência do empreendedor, dono e principal estrategista em Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs), no crescimento sustentável da firma. Foram entrevistados 68 tomadores de decisões dentro de MPMEs de quatro setores diferentes: autopeças (varejo e distribuição), varejo de informática, biotecnologia e tecnologia. De acordo com suas respectivas motivações para o empreendedorismo, extraídas dos estudos de Rindova et al (2009) e Chu et al (2007), os empreendedores foram classificados em cinco perfis: Identificadores de Oportunidades, Estado da Arte, Especializados, Organizadores e Breaking frees. A análise do comportamento de fimas lideradas por empreendedores de cada um desses perfis frente aos cinco desafios ao crescimento da firma propostos por Fleck (2009) – empreender em bases contínuas, aprovisionar recursos gerenciais, gerenciar a complexidade, gerenciar a diversidade e navegar em ambiente turbulento - mostrou que apenas aquelas em que o estrategista era um identificador de oportunidades reúnem condições favoráveis ao desenvolvimento de um crescimento sustentável. Os identificadores de oportunidade se mostraram empreendedores gerencialmente hábeis quando alocados em atividades ligadas a estratégia e marketing. Empresas lideradas por empreendedores desenvolviam mais rapidamente três serviços com este perfil, pró-crescimento complementares: serviços empreendedores clássicos, serviços gerenciais técnicos e serviços de organização. Por outro lado, os demais perfis motivacionais se mostraram incompatíveis com atividades ligadas a estratégia e marketing. Quando alocados em atividades ligadas a este tipo de trabalho tendiam a prestar desserviços, que inibiam o crescimento da firma. Firmas apenas cresciam de forma contínua e saudável quando preenchiam três requisitos: (1) possuíam identificadores de oportunidades como responsáveis xix pela definição de suas estratégias, estado da arte ou especializados em sua gerência operacional; e (3) organizadores, prestando serviços rotineiros, ligados à definição de procedimentos internos e da estrutura organizacional e controles. Trata-se de um estudo relevante sob o ponto de vista teórico, dado que propõe que diferentemente do considerado por muito estudos, empreendedores não devem ser analisados como se fossem indivíduos de comportamento único frente ao crescimento da firma. Uma vez validados, os cinco perfis motivacionais aqui propostos poderiam viabilizar a comparabilidade entre futuros estudos que tenham como foco o comportamento do empreendedor. Sob o ponto de vista prático, o estudo apontou a centralidade seleção e alocação de recursos humanos para a promoção do crescimento da firma: (1) organizadores - para conferir habilidade de crescimento à firma; (2) identificadores de oportunidades – para posições ligadas a estratégia e marketing; e (3) estado da arte ou especializados - como prestadores de serviços gerenciais técnicos – permitindo o adequado aproveitamento de oportunidades. Por fim, o estudo também sugeriu medidas capazes de elevar o nível dos serviços gerenciais e empreendedores prestados a MPMEs, salientando o papel dos bancos comerciais neste processo, pelo desempenho de quatro papéis potenciais: Provedor de Recursos, Difusor de Informações, Consultor e Controlador. Acredita-se que este seja um estudo importante para a execução de políticas governamentais que requeiram um conhecimento mais aprofundado dos problemas usualmente enfrentados pelo empreendedor brasileiro. xx ABSTRACT SILVA, Denise Rodrigues. O Empreendedor e o Crescimento Sustentável da Firma. Tese (Doutorado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 The current study has investigated the influence of the entrepreneur, as firm‘s main strategist, on the sustainable growth of small businesses. 68 decision makers in micro, small and medium sized firms of four different sectors were interviewed: auto parts (retail and distribution), computer related retail industry, biotechnology and technology. According to their entrepreneurship motivations (RINDOVA et al, 2009; CHU et al, 2007), entrepreneurs were ranged into five different profiles: Opportunity Recognizers, State of the Art, Specialized, Organizers and Breaking Frees. The analysis of the behavior of the firms before the growth challenges proposed by Fleck (2009) suggested that only firms headed by opportunity seekers responded appropriately to the five challenges: enterprising, managerial resources provision, complexity management, diversity management and navigation in turbulent environment. Opportunity recognizers proved to be particularly gifted for activities related to marketing and strategy. Firms headed by this type of entrepreneurs tended to earlier develop three complementary services, hereby termed growth services. Conversely, the remaining motivational profiles, proved to be incompatible with these types of activities. When inappropriately allocated, entrepreneurs, no matter their profile, tended to provide systematically unsatisfactory services, which ultimately inhibited growth. Firms only achieved steady growth when they fulfilled the three next conditions: (1) were leaded by opportunity recognizers; (2) had state of art or specialized entrepreneurs in the head of their operational activities; and (3) had organizers in charge of their bureaucratic operations, procedures, structure and controls. The study can be considered of theoretical relevance as it suggests that differently from the usually proposed in other studies, entrepreneurs should not be considered individuals of unique behavior before the growth of the firm. xxi Should these five entrepreneurial profiles be validated by future research, they may be the base for the comparibility of studies involving entrepreneurs‘ behavior. The current study can also be considered of practical relevance, as it has highlighted the centrality of appropriate human resources selection and allocation for the promotion of the growth of the firm. Should growth be promoted, the firm needs three different groups of agents working in adequate places: (1) organizers, who confer growth ability to it; (2) opportunity recognizers, individuals of superior alertness (KIRZNER, 1973), accountable for its strategy and marketing activities; and (3) state of art and specialized entrepreneurs, in the head of its operational activities, for efficient opportunity pursuit. The study has also pointed out some measures able to a higher level of managerial and entrepreneurial services in small businesses. The role of commercial banks in this process has also been emphasized. Banks can contribute to the growth of those firms, if four potential roles are played efficiently: Resource Provider, Disseminator, Consultant and Controller. This study can be considered particularly relevant for the formulation and execution of public policies requiring a deeper knowledge on the behavior of entrepreneurs and the problems usually faced by Brazilian Entrepreneurs. 1 1 INTRODUÇÃO A contribuição do capital humano para o desenvolvimento econômico das nações foi objeto de vários estudos desde a década de 1960. Entretanto, a atualização do tema começou na segunda metade dos anos 90 com a necessidade de analisar o papel do empreendedorismo nesse processo. Aliado a outros componentes do capital humano, tais como mão de obra preparada, gestão e organização, o empreendedorismo pode ser considerado um dos fatores que alavancam a produção na economia e melhoram a eficiência na alocação de recursos. Em um mundo em que a escassez de empregos tradicionais é cada vez maior, cresce a necessidade de desenvolvimento de carreiras/oportunidades alternativas para que os indivíduos possam se manter economicamente ativos. A criação de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) se torna uma alternativa viável tanto para aqueles que criam seus próprios negócios, como para os que encontrarão emprego nesses novos negócios criados. A importância atribuída às MPMEs se deve também à incorporação de recursos tecnológicos que se tornaram para MPMEs inovadoras um fator de diferenciação, que lhes permite manter padrões de competitividade compatíveis com os das grandes organizações. Em decorrência do movimento de terceirização de atividades ocorrido nos anos 90, muitas dessas empresas puderam se inserir na cadeia produtiva das grandes firmas. Sendo vistas pelos governos como uma forma viável de se reduzir as desigualdades regionais, as MPMEs podem exercer um papel importante na integração de excluídos sociais e que são capazes de estabelecer espaços éticos alternativos de desenvolvimento local, compatíveis com a realidade dos indivíduos envolvidos e aumentar, portanto, o nível de bem-estar social (FRANCO, 2000). Essa mudança na visão dos papéis das MPMEs tem alterado a forma como os governos conduzem suas políticas industriais. A partir dos anos 90, em todo o mundo, inclusive em países emergentes, o empreendedorismo passou a ser estimulado de forma crescente. Surgiu de forma enfática a preocupação com a criação de um ambiente institucional favorável ao sucesso das empresas existentes e à criação continuada de novos negócios. 2 No Brasil, em 1999, o Ministério do Planejamento criou o programa Brasil Empreendedor, com o propósito de contribuir para a geração de renda, manutenção e criação de postos de trabalho, pela capacitação gerencial e creditícia de MPMEs. Acreditava o governo que, antes do acesso ao crédito, era necessário qualificar e capacitar o empreendedor, tanto sob o ponto de vista técnico como de gestão. Assim, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em conjunto com o empreendedor, deveria elaborar um plano de negócios que se constituiria na própria proposta de crédito a ser submetida aos bancos oficiais participantes do programa. Ao longo das duas útlimas décadas, foi estimulada a criação de incubadoras de empresas de modo a favorecer o surgimento de MPMEs inovadoras, com maiores chances de crescimento. Nesse processo, há dois papéis muito claros para instituições como o SEBRAE, incubadoras de empresas e governos. O primeiro deles seria facilitar e desburocratizar o acesso aos meios legais de se iniciar atividades empreendedoras. O segundo seria de trabalhar no aprimoramento do capital humano, desde a educação de base até a educação empreendedora, com foco nas habilidades e conhecimentos necessários para a condução de um negócio próspero. Dessa forma, seriam garantidas as condições mínimas para que qualquer pessoa que quisesse empreender pudesse fazê-lo. Seriam criadas as bases para um empreendedorismo de maior valor agregado e que conduz ao crescimento sustentado da firma. No entanto, diversos autores apontaram a complexidade envolvida no desenvolvimento de políticas para o fomento de MPMEs e de seu crescimento sustentado (SIREC E MOCNIK, 2010). As barreiras para tal desenvolvimento incluem aspectos tais como: (1) heterogeneidade do comportamento das firmas (algumas trabalham com processos praticamente artesanais), enquanto outras praticam atividades intensivas em pesquisa e desenvolvimento; e (2) dificuldade de se transportar experiências de um país para o outro, frequentemente atribuídas a diferenças de definição entre países e organismos em relação ao que seja uma micro, pequena ou média empresa (alguns se baseiam na receita anual bruta, outros no número de empregados, etc). Sob o ponto de vista de teóricos como Penrose (1959) e Fleck (2009), através da ambição empreendedora, empreendedores exercem papel 3 essencial no surgimento da firma e na sustentação de seu crescimento. Este será tão mais saudável quanto melhores serviços gerenciais tiver a seu dispor a empresa (Penrose, 1959) e quão mais adequadas forem as respostas da mesma aos desafios do crescimento (Fleck, 2009). No contexto das MPMEs o empreendedor tende a concentrar as funções empreendedora e gerencial, sendo seu estrategista e principal tomador de decisões. Eis porque o presente estudo concentra sua investigação no empreendedor de MPMEs para examinar a questão do crescimento sustentável da firma, entendendo como sustentável o crescimento que se dá de forma sustentada, ou seja não é caracteristicamente episódico; e saudável, isto é, não ameaça a continuidade da existência da firma. Participaram do estudo 68 empreendedores de quatro diferentes setores. Tomando por base diferentes motivações para empreender (RINDOVA et al, 2009; CHU et al, 2007), a análise sugeriu a existência de cinco perfis motivacionais: identificadores de oportunidades, estado da arte, especializados, organizadores e breaking frees. Cada um destes combina diferentes graus de ambição, elemento essencial para promover o crescimento sustentado; e de habilidade gerencial, elemento fundamental para fomentar o crescimento saudável. Adotando a perspectiva de que uma maior eficiência na disponibilidade de serviços pró-crescimento prestados às MPMEs pode contribuir para o crescimento sustentável destas empresas, foi investigado ainda o papel dos bancos comerciais, apontados por Schumpeter (1911) como indispensáveis ao desenvolvimento econômico, uma vez que avaliariam e financiariam projetos viáveis, no processo de crescimento de MPMEs. Em linha com De Cecco (1994), quem apontou para o caráter evolutivo do papel dos bancos, propõe-se aqui que as mudanças na legislação e os avanços tecnológicos ocorridos nas duas últimas décadas possibilitam aos bancos desempenhar quatro importantes papéis tanto na criação de MPMEs, quanto no crescimento sustentável, quais sejam: provedor de recursos, difusor de informações, consultor e controlador. 4 2 REVISÃO DE LITERATURA Este capítulo reúne literatura representativa de aspectos que se mostraram fundamentais para a compreensão do empreendedor vis-à-vis o crescimento sustentável da firma. São eles: o empreendedorismo e o comportamento empreendedor, os desafios ao crescimento da firma e a motivação para o empreendedorismo. 2.1 O Conceito de Empreendedorismo Baumol (1993) distinguiu dois tipos diferentes de indivíduos comumente chamados de empreendedores: Criadores de Firmas e Inovadores. Criadores de Firmas se caracterizariam por deter a propriedade da empresa; seriam aqueles que criam, organizam e operam um novo negócio. Inovadores seriam indivíduos de comportamento empreendedor, pessoas que se encarregariam de transformar idéias em entidades economicamente viáveis. Segundo o autor, o inovador, seria difícil de descrever e analisar de forma sistemática. Mudanças contínuas tornariam difícil dar uma descrição geral de suas ações. Para Baumol, dado que teorias econômicas pressupõem que o movimento de cada agente seja passível de otimização via cálculo, na teoria econômica da firma, não haveria espaço para explicação do comportamento dos inovadores, devido a sua excessiva confiança no feeling e no instinto. Sob o ponto de vista da inovação, em economia, o que aparecem são definições, entre as quais, um das mais citadas é a de Ronstadt (1984, p. 28): “Empreendedorismo é o processo dinâmico de criação incremental de riqueza. A riqueza é criada por indivíduos, que assumem o risco em termos financeiros, de tempo e comprometimento de suas carreiras ou conferem valor a alguns produtos ou serviços. O produto pode ou não ser único, mas valor deve de alguma forma ser infundido pelo empreendedor, pelo recebimento e alocação das habilidades e recursos necessários‖. Abaixo, foram destacados alguns dos principais autores das visões clássica e subjetvista de empreendedorismo. 5 2.1.1 A Visão Clássica de Empreendedorismo Os primeiros teóricos a abordarem o tema empreendedorismo se preocuparam com as funções do empreendedor, criador da firma, na economia. O termo empreendedor foi introduzido na teoria econômica pelo estudioso Irlandês Richard Cantillon (1759). Segundo o autor, tal agente econômico seria um especialista na tomada de riscos; alguém que asseguraria trabalhadores ao pagar seus salários antes mesmo de ter a certeza de que os produtos por eles fabricados seriam de fato vendidos. Jean-Baptiste Say (1803, 1848) enfatizou o papel do empreendedor como alocador de recursos. Suas decisões deveriam ser baseadas em seu conhecimento a respeito dos produtos da firma, possíveis conseqüências financeiras dessas decisões e uma boa estimativa das necessidades do consumidor. Conhecimento de política econômica e procedimentos industriais poderiam minimizar possíveis erros de julgamento. Say enfatizou o papel do empreendedor enquanto tomador de riscos. Para Knight (1921), no entanto, o empreendedor seria alguém submetido à incerteza constante; e não um tomador de riscos. Esta diferiria do risco, que seria passível de cálculo, pois se basearia na ocorrência de eventos que se repetem com certa freqüência. No caso do risco, a prevenção contra efeitos danosos poderia ser aprimorada, conforme fosse adquirida experiência. No caso da incerteza, ao contrário, se trataria de eventos únicos, não recorrentes, cuja probabilidade de ocorrência, não poderia, ser portanto previamente estimada. Abaixo são descritas duas das teorias mais importantes sobre o empreendedor enquanto criador da firma: a Teoria do Ciclo de Vida e Teoria do Empreendedorismo pelo Transbordamento do Conhecimento (The Knowledge Spillover Theory of Entrepreneurship). 6 2.1.1.1 A Teoria do Ciclo de Vida A Teoria do Ciclo de Vida ganhou popularidade no início dos anos 70 e tem por base a analogia com organismos vivos. Sob essa perspectiva, as companhias nascem, crescem e amadurecem, se renovando continuamente para evitar o declínio e a morte. O desenvolvimento da firma é considerado essencialmente pelas ações tomadas pelo empreendedor; o papel do ambiente sendo visto como um tanto quanto periférico. O empreendedor é visto como o principal responsável pelo gerenciamento do crescimento da firma. Isto é, pelo desenvolvimento de modelos de gestão, procedimentos e estrutura adequados ao crescimento. O empreendedor assume desta forma um papel muito ativo no desenvolvimento da firma. Os estudos que envolvem modelos de ciclo de vida são essencialmente descritivos em sua natureza, já que os autores sugerem ter consciência de cada estágio e o conhecimento em que esses estágios consistem pode ajudar os empreendedores a preparar suas organizações para os próximos desafios a serem vencidos. Os autores propõem a existência de uma seqüência de estágios (e.g. CHURCHILL E LEWIS, 1983; GREINER, 1998). Assim, o monitoramento da evolução do ciclo de vida da firma se torna uma das maiores competências do empreendedor, que é visto como de suma importância para analisar a situação corrente da firma e facilitar as transições entre os estágios (CHARAN et al, 1980). O modelo típico é composto de três fases: (1) a fase de startup; (2) a fase de profissionalização; (3) a fase de descentralização. O estágio inicial geralmente enfatiza o papel central do empreendedor enquanto construtor organizacional, o grande trabalho realizado para tornar a firma um negócio viável e seu papel enquanto tomador de decisões, apesar de sua falta de conhecimento e habilidades gerenciais. O modelo de Greiner (1998) sugere um ciclo de vida da firma composto de períodos de relativa estabilidade, interrompidos por crises entre as fases. Uma das principais tarefas dos empreendedores no modelo de crescimento de Greiner é preparar a firma para passar suavemente por cada uma das inevitáveis crises gerenciais de crescimento, que ocorrem entre cada uma de suas fases. 7 Considera-se que o empreendedor vá conduzir a unidade de negócios até um tamanho ótimo, após o qual ele delegaria progressivamente parte de seu poder de decisão a gestores profissionais para o crescimento da firma (DUHAM, 2010). Autores propõem frequentemente a existência de um estágio no qual o fundador se desligaria da empresa, por duas razões: (1) vontade própria; (2) se viria forçado a fazê-lo, por não ter adquirido as habilidades gerenciais necessárias para a gestão da firma em fases mais avançadas (CHURCHILL E LEWIS, 1983; CHANDLER, 1977; PARKS, 1977). Chandler (1977), em seu livro, The Visible Hand (A Mão Visível), enfatizou a necessidade de gestores profissionais substituírem os fundadores à frente da empresa, para que pudessem surgir as primeiras grandes corporações norte-americanas. Segundo o autor, no final do século XIX, a falta de habilidades gerenciais e incentivos financeiros eram as maiores causas de exclusão dos herdeiros dos fundadores dos negócios. Ao examinar o nascimento da grandes corporações americanas, Fleck (2001a, 2001b) sugeriu a inclusão de gestores assalariados como uma condição necessária ao crescimento organizacional, que a autora viu como definitiva para a sobrevivência organizacional. O modelo do ciclo de vida, desde o começo despertou muita controvérsia. Ao longo do tempo, um grande número de autores contestaram tal analogia com organismos vivos. Entre seus principais críticos, se encontra Edith Penrose (1959), que considerou que mudanças na organização não poderiam ser antecipadas e que características atuais da organização não poderiam predizer as próximas. Em seu ponto de vista, os modelos do ciclo de vida seriam inadequados ainda, porque o declínio organizacional deveria ser evitado pelo crescimento e renovação organizacionais. Para Penrose, o pressuposto de uma morte indesejável e inevitável contradiria o próprio papel do empreendedor no processo de crescimento da firma, que pode ser o de impedir este trágico destino. 8 2.1.1.2 A Teoria do Empreendedorismo pelo Transbordamento do Conhecimento (The Knowledge Spillover Theory of Entrepreneurship) A Teoria do Crescimento Endógeno destaca o papel do capital humano e da inovação no desenvolvimento econômico. Trata-se de uma teoria que, ao contrário das anteriormente abordadas, não explicita o papel do agente empreendedor (LUCAS, 1988). Audretsch et al (2006) ao formalizarem a Teoria do Empreendedorismo pelo Transbordamento do Conhecimento (The Knowledge Spillover Theory of Entrepreneurship) propuseram que o conhecimento e as novas idéias criadas nos laboratórios de pesquisa de grandes empresas ou universidades, mas não aproveitadas comercialmente pela instituição que as criou, gerariam oportunidades empreendedoras. O empreendedorismo seria portanto uma resposta endógena aos investimentos em conhecimento que não foram completamente apropriados por organizações previamente estabelecidas (ACS et al, 1994). Trata-se de uma teoria que não explicita o papel do agente empreendedor (LUCAS, 1988) no crescimento da firma. Indivíduos criariam firmas devido a dificuldades encontradas para comercializar suas idéias no contexto de organizações já existente, cujas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) seriam a grande fonte de criação de novas oportunidades produtivas (COHEN E KEPPLER, 1996). O empreendedorismo serviria como um canal para transformar um conhecimento que havia permanecido adormecido e não comercializado em uma organização (muitas vezes uma universidade), em algo comerciável, gerando portanto um impacto positivo no desenvolvimento econômico de um país. 2.1.2 A Visão Subjetivista do Empreendedorismo Enquanto os autores precedentes se dedicaram ao estudo do criador da firma, teóricos subjetivistas (SCHUMPETER, 1911; PENROSE, 1959; KOR et al, 2007) se dedicaram ao estudo do empreendedor enquanto indivíduo de prestador de serviços empreendedores e gerenciais à firma; independente do nível hierárquico que ocupe. Seu foco de estudo são indivíduos de 9 comportamento empreendedor. Para tais autores, qualquer tomador de decisões (sócio, gestor ou funcionário), ao se comportar de maneira proativa, enérgica, buscando o aprimoramento constante no exercício de suas atividades, contribuindo para a captação de recursos para a firma, poderia ser considerado um empreendedor. O nível dos serviços prestados variaria de acordo com o perfil do indivíduo considerado e com o grau de liberdade que lhe fosse conferido para a tomada de decisões dentro da firma. Abaixo são descritas as principais teorias sobre o comportamento empreendedor: a visão schumpeteriana de empreendedorismo, a visão da escola austríaca de empreendedorismo, as teorias psicológicas e a necessidade de realização, a teoria do empreendedorismo pelo transbordamento do conhecimento e a comparação com donos de pequenos negócios. 2.1.2.1 A Teoria do Desenvolvimento Econômico Para Schumpeter, as atividades empreendedoras estavam associadas à inovação e constituiam a força que evita a inércia na economia. Em 1911, o autor publicou A Teoria do Desenvolvimento Econômico, na qual descreveu o empreendedor como um indivíduo que combinaria fatores produtivos, alguém capaz de propor novos mercados, novas formas de organizar a firma ou que introduziria produtos novos e revolucionários na economia. O empreendedor seria um indivíduo com um tipo de produto especial, ―acessível de maneira bastante desigual e para relativamente poucas pessoas‖ (p. 81); alguém com atitudes especiais, um inovador tecnológico que reformaria ou revolucionaria os padrões de produção. Novas combinações poderiam ser realizadas das seguintes formas: Introdução de um novo produto ou nova qualidade de produtos; Introdução de novos métodos de produção; Abertura de novos mercados; Conquista de novas fontes de fornecimento de material ou partes; 10 Implementação de uma nova organização da indústria. Schumpeter (1911) expandiu o conceito de empreendedorismo com a introdução da ideia de criação destrutiva na qual mostrava que o empreendedor, ao incorporar inovações e novas tecnologias, contribuía para a substituição de produtos e processos ultrapassados. Assim, o empreendedor assumiria não apenas um papel central no avanço e desenvolvimento da economia e da sociedade, como protagonizaria um papel fundamental na evolução da vida empresarial e na substituição das empresas estabelecidas por novas organizações mais capazes de aproveitar as inovações introduzidas. O empreendedor segundo Schumpeter seria um inovador sob o ponto de vista da economia. As mudanças por ele introduzidas representariam uma forte descontinuidade com o que vinha até então sendo feito, e não mudanças pequenas, marginais, graduais ou cumulativas. Trata-se aqui de um conceito de empreendedor que concentra suas atenções no processo de inovação tecnológica. Schumpeter era essencialmente preocupado com empreendedorismo de ―alto nível―, que deu origem à criação de estradas de ferro, desenvolveu a indústria química e o crescimento de empresas de petróleo. Seu trabalho deixava pouco espaço para o empreendedorismo de ―mais baixo nível‖, como o das empresas do comércio de atacado ou varejista (CASSON et al, 2006). Para Schumpeter, o empreendedor inovador seria um componente fundamental do processo de desenvolvimento econômico. Juntamente com o crédito bancário e as inovações tecnológicas, o empreendedor seria um importante agente de criação de novos negócios. Embora sua iniciativa individual pudesse ser estimulada pelo apoio oficial, o empreendedor de sucesso geralmente seria um homem de iniciativa, um individualista, autossuficiente, que buscaria sustentação em todas as frentes. A existência desses empreendedores altamente inovadores e de suas novas combinações produtivas seria condição necessária para o processo de desenvolvimento econômico. Caso não existissem empreendedores, a economia estaria em fluxo circular, no qual não haveria inovações e portanto empreendedorismo. Seu ritmo de crescimento seria determinado pelo ritmo da expansão demográfica. Em outras palavras, 11 para Schumpeter, a ausência dessas novas combinações realizadas por empreendedores e crédito bancário para financiar projetos viáveis seria o grande fator limitante do processo de desenvolvimento econômico. Para Schumpeter (1911), bancos bem administrados identificariam e financiariam negócios inovadores viáveis. Assim, em sua teoria, o banqueiro aparece como segundo agente fundamental do desenvolvimento econômico, pois seria o capitalista quem conferiria poder de compra ao empreendedor, que por sua vez tornaria possível a realização de novas combinações produtivas. Schumpeter viu o papel dos bancos como tão fundamental, que para o autor não seria o empreendedor quem deveria assumir o risco do negócio, mas sim o sócio-capitalista: ―o empreendedor, nunca é aquele que corre risco; o risco é assumido por quem concede o crédito — o capitalista. (SCHUMPETER, 1982, p. 92). No que diz respeito aos bancos, esta visão foi corroborada por autores contemporâneos. Para Corder e Salles-Filho (2006), sendo o Brasil uma economia de bancos, seria imprescindível a ajuda dos bancos comerciais para o crescimento das empresas e redução da necessidade de apoio governamental. A Procuradoria Geral do Banco Central do Brasil (PGBC) também salientou a importância dos bancos comerciais para o financiamento a MPMEs: ―Embora o processo de financeirização tenha reduzido a captação de recursos via mercado de crédito, essa ainda é a principal fonte de recursos para micro, pequenas e médias empresas em todo o mundo, especialmente em países emergentes. Ou seja, ao necessitarem de recursos, essas empresas são obrigadas a buscar financiamento nas instituições bancárias. (…) No Brasil, o mercado bancário ainda é o grande fornecedor de recursos, a despeito do grande crescimento do mercado de títulos nos últimos quatro anos (Revista da PGBC, 2008). Até hoje, poucos estudos, no entanto, investigaram o papel dos bancos comerciais no desenvolvimento de MPMEs. 12 2.1.2.2 A Teoria da Escola Austríaca de Empreendedorismo Uma teoria diferente sobre o papel do empreendedor no desenvolvimento econômico foi fornecida pela Escola Austríaca de Economia. Para Ludwig von Mises (1881-1973). O empreendedor existiria porque o futuro não pode ser previsto exatamente. Em sua visão, a ideia empreendedora que gera lucro continuamente é exatamente aquela que não pode ser facilmente pensada pela maioria. Não seria uma previsão correta que gerava lucros, mas uma previsão melhor do que todas as outras. O prêmio seria somente para os dissidentes que não se deixam enganar pelos erros aceitos pela multidão. O que fazia emergirem os lucros seria a provisão para as necessidades futuras para as quais os demais falharam em fazer adequadamente. A principal contribuição desta Escola na compreensão do desenvolvimento econômico é baseada na teoria do conhecimento. Para ela, a função empresarial não se limita ao empreendedor excepcional, mas estaria nas mãos de milhares de indivíduos que fazem uso consciente de informações comerciais. Empreendedores seriam homens de classe média que ofereceriam produtos e serviços a preços convidativos à troca. Sua atuação enquanto homens de negócio se basearia na realização de arbitragens. Comprariam barato para vender por preço superior. Seriam indivíduos que antes mesmo de saber por quanto um produto poderia ser de fato vendido, fariam julgamentos acerca de preços futuros e seriam capazes de estimar que produtos seriam atraentes ao consumidor. O progresso econômico requereria um número considerável de empreendedores competindo entre si pela busca de novos produtos comerciais e dispositivos de produção economicamente eficientes. Para saber quais produtos e quais dispositivos seriam mais adequados para a venda, seria necessário o teste de mercado contínuo. Isto tornaria a atividade empresarial por natureza especulativa e experimental e os mercados, um laboratório institucionalizado do progresso econômico. O empreendedor por sua vez seria um intermediador, um criador de mercados ou coordenador de transações. 13 O traço mais distintivo das idéias de Kirzner (1973), um dos principais teóricos desta escola, foi sua ênfase no alerta empreendedor, que seria a capacidade para identificar oportunidades de negócio ainda não exploradas. Para o autor, o lucro do empreendedor não seria uma recompensa pela tomada de risco e sim pelo alerta genuíno. Enquanto realizador de arbitragens, ao contrário do empreendedor schumpeteriano, o empreendedor Kirzneriano faria um movimento do desequilíbrio para o equilíbrio; movimento este que seria nada mais, nada menos que o próprio processo competitivo. Segundo Shane e Ventakaraman (2000), as teorias de Schumpeter e de Kirzner refletiriam tipos diferentes de oportunidades. As oportunidades de Kirzner decorreriam de informação previamente existentes, para as quais alguns empreendedores estariam mais alertas que outros. Empreendedores descobririam oportunidades no mundo objetivo. As oportunidades Schumpeterianas, por sua vez, decorreriam da criação do empreendedor, dependendo deste portanto para sua própria existência; ou seja, da capacidade do empreendedor em tornar algo até então inexistente em um negócio real. Para os autores da Escola Austríaca, um dos fatores primordiais para o empreendedorismo seria a informação. Seria sua obtenção o que permitiria a alocação eficiente de recursos. Para Kirzner (1979), empreendedores seriam indivíduos que possuiriam conhecimento empreendedor - que consiste em ―um tipo raro, abstrato de conhecimento – o conhecimento de onde obter informação (ou outros recursos) e de como utilizá-lo‖ (p. 8). A descoberta da oportunidade estaria na metade do caminho entre informação deliberadamente produzida e aquela obtida por pura sorte ou acaso (KIRZNER, 1997). Oportunidades se apresentariam sob diferentes formas: demanda por um novo produto ou serviço, ou por um novo produto ou serviço já existentes e disponibilizados por preço mais baixo ou ainda por um novo modelo de negócios. 2.1.2.3 Teorias Psicológicas e a Necessidade de Realização Em 1961, David McClelland, psicólogo americano da Universidade de Harvard, realizou uma pesquisa mundial, para avaliar o papel das motivações e valores de uma nação ou cultura em seu desenvolvimento econômico. O 14 estudo identificou que sociedades com um nível geral de necessidade de realização mais elevado, tendiam a gerar empreendedores mais enérgicos, o que por sua vez levaria a um desenvolvimento econômico mais rápido. McClelland se voltou para o estudo de pessoas motivadas para a criação de um novo negócio e com vontade de alcançar desempenho superior. Os resultados mostraram que tais indivíduos possuíam elevada necessidade de realização, de poder e afiliação, que foram a partir de então consideradas características fundamentais do comportamento empreendedor. Segundo McClelland, indivíduos de comportamento empreendedor se destacavam também por seis aspectos principais em relação ao gerenciamento da firma: propensão moderada à tomada de riscos (eram pessoas dispostas a tomar riscos calculados), resultados financeiros vistos como função de suas habilidades e não de sorte; gosto por atividades enérgicas e novas (desdenhavam atividades rotineiras); assumiam responsabilidade pelo sucesso e pelo fracasso dos projetos da firma; avaliavam o desempenho pelos resultados da ação; e planejavam. McClelland enfatizou ainda a importância de fatores ambientais para a promoção do empreendedorismo. Em sua visão, a atividade empreendedora poderia ser estimulada pelo prestígio atribuído a tal atividade em determinado país. No plano individual dependeriam do próprio nível de sucesso obtido pelo empreendedor quando comparado aos demais de sua localidade. Filion (1999) também sugeriu que quanto mais o sistema de valores de uma sociedade apresentasse de forma positiva a atividade empreendedora, maior tenderia a ser o número de pessoas dispostas a empreender: ―... se tudo for igual, quanto mais empreendedores uma sociedade tiver e quanto maior for o valor dado, nessa sociedade, aos modelos empresariais existentes, maior será o número de jovens que optarão por imitar esses modelos, escolhendo o empreendedorismo como uma opção de carreira. (FILION, 1999, p. 9). Apesar das inúmeras tentativas, até hoje, não foi possível estabelecer cientificamente um perfil psicológico do empreendedor. 15 2.1.2.4 Donos de Pequenos de Negócios Paralelamente aos autores precedentes, alguns outros acadêmicos se voltaram para o estudo de criadores de firmas sem ambição de crescimento organizacional, aos quais chamaram de donos de pequenos negócios. Casson (1982) distinguiu empreendedores, de gestores e donos de pequenos negócios. Carland et al (1984) e Begley e Boyd (1987) se preocuparam em distinguir empreendedores de donos de pequenos negócios. Esses autores viram a inovação como a principal característica de indivíduos verdadeiramente empreendedores, por eles chamados pura e simplesmente de empreendedores. Estes se caracterizariam pela preferência por criar a atividade, manifestada por combinações inovadoras para a obtenção de recursos visando ao lucro. Buscava-se nesses estudos compreender porque alguns indivíduos tinham um comportamento voltado para o crescimento organizacional, inovação e viam as dificuldades encontradas como desafios– postura essencial para o desenvolvimento econômico – enquanto outros eram passivos em relação à demanda, não inovavam e tampouco tinham vontade de crescimento (donos de pequenos negócios). A percepção de que donos de pequenos negócios difeririam fortemente de empreendedores no que diz respeito a sua capacidade de inovação, de julgamento, criação de demanda, vontade de crescimento, assim como habilidade gerencial (PENROSE, 1959; SIREC E MOCNIK, 2010) e a preocupação cada vez maior dos governos de países desenvolvidos e emergentes com a criação de novas firmas viáveis, cujos tomadores de decisão visem ao crescimento, contribuiu para que um número cada vez maior de autores dedicasse sua atenção à identificação de características capazes de distinguir empreendedores de donos de pequenos negócios. A determinação de aspectos capazes de levar indivíduos a apresentar comportamento empreendedor poderia permitir que incentivos governamentais fossem direcionados de modo a priorizar negócios voltados para o crescimento. Até hoje, no entanto, os estudos com vistas a identificar características empreendedoras que resultem em negócios mais viáveis tiveram resultados controversos. Dada a vasta gama de características pessoais existentes, se torna difícil identificar quais realmente influenciam o sucesso da firma e por 16 que. Estudos sobre características pessoais que explicam o comportamento do empreendedor em determinado contexto fracassam muitas vezes em explicá-lo em outro (para uma revisão geral ver GARTNER, 1989). A pesquisa sobre características pessoais ainda não foi capaz de prever que indivíduos teriam mais chances de se tornar empreendedores ou o que levaria ao sucesso empresarial. 2.2 Os Desafios ao Crescimento da Firma O empreendedor é considerado por muitos autores como peça central no gerenciamento do processo de crescimento da firma. Existem no entanto grandes dificuldades para identificar como de fato esta influência se daria. Em relação a este aspecto, o modelo de Fleck (2009) se destacou não apenas por relacionar o comportamento do empreendedor ao potencial crescimento da firma, mas também por permitir a análise do crescimento da firma em três níveis1: o empreendedor (tomador de decisões), organizacional (a firma) e seu ambiental (atores externos). A autora propôs a existência de 5 desafios a serem enfrentados pela firma: 1) Empreender em Bases Contínuas; (2) Gerenciar a Complexidade; (3) Aprovisionar Recursos Gerenciais; (4) Gerenciar a Diversidade; e (5) Navegar em Ambiente Turbulento. O primeiro desafio, empreender em bases continuas, relaciona-se aos serviços empreendedores propostos por Penrose (1959), estando principalmente associado à noção de crescimento sustentado. Já os outros quatro dizem respeito aos serviços gerenciais mencionados por Penrose (1959). Respostas adequadas ao desafio de empreender promovem o crescimento sustentado inofensivo, enquanto respostas adequadas aos demais desafios dão suporte ao desenvolvimento do crescimento saudável. Sendo assim, o crescimento sustentável de uma firma requer que respostas adequadas aos cinco desafios de Fleck (2009), resumidos no quadro 1.1. 1 Segundo Bunge (2000), explicações efetivas para um determinado fenômeno requereriam que ao menos três níveis de análise fossem considerados. 17 Categoria de Desafio Descrição do Desafio Respostas Polares aos Desafios Empreender em Bases Contínuas Promover o empreendedorismo continuado, pela alimentação da vontade de expandir a criação de valor, enquanto se previne a superexposição ao risco Satisfatório ou menos Navegar em um Lidar com os múltiplos Ambiente Turbulento stakeholders da organização, para assegurar a captação de valor e a legitimidade organizacional Gerenciar a Diversidade Aprovisionar Recursos Gerenciais Gerenciar a Complexidade Alto (baixo nível de ambição, versatilidade, imaginação, visão, inventividade e julgamento, movimentos de motivação nula ou defensiva) (altos níveis de ambição, versatilidade, imaginação, visão, inventividade, e julgamento, uso de movimentos de motivação produtiva ) À Deriva Moldável (Busca por oportunidade fraca, uso inoportuno ou inadequado de estratégias de resposta*) *manipulação, fuga, aquiescência, compromisso ou desistencia Alimentar a integridade Fragmentação diante dos crescentes conflitos e rivalidades (falha em estabelecer organizacionais relações internas e capacidade de coordenação) Constantemente equipar a firma com recursos humanos qualificados A posteriori Gerenciar questões complexas e resolver problemas de complexidade crescente, para evitar riscos à existência da organização Ad Hoc (busca constante por oportunidades, estratégias de resposta apropriadas e tempestivas*) *manipulação, fuga, aquiescência, compromisso ou desistencia Integração (desenvolvimento bemsucedido de relações internas e capacidade de coordenação) (just-in-time ou pósfato) Antecipada (ações de planejamento antecipado) Sistemático (pouca habilidade de (fortes habilidades de planejamento, levando resolução de problemas, a buscas por soluções de forma sistemática rápidas e impedindo a levando a buscas aprendizagem) contínuas por soluções e levando a aprendizagem) Quadro 1-1 Os Cinco Desafios ao Crescimento da Firma (FLECK, 2009) 18 Segundo Fleck (2009), empreendedores diferentes teriam habilidades diferentes para responder a cada um dos cinco desafios anteriormente propostos. 2.2.1 Empreender em Bases Contínuas O desafio empreender em Bases Contínuas representaria as características temperamentais do empreendedor, propostas por Penrose (1959) em seu livro seminal The Growth of the Firm. Para a autora, o crescimento da firma dependeria da existência de indivíduos capazes de prestar os serviços empreendedores e gerenciais adequados ao crescimento. Serviços empreendedores dependeriam das características temperamentais do tomador de decisões: versatilidade empreendedora, julgamento empreendedor, inventividade e ambição empreendedora. Já os Serviços gerenciais dependeriam do conhecimento objetivo em gestão e da aquisição de conhecimento experiencial dentro da firma por parte do corpo gerencial de seu corpo gerencial. 2.2.1.1 Versatilidade Empreendedora Segundo Penrose, esta seria uma qualidade bastante diferente da gerencial ou técnica, sendo uma questão de imaginação e visão, que poderia ou não ser prática. A versatilidade implicaria o desenvolvimento de novos mercados ou novas linhas de produto. Esta seria uma característica importante para permitir que a firma se adapte progressivamente a novas condições da demanda. Diria respeito ao esforço criativo do empreendedor e a seu feeling apurado para a identificação de novos tipos de produtos ou mercados. Empreendedores com maior versatilidade conseguiriam perceber maior número de oportunidades. 19 Entre as características mais freqüentemente atribuídas a empreendedores bem-sucedidos estão a criatividade e a imaginação. Empreendedores são freqüentemente tidos como agentes de mudança, por supostamente introduzirem novos e diferentes produtos e serviços no mercado (FILION, 1999). São indivíduos sempre abertos a novas idéias; favoráveis a mudanças (DRUCKER, 1985). Empreendedores estariam sempre em busca de oportunidades e de tirar proveito de mudanças e rupturas na forma como o negócio se realiza (KAPLAN E WARREN, 2010). Keeley e Tabrizi (1995) se destacaram dos demais autores por considerarem a existência de empresas nascentes não criativas. Para os autores, uma empresa nascente poderia ser uma imitadora ou uma inovadora. No primeiro caso, sua missão seria a de aumentar a competição na indústria, e no último, de obter lucros acima daqueles que se obteria no mercado de capitais. Versatilidade empreendedora diria respeito ainda à expansão geográfica. Benzing et al (2005) encontraram que no Vietnam, muitas MPMEs continuavam a distribuir seus produtos de forma local, pois não possuíam canais de vendas necessários para levar seus produtos e serviços para uma ampla base de consumidores. Kuemmerle (2005) ressaltou que a internacionalização aumentaria as oportunidades para a firma, pois abriria novos mercados para os produtos existentes, assim como a possibilidade para a extensão da linha de produtos, além de poder oferecer às empresas um maior acesso a recursos tais como capital, gestores e engenheiros especializados em serviços de fornecimento. 2.2.1.2 Julgamento Empreendedor Diz respeito à capacidade de analisar o ambiente, a habilidade da firma para fazer face a diferentes situações (oportunidades e ameaças), assim como ameaçar o curso dos acontecimentos. O julgamento envolveria bom senso, autoconfiança e outras qualidades pessoais. Enquanto uma alta qualidade de julgamento fomentaria crescimento inofensivo à firma, uma baixa qualidade de julgamento provocaria erros que conduziriam a empresa ao crescimento perigoso. No entanto, para Penrose (1959), a qualidade de julgamento 20 dependeria não apenas das qualidades individuais do empreendedor, mas também da qualidade de serviços de consultoria disponíveis dentro da própria firma. Julgamento se refere essencialmente à qualidade das decisões que envolvam a tomada de risco. Para Choi e Shepherd (2004); Shepherd e DeTienne (2005); Stuart e Sorenson (2005) e Witt (2007), o empreendedorismo envolveria visões subjetivas a respeito de oportunidades de negócio e sobre a capacidade de transformar esta visão em realidade no mundo empresarial. O aproveitamento de oportunidades no empreendedorismo requereria julgamento habilidoso, já que a própria decisão de exploração de uma oportunidade se constituiria em uma atividade de risco (WALD, 1950; TRIOLA, 2003). Ao se comprometer com a exploração de uma oportunidade, o empreendedor correria o risco associado à incerteza da demanda. Alguns empreendedores colocariam produtos, independenetemente de ter sido criada demanda para eles (COWLEY, 2002). Embora muitos estudos tenham se dedicado à descoberta e exploração de oportunidades (ex.: BUSENITZ E BARNEY, 1997; SHANE, 2000; SHAVER E SCOTT, 1991), pouca pesquisa foi realizada a respeito de como o empreendedor escolhe as oportunidades a serem aproveitadas (CHOI E SHEPHERD, 2004). 2.2.1.3 Inventividade Inventividade diria respeito à habilidade para a captação de recursos. A falta de capital inicial é geralmente um grande problema para MPMEs, visto que a empresa nova tenderia a não ter, de forma geral, perante consumidores, investidores, clientes e provedores de recursos, a mesma credibilidade que uma empresa já estabelecida. Miller (1987) encontrou que entre os maiores problemas enfrentados por empreendedores nos três primeiros anos, estaria convencer clientes a comprar os produtos de suas firmas e credores a financiar suas operações. Penrose observou que apesar das usuais dificuldades de MPMEs em obter recursos que alavanquem seu crescimento, algumas firmas de menor porte conseguiam mobilizar capitais, crescer e se tornar firmas grandes, graças 21 à capacidade por parte de empreendedores habilidosos de obter os recursos de que a firma necessita para seu crescimento. Segundo a autora, a própria afirmação por parte do empreendedor da inexistência de capital disponível seria com frequência um sinal de que lhe faltaria um tipo muito particular de característica temperamental, a qual chamou de inventividade. 2.2.1.4 A Ambição Empreendedora A ambição empreendedora se referiria à vontade de crescer. De acordo com Penrose, empreendedores difeririam na forma utilizada para o crescimento de suas firmas. Uns as expandiriam pela aquisição de firmas concorrentes. A estes a autora chamou de construtores de império. Alguns homens de negócio, no entanto, promoveriam o crescimento da firma pela expansão contínua de suas operações, pelo desenvolvimento de novos produtos e serviços, pela expansão geográfica ou ainda pelo aumento do volume de produção – estes seriam empreendedores produtivos. Sirec e Mocnik (2010) ao analisar o comportamento de empreendedores produtivos, incorporaram outra dimensão à ambição empreendedora: a habilidade para o crescimento. Existiriam, segundo os autores, quatro tipos diferentes de empresas, classificadas de acordo com sua vontade e habilidade para crescer: (1) empresas com vontade de crescer e com habilidade para o crescimento; (2) empresas com vontade de crescer, mas sem habilidade para o crescimento; (3) empresas sem vontade de crescer, mas com habilidade para o crescimento; e (4) empresas sem vontade de crescer e sem habilidades para o crescimento. Assim, diferentemente da ambição pura, a ambição empreendedora requereria não apenas a vontade de crescimento, mas também a habilidade para fazê-lo. 2.2.2 Gerenciar a Complexidade Tal desafio diz respeito à inter-relação intra e interorganizacional, que se amplia à medida que a organização cresce (FLECK, 2009). Segundo Simon 22 (1969) e Rivkin (2000), a complexidade diria respeito ao número de variáveis de decisão que a firma deve considerar, assim como ao número de interações entre essas variáveis de decisão. Uma resposta satisfatória ao desafio da complexidade envolveria, portanto, o comprometimento com o planejamento organizacional, fortes habilidades de resolução de problemas, levando à busca contínua por soluções, que por sua vez propiciariam a aprendizagem. Para melhor gerenciar a complexidade, seria preciso aprender a pensar conjuntamente e em desordem, saber trabalhar o acaso (MORIN, 1982). Para Fleck, tal habilidade requereria a adoção de soluções sistemáticas para problemas enfrentados e a interpretação adequada das informações obtidas, com ligação das diferentes variáveis importantes para os processos organizacionais e planejamento. Fatores que conduzem ao planejamento ou à improvisação são uma das questões mais controversas do empreendedorismo. O gerenciamento da complexidade poderia ser portanto facilitado pela contratação de serviços de assessoria especializada. Diversos autores dedicaram sua atenção ao estudo dos fatores que levariam empreendedores a contratar este tipo de serviço. Smeltzer et al (1988) sugeriram que diferenças referentes ao grau de estabilidade do ambiente estariam no cerne da resposta a esta pergunta. Quanto mais instável fosse o ambiente, maior seria a tendência à solicitação deste tipo de serviços. Segundo Lang et al (1997), isto se deveria ao fato de que ambientes dinâmicos e turbulentos aumentariam as oportunidades e ameaças percebidas pelo empreendedor e a busca de informações estaria diretamente associada às oportunidades e ameaças percebidas. Assim, quanto mais dinâmico o ambiente da firma, mais o empreendedor estaria motivado a buscar informações e serviços de consultoria sobre o mercado (MCGEE E SAWYERR, 2003; MATHEWS E SCOTT, 1995). De acordo com Dyer e Ross (2008), neste caso, a busca por informações e a consultoria seriam ingredientes críticos para o sucesso no mercado particularmente para obtenção de informações sobre compradores e clientes, concorrentes, precificação e promoção. Em seu estudo, os autores ressaltaram no entanto que apenas parte da variância na busca de serviços de consultoria era explicada pelo nível de dinamismo do ambiente. 23 2.2.3 Aprovisionar Recursos Gerenciais Para Penrose (1959), a formação de uma equipe gerencial competente, com experiência dentro da própria firma seria condição fundamental para seu crescimento. Boa parte do conhecimento necessário ao trabalho, somente poderia ser adquirido por experiência dentro da própria firma. Os indivíduos deveriam aprender a lidar com os recursos da firma e a trabalhar uns com os outros, ganhando confiança no trabalho em conjunto. Embora ressaltasse a importância do conhecimento experiencial, que somente poderia ser adquirido pela própria prática da função a ser executada, Penrose não descartou a importância do conhecimento objetivo, transmissível por meios didáticos. Banks et al (1987) apontaram a centralidade do empreendedor nas decisões de treinamento em MPMEs. Os autores sugeriram que MPMEs utilizariam associações, seminários com menos de cinco dias de duração e seu próprio corpo funcional como principal fonte de treinamento, enquanto organizações maiores fariam uso mais extensivo de fontes de treinamento. Por disporem de mais recursos humanos e financeiros, firmas grandes poderiam realizar cursos internos, seu próprio pessoal para treinamento, fontes de treinamento técnico e cursos com duração superior a cinco dias. Em MPMEs, a ausência dos funcionários de seus postos de trabalho faria falta maior do que nas grandes empresas. Contudo, ainda hoje, pouco se sabe sobre como conhecimento é de fato adquirido neste tipo de empresas. Becker (1964) em sua teoria do capital humano estendeu a microeconomia a uma ampla gama de comportamentos humanos. Nela, a formação e o treinamento foram vistos como investimentos, comparáveis à compra de um novo equipamento. Para o autor, indivíduos com maior qualidade de capital atingiriam resultados melhores. No entanto, estudos sobre a efetividade de treinamentos chegaram a resultados controversos. Existem dúvidas em relação a se eles aumentariam de fato o desempenho da firma ou se são capazes de lhe conferir maior vantagem competitiva (FAIRFIELDSONN, 1987; WYNARCZYK et al,1993). Alguns autores encontraram que o treinamento melhoraria os resultados da firma. Para Knoke e Kalleberg (1994), o treinamento aumentaria todas as dimensões ligadas a desempenho, tais como qualidade do produto, relação entre empregados, vendas, rentabilidade e 24 fatia de mercado, além de facilitar a implementação de mudanças provocadas por inovações tecnológicas. No entanto, Westhead e Storey (1996) encontraram poucas evidências de que empresas nascentes onde os fundadores haviam recebido algum tipo de treinamento tivessem melhor desempenho que as demais. Segundo os autores, a falta de correlação positiva entre o treinamento recebido e o aumento do desempenho poderia ser função da qualidade do treinamento recebido. Outras duas grandes dificuldades freqüentes em MPMEs são a contratação de mão de obra e a retenção de funcionários. Poucos estudos examinaram o problema específico da contratação. Em relação à retenção de funcionários, Pakes e Nitzan (1983) e Cassiman e Ueda (2006) sugeriram que um empregado somente deixaria a firma se sua retirada fosse uma decisão eficiente sob o ponto de vista econômico. Lewis e Yao (2001) argumentaram que para reter recursos gerenciais, a firma poderia deliberadamente permitir a mobilidade interna, o que a tornaria um empregador atraente. Alguns estudos se referiram particularmente às dificuldades de retenção em empresas do setor de tecnologia. Segundo Hellman (2007), nestas firmas, seria frequente a perda de empregados que tivessem suas ideias rejeitadas. Isto porque a firma teria uma capacidade limitada de realização de projetos internos (AMADOR E LANDIER, 2003). A firma imporia limites, aguardando melhores projetos no futuro. Assim, não haveria ineficiência na rejeição de projetos rentáveis, mas sim uma otimização da dinâmica da carteira de projetos. 2.2.4 Gerenciar a Diversidade Conforme sustenta Fleck (2009), à medida que a firma cresce se tornam mais diversos seus clientes, fornecedores, produtos, serviços e níveis hierárquicos. Tal diferença aumenta as chances de ocorrência de conflitos internos. Torna-se mais difícil o gerenciamento de funcionários, assim como o estabelecimento de sistemas de controle eficientes, capazes de lidar de forma adequada com estas diferenças. Diante de conflitos de interesses entre os diversos stakeholders dos quais a firma depende, esta deve optar em relação a 25 quais deles satisfazer (PFEFFER E SALANCIK, 1978). O gerenciamento da diversidade requer, portanto, a resolução de conflitos internos, que por sua vez, depende também de uma alocação eficiente dos recursos organizacionais. Outro aspecto relevante para o gerenciamento da diversidade é a capacidade de liderança do empreendedor; sua habilidade para gerenciar pessoas, extraindo delas energia, e, consequentemente, trabalho, em níveis satisfatórios, de seus subordinados (LEONARD-BARTON E DESCHAMPS, 1988; AHEARN et al, 2004). De acordo com Krueger (2005), o comportamento empreendedor se referiria ao de líderes persuasivos, orientados para pessoas, criativos, imaginativos, que envolveriam os demais, tirando o melhor dos recursos que os indivíduos teriam a oferecer, inclusive os intelectuais. Valores seriam a visão do indivíduo em relação à propriedade de comportamentos (MEGLINO E RAVLIN, 1998). Selznick (1957) apontou a importância da disseminação dos valores do líder, para a longevidade da organização. Ling et al (2007) encontraram que os valores do líder exerceriam fortes efeitos benéficos em firmas maiores e mais antigas, enquanto valores compatíveis com inovação, exerceriam maior efeito benéfico em firmas nascentes. Waldman e Yammarino (1999) propuseram que pela interação com os membros da firma, os valores do líder ligados à inovação poderiam permear as diversas camadas da organização, promovendo entusiasmo por projetos criativos e consequentemente contribuindo para um maior desempenho. Segundo Hambrick e Brandon (1988), aspectos-chave da personalidade e valores pessoais seriam características importantes para um líder. Para Menger (1981), a firma inevitavelmente carregaria a marca das características pessoais do empreendedor. Witt (2007) salientou que ao criar ou estabelecer uma nova firma, este contrataria serviços não completamente especificados. Haveria, no entanto, a necessidade de tornar disponíveis dentro da firma os serviços necessários a seu funcionamento em quantidade, qualidade e tempo adequados ao negócio tais como concebidos pelo empreendedor. O autor sugeriu a existência de dois modelos de governança que poderiam ser levados a cabo com tal finalidade: o regime de liderança cognitiva e o regime de monitoramento. O regime de liderança cognitiva seria baseado em uma comunicação eficiente, que permitisse aos funcionários compreender e compartilhar o 26 modelo de negócio intencionado pelo empreendedor. Neste caso, as regras não seriam predominantemente escritas, mas passariam a fazer parte da própria cognição dos subordinados, de modo que em situações não previamente especificadas, estes fossem capazes de tomar decisões condizentes com o modelo de negócios vigente. A liderança cognitiva permitiria portanto a obtenção de benefícios que não poderiam ser obtidos via contrato de trabalho; e requereria que fosse concedida discricionariedade aos empregados. O modelo de governança baseado na supervisão e controle, ao contrário, restringiria a liberdade dos funcionários e os excluiria da tomada de decisões. Neste caso, caberia a estes funcionários, desempenhar os papéis e tarefas estabelecidos pelo empreendedor, conforme descrição prévia, sem uso de senso crítico. Os empregados seguiriam apenas regras que lhes fossem impostas. 2.2.5 Navegar em Ambiente Turbulento Segundo Fleck (2009), este desafio estaria ligado à captura de valor para a firma, mediante interações com o stakeholders externos. Ou seja, à capacidade de internalização de recursos captados e ao estabelecimento de relações de longo prazo com stakeholders. Nele é avaliada, portanto, a qualidade dos relacionamentos mantidos com os stakeholders dos quais a firma depende para sua sobrevivência (PFEFFER E SALANCIK, 1978). Um dos principais problemas enfrentados, especialmente em países emergentes, refere-se à instabilidade e volumosa burocracia que cerca as empresas. Nesses países, as leis que governam as MPMEs são geralmente tidas pelos empreendedores como de complexidade excessiva e com freqüência são apontadas dificuldades de legalização e registro do negócio. Além disso, a legislação que regula a propriedade e os contratos civis é geralmente vista como mal elaborada (BENZING et al, 2005; CHU et al, 2007). Como consequência, o ambiente regulatório/institucional desfavorável seria freqüentemente acompanhado de corrupção (KIGGUNDU, 2002; POPE, 2001; SVENSSON, 2000). 27 Empreendedores quenianos ao enfatizarem a corrupção, afirmaram ser frequentemente assediados por servidores públicos inescrupulosos, que demandariam propina (MAMBULA, 2002). Estudos conduzidos em países do leste africano mostraram que o setor privado é excessivamente regulamentado e apontaram a existência de dupla regulamentação em relação a determinados objetos. Macculloch (2001) salientou os longos períodos de espera em processos que demandam algum tipo de homologação ou aprovação por parte de órgãos governamentais, tais como licenças comerciais e registros do negócio. Gray et al (1997) e Pratt (2001) relataram o comportamento restritivo dos servidores públicos quenianos, que teriam condutas duvidosas, e frequentemente fariam interpretações erradas das leis, sendo hostis à lógica do lucro e dando tratamento preferencial a empresas do governo. No país, o setor privado e o setor público ainda operavam sob leis e regulamentações distintas (BENZING et al, 2005). Outras dificuldades freqüentemente apontadas por empreendedores em países em desenvolvimento são: infraestrutura, altas taxas de impostos, impresivibilidade na mudança de leis e regulamentações (CHU et al, 2007; DANIS E SHIPALOV, 2002; BENZING et al, 2005; MAMBULA, 2002); problemas de infraestrutura referentes ao mau funcionamento das redes elétricas foram enfatizados por empreendedores nigerianos (MAMBULA, 2002; WINE, 2007; FALOLA, 1996; JUMA, 1991; SCHATZ, 1996); a fragilidade da economia do país (baixas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e altos índices de pobreza e desemprego), além da forte concorrência e das altas taxas inflacionárias (BENZING et al, 2005). Segundo Lawrence e Lorsch (1967) e Weick (1979), os problemas ambientais não seriam percebidos da mesma forma pela totalidade dos empreendedores. Empreendedores diferentes perceberiam fatores ambientais de forma diferente, de acordo inclusive com sua capacidade ou habilidade para resolver os problemas a serem enfrentados. Em relação a este aspecto, cabe ao empreendedor escolher a indústria em que a firma irá atuar ou o perfil do cliente que irá atender. Portanto, o ambiente não seria objetivo, mas conseqüência da subjetividade do empreendedor. Além disto, uma firma somente reagiria aos aspectos do ambiente que conseguisse perceber como ameaça ou oportunidades (PFEFFER E SALANCIK, 1978). Faltam explicações 28 no entanto sobre como o perfil do empreendedor afeta os problemas por ele percebidos e seu relacionamento com o ambiente externo. 2.3 Motivações para o Emprendedorismo Artigo escrito em 2007 por Chu et al se mostrou particularmente esclarecedor no que tange às motivações para o empreendedorismo. Sua revisão de literatura indicou a existência de 12 motivações para o empreendedorismo: (a) para ser meu próprio patrão; (b) para poder usar minha experiência ou formação; (c) para aumentar meus rendimentos; (d) para ganhar reconhecimento público; (e) para criar um emprego para mim mesmo; (f) para dar emprego a minha família; (g) para minha própria satisfação e crescimento; (h) para sempre ter estabilidade no emprego; (i) porque eu não conseguia uma colocação apropriada no mercado de trabalho; (j) para estar próximo à família; (k) para provar que eu sou capaz; e (l) para criar a firma para vender. Artigos sobre o tema geralmente se limitam a investigar, via survey, as motivações para o empreendedorismo predominantes em determinado país (ex.: Chu et al, 2007; BENZING et al, 2005) Rindova et al (2009) propuseram que fossem realizadas investigações a respeito de como as motivações para o empreendedorismo influenciariam o comportamento do empreendedor, e em última instância, da firma. Segundo os autores, haveria dois tipos de motivação para o empreendedorismo: motivação breaking free e motivação breaking up. A primeira, diria respeito ao empreendedorismo como forma de libertação de uma situação anterior considerada indesejável (remuneração baixa, necessidade de submissão às vontades de um chefe, distanciamento da família, entre outros). No caso da motivação breaking up, no entanto, o empreendedor teria além dos anseios de liberdade, vontade de fazer da firma algo valioso aos seus próprios olhos ou aos olhos da sociedade. 29 2.4 A Pesquisa Uma vez identificados os principais aspectos da literatura que dizem respeito ao tópico investigado neste trabalho – o empreendedor vis-à-vis o crescimento sustentável da firma – o próximo capítulo apresenta o método pelo qual se buscou examinar este tópico. Primeiramente, tomando por base os estudos sobre motivação para o empreendedorismo de Rindova et al (2009) os empreendedores foram classificados em dois grandes grupos – breaking up e breaking free. Análise subsequente desses dois grupos quanto à maneira como respondem aos desfios do crescimento (Fleck, 2009) revelou grande diversidade dentro de cada grupo. Com o auxílio da tipologia de motivação para empreender de Chu et al (2007) refinou-se então a categorização. Foram encontrados cinco diferentes perfis motivacionais – identificadores de oportunidades, estado da arte, especializados, organizadores e breaking frees – que partilhavam semelhantes motivações e modos de resposta aos desafios da firma propostos por Fleck: Empreender em Bases Contínuas, Aprovisionar Recursos Gerenciais, Gerenciar a Complexidade, Gerenciar a Diversidade e Navegar em Ambiente Turbulento. Finalmente, tendo em vista o papel essencial dos bancos comerciais no desenvolvimento econômico dos países (Schumpeter, 1911), foram propostas medidas para favorecer o crescimento sustentável de MPMEs, incluindo o papel dos bancos comerciais nesse processo. 30 3 O MÉTODO Como mencionado anterioemente, a pesquisa visou a compreender a questão do crescimento sustentável da firma em MPMEs, organizações nas quais o empreendedor exerce posição de destaque. Este capítulo aborda aspectos relativos à maneira através da qual esta questão foi trabalhada, compreendedndo: perguntas da pesquisa; o método utilizado para a coleta de dados, perfil dos participantes, e tratamento dos dados durante a fase de análise. 3.1 Pergunta da Pesquisa A Pesquisa girou em torno de uma questão central, qual seja, a sustentabilidade do crescimento em MPMEs. Tendo em vista o papel capital que exerce o empreendedor nesse tipo de organização, este foi objeto de exame, tendo sido adotada a perspectiva subjetivista, que atribui ao comportamento do indivíduo empreendedor o sucesso pelo crescimento da firma (PENROSE, 1959; FLECK, 2009), de onde a necessidade de responder a outras questões referentes à influência do tomador de decisões sobre o comportamento da firma: 1. Como o empreendedor influencia o crescimento da firma? 2. Qual seria o perfil de empreendedor que levaria ao crescimento sustentável? Por quê? 3. Que medidas poderiam ser adotadas para elevar o nº de MPMEs que atingem o crescimento sustentável? 31 3.1.1 As Entrevistas Dado o ainda incipiente conhecimento sobre o processo de crescimento das firmas, e mais especificamente do processo de crescimento de MPMEs no Brasil, optou-se por um método que permitisse explorar o tema de forma ampla, profunda e não reducionista: entrevistas em profundidade. Dado que se tratava de uma pesquisa focada no empreendedor, entrevistas seriam capazes de capturar os pensamentos, sentimentos e intenções do entrevistado (PATTON, 1980), algo que se tornaria inviável via questionários. Estes não se prestam à pesquisa exploratória (YIN, 1994); são indicados para a validação de teorias, quando o que se visava no presente estudo era gerar insights para a criação de nova teoria a ser validada por estudos futuros. 3.1.1.1 A Unidade de Análise O primeiro grande desafio foi determinar quem seriam os participantes. Quem seriam os empreendedores abordados, criadores da firma, indivíduos empreendedores? Era preciso selecionar empresas que crescessem a taxas consideráveis e empresas com grandes dificuldades de crescimento, a fim de que seus comportamentos fossem comparados. Optou-se por selecionar empresas nestes dois casos no comércio e em incubadoras de empresas. Foram escolhidas empresas de quatro setores diferentes: autopeças, varejo de informática, tecnologia e biotecnologia. No comércio, as empresas com baixas taxas de crescimento eram representadas essencialmente por firmas do varejo de informática e comerciantes de bairro de autopeças. Com vistas a analisar o comportamento de empresas com taxas mais altas de crescimento, também foram entrevistados comerciantes entre os dez maiores associados da AMAP (Associação dos Revendedores de Autopeças) em número de vendas. No caso das incubadoras, foram selecionadas empresas tanto ainda incubadas como graduadas. Ao todo foram realizadas 68 entrevistas. A unidade de análise foi o empreendedor, dono e estrategista da firma. Foram entrevistados 63 sócios com este perfil. Foram entrevistados ainda 5 parentes de donos que 32 trabalhavam nas firmas e contribuíam de forma efetiva para sua gestão. Neste caso foram feitas perguntas a respeito do comportamento do sócio estrategista e da própria firma ao longo de sua existência (principais marcos, mudanças ocorridas, dificuldades existentes ou superadas, etc). Todos os estrategistas eram donos de micro, pequena ou média empresa, segundo definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tabela 1-1 Definições de MPMEs IBGE1 SEBRAE2 BNDES3 BDMG4 BB5 SIMPLES6 Critérios de Classificação para Micro, pequenas e Médias Empresas no Brasil, segundo nº de empregados, Receita Operacional Bruta Anual e Faturamento Bruto Anual, por grande grupo de atividade econômica Comércio e Serviços Micro Pequena Média até 10 11 a 49 51 a 99 até 10 11 a 49 51 a 99 até 1.200 mil reais 1.200 mil a 10.500 mil 10.500 mil a 60 milhões até 1.200 mil reais 1.200 mil a 10.500 mil 10.500 mil a 60 milhões até 5 milhões até 5 milhões entre 5 e 10 milhões 120.000 1.200.000 NIHIL 1 IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2 SEBRAE = Serviço de Apoio às Micro e Pequenas empresas; 3 BNDES = Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social, critério de classificação segundo receita bruta; 4 BDMG = Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais, critério de classificação segundo faturamento anual 5 BB = Banco do Brasil, critério de classificação segundo faturamento anual, critério de classificação segundo faturamento anual 6 SIMPLES = Lei Geral para Micro e Pequenas Empresas, critério de classificação segundo faturamento anual A tabela 3.2 mostra a distribuição das empresas participantes agrupadas por setores (autopeças e afins, varejo de informática, tecnologia e bioltecnologia), por porte, segundo classificação do IBGE/SEBRAE: Tabela 3-2 Descrição dos Grupos e Entrevistados por Tamanho da Empresa, segundo Classificação do IBGE/SEBRAE Grupo (por setores) Comércio de Autopeças Varejo de Informática Biotecnologia Tecnologia Total Nº de Microempresas 5 12 4 18 39 Nº de Empresas Pequenas 8 1 4 9 22 nº de Empresas Médias Total 0 0 4 3 7 13 13 12 30 68 33 Eram empresas muitas vezes com número reduzido de empregados, mas que em alguns casos, principalmente no caso das empresas graduadas em incubadoras, chegavam a ter volume de vendas superior a R$ 5.000.000,00 por ano. No caso dos empreendedores do setor de autopeças, alguns se referiram a um giro superior a R$ 500.000,00 reais por mês. 3.1.1.2 A Coleta de Dados A seguir se encontram informações sobre como os partipantes foram selecionados e os dados. 3.1.1.2.1 Setor de Autopeças e Afins Os participantes deste grupo surgiram mediante busca intencional por empreendedores. Seis integrantes foram abordados diretamente em seus estabelecimentos pela pesquisadora, munida de uma declaração da universidade onde estuda e de sua carteira de identidade, com o objetivo de convencê-los a falar em um primeiro momento sobre estresse no trabalho do empreendedor, e com o decorrer da pesquisa sobre o trabalho do empreendedor, os problemas por ele enfrentados, etc, visando a explorar o tema sob novos ângulos, trazendo portanto novos enfoques. Ao todo foram seis os participantes abordados desta forma no setor de autopeças e afins. Outros sete foram obtidos por intermédio de uma associação de autopeças. O primeiro entrevistado deste grupo havia se mostrado bastante disposto a ajudar, tendo mostrado todo o funcionamento de sua loja, entre as 10 maiores autopeças do Rio de Janeiro. A facilidade de entrada, despertou interesse pelo setor. Ao buscar ‗associações de autopeças‘ no Google, foi facilmente encontrada a Associação dos Revendedores de autopeças do Rio de Janeiro, a AMAP, da qual o empreendedor inclusive fazia parte. A entrevistadora ligou 34 para a AMAP e foi prontamente atendida por um rapaz que comunicou ao presidente da associação sobre o interesse de se fazer uma entrevista com os empreendedores de autopeças. Consultor, ele se mostrou interessado pelos resultados do trabalho e indicou 7 entre os maiores varejistas e distribuidores de autopeças do Rio de Janeiro em termos de volume de vendas para serem entrevistados. Estes se localizavam em diversos municípios do Estado do Rio de Janeiro: município do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu e Itaguaí. Após receber seus número de telefone e celular e estes terem sido avisados pela AMAP sobre o objetivo da pesquisa e terem aceitado participar, foram realizados os agendamentos. As entrevistas foram feitas na própria empresa do participante. Perfil dos Participantes de Autopeças Todas as empresas participantes do grupo de autopeças e afins eram essencialmente familiares. Há 20 anos atrás, a simplicidade do negócio fazia com que não fossem necessários grandes conhecimentos de logística. Os estoques eram simples e relativamente pequenos. Não era necessário um grande capital para se entrar no ramo. A grande expansão da indústria automobilística, nas duas últimas décadas, transformou a realidade desses empreendedores. Hoje, para se atuar no setor, é necessário saber lidar, muitas vezes, com mais de 10.000 a 20.000 peças diferentes. O alto investimento inicial passou a ser uma das principais barreiras de entrada no setor. As maiores empresas do ramo vêm realizando um grande esforço para profissionalizar o ramo de autopeças, o que resultou na criação da AMAP, nascida para dar força e visibilidade ao segmento. A associação buscava faciltar a aprendizagem pela troca de experiências, formar profissionais estoquistas para o setor que, segundo boa parte dos empreendedores, é carente de mão-de-obra especializada. Além disso, a associação buscava tornar a gestão das empresas mais profissionais. Com sua criação, empreendedores com mais de 20 anos de experiência, sem nenhum tipo de formação em gestão empresarial, que utilizavam métodos de gestão um tanto 35 quanto precários, puderam finalmente ter aulas de direito tributário e outros aspectos da legislação que contribuíam para a profissionalização da gestão de suas firmas. A tabela 3.3 descreve o participantes do grupo do setor de autopeças. 36 Tabela 3-3 Descrição dos Participantes do Setor de Autopeças Participantes Nº inicial de Empregados (+ nº de sócios) EE01 02 (+2 sócios) EE02 EE03 EE04 EE05 EE06 EE07 EE08 EE09 EE10 EE11 EE12 EE13 04 (+1 dono) 01 (+ 1 dono) 1 sócio 01 (+ sócio) 05 (+ 1 sócio) 0(+ 01 dono) 04 (+ 1 dono) 01 (+2 sócios) 01(+ 2sócios) 00 (+ 1 dono) 04 (1 dono) 06 (+ 1 dona) Nº Atual de empregados e sócios (+ nº de sócios) Formação do participante 16 (+ 2 sócios) 3º grau incompleto Administração (pós17 (1 dono) graduação) 40 (+ 1 dono) Administração 02 (+1 sócio) Administração 3º grau 01 (+ 1 sócio) 2º grau completo 03 (+ 1 dono) Nível médio 18 (+ 1 dono) 3º grau completo 40 (+ 1 dono) Administração 09 (+ 1 sócio) 2º grau completo 36 ( + 2 sócios) 2º grau completo 00 (+ 1 dono) 2º grau completo 25 (1 dono) 2º grau completo 10 (+ 1 dona) Administradora Estado Civil Gênero C= casado M=masculino S = solteiro F= feminino D= Divorciado O = outros C M C C S C D C C C C C C S F M M F M M M M M M M F Idade (anos) Porte da Empresa (classif. IBGE) 44 Pequena 32 35 36 44 56 52 49 42 45 59 47 23 Pequena Pequena Micro Pequena Micro Pequena Pequena Micro Pequena Micro Pequena Mcro 37 3.1.1.2.2 O Setor de Varejo de Informática Os empreendedores do varejo de informática também foram abordados de forma direta, em seu próprio local de trabalho, em um shopping center especializado em informática. Assim como os empreendedores do grupo precedente, todos eram desconhecidos da pesquisadora, que mais uma vez, munida de sua carta de apresentação, se dirigiu a eles perguntando sobre a possibilidade de se obter uma entrevista a respeito de seu trabalho, problemas enfrentados, estresse, etc. Neste caso, o empreendedor, que ficava muitas vezes, em uma loja cujo espaço era 2x2m, ao contrário dos maiores revendedores de autopeças (que tinham espaço particular reservado em suas firmas), geralmente tinham que parar a entrevista entre uma ―tentativa de venda‖ (que geralmente não resultava em nada) e outra. Alguns aceitavam prontamente participar; outros preferiam marcar um horário em outro dia. Ao todo foram 4 os dias passados no shopping para a obtenção de 11 entrevistas. Apenas dois participantes não tinham estabelecimentos no shopping. O participante EE14 era cunhado de uma amiga da pesquisadora, que trabalhava em outro shopping center de informática. Sua entrevista foi marcada pela própria pesquisadora, uma vez obtido o nº de telefone para contato por intermédio da cunhada do participante. EE15 era um lojista de bairro, com 5 lojas no bairro onde a pesquisadora morava. Neste caso, a entrevista foi marcada pelo pai da entrevistadora, que tinha um contato maior com o empreendedor, do qual era cliente. Perfil dos participantes do Varejo de informática O grupo de empreendedores do varejo de informática é composto por 13 comerciantes varejistas, 11 vendedores de artigos de informática e 2 técnicos de manutenção de microcomputadores (um deles, passava cada vez mais a vender artigos de informática). 12 desses empreendedores tinham suas firmas localizadas dentro de um mesmo centro comercial. Apenas um era comerciante de bairro, com uma loja de informática secundária em seus negócios, centrados em material de construção e tintas (a loja de informática era na 38 realidade a menor das cinco lojas que o comerciante possuía em um mesmo bairro do Rio de Janeiro). Alguns desses comerciantes já estavam no ramo há cerca de 20 anos, desde o boom da informática no Brasil e no mundo. Os anos noventa foram um período de grande crescimento para o setor. No início, muitas das mercadorias vendidas eram provenientes do Paraguai; segundo os entrevistados, grande parte das lojas do shopping não ofereciam garantia legal. A concorrência era bem menos acirrada, e as margens de lucro consideravelmente mais altas. Havia freqüentes problemas com a fiscalização. Atualmente, o mercado vem passando por uma série de mudanças, de ordem legal. O governo apertou o cerco aos sonegadores e fiscalizava frequentemente os centros comerciais do ramo. Além disto, muitos sofriam com o que consideravam uma concorrência desleal, por parte de sites (Boa Dica, que oferece produtos a preços baixíssimos) e de camelôs. A maior parte dos entrevistados que trabalham no centro comercial tinha uma carga de trabalho diária que cobria todo o horário de funcionamento do shopping (9 às 21 horas). No shopping de informática eram muitas lojas novas; com freqüentes os problemas com o PROCON. O negócio tinha ainda certa sazonalidade. No final do mês, as vendas tendem a ser mais fracas. Em meses de copa do mundo, como o público alvo do varejo de informática é composto de pessoas de praticamente o mesmo perfil que aqueles que assistem aos jogos de futebol em casa, este tipo de comércio sofria muito; as vendas caíam radicalmente neste período. O shopping ficava praticamente vazio nesse período. São altos os custos fixos no shopping. Um espaço de 2m x 2m custa em torno de 4000 reais; mas os empreendedores acreditavam que se beneficiam com toda uma infraestrutura (ar condicionado, lanchonete, etc), propagandas realizadas pela televisão, que jamais teriam condição de fazer individualmente, ar condicionado, e pelo fato de saberem que os clientes que vão lá tencionam comprar exatamente o tipo de artigo que vendem. Havia muito pouca diferença entre os produtos das lojas. Muitos empreendedores acreditam inclusive vender exatamente o mesmo que seu concorrente ao lado. A competição por preços era forte. Os clientes eram geralmente abordados ao passarem diante das lojas. 39 A tabela 3.4 descreve os participantes do setor de varejo de informática. 40 Tabela 3-4 Descrição dos Participantes do Grupo do Varejo de Informática Participantes Ano de Criação Nº de da Empresa empregados inicial (+ nº de sócios) Nº Atual de empregados (+ nº de sócios) EE14 EE15 EE16 EE17 EE18 EE19 2000 1998 2011 1999 2001 2005 03 ( + 2 sócios) 02 (+ 1 dono) 00 (+ 2 sócios) 00 (+ 2 sócios) 2 (+ 1 sócio) 00 (+ 3 sócios) 03 ( + 2 sócios) 02 (+ 1 dono) 00 (+ 2 sócios) 00 (+ 2 sócios) 22 ( + 2 sócios) 00 (+ 3 sócios) EE20 EE21 EE22 EE23 EE24 2003 2010 2005 1997 2010 01 (1 dono) 00 (+ 2 sócios) 01 ( 1 dono) 14 00 (+ 3 sócios) 01 (1 dono) 00 (+ 2 sócios) 01 ( 1 dono) 01 00 (+ 3 sócios) EE25 EE26 2010 2003 00 (2 sócios) 00 ( + 1 dono) 00 (2 sócios) 00 ( + 1 dono) Formção participante do Estado Civil Estado Civil C= casado S = solteiro D= Divorciado O = outros 3º grau incompleto 3º grau incompleto 2º grau Ténico de informática 2 º grau completo Direito 3º grau incompleto administração Varejo de informática 2º grau completo 3º grau incompleto inf Técnico em eletrônica Técnico em informática Administração Gênero M=masculino F= feminino Idade (anos) Porte da Empresa (classif. IBGE) C C S D S C M M M F M M 42 53 28 34 32 37 Micro Micro Micro Micro Pequena Micro C C C C D M M F M M 46 39 26 40 44 Micro Micro Micro Micro Micro C S M M 39 41 Micro Micro 41 3.1.1.2.3 Os Participantes do Setor de Biotecnologia Estes empreendedores foram acessados também via incubadora, mas com indicação de uma das pesquisadoras do Instituto COPPEAD de Administração/UFRJ. O acesso se mostrou mais difícil do que nos dois primeiros casos. Foram necessárias diversas idas à incubadora do Pólo de Biotecnologia do Rio de Janeiro (BioRio), conversar com a gerente, e certa insistência para que se pudesse ter acesso aos empreendedores da área de biotecnologia. Após diversos contatos com a gerente, com quem a pesquisadora deixou uma carta de apresentação da universidade em que estuda, finalmente, foi liberada uma lista das empresas. A própria gerente fez um primeiro contato com os empreendedores (com cópia para a pesquisadora), explicando de que se tratava a pesquisa e esclarecendo que a pesquisadora entraria em contato posteriormente para verificar a possibilidade de suas participações. Ao ligar, verificou-se que boa parte dos empreendedores sequer sabiam do que se tratava. Neste caso, foi preciso esclarecer novamente os objetivos da pesquisa, que havia existido uma indicação por parte da gerente, etc. O acesso aos empreendedores da BioRio se mostrou mais fácil do que ao grupo dos entrevistado da incubadora da COPPE (descrição adiante) em um sentido: quase todos, mesmo os mais antigos, ainda se encontravam no campus universitário. Perfil dos Participantes do Grupo de Biotecnologia Foram 12 os participantes de empresas do setor de biotecnologia. Suas empresas nasceram na incubadora de empresas da BioRio, criada em 1988, em um ambiente planejado e protegido, propício ao desenvolvimento de empresas nascentes. Em troca de um pagamento mensal pela empresa, a incubadora oferece a esta um apoio em termos de infraestrutura: serviços de comunicação via telefone e fax; agência bancária, serviços de recepção, segurança, limpeza, coleta de lixo. 42 As empresas incubadas contam ainda tanto nas fases de implantação quanto de operação, com apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de centros de pesquisa. Segundo o site da BioRio, empresas instaladas em sua incubadora podem se beneficiar com consultoria sobre layout empresarial, assessoria jurídica, assessoria técnica no setor de marcas e patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), apoio de gestão empresarial por meio de consultorias específicas e treinamentos, possibilidade de desenvolvimento de parcerias e contratação de serviços das empresas instaladas no Pólo. Foram entrevistadas empresas residentes e empresas graduadas. O período de incubação em muitos casos chegava a 10 anos, segundo a gerente da incubadora, devido aos longos prazos necessários para a realização de seus projetos. De acordo com a gerente, embora o tempo de espera fosse grande, caso um projeto se tornasse efetivamente viável, os retornos poderiam chegar a ser muito altos. A maior parte das empresas graduadas permanecia no próprio parque tecnológico, dadas as facilidades em termos de infraestrutura e aos custos reduzidos de instalação. A maior parte dos entrevistados tinha grau de mestrado ou doutorado nas áreas de farmácia, biologia, odontologia, engenharia química, e outros ligados à área de saúde ou ambiental. A fim de se qualificarem para a incubadora, esses empreendedores precisavam ser previamente qualificados como inovadores. Muitos se estabeleceram em nichos de mercado. A empresa era muitas vezes criada com capital próprio ou mediante obtenção de prêmios, tais como o Programa Primeira Empresa Inovadora (PRIME), oferecido pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), e bolsas como as da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), que contribuíam principalmente para a contratação de mão-de-obra especializada. Muitas dessas empresas surgiram de novas oportunidades criadas por modificações na legislação ambiental ou de saúde, que acarretaram novas exigências para seus clientes, principalmente no que diz respeito à poluição, degradação do meio-ambiente, desenvolvimento de medicamentos genéricos, entre outros. Os empreendedores identificaram oportunidades, por exemplo, em preocupações de ordem mundial, tais como a escassez de água, pesquisas com células-tronco, tratamento de lixo, geração de 43 energia elétrica, degradação ambiental. A ligação com a universidade no caso de diversos deles era bastante estreita. A tabela 3.5 descreve os participantes do setor de tecnologia. 44 Tabela 3-5 Descrição dos Participantes do Setor de Biotecnologia Participantes Ano de Criação da Empresa Nº de Inicial de empregados inicial (+ nº de sócios) EE27 2005 02 (+3 sócios) EE28 EE29 EE30 EE31 EE32 EE33 EE34 EE35 EE36 EE37 EE38 2001 2002 2010 2001 2010 1991 2005 2006 2003 2007 2000 02 (+ 2 sócios) 05 (+ 3 sócias) 04 (2 sócios) 3 (+ 3 sócios) 02 (2 sócios) 2 (+2 sócios) 06 (2 sócios) 01 (+ 1 dono) 04 (+ 2 sócios) 01 (+ 4 sócios) 05 (+ 3 sócios) Nº Atual de empregados (+ nº de sócios) Formação do participante 10 (+3 sócios) Engenharia Química 20 (+ 2 sócios) 15 (+ 3 sócias) 02 (+ 2 sócios) 90 (+ 1 sócio) 04 (2 sócios) 60 (+ 2 sócios) 64 (1 sócio) 05 ( + 1 dono) 34 (+ 1 sócio) 02 (+ 4 sócios) 30 (+ 2sócios) Biólogo (D. Sc.) Bióloga (D. Sc.) Economista Farmacêutica (MSc.) Direito Direito Farmácia Hospitalar Administração Ciências contábeis Oceanógrafo (M. Sc) Direito Estado Civil Gênero C= casado M=masculino S = solteiro F= feminino D= Divorciado O = outros Idade (anos) Porte da Empresa (classif. IBGE) C M 34 Pequena C C C O C S S C D S C M F M F M M F M M M M 56 48 39 40 50 54 55 59 61 36 75 Pequena Pequena Micro Média Micro Média Média Micro Pequena Micro Média 45 3.1.1.2.4 Os Participantes do Setor de Tecnologia Para ter acesso a este grupo, a pesquisadora foi até a incubadora de inovação tecnológica, conversou com sua gerente, que ao saber que havia sido uma indicação da orientadora da pesquisadora, se prontificou a ajudar. Foi disponibilizada então uma cópia dos telefones e endereços eletrônicos dos pesquisadores que lá iniciaram sua empresa. A gerente enviou e-mail a todos os incubados e graduados, informando que eles seriam contatados por uma doutoranda que pesquisava sobre o tema estresse no empreendedorismo. Ao serem contatados, os empreendedores de empresas ainda incubadas, geralmente aceitaram prontamente participar da pesquisa. As entrevistas se iniciaram na semana seguinte foram realizadas em sua maior parte no mês de janeiro; no entanto, neste período alguns estavam de férias. Estes foram contatados novamente no mês de fevereiro e de forma geral, também se mostraram dispostos a participar da pesquisa. O acesso aos donos de empresas já graduadas foi mais difícil. Uns poucos já não trabalhavam mais no Rio de Janeiro; tinham mudado suas empresas para outras unidades da federação. Outros tinham muitas atividades externas, ou simplesmente não tinham tempo, diante de tantas atividades desempenhadas pelos donos de MPMEs (SCHJOEDT, 2009). Ao serem contatados via telefone, uns sabiam do que se tratava; outros não. O curioso foi que mesmo os que já sabiam sobre o que se tratava perguntavam sobre o tempo da entrevista. Alguns se recusaram a participar por dizerem que já haviam colaborado em ocasião não tão distante. Note-se ainda que entre os empreendedores deste grupo, dois foram indicados por um dono de empresa graduada, por terem sido associados da Petros, onde se conheram (entrevistados EE47 e EE49). Perfil dos Participantes do Setor de Tecnologia O quarto grupo é formado por empreendedores de empresas intensivas em tecnologia, residentes ou graduadas, da incubadora de empresas da COPPE. Foram realizadas 30 entrevistas. As áreas de atuação são: engenharia, informática e design gráfico. Assim como no caso do grupo de 46 biotecnologia, para serem aceitos na incubadora, todos passaram por processo seletivo rigoroso, onde foram avaliados os currículos dos sócios e o plano de negócios da empresa. Os empreendedores eram em sua maioria alunos, ex-alunos ou professores de universidades públicas federais e que desenvolveram projetos que podiam se qualificar como inovadores na área tecnológica. A incubadora oferece uma série de vantagens (instalações e serviços) para apoiar os novos empreendedores que geralmente desconhecem totalmente o mundo dos negócios. Os recursos no início eram geralmente escassos, o que fazia com que muitos empreendedores se dividissem entre o trabalho e outras atividades, principalmente de pesquisa, que garantiam seu sustento, no caso de empresas recém-incubadas. As empresas eram muitas vezes formadas por de 2 a 5 sócios que se conheceram no meio acadêmico. Outra dificuldade, era que em alguns casos, ainda não existia sequer um produto a ser comercializado; apenas uma tecnologia, o que postergava ainda mais a primeira venda, que muitas vezes ocorria apenas no 2º ou 3º ano de trabalho árduo. A tabela 3.6 descreve os participantes do setor de tecnologia. 47 Tabela 3-6 Descrição dos Participantes do Setor de Tecnologia Participantes Ano de Criação da Empresa Nº de empregados inicial (+ nº de sócios) EE39 EE40 EE41 2009 2010 2009 02 (+ 5 sócios) 00 (+ 2 sócios) 00 (+ 3 sócios) EE42 EE43 EE44 EE45 EE46 EE47 EE48 EE49 EE50 EE51 EE52 EE53 EE54 EE55 2010 2005 2004 2006 2008 2001 1995 2006 2009 1989 2006 1993 1997 2005 04 ( + 4 sócios) 04 (+ 2 sócios) 00 (+ 8 sócios) 00 (+3 sócios) 00 (+ 4 sócios) 02 (+2 sócios) 00 (+4 sócios) 03 (+ 4 sócios) 00 ( + 2 sócios) 00 (+ 5 sócios) 00 (+ 3 sócios) 01 ( 3 sócios) 01 (+1 dono) 02 (2 sócios) EE56 EE57 2006 1993 02 ( + 2 sócios) 00 (+ 4 sócios) Nº Atual de empregados (+ nº de sócios) Formção do participante Estado Civil C= casado S = solteiro D= Divorciado O = outros Psicologia da emoção 05 (+ 5 sócios) (DSc.) 00 (+ 2 sócios) Biomedicina (DSc.) 00 (+ 3 sócios) Engenheiro (3ºgrau) Engenharia/administraçã 04 ( + 4 sócios) o 13 (+ 1 sócio) Analista de sistemas 05 (+ 5 sócios) 3º grau incompleto 01 (+2 sócios) Ciência da computação 00 (+ 4 sócios) Ciência da computação 64 (+ 3 sócios) Ciência da computação 04 ( + 1 sócio) Design 06 (+ 4 sócios) Engenharia 01 (+ 2 sócios) Física (DSc.) 06 (+ 2 sócios) Ciências da computação 21 (+ 2 sócios) Administração (MSc.) 05 (1 sócio) Engª. Msc, DSc 11 (+ 1 dono) Engenheiro eletricista 09 (+ 3 sócios) Engenheiro Engenheiro químico 20 (+ 2 sócios) (D.Sc) 5 (+ 2 sócios) Engenheiro civil (D. Sc.) Gênero M=masculino F= feminino Idade (anos) Porte da Empresa (classif. IBGE) C C S M F M 43 30 26 Micro Micro Micro S C S C S S D C S C C C C C M M M M M M M M M M F M M M 24 35 31 27 32 37 39 31 43 41 35 65 49 36 Micro Pequena Micro Micro Micro Média Micro Micro Micro Micro Pequena Micro Pequena Micro C C M M 49 39 Pequena Micro 48 EE58 EE59 EE60 EE61 EE62 EE63 EE64 EE65 EE66 EE67 EE68 1995 2002 2000 1999 2003 2008 1991 1991 1999 2005 2007 01 (2 sócios) 02 (4 sócios) 03 (+ 3 sócios) 02 (+ 2 sócios) 01 0 (+ 3 sócios) 0 ( + 4 sócios) 00 01 00 04 40 ( 2 sócios) 16 (4 sócios) 26 (+ 3 sócios) 03 (+ 3 sócios) 25 (+3 sócios) 00 (+ 3 sócios) 06 ( + 4 sócios) 30 04 (+1 dona) 08 (+ 4 sócios) 96 (+3 sócios) Engenharia eletrônica Meteorologia Engenhario (M.Sc.) Contabilidade Engenheiro eletricista Desenho industrial Engenheiro civil (D. Sc) Engenheiro Design Informática Engª prod (MSc.) C C C C C C C C O C S M M M M M M M M F M M 43 35 56 83 34 43 44 39 42 28 30 Média Pequena Pequena Micro Pequena Micro Micro Pequena Micro Pequena Média 49 3.1.1.3 As Perguntas das Entrevistas O objetivo das entrevistas foi permitir a identificação de possíveis diferenças entre empreendedores no que se refere a sua postura frente ao crescimento da firma, compreender se o comportamento da firma frente ao crescimento variava de acordo com o empreendedor e, neste caso, como variava. Assim, foram realizadas perguntas simples, a respeito do comportamento do empreendedor em relação ao seu trabalho e dificuldades enfrentadas e sobre o comportamento da firma ao longo de sua existência. As cinco perguntas básicas foram: 1) Como foi a criação da firma? 2) Como é o seu trabalho? 3) Quais os principais problemas enfrentados até aqui? 4) Quais são suas principais preocupações atuais em relação à firma? 5) Quais foram as principais mudanças promovidas por você até agora? Segundo Merton et al (1956) e Patton (1980) quanto mais flexível e informal fosse uma pesquisa, mais o entrevistado ficaria à vontade para falar de seus sentimentos, detalhes ou incidentes críticos. As entrevistas foram levadas a cabo como conversas informais, de modo que o empreendedor pudesse expressar seu ponto de vista sobre as dificuldades que atravessou, a origem dos problemas enfrentados e as medidas adotadas para resolvê-las, a fim de que posteriormente fossem investigada a existência de diferenças marcantes entre grupos de empreendedores, passíveis de classificação em perfis, de acordo com sua orientação frente ao crescimento organizacional. 3.1.1.4 A Análise dos Dados A análise dos dados foi realizada de março de 2011 a março de 2012. 50 3.1.1.5 Transcrição das Entrevistas Ao todo foram realizadas 68 entrevistas, cuja duração variou de 40 minutos a 2 horas e 30 minutos. O processo de transcrição se iniciou em fevereiro de 2011, logo após o término das entrevistas e se encerrou no mês seguinte. Dado a grande quantidade de tempo que tais transcrições gastariam caso fossem realizadas por uma única pessoa, e a necessidade de seu retorno ao trabalho no Banco Central do Brasil, em abril de 2011, foi contratada uma firma paulistana, especializada em transcrições de áudio. A fim de garantir a fidedignidade das transcrições, a pesquisadora escutou, ainda durante o 1º semestre de 2011, todas as gravações, corrigindo pontuações, erros ortográficos, verificando omissões, e quaisquer outros aspectos que pudessem conduzir a distorções nas falas dos entrevistados. 3.1.1.6 A Análise Esta fase consistiu na análise de conteúdo das entrevistas dos participantes para empreendedores identificação frente ao de comportamentos crescimento da firma. padrão Em seu entre artigo Entrepreneurship as Emancipation Rindova et al (2009) sugeriram que fossem realizadas pesquisas a respeito de como a motivação para o empreendedorismo afeta o comportamento do empreendedor. Em um primeiro momento, procedeu-se a tal investigação, dividindo as empresas entrevistadas em firmas lideradas por empreendedores de motivação breaking free e firmas lideradas por empreendedores breaking up. Uma primeira etapa da análise evidenciou que ao contrário da motivação breaking free, a motivação breaking up não dava origem a um comportamento padrão da firma frente aos desafios ao crescimento propostos por Fleck (2009): empreender em bases contínuas, aprovisionar recursos gerenciais, gerenciar a diversidade, gerenciar da complexidade e navegar em ambiente turbulento. Foi feita então uma classificação dos estrategistas das MPMEs participantes, subdividindo empreendedores de motivação breaking up em tipos de acordo com as categorias motivacionais propostas por Chu et al 51 (2007). Baseados em revisão de literatura, os autores encontraram 11 motivações para o empreendedorismo: (a) para ser meu próprio patrão; (b) para poder usar minha experiência ou formação; (c) para aumentar meus rendimentos; (d) para ganhar reconhecimento público; (e) para criar um emprego para mim mesmo; (f) para dar emprego a minha família; (g) para minha própria satisfação e crescimento; (h) para sempre ter estabilidade no emprego; (i) porque eu não conseguia uma colocação apropriada no mercado de trabalho; (j) para estar próximo à família; (k) para provar que eu sou capaz; e (l) criar a firma para vendê-la. Assim, foram identificados cinco perfis diferentes de empreendedores, cada qual com comportamento típico frente aos desafios de crescimento propostos por Fleck. A seguir são mostrados os passos realizados para a análise do comportamento de cada um dos perfis. Passo 1 - Identificação dos trechos das entrevistas correspondentes a cada um dos desafios de Fleck. O primeiro passo envolveu a leitura das entrevistas para identificação, em cada uma delas, dos trechos correspondentes aos cinco desafios ao crescimento da firma propostos por Fleck: empreender em bases contínuas, aprovisionar recursos gerenciais, gerenciar a diversidade, gerenciar da complexidade e navegar em ambiente turbulento. Os trechos identificados foram relacionados em planilha Excel, onde a primeira coluna se referia ao nº atribuído ao entrevistado, seguido da página da entrevista em que o trecho selecionado era encontrado, enquanto a segunda coluna mostrava o trecho da entrevista selecionado. A terceira coluna especificava os aspectos tratados dentro de cada um destes abordados. Foram criadas cinco planilhas; uma para cada um dos desafios propostos por Fleck, conforme exemplifica o quadro 3.1. 52 Quadro 3-1 Distribuição das Falas dos Entrevistados por Desafios Procedeu-se, então, à identificação dos subtemas mais frequentemente abordados e mais adequados ao desafio em questão, os quais passaram a constituir as bases da comparação do comportamento de empreendedores dos cinco perfis. Passo 2 – Identificação dos aspectos teóricos relacionados aos temas e subtemas identificados Nesta etapa, foi estabelecida, também em planilha Excel, a relação, entre as falas de cada um dos entrevistados, já separadas por desafios, e os pontos chave da literatura a que estas falas correspondiam. Os trechos dos artigos foram selecionados em sua língua original. O quadro 3.2 mostra trecho da planilha referente ao desafio Empreender em Bases Contínuas (enterprising), subdidivido em suas 4 características temperamentais: ambição, versatilidade, julgamento e inventividade (coluna A). A coluna ―B‖ indica os nºs atribuídos aos artigos (salvos em pdf, seguidos dos números das páginas em que os trechos aparecem). A coluna ―C‖ se refere à transcrição do trecho do 53 artigo referente a cada um dos subtemas tratados. A coluna ―D‖ indica a referência bibliográfica. A coluna ―E‖ aponta o nº da entrevista, seguido do nº da página correspondente ao trecho da entrevista selecionado. Para que fosse facilitada a indentificação dos empreendedores, foi atribuída a cada um deles uma cor (coluna ―E‖); amarelo para autopeças, azul para varejo de informáica, rosa para biotecnologia e verde para tecnologia. Tal procedimento foi adotado porque se cogitou a hipótese de existência de diferenças de comportamento (respostas aos desafios de Fleck) atribuídos a especificidades do setor em que a firma atua. Quadro 3-2 Distribuição das Falas dos Entrevistados por Desafios e Aspectos Teóricos A planilha resultante se mostrou, no entanto, por demais complexa para analisar diferenças entre os setores, o que levou ao 3º passo – uma versão resumida do relato dos entrevistados. 54 Passo 3 – Elaboração de planillha específica para comparação do comportamento dos empreendedores dos quatro setores de atuação. A fim de que pudesse ser avaliada com maior facilidade a influência da indústria no comportamento do empreendedor, também com base em seleção realizada em planilha Excel, foi feita uma comparação direta das respostas da firma a cada um dos desafios propostos por Fleck. Também neste caso foram construídas 5 planilhas; uma para cada desafio ao crescimento. O quadro 3.3 mostra trecho da planilha referente ao desafio Gerenciar a complexidade. Nela se encontra o relato dos comportamentos entre empreendedores de cada um dos quatro setores investigados (autopeças, varejo de informática, setores de biotecnologia, representado pela BioRio, e tecnologia, representado pela COPPE). Devido à grande variedade de comportamentos encontrados entre os empreendedores de cada indústria, foi descartada a hipótese de que esta fosse a principal determinante do comportamento do empreendedor. Este resultado pareceu razoável, mesmo entre empresas graduadas nas incubadoras, nelas ingressas devido ao caráter inovador de suas ideias. Nesse grupo podiam ser encontradas tanto firmas com altas taxas de crescimento como as que simplesmente tem a pretensão de crescer. Da mesma forma, havia empresas que inovavam de forma constante e também outras que praticamente não inovavam. 55 Quadro 3-3 Descrição do Comportamento dos Empreendedores dos 4 Setores em Relação aos Desafios de Fleck (2009): Autopeças, Varejo de Informática, Biotecnologia e Tecnologia Dado que a investigação por indústrias chegou a resultados controversos, procedeu-se à análise dos empreendedores segundo suas motivações para o empreendedorismo. Passo 4 – Análise do comportamento dos empreendedores de diferentes perfis motivacionais à luz dos desafios de Fleck. A fim de identificar os determinantes do comportamento do empreendedor, os estrategistas das empresas foram separados de acordo com suas motivações para o empreendedorismo. Primeiramente, segundo as motivações propostas por Rindova et al (2009) - breaking free e breaking up. Em um segundo momento, a motivação breaking up, que mostrou não dar origem a um comportamento único frente ao crescimento da firma, foi desmembrada nas motivações encontradas por Chu et al (2007). 56 O quadro 3.4 exemplifica como foi feita, em planilha Excel a divisão dos participantes, primeiro, dos empreendedores com motivação breaking free e empreendedores com motivação breaking up; e em um segundo momento, a subdivisão da categoria motivacional breaking up nas categorias motivacionais propostas por Chu et al (2007). Partilcipante Motivação (RINDOVA et al, 2009) EE23 Não, eu sou técnico de informática e aí comecei a angariar cliente, ganhei bastante clientes e senti a necessidade de montar uma loja, para poder atender a todos melhor.(...) Eu trabalhava por conta própria, não era funcionário. BUP Motivação (Chu et al, 2007) a informática foi Para utilizar crescendo, crescendo e em conhecimento adquirido cima disso eu fui crescendo / formação junto com a informática. E aí fui sentindo necessidade para dar credibilidade e uma garantia melhora para o cliente e ter mais clientes, e vender mais, ter que montar a empresa para dar nota fiscal, dar uma qualidade de atendimento e conforto melhor para os clientes. Quadro 3-4 Passos para a Identificação das Motivações dos Entrevistados Esta etapa foi didivida em cinco subseções, correspondentes aos desafios ao crescimento da firma propostos por Fleck: buscar o crescimento de forma contínua, aprovisionar recursos gerenciais, gerenciar a complexidade, gerenciar a diversidade e navegar em ambiente turbulento. Foram então encontrados comportamentos padrões de empreendedores frente ao crescimento da firma, quando estes foram separados de acordo com suas motivações para o empreendedorismo, em cinco perfis motivacionais básicos: identificador de oportunidades, estado da arte, especializados, organizador e breaking free. 57 Passo 5 – A Análise do Potencial Papel dos Bancos Comerciais no Crescimento das MPMEs O desafio navegar em ambiente turbulento deu origem à análise do papel do papel dos bancos comerciais, um dos principais atores externos mencionados pelos entrevistados como capaz de exercer papel fundamental no desenvolvimento de MPMEs. Para tanto, foram selecionados os cinco maiores bancos comerciais varejistas, em número de clientes, no Brasil, em 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), e que ofereciam produtos e serviços destinados especificamente a MPMEs. Os bancos examinados são os seguintes (ordenados em ordem decrescente da intensidade de ofertas para MPMEs): Banco do Brasil, Banco Santander, Banco Itaú-Unibanco, Banco Bradesco e Caixa Econômica Federal. Essa etapa da análise foi realizada mediante consulta aos sites dos bancos, dos quais foram destacados todos os produtos e serviços oferecidos por cada um deles aos clientes MPMEs, de forma explícita ou tácita (neste último caso, o exemplo clássico seria a divulgação de alguns tipos de informações, tais como taxas de câmbio ou ainda informações sobre os produtos e serviços oferecidos). Em cada produto ou serviço, foram destacadas funções por eles exercidas, que em um momento posterior foram agrupadas em papéis, considerados potenciais papéis no crescimento de MPMEs, visto que nem todos os bancos os desempenhavam. Entre os maiores bancos do Brasil em número de clientes, segundo o IDEC, diversos sequer possuíam produtos específicos para empresas de menor porte. 58 3.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA São as seguintes as principais limitações da pesquisa: primeiramente, o conjunto de firmas era majoritariamente de micro e pequeno porte com tempo de existência que variava entre 3 e mais de 20 anos. Outra limitação diz respeito à não identificação dos perfis motivacionais de todos os sócios de uma mesma empresa. A análise foi feita com base no perfil do principal estrategista de cada firma. Finalmente, há limitações quanto ao método. De maneira geral, entrevistas em profundidade não permitem generalizações estatísticas, pois se baseiam em poucos casos (BOYD E NEALE, 2006). No entanto, a fim de conferir maior fundamentação selecionados 68 casos. aos argumentos apresentados, foram 59 4 RESULTADOS Os resultados evidenciaram a existência de cinco perfis de empreendedores, identificados segundo suas respectivas motivações para o empreendedorismo: identificadores de oportunidades, estado da arte, especializados, organizadores e breaking frees, cada qual com comportamento característico frente ao crescimento da firma. 4.1 Definição dos Cinco Perfis Motivacionais Em um pimeiro momento, os empreendedores foram divididos entre aqueles que possuíam motivação do tipo breaking free, desejosos de se libertar de situação anterior, considerada desagradável ou inconveniente, e empreendedores com motivação breaking up, desejosos de criar algo valioso aos seus próprios olhos ou aos olhos da sociedade (RINDOVA et al, 2009). A tabela 4-1 mostra que a maior parte dos empreendedores se encontrava na categoria breaking up, que era a maioria nas incubadoras de empresas, enquanto nos grupos de autopeças e do varejo de informática predominavam os breaking frees. Tabela 4-1 Concentração de Breaking Frees e Breaking Ups nos 4 Grupos Grupo Breaking Frees Breaking Ups Total Autopeças 10 3 13 Varejo de informática 10 3 13 Biotecnologia 2 10 12 Tecnologia 6 24 30 28 40 68 Total 60 Dada a dificuldade de se explicar o comportamento de breaking ups, quando considerados como empreendedores de comportamento único, partiuse para a subdivisão da motivação breaking up nas motivações propostas por Chu et al (2007). As motivações para minha própria satisfação e crescimento, para poder usar minha experiência, deram origem a comportamentos característicos frente ao crescimento da firma. A primeira resultou em um grupo de empreendedores ao qual foi atribuído o nome de identificadores de oportunidades. A segunda motivação resultou em dois comportamentos distintos, ou seja, em dois perfis motivacionais: estado da arte e Especializados. Ao longo das entrevistas, foi descoberta uma motivação não proposta nem por Rindova et al, nem por Chu et al; eram empreendedores cuja motivação principal era fazer da firma uma organização eficiente. Estes foram chamados de organizadores. O grupo dos breaking frees, por sua vez, foi formado por empreendedores cujas motivações, segundo Chu et al, correspondiam a para provar que eu sou capaz; para aumentar meus rendimentos; para ser meu próprio patrão; para criar um emprego para mim mesmo; para sempre ter estabilidade no emprego; porque eu não conseguia uma colocação apropriada no mercado de trabalho; para estar próximo à família. O quadro 4.1. relaciona o perfil do empreendedor a sua motivação para o empreendedorismo. 61 Categoria Grupo Motivação (CHU et al, 2007) motivacional (RINDOVA et al, 2009) Breaking up 1 para minha própria satisfação e crescimento; 2 para poder usar minha experiência ou formação; 3 para poder usar minha experiência ou formação; 4 Não corresponde a uma categoria motivacional de Chu et al (2007). Tais empreendedores tinham como motivação fazer da empresa uma máquina, como funcionamento lógico e eficiente Breaking 5 para provar que eu sou capaz; para Free aumentar meus rendimentos; para ser meu próprio patrão; para criar um emprego para mim mesmo; para sempre ter estabilidade no emprego; porque eu não conseguia uma colocação apropriada no mercado de trabalho; para estar próximo à família; Perfil do Empreendedor Identificador Oportunidades Estado da Arte de Especializado Organizador Breaking free Quadro 4-1 Os 5 Perfis Motivacionais 4.2 Classificação dos Entrevistados nos 5 Perfis Motivacionais Uma vez identificados os cinco perfis motivacionais, os empreendedores, estrategistas foram de classificados. A tabela 4.2 mostra o resultado da classificação: Tabela 4.2 – Perfis Motivacionais do Empreendedor (principal estrategista) Autopeças Participante EE01 EE02 EE03 EE04 EE05 EE06 EE07 EE08 Perfil Motivacional Breaking free Breaking free Identificador de Oportunidades Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free 62 Varejo de Informática Biotecnologia Tecnologia Participante EE09 EE10 EE11 EE12 EE13 EE14 EE15 EE16 EE17 EE18 EE19 EE20 EE21 EE22 EE23 EE24 EE25 EE26 EE27 EE28 EE29 EE30 EE31 EE32 EE33 EE34 EE35 EE36 EE37 EE38 EE39 EE40 EE41 EE42 EE43 EE44 EE45 EE46 EE47 EE48 EE49 EE50 EE51 Perfil Motivacional Identificador de Oportunidades Organizador Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Breaking free Organizador Breaking free Especializado Breaking free Especializado Breaking free Breaking free Especializado Breaking free Organizador Estado da Arte Especializado Especializado Estado da Arte Especializado Identificador de Oportunidades Especializado Estado da Arte Identificador de Oportunidades Especializado Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades Especializado Especializado Breaking free Breaking free Especializado Especializado Identificador de Oportunidades 63 Participante EE52 EE53 EE54 EE55 EE56 EE57 EE58 EE59 EE60 EE61 EE62 EE63 EE64 EE65 EE66 EE67 EE68 Perfil Motivacional Breaking free Especializado Breaking free Especializado Especializado Especializado Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades Breaking free Breaking free Identificador de Oportunidades Especializado Organizador Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades Identificador de Oportunidades A tabela 4.3 mostra a dispersão dos empreendedores de cada perfil entre os 4 grupos investigados: autopeças, varejo informática, biotecnologia e tecnologia. Tabela 4-3 Dispersão dos Participantes entre as Categorias e Perfis Motivacionais Categoria Perfil Autopeças motivacional Motivacional do (RINDOVA et al, Empreendedor 2009) Breaking ups Identificadores de Oportunidades Especializados Estado da Arte Organizadores Varejo Biotecnologia Informática Tecnologia Total 2 0 1 13 16 0 0 1 2 0 1 5 3 1 10 0 1 17 3 4 10 13 10 13 2 12 6 30 28 68 Breaking Frees Total 64 Entre os empreendedores varejistas de autopeças, predominaram os breaking frees. Nesta indústria, os dois únicos identificadores de oportunidades eram distribuidores. No setor de tecnologia, foram encontrados sobretudo identificadores de oportunidades e especializados. No setor de biotecnologia, dos 12 partipantes, um único era identificador de oportunidades. Apenas nesta última foram encontrados empreendedores estado da arte. No shopping center de informática, assim como no comércio de autopeças, os breaking frees foram a grande maioria (10 entre 13 empreendedores). No comércio de informática também foram encontrados dois especializados, técnicos, prestadores de serviço de manutenção de microcomputadores. Foi encontrado um único organizador por setor. 4.3 Descrição dos 5 perfis A seguir, são descritos os traços típicos de cada um dos 5 perfis motivacionais encontrados, divididos entre breaking ups e breaking frees. 4.3.1 Identificadores de Oportunidades Este grupo é composto por empreendedores que criaram suas empresas em busca de satisfação e crescimento pessoais (CHU et al, 2007). São empreendedores favoráveis a mudanças organizacionais; se sentem estimulados por ela, gostam de atividades que os permitam aprender de forma contínua, lidar com o novo, com o desconhecido. O que lhes atrai no empreendedorismo é a própria dinâmica do trabalho. São empreendedores para quem a possibilidade de fazer um trabalho estimulante, empolgante, desafiador, chega a ser considerada mais importante que o próprio fato de ter a firma: ―A gente tem uma política que é assim: antes de querer ter a E68, a gente queria trabalhar juntos. Então assim, a nossa vontade de trabalhar os quatro juntos, era maior que a nossa vontade de ter a 65 E68 ou de ter qualquer outro negócio. Então, a gente gosta muito disso (...) Porque a gente se dá muito bem. A gente confia um no outro. São pessoas inteligentes, que te desafiam intelectualmente. São pessoas sérias; são pessoas que se complementam. Então a gente sabe que a gente junto faz muito mais que a gente sozinho.‖ (EE68). São empreendedores voltados para áreas como estratégia, marketing e inovação, que preferem atividades enérgicas; geralmente não gostam de atividades rotineiras (McCLELLAND, 1961); são inquietos: ―Então, a gente usa uma série de mecanismos que pra mim interessa saber, pô, porque a gente tá o tempo inteiro modelando serviços novos e atividades novas, workshops novos, ou seja, a gente brinca aqui na calmaria, a gente chama calmaria quer dizer que dá seis horas da tarde e não tem nada para fazer, o perfil do sócios aqui ―pô, vamos fazer alguma coisa, vamos tirar aquele projeto da gaveta‖ ou seja, não é...‖ (EE44) Muito atentos aos sinais do mercado, estes indivíduos tenderam a desenvolver ao longo do tempo forte alerta empreendedor (KIRZNER, 1973, 1979), que lhes permite identificar novas oportunidades de negócio de forma constante: ―A questão da oportunidade aqui, às vezes as pessoas não ficam atentas a oportunidade, é o que a gente fala, fica às vezes olhando com tanto pesar para uma porta que se fecha e as outras estão se abrindo ao seu lado, e as oportunidades também são assim, até oportunidades de negócios, então assim pode ser um diferencial meu estar atento a qualquer oportunidade, seja ela qual for, vou sentar com você, pode ter certeza que em algum momento vou estar enxergando uma situação ou outra, oportunidade ou outra.‖ (EE09) Para eles, assim como para Kirzner e outros autores da escola austríaca de empreendedorismo, que acreditam que a distinção entre empreendedores e pessoas comuns está em seu comportamento. Particularmente em sua pré-disposição para a identificação de novas oportunidades. Empreendedorismo diria respeito à postura ou atitude do indivíduo em relação aos negócios e não a conhecimento técnico: ―(...) porque nessa coisa de empreender, etc, eu acredito que é 90% atitude e 10% conhecimento, técnico, específico, etc. porque eu acho que é assim, que se a pessoa tem 10% de atitude e 90% de conhecimento, você não consegue ensinar atitude. Você muito pouco atitude. Se o cara tem muita atitude, o conhecimento técnico, você 66 ensina. É muito mais fácil, ou você contrata. O fundamental é atitude. Hoje eu tenho um monte de caras aqui de 20 anos, 22 anos, que são caras que eu dô a empresa...que eu boto pra liderar uma empresa e eu tenho um cara de 30 que eu não boto, porque ele não tem a mesma atitude do outro garoto. Porque vai lá, precisa meter a mão na graxa, ele vai lá e já tá fazendo. Eu faço, porque é que o outro não pode fazer?‖ (EE68) Estes empreendedores se dispunham a sair de sua zona de conforto o tempo inteiro. Sua grande adaptabilidade a novas situações fazia deles uma verdadeira carta curinga. Não se dedicavam ao gerenciamento áreas técnicas, gostavam de atividades ligadas a estratégia e marketing: ―(...) o sócio tem que entender que ele é meio ―carta curinga‖, ou seja, ele é sócio, ele tem a função dele, mas ele tem que entender que quando uma outra área tá com um problema o sócio tem que se deslocar pra colaborar, ou seja, diferente de você ser contratado não nesse caso pra ser o especialista técnico ou gerente de TI [Tecnologia da Informação] que ele jamais vai ser deslocado pra marketing, mas eu sou responsável pela área de gestão, se a área de marketing estiver, a área de vendas estiver ruim ou área de marketing estiver ruim, o trabalho de todo o mundo vai pra vala. E então, ou seja, você tem que ter um sentimento, e isso eu acho que não só a vontade de querer aprender e colaborar com as outras áreas, ou seja, você tem que sair da sua ―zona de conforto‖ o tempo inteiro‖ (EE44) Nas incubadoras, mesmo aqueles com doutorado em áreas técnicas não se recusavam a sair de suas áreas de formação quando a mudança parecia necessária para o desenvolvimento da firma, ainda que tal situação de início não fosse esperada: ―Olha... uma coisa que aconteceu que não acreditava é... primeiro que um dia eu teria que me afastar muito da área técnica. O que me motivou na empresa... a ter a empresa foi justamente ter um conteúdo técnico que prestava a ser o útil à sociedade, e aí a empresa como mecanismo de viabilizar esse serviço. É... e isso foi um choque pra mim quando eu tive que me distanciar, e ver outras pessoas fazendo uma coisa que eu gostaria de tá fazendo. Isso foi um choque muito grande‖ (EE59) Também tinham grande habilidade para a aprendizagem autodidata, exceto no caso de atividades burocráticas: ―(...) o tempo inteiro surgem coisas que ninguém sabia fazer e você tinha que alocar alguém para fazer ou você mesmo fazer, então a gente sabia...desde do processo técnico, aliás...o técnico, nem nunca foi um grande problema a gente sempre teve um pessoal com a capacidade, um conhecimento muito bom e com a vertente muito 67 autodidata, mas quando saia do técnico e faltava o autodidata, ou seja, nem o cara que não tivesse o alto potencial de ser autodidata, mas o cara que tivesse com vontade de ver como funciona o processo financeiro, como funciona o processo fiscal, o pessoal queria entregar o melhor serviço técnico, mas...‖ (EE44) Nem todos possuíam formação específica em alguma área. Alguns ainda não haviam concluído o 3º grau. Foi encontrada uma mulher com tal perfil. Entre os aspectos mais ressaltados por estes empreendedores em suas entrevistas estão a importância do relacionamento com o cliente, da identificação das oportunidades de mercado e a valorização dos empregados. Somente foram encontrados empreendedores pertencentes a tal perfil motivacional entre os donos de empresas nascidas na incubadora de tecnologia da COPPE e entre os distribuidores de autopeças. 4.3.2 Estado da Arte Os empreendedores estado da arte pertencem a um dos dois grupos que tiveram como principal motivação para o empreendedorismo o uso de experiência anteriormente adquirida ou de formação anterior (CHU et al, 2007). Estes foram os únicos empreendedores que se encaixaram na definição schumpeteriana de empreendedorismo. Segundo Schumpeter (1934), empreendedores seriam indivíduos que: (1) a introduziriam um novo produto ou uma nova qualidade de produto no mercado; (2) um novo método de produção ainda não testado; (3) abririam um novo mercado; (4) conquistariam uma nova fonte de fornecimento de matéria ou produto intermediário; ou (5) organizariam uma nova indústria. Não são necessariamente técnicos, mas são empreendedores que se dedicaram à criação de indústrias de ponta, com produtos ou serviços inteiramente novos para o país, mediante desenvolvimento de tecnologia nacional de muito boa qualidade, no nível daquela desenvolvida em países desenvolvidos. Foram encontrados 3 empreendedores com este perfil motivacional. Todos na incubadora da BioRio. EE31, já no segundo grau, mostrava forte interesse em trabalhar em áreas de tecnologia o avançada, a vontade de ser pioneira, de trabalhar em algo singular. Para este grupo, a vontade de se destacar, de ser pioneiro em 68 uma área de tecnologia de ponta, mesmo quando se considera o usualmente feito em países desenvolvidos, seria o principal aspecto que diferenciaria empreendedores de não-empreendedores: ―Eu sou farmacêutica bioquímica mas assim, eu fiz o curso técnico de Biotecnologia, foi a primeira turma de Biotecnologia da Escola Técnica Federal que agora é o CEFETEC [Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis]. Daí eu acho que já marca o potencial, a característica empreendedora, porque eu escolhi um curso que era o primeiro curso, teriam poucas pessoas formadas nessa área, uma área muito nova, e eu entendi que seria uma área de ponta e que seria interessante de investir. Eu já fiz essa formação no segundo grau‖ (EE31). Durante seu mestrado em farmácia, no qual havia se dedicado à pesquisa em criobiologia, a empreendedora havia desenvolvido uma expertise em coleta de células tronco a partir do cordão umbilical de recém-nascidos: ―Então, como eu desenvolvi essa expertise de coleta de cordão... eu comecei a acompanhar no mundo como é que essas coisas estavam acontecendo. Então começaram a surgir empresas nos EUA, a primeira foi em 1992, que faziam o armazenamento de células do cordão umbilical pra casos da pessoa ter o problema lá na frente, então se ele desenvolver um problema hematológico lá na frente ela tem uma matriz de célula tronco que ela coletou quando nasceu e que seria jogado no lixo. Lá na frente ela precisaria coletar novamente se ela não tivesse armazenado; essa célula poderia estar comprometida com alguma doença, então ela não serviria, e aí ela teria que ter um doador e etc. Então, a proposta é você guardar quando nasce, porque ia jogar fora e se um dia precisar ter você mesmo como doador‖ (EE31) Este grupo de empreendedores não copiavia o que vinha sendo feito no exterior; fazia algo inteiramente novo. A tecnologia desenvolvida por suas firmas evoluía em conjunto com aquela desenvolvida em países desenvolvidos. Não se tratava de uma réplica de produtos ou serviços, mas da criação proposital de algo inteira e extramente avançado tecnologicamente em nível mundial, e que representasse uma forte ruptura em relação ao que havia até então. Os negócios de empreendedores estado da arte são individualmente importantes para a economia. As empresas destes empreendedores são verdadeiros marcos de revoluções no país; representam a criação de indústrias consideradas de última geração mesmo em países desenvolvidos. EE34, por exemplo, também farmacêutica desenvolveu produtos de nutrição parenteral (intravenosa) para recém-nascidos. Seu sonho era montar uma empresa que 69 fosse um marco para a indústria, introduzindo um novo produto ou uma nova qualidade de produto no mercado (SCHUMPETER, 1934): ―Porque o começo da E34 ela tinha um papel e um sonho de montar uma empresa que realmente fosse Estado da Arte em nutrição parenteral e isso eu posso dizer com toda certeza que eu consegui‖ (EE34). Ao criar sua firma, EE38 teve como objetivo o desenvolvimento de tecnologia inteiramente nacional. Advogado de formação, o empreendedor convocou antigos colegas - ex-engenheiros químicos do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), da Petrobrás - para desenvolver um projeto inovador no Brasil: uma usina para tratamento térmico do lixo urbano. A empresa E38 foi criada para oferecer uma alternativa ambientalmente correta e economicamente viável para a questão dos lixões e aterros irregulares e trabalha no desenvolvimento de tecnologia e processos para a implantação de Usinas de Tratamento Térmico de resíduos sólidos urbanos com recuperação de energia. Com vários anos de experiência em pesquisa teórica sobre o tema, a equipe brasileira se lançou no desenvolvimento da primeira usina desse tipo no país. Trata-se de uma solução revolucionária para o problema da destinação final do lixo. Embora 90% do lixo seja recolhido regularmente, a destinação final deste lixo se encontraria em estágio caótico: 60 % dele, cerca de 100 mil toneladas diárias, teriam como destino final os lixões, aterros irregulares ou seriam simplesmente lançados na natureza, em encostas, rios e lagos. Os efeitos extremamente negativos desta realidade para o solo, para as águas, principalmente as reservas subterrâneas, para a atmosfera e, por extensão, para a saúde humana, conferem ao problema a dimensão de verdadeira Questão de Estado, afetando os ministérios das Cidades, do Meio Ambiente, do Trabalho, da Saúde, de Minas e Energia, e até mesmo a Secretaria de Direitos Humanos. Embora a questão esteja definida na Constituição como sendo municipal, tem conseqüências federais e até internacionais, em face dos compromissos assumidos visando a deter o processo de aquecimento global (SARAIVA, 2008). Segundo recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU), em seu Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, 70 o lixo urbano não reciclável deverá ser utilizado como combustível para geração de energia em usinas de incineração. Trata-se portanto de uma atividade reconhecida por países desenvolvidos como de altíssima relevância para a sociedade e que recebe diversos incentivos e subsídios nesses países. 4.3.3 Especializados O grupo dos empreendedores especializados corresponde ao segundo perfil formado a partir da motivação para uso de experiência anteriormente adquirida ou de formação anterior ao empreendedorismo (CHU et al, 2007). Trata-se de empreendedores técnicos, voltados para as atividades operacionais da empresa, com forte tendência à especialização. Nas incubadoras, em geral, possuíam mestrado ou doutorado em áreas tecnológicas; seu perfil se assemelhava muito ao de pesquisadores acadêmicos e seu ritmo de trabalho muitas vezes se parecia com o da universidade. Nas incubadoras, diversos haviam sido professores universitários por vários anos e decidido montar, ao final de suas carreiras, sociedade com ex-alunos. Eram pessoas desejosas de trazer o conhecimento advindo de pesquisas na universidade para o mercado: ―Ali eram quatro alunos do doutoramento e a gente tava é, dentro de várias pesquisas do laboratório de Zootecnia da COPPE, desenvolvendo produtos lá e a gente tinha interesse de abrir uma empresa para funcionar como sendo uma interface entre o meio acadêmico e as empresas de engenharia, pra gente poder levar o conhecimento que existia dentro das universidades pro público, pra sociedade. Então, essa era a idéia de abrir a empresa, era um meio de a gente conseguir pegar o que tava dentro da universidade e levar pra sociedade‖ (EE64). Em sua grande maioria, não haviam tido nenhum tipo de experiência em gestão de negócios anterior ao empreendedorismo e geralmente tinham dificuldades de se adaptar a atividades de estratégia e marketing ou atividades relacionadas à organização da empresa eram indivíduos que geralmente identificavam mais com a área acadêmica: 71 ―Só dando aula, minha vida foi a universidade, realmente acadêmica (...) Eu tenho muitas dificuldades de enfrentar a vida empresarial. Eu não fui preparado para isso, eu não fui preparado pra isso. Eu fiz alguns cursos antes de vir, quando a gente tava montando a empresa, mas não tá no meu sangue. Eu continuo sendo muito mais professor do que...(...) O problema mais é o tipo de intimidade, me sentia mais à vontade dentro da universidade, ou pelo menos depois de alguns anos, do que você enfrentar outro tipo de atividade. Por exemplo, é diferente: na universidade cheguei a administrar o laboratório alguns anos, mas é diferente, você lá, as pessoas trabalham com você e não para você, trabalham na universidade, você gerencia um grupo; aqui são funcionários da empresa, você tem poder de decisão sobre as pessoas, e tem o dever de cobrar, o dever de ajudar, etc. ‖ (EE53). EE53 era professor universitário aposentado. No entanto, tal visão se fez presente inclusive entre os mais jovens: ―Porque a gente tem uma formação acadêmica. Então, inicialmente, a gente fez iniciação científica, faz mestrado, faz doutorado... Então a tendência natural, quando você termina um doutorado, é você fazer um concurso público, né? Pra você ser professor ou pesquisador numa universidade ou instituição de pesquisa. Na hora em que a gente decidiu no final (tanto eu quanto ele estávamos no último ano de doutorado), quando a gente decidiu abrir a empresa, você passa por uma outra formação. Então, os quesitos básicos que você precisa para começar uma empresa são bem diferentes daqueles que a gente tinha adquirido originalmente‖ (EE40). Foram empreendedores que se mostraram com uma tendência à especialização nas tarefas que faziam. Se sentiam estimulados pela idéia de poder fazer cada vez melhor o mesmo tipo de atividades. Tinham verdadeiro gosto pela área técnica da firma. Foram encontrados dois empreendedores com este perfil no shopping center de informática. Ambos haviam feito curso de manutenção de microcomputadores no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Para o empreendedor especializado, a formação na área específica era condição necessária para sua experiência de empreendedorismo. 4.3.4 Organizadores O que caracterizou este grupo de empreendedores breaking ups foi ter como motivação para seu trabalho a vontade de fazer da firma uma máquina 72 eficiente; motivação não antecipada por Chu et al (2007), decorrente dos resultados da 1ª análise das entrevistas realizada para esta pesquisa. O organizador pode ser considerado um engenheiro empresarial. Os empreendedores deste grupo se dedicavam à construção de uma máquina; uma empresa com funcionamento lógico, procedimentos definidos, atividades claramente descritas. Para eles, o importante em sua empresa era que se pudesse executar de forma eficiente. Existia forte preocupação com a construção de uma estrutura organizacional sólida, em que cada pessoa estivesse no lugar certo, com nível de conhecimento compatível com sua função. Eram empreendedores que assumiam a responsabilidade pela administração do crescimento da empresa. Portanto, o comportamento era compatível com o proposto por autores da Teoria Ciclo de Vida (CHURCHILL E LEWIS, 1983; GREINER, 1998). Ao contrário do empreendedor de McClelland (1961), os organizadores tinham gosto pela execução de atividades rotineiras. Contudo, não se limitavam a estas. Normalmente, não existia uma atividade preferida, mas a atividade necessária no momento, da qual o empreendedor aprenderia a gostar. Os organizadores não admitem ter uma empresa fadada ao fracasso: ―Essa cobrança foi de né, essa cobrança sempre foi minha, de eu querer assim na hora em que eu me propus a ter uma empresa, porque na hora eu não admitia uma empresa que ela fosse fadada ao fracasso, então trabalhava...‖(EE65). A legalização do negócio normalmente era o primeiro passo para o empreendedorismo. Nenhum outro grupo falou tanto em número no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) como o grupo dos organizadores. Eram empreededores que buscavam atuar estritamente dentro da lei: ―E..., aí aprendo um pouco mais, não é meu hábito descumprir legislação, todas as vezes que eu fiz foi por absoluta necessidade, e é isso, ninguém gosta de receber... quando tá trabalhando, chegar aqui um..., como que o nome daquele cara? O cara que vem te entregar uma intimação, você abrir, e ele falar ‗você está sendo intimado a comparecer...‘(...) na medida que o tempo passa, a gente vem tentando cada vez mais se especializar (...) mais as pessoas estão cada um... cada macaco no seu galho, cada um fazendo a sua atividade, cada vez mais eu cobro, assim, que as coisas sejam feitas corretas, porque existem diferentes formas, você quando tá falando 73 de administração... Emitir notas fiscais, lidar com pessoal, tudo isso exige uma regulamentação muito rígida, muito certinha, que tem que ser cumprida. Se não for cumprida, isso gera um problema colossal, por exemplo, eu tive muito problema aqui por conta da experiência do pessoal da administração, que todos os cartões de ponto estavam errados, e isso me dá uma multa por cartão de ponto errado, você imagina o seguinte: o cara chega aqui pra te fiscalizar e ele pede sua documentação, sei lá, de uns três anos pra trás, e você descobre que durante três anos 80% dos cartões de ponto estão errados.‖ (EE65) Uma das grandes preocupações no grupo era evitar a incidência de causas trabalhistas, pelo conhecimento e aplicação correta da legislação trabalhista: ―Duas coisas que eu ficava assim...muito preocupado assim...1) eram causas trabalhistas. O cara vai me colocar na justiça...como eu vou resolver isso, e tal. Nesses doze anos tivemos um único problema, que infelizmente nós não estávamos errados, mas até por inexperiência minha, acabamos tendo que indenizar o pessoal, lá...num valor que não foi significativo. Então, serviu bem como experiência‖ (EE10) Ao contrário dos empreendedores especializados, mesmo quando sua formação era na área tecnológica, os organizadores não tinham gosto especial pelo trabalho técnico e, diferentemente dos identificadores de oportunidades, não tinham aptidões particulares para o relacionamento com o mercado: ―Por exemplo, o que eu já fiz, eu já participei de todas as funções da empresa, o que que eu fazia, como eu sou o engenheiro menos técnico da empresa, vou colocar dessa maneira, não que eu não seja capaz... não, sou capaz, sou inteligente, mas eu tenho um outro tipo de inteligência, não é aquela... não é o que me dá exatamente prazer ficar debruçado dentro de uma coisa técnica fazendo conta, não gosto disso, então eu procurei por exemplo atuar sempre onde a E65 tinha deficiência, então em determinado momento a gente não tinha um corpo técnico... (...) óbvio, sempre assistido por uma contabilidade externa, e eu acabei ficando no departamento comercial, e ajudando a montar, a fazer o departamento comercial, a cumprir as atividades inerentes a um departamento comercial. Eu diria que hoje ainda é o ponto fraco da empresa, nossa empresa tem uma veia bastante técnica, muito pouco comercial. Também não sou um vendedor nato, eu não sou um cara que tô o tempo inteiro na rua fazendo venda, eu vou quando solicitado, faço apresentações, palestras, faço isso com alguma desenvoltura, mas não tenho o hábito de estar na casa do cliente vendendo. E hoje, ou seja, eu passei por todos os setores da empresa, fiz coisa técnica, coisa de oficina, realmente técnica, fiz administração, e agora to no departamento comercial.‖ (EE65) Tendiam a tentar sistematizar e criar regras para tudo, inclusive para comportamentos dentro da organização. Organizadores evitavam administrar 74 por exceção; eram preocupados com a profissionalização da administração da firma – administradores profissionais, podem chegar inclusive a receber um salário pela administração da firma: ―Aqui eu ganho um salário pra administrar a empresa. (...) Aqui eu ganho um salário pra poder administrar. Nós temos a nossa retirada, pelo lucro da empresa, e fora a retirada pelo lucro, eu ganho um salário, pela função que exerço. (...) Quem faz a administração da empresa, é justo que ganhe um salário por esse trabalho. A não ser...somos dois...são dois sócio, se os dois fazem a administração, não tem porque os dois ganharem salário. Não, ele não faz. Só eu é que trabalho na empresa.‖ (EE10) Ao contrário dos identificadores de oportunidades e dos estado da Arte, Outra grande característica dos organizadores foi o fato de acreditarem, que empreendedores não nascem feitos. Este grupo de empreendedores pareceu aprender a ser empreendedor; alguns mudaram consideravelmente seu comportamento e postura na liderança da firma ao longo do tempo e aprendiam sobretudo no que dizia respeito a normas e procedimentos. Organizadores foram encontrados na engenharia eletrônica, autopeças e reaproveitamento de lixo orgânico (casca de côco). 4.3.5 Breaking Frees Entre os Breaking frees foram incluídos aqueles que se caracterizaram por terem declarado tão somente o ideal de liberdade e autonomia como motivador para a abertura da firma (RINDOVA et al, 2009), sem que houvesse a vontade deliberada de romper com padrões de mercado vigentes até então. Com base no estudo de Chu et al (2007) foram identificados empreendedores com as seguintes motivações entre os breaking frees: para aumentar minha renda; para criar um emprego para mim mesmo; para sempre ter estabilidade no emprego; porque eu não conseguia uma colocação apropriada no mercado de trabalho; para estar próximo à família; e para fugir da incerteza. Neste grupo foram encontradas firmas com um nível baixo de profissionalismo e alto grau de improvisação (BEVERIDGE, 1957). Seu comportamento se assemelhava ao 75 dos donos de pequenos negócios, propostos por Carland et al (1984) e Begley e Boyd (1987). Apesar de a autonomia conferida pelo empreendedorismo ser tida como promotora de altos níveis de satisfação no empreendedorismo (HUNDLEY, 2001; NAUGHTON, 1987a), os breaking frees tenderam a se ver prisioneiros das mesmas estruturas de autoridade que os aprisionavam antes do empreendedorismo, embora exercendo papel ligeiramente diferente (RINDOVA et al, 2009), EE48 enfatizou sua sensação de grande poder por parte do cliente em relação a suas ações: ―Você não tem patrão? Mentira. Todos os seus clientes são seus patrões. Se o teu cliente te ligar agora e falar assim, você consegue ir 8 horas da noite numa reunião? Vou falar o que, vou né. Tem que ir. Isso não é ser patrão? Você não está recebendo ordem? Se o teu cliente falar que o teu trabalho ficou horroroso. Isso não é ser patrão? É. Mas você tem uma certa autonomia, por exemplo, de tomada de decisão, do que você vai fazer, o que você gosta, do que você não gosta...(...) Exatamente. Quem vai ser o meu patrão. Eu posso, eu me dou esse direito. Eu me dou ao direito, por exemplo, de, eu quero tirar, sei lá, 3 dias de folga, ou 1 semana de folga...(...) Fiquei 4 anos sem tirar férias para nunca mais fazer isso. É horroroso. (...) Quase que passei mal.‖ (EE48) Pareceu frequente que a verdadeira liberdade atingida dissesse respeito apenas a escolhas, tais como carga de trabalho, possibilidade de trabalhar em casa ou de escolher entre trabalhar no escritório ou em casa, ou ainda fazer seu próprio horário de chegada e saída: ―Tem horários determinados, mas de repente chega um pouco mais tarde, quando é 9, 9:30 (...) Saio mais tarde. Saio daqui do fundão no final da tarde... Engarrafamento na linha amarela, 40 minutos para atravessar aquela ponte. Tem gente que sai daqui 7, 8 da noite.(...) Estresse... Se eu quisesse chegar aqui às 8, sair daqui às 6 eu ia pegar engarrafamento. O modo de sair daqui mais tarde...(...) Cuida da saúde, vai em um horário alternativo. Acaba chegando aqui às 10, você tem tempo mesmo. (EE27) Muitos não cuidavam da saúde; se sentiam prisioneiros do trabalho. A sensação de prisão, de falta de controle sobre os resultados, de cobrança por parte dos clientes, governo e empregados, incerteza em relação aos resultados da empresa, a pressão da concorrência (geralmente muito acirrada), fazia com que fosse frequentemente considerada forte a pressão exercida pelos stakeholders. Muitas vezes, pareceu existir um conflito entre a percepção das 76 obrigações relativas ao empreendedorismo e a necessidade de autonomia por parte do empreendedor, reduzindo a possibilidade de altos níveis de satisfação no trabalho (BLANCHFLOWER E OSWALD, 1998; BRADLEY E ROBERTS, 2004; HUNDLEY, 2001; NAUGHTON 1987a, 1987b), assim como a possibilidade de altos níveis confiança, que refletiriam a crença do indivíduo em sua própria capacidade, que por sua vez levaria a maiores níveis de satisfação no trabalho (BEGLEY E TAN, 2001): ―Ah... a cobrança em cima da gente, a gente mesmo cobra da gente, né, cara, porque a gente não pode falhar. (...) às vezes o dono tem uma bomba relógio atrás dele para explodir se você não cuidar direito dela, a qualquer momento, para manter o teu negócio firme, para ter inclusive subsídio pra manter o emprego dos vendedores. Eles acham que não.‖ (EE14) EE14 comparou a pressão exercida pela concorrência ao ofício de pilotos de fórmula 1. Sua busca pela manutenção de sua competitividade era incessante, visto que uma pequena pausa ou desatenção poderia levar à superação pelos concorrentes e, quem sabe, sua exclusão do mercado. Eram empreendedores que caminhavam, quando muito, lado a lado com a concorrência; tinham grandes dificuldades para se destacar: ―O que eu sempre faço, né, é... realmente, a minha carga de trabalho é uma carga realmente excessiva, eu reconheço que é excessiva. Existe uma cobrança muito grande que eu faço de mim mesmo, então eu acho que eu sempre posso fazer mais, melhor e mais rápido. Isso acontece comigo, já é algo de criança, e eu sempre fico pensando como eu posso fazer exatamente a mesma coisa e muito melhor. Ainda há pouco eu tava trabalhando aqui e falei assim ‗olha, se eu corresse mais um pouquinho eu teria cadastrado 1, 2, 3, 4, 5, 6... 12 itens‖ , eu teria cadastrado esses 12 itens, que eu tinha marcado com você às 16:30h, só que... eu corri o... sabe, o que eu pude, eu tenho uma velocidade realmente incrível, mas...(...) É... exatamente... isso acontece muito comigo a... essa cobrança que eu tenho... e aquela coisa de achar que eu sempre consigo fazer cada vez mais, mais rápido, melhor e perfeito, tá? Eu comparo muito com ambiente de corrida, eu sou apaixonado por corrida de carro, e por que que eu sou apaixonado por isso? Porque lá acontece a mesma coisa, acabou uma corrida, ele é obrigado, o preparador, a equipe, a fazer um carro melhor e mais rápido, porque na outra semana o outro já fez um carro melhor e mais rápido do que aquele, né?‖ (EE07) Conflitos trabalho-família foram mais frequentemente mencionados entre empreendedores deste grupo, tanto no comércio, como nas incubadoras: 77 ―Justamente, então, isso aí é... pesa muito pra uma, pra uma... vida conjugal pesa muito, então, é... às vezes tô em função do trabalho, em função da família, esse negócio de pouco de atenção que a gente é... pode dar na família, quer dizer, não é o suficiente pra você, né...sei lá... ter uma vida conjugal harmoniosa, né, vamos dizer assim, o trabalho consome muito, porque esse trabalho é muito.....difícil...‖ (EE06) Alguns, para quem a empresa representava apenas uma fonte adicional de recursos, da qual não dependiam para sua sobrevivência, podiam regular melhor sua jornada de trabalho; chegando inclusive a trabalhar em tempo parcial. Eram empreendedores que em geral acreditavam que não encontrariam perspectivas melhores em outros setores de atuação e que embora pudessem ter alguma satisfação em exercer seu trabalho, o viam como repleto de sacrifícios, nem sempre recompensados. Diversos deles, caso conseguissem um emprego em que ganhassem um salário melhor que o lucro auferido na empresa, passariam sem receio à condição de empregado. 78 5 ANÁLISE Abaixo foram analisados os comportamentos dos 5 perfis motivacionais, à luz dos desafios ao crescimento da firma propostos por Fleck (2009): Empreender em Bases Contínuas (enterprising), Aprovisionar recursos gerenciais, gerenciar a complexidade, navegar em ambiente turbulento e gerenciar a diversidade. 5.1 Empreender em Bases Contínuas Este desafio se baseia nas características temperamentais do empreendedor, propostas por Penrose (1959) como sendo essenciais ao crescimento da firma: versatilidade empreendedora, julgamento empreendedor, inventividade e ambição empreendedora. A análise das três primeiras características se encontra a seguir. Em relação à ambição empreendedora, o que se pôde afirmar em um primeiro momento foi que no princípio, todos os empreendedores tinham vontade de crescer; alguns mais, outros menos. Contudo, ao longo do tempo, a grande vontade de crescimento, para alguns se mostrou ilusória. Poucos tinham de fato a habilidade necessária para o crescimento. Dadas as grandes dificuldades encontradas, alguns acabaram perdendo a vontade de crescer. A ambição empreendedora (PENROSE, 1959), ao contrário da ambição pura, pareceu dizer respeito não apenas à gana de crescimento, mas à conjugação da vontade de crescer com a habilidade necessária para o crescimento. Portanto, a análise relativa à ambição empreendedora será apresentada após a conclusão das análises dos demais desafios ao crescimento propostos por Fleck (2009). 79 5.1.1 Versalidade Empreendedora Abaixo os cinco perfis de empreendedores foram analisados segundo sua tendência a sua capacidade de inovação, descoberta de novas oportunidades e expansão geográfica. 5.1.1.1 Identificadores de Oportunidades Como seu próprio nome indica, este grupo de empreendedores apresentou grande facilidade para a identificação de oportunidades. São empreendedores cujo comportamento funciona em uma lógica tipicamente kirzneriana (1973,1979). São indivíduos muito alertas às tendências do mercado, que gastavam grande parte de seu tempo coletando informações que serviriam de base para a avaliação de novas oportunidades. São empreendedores acostumados a lidar com volumes muito grandes de informação, o que contribui para a avaliação de novas oportunidades e um melhor aproveitamento daquelas que identificam: ― (...) você tá querendo saber tudo o tempo inteiro, você sempre quer estar ligado, querer saber tudo que está acontecendo, as oportunidades que surgiram, que não surgiram pra poder tomar a decisão e não achar quer foi preterido, porque não tomou o conhecimento da informação, pra você não achar que perdeu a oportunidade, porque alguém não te trouxe a informação, então vale a pena, se você é uma pessoa apta a julgar aquela informação você quer que ela venha‖ (EE03). Segundo Kirzner, indivíduos com alerta empreendedor privilegiado tenderiam a gastar uma quantidade considerável de tempo na busca de oportunidades lucrativas de negócio. Oportunidades se apresentariam sob diferentes formas: demanda por um novo produto ou serviço, ou por um novo produto ou serviço existente e disponibilizados por preço mais baixo ou por um novo modelo de negócios. Kirzner (1973) viu o empreendedor como alguém que eliminaria situações de desequilíbrio. Sua função seria a de realizar arbitragens no mercado. Não surpreende, portanto, que as oportunidades identificadas por empreendedores deste grupo fossem de duração bastante 80 limitada. De onde a necessidade de se manterem sempre alertas; era a única forma de se manterem na vanguarda dos mercados em que atuavam. São empreendedores exploradores de nichos, tanto nas incubadoras, como na indústria de autopeças, onde atuavam como distribuidores. Suas firmas adotavam estratégias de first to markets. Introduziam de maneira freqüente novos produtos e serviços no mercado, os quais exploravam enquanto representavam vantagens competitivas. A grande preocupação era manter a empresa na vanguarda do mercado, evitar a concorrência direta: ―Esse grau de inovação que a gente tem colocado é... tem tirado os concorrentes da nossa frente, mas eles continuam indo atrás. À medida que a gente descansa um pouco eles começam a alcançar a gente com inovação... é uma inovação em processo, então, na medida que o processo é otimizado, tem concorrência, ―opa! eu não tenho isso, então eu vou correr atrás!‖ A gente não tem uma concorrência direta, mas sempre tem alguém tentando ser concorrente direto‖ (EE59). Suas empresas estavam em constante renovação; algumas possuíam setores especialmente dedicados a esta. Eram empresas que visavam a satisfazer às mais novas demandas do mercado. Ao longo de sua história, passavam por uma série de reposicionamentos estratégicos. Considerando critérios de diversidade de produtos e serviços, distinção da concorrência, as empresas de identificadores de oportunidades eram as mais versáteis. No entanto, no que diz respeito à diversidade geográfica, apenas uma delas estava localizada em mais de um bairro ou unidade da federação. Apenas duas delas haviam realizado exportações. O grau de internacionalização era muito baixo. 5.1.1.2 Estado da Arte Para Schumpeter (1934), a inovação seria levada adiante por firmas já estabelecidas, com poder econômico suficiente para introduzir novas tecnologias. No entanto, diversos autores sugeriram que em muitas indústrias, os instrumentos para tal introdução teriam sido MPMEs, o que poderia ser visto nas indústrias de tecnologia, biotecnologia, equipamento médico, 81 computadores, entre outras (KEELEY E TABRIZI, 1995), principalmente naquelas vistas como altamente inovadoras (FREEMAN,1982; SHAN, 1990). Os empreendedores deste grupo foram os de perfil inovador mais compatível com o do empreendedor schumpeteriano. Podem ser considerados, no entanto, schumpeterianos em potencial, pois apesar de negócios provocarem fortes rupturas com os padrões até então vigentes no mercado, inovações não eram introduzidas de forma constante. Eram empreendedores que trabalhavam com tecnologia altamente inovadora, se considerada inclusive sob o ponto de vista mundial. Dedicavam-se à criação de novos métodos ainda não experimentados, que envolviam áreas consideradas de ponta dentro das próprias universidades, tais como a criobiologia (armazenamento de célulastronco), a nutrição parenteral (nutrição intravenosa) para recém-nascidos e o tratamento de lixo orgânico, considerado pela ONU como serviço de altíssima relevância para a sociedade, de interesse mundial. Estes empreendedores possuíam nível de conhecimento incomparável dentro de suas áreas de atuação. Assim, suas firmas geralmente não chegavam a enfrentar concorrência nacional que as ameaçassem. No entanto, eram pouco versáteis. Tinham forte apego pelos produtos ou serviços que se esforçaram para que se tornassem estado da arte. Apenas uma das empresas tinha uma filial em outra unidade da federação. 5.1.1.3 Especializados Empreendedores especializados trabalhavam dentro de um nicho de mercado muito estreito. Ao contrário dos identificadores de oportunidades, tenderam a se ver fortemente vinculados a suas idéias iniciais de negócio. Sua lógica de negócio era fabricar o mesmo produto ou produzir o mesmo serviço, porém de forma cada vez melhor. Eram empreendedores que foram muito capazes de identificar uma única oportunidade, compatível com sua formação técnica, e que tentavam se aprimorar cada vez mais na forma de explorá-la. Uns conseguiam, enquanto outros não. Iniciavam geralmente em setores com altas margens de lucro, com uma estratégia de foco, mas devido a sua dificuldade de identificar novas oportunidades, ao longo do tempo se deixavam 82 alcançar pela concorrência e passavam a ter que competir com base em uma estratégia de liderança de custos, caso quisessem manter sua competitividade, conforme relatou EE28: ―Não, na verdade o que existe, o principal problema, é o aumento da competição. A competição vem aumentando muito severamente, então ano a ano, cada vez mais empresas e cada vez praticando preços mais baixos, e hoje, por exemplo, nós temos preços que são equivalentes há dez anos, então isso nos levou ao desafio de racionalizar os processos e baratear; dar mais eficiência e baratear o custo/curso desses processos‖ (EE28). As oportunidades identificadas eram geralmente calcadas no que se fazia de mais moderno em termo de pesquisas em países desenvolvidos. Eram empreendedores que procuravam técnicas, produtos e serviços já utilizados no exterior, que pudessem ser replicados no Brasil. Tratava-se de empreendedores com baixa versatilidade tanto em termos de produtos e serviços, como em termos geográficos. EE23, empreendedor do varejo de informática, foi o único a chegar a ter 8 estabelecimentos, mas com o aumento da competição e devido às falhas de controle e planejamento em sua empresa, no momento da entrevista o empreendedor tinha apenas um estabelecimento e um empregado. Em um mercado já muito competitivo, EE23 era um especializado que não competia por liderança de custos. O empreendedor contou sua trajetória: ―(...) porque quando eu comecei começou também o ramo de informática e a informática foi crescendo, crescendo e em cima disso eu fui crescendo junto com a informática. E aí fui sentindo necessidade para dar credibilidade e uma garantia melhor para o cliente e ter mais clientes, e vender mais, ter que montar a empresa para dar nota fiscal, dar uma qualidade de atendimento e conforto melhor para os clientes. Fui crescendo, com isso cheguei a abrir outras lojas, só que teve uma época também que tinha mais que uma, duas, três, eu cheguei a ter oito lojas, mas não adianta nada, porque a margem de lucro de informática é muito pequena e a despesa de quando você abre várias lojas é muito grande, por cada controle, logística, vários fatores que acarretam a despesa alta, fui fechando, fechando e vi que ficar com uma era melhor. Fiquei assim durante seis anos com uma só e tendo uma margem de lucro melhor do que com várias lojas‖ (EE23). Nas incubadoras, embora fosse grande o sonho da internacionalização entre os componentes deste grupo, nenhuma das empresas entrevistadas o havia realizado. 83 5.1.1.4 Organizadores Estes empreendedores não se mostraram bons na identificação de oportunidades de negócio. O único empreendedor de firma proveniente da incubadora começava a desenvolver seu setor comercial à época da entrevista. Até atingir o marco de 90 empregados, seu foco tinha sido o aprimoramento dos procedimentos internos da empresa. Era repetitivo nos tipos de serviços que prestava. No comércio, a versatilidade destes empreendedores era ditada pela variedade de oferta dos distribuidores considerados confiáveis. Organizadores, pelo menos no estágio em que as empresas entrevistadas se encontravam, não se mostraram particularmente hábeis em relação à inovação ou à identificação de novas oportunidades de negócio. Em geral, aprendiam a tirar as melhores oportunidades que lhes eram oferecidas com o tempo. Criavam procedimentos inclusive para compras. Na empresa de EE10 havia compradores que identificavam as necessidades da empresa, enquanto o empreendedor tratava das negociações: ―Hoje, cada loja tem um comprador. Eu não vendo mais, a loja tem balconista, tem seus vendedores. Eu não preciso mais ir ao balcão vender. Hoje eu fico pensando em estratégias em relacionamento com fornecedores, negociações. Eu não compro, mas eu faço negociações, o que é diferente, né. Comprar é você estar comprando item a item, né. Não é o meu caso não. Eu faço a negociação com o fornecedor, e o comprador vê a necessidade e compra aquilo que precisa‖ (EE10). Seus produtos, assim como os dos demais organizadores geralmente não os destacavam da concorrência. A principal diferença em relação aos concorrentes estava no grande respeito às normas que regem a relação firma-cliente (garantia, etc). No que se refere à versatilidade geográfica, EE10 era o único de seu grupo a possuir mais estabelecimentos em diversos bairros: 3 estabelecimentos em 3 bairros diferentes do Rio de Janeiro. 84 5.1.1.5 Breaking Frees As empresas de breaking frees se caracterizaram por adotar comportamento típico de imitadoras (KEELEY E TABRIZI, 1995), mesmo aquelas nascidas em incubadoras de empresas. Suas estratégias eram do tipo me too. Não existia um produto diferenciado ou um serviço que não fosse oferecido pelos concorrentes. EE54, por exemplo, dono de empresa graduada, tinha um sério problema de foco. Embora tentasse incessantemente, não conseguia encontrar um produto para fabricar que distinguisse sua firma das demais. Assim, o empreendedor vendia serviços de desenvolvimento tecnológico para outras empresas. Trabalhava com margem de lucro baixa e muito esforço, o que foi típico entre os breaking frees: ―Bem, eu tenho um problema sério que é o foco, né. A gente quando não tem foco de mercado, quer dizer... você não tem um produto... então, desde que nasceu, ela sempre buscou um produto próprio. Eu tentei uma vez, achei que não era...a gente pode ter cometido um erro de ter persistido nesse produto, mas continuei...e aí, eu sempre, ou revendi produtos pros outros, que ao longo do tempo eu fui deixando fazer isso, ou fui desenvolvendo produtos, aqueles produtinhos... Trabalho vendendo serviços de desenvolvimento tecnológico pra outras empresas. Só que isso é muito desgastante, porque são coisas que são demoradas. Você tem um risco grande nisso. Você não consegue cobrar muito. Então, você acaba não ganhando muito, então...esse é um dos meus maiores problemas hoje: não ter um produto que eu possa determinar e dizer assim: ― esse é o meu foco principal‖ (EE54). Estes empreendedores chamavam de inovações, pequenas mudanças realizadas dentro de suas firmas; mudanças em aspectos muito simples, não relacionados ao mercado, tais como arrumação da loja, modos de comprar e trocas de programas de computadores. Na indústria de autopeças há elevada variedade de veículos e conseqüentemente são numerosos os itens oferecidos, mas existia muito pouca proatividade em relação à busca de meios para a distinção da concorrência, que em geral se resumia ao layout da loja e ao uniforme dos empregados. As novidades, como eles chamavam, quem trazia eram os distribuidores, que os ajudam a identificar o que poderia vender mais ou ser vendido com uma maior margem de lucro (PENROSE, 1959): 85 ―(...) As novidades geralmente quem traz são os distribuidores, que vão trazendo pra gente, a gente vai recebendo e-mail dos fabricantes que já tão lançando peças novas; vão chegando para gente as novidades e a gente já vai pedindo. Uma coisa aqui outra ali e vai tendo movimentação para ir comprando mais e o sistema também ajuda para comprar.‖ (EE02) No varejo de informática, onde os preços e a qualidade dos produtos eram praticamente idênticos entre os concorrentes, os breaking frees passavam à condição de vendedores de commodities. 5.1.2 Julgamento Empreendedor Embora muitos estudos tenham se dedicado à descoberta de oportunidades (ex.: BUSENITZ E BARNEY, 1997; SHANE, 2000; SHAVER E SCOTT, 1991), pouca pesquisa foi realizada a respeito de como o empreendedor escolhe as oportunidades a serem aproveitadas (CHOI E SHEPHERD, 2004). Cabe portanto investigar como os empreendedores escolheram as decisões a serem exploradas por suas firmas. 5.1.2.1 Identificadores de Oportunidades As oportunidades aproveitadas pelos identificadores de oportunidades foram aquelas que tais empreendedores consideraram como tendo alta probabilidade de aceitação no mercado. Em geral, estes empreendedores, com forte alerta empreendedor identificavam uma necessidade no mercado, confiando em sua intuição, na opinião de potenciais clientes e de seus companheiros de equipe para tomar a decisão sobre aproveitá-la ou não. EE68 descreveu como havia ocorrido uma dessas decisões dentro de sua empresa: ―(...) por exemplo, a gente tá montando uma empresa que se chama Social Life. É uma empresa que trabalha com uma coisa de rede social, de sustentabilidade, etc. E de onde surgiu isso? Surgiu de parte de um briefing de um site de tendência de consumo. Eu vi aquilo. Falava sobre ecostatus (as pessoas que são mais verdes elas são reconhecidas e tal). Eu li na Wired, uma revista de tecnologia que é super reconhecida lá no Sillicon Valley, uma reportagem sobre o Nike Plus, um negócio que a Nike fez , que trabalha com o conceito 86 de personal measures, ou seja, você mensurar tudo na vida de uma pessoa. E ela...isso gera um estímulo. Aí eu, pô, eu juntei uma coisa com a outra e eu falei: ― pô, vamos fazer alguma coisa de personal measures de sustentabilidade?‘ Rabisquei esse conceito e falei: vamos fazer isso? A gente não tinha muito...Qual o mercado? Eu não sei, isso é uma coisa nova, então, eu falei: ‗pô vamos testar o conceito‘. Aí eu vou e converso com um monte de gente, então: ―vamos testar agora nos clientes, nos potenciais clientes‖. Eu virei para um cara de sustentabilidade de uma grande empresa: ―Olha fulano...‖ falei não sei o que, me apresentei...‖o que é que você acha disso aqui (não sei o que, não sei o quê...)? Você contrataria? ―Pô cara, achei sensacional, contrataria. ―Pô legal!‖. Falei com outro, falei com outro. Chamei meu pessoal de tecnologia e falei assim: ―Pessoal isso é fácil de fazer? Quanto vai custar fazer? Oh, vai custar tanto tempo de desenvolvimento (ta, ta, ta, ta)? ―Pô galera, vamos fazer? Todo mundo legal, gostei, gostei da idéia, e decidimos que vamos fazer. Ponto. ― (EE68) Nota-se aqui que somente neste grupo foram aproveitadas oportunidades voltadas para a oferta de soluções para negócios para outras firmas, seja sob a forma de consultoria, seja sob a forma de equipamentos que permitissem avaliar ou de alguma forma mensurar o comportamento do cliente. Todos esses empreendedores somente aproveitavam oportunidades que os pusessem em posição de first to markets. 5.1.2.2 Estado da Arte Estes empreendedores tenderam a explorar somente oportunidades que representassem fortes rupturas com os padrões de mercado. Algo que visualizassem que poderiam tornar singular. Suas empresas montadas para ser as nº 1 em suas indústrias. São empresas que desenvolvem tecnologia nacional: ―Porque no começo da E34, eu tinha um papel e um sonho de montar uma empresa que realmente fosse Estado da Arte em nutrição parenteral e isso eu posso dizer com toda certeza que eu consegui.‖ (EE34). EE34 havia descartado a exploração de uma segunda empresa por ela criada, na qual trabalhava, na ocasião da entrevista (após desentendimento, seguido de ruptura da sociedade), por esta ainda não apresentar natureza tão singular. No momento da entrevista a empreendedora buscava criar uma nova 87 empresa, nos moldes da primeira, porém com crescimento mais rápido, tendo em vista o conhecimento gerencial por ela adquirido ao longo dos anos. 5.1.2.3 Especializados Empreendedores especializados somente aproveitavam oportunidades que fossem plenamente compatíveis com suas áreas de especialização, descartando as demais. Tendiam a preferir atuar em um mercado mais competitivo compatível com seu conhecimento técnico, descartando estratégias de foco caso sua adoção implicasse a atuação em área que fugisse ainda que um pouco de sua área de especialização, principalmente quando ainda não havia mercado amadurecido: ―Não, era muito porque a gente sentiu que não tinha mercado amadurecido suficientemente para trabalhar com GIS, em outros países, a gente viu, que estão bem adiantados nessa área, mas o Brasil não. É difícil conseguir investimentos.(...) A gente tentou o edital da FINEP, mas a gente nunca tinha uma área especifica para GIS, então a gente acabava caindo nos outros, que não era área prioritária e não conseguimos investimentos.(...) Investimento não, mas tem mais mercado, é mais fácil vender, apesar da gente ainda estar iniciando. (...) ‖ (EE45). A adoção inicial de uma estratégia de foco aparecia então entre os incubados de certa forma como uma casualidade. Para este tipo de empreendedor o primordial era o aproveitamento da especialização e não de oportunidades, que eram vistas apenas como um meio para a utilização de seu conhecimento técnico. Nas incubadoras, eram empreendedores que replicavam técnicas inovadoras desenvolvidas em outros países. 5.1.2.4 Organizadores Em dois casos, a primeira oportunidade aproveitada pelo organizador foi a própria aquisição da firma. Dois deles haviam adquirido as antigas firmas em que trabalhavam, já legalizadas. Eram empresas que por ocasião da aquisição não funcionavam bem, mas que o empreendedor assumia o desafio 88 de fazer funcionar melhor. Conforme visto, os organizadores não tinham produtos ou serviços que o distinguissem de maneira clara da concorrência. A respeito dos organizadores, o que se pode dizer, é que seja o que for que eles vendam, eles tenderão a se concentrar, mesmo em ambientes onde reine a pirataria, como era o caso no shopping de informática, na venda de mercadorias legalizadas. Assim, por exemplo, EE21, por exemplo, não vendia muambas: ―Quando a gente abriu, era com aquele guarda-roupa feio, esquisito, era uma estante azul, feia pra caramba, velha. Não tinha vitrine e aqui era tudo cheio de mofo, era um bagulho velho empoeirado. A gente tava vendendo, mas não tanto quanto eu queria. Aí, a gente mudou, colocou esse painel já aqui, não tinha nada já nele. Já começou a vender (...) Não, eles vendiam até bem [os antigos patrões]. Eles vendiam muito, porque vendiam muamba. Eles vendiam muito...o preço era barato e anunciavam e vendiam. É o que a gente não quer fazer, porque...‖ (EE21) Nessas firmas, tenderam a ser escolhidos produtos e serviços de boa procedência e qualidade, proveniente de fonte não duvidosa, que pudesse conferir garantia a seus produtos. 5.1.2.5 Breaking Frees Seguindo suas estratégias me too, breaking frees vendiam o que todos vendiam. O importante era aproveitar as oportunidades que todos aproveitavam, em igualdade de condições. Aproveitavam o que vendia mais, o que era mais barato para se comprar, o que seus distribuidores de confiança indicavam ou itens para os quais já havia demanda: ―(...) a mercadoria que não tem grande rotatividade a gente não põe, a gente só faz se for por encomenda, então todo o dia tem vários clientes aqui que pedem para encomendar. ―Ah, encomenda isso e isso.‖ Não, porque não tem como a gente ficar abarrotando nosso estoque com material que não vende. Entendeu?‖ (EE05) O importante para estes empreendedores era não ficar na retaguarda da concorrência, acompanhar as tendências do mercado. 89 No que se refere à escolha das indústrias em que iriam atuar, esta era muitas vezes feita por aparente afinidade ou por casualidade (a oportunidade simplesmente tinha aparecido). Foram relativamente freqüentes os relatos de terem tido outras firmas, em outros ramos de atividades antes de optarem pelo setor em que se encontravam. 5.1.3 Inventividade Sob o ponto de vista individual, a inventividade diz respeito à capacidade de a firma angariar recursos. Apesar das dificuldades de MPMEs em obter recursos, muitas firmas de menor porte conseguem mobilizar capitais, crescer e se tornar firmas grandes, graças, em boa parte, à habilidade de seus donos em obter os recursos de que a firma necessita (PENROSE, 1959). Nesta seção, foram investigadas as principais fontes pelas quais os empreendedores captam os recursos necessários ao crescimento de suas firmas. Também foram apontados os fatores que inibiam a obtenção de recursos por parte dos empreendedores entrevistados. 5.1.3.1 Identificadores de Oportunidades Estes empreendedores geralmente haviam criado suas firmas com recursos próprios, em volume consideravelmente modesto (muitos tinham menos de 10.000 reais para a realização do sonho, alguns poucos chegaram a vender carros e apartamentos). Segundo Liao e Welsch (2008), quando comparados a seus colegas de empresas não tecnológicas, empreendedores da área de tecnologia, se dedicariam com maior afinco a atividades de planejamento, estabelecimento de legitimidade e combinação de recursos, mas não a atividades ligadas a marketing e trocas. Tal afirmação não se mostrou verdadeira para os identificadores de oportunidades cuja fonte básica de financiamento do crescimento foram as folgas organizacionais (PENROSE, 1959) geradas durante o desempenho das atividades da própria firma: ―Sim, porque na 90 verdade, meu negócio precisa crescer, então o que eu preciso como consigo alavancar a minha venda?‖ (EE09). A inventividade dos identificadores de oportunidades se baseava, sobretudo, em sua pré-disposição para conquistar novos clientes. Tais empreendedores não descartavam, porém, a possibilidade de obtenção de recursos junto a órgãos de fomento à pesquisa dos quais, alguns chegaram inclusive a receber prêmios – o PRIME – pertencente a um programa para o financiamento de empresas nascentes. Foram empreendedores que se mostraram proativos na captação de recursos para a firma. EE68, por exemplo, contou como foi a evolução do financiamento do crescimento: ―No início, foi simples. A gente ficou um ano sem ganhar um centavo. A gente ficou um ano fazendo o pé de meia. A gente então ficou um ano sem ganhar um centavo, só promovendo a empresa. Viramos um monte de contratos, etc, etc. Depois a gente começou a ter o nosso próprio, tendo a nossa própria receita e a gente conseguia se sustentar tranquilamente. Só que você tem que saber utilizar e alavancar. Então hoje a gente usa muito recurso público. A gente consegue muito recurso público FINEP, FAPERJ. No ano passado a gente conseguiu alavancar 900.000 reais a fundo perdido de fontes de financiamento. Isso fez com que a gente desenvolvesse empresas, desenvolvesse produtos, etc, etc. Então, a gente usa; mas a questão toda é se você achar que isso vai ser sua fonte principal, você está ferrado, você nunca vai ser uma empresa.‖ (EE68) A empresa de EE68 também atuava como investidora – foi aparentemente o único caso. Neste grupo, apenas dois empreendedores mencionaram terem solicitado financiamento bancário para o crescimento. Um deles realizou um meticuloso planejamento a fim de que pudesse focar no longo prazo e passar finalmente a fabricar produtos; e um segundo pareceu não ter tido dificuldades particulares em devolver o valor financiado. Os valores dos empréstimos não passaram de 50.000 reais. Alguns dos empreendedores deste grupo se mostraram avessos à captação de recursos junto a bancos. Tinham receio de perda do controle financeiro: ―Porque eu sei que assim, quando você pega dinheiro emprestado, em geral você paga juros, e o que eu vejo de outras empresas que começam pegar dinheiro emprestado para fazer investimentos, muitas vezes os juros que você paga no investimento 91 acabam comendo uma parte do seu lucro da empresa, entendeu? Então, você fica sem dinheiro para investir no futuro e você entra no círculo vicioso, você tem que estar sempre tendo que pegar empréstimo para fazer investimentos e quando aquele empréstimo acaba, para você fazer outro investimento, você tem que pegar outro, porque o seu dinheiro do caixa acaba sendo engolido pelos juros. Então, eu prefiro fazer um caixa, guardar dinheiro e aí quando eu tenho dinheiro guardado, próprio, eu invisto. Eu sou bem conservadora, digamos assim‖ (EE66). De forma geral, eram empreendedores que não se arriscavam a tomar financiamentos junto a bancos, que viam como medida a ser tomada apenas em último caso, quando a sobrevivência da firma se visse ameaçada. EE60 considerava as taxas de juros excessivamente altas. Na visão deste empreendedor, ao contrário do sugerido pela Procuradoria do Banco Central (2008), parecia não haver nos bancos, real pré-disposição ao financiamento de MPMEs. Haveria preferência por outros tipos de clientes, considerados de risco mais baixo, como aposentados, por exemplo: ―O maior problema que um empreendedor no Brasil tem é financeiro. A gente tem muita dificuldade de obter crédito. Hoje em dia, um aposentado compra uma caminhonete 4X4, com muito mais facilidade do que um empresário consegue 50.000 pra capital de giro. Ainda é um mito aqui dentro. O risco, que as entidades financeiras jogam em cima do empresário, seja ele quem for... eles querem tanta garantia que você normalmente não cumpre, não consegue. Então, o maior problema que o empresário tem no Brasil é financeiro, é crédito. Crédito barato, porque crédito também para você pagar 15% ao mês, quebra qualquer um‖ (EE60). Nenhum dos empreendedores deste grupo tinha sócios capitalistas. Estes empreendedores se mostraram particularmente relutantes em dividir o controle de suas empresas. Interessavam-se pela idéia, mas temiam as conseqüências negativas da inserção deste tipo de sócio em sua empresa, pois não tinham outras MPMEs que pudessem servir de base para sua avaliação. 5.1.3.2 Estado da Arte Empreendedores com este perfil motivacional se destacaram por terem sido os únicos a obter recursos de sócios capitalistas. Dois deles obtiveram destes sócios um volume considerável de recursos, logo de início. Não surpreende, portanto que teorias referentes à restrição de recursos em nada se 92 aplicam aos casos de suas firmas. De acordo com Schumpeter (1934), se indivíduos identificassem oportunidades viáveis, que segundo ele se refeririam a formas de revolucionar a economia, outros estariam dispostos a prover-lhes os recursos necessários para a exploração da oportunidade identificada. Entre estes empreendedores, potencialmente schumpeterianos, a obtenção de apoio de sócios capitalistas foi considerada fácil: ―O capital inicial teve um sócio que botou 500 mil reais na empresa pra gente estruturar e ai depois, a estrutura de armazenamento que é uma estrutura muito boa foi montada com financiamento junto à empresa e depois a gente foi gerando receita.(...) O sócio investidor foi relativamente fácil, porque esse meu sócio empreendedor, o empresário, na verdade assim, ele entrou na sociedade com a promessa que ele viabilizaria o negócio e ele tinha um parceiro que era um parceiro de uma distribuidora de medicamentos e aí ele convenceu o cara a comprar 10% da empresa. O cara comprou depois ele até saiu., No inicio ele foi importante‖ (EE31). O capital de sócio privado também tinha provido o capital inicial da empresa de EE38: ―Capital de sócio privado [capital inicial], esse sócio privado já colocou nesses dez anos, se você trouxer no valor presente, já colocou aqui uns oitenta milhões. EE34, que iniciou sua primeira empresa há mais de 20 anos, foi a única a ter iniciado apenas com capital próprio. Na ocasião, a empreendedora com muito custo havia obtido recursos junto a uma instituição de apoio à pesquisa. A empreendedora havia tido grandes dificuldades para convencer a instituição da importância de seu produto, dado que não se parecia com nenhum outro tipo produto que normalmente financiavam. Os recursos obtidos possibilitaram o pagamento dos primeiros profissionais e a montagem das instalações: ―Eu consegui na E34 uma ajuda do CNPQ que é um trabalho de pesquisa que me pagou durante um ano dois profissionais que depois trabalharam comigo dez anos seguidos (...) Eu tive que mostrar para a FINEP que trabalhar com nutrição parenteral não é uma atividade comum e nutrição parenteral é nutrir o paciente por via venosa, ou seja, eu estava fabricando injetáveis lá na minha empresa. Injetáveis complexos. Dos injetáveis o mais complexo que é uma mistura de aminoácidos, sais minerais e vitaminas. E a FINEP no primeiro momento renegou o meu projeto de pesquisa onde na verdade eu iria usar e usei depois que eles me concederam todo dinheiro para montar a primeira E34 que foi justamente quando eu montei a parte de informática, que eu refiz toda minha parte de produção, que eu coloquei piso de sala limpa, que eu adeqüei minha 93 parte de refrigeração que tem que ser uma refrigeração especial com cento e cinqüenta mil reais que eu recebi da FINEP.‖ (EE34) EE31 também revelou ter obtido capital de instituições de fomento à pesquisa, assim como ter ganhado o prêmio PRIME, da FAPERJ, que confere ao vencedor o valor de 120.000 reais, para investimento no crescimento da empresa (compra de equipamentos, contratação de profissionais, etc). Alguns dos empreendedores deste grupo consideraram altas as garantias exigidas pelo BNDES e demasiadamente longo o período durante o qual estas garantias ficariam retidas. Neste grupo foi apontada a necessidade de Project Finance: ―(...) as linhas do BNDES existem vinte por cento financiadas, não, vinte por cento capital cobre e vinte por cento financiadas, só que esse financiamento do BNDES demora sair, quase um ano, uma licença ambiental leva quase um ano, no BNDES ainda tem pouco de agrave, porque exige muitas garantias, a idéia original era ser Project Finance, se eu tenho um bom projeto, está aqui, meu saldo mensal é isso, vai gerar isso, em quatro segundos está gerando caixa, se você tem um bom projeto dá em garantia o projeto, é o Project Finance, o próprio projeto garante, na hora de estudar você vai exigir garantias, então normalmente garantias vai investimento de setenta, oitenta, trezentos milhões, são garantias que ficam presas dois anos, como você exige isso de uma empresa média? Que fez perder, que quer crescer que não teve apoio, a conjuntura tem esse prospecto‖ (EE38). Empreendedores estado da arte não revelaram ter recorrido a bancos comerciais para a captação de recursos. 5.1.3.3 Especializados À semelhança dos identificadores de oportunidades, estes empreendedores também criavam suas firmas com poucos recursos. As duas principais fontes de recursos iniciais para as empresas deste grupo de empreendedores foram: O capital próprio, mesmo no caso de empresas incubadas: ―Assim, aqui ninguém teve financiamento de nada, tudo que tem aqui foi através do nosso trabalho. Aí já tinha alguns serviços nessa área, e aí a gente foi juntando, fomos comprando os equipamentos e viemos 94 para cá, quer dizer, começamos praticamente do zero mesmo a montar tudo.‖ (EE28). E nas incubadoras, bolsas e apoio à pesquisa. Também no caso deste grupo de empreendedores foram relatados prêmios em dinheiro obtidos junto à FINEP – o Prime – para o financiamento do crescimento de suas empresas. Nas incubadoras, tais empreendedores se mostraram particularmente avessos à contração de empréstimos e financiamentos bancários, não apenas por considerarem as taxas de juros excessivamente altas, mas pelo fato de preferirem pleitear créditos não-reembolsáveis, junto a instituições de fomento à pesquisa. Eram empreendedores que optaram sistematicamente por créditos que lhes seriam concedidos mediante o único compromisso de realização da pesquisa prometida, independente de seus resultados: ―É porque na FINEP, você é não-reembolsável, você recebe dinheiro, gasta de acordo com o projeto e depois você não precisa devolver, entendeu, só prestar as contas financeiras e técnicas. O BNDES você tem que pegar e depois devolver, né, os juros são bem menores, né, mas... É... não, acho que não pegaria não, porque é muito risco.‖ (EE49) Em alguns segmentos, especializados contavam com o apoio privilegiado tanto de órgãos que financiavam pesquisas na área tecnológica, como no caso da área de petróleo, à qual eram destinados vários editais da FINEP, FAPERJ, etc, como por parte dos bancos do governo. O BNDES, por exemplo, tinha linhas de financiamento voltadas especificamente para o desenvolvimento de áreas, consideradas de interesse nacional, consideradas estratégicas, tais como a de energia solar. O Banco inclusive buscava empresas que pudessem atuar nessa área: ―O BNDES, Banco do Nordeste, então eles avaliaram o meu projeto do PRIME, então eles conheciam e tinham que levar pro BNDES, uma empresa de produto, porque no Rio só tava aparecendo pro...empresa de...software...essa coisas, mais serviço, né? E...eles precisavam de alguma coisa de energia limpa que era o nosso caso, então a gente acabou se comunicando e eles interessaram e hoje a gente tá na parte de finalização disso. Eles dão inicialmente um 95 milhão e meio, e pegam uma porcentagem de 25 à 45 % da sua empresa.‖ (EE50) . Outras áreas, no entanto, no próprio BNDES, não eram privilegiadas com o mesmo tipo de incentivos: ―Procuramos todos os meios que as pessoas indicam principalmente da incubadora, BNDES, SEBRAE, linhas de crédito e a conclusão de que a gente tem é que para uma empresa de faturamento pequeno, uma empresa pequena, é muito difícil, a gente acaba abrindo crédito normal em banco mesmo, juros de três e pouco ao mês. A linha do BNDES é menos de um por cento, legal‖. (EE45) Nas incubadoras, nenhuma das empresas de empreendedores deste grupo tinha sócios capitalistas. Um ponto forte em suas empresas, no entanto, era o freqüente estabelecimento de parcerias. Outro ponto forte na captação de recursos por parte de empreendedores deste grupo foi o potencial de alto índice de sucesso em concorrências públicas: ―Nós temos um índice de sucesso assim de se tiver dez concorrências pra algo, com certeza umas sete a gente ganha. (...) Nós somos bons, nós somos bons no que fazemos.(...) Qualidade e preço.‖ (EE28). No entanto, oportunidades, especializados, não se ao mostraram contrário dos identificadores sistematicamente favoráveis de ao reinvestimento de folgas organizacionais: ―você colocar de novo esse dinheiro no fogo, eu já botei e já fiz (...) Posso até vender o apartamento e abrir um novo negócio, que eu ache, porque certeza a gente não tem de nada, mas que eu margem de oitenta por cento de que aquilo vai dar lucro‖ (EE23). O difícil para estes empreendedores, devido a sua baixa versatilidade, era encontrar um novo negócio que desse margens de lucros equiparáveis às que encontraram quando atuavam em um mercado ainda incipiente. 96 5.1.3.4 Organizadores O capital inicial de todos os organizadores foi constituído apenas de recursos próprios e o crescimento de suas empresas era alimentado pelas folgas. Para os organizadores, que mencionaram a captação de recursos junto a bancos, a idéia era associada a uma medida de socorro para empresas com dificuldades financeiras e não como forma de financiamento ao crescimento: ―(...) você tem que procurar ter uma reserva pra... pra cobrir esses buracos, se não tiver, a tendência é você fechar, entendeu? Agora, também ninguém vai trabalhar no vermelho a vida toda. É melhor o cara ficar em casa, ou então procurar emprego. É... se o cara tiver... é... achar que dá pra salvar a empresa dele, ele vai no banco negocia um empréstimo. Se ele tá precisando pra cobrir alguma coisa, pra pagar uma conta muito grande... são as saídas, né?‖ (EE10) EE10, por exemplo, havia tomado empréstimo bancário, devido a dificuldades financeiras provocadas por ações inescrupulosas de um funcionário seu encarregado então do setor financeiro de sua empresa: ―já tive um colaborador em quem eu confiei muito e que fez uma tremenda desonestidade com a gente. Isso daí, foi um momento assim difícil, porque a empresa, que nunca passou por dificuldades financeiras, nesse momento, foi difícil...eu tive que...eu vendi patrimônio meu. Eu tive que recorrer a banco...‖ (EE10). Assim, organizadores não se mostraram particularmente pré-dispostos a captar recursos de fontes externas. 5.1.3.5 Breaking Frees Breaking frees haviam iniciado as atividades com capital próprio e o crescimento da empresa era fomentado geralmente com folgas organizacionais, nos poucos casos em que ela existia. Muitos tinham grande aversão a bancos comerciais. Foram obtidos relatos tais como: ―Nunca aconteceu na minha vida, graças a Deus, a gente nunca precisou nem recorrer a banco‖ (EE14). Alguns consideravam fácil a obtenção de crédito, mas preferiam não solicitar. Também neste caso, empréstimos e financiamentos 97 bancários eram vistos como soluções emergenciais. Em geral não havia interesse: ―Nós em relação a banco, pegar empréstimos, facílimo. (...) É, além da gente ter vinte um anos aqui na praça, nós somos de famílias antigas aqui, tudo bem que gerente de banco muda, né, mas é...a gente tem...todo um histórico, né, temos contas em bancos também há mais de vinte anos, e eu acho que isso aí deixa o cadastro lá bonitinho, as condições tal, e mesmo a gente não precisando, o gerente vem, oferece, dá limite, é...(...) São. Só que assim...nunca houve...não, não. Assim, para a gente nunca houve interesse. Entendeu? Eles oferecem e tal, mas nunca tivemos graças a Deus, e até hoje nunca tivemos interesse em pegar. A gente entende que empréstimo é que nem você pagar no cartão e fazer pagamento rotativo, né, você nunca paga na fatura o valor total da fatura, você paga só o valor mínimo, então se você analisar mesmo profundamente vira uma bola de neve, né, então se você não tem condições, você não faz, se você não precisa também não existe nenhum interesse.‖ (EE05) Muitos desconheciam outras possibilidades de financiamento a MPMEs, tais como as linhas de crédito do BNDES. Não se informavam, porque preferiam não arriscar: ―Olha... eu nunca tentei, só ouço falar...no...BNDES..cartão...esses negócios assim...nunca tentei...(...) Pelo que eu tive pesquisando no cartão BNDES é fácil de você conseguir...não tem muita burocracia...(...) Eu não vejo acontecer...também não vejo ninguém pegar! Só ouço propaganda...cartão BNDES não sei o que...propaganda...não,não...quero investimento que... (...) Não sei como é exatamente... Prefiro não arriscar...‖ (EE12) A partir da análise da inventividade dos entrevistados, se verificou que embora a procuradoria do Banco Central (2008) considere o Brasil como um país de Bancos e Schumpeter (1934) tivesse apontado a identificação de empreendedores com inovações promissoras e o financiamento dessas inovações como um dos principais papéis dos bancos comerciais, os empreendedores entrevistados praticamente não contavam com empréstimos e financiamentos bancários para o crescimento de suas firmas. O papel dos bancos no crescimento das MPMEs será visto no 2º ensaio. O quadro 5.1 resume os resultados encontrados para cada um dos cinco perfis de motivacionais em relação à versatilidade empreendedora, julgamento empreendedor e inventividade: 98 Ident Oport Versatilidade Julgamento (bases utilizadas) Inventividade Capital próprio Instituições públicas Folgas organizacionais Sócios capitalistas Parceiros Empréstimos e Financiamentos bancários Antecipação de recebíveis Especializado Estado da Organizador Breaking Arte Free Antecipativa Inercial Idealista Procedural/ Reativa Normativa Que novidades o mercado demanda O que é relacionado à expertise O que é O que é original legal (tecnologia de ponta) O que vende/ gira o estoque Quadro 5-1 Características Temperamentais dos 5 Perfis Motivacionais 5.2 Aprovisionar Recursos Gerenciais Penrose (1959) apontou a centralidade para o crescimento da firma, dos recursos humanos, devido aos serviços gerenciais e empreendedores que lhe provêem. Sem sócios, gestores e empregados competentes, a firma não cresce. De acordo com a autora, boa parte do conhecimento necessário ao trabalho, somente poderia ser adquirido por experiência dentro da própria firma. Seria necessário que os indivíduos aprendessem a lidar com os recursos da firma e a trabalhar uns com os outros; e que ganhassem confiança no trabalho em conjunto. Embora ressaltasse a importância do conhecimento experiencial, a autora não descartou a possibilidade de aquisição de conhecimento objetivo, transmissível de pessoa para pessoa, pela realização de aulas, por exemplo. Nesta seção, para cada um dos cinco perfis motivacionais foram 99 analisados aspectos referentes, treinamento, contratação e retenção de serviços gerenciais. 5.2.1 Identificadores de Oportunidades Para que se possa compreender a capacidade de provisão de recursos gerenciais para a firma dos diferentes grupos pareceu necessário primeiro entender o grau de preocupação com a qualidade da contratação de cada perfil e seus esforços para se contratar mão de obra de boa qualidade. Identificadores de oportunidades tenderam a utilizar seu apurado feeling não apenas para identificar novas oportunidades de negócios (KIRZNER, 1973, 1979), mas também para identificar os melhores candidatos a funcionários de suas firmas. Este grupo não disse ter tido dificuldades em relação a encontrar funcionários no mercado de trabalho, ainda que fossem grandes suas exigências em termos de perfil do candidato, que deveriam ter preparo técnico e comportamentos adequados para o trabalho na empresa, que envolveria esforços para a constante superação de suas capacidades individuais. A intenção não era a de identificar candidatos apenas satisfatórios, mas indivíduos que tivessem características compatíveis e semelhante às do empreendedor, que fossem ágeis, criativos, perspicazes, proativos; que tivessem, segundo EE68, atitude: ―(...) pra mim hoje, a nossa chave de sucesso é: a gente só contrata atirador de elite, assim. (...) Eu faço na entrevista; ― E aí, cara, o que é que você faz?‖ Pa, pa, pa, pa, pa, pá. Oh, então ta. É o seguinte você ta vindo trabalhar em uma empresa que trabalha com novos negócios. Então, entra no site tal, que é um site de tendências, olha a tendência, identifica uma e me traz uma proposta de negócio. Eu boto o cara pra fazer o que ele vai fazer aqui. ‗Topa?‘ – Topo! ‗pra quando?‘ Aí tem gente que fala, ah na próxima semana... tem outro que fala assim: pra quando você quer? Aí eu falo, pra amanhã. Amanhã o cara ta aqui trazendo a proposta. Pô, esse cara pra mim tem atitude. (...) Em geral, você acerta.‖ (EE68) Tal qual proposto por Ling et al (2007), os valores do líder, ligados à inovação tendiam a exercer fortes efeitos benéficos sobre suas firmas. Os processos de seleção nessas firmas buscavam a identificação de candidatos 100 cujos perfis fossem compatíveis com os valores e a cultura da empresa (cultura da inovação). Identificadores de oportunidades buscavam empregar profissionais cuja motivação para o trabalho fosse a busca pela satisfação e o crescimento pessoal (CHU et al, 2007), ou seja, idêntica à sua. O objetivo era trabalhar com pessoas que tivessem envolvimento efetivo com a companhia, que estivessem satisfeitas com seu trabalho na firma: ―Eu só trabalho com gente que queira participar do dia-a-dia. Tenho funcionário meu gerente meu que no domingo 10 horas da noite está mandando e-mail – ―Chefe, terminei aquilo que eu tava fazendo‖. Não era para ele ter feito no final de semana, mas no final de semana ele tá casa dele, arma o computador, e começar a fazer e pronto. Que que é isso? São pessoas que tão envolvidas com a companhia, satisfeita com a companhia...‖ (EE36) Os empreendedores deste grupo, ao contrário do que ocorreu com os empreendedores dos demais grupos, foram os únicos a acreditar veementemente na importância de se depositar confiança nos empregados, que viram como passíveis de confiança, o que de acordo com Penrose (1959), seria fundamental para o crescimento: ―Se você confia plenamente nas pessoas, o conjunto de pessoas que vão te dar resultados excelentes é muito maior que, porque no rol das pessoas, as pessoas querem sim gerar resultados. Mesmo as más têm uma certa tendência a querer se superar, ir além (...) Então é muito melhor deixar as pessoas agirem livremente e não se preparar tanto pra isso e também não deixar de ter mecanismos para punir e evitar os excessos da maldade‖ (EE43). Em empresas que haviam atingido um tamanho maior, os empregados que se destacavam chegavam a se juntar ao rol de associados da empresa. Identificadores de oportunidades geralmente consideravam que empreendedores tinham uma grande parcela de responsabilidade na formação da cultura organizacional e nos valores de seus empregados. De acordo com Selznick (1957), sob o ponto de vista de sistemas sociais, as organizações infundidas com valores passariam a simbolizar as aspirações da comunidade, seu senso de identidade. Valores e aspirações sociais foram um ponto forte nas declarações destes empreendedores. Segundo Selznick, a institucionalização, ou a infusão de valores organizacionais dependeria de quanto espaço se teria para as interações de grupo e pessoais. No entanto, 101 quanto mais precisos fossem os objetivos da firma, e mais especializadas suas operações técnicas, menor seria a oportunidade para que as forças sociais afetassem o desenvolvimento da firma. Entre os identificadores de oportunidades, no entanto, mesmo aqueles da área tecnológica, atribuía-se grande importância às interações sociais dentro da firma. Havia grande preocupação com a formação de valores. No caso de EE09, empreendedor da indústria de autopeças, a preocupação com a infusão de valores (SELZNICK, 1957) se estendia para além de sua própria firma, abrangendo a indústria de autopeças como um todo, via AMAP. Ao discordar da opinião de um de seus colegas breaking frees em relação à existência de um ―bichinho da indústria de autopeças‖ que transformaria empregados inicialmente honestos em pessoas facilmente com tendência à prática sistemática de atos ilícitos, EE09 argumentou que não concordava; para ele, os roubos nas empresas de autopeças estavam ligadas à falta de preocupação de boa parte dos empreendedores com a formação de valores dentro de suas firmas: ―Assim, eu concordo em parte, mas a gente também precisa ir lá trás, a estrutura familiar dessa pessoa, quando a gente fala de valores é o que compõe valor, você hoje não pode ―a partir de hoje sou uma pessoa honesta/ a partir de hoje sou uma pessoa desonesta‖, não é assim, na verdade são valores que vão se corrompendo ao longo de um tempo. Não sou psicólogo para fazer essa analise, mas posso dizer o seguinte, talvez a gente peque muito pela falta de formação do nosso pessoal, da nossa mão de obra.‖ (EE09) Identificadores de oportunidades compuseram o único perfil motivacional a apresentar sistematicamente modelos de liderança cognitivos (WITT, 2007); ou seja, induziam seus funcionários a adotar seus modelos de negócios como se fossem seus, a pensar como se fossem os próprios donos, o que pareceu levar à confiança necessária ao crescimento (PENROSE, 1959). Os líderes atuavam como modelos a serem seguidos (WALDMAN E YAMMARINO, 1999). Todos, tanto no comércio como nas incubadoras cobravam de seus empregados mais que a simples técnica - senso crítico - por parte de seus funcionários. O desenvolvimento deste senso crítico e a confiança dele decorrente faziam com que não houvesse em suas empresas tanta resistência à delegação, que segundo Penrose (1959) seria indispensável ao crescimento: 102 ―Então, mas na verdade o que cabe à gente como líder, como chefe, como empresário, estimular que a pessoa busque também e não simplesmente fazer por ela, em algum momento vai pesar numa decisão e eu tenho que ter a confiança dessa decisão que ela vai tomar seria mesma que eu tomaria (...) a partir do momento que você vai seguindo uma linha de raciocínio, o mesmo raciocínio que eu quero vai te dar segurança para no momento de decisão pensar ―se eu fosse o EE09 nesse momento acho que ele tomaria essa decisão (...) Acho que a presença física nos limita demais como empresários, aí entra aquela questão do empreendedorismo: por que eu não cresço? Porque estou limitado à minha empresa, teria que ter um auxiliar, mas não confio nas pessoas, não confio nas minhas ferramentas e por isso não cresço...‖ (EE09). O papel dos gerentes nessas firmas era o de guiar suas equipes sob condições de incerteza (MARION E UHL-BIEN, 2001), mantendo os membros de sua equipe na mesma direção, rumo a um objetivo comum, preservando a cultura organizacional baseada nos pilares de inovação e crescimento: ―A gente tá num ritmo muito forte de criar esse segundo nível aí. Então, a gente tá dando mais responsabilidade para os gerentes. E nós sócios estamos atuando mais, cada vez mais como executivos mesmo. Eu não estou lá no dia a dia, na ponta, entregando, etc. E as coisas, basicamente são...e algumas coisas de crescimento em si. (...) A gente tem uma preocupação muito grande de deixar todo mundo olhando para a mesma direção. (...) Então a gente fez uma convenção. Todas as pessoas, de todo o Brasil, vieram para o Rio. A gente ficou dois dias num hotel mostrando o que a empresa fez no ano passado, mostrando resultados, quais são os planos, então isso ajuda muito‖ (EE68). Este grupo de empreendedores se preocupava ainda em criar mecanismos de retenção e valorização de seus funcionários. Falavam freqüentemente nos benefícios concedidos a funcionários: ―Sobre a folha de pagamento eu tenho mais ou menos 45% de encargos. Sem considerar os benefícios que a gente chama plano de saúde. Um plano de saúde, plano de dental, condução e vale refeição, nosso custo benefício mais encargo chega a mais ou menos 70% do salário.‖ (EE36). De acordo com Hiltrop (1996) e Luthans, (1998), a concessão de benefícios contribuiria para uma maior qualidade do produto, maior aceitação de mudanças e maior desempenho da firma (aspectos que foram tidos como essenciais por estes empreendedores). Eram líderes que conjugavam fatores motivacionais extrínsecos (sob a forma de benefícios e salários) com fatores motivacionais intrínsecos, o que, segundo Williams e Yang (1999), Akerlof e 103 Kranton (2005) e Deci e Ryan (1985), faria com que altos níveis de desempenho por si só fossem considerados valores importantes para os indivíduos. Identificadores de oportunidades se caracterizaram ainda por apresentar investimentos altos em treinamento. Seus funcionários eram geralmente incentivados a fazer cursos de MBA, mestrado e doutorado. Neste grupo, ao contrário do proposto por Banks et al (1997), também não foi identificada falta de pré-disposição em permitir que seus funcionários se ausentassem de seus postos de trabalho. EE60 disse ter até mesmo que se vigiar para não exagerar em treinamentos. Os resultados dos investimentos em treinamento tanto de empreendedores como de funcionários, foram vistos como eficientes, mesmo quando estes não permaneciam na empresa por muito tempo. Além disto, tratava-se de uma forma de garantir que o funcionário daria o melhor de si e que permaneceria satisfeito durante o tempo em que permanecesse na empresa: ―Eu às vezes tenho que me segurar para não exagerar. Você dizer o seguinte (já houve, né): ―ah...eu vou mandar esse cara fazer uma pós-graduação e vou estimular ele a fazer uma pós-graduação em [interrupção]. Eu vou mandar, aí, automaticamente, se ele pensar friamente, ele vai dizer: ―não, se eu preparar esse cara bem demais, pô, ele pode me largar‖. Como já aconteceu várias vezes aqui, entendeu? A gente preparou a pessoa e saiu. A gente tem esse problema, muito sério. (...). Você perde pessoas em que você às vezes investiu, mas hoje, a gente procura fazer isso, mas quando eu faço, a minha visão é...é assim: ‖eu tenho alguma chance de que esse cara fique feliz aqui dentro‖, como eu ficava quando a minha empresa me mandava‖ (EE60) Também havia muito espaço dedicado ao treinamento interno, muito variado, com grupos de discussão, troca de informações, cursos disponibilizados na intranet: ―A gente está estruturando alguns cursos de formação internos, que passam por todos os assuntos. Isso é on line, para que todas as pessoas possam acompanhar, então é por vídeoaula, etc. As próprias pessoas dão aula. (...) A gente define um kit básico de leitura. Todo mundo que entra aqui, a gente diz que tem que conhecer pelo menos o conjunto de livros, tal e tal, e as pessoas vão e dominam aquilo ali. A gente tem uma política muito forte de teses, projetos de formatura.(...) Então, a gente discute muito, conversa muito sobre isso. A gente publica muito artigo juntos. ― (EE68) 104 O treinamento dos próprios empreendedores se mostrou intenso. Alguns faziam doutorado em áreas tais como gestão da inovação ou análise de sentimentos, que permitiam uma melhor compreensão do comportamento do mercado. Eram empreendedores com forte vertente autodidata para assuntos ligados à gestão. Participavam de cursos na incubadora. No caso dos identificadores de oportunidades, a alta eficiência dos treinamentos pareceu ser o resultado não apenas de uma melhor qualidade do treinamento em si (WESTHEAD E STOREY, 1996), mas de um conjunto de fatores, entre os quais: um nível mais adequado de contratação, menores dificuldades de retenção de funcionários do que em grande parte das demais e um mecanismo de seleção natural, representado pela própria cobrança de senso crítico por parte de seus funcionários: ―(...) os mais antigos saíram da empresa, se eu te disser que o problema está comigo, pode até ser em parte, porque sou uma pessoa muito exigente, faço com que as pessoas que estão trabalhando comigo, desenvolvam uma coisa que a vida cobra elas e de repente vão passar a existência inteira sem ver, que é o desenvolvimento do senso critico, você não pode fazer por fazer, você tem que entender porque faz‖ (EE09). Apenas os realmente aptos ao alto nível de exigência permaneciam nessas empresas. 5.2.2 Estado da Arte As exigências de contratação dos estado da arte mostraram diferir daquela dos identificadores de oportunidades em dois pontos: (1) Empreendedores Estado da Arte não contratavam pelo feeling, mas por critérios mais objetivos, tais como o currículo do candidato; e (2) Empreendedores estado da arte tenderam a exigir um menor grau de comprometimento com a organização em termos de extensão do horário de trabalho. Seus funcionários não precisavam viver e pensar a empresa 24 horas por dia; precisavam ser excelentes, mostrar grande competência técnica e comprometimento com os resultados do trabalho nos momentos que passavam dentro da empresa: 105 ―No início a gente buscava sempre pessoas muito comprometidas, que fossem sempre fiéis, aquelas pessoas que vestem a camisa e depois a gente foi buscando pessoas qualificadas. Às vezes você tem um funcionário que ele é um cara que não vai querer trabalhar para você no final de semana, ela é um cara que não vai querer ficar até mais tarde, porque ele tem outras atividades, mas ele dentro do horário dele, dentro do que ele se compromete a fazer ele é muito bom..‖ (EE31) A formação do profissional que trabalha para a firma é de extrema importância para este tipo de empreendedor. A maior parte se encarregava de formar seus próprios funcionários, pois evitar a entrada de pessoas com vícios. Muitos eram estagiários. Passava-se aos funcionários não apenas conhecimento técnico, mas valores (SELZNICK, 1957), ligados ao orgulho de trabalhar com medicamentos: ―Não, porque ninguém vem pronto. Lá na outra empresa não tinha pronto. Eu precisava e até gostava, porque todos aqueles que vieram já com experiência de fora eu tive que demitir, porque vieram com vícios, então eu prefiro trabalhar com profissional muitas vezes que é profissional formado por mim. Lá, todos os farmacêuticos eram farmacêuticos que vieram recém contratados, vieram como estagiários que eu procurei aproveitar na forma de estagiários e se formarem aí foram contratados. Eles praticamente exerciam funções assim por gostar, de ter orgulho, de saber lidar com os médicos, de conversar com os médicos e de saber exatamente que essa é uma atividade importante. (...) Então ter orgulho, ter satisfação e acima de tudo ter a responsabilidade de lidar com todos os medicamentos que a gente faz aqui. Então, eu até prefiro trabalhar com pessoas que venham para cá e eu possa treinar, fazer treinamento, acompanhar‖ (EE34) Dada a especificidade do negócio com que trabalhava, o treinamento era predominantemente interno, orientado pela própria empreendedora, profunda conhecedora do que havia mais avançado de nutrição parenteral. Dado o altíssimo grau de inovação que os produtos ou a tecnologia representava, seria praticamente impossível que funcionários recebessem treinamento técnico mais adequado às necessidades da empresa fora dela. Internamente, havia muito treinamento, inclusive para profissionais da área de vendas. Em todas as funções, a mão de obra, devido ao fato de o trabalho ser muito específico, devia ser formada: ―(...) Não, a gente no início procurava mais técnicos nessa área tecnológica, biólogosmas para o Call Center mesmo a gente que 106 tinha que formar. A gente tem que dar um treinamento muito específico, na verdade, para qualquer atividade na empresa você tem que formar e isso já é um problema. Por mais que você consiga pegar um farmacêutico, um biólogo, um técnico de laboratório, você vai ter que formar ele naquela atividade. Então a formação da mão-de-obra é muito cara e às vezes você forma e quando chega a mão-de-obra formada ela sai por uma outra coisa, olha o que tem de concorrente e eles saem para as concorrentes..‖ (EE31) Estes empreendedores consideravam importante seus gestores terem nível de mestrado ou doutorado na área técnica. Em geral, os resultados dos treinamentos foram considerados muito satisfatórios. Empreendedores estado da arte não pareceram apresentar necessariamente habilidades maiores em relação a liderança. Foram relatadas, por exemplo, dificuldades em moldar o comportamento de gestores. Segundo EE34, tal fato a teria levado a ser mais rigorosa em termos de supervisão e controle (WITT, 2007). Parecia difícil para a empreendedora desenvolver a confiança, que segundo Penrose (1959), seria necessária ao crescimento da firma, inibindo a delegação: ―Confiança demais... Pé atrás. (...) Sempre procurando ver, sempre procurando checar. Às vezes delegar poderes e você ver que as pessoas não sabem usar muito os poderes que têm. (...) De uma forma errada. (...) Por exemplo, as pessoas que você coloca em chefia daqui pra dentro te passa uma coisa, mas lá fora outra. (...) Por exemplo, eu nunca gostei que maltratassem funcionários, que tratassem de uma forma hostil. Os meus gerentes chegavam pra mim e diziam uma coisa e quando eu ia ver o outro lado era totalmente diferente.(...) Hoje, a desconfiança é toda assim em papel, documento, checagem. As pessoas que tinham esse poder achavam que podiam resolver e quando chegavam a mim para cobrar realmente as interpretações eram diferentes. Se não é eu ir ao povo saber, escutar realmente essas coisas acabam...‖ (EE34) A delegação também se mostrou difícil para este grupo de empreendedores em relação às tarefas técnicas, dado que seu expertise era difícil de ser igualado. Parecia difícil de existir confiança de que alguém além do empreendedor fosse capaz executá-las de forma tão perfeita quanto ele, ainda que o serviço se referisse a vendas e contato com o cliente. A retenção de funcionários se mostrou difícil apenas em situações de falta de controle financeiro e competição com grandes empresas multinacionais que se instalaram no país e que assediavam seus funcionários. Devido ao altíssimo nível técnico dos empregados das empresas de empreendedores 107 estado da arte e a inexistência de concorrentes nacionais diretos, seria difícil, muito difícil, a concorrência conseguir funcionários tecnicamente mais preparados a não ser buscando dentro destas empresas: ―Essa multinacional começou a trabalhar de uma forma que começou a ligar para cá, mandar os funcionários ligarem pra cá para pegar os profissionais, então foram muitos técnicos, muitos farmacêuticos já preparados para trabalhar nessa multinacional e a administradora que eu tinha trabalhando comigo também foi trabalhar nessa multinacional só que nesse período, faturando muito, mas também com muito dinheiro para receber ela começou também a ser assediada pela multinacional e começou a talvez gerar uma crise velada dentro da empresa. Ou seja, pediu para sair‖ (EE34). EE31 também apontou dificuldades de retenção de mão de obra devido a práticas de a seu constante assédio por parte de empresas multinacionais: ―Ele oferece mais, por exemplo, eu tinha uma gerente de marketing em São Paulo, ela ganhava acho que 8mil reais. A empresa, ela era muito boa, a empresa foi lá e ofereceu 15 e tirou ela e depois demitiu. Na verdade assim, tira não só para absorver o conhecimento que ela tem, mas também para tirar essa competência da gente, porque, por exemplo, se você pega a industria farmacêutica, indústrias que já estão bem estruturadas, existe até um código de ética entre as empresas, você não pode contratar quem está na outra, em algumas indústrias você tem isso. Essa não, era uma indústria que estava pouco organizada então as pessoas...‖ (EE31) Apenas uma empreendedora disse ter feito curso de gestão – o MBA executivo do COPPEAD, que considerou bom, mas que não se encaixava exatamente com a realidade do empreendedorismo, a não ser no que se referia à disciplina crescimento organizacional: ―Não sei se isso é relevante, mas a gente passou por aquela fase que é a fase de crescimento da empresa, e o que eu aprendi na matéria da Denise eu pude ver a aplicação exata dentro da minha empresa. (...) O MBA ajudou muito para organizar os assuntos e conseguir visualizar como que o mundo de negócios funciona nas outras empresa, eu pude parar para estudar um monte de coisas que são importantes para mim e como a minha formação é técnica, eu sou farmacêutica, eu não tenho conhecimento administrativo, de administração, de gestão de empresa. Então, isso foi importante, eu pude melhorar esse lado de gestão da empresa, mas o MBA é muito superficial para o que eu precisava como empreendedora, esse MBA executivo não é um MBA para quem é um empreendedor iniciante...‖(EE31) 108 Assim, houve treinamento para uma das empreendedoras, na área de gestão, mas que visava à formação de executivos, cuja realidade era diferente daquela dos empreendedores. 5.2.3 Especializados Os processos de recrutamento e seleção de especializados se baseavam em critérios essencialmente técnicos. As contratações eram feitas mediante análise de currículo ou mediante indicação de universidades ou escolas técnicas. O funcionário, mesmo o vendedor no shopping Center de informática, precisava ter conhecimento técnico: ―Através de currículo e indicação de escolas técnicas... vai numas escolas técnicas pega uns currículos, tem que ser técnico para entender o que está vendendo, no ramo de informática, se o cara não entender ou qualquer outro ramo, se ele não entender o que está vendendo ele não vai vender‖ (EE23) O empregado ideal para este tipo de empreendedor não é aquele que quer apenas receber um salário no final do mês, mas o que gosta de estudar, de se aprimorar na área técnica. Assim como no caso dos identificadores de oportunidades, alguns empreendedores especializados ofereciam participação na empresa a funcionários que se destacassem: ―Eu procuro privilegiar aqueles funcionários que se destacam e puxo eles pra posições de comando, de liderança, né, e eu procuro incorporar com o tempo, esses funcionários ao rol de associados da empresa. Eu vou ficar velho, vou ter que parar de trabalhar... Pra que a empresa não pare, precisa ter outras pessoas à frente, então, eu estou preparando pessoas que vão... que já são sócias e vão ficar com a empresa quando eu tiver que me afastar.‖ (EE28) Ao contrário do sugerido por Parks (1977), dois destes empreendedores não se mostraram particularmente relutantes em pensar e tomar medidas a respeito de questões de sucessão empresarial. Não pareceu haver dificuldades particulares em encontrar candidatos nos processos de recrutamento seleção, mas os contratados muitas vezes 109 recebiam bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ou CNPQ. Após extinção da bolsa a retenção se tornava difícil devido aos altos salários que deveriam ser pagos a mestres e doutores: ―O CNPq dá bolsa de doutorado na empresa. Fazer fixação de doutores na empresa, então você dá bolsa por dois, três anos e depois você tem que bancar, então a gente usa normalmente, mas na hora de contratar, contratar um doutor é caro.‖ (EE53). As dificuldades de retenção de funcionários foram consideradas de média a alta, nessas empresas, fosse porque estes não correspondiam ao que dele patrões sempre muito exigentes esperavam, fosse porque a firma passava a não ter condições de pagar salários consideravelmente altos a funcionários com nível de conhecimento técnico muito alto. Em relação a treinamento de funcionários, diferentemente do proposto por Banks et al (1997), os especializados, mesmo no shopping center de informática, faziam consideráveis investimentos. Falando a respeito EE23 argumentou: ―Ou você treina ele [o funcionário recém-contratado], ou você tem com o funcionário uma relação mais pessoal, de amizade, tenta moldar ele com profissionalizante, cursos profissionalizantes, pelo SENAI, entendeu? Para ele ficar melhor, mas alguns têm a oportunidade e aproveitam; alguns não aproveitam... então de quinze funcionários, oito, nove aproveitam; sete você tem que mandar embora, recontratar mais sete, treinar sete e fazer todo esse trabalho de novo.‖ (EE23) Portanto, especializados constituem outro grupo que se mostrou favorável ao treinamento fora do local de trabalho. Contudo, os treinamentos nem sempre foram vistos como efetivamente aproveitados pelos funcionários. Alguns dos treinados haviam sido demitidos ou saíram das empresas, porque esta já não podia mais pagar seus salários. Todos os empreendedores haviam feito cursos na área técnica que eram essenciais para o trabalho que executavam (mestrado, doutorado e cursos técnicos). Contudo, os investimentos deste grupo de empreendedores pareceram menores no que se refere à aquisição de conhecimento em gestão empresarial. Apenas nas incubadoras foram identificados empreendedores que haviam feito cursos do gênero (oferecidos pela própria incubadora ou por 110 escolas de negócios conceituadas). Os cursos realizados não teria levaram a melhores resultados, visto que não se aplicavam à realidade específica de MPMEs: ―Não sei fazer curso...fazer curso sim, mas não sei se resolve...eu fiz alguns cursos, etc, mas você vai nesses cursos de empreendedorismo, ou de gerenciamento, disso, daquilo... os exemplos que dão são exemplos da Dell, Coca-Cola, não tem nada a ver com a realidade, absolutamente nada, entendeu? É outro mundo‖ (EE53). Estes empreendedores disseram participar de cursos na incubadora, alguns em parceria com o COPPEAD, que julgaram razoavelmente satisfatórios. Não foram feitas inferências a respeito de sua aplicabilidade prática. 5.2.4 Organizadores Alguns organizadores se mostraram com dificuldades de encontrar candidatos adequados para a contratação. ―Ah... Um problema que a gente sempre enfrenta aqui é a mãode-obra, mão-de-obra qualificada, que é bem difícil encontrar. (...) Profissional... qualificado que tenha... que trabalhe com... uma mãode-obra com qualidade. É... eu não sei se é... porque na Ilha tem pouca gente que trabalha com isso, poucos profissionais, ou se o pessoal de fora da Ilha não quer entrar... não quer a vir pra ilha por causa da distância‖ (EE04). Geralmente colocavam anúncios em jornais. Diante das dificuldades de contratação, EE65 havia desenvolvido um procedimento de recrutamento e seleção para sua firma, a fim de aumentar a eficiência do processo – terceirizou parte dele. Sua intenção era encontrar um funcionário, não que necessariamente buscasse incessantemente a superação de suas próprias capacidades, mas que tivesse desempenho satisfatório: ―Não tava dando problema, eu tava com dificuldade de achar pessoas, entendeu? (...) Lá nesse grupo de trabalho foi identificado que se eu fizesse de repente uma contratação profissional... (...) eles pegam um grupo maior, fazem uma grande triagem, entregam, por exemplo, três nomes; eu trago pra cá os três nomes e vou fazer as 111 minhas entrevistas, mas em cima de um grupo já pré-avaliado (...) Eu gastava muito mais tempo, que me obrigava a entrevistar todo mundo (...) É, eu não sei quem eles dispensaram do outro lado, isso não passa pela minha cabeça e foi efetivo. Atingiu o objetivo que se queria? Atingiu, interessou tava procurando contratar a pessoa.‖ (EE65) . O treinamento se dava prioritariamente na tarefa específica e ocorria dentro da firma. Não eram treinamentos grandiosos, não havia grandes gastos com treinamentos, que eram realizados com base nas regras e procedimentos estabelecidos para os processos específicos da firma. Esperava-se ainda que os funcionários fossem proativos na busca de informações sobre legislação: ―Olha, eu tenho cobrado, primeiro, buscando cada vez mais ter pessoas mais especializadas... dar oportunidade de treinamento, nada muito grandioso também não, mas também não aceitando já determinadas falhas, buscar que a pessoa busque conhecimento, vai fazer uma atividade, ―ah não sei como que é‖, tudo bem, o que diz a norma sobre esse assunto?´‖ (EE65) No que diz respeito ao treinamento do próprio empreendedor, de início, não foram citados treinamentos em gestão empresarial. EE30, por exemplo, não percebia tal necessidade: ―Quer dizer, na realidade eu nunca fui administrador, isso aí é uma coisa que a gente vai ao longo do tempo, vai tentando ganhar de alguma forma, ne (...) não precisa ser um mestre no cargo ou curso de gestor, que eu acredito que em algum momento eu vá precisar de mais informação, enfim, de repente fazer um curso específico, mas no momento não vejo essa necessidade toda‖ (EE30). O único organizador a revelar ter feito um específico para a melhor gerenciar sua empresa, foi EE10, que havia adquirido então conhecimentos extras em legislação tributária, que lhe teriam permitido melhorar seus controles e planejamento. 5.2.5 Breaking Frees Breaking frees em geral se disseram com grandes dificuldades de encontrar mão de obra. Seus processos de contratação de funcionários se mostraram bastante deficientes. Eram empreendedores que não utilizavam 112 tecnologia alguma de recrutamento e seleção, e que não tinham feeling particularmente apurado para a identificação de bons candidatos; tampouco sabiam onde buscá-los ou como fazer para atraí-los. Não contratavam agências especializadas, para a contratação de funcionários. Além disto, pagavam baixos salários: ―Então, eu uso pouca tecnologia de gestão de recrutamento. Eu acho que infelizmente, de repente. Pode ser que eu pudesse ter uma melhor escolha, entendeu? Então, sempre vem uma indicação, algum anúncio, né...então, como bons profissionais de hoje tem um mercado muito restrito, e eu tenho uma faixa de preço que não é muito alta...‖ (EE54) Os candidatos eram muitas vezes selecionados por indicação de pessoas próximas, não necessariamente com conhecimento suficiente para fazer boas escolhas. Tratava-se de encontrar alguém que fosse de ―confiança‖. A motivação se baseava em fatores essencialmente extrínsecos. Por diversas vezes, foram feitas referências a baixos salários e dificuldades de prover benefícios a seus funcionários. Diversos deles mantinham funcionários ―sem carteira assinada‖. Como instrumentos de motivação, por diversas vezes foram feitas menções a vales refeição e vales transporte que funcionavam como principais instrumentos utilizados para a retenção de empregados. Foram empreendedores que já se mostravam aliviados quando encontravam um profissional com nível de desempenho considerado razoável. Em geral, desempenho permaneciam com insatisfatório, empregados fosse porque mesmo com aqueles consideravam o de não comprometimento com o trabalho uma característica da maioria dos empregados, o que faria com que dificilmente a simples substituição de funcionários, em sua visão, não levasse a uma solução melhor; apenas aumentando seu desperdício de esforços. O empregado é um mero executor das tarefas previamente determinadas pelo empreendedor. Não necessariamente havia a preocupação de fazer o empregado compreender a lógica do que estava fazendo, o que podia levar a uma redução de seu desempenho em relação ao padrão desejado: 113 ―Não. Eu, assim, eu, eu monto a estratégia, igual ao Capitão Nascimento, e eles que vão executar o serviço, entendeu? (...) Não, Não...Eu... tem certas coisas que eu tenho que fazer, não adianta, (...) O serviço braçal ele pode fazer, mas eu que tenho que bolar para ele fazer, entendeu o que eu tô falando? Eu faço isso, eu quero do meu jeito, então eu determino, escrevo e faz aquilo, não tem mistério‖ (EE01) Segundo Kreps (1997), diretrizes que especificassem em detalhe cada tarefa atribuída ao empregado e seu resultado esperado deixariam pouco espaço para que o empregado exercesse sua própria discricionariedade. A forte regulação levaria ao decréscimo da motivação intrínseca, o que levaria o desempenho dos empregados a ser dirigido essencialmente por motivações extrínsecas, geralmente pecuniárias. Nestes caso, um alto nível de desempenho, por si só não seria gratificante para o empregado. O gerente no caso das empresas de breaking frees não tinha a função de propagar valores ou de orientar todos na empresa rumo a um objetivo comum. Muitas vezes sequer tinha participação efetiva na tomada de decisões. Sua função essencial era a de supervisionar comportamentos: ―Não, eu falo assim, vigiar não é desconfiar que tá alguém roubando, fazendo alguma coisa, não. Mas tomar conta dos seus negócios, porque patrão tem que olhar, né. Será que o funcionário está atendendo bem, será que o funcionário e o cliente chega e pergunta tem e ele fala que não tem. (...) É porque na frente da loja temos um subgerente que nos auxilia, né. Que está ali direto, então ele vai visualizando toda a transação que acontece lá na frente. Então qualquer anormalidade ele vai tentar resolver, se não estiver dentro da alçada dele, ele traz aqui pra gente.‖ (EE05). As câmeras instaladas em pontos estratégicos das lojas se tornavam outro importante instrumento para o controle do comportamento de funcionários. Para Edmondson (1999) e Weick e Sutcliffe (2003), quando os indivíduos tentassem segurar uma oportunidade por improvisação e fossem punidos quando falhassem, independente de suas características, tenderiam a adotar comportamentos defensivos, não empreendedores. Foram consideráveis os conflitos entre empreendedores e funcionários presas, assim como os relatos de problemas de retenção de funcionários devido a insatisfação com o ambiente de trabalho ou remuneração. Principalmente, quando o empregado se via com a possibilidade de trabalhar em empresas em que todos estes aspectos fossem melhores. 114 Havia pouco investimento no desenvolvimento de competências. O treinamento, em geral, se dava dentro da própria empresa, sob a supervisão e orientação de o empregador ou funcionários mais antigos. Não foram citados casos de treinamentos fora da firma. Em geral, o empregado aprendia no exercício de sua própria função. Nas empresas familiares, o investimento realizado em treinamento se confundia muitas vezes com o gasto na educação dos filhos. Os empreendedores que haviam recebido treinamento tanto nas incubadoras como no comércio citaram por diversas vezes os cursos realizados no SEBRAE ou em parceria com estes, como os realizados na AMAP, por exemplo, de direito tributário. No caso de conhecimentos sobre legislação, de modo geral, os resultados foram considerados. No caso de cursos gestão, nem sempre o conteúdo era aplicado na prática: ―Foram mais de 10 cursos lá do SEBRAE, era um atrás do outro. A gente fez planejamento estratégico, financeiro, fizemos dois financeiros, uma série de cursos. De vendas, de gestão...(...) Eu acho que muda assim a nossa visão, entendeu? Mesmo que a gente não consegue implementar aquelas idéias...(...) Mas a gente sabe que aquilo existe, entendeu? Sabe mais ou menos qual é o caminho que vai fazer (EE29). Verificou-se assim que breaking frees apresentaram comportamento semelhante ao encontrado por Banks et al (1997): utilizavam cursos promovidos por associações, seminários com menos de cinco dias de duração e seu próprio corpo funcional como sua principal fonte de treinamento. No caso de suas empresas, de fato, a ausência dos funcionários de seus postos de trabalho parecia fazer uma maior falta aos olhos do empregador. O quadro 5.2 mostra o comportamento dos cinco perfis de empreendedores em relação ao desafio da provisão de recursos gerenciais: 115 Contratação de Funcionários Identificadores de Oportunidades Especializados Empreendedores Estado da Arte Organizadores Baseada no feeling, busca de funcionários com conhecimento técnico e que fossem compatíveis com os valores organizacionais da inovação Busca de funcionários por seu conhecimento técnico Busca de funcionários que pudessem ser moldados (em relação a valores do trabalho, etc), altamente interessados e com boa formação Busca por através de anúncios de jornais Busca através de empresas especializadas em recrutamento e seleção Breaking Frees Falta de técnicas de recrutamento e seleção. Candidatos encontrados geralmente por indicação de pessoas mais próximas Treinamento de Funcionários Identificadores de Oportunidades Especializados Estado da Arte Organizadores Breaking Frees Treinamento interno e externo. Cursos de curta e longa duração: MBA, mestrado, doutorado, entre outros. Grupos de discussão, kits básicos de leitura. Treinamento interno e externo. Cursos de curta e longa duração: mestrado e doutorado (em áreas técnicas) e cursos técnicos. Não foram mencionados cursos que visassem ao aprimoramento gerencial. Treinamento interno e contínuo, altamente específico, realizado pelo próprio empreendedor, em tecnologia de ponta Treinamentos internos, de curta duração, sobre os processos e procedimentos internos da firma. Baixo investimento em treinamento. Forte incentivo à aprendizagem autodidata sobre legislação. Treinamento interno, de curta duração, geralmente na própria execução da tarefa, provido pelo próprio empreendedor ou por funcionários mais experientes Resultado (na visão dos empreendedores) Satisfatório Satisfatório Satisfatório Insatisfatório Satisfatório Insatisfatório Resultados (na visão dos empreendedores) Satisfatório Satisfatório Satisfatório Satisfatório Insatisfatório 116 Treinamento de Empreendedores Identificadores de Oportunidades Especializados Estado da Arte Organizadores Breaking Frees Resultados (na visão dos empreendedores) Satisfatório Cursos de Mestrado e Doutorado. Aprendizagem autodidata sobre gestão e cursos na incubadora Cursos de aperfeiçoamento na área técnica (mestrado, doutorado, cursos técnicos). Cursos de Satisfatório gestão na incubadora e em escolas especializadas em gestão (de curta duração) . Poucas evidências foram encontradas. Uma empreendedora citou o MBA executivo do Não muito satisfatório, pois COPPEAD não correspondia à do empreendedor Poucas evidências foram encontradas. Um empreendedor havia realizado curso de direito Satisfatório tributário na AMAP Cursos na incubadora, na AMAP, no SEBRAE e na FIRJAN de curta duração Insatisfatório Quadro 5-2 Os 5 Perfis Motivacionais e o Desafio Aprovisionar Recursos Gerenciais 117 5.3 Gerenciar a Complexidade Para Fleck, tal desafio diz respeito à inter-relação intra- e interorganizacional que se amplia à medida que a organização cresce. Uma resposta satisfatória a este desafio envolveria, portanto, o comprometimento com o planejamento organizacional, fortes habilidades de resolução de problemas, levando a buscas contínuas por soluções, que por sua vez propiciariam a aprendizagem. Para a autora, tal habilidade passaria pelo planejamento, adoção de soluções sistemáticas para problemas enfrentados e interpretação adequada das informações obtidas, ligando as diferentes variáveis importantes para os processos organizacionais de forma apropriada 5.3.1.Identificadores de Oportunidades Tais empreendedores, independente da indústria em que atuavam, foram os campeões na percepção da centralidade do gerenciamento da complexidade. Houve muitas afirmações de que a administração se tornava mais difícil conforme a empresa crescia, dado o número de atores (funcionários, suas famílias, fornecedores, etc) e as conseqüências possíveis de seus atos: ―Mudou que eu sou um cara hoje em dia com menos sossego. Tá? Eu tenho mais responsabilidades, a dimensão das minhas decisões é maior. Então, eu hoje tenho plena consciência de que qualquer decisão minha, ela ultrapassa somente os meus desejos. Eu tenho que pensar numa quantidade muito grande e isso estressa. (...) É o aumento da responsabilidade, porque agora você tá com uma empresa que envolve compromissos seus e de outras pessoas que acreditaram em você. De famílias que sobrevivem porque você toma decisões certas aqui dentro. (...) A responsabilidade aumentou e ela é só sua, entendeu?‖ (EE60) Uma forte característica deste grupo foi que todos, sem exceção, planejavam. Para os identificadores de oportunidades, a incubadora apareceu como a principal facilitadora do processo de aquisição de conhecimento em planejamento estratégico. Mesmo aqueles que ainda não tinham sequer realizado sua primeira venda planejavam. O planejamento se mostrou 118 essencial para aqueles empreendedores com grande foco no mercado, dada a complexidade de sua interpretação. O planejamento pareceu possibilitar o alcance do público-alvo, via soluções não ad hoc, sistemáticas (FLECK, 2009): ―(...) a gente não tinha público-alvo definido, a gente foi testando alguns mercados, só que agora há um planejamento pra alcançar o mercado que nós definimos, que nós estudamos e isso nós devemos à incubadora, porque a incubadora nos deu uma consultoria de marketing muito boa e a gente conseguiu enxergar como chegar no mercado ao invés de bater de porta em porta, ao invés de oferecer pra todo mundo, a gente focou, tem condição de fechar agora esse mês, a gente vai chegar nesse cliente, já tem todos os caminhos, só...(...) planejamento é forte...(...) A gente tenta planejar cada passo, assim, minuciosamente, pra controlar o melhor possível o caminho.‖ (EE41) Note-se que para estes empreendedores, a própria conquista do cliente, que eles tanto prezam, estaria relacionada ao foco: ―(...) a não conquista do cliente tem a ver com o foco, você tem que entender o que você quer, aonde que você quer focar, e se as ações estão acontecendo nesse sentido‖ (EE58). Assim, também na indústria de autopeças, identificadores de oportunidades planejavam, o que ficou claro na crítica feita por EE09 a seu ex-patrão: ―Tinha problema na área administrativa [na empresa em que trabalhava como funcionário], por exemplo, você montava uma estrutura na empresa, uma estrutura de venda, em algum momento ele identificava que não ia dar certo, ou alguma outra coisa do gênero, ia lá e mudava tudo, só que mudava tudo, mas não fazia uma reunião, não havia planejamento, enfim, todos esses problemas, que são questões pontuais dentro da empresa, no somatório, num contexto geral eu me via limitado, as minhas ações‖ (EE09) O planejamento estratégico era importante ainda para viabilizar a participação em programas de financiamento ao empreendedorismo do governo, promovido por organizações tais como FAPERJ e FINEP. Identificadores de oportunidades eram gratos à incubadora por sua assessoria em relação a planejamento: ―a incubadora, ela oferece um conjunto de serviços como marketing, a parte de voltada...a parte de direito, né? A parte legal é... O planejamento estratégico, acesso a um conjunto de treinamentos e capacitações de novo empreendedor extremamente importante nos dias de hoje .‖ (EE39) 119 Todos os identificadores de oportunidades, no nível dos recursos de que dispunham, planejavam; corroborando o proposto por Westhead e Storey (1996), de que o planejamento independeria dos recursos disponíveis ao empreendedor, mas dependeria de sua pré-disposição em conferir verdadeira intencionalidade à firma (KATZ E GARTNER'S, 1988) e de alavancar seu crescimento no longo prazo: ―É, inclusive assim, esse crescimento foi em função da visão de médio e longo prazo, porque imediato não tinha recurso, mas se a gente continuasse com pouco investimento, tá... aí a gente iria ter a certeza de ter sempre uma receita muito pequena e com um serviço só. Então, tipo assim... a gente ia ficar sempre com a visão de nunca se alavancar. Então, a gente preferiu, mesmo sem ter o cliente pagando por essa estrutura, a gente se alavancar tecnicamente, criar o produto pra poder estar pronto pro mercado, pra um outro tipo de mercado. (...) Se você acredita mesmo num negócio criado ao longo do tempo você não pode ficar tendo ações de curto e médio prazo, porque o principal sintoma de você não acreditar no negócio é se você volta todo o seu escopo pra curto e médio prazo. Você acha que a qualquer momento você pode detonar‖ (EE43) Leonard-Barton (1995) e Sommer e Loch (2004) salientaram a falta de estudos que contemplassem a efetividade do planejamento. Entre os poucos existentes encontra-se o de Kuemmerle (2005), que afirmou que negócios se desviariam de forma considerável do caminho previamente traçado para a expansão e até mesmo aqueles que teriam um caminho balanceado raramente o seguiriam à risca, porque seu acesso a oportunidades de expansão e recursos seria desproporcional e dirigido por fatores fora de seu controle; os empreendedores que melhor antecipassem estas tensões seriam mais capazes de gerenciá-las. De acordo com Delbecq e Van de Ven (1971), o sucesso na criação de novos negócios estaria fortemente relacionado com o processo de planejamento realizado antes mesmo que a firma abrisse suas portas. Quanto mais o empreendedor seguisse seu Modelo de Programação de Planejamento (MPP), maior seria seu desempenho após a o início das atividades. Verificouse no presente estudo que identificadores de oportunidades, com seu feeling para identificar variáveis importantes na determinação do comportamento no mercado (KIRNER, 1973;1979), não apenas tenderam a seguir seus planos de negócios, apresentados por ocasião de sua entrada na incubadora, mas 120 também foram os que mais disseram ter se aproximado dos objetivos e metas traçados nestes planos: ―Engraçado, eu achava que ia, quando eu fiz o meu plano de negócios da incubadora, eu fiz um planejamento de 5 anos né. Então assim, no início do planejamento eu pretendia assim conquistar leitores e autores dentro ali do fundão, bem do fundão mesmo e da universidade federal que era onde eu estava. Depois eu ia crescer um pouco, ia começar a pegar outras universidades fora do fundão, não sei o que. Depois eu ia pegar outras universidades do estado do Rio, e depois eu ia começar a ter gente, autores e leitores no Brasil inteiro. E no fundo foi isso que aconteceu assim. De uma certa maneira aquele planejamento que não era um planejamento tão, não foi assim exatamente do jeito que eu planejei, mas em última análise foi isso que aconteceu, hoje em dia eu tenho autor do Brasil inteiro né.‖ (EE66) Neste grupo de empreendedores houve até quem fosse capaz de planejar com efetividade mudanças completas de perfis de sua empresa com uma antecedência de seis meses, sempre acompanhando a evolução do mercado: ―Então, esse é o trabalho; é esse o tipo de interferências que eu faço no mercado. Vou acompanhando o mercado, vou discutindo como se fazia em Indústrias Farmacêuticas. Eu vejo como o Governo já solta uma consulta pública do que o está acontecendo, o que está acontecendo ali. 6, 8 meses você está preparando a sua empresa pra mudança de perfil‖ (EE36) No que diz respeito à aquisição de informações, estes empreendedores utilizavam fontes variadas. Foram diversas as referências a sites, fóruns de discussão, blogs, conversa com empreendedores mais experientes, estudos acadêmicos, jornais, etc. Estes empreendedores foram citáramos mais citados em estudos acadêmicos em gestão (marketing, estratégia, etc). A busca de informações em múltiplas fontes apareceu como uma forma de criar sua própria opinião, reunindo as diferentes variáveis encontradas em cada uma delas, e dando ao conjunto sentido próprio: ―Bom, primeiro eu estou sempre acompanhando as coisas que acontecem, eu vejo notícias de jornal, acompanho newsletter que fala sobre esses assuntos e tudo, estou sempre acompanhando o que as outras pessoas estão fazendo nas empresas maiores, até outros mercados, o mercado de música eu acompanho. Segundo, aí eu estou sempre de alguma forma estudando assim né, eu estou sempre lendo, hoje mesmo eu acabei de ver um artigo aqui que me interessou, eu já abri e já vou ler para ver o que eles estão falando. E aí eu vou tentando a partir dessas notícias fazer, tomar as minhas 121 próprias opiniões assim, fazer as minhas próprias opiniões. Eu tento não me deixar levar pelo que a mídia anda dizendo sobre o assunto, apesar de estar sempre lendo o que a mídia pública né (EE66) Nas incubadoras estes empreendedores conheciam autores como Peter Drucker, se interessavam por disciplinas ligadas ao comportamento humano dentro e fora da organização. Pareceram fazer leitura de livros consagrados. Somente estes empreendedores mencionaram a leitura de livros e artigos acadêmicos como fonte importante de conhecimento para os negócios. Diversos deles atribuíram importância considerável à aplicação das teorias administrativas: ―(...) porque eu consegui saber o que é gerenciamento, no que que não posso pecar nas coisas de mercado, ou seja, eu não posso virar as costas para as teorias administrativas, para as teorias psicológicas, para as teorias financeiras, não posso virar pra nenhum desses, mas também tenho que saber qual olhar que eu vou dar em função dessa valorização e qual o tempo que eu posso consumir de cada uma dessas coisas, separando momentos de interação, momentos de valorização.‖ (EE43) Identificadores de oportunidades formaram o grupo de empreendedores mais satisfeito com a atuação da incubadora (não foram encontrados na incubadora da BioRio) e foram os mais proativos na busca por serviços de consultoria em marketing e soluções estratégicas. No entanto, mesmo este grupo teve problemas consideráveis para compreender em que a incubadora poderia de fato contribuir para o desenvolvimento de suas empresas. Porém, os empreendedores deste grupo foram os únicos a conseguirem superar tal obstáculo. Pode-se portanto afirmar que diferentemente do encontrado por Bias e Perroti (2008), este grupo de empreendedores não deixou de contratar serviços de consultoria indicados pela incubadora por medo de verem suas empresas vulneráveis ao roubo de idéias e que ao contrário do proposto por Suen (2004), identificadores de oportunidades não tenderam a optar por consultores que tivessem preferências ou crenças similares às suas, o que poderia levar à perpetuação ou até mesmo à ampliação de vieses cognitivos. Estes empreendedores pareceram interessados em obter serviços de profissionais capacitados, que pudessem desafiar sua própria visão de mercado: 122 ―Como por exemplo, a gente tava lançando um produto agora dia 24, e acreditávamos que o lançamento tava adequado, quando a incubadora nos oferece uma assessoria de marketing, e a gente vê que estávamos redondamente enganados. Então, isso é tudo nos dá uma grande ... (...) Aí a gente teve que refazer tudo, a gente fez o redesenho das, da parte gráfica...(...) A parte legal é... O planejamento estratégico, acesso a um conjunto de treinamentos e capacitações de novo empreendedor extremamente importante nos dias de hoje.‖ (EE39) Para os identificadores de oportunidades, a utilização de serviços de consultoria principalmente em marketing tendeu a contribuir para o aproveitamento mais lucrativo de seu tempo e recursos (MCGEE E SAWYERR, 2003; DYER E ROSS, 2008). Assim como proposto por Dyer e Ross (2008), a utilização de serviços de consultoria apareceu como fator determinante para o aumento do desempenho da firma. Diferentemente do proposto por Mohan-Neil (1995), não foi apenas com a maturidade do negócio que tais empreendedores se voltaram para fontes formais e impessoais de informação, tampouco foi com a maturidade que eles se voltaram para além do ambiente imediato da organização (clientes, mercados, concorrentes etc), atingindo aspectos sócioculturais, político e regulatórios e tendências tecnológicas, contradizendo o proposto por Mohan-Neil (1995) e Brush (1992). Este grupo de empreendedores tendeu a valorizar a aprendizagem com os erros e considerar experiências tais como falências anteriores como sendo de grande valia para a firma. Estes empreendedores também revelaram ter contratado serviços de escritórios contábeis, em questões para internacionalização e para estruturação da empresa (definição de cargos e salários). No caso da contratação de serviços de contabilidade um dos empreendedores disse ter aprofundado seus conhecimentos no assunto para melhor contratar. 5.3.2 Estado da Arte Nas empresas dos empreendedores estado da arte, as atenções eram voltadas para o desenvolvimento da tecnologia pioneira. Não havia necessariamente um planejamento estratégico. Um planejamento estratégico mais elaborado, no caso da empresa de EE31 somente teria sido realizado por 123 ser um pré-requisito para a participação em um projeto da FINEP: ―A gente tá fazendo o plano de negócios da empresa, então a gente tem que estudar o mercado, o que na E31 a gente não fez, a gente fez muito pouco, fez muito superficial e só foi fazer mesmo depois de dois anos quando a gente participou de um projeto com a FINEP‖ (EE31). No que diz respeito à aquisição de informações, estes empreendedores pareceram se pautar em informações técnicas a respeito do negócio e estar bastante conscientes a respeito de como funcionam em países desenvolvidos as indústrias em que atuam. Foram empreendedores que frequentemente se basearam no ambiente de negócios desses países para compreender como deveria se comportar o seu; estabelecer relações entre as políticas públicas e o desempenho da firma. Eram particularmente atentos ao comportamento de grandes multinacionais, em suas áreas de atuação ou em outras, neste último caso, principalmente quando atuantes no Brasil. Em termos de serviços de consultoria, EE31 ressaltou a ajuda de clientes da empresa, advogados renomados e juízes, na elaboração de contratos. Não foram feitas menções a serviços de consultoria estratégica. 5.3.3 Especializados Este grupo de empreendedores também costumava planejar suas ações. Também neste caso, programas do governo de financiamento à pesquisa, que tinham como exigência a elaboração de um plano de negócios viável, contribuíam para que houvesse planejamento de fato. Estes empreendedores pareceram ter dificuldades maiores que os identificadores de oportunidades para detectar variáveis de mercado relevantes e assim também apresentaram dificuldades maiores para a implementação das ações planejadas. Algumas haviam mudado de foco. A firma de EE45 foi uma delas; havia mudado o foco de sua empresa após sua entrada na incubadora. Sem aptidões particulares para desenvolvimento de relacionamentos com clientes, não conseguiu criar mercado para seu produto e mudou o foco de sua empresa para algo como mercado já criado, dentro de sua área de competência. Não houve inventividade suficiente para a criação de demanda, 124 tampouco para a captação de investimentos: ―Não, era muito porque a gente sentiu que não tinha mercado amadurecido suficientemente para trabalhar com GIS [Geographic Information Science]; em outros países, a gente viu, que estão bem adiantados nessa área, mas o Brasil não.‖ (EE45). Sua falta de habilidade para lidar com questões de marketing pareceu tornar os planejamentos de especializados geralmente menos efetivos que os de identificadores de oportunidades. Os especializados, por definição, mostraram ter menor habilidade para lidar com mudanças em relação a demandas e preferências do consumidor (BREALEY E MYERS, 1988), com eventos não antecipados no ambiente, uma compreensão menor das relações das relações de causa e efeito nas atividades de negócio da firma (LIPPMAN E RUMELT, 1982) e maior dificuldade de processamento das informações obtidas (SIMON, 1947), principalmente as de mercado. Assim, de forma geral, tais empreendedores tenderam a realizar planejamentos muito mais operacionais que estratégicos. Planejamentos estratégicos decorriam de exigências de entidades de financiamento à pesquisa para obtenção de fundos. O tipo de informação buscado pelos empreendedores especializados também se mostrou consideravelmente diferente daquele buscado pelos identificadores de oportunidades. Eram buscadas informações essencialmente técnicas: ―Me informar, ler blogs, participar de fóruns, ver o que está acontecendo, ir a palestras, ver o que o pessoal está fazendo, principalmente lá fora. A gente aqui trabalha com linguagem de programação que no Brasil ainda está engatinhando, ruby on rails, que é uma linguagem excelente, que está crescendo bastante, e não tem muito produto desenvolvido nessa linguagem. ― (EE45) Entre as principais fontes de consulta estavam: grupos de discussão (de práticas de pesquisa, onde estes pesquisadores se inteiravam das melhores práticas internacionais), a universidade e bibliotecas. Eram empreendedores com vertente altamente autodidatas sob o ponto de vista técnico. Contudo, a internet podia ser utilizada para obtenção de algumas informações sobre empreendedorismo: ―A universidade é um lugar que você demora 4 anos pra conhecer o caminho da biblioteca.‖ E é verdade. Tudo que você 125 quiser saber, basta você ler. Não é verdade? Porque a gente faz faculdade e o professor só sabe fazer: ―Lê o livro tal!‖, ―Lê o livro tal!‖... E faz a gente ler alguns livros e se discute sobre aqueles livros. Então... pra você ler livro não precisa de professor. Então basta procurar uma biblioteca ou uma boa livraria. Então, se eu quero saber alguma coisa, eu procuro um bom livro e a internet também que, hoje em dia, facilita, dá pra pesquisar muita coisa. Hoje em dia, então, a internet tem muuuuita informação, inclusive sobre empreendedorismo‖ (EE40). Tais empreendedores se mostraram muito menos autodidatas no que referiu à aquisição de conhecimento em administração. Também foram empreendedores que demandavam pouco da incubadora em termos de transferência de conhecimento (serviços de assessoria). Dela, aproveitavam essencialmente as instalações, os cursos regularmente oferecidos e o contato dos empreendedores. Em sua visão, a incubadora deveria contribuir sobretudo para dar apoio em relação a questões ligadas a legislação e contabilidade: ―(...) a incubadora ajuda, mas também ela, tipo assim, tem que melhorar em alguns pontos também.(..) por exemplo, as burocracias que uma empresa hoje em dia ela tem que atuar, como alvarás, é... toda a parte inicial de contabilidade, toda a parte financeira (to falando um pouco pro meu lado) entendeu? é... a gente... hoje, quando você abre uma empresa, não necessariamente, você é obrigado a saber toda a parte jurídica, toda parte contábil, toda parte financeira, que é básico pra uma empresa começar.‖ (EE46) Segundo Dyer e Ross (2008), empreendedores tenderiam a buscar informações e consultoria relacionadas ao mercado, para que fosse assegurada a sobrevivência e a prosperidade da firma. Decisões complexas de marketing, por sua própria natureza, envolveriam uma grande dose de incerteza, e a incerteza percebida estaria associada ao uso freqüente de fontes externas de informação (MCGEE E SAWYERR, 2003). Miller e Friesen (1982) sugeriram que a inovação requereria informação, particularmente sobre mercados. A consulta a fontes externas tenderia a levar a um maior nível de sucesso nos negócios (DYER E ROSS, 2008). Este grupo não mencionou nem benefícios advindos de serviços de consultoria oferecidos pela incubadora ou qualquer empresa, nem sequer a percepção de haver necessidade de apoio da incubadora em relação a questões referentes a marketing ou estratégia. De modo geral, os poucos serviços de consultoria recebidos foram considerados como geradores de resultados não satisfatórios. 126 Este grupo de empreendedores valorizava a aprendizagem com os erros, mas erros operacionais – que aproveitavam para melhorar os procedimentos internos – também operacionais. 5.3.4 Organizadores Organizadores se preocupavam com planejamento financeiro, operacional e tributário. Todos disseram ter constituído reservas pra fazer face a contingências. Estes empreendedores foram os únicos a fazerem referência a tal fato: ―Bom, no começo é bom, porque tem meses, por exemplo, o mês de janeiro, foi um mês fraco, mas já que teve um mês que foi um mês bom, então tinha uma reserva, que é a reserva da loja, não nossa. Esse mês, pelo andar da carruagem, vai ser um mês fraco, mas aí, os meses que se passaram, mantêm o outro. Agora, se você tiver seguidos meses ruins, aí complica um pouco (...) É, é muito dinheiro...às vezes o pessoa vê assim, e diz: ―ta com dinheiro, né..‖. Aí, não: ―eu sou duro, mas a empresa tem dinheiro...‖ (EE21). As informações buscadas por este grupo de empreendedores geralmente geralmente diziam respeito a legislação, procedimentos (de contratação, etc) e crescimento organizacional. Gostavam de compartilhar experiências com outros empreendedores – aprendiam com os erros dos outros (aprendizagem vicária): ― (...) eu aprendo com os tombos dos outros...se o cara escorregou na casca de banana ali, eu vou pular aquela casca de banana. Eu não vou pisar nela pra ver se escorrega...‖ (EE10). Entre os serviços de assessoria contratados por organizadores estavam, tinham grande destaque os prestados por escritórios de contabilidade, mas cujo serviços não era considerado plenamente satisfatório: ―(...) eu tenho um escritório de contabilidade que tem absoluta obrigação de me dar suporte técnico pra essa área, então você paga pra ver como que é, e principalmente não vai aceitar o que ele diz cegamente, vai pegar também, por outro lado, o que ele diz e também vai abrir a legislação que fala sobre o assunto e vai ler, e se for o caso vai contrapor ao que o escritório vai dizer, porque o escritório também ele ta sempre buscando minimizar o esforço dele, então ele vai.... Ele não vai querer fazer o que é mais econômico, ele 127 vai querer fazer o que dá menos trabalho pra ele, e o objetivo obviamente é se eu puder economizar em alguma coisa, economizar. Eu vou tar sempre lendo, perguntando, e eu cobro cada vez mais que as pessoas façam isso.‖ (EE65) Os serviços de contabilidade prestados por empresas terceirizadas somente teriam alguma garantia de eficiência quando previamente checados pelos funcionários da firma. Também foram contratados serviços de consultoria para o desenvolvimento de processos e procedimentos dentro da firma, quando um dos empreendedores percebeu ter atingido um patamar de conhecimento, do qual acreditava não conseguir sair sem apoio externo. Até então, EE10 aprendia essencialmente de forma autodidata e por conhecimento experiencial (PENROSE, 1959). 5.3.5 Breaking Frees Segundo McClelland (1961), em seu livro The Achievement Society, para que se tenha uma sociedade de realizações (an achieving society) seria importante ter, entre outros fatores, empreendedores que planejassem e não apenas apagassem incêndio. Breaking frees se mostraram tipicamente apagadores de incêndio. Quando planejavam os resultados costumavam não ser satisfatórios. A falta de planejamento ou os erros de planejamento resultavam em falta de controle, que levava não a um crescimento por jatos de atividades, como descrito por Penrose (1959), mas a um desenvolvimento em picos e vales: ―Mas a gente planejou a empresa com dois anos?‖ A gente sabia o que tinha planejado, o cliente afundou, então nós vamos perder faturamento. E agora? Então, isso acabou de acontecer e a gente já saiu dessa fase, né.(...) A nossa vida de consultoria, a nossa vida de empresa de serviços é muitas vezes um pico ou é um vale. Um pico ou vale, né. Tem épocas em que você está muito bem, você estar tendo serviço pra caramba... e você tem eventualmente um serviço cancelado, um serviço que...como já aconteceu conosco, no final de 2009. A Petrobras era cliente do nosso cliente e ele nos tinha contratado. A Petrobras cancelou com eles uma parte do projeto, eles cancelaram com a gente.‖ (EE62) 128 Foram vários os graves erros estratégicos. Nas incubadoras, diversas empresas quase foram à falência devido à dependência em um único cliente: ―O pior problema que a gente passava, é que como a gente tinha uma dependência financeira muito grande de um cliente só, renovação de contrato, era sempre uma vida ou morte pra empresa. A gente entrava na sala pra renegociar o contrato, e dizia: ―amanhã, eu posso não existir ou pra continuar (...) Aí vem uma mudança de diretor, de qualquer coisa, e diz: ―olha, eu não quero você aí mais não‖. Então acaba‖ (EE47). No comércio, devido às dificuldades de planejamento e controle, muitos optavam por compras à vista. Tratava-se de empreendedores, curiosamente, sem a tão freqüentemente citada orientação para o futuro : ―Mas então, quando você compra a prazo você se acostuma, muitas vezes, a comprar a prazo. Então, mesmo que você não tenha dinheiro, não tenha visão pra vender o produto que você economizou, você já comprou... você vai ter que pagar... e quando chegar o vencimento...por exemplo, você tem contas altíssimas. Dois, três mil de uma empresa, mil de outra... pra pagar.... e se não der uma venda suficiente pra você pagar... como é que você faz? Tem que pagar, entendeu? (...) Mas ai já tá comprado, já pagou. Eu sei que eu tenho que vender, mas não tem a pressão.‖(EE16) Era comum nessas empresas a falta de reservas que pudessem servir de amparo em caso de imprevistos financeiros. Tal situação foi vista mesmo entre os maiores varejistas de autopeças. Além disto, a falta de planejamento, que poderia funcionar como um registro das ações realizadas ou pelo menos intencionadas, para sua posterior comparação com as efetivamente executadas, pareceu inibir a aprendizagem organizacional. O excesso de improvisação fazia com que não existissem registros que permitissem ao empreendedor analisar qualquer relação de causalidade entre suas ações e os resultados destas, dificultando a aprendizagem com os erros. Assim, diversos empreendedores incorriam em erros recorrentes. Alguns disseram que a prática do planejamento não combinava com suas características pessoais. Eram pessoas essencialmente intuitivas, que ao tentar planejar, apesar de todas as recomendações da incubadora a respeito da importância do planejamento, nem conseguiam se tornar bons planejadores 129 e perdiam parte de sua percepção para o negócio, ou seja, parte de sua intuição, e que por isso teriam desistido de tentar: ―Uma coisa que eu tive...que eu me lembro muito da incubadora, que eles sempre bateram muito é que: ―ah...vamos planejar..., fazer planejamento estratégico, estabelecer metas, objetivos, etc‖. Eu sempre fui muito intuitivo, então, durante muito tempo, eu tentei isso, eu tentei estudar, pra ser um cara assim...fazer tudo num script de um bom empreendedor, de um bom empresário. Só que eu não consigo. Não é uma característica que eu tenho. (...) Eu era um cara muito intuitivo, eu fazia as coisas muito na intuição, na percepção, né. Eu tinha um senso muito interessante, né. E o que é que foi acontecendo? Eu fui perdendo um pouco desse senso, também. Eu nem conseguia me tornar um cara completamente organizado, planejado, tudo mais, nem me tornei um bom gestor, e perdi uma boa parte daquela intuição que eu tinha, então chegou um momento que eu falei não [colocou as duas mãos no rosto]: ―para, para, para, vamos tentar ser o que é!‖. Você não consegue ser mais. Aquilo que você perde, é muito difícil de você conseguir recuperar. Então, eu fui deixando, me focando menos nisso, eu fui deixando outras pessoas, que pudessem suprir essa minha deficiência. (EE54) Alguns adquirem consciência de que precisam de pessoas com competências complementares às suas e as buscam. Outros sequer conseguiam identificar tal necessidade ou tinham consciência de que se trata de fato de algo a ser sanado. Foi comum neste grupo de empreendedores a existência de dificuldades para identificar suas necessidades gerenciais, muito provavelmente sua baixa procura por serviços de consultoria, mesmo quando estavam na incubadora: ―Quer dizer, se eu demandasse, eles me davam o que eu estava demandando, mas como a gente que é neófito nas coisas, não sabe o que pode e o que não pode dentro da comunidade acadêmica...quais são as nossas possibilidades? Eu não tinha muita noção do que eu podia e do que eu não podia‖ (EE54). A menções de aproveitamento por parte de de sua estada na incubadora por parte dos breaking frees se resumiram à indicação de alguns cursos que realizaram no SEBRAE ou na FIRJAN, à utilização do espaço físico e à aquisição de uma cartela de clientes fixos, graças à credibilidade conferida pela tutoria da incubadora. Empreendedores breaking frees tenderam a utilizar escritórios de contabilidade e advocacia como sua principal fonte de serviços de consultoria, tal como proposto por Gooderham et al (2004). 130 Para concluir esta seção, pode-se dizer, portanto, que, ao contrário do proposto por Cunha (2007), os empreendedores não pareceram utilizar a improvisação apenas quando a oportunidade não era clara de início, devido a pressões de tempo ou de acordo com sua experiência. A utilização de estratégias improvisadas, ao contrário do proposto por Baker e Nelson (2005) tampouco pareceu depender da quantidade dos recursos ao dispor do empreendedor, visto que empreendedores, nas incubadoras todos podiam usufruir de seus serviços, sem pagamento de adicionais, mas apenas determinado grupo o fazia – o dos identificadores de oportunidades. Ao contrário, do proposto por Zinger et al (1996), também não pareceu ser a necessidade de manutenção da autonomia ou o receio de se tornarem dependentes de um consultor a principal causa da não utilização de serviços externos de consultoria por parte de empreendedores. Tais fatores sequer foram citados. A falta de busca de assessoria especializada tampouco pareceu advir da relutância em admitir seu pouco conhecimento a respeito de determinado assunto ou sua falta de conhecimento em relação à área em que atuam, ao contrário do proposto por Curran e Blackburn (2000). Aspectos outros, tais como dificuldades de identificação das próprias necessidades pareceram influir diretamente na possibilidade de tomada de decisão a respeito. Aqueles que sequer conseguiam perceber a necessidade de tais serviços, não o fizeram de forma espontânea. Ressalta-se aqui portanto que não pareceu ser o fato de ser breaking free, por exemplo, que levava diretamente à não contratação de serviços de consultoria. Ser breaking free pareceu contribuir para uma maior dificuldade de identificação por parte desses empreendedores de suas próprias necessidades gerenciais. Uma vez identificadas e diante de profissionais considerados competentes, estes se mostravam prontos a usufruir tais serviços. O quadro 5.3 mostra o comportamento dos 5 perfis de empreendedores em relação ao gerenciamento da complexidade. 131 PLANEJAMENTO Existência de Planejamento Implementação das ações planejadas Identificadores de Oportunidades Especializados Planejamento estratégico Satisfatória Planejamento estratégico Não satisfatória Estado da Arte Organizadores Planejamento estratégico Planejamento tributário, financeiro e operacional Improvisação Satisfatória Satisfatória Breaking Frees Utilização de Serviços de Consultoria Tipo de consultoria contratada Identificadores de Oportunidades Consultoria estratégica, consultoria em internacionalização, contabilidade e para a definição de cargos e salários Especializados Estado da Arte Organizadores Consultoria em contabilidade e legislação Consultoria para a elaboração de contratos (jurídica) - oferecida de forma gratuita pelos próprios clientes Consultoria contábil/jurídica Breaking Frees Consultoria contábil/jurídica Não satisfatória Eficácia dos serviços prestados (na visão dos empreendedores) Satisfatória Insatisfatória Satisfatória Razoavelmente satisfatória (as informações ainda deviam ser checadas) Insatisfatória Quadro 5-3 Os 5 Perfis e o Desafio Gerenciar a Complexidade 5.4 Navegar em Ambiente Turbulento O desafio à navegação implica a não consideração do empreendedor enquanto ser isolado, considerando a influência do meio que lhe gera suporte em sua agência (DODD, 2007). Se refere a sua capacidade de capturar de valor para a firma, a partir do valor criado para seus stakeholders (FLECK, 2009). 132 5.4.1 Captura de Valor para a Firma Abaixo foram analisados os comportamentos dos cinco perfis, e a contribuição de seus comportamentos para a criação de valor e captura de valor para a firma. 5.4.1.1 Identificadores de Oportunidades Estes empreendedores, em geral, se portaram como se percebessem que faziam parte de um todo. Foram eficientes na captura de valor para a firma; procuravam manter bom relacionamento com clientes, fornecedores, empregados e inclusive concorrentes. O bom relacionamento, que tentavam estabelecer pelo estabelecimento de gerações de longo prazo com stakeholders, provedores de recursos (PFEFFER E SALANCIK, 1978) era visto como condição essencial para garantir a sobrevivência da firma e contribuía para a captura de valor : ―Exatamente, num determinado momento ―eu vou montar meu negócio‖, não só clientes me ajudaram como também fornecedores me deram créditos, ―você não precisa de dinheiro‖, mas isso de certa forma lógico eu tinha que arrumar meus compromissos, de certa forma é uma credibilidade virtual minha, eu acabei criando, então foi um histórico, se em determinado momento eu tivesse me corrompido.‖(EE09) EE09 também exemplifica a forte preocupação dos empreendedores deste grupo em participar de forma importante na ampliação da cadeia de valor de seus clientes (PORTER, 1985): ―(...) seu kit com mais valor‖, o mais valor muitas vezes não é valor financeiro, é tudo aquilo que você agrega ao valor, e o valor também é confiabilidade da marca, do produto. Esses valores que quero dar, por exemplo, um cliente satisfeito, cliente que não tenha problema desde a área administrativa até a área comercial‖ (EE09). Estes empreendedores falaram freqüentemente em superação das expectativas do cliente: ―E a gente tem um princípio básico , que é que a gente 133 sempre entrega mais do que foi combinado. Então, o cara contratou ―A‖, então, a gente sempre entrega ―A‖ ―+‖ alguma coisa, porque isso encanta e faz com que ele sempre...‖ (EE68). A firma cria valor para o ciente oferecendo mais do que foi contratado e com isso espera capturar lealdade do cliente. Eram empreendedores que mantinham grande proximidade com seus clientes, que prezavam o contato direto com estes e que dado ao alto grau de inovação de seus produtos e serviços, precisam ser hábeis o suficiente não apenas para passar credibilidade em relação à firma (PENROSE, 1959), mas também em relação a seus produtos e serviços, nem sempre com similares importados: ―No nosso caso então, que é um mercado novo, com um produto novo, a gente ainda tinha que inventar os argumentos para que o cara utilizasse, porque o cara não sabia nem...eu escutei assim: ―não existe nenhum produto importado que faça isso, como é que você acha que o seu...‖ Ué... eu ouvi isso da Marinha.‖(EE60) Todos tinham postura muito ativa em relação ao cliente. Eram eficientes também na criação de valor para a firma, antecipavam problemas que resultavam no aumento de vendas: ―Agora, a gente também tem uma ação ativa ao cliente, a gente vai ao cliente, e pergunta; ―vem cá, quais são os próximos passos? Você está satisfeito com que tá acontecendo?‖. Então, muitas vezes, a gente consegue antecipar demandas, antecipar futuras demandas ou antecipar problemas em função desses...‖ (EE39) Conviviam bem com a concorrência, com quem chegavam a realizar algumas parcerias, embora isto não fosse uma constante neste grupo. As ações que tomavam levavam em consideração não apenas suas expectativas, mas também as de clientes e empregados. Na empresa de EE03, por exemplo, havia, grande preocupação em estabelecer preços que agradassem não apenas o cliente, mas também o vendedor. Eram empreendedores que buscavam a sinergia e procuravam manter todos dentro da empresa caminhando em direção a um mesmo rumo: ―Se eles [os funcionários] não souberem aonde nós queremos chegar, nós aqui, eles sabem aonde gente quer chegar, eles sabem tudo que a gente quer fazer. Já tivemos uma reunião sexta-feira e 134 teremos agora 2h da tarde uma reunião onde eles vão opinar porque eles sabem onde a gente quer chegar.‖ (EE39) 5.4.1.2 Estado da Arte Empreendedores deste grupo eram muito bem relacionados. Tinham contato com pessoas muito importantes dentro de suas áreas de atuação. EE38, por exemplo, havia sido presidente de um importante centro de pesquisas da Petrobrás. EE34 tinha um relacionamento próximo com as principais pessoas que legislavam sobre o mercado de nutrição parenteral. A empreendedora havia inclusive participado da elaboração da portaria que regulamentava o assunto no Brasil: ―Eu ajudei nessa normatização a nível de Brasil em termos de criar portaria porque as pessoas que se juntaram lá em Brasília porque foi uma grande amiga minha, a Maria Lucia que foi a coordenadora dessa portaria lá em Brasília porque era consultora e fazia todas as portarias relativas a essa parte do ministério da saúde então eu tive assim o maior orgulho de ajudar naquilo que eu conhecia dentro da área de nutrição parenteral‖ (EE34). EE31 tinha contato próximo com presidentes de centros de apoio e financiamento à pesquisa no país. Eram eficientes na criação de valor. Tinham grande expertise e habilidade para convencer o cliente de que seus produtos e serviços representavam realmente algo que fosse o Estado da Arte em suas áreas de atuação. No caso de EE34, os próprios clientes, muitas vezes juízes e advogados contribuíram para o aperfeiçoamento dos contratos, agregado valor para a firma. Foram empreendedores que souberam aproveitar a ajuda: ―Bom, muitos, porque essa empresa é uma empresa muito de credibilidade, você tem que convencer o cliente que você tem capacidade para manter o material que ele entendeu que era muito importante, por um longo tempo. Então, a gente tinha um contrato que a gente tinha que defender as duas partes e isso era assim, quando o cliente era advogado ele sempre queria alterar o contrato. Então, no início a gente permitiu algumas alterações, foi bom porque eles contribuíram bastante para a gente chegar ao modelo final do contrato. Teve muito cliente Juiz, advogados muito bons então eles ajudaram bastante no fim das contas‖ (EE31) A empresa de EE31, atuante na área de criobiologia, contou com a mídia espontânea, realizada diariamente durante alguns meses pela Rede 135 Globo de televisão, que passava em horário nobre uma novela em que a personagem principal interpretada pela atriz Carolina Dickman, sofria de leucemia, o que trouxe à tona a discussão sobre os benefícios da armazenagem de células tronco durante o parto. Tal fato gerou uma grande demanda espontânea para a firma: ―Tava passando uma novela que Laços de Família, com a Carolina Dickman, e a mãe teve que falar com o pai que nem sabia que era o pai, usaram o sangue de cordão do irmão que ia nascer, na verdade teve que contar, pra mãe engravidar, pra colher o sangue de cordão, pra servir para a irmã. Então é bem a história disso mesmo, assim como já tinha acontecido os casos de história no Brasil, de utilização mesmo , a novela pegou esse caso e pra gente foi ótimo, porque logo depois saiu uma matéria no Jornal Nacional e aí começou uma demanda espontânea de clientes que já conheciam o serviço fora, que já tinham morado fora ou que viam...‖ (EE31) Em conseqüência, os sócios, únicos com este tipo de negócio no Brasil, se beneficiaram com a mídia espontânea em diversos outros programas da emissora. Contrataram inclusive um assessor de imprensa: ―A gente, depois de um ano mais ou menos, a gente conseguiu, contratou um assessor de imprensa, como o assunto era um assunto bastante atraente, a gente conseguiu fazer muita mídia espontânea e isso ajudou bastante na conceituação, porque a gente teve Jornal Nacional, Fantástico, Ana Maria Braga, vários programas, todos falando gratuitamente‖ (EE31). A firma também investia fortemente no atendimento ao cliente, formando inclusive seus funcionários do call Center, que recebiam treinamento técnico em padrão elevado: ―Até a menina do Call center, que ligava para mãe pra tirar dúvida, ela precisa ser uma menina mais bem informada do que uma menina que trabalha na Oi ou em qualquer outra empresa, então o salário é um salário diferenciado. È diferente, você tem uma venda com muito mais responsabilidade, mais técnica, então tem que ter uma técnica mais bem estruturada, mais bem formada‖ (EE31). A empresa de EE38 também contou com algum apoio da mídia, mas seu assunto se mostrou menos atraente. O processamento de lixo não era o debate do momento: ―Segundo, dificuldade imensa que você tem é realmente como divulgar o que está fazendo, você encontrar uma divulgação positiva, 136 tivemos alguns, poucos, por exemplo, atividades em cidades ligadas a Globo News, fizemos um trabalho belíssimo, vira e mexe estão indo lá, mas é pouco (...) então você tem pouquíssimas coisas institucionais. ― (EE38) Ainda assim, o empreendedor se empenhava para divulgar suas ações e criar valor para sua empresa: ―(...) nós estamos fazendo tecnologia brasileira que é muito boa, acabamos de nos enquadrar às regras da Alemanha, então nossas emissões estão já no patamar do país mais desenvolvido nessa área que são os alemães, já estamos lá, mas continua, por exemplo, a mídia desconhecendo totalmente o que a gente faz, a gente copia cd‘s manda aos jornais, televisões, estou organizando uma reinauguração grande, para voltar à mídia para ver se abre nesse país a cabeça de que tem brasileiro capaz de fazer tecnologia boa, o ambiente é ácido para quem desenvolve PIB, em vez de ser altamente positivo de apoio é ácido‖ (EE38) Dois destes empreendedores tiveram maiores dificuldades no entanto para a captura de valor. Dado que boa parte da receita de suas vendas dependia do pagamento por parte de órgãos do governo, era alta a inadimplência. A empresa de EE34, por exemplo, em determinado momento, devia um milhão e tinha três milhões para receber de hospitais públicos, que não conseguia receber de jeito nenhum: ―A empresa ia bem de uma certa forma, porque ela estava devendo um milhão, mas tinha três para receber. Esses três eu não conseguia colocar dentro da empresa assim com facilidade (...) só do Estado eu tinha um milhão e meio para receber. Um milhão e quatrocentos. Mas de alguns clientes particulares também. Só a casa de saúde (que eu não vou citar o nome), eu tinha quatrocentos mil para receber e eles não pagavam de jeito nenhum eu tive que processar...‖ (EE34) EE38 se esforçava ainda para reduzir a possibilidade de inadimplência por parte da prefeitura, fazendo lobby para que a indústria viesse a ser de fato regulamentada e para que as Parcerias Público Privadas (PPPs) se tornassem efetivamente utilizadas pela prefeitura, seu único cliente. As PPPs poderiam contribuir para a efetiva captura de valor, na medida em que, por elas, um parceiro privado assume o compromisso de disponibilizar à administração pública ou à comunidade uma certa utilidade mensurável e em contrapartida aufere uma remuneração periódica pelo Estado, vinculada a um desempenho de referência no período. PPPs são dispositivos destinados a serviços 137 considerados de altíssima relevância pública, tais como energia elétrica, autoestrada, e tratamento de lixo: ―(...) surgiram as PPPs, Participação Público e Privadas, aí a prefeitura tem que criar um fundo para garantir a inadimplência, isso como é novo, raríssimas são as prefeituras que pensam em fazer uma PPP, só sabem fazer a concorrência pela 8666, aí cinco anos renovaram por mais cinco, mas precisavam de vinte, então a incompetência por parte da prefeitura (...) Pelas PPPs você cria uma sociedade com propósito especifico e a prefeitura tem que garantir o lixo, mesmo que terceirizado tem que vir para a gente, e ela pode inadimplir, não pagar, então ela tem que ter um fundo que se ela atrasar esse fundo paga á gente, ela não sabe fazer, fazer crédito não sabe fazer, tudo aquilo que tem que colocar dinheirinho, você pagou, o dinheiro já é pouco, mas tem que fazer, então a resistência maior é essa.‖.(EE38) Empreendedores estado da arte, apesar de encontrarem um terreno muito árido no Brasil, se empenhavam veementemente em criar e capturar valor para suas firmas, mas dois deles, devido a terem o governo e entidades públicas tinham consideráveis dificuldades em relação à captura. 5.4.1.3 Especializados Empreendedores especializados, tanto nas incubadoras como no shopping center de informática, tenderam a manter relacionamentos próximos apenas com pessoas com o mesmo perfil. Nas incubadoras, eram muito ligados a centros de pesquisas e universidades. No shopping de informática, formavam um grupo que trocava conhecimento, tirava dúvidas uns dos outros: ―Eu pego orientação com outro. A gente discute novos softwares que estão vindo para o mercado, novos programas‖ (EE25). Especializados primaram pelo desenvolvimento de parcerias: ―A vantagem também do pessoal de meio ambiente é que é uma turma que, com raras exceções, né, uma turma que se colabora, colabora um com o outro, tem sempre parceria. Você nunca consegue fazer nada sozinho, tem sempre o outro que entende mais do assunto...(...) É... não dá. A gente tem que ter parceria. É aquela história de: ―ah, concorrente‖... Você até tem concorrência, até existe alguma concorrência, mas tem um jeito de se trabalhar junto, porque ninguém domina tudo, absolutamente.‖ (EE35) 138 Sendo eles empreendedores que muitas vezes que exploravam uma única oportunidade ao longo de todo o ciclo de vida da firma, havia grande preocupação com o roubo de idéias. Estes empreendedores formaram o único grupo que disse ter sofrido ataque por parte de lobistas, que lhes prometiam a realização do tão sonhado sonho da internacionalização, que somente se fez sentir de maneira pronunciada entre os empreendedores deste grupo: ―A proposta deles é que nós teríamos um produto muito interessante que poderia ser levado para os dezessete escritórios que eles tinham no exterior.(...) Na verdade eles não tinham esses escritórios, né. Eles eram apenas parceiros de outras empresas mesmo.(...) Os lobistas têm um tipo de perfil,né. Com muitas histórias, muitos cases de sucesso, certo. O que não se concretizam, essa é a cara deles. Então nesses aí, a gente nem dá mais atenção, recebe, tudo bem, fala, cumprimenta, mas não dá mais para...‖ (EE37) Foi também o único grupo a ressaltar a importância do patenteamento de produtos, para assegurar seus direitos em relação à criação. No que diz respeito ao cliente, no entanto tinham atitude muito passiva e grandes dificuldades de comunicação com estes, devido a seu linguajar excessivamente técnico. Promoviam poucas ações de marketing. Principalmente entre os iniciantes, era freqüente a crença de que um bom produto ser venderia sozinho: ―(...) eu tinha pleno conhecimento que eu tinha vindo de uma origem extremamente técnica, com a minha visão, eu fiz um baita produto que vai se vender sozinho, eu não preciso de marketing, eu não preciso de vendedor. Foi meu grande erro. Mas eu sabia que eu tinha necessidade de ter alguém para vender, alguém pra pelo menos fazer uma estratégia. ― (EE56) Também não foi raro que acreditassem compreender melhor as necessidades do cliente do que este mesmo , devido a seu superior conhecimento técnico. Nem sempre havia grande habilidade no trato com o cliente. Os que conseguiam estabelecer uma comunicação melhor com seus clientes, orientando-os e fidelizando-os e que tinham um controle maior dos procedimentos internos da firma ou que auferiam economias de escala, conseguiam sobreviver em indústrias mais maduras. Os demais enfrentavam grandes dificuldades tanto de captar novos clientes quanto de manter clientes antigos quando o ambiente se tornava mais competitivo. 139 Em geral, foram empreendedores que não mostraram ter facilidade na criação de valor para firma; eram passivos em relação à criação de demanda. Não foram relatados problemas ligados à inadimplência de clientes neste grupo. Somando-se tal fato a sua alta capacidade de estabelecer parcerias, pode-se dizer que estes empreendedores pareceram ser mais eficientes na captura de valor do que na criação de valor para seus stakeholders. 5.4.1.4 Organizadores Organizadores se mostraram empreendedores nem sempre com facilidade de relacionamento com clientes, empregados e stakeholders externos. Reações até mesmo grosseiras haviam ocorrido, muitas vezes pelo desejo de maximizar suas ações – em sua eterna busca pela eficiência: ―Eu já fui muito mais incisivo, muito mais... acho que a palavra é incisivo mesmo, ao lidar com as pessoas eu queria que as coisas acontecessem muito mais rápido. Não com as pessoas de dentro, com as pessoas de fora, eu pra fazer compras, por exemplo, tinha uma época que eu tinha que comprar insumos, eu ligava pra lá, atendia o telefone ―vendas‖, eu dizia ―eu quero...‖, ―quem é que ta falando?‖ Eu falei ―pô, senhora, vamos fazer uma coisa, a senhora me responde se a senhora tem ou não, se a senhora tiver eu falo quem ta falando, se a senhora não tiver eu dou um boa tarde e a senhora vai fazer o seu trabalho e eu vou fazer o meu, vamos fazer assim?‖ Postura agressiva [risos], era necessário, eu queria utilizar... eu queria poder fazer mais ligações ao longo do dia. ― (EE65) Contudo, entre as principais características destes empreendedores estava o fato de que aprendiam com os erros, mudavam consideravelmente seu comportamento conforme a empresa crescia e eram desenvolvidas regras e procedimentos para padronizar e tornar mais previsível o comportamento humano dentro e de fora da organização. Dois participação organizadores em consideravam associações em que particularmente pudessem favorável encontrar a outros empreendedores. O de autopeças havia sido inclusive quem buscou um profissional que pudesse ensinar aos demais as regras de direito tributário aplicadas à área, na AMAP. Sua interação com a esfera social da firma resultava via de regra no estabelecimento de novas regras e procedimentos, 140 descobertos muitas vezes como necessários pelos relatos das experiências de outros empreendedores. Não foram comuns perdas em processos judiciais ou junto ao PROCON neste grupo de empreendedores. Não foram empreendedores que primaram por sua capacidade de criação de valor para suas firmas. No que diz respeito aos clientes, os organizadores se distinguiram dos demais por sua retidão. Em geral, tinham alto crédito com os fornecedores, o qual se esforçavam ao máximo para preservar, mantendo retidão em suas ações. Na empresa de EE65, já com 90 empregados, somente então se desenvolvia um setor comercial. Os empreendedores também não pareceram particularmente eficientes na criação de valor para a firma. Este grupo de empreendedores se mostrou, no entanto, muito preocupado com a captura de valor para a firma, evidenciado por sua preocupação em tratar o cliente com retidão e sua constante preocupação em não incorrer em procedimentos arbitrários ou irregulares, que viessem a causar danos para o negócio. Não foram ouvidos relatos de inadimplência de clientes neste grupo. 5.4.1.5 Breaking Frees Este grupo de empreendedores se caracterizou por sua usual falta de contribuição para a criação de valores nas interações com stakeholders da firma, sua passividade em relação a ações de marketing e sua dependência praticamente total em atores externos ou fatores externos (tais como a localidade) para a criação da demanda, como no caso dos breaking frees do shopping de informática: ―(...) o shopping ele tem uma mídia muito forte na televisão. Eu acho que assim, trabalhando mais o varejo...porque ele não trabalhava tanto o varejo. Ele era muito institucional. Eu acho que o varejo, ele funciona bastante, funciona bem. Eu acho que o varejo quer preço. (...) Ah, tar aqui..ah, o cara que tá aqui no shopping, o cara não tá aqui pra comprar batata, nem blusa; ele vem pra comprar uma coisa de informática‖ ― (EE20) Nas incubadoras, em geral, eram empreendedores que possuíam uma cartela fixa de clientes, conquistada devido à credibilidade conferida pelo fato 141 de terem sido admitidos na incubadora. O aumento ou a diminuição nas vendas eram decorrentes dos movimentos da indústria como um todo. Na indústria de autopeças, poucos possuíam sequer sites desenvolvidos. Em geral, era uma única página, onde se encontravam uma foto e os telefones para contato. Segundo EE07, haveria dificuldades para a contratação de programadores de informática, devido à discriminação destes em relação ao setor de autopeças: ―É... o nosso sistema ainda é antigo, o nosso sistema é... do programador da empresa ainda é em DOS, tá, então, tem muita coisa que é... nós queríamos passar pro Windows, mas, como ninguém quer trabalhar com autopeças, né, é um ramo que nenhum programador quer trabalhar... muita gente...(...) Olha é muita discriminação... (...) Até mesmo muita gente chega... muitas das vezes é... até mesmo estagiário‖ (EE07) Tal discriminação não se fez sentir entre os identificadores de oportunidades desta mesma indústria. Ambos possuíam sites bem desenvolvidos, com possibilidade de visualização de produtos, realização de encomendas, preços, etc, assim como softwares avançados para controle de estoque. No comércio, apenas EE15 ressaltou sua preocupação com a fidelização de seus clientes: ―a gente sempre investiu muito no atendimento, sempre investiu muito mais no atendimento, que era fidelizar o cliente‖ (EE15) No comércio, estes empreendedores contavam com redes informais para a concessão de crédito, troca de favores, realização de compras conjuntas em valores baixos, que serviam para suprir as necessidades do momento. Em geral, não possuíam fontes de informação que lhes passasse informações privilegiadas, a não ser dos distribuidores, no mercado de autopeças, que ajudavam os maiores varejistas a identificar as melhores oportunidades. Foram freqüentes os relatos de existência de clientes inadimplentes: ―um dos gargalos de uma loja de peças eo contas a receber, se ele não tiver organizado, você vende muito fiado, então você toma muito calote!‖ (EE08). Também foram comuns os problemas com fornecedores que resultavam em perdas relativamente grandes, que ameaçavam a sobrevivência do negócio: ―Mas o problema maior que a gente teve é que a gente teve que repor ao funcionário o que a gente já tinha pago pro valealimentação, os cartões não chegaram e a gente teve que dar o 142 dinheiro para o funcionário, mas pra empresa isso é muito ruim, porque a gente tem um planejamento de gasto mensal. Se a gente aumenta o dobro em um gasto, de uma hora pra outra, a gente altera o volume, então a gente evita que isso aconteça.‖ (EE52) Breaking frees se mostraram menos eficientes tanto na criação como na captura de valor para a firma. O quadro 5.4 mostra o comportamento dos 5 perfis em relação ao desafio navegar em ambiente turbulento (FLECK, 2009). 143 Ident Oport Desenvolvimento de relacionamento de longo prazo com fornecedores e clientes Parcerias Habilidadade para criação de demanda Relacionamento com pessoas influentes na indústria Especializado Estado da Arte Organizador Breaking Free (alguns, os que concorriam por liderança de custos) Inadimplência de clientes Ataque de lobistas Falta de habilidade pessoal para se relacionar com stakeholders externos (linguagem e percepção excessivamente técnicas) (dificuldades iniciais de operacionalização da coleta de célulastronco devido a atrasos) Perdas com ações judiciais envolvendo stakeholders externos Sites pouco desenvolvidos Grau de eficiência Criação de valor para stakeholders Captura de valor para a firma Alta Baixa Alta Moderada (alguns) Quadro 5-4 Os 5 Perfis e o Desafio Navegar em Ambiente Turbulento Alta De Moderada a Baixa (inadimplência de órgãos públicos) Baixa Baixa Alta De baixa a moderada 144 5.4.2 Políticas Públicas A seguir se encontram as principais insatisfações expressas por cada um dos cinco tipos de empreendedores identificados em relação às atuais políticas públicas do país. 5.4.2.1 Identificadores de Oportunidades À semelhança do encontrado por Benzing et al (2005) e Chu et al (2007), e apontado pelos autores como um problema de empreendedores nigerianos de forma geral, identificadores de oportunidades, com vertente altamente autodidata, ágeis em sua forma de aprender, e enquanto inovadores, hábeis em lidar com fontes eletrônicas de informação, tais como computadores e televisão (WELSH E YOUNG, 1982), que contribuem para facilitar a vida do empreendedor, se incomodaram com a complexidade da legislação tributária. EE09, por exemplo, representante do setor de autopeças, teve grandes dificuldades para aprender a legislação tributária, o que o tinha levado a freqüentar aulas presenciais de direito tributário: ―(...) a gente faz curso especificamente de ICMS praticamente um dia inteiro e mesmo assim não conhecer, não ter o conhecimento da sua totalidade, das suas particularidades, isso é um absurdo, absurdo demais. (...) Totalmente, para você ter noção, vou falar uma coisa relativamente nova, desse COFINS, até bem pouco tempo atrás, a gente não sabia que esse imposto COFINS era imposto monofásico, monofásico é: na cadeia alguém interrompe essa cadeia, de lá para frente você não pagava esse imposto e continuava pagando por falta de conhecimento, então assim é uma redução brutal, dependendo do teu faturamento, é papo de você descontar, deixar de pagar vinte, trinta mil reais de imposto, olha que absurdo e você está jogando para o governo e a gente bem entende que o caminho de volta se perde" (EE09). EE66 também se revelou incômodo com a complexidade das leis, da burocracia e das freqüentes mudanças na legislação, que dificultam o processo de aprendizagem e fazem com que o empreendedor seja levado a despender tempo considerável aprendendo e reaprendendo determinados tópicos, quando o empreendedor certamente poderia focar algo novo ou atividades que 145 contribuíssem para a captura de valor para a firma. O excesso de burocracia não apenas dificultava a captura de valor, mas geraria custos adicionais, desnecessários a seu ver. Além disto, era difícil compreender a lógica por trás de tantas exigências: ―Assim, é uma infinidade de leis, uma infinidade de normas que mudam freqüentemente, entendeu? Quando você acha que você pegou o jeito, eles vão lá e mudam aquilo. (...) Porque aí qualquer coisa que você tem que fazer com o governo é uma burocracia fenomenal. (...) Porque muitas coisas eu mesma tenho que fazer, porque custa dinheiro para você desvendar essa burocracia toda, entendeu?.(...) Exigências de fiscalização, assim, exigências que você não sabe nem de onde vieram, entendeu? E aí de repente aparece aquilo, sabe, e aí você é pego de surpresa, porque surgiu uma nova exigência e você para cumprir tem que gastar dinheiro, tem que contratar funcionário, não sei o que, tem que pagar mais caro o contador né. Aqui no Brasil deve ser o país que se gasta mais com contador no mundo, porque o que o contador trabalha para cumprir essas exigências todas, é uma loucura né.‖ (EE66) EEE66 viu também como fator inibidor de seu crescimento o paternalismo da legislação trabalhista brasileira, que impunha exigências consideradas excessivas ao empregador. Lembrando que uma das grandes preocupações de identificadores de oportunidades era seu relacionamento com empregados: ―E fora a lei trabalhista que é uma coisa totalmente surreal né. Assim, eu poderia ter uns 3 ou 4 funcionários a mais aqui se não fossem as leis trabalhistas, porque as exigências são tão complicadas, assim, a lei trabalhista é como se você como empregador tivesse errado e até que você prove o contrário, essa é a lei trabalhista. Você está errado até que você consiga provar que você está certo. Só que às vezes você não consegue provar né. Então você está errado sempre. Eu morro de medo de ter mais funcionários porque eu não sei o que pode acontecer amanhã né, o governo pode inventar que eu tenho que dar uma bolsa automóvel para cada funcionário, entendeu? Para melhorar a indústria automobilística, e eu vou ter que dar um extra de R$ 10.000,00 para cada um comprar o seu próprio automóvel. Você acha que isso não é possível acontecer? Isso pode acontecer. Ah, mas as empresas têm dinheiro de sobra para fazer isso. Isso é a burocracia.‖ (EE66) O excesso de carga tributária sobre a folha trabalhista foi outra grande preocupação entre os empreendedores deste grupo. Aparentemente tal questão não havia sido resolvida com a aparição do sistema tributário conhecido como o simples nacional, que aumentava em torno de 20 a 25% os encargos sobre a folha de salários de uma empresa que passasse da faixa de 146 pequena empresa para a de média. EE58 interpretou tal legislação como uma falta de incentivo ao crescimento da firma: ―(...) a carga tributária em cima da mão-de-obra, quer dizer, é muito grande. Então, uma queixa dos empresários e aí é o dia-a-dia, foi criado o simples nacional, regime que é o simples nacional com uma tributação, se você sair da faixa de faturamento do simples nacional, você cai dentro de um ambiente muito perverso, na verdade que inibe todo crescimento. Então o que o governo está dizendo...(...) Aconteceu que o teu faturamento cai, porque você paga uma carga tributária que você não tinha antes. E para onde vai esse dinheiro? (...) Aumentou 20, 25% a minha carga tributária do que eu tinha. Sai de 10 para 40 e pouco. É muito alto. Então o que acontece, você tem que ficar pequeno, você não cresce. O que o governo está falando? Fica pequeno.‖ (EE58) Este grupo de empreendedores se preocupou ainda com a falta de atualização da CLT em relação às necessidades do trabalho atual, tendo em vista os avanços tecnológicos das duas últimas décadas, que permitiriam, por exemplo, o trabalho remoto, não previsto pela legislação trabalhista brasileira: ―Eu acho que é muito engessada [a legislação trabalhista] né, porque tem que ter flexibilidade. Hoje a gente está com a CLT, mas ela tem que ter uma flexibilidade maior. Então, o trabalho está mudando né. (...) Trabalho tipo a...(...) Eu vou deixar 3 funcionários trabalhando em casa, pela internet, eles não precisam vir na empresa...(...) Ela não é flexível a esse ponto, ela não tem um artigo que cuida especificamente disso. Também é uma novidade que está tendo. Então teoricamente o funcionário tem que ir na empresa, tem que estar na empresa, se não está na empresa, como é que faz? Entendeu? Recebe como? Como é que está trabalhando?‖ (EE58). Outro grave problema percebido foi a freqüente inadimplência de órgãos públicos. No caso de EE43, a oportunidade aproveitada quando decidiu servir ao governo não pôde ser reaproveitada para outros clientes. O empreendedor acabou ficando sem o resultado das vendas e sem a possibilidade de auferir novos ganhos com o produto desenvolvido, pois ao podia vendê-lo para outros. A inadimplência do órgão público para o qual prestou o serviço resultou ainda na contração de empréstimos, sobre os quais incidiram juros: ―Não, esse cliente, cortei totalmente, porque não teve como mais. O outro, a prefeitura de XXXX, Secretaria de Urbanismo de lá. São mais de três anos que o produto esta entregue, era pra ser pagamento bimensal, sete meses de realização do produto. (...) Por nesses três anos não ter pago e eu ter que contrair empréstimos com juros e tal, o valor saiu muito mais caro do que quarenta e cinco mil. Eu ia gastar quarenta e cinco, mas se ia vender o produto pra vários 147 outros. Agora, nesse momento, mesmo recebendo, eu não tenho mais como vender esse produto. Por quê? Porque o conjunto de coisas na realização encadeada eu consigo, mas as pessoas que trabalharam pra que esse produto... não estão mais aqui lá da empresa. O produto, a tecnologia mudou em três anos, então eu teria que refazer esse produto pra vender. Então, esse produto foi totalmente perdido .‖ (EE43). Identificadores de oportunidades, preocupados com valores organizacionais e questões éticas, dentro de suas firmas e nos mercados em que atuavam, lembraram ainda de problemas tais como a corrupção em licitações: ―Essa empresa que eu tava fazendo parceria era uma delas, combinam como que vai ser a licitação para poder as três ganharem e dividir o lote de quatro milhões e meio em lotes de um milhão e meio pras três ganharem. (...) é uma prática de mercado que eu condeno totalmente, não entro em negócio que não for ético, justo, socialmente correto, sustentável. Não tenho a empresa com esse objetivo, tipo assim , o objetivo não é exclusivamente financeiro, pelo contrário, sociedade mais justa, negócios mais éticos.‖ (EE43) Foram ainda destacados por identificadores de oportunidades problemas ligados a infraestrutura, como os atrasos nos aeroportos, que consumiriam recursos capazes de prover serviços gerenciais e empreendedores ao reter os empreendedores fora da firma e que dificultavam o relacionamento com o cliente, a execução de seus planejamentos e a otimização do tempo do empreendedor: ―(...) atraso de avião. Então, você aprende realmente com isso de infelizmente você tem uma reunião em São Paulo três horas da tarde, você se programa pra chegar em São Paulo 1h. Porque às vezes o cliente tem uma reunião logo depois e não pode te atender, não é culpa dele, você que atrasou. Então, infelizmente, por exemplo, às vezes a gente tem uma reunião em São Paulo 3h da tarde. Você perde um dia inteiro com um cliente.‖ (EE42) Finalmente, EE59 destacou a dificuldade dos empreendedores first to market na área de tecnologia, em manter a liderança de mercado quando se tem deficiências crônicas na rede elétrica: ―Nós somos líderes em serviços de hospedagem. (...) A gente tem um servidor nos EUA e temos um outro no Rio de Janeiro em outro local. Então, a gente mantém pra que os nossos clientes possam ser atendidos em caso de... alguma pane, em caso de algum problema, pra gente poder fazer uma redundância. Talvez no fundão 148 falta luz e fica um dia ou dois dias sem luz e como é que a gente vai atender um cliente ...?‖ (EE59) Caso formuladores de políticas públicas queiram saber como incentivar o surgimento de novos identificadores de oportunidades na área tecnológica, o depoimento de EE60 parece ser uma boa dica: ―Eu vi que existia no ar um cheiro de mudança do ponto de vista que o Brasil estava se tornando um país mais empreendedor. A própria existência das incubadoras, que eu não conhecia bem...mas vendo o florescimento da idéia da inovação, o próprio SEBRAE, falando em pequena e média indústria, uma atenção maior...porque antigamente você pensava muito. No tempo em que eu me formei, o ideal de qualquer um era trabalhar numa empresa estatal.‖ (EE60) De forma geral, identificadores de oportunidades eram otimistas em relação às perspectivas para o país e para suas empresas: ―Eu acho que a Europa tá caindo e o Brasil tá crescendo. (...) mas realmente eu tenho grande expectativa com o crescimento do país, mas não só com o crescimento do país, a expectativa de crescimento da minha empresa‖ (EE63). 5.4.2.2 Estado da Arte Para o empreendedor estado da arte, o grande sonho era ver o empreendedor brasileiro ter o mesmo tratamento por parte do governo, principalmente em atividades de ponta como a sua, que tem os empreendedores de países desenvolvidos. EE38 apontou a necessidade de subsídios governamentais. O empreendedor salientou ainda a falta de uma matriz de poupança, a falta de mercado de capitais abertos (fundamental para que haja maior possibilidade de se obter financiamento de sócios-capitalistas), a falta de mão-de-obra especializada, de cursos técnicos profissionalizantes bons e acessíveis, a falta de educação da população em relação à coleta de lixo doméstico e a corrupção dos mercados: . ―O Brasil não tem uma matriz de poupança, tanto que o problema do Brasil é não ter poupança, a gente gasta tudo, o que tem e o que não tem (...) mercado de capitais abertos, não poderiam... só as empresas mais poderosas que chegam lá, média e pequena, então faltou respaldo na política e média e pequena empresa, falta muito, você tem carência de mão-de-obra especializada (...) hoje tem 149 uma carência de mão de obra, porque você tem curso profissionalizante mais caro do que deveria. (...). No mundo inteiro essa atividade recebe uma série de incentivos (...) Essa atividade como é uma atividade de geração de energia, mas tem que ser subsidiada por causa da matéria-prima, lá no exterior além de investimento ser muito maior do que a gente faz agora no Brasil, eles têm subsídios, nós aqui não temos (...) Segundo como o lixo brasileiro é muito complexo, mal educado, tem muito orgânico (...) Então, você vai vendo que a estrutura legal sofre aparição dos jogos de interesse e da corrupção, então paira uma tecnologia que vem pra modificar esse cenário, são esses as grandes dificuldades que você encontra, aí chega num momento de linhas de créditos, nós precisávamos de linha de crédito a longo prazo, porque a solução era captar e crescer‖ (EE38) Também neste grupo a carga tributária sobre a folha de pagamentos foi considerada excessivamente alta. 5.4.2.3 Especializados Especializados de forma geral, assim como identificadores de oportunidades também pareceram otimistas em relação ao país. EE32 acreditava por exemplo que o crescimento do Brasil seria um longo processo evolutivo (tal como pesquisas) e que o desenvolvimento do país estaria em vias de ocorrer de fato: ―O Brasil tem tudo pra ser o primeiro do mundo, né? Em relação a seu território, suas riquezas.Tem tudo. Já tem essa perspectiva há muitos anos. Desde da década de 70 que eu vi aquela, aquela...acho que era geógrafa, Teresinha de Castro. Ela falava que Brasil e Canadá seriam as potências mundiais. Na década de 70. Não aconteceu ainda. Apareceu a China. China hoje é potência, né?(...) O país tem tudo pra alavancar, pra ser uma grande potência mundial. Eu acredito muito no Brasil! Porque tem um potencial muito grande em todos os aspectos: pessoal, material, tecnológico. Ainda não somos, por...ainda...falta tempo.‖ (EE32) Para um dos empreendedores deste grupo, professor universitário aposentado, um dos grandes entraves ao desenvolvimento econômico do país e ao surgimento de novos empreendedores (especializados) seria, no entanto, a falta de divulgação sobre as possibilidades e oportunidades oferecidas pelo empreendedorismo nas universidades públicas: 150 ―Na verdade, eu acho que a maior dificuldade numa atividade desse tipo, empreendedorismo e etc, é a falta de informação, e eu te digo isso... que é uma falta de informação não minha só, mas dos estudantes da universidade, provocada pela falta de informação dos professores, e a razão disso, pra mim é muito clara hoje (...) Durante esses anos todos (...) você imaginava formar um profissional, uma boa base e que ele ou ia ser professor universitário ou ia fazer concurso para Petrobras da vida, ou empresas, que era o que tinha. Então você não formava uma pessoa com a mentalidade ou não alertava as pessoas da possibilidade de ―olha aqui, meu filho, se vira sozinho, vai a luta‖, não existia. Eu também, nunca me passou pela cabeça montar uma empresa.‖ (EE53) Também neste grupo foram grandes os empecilhos provocados pela burocracia. Foi freqüentemente apontado por especializados das áreas ambiental e farmacêutica, a grande dificuldade de se obter o credenciamento junto a órgãos reguladores governamentais: . ―A ANVISA [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nos deu permissão para iniciar essa atividade somente a partir de março do ano passado. (...) Os registros levam 2 anos. É muito difícil. É muito difícil, porque a burocracia é muito grande. Vem aqui a secretaria de estado, faz a vistoria do local, vê como é que tá toda a documentação, a documentação é muito vasta, muito grande pra se elaborar.‖ (EE32) Foram apontados ainda problemas advindos de parcerias com universidades públicas, devido à lentidão com que as coisas ocorrem, gerando conflitos com os tempos consideravelmente mais rápidos do mercado e dificultando inclusive o cumprimento de acordos gerados em parcerias: ―A nossa parceria com a universidade, por vezes gera conflitos muito sérios, por exemplo, eu tenho uma análise de microscopia eletrônica para ser feita, está parada desde final de novembro e início de janeiro, e isso a Universidade pública foi parou durante um tempo, retornou no meio de janeiro e até agora não me deram um feedback, enquanto isso esse relatório que precisava desse laudo não sai, e se não saiu eu não recebo, não é certo. Na verdade fica uma ―bola de neve‖ maior porque eu sou contratado de uma outra empresa, então se eu não executado o serviço é a outra empresa que não recebe. Entendeu? É, então...‖ (EE37) Preocupava ainda aos especializados, cujas empresas também eram intensivas em mão de obra e sem habilidades específicas de liderança, o paternalismo da justiça brasileira e os altos impostos incidentes sobre a folha de pagamentos: 151 ―E foi a primeira vez que eu vi aquela situação e eu coloquei uma secretária minha como testemunha e o advogado do trabalhador começou a ameaçar a minha funcionária mas como se fosse um general falando com um cabo, ríspido, altamente grosseiro, na frente do juiz e juiz na maior pasmaceira como dizia o meu pai; e quem interveio, quem veio a intervir na situação foi a juiz da nossa parte, ―Você não pode falar assim com a testemunha!‖, mas o juiz principal não falou nada, nada, nada, nada. Fiquei indignado. As provas que a gente apresentou não tiveram valor algum (...) Essa foi uma que a gente estava totalmente coberto e, se o próprio juiz não foi capaz, o juiz principal de intervir numa situação daquela do advogado, espezinhando a minha funcionária, isso é um dos pontos que realmente desestimulam o empresário. A questão dos altos impostos que incidem na folha de trabalhista, já fiz essa conta diversas vezes na ponta do lápis, se você quer contratar alguém por 500 reais você vai ter uma despesa de 1000, como é que você paga 500 para o funcionário e 500 para o governo? Não é 500 para o governo, 350 para o governo e mais 150 para o funcionário. É 350 de imposto que vai para o governo meu Deus, isso desestimula. É um dos grandes problemas da empresa brasileira no meu ver, tão falando aí que isso vai mudar, to ouvindo isso há 15 anos...‖ (EE56) Especializados, que são fortes concorrentes em licitações públicas, se preocuparam também com a corrupção neste tipo de processo de compras governamentais. Para EE28, por exemplo, que possuía produtos de excelente qualidade e que já adotava uma estratégia de liderança por custos, podendo praticar preços muito razoáveis em relação à concorrência, revelou ter sido tirado do cadastro de um órgão perante o qual ganhou várias concorrências, o que segundo ele, se deveria provavelmente a questões ligadas à corrupção : ―(...) nós estamos com problema agora de cadastro em um fornecedor, um cliente nosso, e nós já éramos cadastrados, quando nós fomos renovar, eles disseram que não tínhamos competência para manter o cadastro, nos manter como cadastro, embora nós tenhamos feito uma quantidade enorme de trabalhos pra eles sem nenhuma falha, sem nada que pudéssemos desabonar, e ainda assim eles no recusaram o cadastro. Eu suspeito que isso está relacionado com corrupção com passar dinheiro para tirar... porque nós somos muito competitivos, nós temos muita experiência. Podem encontrar gente com tanta experiência quanto nós, mas mais não tem. (...) eu não tenho prova nem vou investigar,mas eu suspeito que isso está relacionado com o favorecimento de concorrentes que dão dinheiro a quem junta o cadastro, e aconteça...não tem o que fazer.‖ (EE28) Especializados, que geralmente haviam iniciado suas atividades em mercados incipientes e continuavam atuando nos mesmos mercados ainda que fossem sistematicamente imitados por concorrentes, foram os únicos entre os 152 breaking ups a apontarem a concorrência na indústria em que atuam como um problema grave: ―Qualidade [oferecida pelo concorrente] é a mesma, o máximo que pode acontecer é ser qualidade paraguaia, o pessoal vai no Paraguai compra mercadoria e vende na Uruguaiana, Uruguaiana é um Paraguai brasileiro com lucro, pessoal, noventa e oito por cento da Uruguaiana, vai ao Paraguai e compra e vende na Uruguaiana com trinta por cento de margem de lucro, e eu aqui compro com nota, vendo com nota, não consigo vinte por cento. O que é melhor? Ir no Paraguai. Outra coisa importante o cliente vai na Uruguaiana compra e não pede nota fiscal. (...) Onde está a margem de lucro? Onde está o lucro do comércio? Comércio pelo que eu saiba que trabalho até hoje, é o que? Você compra por X e vende por 2X, X mais vinte, você tem que ter uma margem de lucro mínima, ou que de para sustentar e pagar as suas despesas da loja ou retirada do sócio da empresa, pagar funcionário, pagar contador, pagar luz, pagar aluguel, pagar tudo. Agora se você compra por duzentos e quarenta e vende por duzentos e trinta e nove ou duzentos e quarenta e um, quarenta e dois, quarenta e cinco.‖ (EE23) Foram grandes entre este empreendedores as dificuldades advindas da competição desleal, que no caso das empresas incubadas era muitas vezes representada pela competição com a universidade, que somente pode competir com serviços, mas que consegue oferecer preços inatingíveis por uma empresa privada: ―Nossos maiores competidores são universidades, na universidade o professor tem um salário pago, tem o laboratório pago, não paga aluguel, não paga energia, não paga água, não paga funcionário, trabalha com estagiário, portanto eles não tem obrigação de ter pessoas com carteira assinada, tem um custo muito baixo e uma qualidade de serviço muito baixa também. Só que não existe por parte da clientela uma verificação na aferição como uma exigência de controle de qualidade. (...) é uma competição desleal, então diante desse quadro de competição, nós tivemos que dar traves à bola para não sermos deslocados‖ (EE28). Especializados mostraram ainda preocupação com o aumento dos custos da matéria-prima, que ocorreria em alguns casos acima da inflação (o Banco Central salientaria ao longo do ano de 2011 sua preocupação com o preço das commodities em seus relatórios de inflação): ―É, eu acho que tem área que... área que aumenta acima da inflação e você tem que ficar cobrando, ―porque que você aumentou esse preço?‖, ―não teve essa inflação‖... aí...(...) Ah... área de materiais... obra... é... Matéria-prima... é... chapa de aço, tarugo de alumínio, esses materiais assim que... da siderurgia, assim, da caldeiraria, que às vezes eles aumentam e se você não ficar 153 questionando, eles aumentam e você... e você tá pagando mais caro. Então, você... tem que... importados também, eles aumentam e põem... põem culpa no dólar, mas o dólar não tá aumentando, então, você tem que ficar sempre...‖ (EE49) Assim como os identificadores de oportunidades, especializados enfatizaram a importância de poder usufruir uma infraestrutura adequada, não para serem first to market, como no caso dos identificadores de oportunidades, mas porque, por exemplo, no caso de prestação de serviços na área de manutenção de microcomputadores, falhas na rede elétrica poderiam por em dúvida a qualidade de seus serviços: ―Então, você tem que passar para o cliente a realidade. Nunca chega para o cliente e fala: "Eu vou fazer e vai dar certo". Não. Na informática não tem exatidão. No momento que você está fazendo um HD ele pode queimar e perder tudo. Ele é um equipamento energizado então você corre o risco de ter uma queda de luz e esse HD não voltar a funcionar. (...) Na realidade ele não vai chegar satisfeito, porque ele vai perder os dados dele. Só que a falha não foi minha; a falha foi da energia elétrica, então, na realidade, você tem os meios para acionar. Faltou uma luz queimou um equipamento nesse momento. É feito um relatório, eu faço um laudo técnico dizendo que naquele momento a energia não voltou a funcionar.‖ (EE25) 5.4.2.4 Organizadores Os organizadores se preocupavam com a retidão de suas administrações. Percebiam grande sua responsabilidade em relação aos negócios da empresa. Para o organizador, a preocupação com o pagamento de impostos, por exemplo, estaria na essência da distinção entre empreendedores e funcionários. Não surpreende portanto que eles tenham levantado aspectos como a alta carga tributária como uma das principais dificuldades do empreendedorismo no Brasil: ―Porque quando você é funcionário, você não leva em consideração tudo o que se paga. Por exemplo, o teu patrão paga pra te manter e pra manter a empresa dele, porque ele ali na verdade é o ganha-pão do patrão e ganha-pão do funcionário. (...) È uma coisa meio absurda, você pagar imposto do imposto, para você poder manter o negócio. Algo que você por exemplo, você tem uma empresa de pequeno porte, e você pagar 5% de nota, você paga não sei quantos por cento, você paga ICMS...e ainda tem que pagar mais do que você vende pro governo..‖ (EE21) 154 Este grupo foi mais um a apontar as dificuldades geradas pelos altos impostos sobre a folha de pagamentos. Muito preocupados com a obediência às leis e normas, organizadores ressaltaram também as dificuldades advindas da complexidade da legislação: ―(...) por um desconhecimento meu da legislação (...) chegou lá tinha problema, enfim, fui parar no Ministério Público do Trabalho pra me explicar, mas....(...) Mudou que conheci um pouco mais um pedaço da nossa legislação, que é uma legislação interminável..., sei lá, quase que ela cria dificuldades pra vender as facilidades, é a minha visão da coisa. E..., aí aprendo um pouco mais, não é meu hábito descumprir legislação, todas as vezes que eu fiz foi por absoluta necessidade‖ (EE65) Organizadores se preocuparam também com a burocracia, provocada pelas exigências governamentais, juntaram-se aos identificadores de oportunidades e especializados, no que se refere a este aspecto: ―(...) a burocracia é muito grande. As exigências do governo são muito grandes e elas são difíceis de serem cumpridas. Então, eu acho que pra qualquer um começar o negócio hoje, ele precisa entender que a única maneira de dar certo, é trabalhar na formalidade. E pra ele trabalhar na formalidade, ele tem que ter muito conhecimento, pra poder atender às exigências que o governo hoje pede. E pede muito! E é difícil cumprir, por mais que você tenha intenção e determinação de cumprir, é muito difícil de cumprir. Se você não cumpre, você é...se você for fiscalizado...acontece de você ser fiscalizado e tomar multa pesada e até a multa pode inviabilizar o negócio. Ao ponto de inviabilizar o negócio...‖ (EE10) As dificuldades apontadas por organizadores se concentraram portanto em aspectos legais e tributários do negócio. 5.4.2.5 Breaking Frees Breaking frees eram vulneráveis a uma grande diversidade de problemas, entre os quais: a forte concorrência; a falta de fiscalização, permitindo o trabalho de concorrentes em situação irregular; as altas alíquotas dos impostos; as altas tarifas de água e de luz; as altas taxas a serem pagas por ocasião da abertura e legalização da firma; a corrupção envolvida nas compras realizadas por órgãos públicos; a complexidade da legislação 155 trabalhista; problemas de infraestrutura (trânsito); a ampliação das responsabilidades sociais do empreendedor imposta pelo governo; a falta de atualização da legislação trabalhista (inclusive da lei de estágios), o paternalismo da justiça brasileira em relação ao empregado e problemas ligados à lei 8666/93, que regulamenta as licitações públicas: ―O primeiro problema, a lei 8666 ela imputa ao cara que está comprando, ou seja, a pessoa do governo, a especificação do que ela quer. Aí vamos supor, (...) hoje está trabalhando na Coppead e o servidor tem que comprar 200 computadores novos para o laboratório. Legal. (...) você vai comprar e você vai especificar. Você sabe de informática ao ponto de especificar... (...) Dane-se. Se você especificou errado, dane-se‖ (EE48). Também foram apontados como não satisfatórios os gastos antecipados em que o empreendedor deveria incorrer sem garantia de que se vá de fato receber do governo: ―Só que a lei 8666 ela não garante que eu vá receber do governo. Se eu prestar o serviço, entregar o serviço, emitir a minha nota e o cara atestar que recebeu, virar para mim e falar assim, dinheiro aqui não saiu, aguarda. E aí você começa a ter problema na escala federal, porque o cara vai embutir o risco dele na atividade. E aí você começa a entender porque o pneu para a polícia custa o dobro do preço do pneu do cidadão comum. ― (EE48) De forma geral, estes foram empreendedores que viram as cobranças e exigências do governo como cada vez maiores, sem contrapartida, porém, que eles consideravam que deveriam vir sob a forma de incentivos, tais como a redução de impostos. Isto ficou claro na percepção de EE05 em relação à exigência de contratação de aprendizes legais, ampliando a responsabilidade de MPMEs em relação à formação de mão de obra no país: ―Hoje em dia é... o Governo ele tem, lançou, né, o aprendiz legal. O que que é o aprendiz legal? São pessoas é menores de dezesseis anos até vinte e três anos que nunca trabalhou. Estão fazendo o ensino médio, fundamental, né. E por obrigação tem que fazer um curso que qualifica o curso dele, né. Então, através do Senai, Senac existem esses cursos que as pessoas têm que fazer. Então dependendo do faturamento da empresa, tá. As empresas têm que contratar um menor legal, um aprendiz legal.(...) É bom para a pessoa que nunca trabalhou, mas o Governo poderia dar mais brechas em relação aos impostos, tarifação, né. EE05) 156 Finalmente, foi relatado o excesso de cobrança por parte da sociedade brasileira em relação ao empreendedor e a sua visão, que se contrapôs à visão americana do empreendedor enquanto herói. Assim como outros participantes que apontaram o paternalismo exagerado da justiça do trabalho em relação ao empregado, EE01 acreditava que no Brasil, a sociedade como um todo tendia a ver o empreendedor como um grande vilão. Para ele o heroísmo do empreendedor brasileiro estaria não em suas qualidades excepcionais (ligadas à identificação de oportunidades, capacidade de liderança, inovação, etc), mas em sua resiliência, em sua capacidade de persistir apesar das grandes adversidades, impostas muitas vezes pelo próprio governo: ―Agora, tem muitas pessoas que pensam de outra forma, não... ―o cara cresceu ou o cara é... pô... é um ladrão‖, porque eu comecei a ser conhecido como ladrão na realidade (...) Eu acho que o cara hoje pra ser empreendedor no Brasil, cara é muito corajoso. Pela estrutura que o governo monta, tipo assim, o Brasil em si, hoje o empreendedor brasileiro ele é um herói , desculpa eu falar isso, mas ele é um herói, até pela falta de estrutura, juros absurdos e isso e aquilo ele é um herói, o cara sobrevive de uma forma heróica, é uma realidade, entendeu? ― (EE01) O quadro 5.5 mostra as principais dificuldades dos empreendedores dos 5 perfis motivacionais em relação às políticas governamentais. 157 Ident Oport 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Complexidade da legislação tributária Burocracia Mudanças frequentes na legislação Paternalismo da legislação trabalhista Excessiva carga tributária Inadimpência dos órgãos públicos Desatualização da legislação trabalhista Corrupção em licitações Infraestrutura deficiente Especializado Estado da Arte Organizador Breaking Free (ANVISA) (geral e folha) (folha) (Prazos Universidades) (Financeira) (folha) (geral e folha) (aeroportos, rede elétrica) (rede elétrica) (mercado de capitais, mão de obra especializada, cursos técnicos, coleta de lixo, (trânsito) 158 Ident Oport Especializado 10 Baixa divulagação sobre empreendedori smo em universidades 11 Concorrência desleal Custos da matéria prima Ausência Linhas de crédito de longo prazo Deficiências da lei 8666 Visão da sociedade quanto ao empreendedor 12 13 14 15 16 Estado da Arte Organizador Breaking Free Quadro 5-5 Os 5 OPerfis e as Dificuldades em Relação às Políticas Governamentais (vilão, não herói) 159 5.4.3 O Potencial Papel dos Bancos Comerciais no Crescimento das MPMEs Um dos agentes externos mais frequentemente mencionados pelos empreendedores como potencial viabilizador de suas empresas foram os Bancos Comerciais. Conforme visto na seção 4.2.1.3., os bancos foram vistos pelos empreendedores como tendo um papel fundamental no crescimento das MPMEs, já que seriam um canal potencialmente viável para a concessão de crédito. No entanto, segundo os entrevistados, bancos comerciais brasileiros desempenhariam tal papel de fornecedor de crédito de forma basatante insatisfatória. Nem todos os produtos e serviços oferecidos pelos bancos foram apontados como negativos. Segundo os entrevistas, estes contribuíam para a melhoria das atividades das empresas por meio da disponibilização de outros instrumentos, tais como o internet banking: ―Fazia isso tudo! Já fui até assaltado dentro do banco [risos]. Fazia tudo, eu vendia, saía três horas com o negócio pra poder pagar as contas. Hoje não, hoje eu pago conta aqui ó, no leitor de barras...(...) Porque o quê que acontece? A tecnologia ela te... se você usar aquilo para você vai te melhorar a tua qualidade de vida. Eu uso o computador, esse negócio pra eu poder melhorar a minha qualidade de vida. Pra quê? Porque se eu tiver um sistema, tudo bonitinho, tudo certinho, de ficar controlado, de saber o que faz e o que não faz, para mim fica mais fácil viver, trabalhar e tudo. Todo mundo vai... todo mundo vai lucrar com isso: eu, minha família, todo mundo...‖ (EE01) Mediante investigação dos produtos e serviços oferecidos pelos cinco maiores bancos comerciais varejistas brasileiros, segundo o IDEC (2011), verificou-se que hoje, devido a mudanças advindas dos grandes progressos da tecnologia da informação e na legislação bancária nos últimos 20 anos, os bancos hoje podem exercer uma funções múltiplas funções úteis para o cresciemento de MPMEs, e a não apenas aquelas de identificador e financiador de projetos viáveis. De Cecco (1994) destacou o caráter evolutivo do papel dos bancos, que o presente estudo revela também se aplicar ao caso das MPMEs. Em relação a estas, foram sugeridos quatro papéis potenciais para os bancos: Provedor de Recursos, Difusor de Informações, Consultor e Controlador. 160 5.4.3.1 Provedor de Recursos O papel de provedor de recursos, apareceu nas entrevistas como o papel primordial dos bancos comerciais brasileiros em relação às MPMEs. As empresas precisam de recursos para investir em crescimento, capital de giro, refazer e atualizar seus estoques, capital de giro. Empreendedores precisam de capital para ―fazer vitrine‖ e atrair clientes, investir em marketing, comprar produtos de melhor qualidade. A renovação e a inovação dependem de capital para movimentação do negócio. Destacaram-se duas formas principais pelas quais tal papel é usualmente desempenhado: primeiramente a forma mais comum, na qual o banco capta recursos de terceiros, os repassa a firmas, sob a forma de crédito; e uma segunda forma, na qual o banco não repassa diretamente à firma recursos financeiros, mas viabiliza sua captação junto a terceiros. 5.4.3.1.1 Captação de Recursos para Posterior Repasse Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após decorrido o tempo estipulado (SCHRICKEL, 2000). Entre as principais modalidades de crédito geralmente disponíveis ao empreendedor podem ser citados: empréstimos; financiamentos; antecipação de recebíveis (ex.: desconto de notas promissórias, cheques pré-datados, duplicatas, fatura de cartões de crédito); contas de crédito rotativo (ex.: cheque especial e os cartões de crédito; repasses BNDES (linha de crédito é destinada ao financiamento de projetos de implantação, expansão, modernização e produção de bens para exportação, destinados à pessoa jurídica, aquisição de máquinas, equipamentos nacionais e capitais de giro associado ao investimento); Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACC) às empresas exportadoras, que tem o objetivo de financiar o capital de giro às empresas exportadoras, na forma de antecipação, para que possam produzir, 161 comercializar os produtos objetos de exportação; Financiamento de Importação Brasileira (FINIMP) –em que o banco paga à vista o exportador no exterior em moeda estrangeira e recebe a prazo do importador brasileiro; entre outros. Aos poucos surgem diversas formas de empréstimo e financiamento, incluindo promessas de crédito rápido e fácil para MPMEs, principalmente para capital de giro, devido à usual dificuldade de fluxo de caixa dessas empresas. Surgem ainda instrumentos, pelo qual o empreendedor pode obter de maneira rápida e fácil adiantamento para pagamento a fornecedores e evitar o protesto de títulos por ele emitido em cobrança. Este instrumento pode ser essencial para a sobrevivência de sua empresa: ―Eu tinha o maior cuidado de não deixar é ficar devendo a fornecedor, porque se você deve a fornecedor, porque se você deve a um fornecedor, você tá atrasado numa duplicata hoje, amanhã o mercado inteiro já sabe. Aí o pessoal vende mais caro pra você, não pô, esse cara vai quebrar...esse cara não vai agüentar, o preço já não é o mesmo...já é um outro tipo de preço...‖ (EE08) A operação de antecipação de recebíveis também se mostrou primordial para as empresas recém-criadas, que ainda não tem idade, nem possuem volume de operação suficientes para a obtenção de crédito. No entanto, este tipo de operação ocupa boa parte do tempo do empreendedor, que geralmente, sem funcionários, ou com funcionários considerados pouco confiáveis (lembrando que tal operação era realizada sobretudo por breaking frees) deve comparecer ele próprio à agência bancária. Quanto maiores as filas, maior a perda de tempo e portanto maior a perda de serviços gerenciais e empreendedores que poderiam ser utilizados em atividades produtivas dentro da firma: ―Correria é o seguinte: todo o dia eu tenho que estar no banco antecipando as minhas vendas de cartões. Eu vendo muito no cartão, porque informática é venda muito alta que se compra. Por exemplo, tu não compra nada abaixo de quinhentos reais. Então, a maioria das vezes eu tenho que parcelar. Só que eu não posso aguardar noventa, cento e oitenta dias pra receber um valor. Eu tenho que receber amanhã, pra comprar amanhã, porque eu não tenho nada. Então, fica nessa correria. Todo dia eu tenho que ir ao banco pra antecipar valor, porque se não o dia que eu não antecipo...‖ (EE16) 162 O cheque especial foi outra modalidade de crédito de curto prazo bastante citada: ―Por exemplo, tenho cinco dias por mês sem juros do cheque especial do Banco Real como empresa. Eu entrava no cheque especial por seis dias, sendo que eu poderia entrar por cinco se eu de repente não pagasse uma conta de luz, atrasasse o pagamento em dois dias da conta de luz, sendo que ela demora trinta dias, o juro é de um por cento ao mês, enquanto o juro do cheque especial é dez por cento ao mês. Isso tava ocorrendo sistematicamente durante quatro anos e poderia não estar ocorrendo.‖ (EE43). O problema de financiamento de longo prazo permanecia grande no entanto entre MPMEs e as regras para sua concessão não eram claras para os empreendedores, mesmo no caso daqueles que já haviam obtido empréstimos em ocasiões anteriores. A não existência de critérios facilmente identificáveis dificultava o planejamento de longo prazo, uma vez que não se conseguia ter certeza da quantidade de recursos financeiros de que se poderia dispor em determinado período. O problema se torna ainda mais grave quando se considera a rápida depreciação dos equipamentos de produção industrial: ―A única coisa que nós conseguimos comprar financiado foi pelo projeto. Que é pela Caixa Econômica que comprou todos os equipamentos, 250 mil reais em equipamentos para você pagar uma taxa razoavelmente boa. Que agora você tem dificuldade em conseguir pegar de novo, não sei por que, mas a gente vai tentar de novo e vê se consegue, porque meus equipamentos aqui pela velocidade e a quantidade de uso, é quase 24 horas trabalhando basicamente com esse equipamento, eles duram no máximo cinco anos. E a regulação dos equipamentos tem que ser constante, né? Embora seja uma empresa pequena, mas a gente tem que...‖ (EE36) Os nomes dos produtos de crédito variavam consideravelmente de banco para banco. A atribuição de nomes diferentes para os produtos nos diversos bancos dificultava a comparação tanto de vantagens como dos preços desses produtos. 163 5.4.3.1.2 Viabilização da Captação de Recursos Junto a Terceiros Constatou-se que os bancos podem ainda contribuir indiretamente para a obtenção de recursos junto a terceiros, oferecendo aos empreendedores formas de diversificar seus negócios, via aquisição de instrumentos financeiros, permissão de prestação de serviços bancários ou oferta de garantias. Em alguns casos, era oferecida a possibilidade de atuação em parceria com o próprio banco, adquirindo produtos e serviços bancários a serem providos a empregados e clientes (atuais ou novos). A aquisição de tal direito, além de ser um meio de se aumentar as receitas da empresa, pela venda desses produtos e serviços, atuaria como chamariz para os produtos ligados ao core business da firma. Entre eles se encontram: serviço de correspondente bancário, pelo qual a empresa passaria a ter assim uma agência bancária expressa em sua própria loja, podendo oferecer, em parceria com o banco, serviços tipicamente bancários como o recebimento de contas, boletos bancários, tributos, entre outros); garantia e fiança bancárias ou captação de recursos via ofertas públicas (a empresa abre seu capital). Nenhum dos entrevistados revelou ter utilizado qualquer um dos instrumentos acima citados. Contudo, apareceram outras formas de viabilização de captação de recursos junto a terceiros, frequentemente utilizadas. A principal foi a oferta de meios de pagamento diferenciados aos clientes: cartões de crédito, disponibilização de boletos bancários, talões de cheque, entre outros. O cartão de crédito era cada vez mais aceito em estabelecimentos comerciais. Ao passo que o cheque era com frequência recusado pelos comerciantes, devido aos altos níveis de inadimplência e ao fato de o uso de tal meio de pagamento obrigar o empreendedor a realizar constantes idas ao banco. 5.4.3.2 Difusor de Informações Com o progresso da tecnologia da informação nas últimas décadas, os bancos passaram a utilizar a Internet como forma de se relacionar com o público em geral – clientes e não clientes. Nos sites dos bancos comerciais é 164 possível constatar a divulgação de uma grande diversidade de informações, nem sempre de conteúdo estritamente bancário. Os bancos, hoje, se preocupam com o fornecimento de informações de tipos cada vez mais diversos. Note-se que sob o ponto de vista da empresa, o gerenciamento da informação pode ser considerado atualmente um grande fator de competitividade (MENDES E FILHO, 2007). O grande desafio é disponibilizar a informação para o empreendedor de forma adequada, a fim de que esta possa subsidiar o processo de tomada de decisão; transformar informação em conhecimento que se converta em bem econômico e social. Potencializar oportunidades, a partir da utilização de capacidades disponíveis e acessíveis, torna-se um grande negócio para quem atua em prestação de serviços de informação. Facilitar o acesso das MPMEs às informações de oportunidades de negócio, fornecedores (matérias-primas, equipamentos, tecnologia, serviços tecnológicos etc), fontes de tecnologia, mercado, comércio internacional, especificações de mercado comprador, legislação etc, pode constituir-se em uma grande forma de se alavancar a atividade empreendedora no país. Neste aspecto, é fundamental o processo de democratização do acesso à informação, incluindo os pontos referentes à adequação de linguagem ao público-alvo e aos modos de comunicação. É preciso prover aos empreendedores informações facilmente disponíveis, de forma barata e com qualidade. Os bancos comerciais, dada sua capilaridade e proximidade de seus correntistas empreendedores, ao despertarem para a importância de seu papel enquanto difusores de informações úteis ao empreendedorismo podem vir a ampliar seu papel na criação, aumento da viabilidade e crescimento das MPMEs. Foram encontrados seis tipos de informações usualmente difundidas pelos bancos a Empreendedorismo; empreendedores: Informações Informações Conjunturais; de Fomento Informações Legais ao e Regulamentares; Informações de Registro; Informações de Âmbito Social; e informações promocionais. 165 5.4.3.2.1 Informações de Fomento ao Empreendedorismo O banco divulga informações para um público-alvo composto por empreendedores ou stakeholders da firma (empregados, clientes, etc), e empreendedores em potencial, sobre aspectos básicos do empreendedorismo. São tipicamente encontradas, portanto, informações que muitas vezes não se relacionam diretamente com assuntos bancários, tais como informações gerenciais, essenciais para a sobrevivência das MPMEs; glossários de termos relativos ao empreendedorismo, tais como Arranjos Produtivos Locais (APLs) e incubadoras de empresas; informações entre outras sobre: como legalizar um plano de negócios; as vantagens de se abrir um determinado tipo de negócio (ex: franquias); os problemas comumente enfrentados por MPMEs, ou ainda as vantagens de se trabalhar em MPMEs. 5.4.3.2.2 Informações Conjunturais Informações conjunturais dizem respeito ao ambiente social, econômico e político de determinado momento. Como exemplos de informações conjunturais podem ser citados índices tais como o Índice da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (IBOVESPA), Ìndice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), taxas de câmbio, valor do salário mínimo, cotações, balanço anual, tabelas de rentabilidade de investimentos, informações de censo e dados estatísticos em geral. São informações comumente divulgadas em periodicidade definida (diárias, semanais, mensais, anuais, etc). Informações conjunturais podem ser consideradas particularmente importantes para o empreendedorismo. Segundo Peter Ducker, este tipo de informação permite a identificação das sete fontes básicas de oportunidades e desafios, que devem ser constantemente monitoradas pela empresa (1) as necessidades de mercado não atendidas; (2) as necessidades dos processos desenvolvidos; (3) as mudanças na estrutura do setor produtivo e/ou do mercado; (4) as mudanças demográficas; (5) as mudanças em percepção, disposição e significado por parte da clientela; (6) os conhecimentos inovadores; e (7) o inesperado. 166 5.4.3.2.3 Informações Regulamentares Informações regulamentares incluem informações sobre a legislação que regulamenta atividades bancárias, referências a exigências legais, ou ainda legislação referente às MPMEs; assim como regulamentos internos dos bancos, tais como sua política de empréstimos ou códigos de ética. Alguns bancos transcreveram em linguagem simplificada leis que regem o ambiente de negócios das MPMEs, tais como a Lei das Pequenas e Médias empresas – Lei Comçementar 123/2006. Outros faziam ainda referência a normativos do Banco Central, disponibilizam o Código de Defesa do Consumidor ou faziam referência a sites de organismos oficiais em que legislação importante ao empreendedorsmo poderia ser encontrada. Pertencem ainda a este grupo indicações ou transcrições da legislação referente a determinados tipos de operação bancária, como no caso das operações de comércio exterior. Alguns bancos chegavam a divulgar regras de nomenclatura referentes aos Termos Internacionais de Comércio Exterior (INCOTERMS) ou fornecer guias a serem preenchidas para realização das operações internacionais. 5.4.3.2.4 Informações de Registro As informações de registro dizem respeito a dados cadastrais dos clientes ou sobre as operações realizadas pelos bancos, geralmente são divulgadas, para garantir a idoneidade do cliente perante terceiros ou avaliada a legalidade da transação. Neste último caso, o fornecimento de tais informações decorre muitas vezes de solicitação de autoridades oficiais (ex.: Banco Central). Entre as informações de registro se encontram ainda os valores agregados que podem ser consultados no relatório anual e no relatório de administração do banco. 167 5.4.3.2.5 Informações de Âmbito Social Esta categoria diz respeito à divulgação de assuntos ligados a eventos de Responsabilidade Social dos Bancos. São geralmente informações sobre eventos (promovidos pelo banco ou não), ligados a cultura, arte, esporte e lazer ou encontro de encontro de empreendedores. Patrocínios, investimentos de cidadania empresarial, projetos de voluntariado – atividades decorrentes da crescente exigência de responsabilidade social, por parte das empresas. Também eram divulgadas agendas de eventos futuros. Encontros entre empreendedores são importantes para a aquisição de conhecimento gerencial: ―(...) a única coisa ruim da associação é que você está lidando com empresas do mesmo setor, da mesma área, então você tem que ter determinada... não pode jogar limpo, ser exatamente transparente com tudo que você conversa, mas é um ambiente interessante onde você pode trocar experiências com pessoas que passam as mesmas dúvidas que você, que eventualmente tem as mesmas preocupações e passam pelas mesmas dificuldades, agora não é legal você fazer essa troca dentro do seu negócio, porque de certa forma você ta pegando... você vai pegar aí... às vezes você pode resolver o problema de uma empresa, que ela venha a ser seu concorrente, então é complicado você fazer isso. Na incubadora que você tinha empresas de certa forma pequenas, que eram do tamanho parecido do seu, mas que elas eram do outro setor era muito mais fácil de fazer essa troca, muito mais fácil de você...‖ (EE65) A troca de experiências entre empreendedores que atuem em indústrias diferentes pode portanto ser algo valioso e menos arriscado. 5.4.3.2.6 Informações Comerciais Neste grupo se encontram informações sobre produtos e serviços, com a finalidade de venda ou melhoria da imagem comercial do banco enquanto produtor de bens e serviços: gravações de propagandas para a televisão, mensagens de celular de orientação ao usuário, Serviços de Atendimento ao Consumidor (SAC), ―telefones úteis, cartilhas sobre produtos e serviços bancários oficiais; informações sobre as unidades em que os diversos serviços e produtos podem ser encontrados; catálogos de prêmios a serem resgatados com pontos no cartão de crédito. A descrição clara, em linguagem simples de 168 produtos e serviços disponíveis ao empreendedor pode contribuir para um melhor aproveitamento de produtos referentes a crédito, por exemplo, e aumentar a acessibilidade daqueles que não o contraem por falta de informação apropriada: Entre os entrevistados, o único empreendedor que havia recorrido ao FINIMP revelou ter tido pouca informação a respeito. Os tipos de financiamentos disponíveis e os requisitos necessários para obtê-los nem sempre fazem parte do tipo de conhecimento provido pelas incubadoras: ―(...) eu tinha muita dificuldade nessa parte, na parte financeira né, para tratar com banco, esse tipo de coisa. Então era, eu não tinha a mínima idéia de como fazer isso. Uma coisa interessante, a gente agora para poder conseguir o financiamento, a gente vai recorrer ao FINIMP, é um financiamento específico para importação. Se na época que a gente estava, sei lá, alguns meses de vida a empresa, alguém fosse dizer para mim que eu ia ter que fazer isso, eu ia me desesperar, eu vou fazer o que? Eu não sei nem para onde eu ligo para saber como é que faz, entendeu? Agora a gente já tem bastante experiência, e aí fica mais fácil.‖ (EE67) Muitos empreendedores mostraram considerável desconhecimento dos produtos de crédito a eles disponíveis. 5.4.3.3 Consultor No papel de consultor, o banco orienta a empresa para a solução de problemas específicos. O gerente de banco, muitas vezes chamado de gerente de relacionamento ou consultor de negócios, é um dos principais canais utilizados pelo banco em seu papel de consultor. No entanto, os entrevistados eram altamente desconfiados de sua atuação. Foram relatados alguns casos, por exemplo, de vendas casadas – onde o cliente contrata mais de um serviço sem ter conhecimento de tê-lo feito. Esta prática é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC): ―(...) quando fiz um empréstimo no ano passado, o meu gerente pediu que, para compor um valor menor na negociação, pediu que eu fizesse um seguro de vida, ok, eu não assinei nada, fica muito, não digo na informalidade, mas na confiança, falei com gerente, não sei o que aconteceu, quando puxei meu extrato estava debitando 169 seiscentos e quinze reais, no seguro de não sei o que, eu liguei para o cara e ―o que é isso aqui?‖ ―é o seguro de vida que você fez‖ ―amigo não fiz nenhum seguro de vida, não autorizei você meter meu nome, pegar dinheiro na minha conta, quem autorizou você a fazer isso?‖ ―tem aqui um contrato‖ ―quero ver esse contrato assinado por mim‖ enfim renovaram o contrato, com um valor x de seguro. O que quero dizer se a gente não está atento com um extrato, passa muita coisa ― (EE09) Os interesses dos bancos comerciais/gerentes de banco e empreendedores parecem não estar alinhados, devido essencialmente ao fato dos primeiros terem que cumprir metas de curto prazo. O gerente é visto com freqüência como atendendo aos interesses do banco e não do cliente: ―Nós, por exemplo, tínhamos dinheiro aplicado no banco, segundo o que nos foi informado era resgate automático e depois de dois anos eu percebi que a pessoa que trabalhava comigo na gerência financeira do meu banco, nos cobravam juros mesmo com o dinheiro aplicado; então levava um dia pra baixar, e o dinheiro aplicado rendia num mês era menos que aquele dia que ficava descoberto e, com isso, os banqueiros...estão nos roubando, porque a palavra é esta, eles nos roubam, porque eu não preciso de banco pra coisa alguma, não ganho dinheiro com banco, só gasto dinheiro com banco, entendeu, e essas coisas estão demandando atenção, porque realmente manter milionário não é um esporte bom de se praticar.‖ (EE28) Foram identificadas diversas formas pelas quais o serviço de assessoria poderia ser prestado pelo banco: via gerente; cursos sobre temas específicos (ex.: cuso de comércio exterior do Banco do Brasil); e simuladores financeiros em seus sites. Destacaram-se quatro tipos de consultoria oferecidos pelos bancos a pessoas jurídicas: consultoria de produtos serviços; consultoria gerencial (visa à correta gestão de recursos financeiros); consultoria de gestão de risco e consultoria estratégica (assessoria em operações e negócios internacionais, desenvolvimento de soluções de negócios, realização de estudos de viabilidade e participação, entre outros). 170 5.4.3.4 Controlador Função da controladoria – no contexto da administração financeira, a controladoria serve como órgão de observação e controle da firma, preocupando-se com a constante avaliação de eficácia dos vários departamentos no exercício de suas atividades. Pela função de controlador, o banco mantém ou amplia a eficiência dos recursos pertencentes a MPMEs e gerencia a diversidade de operações realizadas pela firma (concilia prazos, considera a existência de funcionários com diversos níveis de responsabilidade, a existência de clientes das MPMEs com diferentes necessidades, concilia informações financeiras entre diversos estabelecimentos da empresa, etc). Kanitz (1976) resumiu em 6 (seis) as funções de controladoria: informar, acompanhar, avaliar, planejar, motivar e coordenar. 5.4.3.4.1 Informações de Controle As informações de controle, ao contrário das informações oferecidas pelo banco em seu papel de divulgador, geralmente são fornecidas diretamente ao cliente, para seu próprio uso e controle financeiro. São informações, revestidas por lei de garantia de sigilo bancário (ex.: informações constantes em saldos e extratos). 5.4.3.4.2 Acompanhamento Esta função diz respeito à checagem do desenvolvimento de planos traçados, de modo que as operações ocorram da forma desejada, de acordo com os requisitos regulamentares ou de forma segura. Ela está relacionada ao monitoramento e à verificação de atendimento aos padrões previamente estabelecidos, à adoção de medidas de segurança contra fraudes e furtos (possibilidade de rompimento de sigilo bancário, clonagem, etc). Também se pode pensar aqui na segurança de bens em posse do banco e na segurança 171 pessoal de clientes e stakeholders quando em visita às agências bancárias, postos de atendimento, caixa eletrônicos, etc. A função de acompanhamento também diz respeito à tomada de conhecimento por parte do banco de problemas a solucionar, operacionalização queixas eventualmente dos clientes, enfrentadas, dificuldades identificação de de novas necessidades de clientes, ou seja, dificuldades que poderiam representar algum tipo de risco. Acompanhamento se refere ainda ao estabelecimento de medidas de segurança. Entre elas, os serviços de bloqueio e desbloqueio de cartões, as senhas de caixa eletrônico, para uso de Internet e os chips dos cartões de crédito. Tal função também é desempenhada via serviços de segurança mais antigos, onde o banco é responsável pelos bens e direitos colocados sob sua custódia, na forma de depósitos ou por ocasião a prestação de serviços tais como o de cofre-forte (transporte de bens, documentos e numerários, cheques, cédulas, tíquetes, etc). 5.4.3.4.3 Planejamento Nesta função, o banco disponibiliza produtos e serviços que facilitem o planejamento empresarial, a programação financeira da firma. Tais produtos e serviços permitem à empresa contornar imprevistos, controlar prazos de pagamento, ajustando-os a seu fluxo de caixa, conferindo flexibilidade em escolhas futuras em termos de prazo e condições de pagamento. O pagamento eletrônico, por exemplo, contribui para uma melhor programação de gastos ao permitir o agendamento dos pagamentos por até um ano. Além dos pagamentos convencionais, dispondo das guias para pagamentos de tributos, o cliente pode escolher a quantidade de parcelas, a melhor data de pagamento, além de fazer simulações de pagamento. O banco pode auxiliar ainda no pagamento de contas de concessionárias habilitadas para processamento no banco, tais como Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), seguro obrigatório, inspeção veicular, licenciamento da frota da empresa e recarga do telefone pré-pago. Ao permitir o parcelamento de uma fatura, o banco confere flexibilidade à gestão financeira da firma, ao lhe permitir 172 optar por um prazo maior para pagamento, reduzindo o valor a ser desembolsado a cada período, de acordo com critérios de necessidade ou conveniência. O banco também pode oferecer um melhor gerenciamento de fatos não antecipados, ao oferecer por exemplo a opção de recompra de títulos como Traveler cheques, cujo saldo pode ser creditado na conta corrente, caso não seja utilizado. Produtos como derivativos, por exemplo, são instrumentos financeiros destinados à correta gestão de riscos financeiros, que permitem à empresa focar esforços nas atividades fim e reduzir ou eliminar descasamentos, evitando surpresas desagradáveis no resultado. São uma forma de proteger os agentes econômicos (produtores ou comerciantes) contra os riscos decorrentes de flutuações de preços durante períodos de escassez ou superprodução do produto negociado. Contribuem para ajustes decorrentes de sazonalidades e outras incertezas comuns no empreendedorismo. Encontra-se na presente função ainda toda a linha de seguros, destinada à eliminação/redução dos danos financeiros causados por acidentes/incidentes: seguro de vida, seguro contra roubo de cartão, seguro de vida, seguro empresa, seguro contra acidentes e danos a terceiros, seguros de transporte e outros sinistros. Estes são produtos essenciais para proteger o patrimônio da firma, mas com os quais poucos empreendedores se preocupam de imediato: Temos, temos seguro. Seguro de tudo, de quase tudo, do prédio, da mercadoria (...) Não, não de cinco a seis anos pra cá. Começa quando a gente começa a perceber que se acontecer alguma coisa a gente vai tar perdendo todo o patrimônio que foi construído ao longo de anos, então, relacionamento com os gerentes de banco, eles oferecem, a gente faz adaptação do que precisa e faz, os valores são baixos, esses seguros são relativamente baratos, e a gente fez o seguro há seis anos, renova anualmente e esperamos nunca usá-los.‖ (EE03) Dois outros produtos bancários que também podem contribuir bastante para o planejamento são o consórcio e o leasing. O consórcio permitiria a programação da troca de veículos da empresa, sem juros, sem IOF e sem taxa de adesão, com prestações baixas (BANCO SANTANDER, 2011). O leasing seria uma forma de crescer com segurança, competitividade e sem comprometer o capital de giro (BANCO ITAU-UNIBANCO, 2011). Leasing é 173 uma operação de arrendamento que permite escolher a forma de pagamento que melhor atenda ao fluxo de caixa da empresa. Ao término do contrato o arrendatário pode optar por renová-lo por mais um período, por devolver o bem arrendado à arrendadora ou ainda dela adquirir o bem; pelo valor de mercado ou por um valor residual previamente definido no contrato. Finalmente, podem ser citados os programas de capitalização, que visam à constituição de uma reserva, da qual poucos empreendedores, especialmente os breaking frees, geralmente não dispõem: ―Ou então, quando você começa a ganhar... você gasta além do que você ganha e não olha o dia de amanhã, quando você pode vir a precisar. Então, quando você é dono de uma empresa você tem que saber que você tem que tirar o mínimo possível pra você aplicar no que você está ganhando. E saber controlar o dinheiro pra que você não caia. O que muitas vezes acontece aqui. Você ganha mas o cara acha que o que você ganha não tem custos, impostos, aluguel... Depois que você tirar tudo, do que sobra você tem que tirar só uma parte. Se você tirar todo o seu lucro você quebra, porque as contas não deixam de chegar‖ (EE17). A capitalização é uma modalidade securitária que consiste num valor depositado mensalmente pelo capitalizado, que pode sacar apenas parte do saldo no final do plano. 5.4.3.4.4 Coordenação A coordenação se destina essencialmente ao gerenciamento da diversidade (FLECK, 2009), visando à eficiência na administração de recursos da firma em poder dos bancos, pela redução de custos e despesas ou pelo aumento dos rendimentos das operações. Visa-se a uma sinergia, a um aumento do resultado global das operações realizadas pela firma. Fala-se aqui também freqüentemente em aumento da praticidade das tarefas, redução de documentos exigidos; redução das etapas necessárias para a execução de cada operação, da burocracia; e em oferecer comodidade ao empreendedor. No que se refere a aumento dos rendimento e redução dos custos das operações, um exemplo clássico, são os fundos de investimentos - cambiais, renda fixa, Certificado de Depósito Bancário (CDBs), Certificado de Depósito 174 Interbancário (CDIs), administrados por gestores com conhecimento especializado em gestão de fundos e destinados a empresas que buscam rentabilidade com liquidez diária. Neste caso, MPMEs podem ser beneficiadas com tributação diferenciada, o que contribui para a redução das despesas. No leasing, o pagamento ao fornecedor, quando realizado à vista pode permitir que o empreendedor negocie o melhor preço para sua empresa. As contraprestações podem ser utilizadas para reduzir a base de cálculo para o Imposto Renda, caso a empresa seja tributada no lucro real. Também pode haver redução de despesas pela integração ou conciliação entre os diversos produtos e serviços oferecidos pelo banco. Um dos mecanismos mais utilizados para a redução de tarifas ao cliente empreendedor é a oferta de pacotes, que reduzem o preço a ser pago elo uso de um conjunto de serviços. Também pode ser reduzida a anuidade para cartões de crédito de acordo com seu grau de utilização. A coordenação também visa à integração das operações financeiras realizadas pela firma, tais como pagamentos, aplicações financeiras, empréstimos, etc. Um dos instrumentos mais modernos e úteis para a integração da operacionalização de produtos e serviços bancários são os gerenciadores financeiros, capazes de reunir centenas de transações bancarias realizadas por uma empresa, tornando mais práticas as operações realizadas no dia a dia. Com eles, é possível transferir valores entre contas correntes, efetuar pagamentos, emitir Documento de Crédito (DOC) e Transferência Eletrônica de Disponível (TED), realizar aplicações financeiras, obter extratos e empréstimos, controlar a carteira de cobrança, de forma online, o que pode facilitar a gestão das contas a pagar e a receber. Tudo isto ―sem enfrentar filas, nem perder tempo‖ (BANCO SANTANDER, 2011). Note-se porém que entre microempreendedores, breaking frees do comércio de bairro, do setor de autopeças e afins, alguns embora já dispusessem de computadores com os quais poderiam teoricamente efetuar pagamentos com código de barras, eram grandes as dificuldades para lidar com o equipamento: ―Ajuda, só que eu não tenho conhecimento de internet e não tem ninguém que tem esse conhecimento junto comigo, para passar e-mails, para mandar, pra trabalhar dentro da internet, a internet é 175 uma tremenda ferramenta eu sei disso, eu não posso nem dizer nada, porque o meu maior problema é que eu não sei trabalhar com internet, não me adeqüei a esse sistema moderno de internet. (...) eu e o computador somos dois inimigos, somos inimigos mesmo, e se tiver alguém para ajudar, não ajuda.‖ (EE11) Para as firma mais hábeis em lidar com este tipo de recursos e voltados para o comércio internacional, a possibilidade de comércio eletrônico, oferecida pelos bancos, pode facilitar a promoção comercial das empresas exportadoras brasileiras no exterior e agilizar o contato com o importador pela Internet, sem custos para o empreendedor (BANCO DO BRASIL, 2011). Os sistemas de comércio eletrônico também seriam capazes de viabilizar aquisição de vantagens competitivas ao reduzir os custos de marketing, distribuição de produtos e atendimento ao consumidor, além de melhorar os canais de comunicação com clientes. Os boletos bancários permitiriam uma maior agilidade na cobrança e seriam um dos grandes aliados dos empreendedores na luta contra a inadimplência, visto que permitiriam a cobrança automática de juros, previamente acordada com o cliente, em caso de atraso de pagamento: ―Então, isso que eu mudei. Eu passei a cobrar diferente os clientes, eu passei a assinar contrato, ―você pode pagar em tantas vezes‖. Agora eu só faço no boleto, porque no boleto se ele atrasar, automaticamente quando for pagar o banco, já vai gerar multa e juros, né? Então, quando você vai atrasar, você vai pagar com multa e juros, sem me pedir, vai ser automático. Você não tem como pagar com juros e multa, e às vezes a pessoa já está inerente a isso aí. Então eu pude parcelar no boleto mais vezes sabendo que a multa e juros vão acontecer de qualquer jeito, entendeu? Então, eu mudei, vamos dizer assim, a forma de cobrança, e botei hoje o maior do que seria, entre aspas, os juros para compensar os inadimplentes‖ (EE42). A inadimplência, principalmente proveniente das compras com cheques (títulos de crédito), era uma das grandes preocupações especialmente no caso dos breaking frees, para os quais a cobrança se transformava com freqüência em um verdadeiro tormento, ainda que dispusessem de instrumentoos como o Centralização dos Serviços Bancários S/A (CERASA): ― (...) o cheque era um tormento na nossa vida, muito muito muito. Um bolo de cheque devolvidos na gaveta fora os que meu pai tacou no lixo de ódio [risos]. (...) A gente tinha o sistema [CERASA], mas o sistema não adiantava. (...) Diz que o cheque não é roubado, 176 mas não garante que o cheque tenha fundos. Pode aceitar, mas depois o cara ia sustar o cheque. De vez em quando a gente toma um tombo de oficina; uma pessoa que compra com você há dez anos, você não acha que ela vai te dar um calote. Aí ela tem um crédito grande, ela compra compra compra e depois óóóó... vai lá cem vezes e o cara ―-ah, tenho dinheiro não‖. (...) Meu pai, de vez em quando o motoqueiro vai. Você não vai brigar, porque se ele não quiser pagar ele não vai pagar mesmo, então tem que ir na conversa, cem vezes...‖ (EE02) A coordenação de recursos se torna imprescindível conforme a empresa cresce, e as operações se tornam mais variadas. Cartões de débito e de crédito podem fazer a conciliação entre as despesas pessoais do empreendedor e as despesas da firma: ―(...) melhora a gestão do negócio [o cartão de crédito], pois permite separar as despesas pessoais das profissionais concentrando todos os pagamentos em uma única fatura. Você evita que as despesas pessoais se confundam com as da empresa, dá autonomia aos empregados para a realização de compras e ainda tem total controle dos gastos. A empresa vai ganhar praticidade no pagamento das despesas do dia-a-dia. As compras são realizadas sem burocracia e podem ser parceladas‖. (BANCO ITAU-UNIBANCO, 2011) As entrevistas mostraram que despesas pessoais e da firma freqüentemente se confundiam, principalmente no caso dos breaking frees: ―Quando você não tem...quando o teu custo é pequeno, quando você não tem família, é mais fácil. O cara que não tem família, mas ele tem uma boa cabeça, ele consegue se dar muito bem aqui. Até dá pra fazer umas duas, três lojas...agora, quando o teu custo é muito alto, é complicado.(...) É, acaba misturando [as despesas privadas e as despesas da firma]. Acaba misturando, porque é de onde eu pago as minhas contas de casa. Eu não tenho como...eu tenho que ter uma retirada pra poder sustentar a minha casa.‖ (EE20) Em busca da eficiência, alguns bancos chegam a falar em ―assumir a administração de determinado setor da firma‖, tal como o contas a pagar, coordenando suas atividades enquanto bancos com as da própria empresa, como se dela fizesse parte. Isto, a fim de maximizar a eficiência do setor financeiro, com trabalho mais rotineiro, e deixar o empreendedor livre para atividades nas quais possa criar maior valor para a firma: ―O Pagamento a Fornecedores Santander é um serviço que cuida do contas a pagar da sua empresa, de forma ágil, segura e 177 automatizada, eliminando o trânsito de papéis na liquidação de seus compromissos‖ (BANCO SANTANDER, 2011). Na empresa de EE08, ter gestores para administrar os setores de contas a pagar e contas a receber foi um fator primordial para que o empreendedor pudesse finalmente vir a organizar sua firma: ―No início eu fazia de um tudo aqui, comprava, vendia, arrumava a loja, estoque, tudo! Aí depois eu fui botando uma pessoa no contas a pagar que também era eu e a Clarisse. A Clarisse que trabalha comigo até hoje. Ela fazia tudo.era caixa, era contas a pagar, contas a receber, tudo no começo era ela que fazia isso dava pra fazer depois a loja começou a crescer um pouquinho, ter um pouquinho mais de movimento, aí já tinha uma pessoa pra fazer contas a pagar, outra pra fazer contas a receber, que quem fazia contas a receber fazia parte contábil também, eu ficava nas compras...depois...comecei a contratar mais vendedores...é...comecei a estruturar a empresa tinha um comprador...uma pessoa pra comprar, aí fiquei mais aliviado, aí comecei a ficar mais só na parte de comando.‖ (EE08) O crescimento pode levar as empresas a abrirem filiais; a integração entre matriz e filiais nem sempre é simples; nem em termos de contabilidade, nem de ritmo de trabalho ou de cultura organizacional. Uma das formas ―básicas‖ de ajudar na conciliação de fatos contábil-financeiros entre matriz e filial é pela própria capilaridade bancária. Em dezembro de 2010, as cinco instituições bancárias analisadas se encontravam entre as 10 instituições com maiores redes de agência por conglomerado no Brasil. Os números, segundo o Banco Central eram: Banco do Brasil (5.087), Itaú (3.765), Bradesco (3.635), Santander (2.393), Caixa Econômica (2.208). Com mais de 30 mil caixas eletrônicos e ―o melhor Internet banking do Brasil‖ (ITAÚ-UNIBANCO, 2011), um banco pode conseguir se fazer presente em todo o país. Em 2010, o Banco Bradesco se tornou o primeiro banco privado brasileiro a estar presente em 100% dos municípios brasileiros; hoje, ele conta com 43.128 pontos, como agências, postos bancários, banco postal, Bradesco expresso, além de 31.759 máquinas de auto-atendimento do Bradesco Dia & Noite e 9.248 do Banco 24 horas, e também os canais de conveniências Internet Banking e Fone Fácil. Os bancos também podem atuar na integração dos registros contábilfinanceiros de diversas entre matriz e filiais de uma mesma empresa. Bradesco 178 se destacou nesse ponto com um produto e um serviço do gênero – o Caixa Centralizado e o gerenciador por grupo econômico: ―O sistema de Caixa Centralizado permite aos clientes com mais de uma conta no Banco, consolidar seu fluxo de caixa em uma única conta (conta matriz), através de transferência automática de saldo, ao final de cada dia (movimento). Com o sistema de Caixa Centralizado Bradesco, o sistema transfere automaticamente o saldo final das contas filiais para a conta da matriz, visando a zerar seus saldos. Ou seja, o sistema proporciona o transporte dos saldos das contas filiais para a conta da matriz ao final de cada movimento. Principais vantagens: redução de custos operacionais, uma vez que as transferências são automáticas; eficiência e agilidade nas transferências, pois não há envolvimento manual, gerenciamento da movimentação do caixa visualizada em uma única conta (matriz). Centralização dos recursos no final do dia em uma única conta que otimiza a gestão do fluxo de caixa. Controle total de todas as contas, pois ao final de cada dia útil, os saldos credores ou devedores das contas de origem (contas-filhas) são transferidos automaticamente para a conta que centraliza os recursos (conta-mãe).‖ (BANCO BRADESCO, 2011) Os bancos também pareceram procurar criar cada vez mais produtos e serviços moldáveis para o caso de cada cliente. O Internet Banking Empresarial Santander, por exemplo, possibilitava o gerenciamento de limites de crédito dos cartões de cada funcionário e a consulta dos lançamentos de compras e saques a débito efetuados por cada um dos cartões da empresa. A empresa poderia ter assim total controle quanto à escolha de usuários, sendo possível definir quantos usuários teriam acesso ao Net Empresa e qual o Nível de Acesso de cada um, podendo, ainda, estipular quais contas ou Produtos/ Serviços seriam operados por eles. EE59 ressaltou a dificuldade de empresas para estabelecerem níveis de acesso diferenciados em seus controles internos: ―Um que a gente quer colocar, assim, é... acesso com controle... de acesso a conteúdos, como a gente tem desenvolvido mais tecnologias é... em temos concorrentes, abrem mercados... é... como reduzir o acesso a uma pessoa que amanhã a gente não sabe se vai tá indo pro concorrente. Como é que você controla isso? Né? O que não controla? Hoje em dia você não tem controle nenhum é uma coisa que ta... a gente tem pensado muito. Nós já vimos alguns concorrentes tomarem ações que eram previstas por nós. Eu conversei com amigo meu que sobre isso...‖ (EE59) 179 Foram encontrados ainda diversos produtos com múltiplas finalidades: cartão de débito – com o serviço, se pode sacar nos caixas eletrônicos e/ou agências ou ainda transferir recursos entre contas. 5.4.3.4.5 Motivação A motivação se refere aos efeitos dos sistemas de controle sobre o comportamento dos indivíduos (KANITZ, 1976). No caso dos bancos, geralmente, aparece sob forma produtos ou serviços que representem benefícios a serem concedidos a funcionários e gestores, que visam basicamente ao aumento de sua produtividade. Pode-se dizer que enquanto a coordenação foca o aumento da eficiência sob o ponto de vista da firma, a motivação foca o aumento da produtividade sob o ponto de vista individual. São diversos os benefícios oferecidos com a pretensão de motivação de funcionários – motivação que visa não apenas ao aumento da produtividade, mas também a uma maior facilidade de retenção. Entre os produtos e serviços comumente oferecidos se encontram para fins de retenção, se encontram: seguro de vida, seguro acidentes pessoais, previdência, auxílio funeral, cesta básica, assistência a viagem, etc. Empreendedores que disseram ter poucos problemas de dificuldades de retenção de funcionários, ofereciam-lhes diversos benefícios: ―Sobre a folha de pagamento eu tenho mais ou menos 45% de encargos. Sem considerar os benefícios que a gente chama plano de saúde. Um plano de saúde, plano de dental, condução e vale refeição, nosso custo benefício mais encargo chega a mais ou menos 70% do salário‖ (EE36). Não foi mencionada a utilização de planos de aposentadoria complementar pelos participantes como forma de retenção e recrutamento de funcionários. Cartões Vale podem contribuir para o aumento da produtividade, pois evitam que funcionários demandem vales em dinheiro diretamente ao empreendedor, o que as entrevistas mostraram ocupar tempo com tarefas que não criam valor para a firma, e contribuir para perda de controle da folha de 180 pagamentos. EE08 revelou o quanto a concessão de vales de forma desordenada pode ser prejudicial à empresa: ―O cara [o funcionário da empresa] chega pra você assim: Pô, EE08, tô precisando pagar o meu cartão, o meu cartão atrasado...eu falo:‖-mas pô...‖Aí vale, vale, vale...A pessoa já tava com três, quatro meses de salário adiantado...E isso é uma das coisas que...uma das pessoas que contratei foi a Clarisse que organizou isso, então oh, vale é só dia vinte e pagamento é dia cinco, então não adianta pedir vale é...nos outros dias senão...tu precisa de uma pessoa só pra dar o vale, imagina quarenta pessoas todo dia vem te pedindo vale, o custo por dia...você não consegue...(...) Ele te toma tempo, e às vezes é uma hora que eles chegam numa hora ás vezes que é a hora que você tá mais ocupado sabe que naquela hora eu não vou dizer não.Que eu queria resolver...resolver um problema de banco, o banco tá fechando...tem que resolver, o cara tá me pedindo um vale, eu tem que liberar na hora...‖ (EE08) Ao contrário dos vales concedidos em espécie, os vales bancários seriam capazes de vincular o crédito dos cartões a determinados tipos de gastos, fazendo com que o dinheiro concedido pela empresa fosse efetivamente aplicado na despesa pretendida pelo patrão. Entre as modalidades de vale encontradas estavam: vale refeição, vale natal alimentação, vale transporte e vale passagem. Via vales, os bancos geralmente prometiam: eficiência para a área de RH, redução de custos com pessoal, segurança de cartões, vinculação à finalidade específica e uso pelo próprio beneficiário, dada a necessidade de digitação de senha pessoal. Note-se porém que a reposição de crédito nos vales adquiridos ainda era considerada precária, dada a falta de opção de fornecedores e os atrasos freqüentes dos existentes, o que chegava a levar empreendedores a brigas com fornecedores de vales, que podiam consumir boa parte de seu tempo e dificultar o planejamento que já era precário no caso dos breaking frees: ―A gente teve um problema com a Visa Vale que nós ficamos vinte e quatro horas brigando com eles por telefone porque há uma semana eles não conseguiam colocar o crédito no Visa Vale. Não era nem receber o cartão, não conseguiam colocar o crédito. Houve um problema interno deles, nós mandamos o comprovante de pagamento, que eles pediram, demorou uma semana, mas por quê? Não tem uma explicação. Demorou uma semana. Eu fiquei seis horas no meu celular, acabou a bateria do meu celular, seis horas no meu celular, brigando com o cara, sem desligar o telefone.(...) Mas o problema maior que a gente teve é que a gente teve que repor ao funcionário o que a gente já tinha pago pro vale-alimentação, os cartões não chegaram e a gente teve que dar o dinheiro para o 181 funcionário, mas pra empresa isso é muito ruim, porque a gente tem um planejamento de gasto mensal. Se a gente aumenta o dobro em um gasto, de uma hora pra outra, a gente altera o volume, então a gente evita que isso aconteça.(EE52) Assim, um mesmo serviço pode contribuir para o crescimento de MPMEs quando desempenhado de forma eficiente, mas resultar em danos que ameacem sua sobrevivência quando realizados de forma não conveniente. 5.4.3.4.6 Avaliação Os bancos interpretam fatos, informações e relatórios, avaliam resultados por áreas de responsabilidade, processos ou atividades, fazem avaliações de perfis de clientes, da qualidade de suas transações, garantias e outros aspectos que possam acarretar algum tipo de risco para a empresa ou para o banco enquanto contratado. Um dos primeiros contatos do o cliente empreendedor com o banco em sua função de avaliador se dá por ocasião da abertura da conta corrente, quando o último avalia a fidedignidade dos dados fornecidos e o preenchimento por parte do cliente dos requisitos mínimos para abertura de conta-corrente. A partir desta avaliação o banco enquadra a empresa na categoria de cliente que julgue mais adequada, de acordo com padrões estabelecidos em seu regimento interno e sua avaliação do risco que o cliente representa. Entre os dados mais comumente avaliados para abertura de conta-corrente foram encontrados: a identidade dos sócios, o faturamento da empresa, o tempo de relacionamento com outros bancos, principais fornecedores, o tamanho da empresa, seu tempo de vida, entre outros. O gerente é geralmente quem avalia por ocasião da concessão de crédito a probabilidade de não haver reembolso do valor concedido. Também para a concessão de crédito, os bancos avaliam as garantias pessoais ou reais prestadas pela firma, assim como os projetos dos empreendedores. O quadro 5.6 resume os quatro papéis e suas respectivas funções. 182 Os 4 Papéis dos Resumo das Funções Bancos Provedor de recursos Captação de recursos para posterior repasse: empréstimos, financiamentos, antecipação de recebíveis, repasses BNDES, cartão BNDES e outros créditos rotativos, crédito do cheque especial, FINIMP, ACC (adiantamentos sobre contrato de câmbio e outras modalidades de crédito; Viabilização da captação de recursos junto a terceiros: serviço de correspondente bancário; postos de atendimento na empresa; garantias; fianças, filiação a redes de cartões de crédito; Difusor de informações Informações de Fomento ao Empreendedorismo - voltadas a empreendedores iniciantes e em potencial. Informações de caráter gerencial, novas oportunidades de negócio; informações sobre legalização de negócios, termos básicos relacionados ao empreendedorismo, explicações sobre organismos de fomento, etc; Informações Conjunturais - Informações que descrevem o ambiente social, econômico e político. São divulgadas periodicamente. Também estão incluídas aqui informações de senso; Informações Legais e Regulamentares - Informações sobre leis, sites onde legislações específicas possam ser encontradas, nomenclaturas oficiais de mercados internacionais (EX: INCOTERMS), regras bancárias, códigos de ética dos bancos, entre outros; Informações de Registro - Informações de registro envolvem geralmente dados cadastrais de clientes (cadastro, registro no cheque sem fundos), registro de ocorrências com vistas à tomada de decisões corretivas. Estas informações se destinam geralmente à prevenção de crimes contra terceiros por parte dos clientes; Informações de Âmbito Social - divulgação de informações referentes a responsabilidade social dos bancos (cultura, arte, esporte e lazer), agenda de eventos futuros ligados a empreendedorismo, reuniões de empreendedores, esclarecimento sobre convênios com órgãos como o SEBRAE; Informações Comerciais - Informações sobre produtos, serviços e progandas visando à melhoria da percepção de produtos e serviços prestados pelo Banco; informações que permitam ao cliente estabelece comparações entre preço e qualidados produtos e serviços oferecidos pelo banco. 183 Consultor O banco oferece direta ou indiretamente um serviço de assessoria, para o problema específico enfrentado pela empresa em um dado momento, adaptando as soluções a seu histórico, ramo de atividades, porte, etc. Existem três tipos básicos de assessoria: Consultoria produtos pessoa jurídica, consultoria gerencial (ex: em operações e negócios internacionais) e consultoria em gestão de risco. Entre os principais canais (fusões, aquisições, venda de ativos, formação de joint ventures, reestruturações societárias, privatizações, etc) . Entre os principais canais de consultoria direta desenvolvidos pelos bancos estão: centrais de atendimento, ouvidorias, gerentes, simuladores operacionais e cursos. Os bancos também podem prestar serviço de assessoria de forma indireta; um exemplo claro consiste na criação de comunidades de empresas, em que empreendedores auxiliam uns aos outros com sua própria experiência; Controlador Informações de controle - Registro de movimentações financeiras, de forma tempestiva, precisa e regulamentar. As informações de controle se destinam a dar embasamento para a tomada de decisão, para o acompanhamento da situação real das finanças da firma, planejamento, avaliação de resultados e implementação de mudanças na gestão das finanças; Acompanhamento - Diz respeito ao acompanhamento dos planos traçados, de modo que se assegure que as operações ocorram da forma desejada ou regulamentar e que eventuais desvios sejam evitados ou corrigidos. Pelo acompanhamento fica assegurada a segurança das informações (teclados virtuais, desconexão automática, senhas) e operações (cofre forte, bloqueio e desbloqueio de cartões de crédito e cheques); Coordenação - ligada à eficiência na administração de recursos e redução de custos. e despesas da firma. O Banco visa a obter a sinergia entre os recursos que a firma colocou em seu poder e outros recursos de que dispõe, oferecer praticidade e comodidade ao empreendedor e funcionários nas operações bancárias e gerenciar a diversidade, considerando que a firma tenha produtos diversos, clientes com gostos diferentes, funcionários em diversos níveis hierárquicos e que as situações de todos eles podem se refletir nos serviços bancários mais desejáveis para cada tipo de operação. Tudo isto resulta na oferta de produtos e serviços oferecidos em diversas modalidades e um maior grau de liberdade em termos de escolha por parte do empreendedor. Fala-se aqui também na integração entre diversas partes da firma (entre setores, filiais, matriz e filial). São oferecidos pacotes para a redução de custos, fundos de investimento para maior rentabilidade dos recursos em poder do banco e programas de pontos no cartão, pelos os quais a própria utilização do produto, gera recursos extras; Planejamento - o banco disponibiliza produtos e serviços que 184 facilitam o planejamento empresarial, a programação da firma. A função confere flexibilidade em escolhas futuras e possibilita à firma estabelecer mecanismos para lidar com imprevistos financeiros. O banco contribui para o planejamento financeiro quando permite o pagamento parcelado do crédito ou bens adquiridos via leasing ou consórcio, quando permite que a firma compre produtos que a proteja contra imprevistos (derivativos e seguros). Ele também pode ajudar o empreenedor a constituir reservas financeiras, como no caso dos planos de capitalização. Avaliação - o banco interpreta fatos, informações, relatórios, laudos e resultados de operações, de modo a fornecer um parecer em caso de necessidade regulamentar (para verificar a regularidade de operações e cadastros) ou solicitação; Motivação - neste caso, o banco, via os produtos e serviços que oferece, visa a afetar o comportamento de indivíduos dentro da firma. Tais produtos e serviços teriam como função oferecer benefícios (cartões vale, planos de previdência), praticidade e comodidade aos empregados na execução em tarefas ligadas à firma ou ainda evitar idas frequentes ao banco. O objetivo aqui é o aumento da produtividade a nível individual. O banco contribui para a melhoria da gestão do departamento de RH. Quadro 5-6 Os Quatro Potenciais papéis dos Banco Comerciais 5.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS – A Ambição Empreendedora A seguir se encontra a análise da influência dos 5 perfis motivacionais e os reflexos de seus comportamentos na vontade de crescimento e habilidade para crescimento da firma. Segundo Sirec e Mocnik (2010), firmas poderiam ser agrupadas em quatro tipos segundo sua vontade de crescimento e habilidade para o crescimento: (1) firmas com vontade de crescimento e habilidade para o crescimento; (2) firmas sem vontade de crescimento, mas com habilidade para o crescimento; (3) firmas com vontade de crescimento, mas sem habilidade de crescimento; e (4) firmas sem vontade de crescimento ou habilidade de crescimento. No presente estudo, sugere-se que as firmas analisadas tenham habilidade para o crescimento variando de média-baixa a média-alta. Não 185 foram encontrados empreendedores sem vontade de crescer; alguns haviam tido sua vontade consideravelmente reduzida ao longo do tempo, diante das dificuldades do negócio e sua falta de habilidade para enfrentá-las. Sendo assim, as firmas foram classificadas em quatro grupos: (1) empreendedores com vontade de crescer média-alta e com habilidades média-alta; (2) empreendedores com vontade de crescer média-alta e com habilidade crescimento média-baixa; (3) empreendedores com vontade de crescimento média-baixa e com habilidade de crescimento média-baixa e com habilidade de crescimento média-alta; e (4) empreendedores com vontade de crescimento média-baixa e habilidade de crescimento média-baixa. As habilidades para o crescimento foram classificadas em média-baixa e média-alta, conforme as dificultades descritas pelos próprios entrevistados 5.5.1 Firmas com Vontade de Crescer e Consideráveis Habilidades para o Crescimento Neste grupo foram encontrados apenas as firmas lideradas por identificadores de oportunidades, que foram capazes de responder de forma satisfatória a todos os desafios propostos por Fleck (2009). No que se refere ao desafio Empreender em Bases Contínuas, as firmas de identificadores de oportunidades tinham vontade de crescer, mesmo após terem passado por grandes dificuldades, tal como rompimento de sociedades, falta de capital inicial, excesso de trabalho. Mesmo em empresas já graduadas se encontrava um grande otimismo em relação às perspectivas de crescimento para a firma. Enquanto o otimismo da maior parte dos empreendedores dos demais grupos tendia a diminuir com o tempo, o dos identificadores de oportunidades tendia a aumentar: ―(...) objetivo agora é ficar rico mesmo, não era de dois anos atrás, mas não é algo...não é tipo ―eu tenho que fazer‖ (EE44). Eram firmas muito versáteis, que adotavam estratégias first to market lutavam de forma incessante para jamais se deixarem alcançar pela concorrência. Para tanto, introduziam de forma constante novos produtos no mercado. Tinham grande feeling para a percepção das necessidades do mercado e como seu próprio nome indica, eram hábeis na identificação de 186 novas oportunidades. Consultavam múltiplas fontes, inclusive o próprio mercado para dar embasamento a seu julgamento a respeito do aproveitamento de oportunidades. As atividades referentes à criação e captura de valor para a firma eram realizadas de forma satisfatória. O crescimento da firma era geralmente alimentado com as folgas organizacionais e com prêmios e financiamentos obtidos de entidades de fomento ao empreendedorismo, tais como a FAPERJ e a FINEP. Identificadores de oportunidades tinham grande preocupação com a formação de um corpo gerencial competente. Investiam fortemente em treinamento (cursos de MBA, mestrado e doutorado), buscavam tanto conhecimento técnico como ―atitude‖ (gosto pela inovação, crescimento e satisfação pessoal), na ocasião da contratação e se esforçavam para desenvolver instrumentos de retenção de funcionários. Identificadores de oportunidades também responderam de forma satisfatória ao desafio da Navegação em Ambiente Turbulento. Foram capazes de criar demanda em nichos de mercados e procuravam estabelecer relações de longo prazo com clientes e os demais stakeholders da firma. Esses empreendedores foram proficientes ainda no gerenciamento da diversidade, sendo proativos na resolução de conflitos interpessoais internos, buscando formar cultura e valores organizacionais baseados em inovação e crescimento. Sua estratégia de first to market e sua postura de constante busca por novos clientes lhes exigia saber lidar com diferentes produtos, clientes e lógicas de mercado. Nas empresas de autopeças, eram adotados softwares avançados para o gerenciamento de estoques e cadastro de clientes. No que se refere ao gerenciamento da complexidade, também responderam de forma satisfatória aos desafios do crescimento propostos por Fleck, ao realizarem planejamento estratégico, levando em conta variáveis relevantes para a previsão do comportamento do mercado, o que resultava em planos mais bem traçados e maior confiança acerca do futuro da organização. Consultavam múltiplas fontes de informação, para formar seu julgamento, se mostraram pré-dispostos a usar os serviços de consultoria em marketing oferecidos pela incubadora. Além disto, adotavam postura de aprendizagem com os erros e procuravam adotar medidas sistemáticas para lidar com os 187 diversos problemas organizacionais. Aprendiam pelo próprio desenvolvimento de novos produtos. Pensavam permanentemente em crescer: ―Aumentar o faturamento, fazer essa empresa crescer. Essa é a principal, todo dia eu acordo pensando, no quê que gente para fazer hoje, para, para... Então, agora, a gente tá aí agora, dia vinte e quatro lançando um novo produto, vamos aprender muito com ele, depois quais serão os próximos. Esse ano a gente quer... Como eu te falei, a gente quer, a gente tem previsão para isso de faturar cinco vezes mais do que no ano passado‖ (EE39). As empresas de Identificadores de oportunidades foram as que apresentaram as maiores taxas de crescimento, algumas cresciam cerca de 110 a 115% ao ano: ―A gente tem crescido a uma taxa média de 110, 115% ao ano. Então ta numa trajetória aí bem forte, bem agressiva de crescimento.(...) É, a gente definiu um plano de cargos e salários, a gente criou uma série de políticas. Eu to falando política em relação a notebook. Política em relação a reembolso de despesas de viagem. Política de formação de pessoal, política de crescimento dentro da empresa, política de remuneração variável. Código de vestimenta. Política de precificação de projetos. Então a gente criou uma série de políticas, que hoje são a base para as pessoas entenderem. E saberem como funciona...‖ (EE68) As firmas cujos formuladores de estratégia eram identificadores de oportunidades formaram um grupo que tinha tanto vontade de crescer, como com capacidade para fazê-lo. 5.5.2 Empreendedores com Pouca Vontade de Crescer e Consideráveis Habilidades para o Crescimento Neste grupo foram encontradas apenas as firmas lideradas por organizadores. Algumas delas foram capazes de crescer de forma contínua. O empreendedor se esforçava para fazer da firma uma máquina de funcionamento cada vez mais eficiente. Os entrevistados eram, no entanto, menos eficientes em relação ao enfrentamento do desafio do enterprising. Com o tempo, um deles foi capaz, por exemplo, de desenvolver relações de longo 188 prazo com fornecedores, o que permitia um melhor aproveitamento de oportunidades: ―Hoje, cada loja tem um comprador. Eu não vendo mais, a loja tem balconista, tem seus vendedores. Eu não preciso mais ir no balcão vender. Hoje eu fico pensando em estratégias em relacionamento com fornecedores, negociações. (...) Eu faço a negociação com o fornecedor, e o comprador vê a necessidade e compra aquilo que precisa.‖ (EE10) No entanto, a preocupação inicial tendia a ser com questões burocráticas. EE65, por exemplo, tardou a desenvolver a parte comercial da empresa; o setor comercial começava a ganhar força quando a empresa já possuía 30 funcionários: ―(...) a parte comercial, aí eu fui fazer a parte comercial (...) Eu diria que hoje ainda é o ponto fraco da empresa, nossa empresa tem uma veia bastante técnica, muito pouco comercial. Também não sou um vendedor nato, eu não sou um cara que tô o tempo inteiro na rua fazendo venda, eu vou quando solicitado (...) E hoje, ou seja, eu passei por todos os setores da empresa, fiz coisa técnica, coisa de oficina, realmente técnica, fiz administração, e agora tô no departamento comercial‖ (EE65). Sob o ponto de vista do desafio da navegação em ambiente turbulento, começava, portanto, a haver preocupação em criar valor para a firma (aumentar o volume de recursos obtidos na interação com stakeholders externos). Estas empresas, no entanto, se preocuparam com a captura de valor, devido a sua eterna ênfase na adoção de procedimentos corretos em relação a clientes, fornecedores e demais stakeholders. No que diz respeito ao desafio aprovisionar recursos gerenciais, eram empreendedores com problemas de contratação. EE65 conseguiu resolvê-los pela adoção de procedimentos, típico de organizadores – contratou uma consultoria especializada. Eram empreendedores preocupados em transformar suas empresas em burocracias, onde cada um tinha sua função e atribuições claramente definidas e eram criados procedimentos e regras internas, tanto para a execução do trabalho como de comportamento. No que se refere ao desafio da complexidade, eles planejavam e todos, mesmo os menores, dispunham de reservas para contingências. Aprendiam com os erros; dois deles disseram aprender tanto com os próprios como com 189 os erros de outros empreendedores das associações de que participavam. A aprendizagem foi uma das características mais marcantes deste grupo de empreendedores. Dois deles, os de empresas mais antigas, disseram ter mudado consideravelmente seu comportamento ao longo do ciclo de vida de suas empresas. Conforme regras e procedimentos iam sendo definidos, o empreendedor parecia ganhar maturidade empresarial: ―Você tem que ir aprendendo dentro de uma estrutura do tamanho de E65 você ainda pode...(...) Ah, eu já tive várias personalidades...tive várias formas de tratar com as pessoas na E65. Eu já fui muito mais incisivo, muito mais... acho que a palavra é incisivo mesmo, ao lidar com as pessoas eu queria que as coisas acontecessem muito mais rápido. (...) Sei lá, amadureci, também observo que essa não é a melhor forma de lidar com as pessoas. De certa forma você tem que ter um nível de tolerância, justamente porque pessoas não são máquinas ― (EE65) No caso de EE65, comportamentos que antes tentava mudar por imposição, passaram a ser aceitos por funcionários de maneira mais consciente e pronta, devido a regras que lhes permitiam compreender o que estavam fazendo e o porquê estarem fazendo o que lhes era demandado. As empresas de organizadores cresciam. Uma delas possuía 3 estabelecimentos, em diferentes bairros do Rio de Janeiro. A outra já chegava a ter 30 funcionários. No entanto, eram firmas que cresciam com um ritmo muito menos forte que as dos identificadores de oportunidades, pois nasceram com muito pouco capital inicial, com poucos relacionamentos que ajudassem de forma efetiva na captação de recursos; contando apenas com a competência profissional de seus donos: ―Quando montaram a E65, disseram o seguinte: ―Oh, nós somos muito bons em engenharia, não conhecemos ninguém do mercado, não temos dinheiro algum, mas fatalmente a gente vai ficar trabalhando aqui. Um dia alguém vai descobrir a gente, e um dia tudo vai dar certo.‖ Isso nunca aconteceu, certo? Trabalhamos, trabalhamos, montamos diversas estratégias pra ganhar algum atalho no crescimento, fomos trabalhando, crescendo, crescendo, mas podia crescer num ritmo maior...‖ (EE65) Para Greiner (1998), no entanto, cada uma das fases de crescimento por ele propostas poderia durar até 8 anos. Ao observar o modelo de crescimento de duas destas empresas, percebeu-se que o modelo de crescimento dessas 190 firmas se encaixava no modelo de ciclo de vida proposto por Greiner. EE10 identificou inclusive um patamar (talvez correspondente a um sinal de crise), do qual percebeu que não conseguiria sair sem a ajuda de um gestor. Greiner havia proposto que a primeira crise da empresa seria a de liderança, que levaria à contratação de um gestor que por sua vez permitiria que a firma adotasse procedimentos internos (financeiros, contábeis, etc) eficientes: ―Chegou um certo ponto em que eu vi que naquela escada em que eu tava, eu não tava mais conseguindo subir degraus. Aí, o que é que eu fiz? Eu contratei uma pessoa pra me ensinar coisas que eu não sabia, pra me mostrar coisas que eu não tava conseguindo...(...) Um gestor. Eu contratei um gestor. (...) essa pessoa tem me ajudado muito. A empresa mudou cara depois que o Fernando (...) Eu falei: (...) Tem uma escada assim [gesto]... a gente chegou num degrau da escada que a gente já não consegue subir sozinho. Precisa de alguém, pra dar a mão à gente, para gente...se o degrau for pequeno, a gente ta precisando de um óculos para continuar subindo. ― (EE10) Não foi notada entre empreendedores deste grupo uma característica particular que os impedisse sistematicamente de crescer pela adoção de tal modelo de negócio. Dois deles há mais tempo no empreendedorismo, eram muito voltados para o crescimento. EE10, por exemplo, no setor de autopeças foi o único a se mostrar preocupado com as evoluções do mercado, principalmente com a possibilidade de vinda para o mercado brasileiro de grandes redes, com mais de 1500 lojas: ―Preocupação hoje grande que nós temos é com as mudanças do mercado e com a vinda das redes de fora. Se você imaginar que tem rede lá fora que tem 1500 lojas de peças, uma única rede e que eles vão vir pro Brasil... (...) Não, uma rede dessas, quando vem...é uma rede de varejo...ele vem pra seu ter concorrente!‖ (EE10). O empreendedor procurou associar sua empresa a redes, que permitiam realizar compras melhores e melhorar o relacionamento com fornecedores e com a concorrência. Assim, foi possível encontrar entre empreendedores deste grupo indivíduos tanto com vontade de crescer como com habilidade para crescer (habilidade média-alta), dada sua grande habilidade para aprender e transformar seu aprendizado em procedimentos internos da firma. 191 5.5.3 Empreendedores com Vontade de Crescer , mas sem Consideráveis Habilidades para o Crescimento Neste grupo se encontraram apenas as firmas lideradas por empreendedores estado da arte. Era grande a vontade de crescimento entre empreendedores estado da arte. No entanto, algumas deficiências impediam a evolução de suas firmas de forma satisfatória. Primeiro, no que diz respeito ao desafio navegar em ambiente turbulento, embora houvesse certa facilidade de encontrar clientes para seus produtos e serviços e estes fossem capazes de manter estreito relacionamento com pessoas importantes (tomadores de decisão de organizações importantes no domínio de financiamento à pesquisa, desenvolvimento de normas para o setor, etc), para dois deles, havia grandes dificuldades para a captura de valor (FLECK, 2009) para suas firmas, pois prestavam serviço para o governo e entidades governamentais que com freqüência se tornavam inadimplentes. Tal fato chegou a ameaçar seriamente a sobrevivência da empresa de EE34, que acabou vendendo 75% de suas quotas para EE32. EE38 lutava ferozmente pela possibilidade de prestar serviço de tratamento de lixo para a prefeitura, e obter pagamento pelo serviço via PPPs (Parcerias Público Privadas), sem sucesso. Ficava, portanto, sujeito às licitações e à possibilidade de inadimplência governamental, que de fato ocorria. EE38, tampouco conseguia obter do governo os subsídios necessários para o exercício eficiente das atividades de sua firma: ―Deve estar vindo agora, estamos nisso há dez anos e terceiro o poço do município brasileiro é curto, por quê? Essa atividade como é uma atividade de geração de energia, mas tem que ser subsidiada por causa da matéria-prima, lá no exterior além de investimento ser muito maior do que a gente faz agora no Brasil, eles têm subsídios, nós aqui não temos, então o pessoal lá de fora não veio para cá, não veio porque o não tem dinheiro, agora eles chegaram todos aí, estão chegando às leis, então os estrangeiros estão chegando, mas precisa de mais dinheiro para investir, mais subsídios, precisa de uma energia subsidiada, nossa energia servente subsidiada, isso está faltando.‖ (EE38) Segundo o empreendedor, havia ainda falta de vontade política: 192 ―(...) o lixo é de responsabilidade do município, pelo menos no Brasil constitucionalmente, então ele tem que ter a vontade política de colocar, lá fora não sei como funciona, em alguns lugares é muito semelhante ao Brasil, que é responsabilidade do município, Buenos Aires, por exemplo, é responsável pelo seu lixo em Buenos Aires. É importante que o portenho queira fazer esse tipo de tratamento de lixo, segundo que você tenha empreendedores, empreiteiros que queiram implantar esse sistema, então tem que ter essa vontade, primeiro vontade política mesmo, depois a vontade do negócio.‖ (EE38) Portanto, no caso de empreendedores estado da arte, aqueles fortemente dependentes do poder público para a realização de suas vendas se mostraram com grandes problemas no desafio navegar em ambiente turbulento. Uma das possibilidades teria sido o desenvolvimento de novos negócios, mas tais empreendedores pareceram particularmente relutantes em fazê-lo, permanecendo presos a suas idéias iniciais. Uma das empresas era muito menos dependente do governo para a realização de suas vendas, pareceu ter tanto vontade como habilidade para o crescimento. O único grande problema apontado havia sido na troca de pessoas (os primeiros funcionários) altamente comprometidas por funcionários mais especializados, o que teria gerado uma forte crise de liderança (GREINER, 1998), mas que os sócios conseguiram contornar de certa forma ao fazer remanejamento. Esta pareceu ser uma crise pontual, que não viria a se repetir em estágios futuros da empresa. No entanto, era uma empresa de baixa versatilidade. Além disto, a empresa instalada em indústria sem um código de ética a ser seguido (conforme afirmação da própria entrevistada) sofria com o constante assédio de empresas multinacionais a seus funcionários (havia a prática do poach). De modo geral, foram empreendedores que se mostraram com dificuldades de crescimento que não conseguiam superar. Alguns cresciam, pois o ambiente, naquele momento, era favorável. Foram empreendedores com habilidades de crescimento média-baixa. 193 5.5.4 Empreendedores com Limitada Vontade de Crescer e sem Habilidades Consideráveis para o Crescimento Neste grupo foram encontradas as firmas lideradas por especializados e breaking frees. Um dos grandes problemas dos especializados era sua forte vinculação a sua idéia inicial. No que diz respeito ao desafio do crescimento em bases contínuas (enterprising), eram pouco versáteis. Devido ao fato que se viam presos a uma única idéia e ao fato desta idéia ser geralmente imitável por outros especializados (ao contrário das idéias de empreendedores estado da arte, com conhecimento ímpar em suas áreas de atuação) se tornavam vulneráveis aos ataques de lobistas. Em termos de inventividade, em sua grande maioria contavam apenas com recursos próprios e com bolsas de entidades de fomento à pesquisa. Era com base nos recursos provenientes de bolsas providas pela CAPES ou o CNPQ que os incubados recrutavam seus primeiros empregados, o que os levava sistematicamente a grandes dificuldades de retenção de funcionários, muito especializados, muitas vezes doutores na área técnica, ao término destas bolsas. Ainda no que se refere à captação de recursos para a firma, havia grandes dificuldades de comunicação com o cliente; eram empreeendedores que ou utilizavam linguagem extremamente técnica ou acreditavam que devido a seu conhecimento técnico conheciam melhor as necessidades do cliente que o próprio cliente, o que dificultava a conquista de mercado. Em relação ao desafio da complexidade, planejavam, mas eram muito menos eficientes no planejamento estratégico que os identificadores de oportunidades, pois tinham maiores dificuldades de identificar variáveis importantes para a previsão do comportamento de mercado. Certamente, em parte, porque eram muito menos proativos na solicitação de serviços de marketing, disponíveis na incubadora. Nenhum dos incubados ou graduados deste grupo mencionou tê-los utilizado. Nas incubadoras, foram empreendedores que apesar de terem iniciado suas atividades com uma estratégia de foco, conforme a concorrência aumentava em suas indústrias e eles permaneciam com os mesmos produtos e serviços do início, passavam a sofrer com o conseqüente achatamento das 194 margens de lucro. Em decorrência disto, EE28 passou a competir via estratégia de liderança de custos, o que o fez passar a perceber um limite para o crescimento de sua firma: ―É um cobertor curto; você tem que investir pra aumentar sua capacidade produtiva, mas aí, isso te gera necessidade mais recursos pra aumentar o número de clientes e com isso a empresa vai ganhando escala e eu não sei exatamente onde parar com isso, mas acho que chega um momento em que vê que está bom e que mais do que isso não interessa, mesmo porque entra a questão do estresse, né, porque você vai aumentando as responsabilidades... vai aumentando a responsabilidade vai aumentando as responsabilidades, e realmente...‖ (EE28) No shopping de informática, estes foram empreendedores que apesar de no início terem forte vontade de crescer, ao longo do tempo, tendiam a perdêla, por falta de habilidade de sustentação do crescimento – habilidade para o crescimento média-baixa. As empresas de breaking frees compuseram um grupo que respondeu de forma minimamente satisfatória a todos os desafios de crescimento propostos por Fleck (2009). Era difícil para os componentes de este grupo levantarem fundos para o crescimento, tinham baixa versatilidade empreendedora, incorriam em erros sistemáticos (desafio Empreender em Bases Contínuas); sofriam com a freqüente inadimplência de clientes, tinham grandes dificuldades para captar novos clientes (desafio da Navegar em Ambiente Turbulento); não planejavam, tinham um planejamento de curtíssimo prazo ou planejavam mal, não levando em conta variáveis importantes para previsão do comportamento do mercado (desafio Gerenciar a Complexidade). Suas empresas tinham grandes problemas de contratação, contando com empregados que julgavam muitas vezes não confiáveis. Eram grandes também as dificuldades de delegação e havia pouco investimento em treinamento, tanto para os sócios como para os empregados (desafio Aprovisionar Recursos Gerenciais). Além disto, o Gerenciamento da Diversidade era difícil dado o baixo investimento em tecnologia para controle de estoques ou a baixa capacidade de liderança desses empreendedores, conforme afirmado por muitos deles. Muitos no início possuíam grande otimismo em relação ao crescimento de suas firmas, mas acabavam perdendo-o diante do grande número de 195 adversidades encontradas. O caso de EE48 é um exemplo. O empreendedor trabalhava muito no início, se empenhava, ao máximo, mas foi vencido pelos desafios. A partir de certo momento passou a acreditar que sua empresa já tinha alcançado o nível de crescimento correspondente ao nível de esforços que estava disposto a realizar, assim como o nível de responsabilidade aceitava assumir. Em seu caso, cessou a vontade de crescer quando ele percebeu que a partir de um determinado patamar o aumento de seus esforços já não mais corresponderia a um retorno proporcional a estes: ―Dificuldade para crescer, primeiro é vontade também, tá? Eu acho que, por exemplo, eu poderia estar investindo cada vez mais para crescer mais, para investir mais, mas chega uma hora que não compensa. É meio estranho o que eu estou te falando né, meio controverso, um empresário que não quer crescer, por quê? Porque ao longo do tempo eu comecei a perceber também que não é só de dinheiro que você vive, qualidade de vida, existem outras coisas que você tem que privilegiar na sua vida. Então, não adianta ter um big escritório aqui com 200 funcionários, porque eu vou ter 200 funcionários vezes x percentual de problema para cada funcionário. Y percentual de problema em cima da minha carteira de cliente que é muito maior. E aí eu te pergunto, vale a pena para no final do mês eu ganhar quase a mesma coisa ou um pouco mais?‖ (EE48) Neste grupo foram vários os casos de empreendedores com vontade limitada de crescimento (não vislumbravam a hipótese de atingir situação nem próxima ao 5º estágio do ciclo de Greiner). Alguns destes empreendedores viam na firma uma possibilidade apenas de obter um salário diferenciado, em relação ao que obteriam como empregados: ―Eu, na época que sonhava em ter uma empresa, você dizia ―Pô, caramba, eu quero ter um salário igual, eu quero ser igual, eu quero ser dono do meu negócio, eu quero fazer o que eu quero, eu quero ganhar vinte mil, trinta mil por mês‖. Sim, mas eu tinha dezessete anos, eu tô com trinta e cinco, vou fazer em julho, até agora não tô ganhando vinte, vinte e cinco mil por mês. Então, é muito diferente.‖ (EE62) Outros ainda tinham visto sua vontade de crescer limitada por dificuldades de delegação. A empresa de EE02, por exemplo, tinha sido roubada por um antigo gerente: ―Ah acho, se a gente tivesse alguém de confiança pra colocar... às vezes eu penso: ‖Ah, queria abrir outra loja, pô, mas abrir outra loja, e quem vai tomar conta desse trabalho todo?‖ A gente sabe que 196 se botar uma pessoa aqui em cima e se ela não for honesta, ela vai roubar, pra mexer com cheque, é complicado você achar alguém de confiança para botar, aí você pensa, vou abrir outra, mas quem a gente vai botar lá? Tenho receio até de abrir outra loja‖ (EE02). Houve casos ainda de retrocesso no processo de crescimento, como o de EE07, que chegou a ter 42 funcionários e no momento da entrevista contava com apenas 18. Era um empreendedor com forte tendência à centralização: ―Hoje são 14, nós já chegamos a ter aqui 42 funcionários.(...) Problemas, né, problemas que realmente...(...) É... não, não é que eu, assim, a questão de crescimento, a questão é que é... naquela época eu saia da empresa meia noite, eu chega aqui sete da manhã e saia daqui meia noite, né, então funcionava dessa maneira, aí, um dia, a locomotiva que puxava os vagões parou, descarrilou do mundo.(...) Havia uma locomotiva que puxava...(...) Era eu.(...) E aí que eu não agüentei mais, eu tava cansado, esgotado, esculhambado aí...‖ (EE07) Assim, diferentemente do proposto por Sirec e Mocnik (2010) não foram encontrados empreendedores sem vontade de crescer e sim alguns não mais dispostos a vencer os desafios do crescimento. 197 6 DISCUSSÃO No capítulo anterior, foi visto que a sustentabilidade do crescimento da firma dependia do perfil motivacional de seu principal estrategista. O perfil motivacional de seu principal tomador de decisões se mostrou determinante do comportamento desta frente aos desafios propostos por Fleck (2009). Foram identificados 5 tipos de empreendedores: identificadores de oportunidades, estado da arte, especializados, organizadores e breaking frees, cada qual com comportamento característico frente aos 5 desafios ao crescimento propostos por Fleck. A existência de diversos tipos de empreendedores levava as firmas a diferenças consideráveis em relação a sua vontade de crescimento e habilidade para o crescimento. Apenas firmas cujos estrategistas eram identificadores de oportunidades atingiram o crescimento sustentável, ou sejam apresentaram tando vontade como habilidade para o crescimento. Cabe neste capítulo discutir o porquê. Schumpeter (1911) ressaltou que não apenas o comportamento empreendedor seria fundamental para o desenvolvimento, mas também o são bancos bem administrados, capazes de avaliar e dispostos a financiar projetos viáveis. Assim, no presente captítulo discute-se ainda o potencial papel dos bancos comerciais no crescimento das MPMEs. Com base nos relatos dos entrevistados, foram propostas ainda medidas passíveis de serem tomadas pelo governo, por incubadoras, entidades de fomento ao empreendedorismo ou pelos próprios empreendedores a fim de que a firma atinja o crescimento sustentável. Por fim, foram sugeridas medidas para elevar o volume de serviços gerenciais e empreendedores à disposição (PENROSE, 1959) das MPMEs. 6.1 Tipos de Serviços Empreendedores e Gerenciais Prestados Penrose (1959) destacou a importância dos serviços prestados pelos sócios, gestores e empregados para o crescimento da firma. A análise das entrevistas evidenciou que alguns empreendedores tendiam a responder 198 sistematicamente de forma pouco satisfatória aos desafios de crescimento propostos por Fleck, enquanto outros, ao contrário, respondiam de forma sistematicamente satisfatória em relação a esses mesmos desafios. Propõe-se aqui que os cinco tipos de empreendedores encontrados - identificadores de oportunidades, estado da arte, especializados, organizadores e breaking frees – difiram entre si no que diz respeito ao tipo de serviços que estão aptos a prestar à empresa. Sugere-se que a motivação breaking up (RINDOVA et al, 2009) leve à prestação de serviços de natureza essencialmente construtiva serviços pró-crescimento - enquanto a motivação breaking free leve à prestação de serviços em nível insatisfatório, e consequentemente à autodestruição. No presente capítulo, foram identificados três tipos de serviços que favorecem o crescimento organizacional, denominados: serviços empreendedores clássicos, serviços gerenciais técnicos (divididos em serviços de criação e serviços de transferência de tecnologia) e serviços de organização. Todos eles eram prestados essencialmente por empreendedores com motivação breaking up. Por outro lado, empreendedores de motivação breaking free não se mostraram capazes de prestar serviços que contribuíssem verdadeiramente ao crescimento sustentável. Sua liderança resultava em firmas sem vontade de crescimento e sem habilidade para o crescimento. Estes empreendedores prestavam serviços empreendedores e gerenciais (PENROSE, 1959), bastante deficientes, pouco profissionais, que resultava em respostas sistematicamente insatisfatórias aos desafios do crescimento propostos por Fleck (2009). Sugere-se assim que tais serviços constituam, em verdade, desserviços ao crescimento sustentável da firma. Abaixo foram descritos os 4 tipos de serviços propostos. 6.1.1 Serviços Empreendedores Clássicos Serviços Empreendedores Clássicos são aqueles que requerem fortes características temperamentais empreendedoras para serem prestados. Estas características foram apontadas por Penrose (1959) como essenciais ao 199 crescimento da firma: ambição empreendedora, versatilidade empreendedora, julgamento empreendedor e inventividade. Quando em posição de comando, identificadores de oportunidades eram ímpares em sua prestação. 6.1.2 Serviços Gerenciais Técnicos Este tipo de serviço pode ser dividido em dois grandes grupos: serviços de criação e serviços de transferência de tecnologia. Serviços gerenciais técnicos contribuíam para uma maior capacidade de aproveitamento das oportunidades identificadas em áreas que requeriam conhecimento técnico acentuado. 6.1.2.1 Serviços de Criação Estes são serviços que, como o próprio nome indica, requerem criação, desenvolvimento de novos produtos, serviços ou tecnologias, altamente inovadores. Requerem grande criatividade e conhecimento técnico por parte de seu prestador, tanto para a criação de novas tecnologias como para o posterior aprimoramento das tecnologias criadas pelo empreendedor. A existência de prestadores deste tipo de serviço é condição necessária para a decisão de atuação em setores que envolvam o desenvolvimento de tecnologia de ponta. São serviços ligados à invenção e eram prestados fundamentalmente por empreendedores estado da arte, pioneiros nas indústrias em que atuam: ―(...) formulação à primeira vez que estava sendo feita eu vou lá na bancada ver fazer, leio, pesquiso, vejo se está de acordo, se não estiver de acordo a gente faz de novo, repete (...) Você não sabe como foi bom pra mim começar tudo de novo, porque praticamente eu esqueci toda aquela mágoa e isso foi uma injeção de ânimo para mim fazer essa empresa crescer. Pra dizer a verdade eu gosto de liderança, eu gosto de ser chamada de doutora, eu gosto que as pessoas venham a mim, eu gosto de fazer fórmulas.‖ (EE34) 200 Assim, empreendedores estado da arte, dada sua capacidade de gestão de atividades ligadas à criação, podem ser considerados importantes em funções gerenciais em centros de pesquisa avançada. 6.1.2.2 Serviços de Transferência Técnica/Tecnológica São serviços que envolvem a reprodução de tecnologia ou técnicas já existentes. Assim como no caso dos serviços de criação requerem grande habilidade e conhecimento técnicos, mas neste caso não existe ruptura com padrões vigentes em determinada indústria e sim ratificação desses mesmos padrões, pela réplica do que existe de mais avançado na indústria em determinado momento. Empreendedores especializados eram os grandes prestadores deste tipo de serviço e podiam contribuir para o crescimento da firma quando alocados na gerência de atividades técnicas: ―Nós temos laboratório, então uma parte disso é feita aqui, esse foi sempre o nosso diferencial. Hoje nós já temos concorrência, mas esse universo de empresas deve ta aí, com laboratório... duas ou três, não passa disso. Em diversas empresas que presta assessoria, consultoria, enfim, essas coisas, realmente é bem maior, deve dá mais de cem empresas, mas esse diferencial nos dá uma vantagem competitiva nas concorrências muito boa, a gente governa o custo‖ (EE28) Assim como no caso de serviços de criação, a existência de prestadores deste tipo de serviço se mostrou imprescindível para a entrada em indústrias que requerem conhecimento técnico elevado; muitas das quais são vistas como estratégicas pelo Governo Federal (ex.: energia solar, petróleo, construção civil, etc). 6.1.3 Serviços de Organização São serviços ligados ao estabelecimento de rotinas, procedimentos, desenvolvimento de códigos de conduta e regulamentos internos, administração de RH, e construção de uma estrutura organizacional voltada 201 para o crescimento. Os grandes prestadores deste tipo de serviço eram os organizadores, que tinham como motivação fazer da firma um modelo em eficiência. Pode-se dizer portanto que o gosto de indivíduos por atividades rotineiras não necessariamente os torna incompatíveis com o empreendedorismo, mas sim peças essenciais para o crescimento saudável da firma: ―Depois a empresa começou a crescer, precisou ter alguma estrutura administrativa, então eu comecei a dividir o meu tempo entre o engenheiro técnico e fazer coisas administrativas, a estrutura cresceu mais um pouco, então a questão administrativa financeira passou a ser algo importante que exigia a pessoa ali, em tempo integral capacitada, então eu fui fazer esse papel, eu fui ser o administrativo financeiro da empresa em tempo integral‖ (EE65). Organizadores tinham habilidades para o crescimento, mas tinham medo de crescer a taxas aceleradas. Note-se ainda que sua atuação pode ser consideravelmente facilitada pelo desenvolvimento de softwares e outros meios eletrônicos de controle. 6.1.4 Desserviços ao crescimento sustentável Desserviços referem-se a uma massa de atividades sem limitações definidas, realizadas de forma improvisada, e pouco profissional. Estes envolvem uma miscelânea de serviços técnicos, empreendedores e de organização executados sem preparo ou aptidão específica para sua execução, resultando em serviços de baixo desempenho. Prestavam desserviços todos os breaking frees. Também prestavam desserviços os breaking ups quando colocados em posição incompatível com a habilidade correspondente a seus respectivos perfis motivacionais. Desta forma, pode-se dizer que empreendedores de um dado perfil motivacional breaking up podem prestar serviços altamente valiosos para o crescimento da firma quando ocupantes de posição compatível com as aptidões de seu perfil, mas que tenderão a prestar desserviços ao crescimento sustentável quando ocupantes de função incompatível com as habilidades correspondentes a seu perfil. Um caso clássico era o dos especializados quando no gerenciamento de setores 202 não técnicos da empresa. Quando responsáveis pela formulação de estratégias, por exemplo, o resultado era a falta de contribuição para o crescimento, podendo resultar inclusive na ameaça à sobrevivência da empresa: ―Não, é, sempre tive, até hoje, uma relação sem complicação, nós não temos briga nenhuma, mas existem divergências consideráveis com relação ao futuro da empresa. Eu [identificador de oportunidades] era minoritário, o outro sócio [de perfil eminentemente técnico} era majoritário, então naturalmente a decisão dele pesava mais do que a minha, e ... a... tomamos um conjunto de decisões, que não só não nos deixou a frente do mercado, mas como nos deixou atrás do mercado, então a gente chegava no mercado no qual nós antes lançávamos novidade e passamos a entender o que que tava acontecendo de novidade no mercado‖ (EE39). Assim, torna-se importante considerar os serviços adequados a cada perfil motivacional para a alocação apropriada dos indivíduos em atividades de acordo com suas respectivas aptidões. A não adequação das atividades desempenhadas ao perfil do empreendedor era uma das grandes responsáveis pela falta de habilidade para o crescimento das MPMEs. Isto se deveria em parte a algumas crenças comuns entre empreendedores tais como a de que bastaria ser sócio para estar capacitado a tomar decisões estratégicas, ou de que este tipo de decisão deveria ser tomada exclusivamente pelo sócio majoritário. A não adequação do sócio à atividade que lhe era atribuída, geralmente sem base em seu perfil gerencial era, uma das grandes fontes de conflito entre sócios identificadores de oportunidades e sócios técnicos (especializados) em várias empresas: ―Tipo por exemplo, você botava um sócio técnico pra...‖olha, você vai ficar fazendo só isso, vamos tirar todo o lado, você cuida da parte técnica‖, não só isso, primeira outra coisa também, você tem que trazer o cliente pra essa área técnica e aí vamos fazer isso juntos, acabava que o sócio não conseguia trazer cliente, não sabia fazer apresentação, porque não era o perfil dele, então a gente nem vê hoje vê como um erro de estratégia nosso no passado (...) quando a gente deixava um sócio que não tinha um determinado perfil numa função comercial ou de vendas, a área dele começava a ruir. Então você tinha um estresse do sócio que sabia fazer indo para a área ele te ajudar e você deslocar a sua própria área‖ (EE44) O presente estudo sugere que cada um dos quatro tipos de empreendedores breaking up pode prestar serviços que contribuem de fato 203 para o crescimento da firma, desde que alocados em posição gerencial adequada a seu perfil. O estudo apontou, também que indivíduos com motivação breaking free tenderiam a prestar desserviços ao crescimento sustentável, ao ocupar cargos de gestão. O quadro 5.4, que resumiu as principais dificuldades decorrentes de políticas governamentais implantadas ou da falta de políticas governamentais que versem sobre certos aspectos, sugere que empreendedores, muitas vezes não prestem um único tipo de serviço a suas empresas. Breaking ups, principalmente na fase de startup se dividiam entre atividades para as quais contribuíam para serviços pró-crescimento e atividades com as quais contribuíam com desserviços, o que faz com que os entrevistados muitas vezes fizessem referência a dificuldades encontradas nos serviços para os quais não estariam mais aptos a prestar. 6.2 A complementaridade dos serviços pró-crescimento Entre as firmas que haviam alcançado maiores taxas de crescimento e respondiam de forma sistematicamente satisfatória aos desafios propostos por Fleck, fossem encontradas apenas aquelas lideradas por identificadores de oportunidades. Conforme visto, estes são indivíduos que contribuem para o crescimento da firma sobretudo pela prestação de serviços empreendedores clássicos. São voltados para o crescimento, pensam crescimento 24 horas por dia: ―Eu só trabalho com gente que queira participar do dia-a-dia. Tenho funcionário meu gerente meu que no domingo 10 horas da noite está mandando e-mail – ―Chefe, terminei aquilo que eu tava fazendo‖. Não era para ele ter feito no final de semana, mas no final de semana ele tá casa dele, arma o computador, e começar a fazer e pronto. Que que é isso? São pessoas que tão envolvidas com a companhia, satisfeita com a companhia... ― (EE36) Identificadores de oportunidades gostam de atividades enérgicas (McCLELLAND, 1961). Conforme a empresa crescia, identificadores de oportunidades tendiam a se desvincular de atividades rotineiras; contratavam rapidamente gestores assalariados para desenvolverem os processos e rotinas 204 oganizacionais, ou se livravam dessas atividades que lhes impediam de atingir a satisfação plena no trabalho, pela contratação de especialistas que desenvolviam softwares e contribuíam para o aumento da qualidade dos serviços de organização prestados à firma. Note-se que a satisfação estava na essência da motivação deste grupo de empreendedores. O estabelecimento em nichos de mercado (forte características das empresas identificadores de oportunidades) requeria a existência também de profissionais capazes de prestar serviços gerenciais técnicos. Dado o alto investimento em treinamento, principalmente no caso das empresas nascidas em incubadoras, rapidamente se desenvolvia um corpo gerencial com conhecimento aprimorado capaz de prestar serviços gerenciais técnicos. Nos pouquíssimos casos em que isto não ocorreu, a empresa viu seu crescimento ficar limitado. Por exemplo, no caso de um dos distribuidores de autopeças havia grande preocupação em relação à falta de cursos específicos para a formação de estoquistas na indústria, o que dificultava a formação de um corpo técnico especializado. Este foi o único empreendedor de autopeças a salientar a importância da formação técnica de seus funcionários: ―a gente criou um curso especifico na AMAP que é para estoquista, estoquista você entende que talvez seja o primeiro emprego dentro de uma autopeça seja pelo estoque‖ (EE09). Tal tipo de preocupação não foi identificada entre breaking frees. Pode-se dizer portanto que empresas de identificadores de oportunidades cresciam, não pelo fato de possuírem em sua liderança um identificador de oportunidades, propriamente dito, mas porque tal fato as levava a desenvolver mais rapidamente três serviços empreendedores e gerenciais complementares, necessários ao crescimento da firma: serviços empreendedores clássicos, serviços gerenciais técnicos e serviços de organização. De fato, apenas os serviços empreendedores clássicos prestados pelos identificadores de oportunidades, sem os demais tipos de serviços que lhe são complementares, não seriam capazes de levar ao crescimento sustentável da firma. EE58 apontou a importância dos serviços de organização, em complementação a serviços empreendedores clássicos, com altas taxas de crescimento: 205 ―Em um dado momento o empreendedor [identificador de oportunidades em posição de liderança] é ruim para a empresa.(...) Não. Porque que ele é um problema? Se ele ficar sempre criando coisa nova, ele não tem receita; o empreendedor está sempre criando coisa nova... Se ele ficar criando coisa nova todo dia, ele não consegue entregar nada; perde o foco... uma das coisas, e outra, ele não consegue entregar porque cadê a estrutura para entregar aquilo que ele inventou né? (...) Aí você tem que estar preocupado com o RH, quem vai dizer isso é o departamento de recursos humanos. (...) O escrito tem que existir, entendeu? Só que isso é trabalho, isso é chato. Então, esse é o grande dilema. Quer dizer, a pessoa que está empreendendo, ela não tem estômago para ficar escrevendo o que o outro está fazendo, é a morte. Fecho a empresa, mas eu não vou escrever o que cada um tem que fazer, entendeu? É horrível. ‖ (EE58) As empresas em que havia sócios cujos perfis permitiam a provisão de três serviços pró-crescimento complementares prosperavam sem conflitos internos: ―(...) cada um tem o seu perfil [os sócios], um deles tem o perfil mais de que vai tocar as coisas, sabe, o cara que... o capataz que vai tocar aquilo, vai matar, não sei o quê [prestador de serviços de organização], o outro tem um perfil extremamente técnico, é um cara que vai cuidar de ordenhar a vaca todo dia da melhor forma possível, vai otimizar aquele processo técnico [prestador de serviços gerenciais técnicos], né, agora as linha de frente, de ação, acho que as 99,9% das idéias são minhas... [prestador de serviços empreendedores clássicos]‖(EE59) O grande problema das empresas cujos gestores de topo eram um especializado ou estado da arte era o fato de estes empreendedores terem sido colocados em posição não compatível com as aptidões de seu perfil de gerência técnica. Estes empreendedores tinham uma grande tendência à homogeneização do corpo dirigente, o que resultava em diversas empresas com sócios tinham um perfil essencialmente técnico. Assim, as tarefas de natureza diversas eram repartidas entre sócios de mesmo perfil, o que fazia com que alguns deles fossem alocados no gerenciamento de atividades não compatíveis com suas aptidões, e na consequente prestação de serviços genéricos ou anti-crescimento, o que minava a habilidade da firma para o crescimento. EE53, por exemplo, embora tivesse ingressado no negócio para aproveitar sua vasta experiência de pesquisador (era professor universitário aposentado da área de tecnologia), o que fazia dele um especializado, havia se 206 afastado da gerência técnica da firma para exercer atividades ligadas a sua organização interna, sem ter particular aptidão para tal: ― (...) É inclusive finanças, quer dizer, você faz o que é possível fazer dentro da empresa, mas não tem um financista aqui, eu não sou um financista. Nem em casa, em casa quem mexe com o dinheiro é minha mulher, não sou eu, então, eu não tenho essa destreza, eu não fui preparado para isso, e a questão de gerenciar pessoas, quer dizer, a postura de uma pessoa que está preparada para administrar uma empresa é, eu acho que é, ela requer um gerenciamento de pessoas, e de situações etc, pra qual você não é preparado na universidade.‖ (EE53). Dado o baixo desempenho nas funções exercidas, o resultado era o provimento de desserviços ao crescimento sustentável, semelhantes aos providos pelos breaking frees. No caso dos organizadores, por outro lado, eram empreendedores que uma vez estruturada a empresa e definidos seus procedimentos internos, contratavam gestores para a execução dos serviços de organização que anteriormente exerciam, se liberando aos poucos para atividades de estratégia e marketing, porém de maneira muito menos eficiente do que faziam os identificadores de oportunidades: ―(...) eu acabei ficando no departamento comercial, e ajudando a montar, a fazer o departamento comercial, a cumprir as atividades inerentes a um departamento comercial. Eu diria que hoje ainda é o ponto fraco da empresa, nossa empresa tem uma veia bastante técnica, muito pouco comercial. Também não sou um vendedor nato, eu não sou um cara que tô o tempo inteiro na rua fazendo venda, eu vou quando solicitado, faço apresentações, palestras, faço isso com alguma desenvoltura, mas não tenho o hábito de estar na casa do cliente vendendo‖ (EE65). Organizadores não tinham o feeling para o mercado do identificador de oportunidades e tinham grande medo de errar. Sua versatilidade era baixa e eram empreendedores muito conservadores no que diz respeito à captação de recursos. Assim, faltavam-lhes características pessoais que os levassem a desenvolver a vontade de crescimento, mesmo quando libertos para novas atividades. Serviços de organização, embora fossem essenciais para a aquisição de habilidade de crescimento, eram uma das grandes lacunas na maior parte das MPMEs investigadas. Nas empresas de breaking frees, dada a baixa eficiência dos serviços prestados, não foram encontrados prestadores de 207 serviços classificáveis em empreendedores clássicos, gerenciais técnicos ou serviços de organização. Os serviços prestados por empreendedores, gestores e empregados eram geralmente insatisfatórios ou meramente satisfatórios. Em geral, os encarregados da organização da empresa eram parentes dos donos, também com motivação breaking free; com freqüência eram suas esposas, cuja motivação principal era poder trabalhar junto à família: ―Eu sempre trabalhei fora também, eu já fui bancária, treze anos, aí no momento que eu saí, desviei do banco eu vim para cá.(...) Não necessariamente, eu simplesmente cansei de trabalhar em banco e falei que não mais trabalhar no banco, né. Aí depois como surgiu a proposta para vir trabalhar aqui, aí eu vim.(...) Porque já estava saturada, cansada, no momento em que você casa e constitui família, você tem que definir ou a sua vida profissional ou familiar‖ (EE05). Pode-se dizer que, conforme previsto por Penrose (1959), nas firmas analisadas a falta de serviços empreendedores e gerenciais adequados eram os grandes limitadores de seu crescimento. As dificuldades mais comumente evidenciadas foram: 1. Falta de prestadores de pelo menos um dos serviços prócrescimento (serviços empreendedores clássicos, serviços gerenciais técnicos e serviços de organização); 2. A alocação de empreendedores em atividades não compatíveis com seus respectivos perfis motivacionais, levando a desserviços ao crescimento sustentável e resultando em baixo desempenho; 3. A predominância de indivíduos com motivação breaking free em cargos de gestão; 4. Fortes conflitos e dissoluções de sociedades ocasionadas pela não adequação de sócios a atividades de natureza estratégica que lhes foram atribuídas. Sugere-se, portanto, que medidas que visem a solucionar problemas de crescimento MPMEs devam se voltar primeiramente para esses quatro tipos 208 de problemas estruturais. É preciso focar no desenvolvimento de um corpo gerencial em que haja equilíbrio de forças entre indivíduos capazes de prestar os 3 tipos de serviços pró-crescimento complementares propostos. No entanto, a assessoria em recursos humanos era uma grande lacuna que minava o crescimento de MPMEs, tanto nas incubadoras, como na AMAP ou no shopping de informática. Apenas um identificador de oportunidades revelou ter realizado cursos específicos sobre RH e outro ter contratado consultoria especializada para resolver problemas decorrentes do crescimento relativos a cargos e salários. De forma geral, à exceção das empresas de identificadores de oportunidades, também eram precárias as técnicas para recrutamento e seleção de novos funcionários, o que provavelmente contribuía para a contratação de serviços genéricos e alocação não adequadas de funcionários, ainda que breaking ups. 6.3 Medidas para aumentar a eficiência de serviços prestados pelas MPMEs. No capítulo 5, foram vistas as principais dificuldades decorrentes de políticas governamentais implantadas ou da falta de políticas governamentais, de acordo com os cinco tipos propostos em relação ao governo. No entanto, dado que alguns perfis não se adéquam a atividades de natureza estratégica, pode-se dizer que torna-se difícil a solução dos problemas apontados na ausência de adequada alocação dos recursos humanos da firma. Propõe-se aqui que a formação de um corpo gerencial capaz de prestar os serviços prócrescimento apontados seja condição necessária ao crescimento da firma e que uma vez tal condição alcançada, o governo, incubadoras, entidades de fomento ao empreendedorismo devam tomar medidas que visem a aumentar a eficiência dos serviços pró-crescimento prestados e a converter os eventuais desserviços em serviços pró-crescimento sustentável. O quadro 6.1 indica medidas que poderiam contribuir para o aumento da eficiência de serviços pró-crescimento em MPMEs. 209 Serviços Empreendedores Clássicos Medidas a cargo de entidades de fomento ao empreendedorismo e incubadoras de empresas Ampliação dos serviços de assessoria em finanças, gestão da folha de pagamentos, definição de procedimentos Maior proatividade da assessoria em marketing Esclarecimentos a respeito do relacionamento com sócios capitalistas Apontamento de erros clássicos de inovadores Cursos e assessoria sobre o processo de crescimento da firma Treinamento para a apresentação de projetos a clientes Informações sobre Canais para Acesso ao Crédito Assessoria para gerenciamento do setor de RH Serviços Gerenciais Técnicos Serviços de Criação Serviços de Transferência Técnica/ de Tecnologia Serviços de Organização 210 Serviços Empreendedores Clássicos Treinamento de funcionários de entidades de fomento à pesquisa para avaliar o financiamento a projetos altamente inovadores Alerta a respeito de possíveis ataques de lobistas Orientação a respeito dos riscos de excesso de concentração de vendas em um único cliente Conscientização da necessidade de realizar cursos de gestão Cursos para desenvolvimento do comportamento empreendedor Esclarecimentos a respeito dos recursos disponíveis na incubadora e entidades de fomento ao empreendedorismo Cursos sobre gestão empresarial presenciais e à distância Medidas a Cargo do Governo Aumento da flexibilidade e atualização da legislação trabalhista Eliminação da corrupção Conscientização do mercado a respeito da qualidade de produtos tecnológicos brasileiros Serviços de Criação Serviços de Transferência Técnica/ de Tecnologia Serviços de Organização 211 Serviços Empreendedores Clássicos Criação de Mecanismos para redução da inadimplência de órgãos públicos Regulamentação do mercado de atuação Geração de Mídia espontânea Estabelecimento de códigos de ética na indústria Redução da burocracia Fiscalização do mercado Melhoria da infraestrutura Redução da Complexidade da legislação tributária Maior Imparcialidade da justiça trabalhista Maior estabilidade da legislação Simplificação do procedimento para a obtenção de certidões Alertas e-mail a respeito de mudanças na legislação Redução da Carga Tributária Educação financeira da população Redução dos Custos da Matériaprima Guias de recolhimento de impostos de preenchimento fácil disponíveis pela internet Serviços de Criação Serviços de Transferência Técnica/ de Tecnologia Serviços de Organização (ANVISA e Vigilância Sanitária) (aeroportos) (luz) (rodovias) 212 Serviços Empreendedores Clássicos Incentivos à criação de uma cultura empreendedora Medidas a cargo do empreendedor Sociedade ou contratação de profissionais com perfis motivacionais breaking ups complementares Participação em associações Serviços de Criação Serviços de Transferência Técnica/ de Tecnologia Serviços de Organização Quadro 6-1 Medidas para Elevar a Eficiência de Serviços Pró-crescimento em MPMEs 213 Percebeu-se portanto uma grande necessidade de medidas capazes de aumentar a disponibilidade de serviços de organização, que conferem habilidade de crescimento. Um número menor de medidas foi apontado como necessário para alavancar serviços empreendedores clássicos e serviços gerenciais técnicos. 6.4 Medidas para o Aumento da Disponibilidade de Serviços PróCrescimento Conforme visto, tipos diferentes de indivíduos empreendedores tendem a prestar serviços diferentes à firma. O quadro 6.2 propõe que diversas medidas podem se tomadas pelo governo, incubadoras, e pelos próprios empreendedores para o aumento do nº de potenciais prestadores de serviços necessários ao crescimento da firma. Considera-se aqui que serviços empreendedores e gerenciais possam ser prestados tanto pelos sócios, como por gestores ou funcionários da firma (PENROSE, 1959). 214 Serviços Gerenciais Técnicos Serviços Empreendedores Clássicos Criação de um ambiente institucional favorável ao empreendedorismo (SEBRAE, Incubadoras de Empresas, etc) Criação de Laboratórios e Centros de Pesquisa Avançada Divulgação das Possibilidades Oferecidas pelo Empreendedorismo em Universidades Públicas e Escolas Profissionalizantes Desenvolvimento constante de projetos por grandes empresas estatais, que requeiram conhecimento técnico aprofundado Apontamento de áreas como estratégicas por parte do Governo Federal Reconhecimento de áreas de tecnologia de ponta como de altíssima relevância para o desenvolvimento do país Aumento das cadeiras ligadas ao empreendedorismo em universidades públicas Conscientização da essencialidade do controle e planejamento tributários e financeiros + Redução da complexidade das leis e da freqüência de mudanças na legislação Serviços de Criação Serviços de Transferência Técnica/Tecnológica Serviços de Õrganização Quadro 6-2 Medidas para Elevar a Disponibilidade de Prestadores de Serviços Pró-Crescimento a MPMEs (conhecimento em gestão empresarial) 215 Contudo, para que os serviços prestados resultem de fato em serviços pró-crescimento, não basta que novos recursos humanos ingressem nas firmas, é indispensável que tais recursos sejam alocados de acordo com as aptidões específicas de seu perfil motivacional. 6.5 Potencial Participação dos Bancos Comerciais no Crescimento das MPMEs Propõe-se aqui que os bancos comerciais possam ter um importante papel na execução de políticas públicas. Ao analisar os produtos e serviços oferecidos a MPMEs pelos 5 maiores bancos comerciais varejistas do Brasil segundo o IDEC (2011) - Banco do Brasil, Santander, Itaú-Unibanco, Bradesco e Caixa Econômica Federal – verificou-se que os bancos podem desempenhar quatro papéis básicos, capazes de contribuir para o crescimento das MPMEs: provedor de recursos, difusor de informações, consultor e controlador. Sugerese que pelo desempenho eficiente desses quatro papéis, os bancos comerciais podem contribuir para a melhoria da qualidade dos serviços empreendedores e gerenciais prestados à firma. 6.5.1 Provedor de Recursos O presente estudo salientou grandes discrepâncias entre empreendedores em posição de liderança em relação à pré-disposição à contração de financiamentos de longo prazo. No caso de identificadores de oportunidades, havia grande interesse, mas a grande dificuldade apontada eram as altas taxas de juros. Note-se que as firmas que mais cresciam tinham identificadores de oportunidades em posição de liderança. Para aumentar a capacidade de captação de recursos deste grupo de empreendedores, e portanto de firmas cujos estrategistas tenham tanto vontade de crescimento quanto habilidade para a promoção deste crescimento, a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e do spread bancário podem exercer importante 216 papel. Observe-se que tais reduções constituem metas do Governo Federal em seu Plano Brasil Maior, e que já estão em fase de implementação. Faz-se necessária a redução das taxas cobradas especialmente para o financiamento de negócios viáveis. 6.5.2 Difusor de Informações Sugere-se a existência de um amplo espaço para a atuação de bancos como difusores de informação. Empreendedores se mostraram interessados na obtenção de informações confiáveis, rápidas e a baixo custo. Informações de fomento ao empreendedorismo contribuem tanto para o aumento da eficiência no desempenho de serviços empreendedores clássicos, tais como identificação de novas oportunidades de negócio e aumento da facilidade de contratação (houve banco que evidenciasse a jovens universitários as vantagens de se trabalhar em MPMEs), como para o aprimoramento de práticas gerenciais, ao ampliarem o conhecimento do empreendedor em finanças, gestão do setor de RH, etc. Também podem contribuir para o aumento da eficiência neste tipo de serviços de organização, informações regulamentares: fornecimento de legislação referente a MPMEs (ex.: lei complementar 123/2006); provimento de guias para recolhimento de impostos, com explicação de forma simples de sua utilização; disponibilização de agendas tributárias, que facilitem tanto o conhecimento dos impostos a serem pagos, como as datas em que devem ser cumpridas as obrigações. As Informações de âmbito social são de particular importância, na medida em que podem aumentar as oportunidades de interação com empreendedores de setores diferentes daquele em que a empresa atua, aumentando as oportunidades de negócio, as possibilidades de parcerias, de obtenção de dicas para melhores contratações, poder permitir a aprendizagem de técnicas de gestão, a obtenção de dicas sobre definição de processos e procedimentos internos, cursos relevantes, etc. Informações comerciais podem ajudar o empreendedor, freqüentemente pouco conhecedor de suas próprias necessidades gerenciais, a identificar produtos mais adequados a sua empresa. 217 6.5.3 Consultor O papel de consultor também contribui para o aprimoramento dos serviços empreendedores clássicos e serviços de organização. Este papel pode ser exercido diretamente, via gerentes de banco, pela disponibilização de simuladores financeiros e de negócios. Indiretamente, quando um banco oferece cursos ou cria comunidades virtuais de empreendedores. Neste último caso o banco viabiliza a troca de experiências entre empreendedores, havendo consequentemente, a aquisição de maior conhecimento gerencial. A tipologia de empreendedores apresentada no presente trabalho, pode contribuir para uma melhor assessoria inclusive de negócios, pois permite um maior conhecimento dos problemas usualmente enfrentados por cada tipo de empreendedor. O estudo evidenciou que mediante entrevista com estrategistas da firma é possível identificar seu perfil motivacional e o possível comportamento da firma frente ao crescimento. Note-se que geralmente quem se relacionava com o gerente do banco era o principal tomador de decisões da firma. Gerentes de bancos responsáveis pelas contas de MPMEs poderiam portanto desenvolver capacitação que permita a identificação dos diferentes perfis de empreendedores, por seus discursos e ações, para que possam adequar os produtos e serviços bancários às necessidades de seus clientes. 6.5.4 Controlador Este papel contribui, sobretudo para o trabalho de indivíduos que prestam serviços de organização e envolve aspectos que dizem respeito a verificação, acompanhamento, planejamento, coordenação, motivação extrínseca de empregados (ex. cartões vale) e avaliação. Esta última merece particular destaque, uma vez que o desenvolvimento econômico requereria bancos capazes de identificar projetos viáveis para financiamento (SCHUMPETER, 1911). O presente estudo apontou a existência de empreendedores identificadores de oportunidades em posição de liderança estratégica como condição necessária para o crescimento da firma em bases contínuas. O estudo mostrou ainda que o perfil motivacional do corpo gerencial 218 da firma e a alocação apropriada de seus recursos humanos seria um poderoso indício de sua viabilidade. De maneira geral os bancos comerciais tendiam a considerar MPMEs como se fossem empresas de comportamento único, ignorando diferenças atribuíveis ao tipo de empreendedor. Em um cenário em que a sociedade cada vez mais cobra atitudes e ações socialmente responsáveis por parte das empresas, o desempenho eficiente dos bancos nos quatro papéis propostos no presente estudo (provedor de recursos, difusor de informações, consultor e controlador) pode contribuir para o crescimento de MPMEs, e conseqüentemente para a melhora de sua imagem de empresa socialmente responsável junto a esse público-alvo. Para que suas ações de responsabilidade social possam surtir efeito perante este público, geralmente avesso aos produtos e serviços bancários, seria necessário que os bancos, passassem a contribuir de forma efetiva, para o aumento da viabilidade de MPMEs, pois isto contribuiria para a criação de novos empregos, o desenvolvimento de regiões mais abastadas, além de estimular a inovação, tida por economistas como fundamental para o desenvolvimento econômico. 219 7 CONCLUSÃO O presente estudo investigou a questão do crescimento sustentável de MPMEs. Para tratar tal questão partiu-se da análise do comportamento de 68 firmas de quatro indústrias diferentes (distribuição e varejo de autopeças, varejo de informática, tecnologia e biotecnologia) frente aos cinco desafios ao crescimento propostos por Fleck (2009): Empreender em Bases Contínuas, Gerenciar a Complexidade, Aprovisionar Recursos Humanos, Gerenciar a Diversidade e Navegar em Ambiente Turbulento. Sendo os sócios os principais tomadores de decisão em MPMEs e seu comportamento essencial para o crescimento da firma (PENROSE, 1959), procedeu-se à análise de seu discurso em relação à trajetória de crescimento da firma. Foi analisado então o comportamento de 5 perfis de empreendedores identificados de acordo com suas respectivas motivações para o empreendedorismo (CHU et al, 2007; RINDOVA et al, 2009): Identificadores de Oportunidades, Estado da Arte, Especializados, Organizadores e Breaking Frees. Segundo Fleck (2001a), de acordo com o perfil de seu principal tomador de decisões, a firma poderia adotar um comportamento que a levaria a desenvolver propensão à autoperpetuação ou à autodestruição. 220 O quadro 7.1 descreve a relação entre as motivações propostas por Rindova et al, Chu et al e os perfis motivacionais encontrados. Motivação 2 (RINDOVA et al,2009) Breaking Up Breaking Free Submotivação ( CHU et al, 2007) Perfil Motivacional do Empreendedor Crescimento e satisfação pessoais; Identificadores de Oportunidades Aplicação de formação ou experiência anterior* Estado da Arte Aplicação de formação ou experiência anterior** Especializados Fazer da firma uma máquina eficiente*** Organizadores Apenas se livrar de uma situação indesejada Breaking Frees anterior (ex.: emprego informal, subremuneração, etc). Quadro 7-1 Perfis Motivacionais * Intenção de criar tecnologia brasileira pioneira; ** Copiavam as técnicas mais modernas existentes no mercado internacional; *** Fazer da empresa uma máquina eficiente – motivação evidenciada durante a própria pesquisa. O estudo se mostrou relevante na medida em que em um cenário em que não havia aparentemente explicações plausíveis para diferentes comportamentos dos empreendedores analisados, propôs-se ser a motivação para o empreendedorismo um fator primordial para a antecipação do comportamento do principal tomador de decisões da firma em relação ao crescimento sustentável da firma. A figura 7.1 mostra de que forma se posicionam od diferentes tipos de empreendedro em relação ao, perfil motivacional de seu principal tomador de decisões e à habilidade para crecer de forma sustentada. 2 Segundo Rindova et al, haveria duas motivações para o empreendedorismo: a motivação breaking free e motivação breaking up. A primeira se referiria àquela advinda única e exclusivamente de anseios de liberdade, vontade de se livrar de uma situação indesejada, anterior à criação da firma (sub-remuneração, percepção de grande instabilidade no emprego, dificuldades de relacionamento com colegas de trabalho ou o chefe, etc). A motivação breaking up implicava além dos anseios de liberdade a vontade de criar algo valioso aos seus próprios olhos ou aos olhos da sociedade. 221 Habilidade Figura 1 – Habilidade deMédio-Baixa Crescimento x Vontade de Crescimento Vontade Médio-Alta Médio-Baixa Breaking frees Especializados Organizadores Médio-Alta Estado da Arte Identificadores de Oportunidades Figura7-1 Vontade de Crescimento x Habilidade para o Crescimento Dado que empreendedores de alguns perfis motivacionais, quando colocados em atividades de natureza estratégica, detinham baixa habilidade para o crescimento ou baixa vontade de crescimento, propôs-se que nem todos os perfis motivacionais fossem compatíveis com atividades ligadas a estratégia e marketing. Na realidade, estas foram atividades que se mostraram desempenhadas de forma satisfatória apenas por Identificadores de oportunidades. As entrevistas indicaram no entanto que empreendedores de outros perfis motivacionais traziam contribuições importantes para o crescimento quando alocados em outros tipos de atividade. A partir de tal constatação, foram identificados três tipos de atividades essenciais ao crescimento da firma, denominados de serviços pró-crescimento: Serviços empreendedores clássicos – dependem da existência de indivíduos com as características temperamentais em níveis elevados (PENROSE, 1959): versatilidade empreendedora, julgamento empreendedor, ambição empreendedora e inventividade. Estes serviços eram prestados essencialmente em atividades ligadas a estratégia e marketing e eram a grande contribuição dos identificadores de oportunidades para o crescimento da firma. 222 Identificadores de oportunidades eram os únicos a prestar este tipo de serviço de forma satisfatória; Serviços Gerenciais Técnicos – Foram identificados dois tipos de serviços de Gerenciais Técnicos: serviços de criação e serviços de transferência técnica/tecnológica. Os primeiros são serviços que envolvem o desenvolvimento de novos produtos, criação de novos procedimentos ou de tecnologia de ponta, pioneiras. Em sua forma ótima, eram prestados em empresas que possuem centros de pesquisa avançada. São serviços que envolvem a criação e aprimoramento constantes de tecnologia própria, revolucionária. Este tipo de serviço somente era prestado por empreendedores estado da arte. O segundo tipo de serviço – serviços de transferência técnica/tecnológica – envolve o aproveitamento de técnicas ou tecnologias já desenvolvidas em laboratórios de universidades (brasileiras ou estrangeiras) ou escolas profissionalizantes. Não requerem a habilidade de criação, mas sim de identificação e réplica de procedimentos avançados já existentes. Este tipo de serviço era prestado essencialmente por especializados; Serviços de Organização – São serviços ligados ao desenvolvimento de procedimentos e regras internas, gestão de RH e estruturação da firma. Estão ligados a atividades rotineiras, burocráticas. Organizadores eram os grandes prestadores deste tipo de serviço. Foi sugerida ainda a existência de um quarto tipo, o desserviço ao crescimento sustentável, prestado essencialmente por empreendedores breaking frees ou breaking ups quando alocados em atividades não compatíveis com as aptidões propostas para seus respectivos perfis motivacionais. Estes desserviços eram compostos por uma miscelânea de atividades de natureza empreendedora e gerencial desempenhadas sem aptidão particular para tal, o que resultava em respostas sistematicamente insatisfatórias aos desafios de Fleck (2009). 223 Conforme sustenta Penrose (1959), serviços gerenciais e empreendedores são os grandes limitadores do crescimento da firma. O estudo estende o proposto por Penrose ao sugerir e definir perfis de empreendedores indicados para cada área da firma, classificadas de acordo com suas respectivas motivações para o empreendedorismo. Propõe-se que indivíduos com motivação breaking up, alocados em funções compatíveis com suas motivações, são imprescindíveis à prestação dos serviços pró-crescimento. Note-se que para autores subjetivistas, tais como Penrose, serviços empreendedores e gerenciais poderiam ser prestados tanto por sócios, como por gestores ou funcionários. O estudo propôs diversas medidas de ordem individual (comportamento do empreendedor), organizacional e ambiental (governo, incubadoras, entidades de fomento ao empreendedorismo), para elevar o nível dos diversos serviços disponíveis a MPMEs. A identificação dos tipos de serviços mais adequados a cada tipo de empreendedor deixou claro que não basta a existência de empreendedores de determinados perfis dentro da firma; eles devem ser alocados em posição compatível com as aptidões de seus respectivos perfis motivacionais. A identificação dos serviços predominantemente prestados por cada tipo de empreendedor, ou seja, sua contribuição primordial para o crescimento da firma se torna importante, uma vez que nenhum dos tipos de empreendedores encontrados prestava um único tipo de serviço, principalmente na fase de startup, quando os recursos são muito escassos e conta-se muitas vezes apenas com o trabalho dos sócios. Quanto mais rápido a firma reunir os tipos de recursos necessários e alocá-los de maneira conveniente, maiores serão suas chances de sobrevivência. Em firmas com alta concentração de sócios de determinado perfil motivacional, bastante cedo pode se tornar necessária a contratação de gestores profissionais. Finalmente, no que diz respeito ao ambiente externo da firma, procedeuse à análise da contribuição de um dos atores mais citados pelos entrevistados e proposto por Schumpeter, como determinante para o desenvolvimento econômico: os bancos comerciais. Segundo o autor, bancos bem administrados seriam capazes de identificar e financiar projetos viáveis. A pesquisa evidenciou dois aspectos importantes no que diz respeito a sua contribuição para o crescimento de MPMEs: (1) a necessidade de 224 estabelecimento de critérios para identificação de projetos viáveis, cuja falta resultava na cobrança indiscriminada de altas taxas de juros, MPMEs; e (2) a possibilidade da ampliação do potencial de participação dos bancos no processo de crescimento dessas empresas, decorrente das mudanças legislativas e tecnológicas ocorridas nas duas últimas décadas, evidenciadas pela análise dos 5 maiores bancos comerciais do Brasil em número de clientes segundo o IDEC (2011), com produtos e serviços destinados especificamente a a firmas de menor porte. Foram propostos quatro papéis potenciais para os bancos em relação ao crescimento de MPMEs: Provedores de Recursos, Difusores de Informações, Consultores e Controladores, conforme mostra o .2. Potenciais Papéis dos Bancos Comerciais Provedor de Recursos Difusor de Informações Consultor Funções * Captação de Recursos para Posterior Difusão de Informações Consultoria Repasse de Fomento ao Financeira Empreendedorismo * Viabilização de captação de recursos Difusão de Informações perante terceiros Conjunturais Difusão de Informações Regulamentares Difusão de Informações de Registro Consultoria Gerencial Controlador Fornecimento de Informações de Controle Acompanhamento Consultoria Planejamento de Gestão de Riscos Consultoria Avaliação Estratégica Difusão de Informações de Âmbito Social Coordenação Difusão de Informações Comerciais Motivação Quadro 7-2 Potenciais Papéis dos Bancos Comerciais no Crescimento de MPMEs O quadro 7.2 leva a crer, portanto, que os bancos podem exercer papel importante na eliminação dos desserviços prestados pelas MPMEs, dado o grande reconhecimento por parte dos breaking frees da importância dos serviços bancários para seu trabalho. A importância dos bancos em papéis que não fossem o de provedor de recursos foi ressaltada por poucos empreendedores breaking ups. 225 O estudo estabelece ainda bases para que bancos comerciais identifiquem com maior facilidade projetos verdadeiramente viáveis. Apenas um tipo de empreendedor em posição de liderança levaria a firma ao crescimento sustentável - os identificadores de oportunidades – que também se mostraram pré-dispostos à contração de financiamentos, quando suas firmas dispunham de prestadores de serviços de organização, que permitiam o controle e o planejamento. 7.1 Implicações da Pesquisa Diversas tentativas de explicação do comportamento do empreendedor foram realizadas até hoje sem sucesso. Muitas delas se baseavam na investigação de características pessoais conducentes ao crescimento da firma. Tentativas deste tipo esbarraram, no entanto, na grande dificuldade de se limitar o nº de características a serem investigadas, diante das inúmeras características pessoais possíveis. Ao partir das motivações para o empreendedorismo para determinação do comportamento do empreendedor, o presente estudo inovou em quatro aspectos fundamentais: (1) propôs que a motivação para o empreendedorismo seja fator determinante do comportamento do empreendedor frente ao crescimento da firma; (2) restringiu o baixo número de tipos de empreendedores possíveis a um número inferior a dez, dado o número relativamente baixo de motivações para o empreendedorismo, identificados em estudos anteriores (CHU et al, 2007); (3) sugeriu a existência de padrões de comportamento por meio de critérios identificáveis por meio de entrevistas ou pela administração de questionários (CHU et al, 2007); e (4) propôs uma tipologia geral independente de fatores específicos tais como a indústria de atuação, o tamanho da firma, sua idade ou localização, o que pode vir a viabilizar a comparação entre estudos futuros. O estudo sugere que estudos que tratem o empreendedor como indivíduo de comportamento único frente ao crescimento da firma não sejam comparáveis e que esta não comparabilidade se deva a fatores ligados não a divergências em relação aos critérios utilizados para a determinação de o que 226 seja uma micro, pequena ou média empresa, mas à não definição de uma tipologia apropriada, capaz de distinguir empreendedores com comportamentos diferentes. Diversas teorias somente se aplicavam a um único tipo de empreendedor, entre os cinco identificados. Propôs-se que a existência de uma tipologia de empreendedores baseada em suas motivações para o empreendedorismo possa ser a base para a explicação de temas frequentemente pesquisados neste campo de estudos, para as quais ainda não se tenha chegado a resultados conclusivos. Foram apontadas diferenças consideráveis entre os empreendedores dos cinco perfis motivacionais sugeridos no que diz respeito a: freqüência de identificação e aproveitamento de oportunidades; principais formas de captação de recursos; estilo de liderança; tipos de problemas enfrentados; tendência ao planejamento; pré-disposição à busca por assessoria gerencial especializada; e adoção de mecanismos eficientes de controle, entre outros. Propõe-se portanto que mais do que fatores ambientais, o perfil do estrategista à frente da firma, aqui chamado de empreendedor, determine o comportamento da firma. A liderança da firma, quando exercida por empreendedores em posição de formulação da estratégia e da política de marketing da firma, faria com que esta não crescesse de forma sustentável, independente de qualquer políticas públicas implementadas. A redução da taxa básica de juros, por exemplo, pode surtir pouco efeito no caso de empresas lideradas por tipos de empreendedores particularmente avessos à contração de financiamentos bancários. Em muitos casos, esta aversão pareceu independer das taxas oferecidas. Assim, mais que fatores ambientais, o presente estudo conclui que o fator humano seria de fato o grande fator limitante do crescimento da firma. Diversas MPMEs não contavam com indivíduos prestadores de ao menos um dos serviços propostos como essenciais ao crescimento da firma – serviços empreendedores clássicos, serviços gerenciais técnicos ou serviços de organização. Ou seja, faltava aos indivíduos que nelas trabalhavam uma das submotivações breaking ups necessárias ao crescimento (satisfação e crescimento pessoais, vontade de aproveitar formação ou experiência anteriores ou de fazer da empresa um organização eficiente). Outras firmas possuíam número considerável de prestadores de desserviços ao crescimento 227 sustentável, dada a predominância de indivíduos com motivação breaking free em posição de liderança. Havia ainda empresas que pecavam pela alocação inapropriada dos indivíduos que nela trabalhavam, inclusive dos sócios. Uma persistente crença contribuía para a persistência deste quadro. De maneira geral, acreditava-se que o fato de ser sócio tornava o indivíduo automaticamente apto para a execução de atividades de natureza estratégica na empresa. Era comum a crença de que a empresa deveria refletir a forma de pensar e de agir do sócio majoritário. Dois fatores reforçavam tal crença: (1) empreendedores de todos os perfis motivacionais se mostraram particularmente relutantes em aceitar a interferência de não sócios na definição de estratégias da empresa, por medo de perda do controle; e (2) em nenhuma das quatro indústrias entrevistadas havia assessoria especializada aos empreendedores em questões de recursos humanos. Embora tal serviço pudesse aportar contribuição fundamental para o crescimento da firma, a assessoria para questões de RH era inexistente, mesmo nas incubadoras. Isto nem mesmo acontecia em empresas incubadas. Assim, propõe-se que ainda que seja fornecido crédito ou que sejam realizados cursos sobre planejamento, conforme objetivo do Governo Federal em seu Programa Brasil Empreendedor, o crescimento de muitas dessas MPMEs dificilmente se acelerará enquanto não forem resolvidos problemas cruciais quanto à contratação, desenvolvimento de alocação de recursos humanos. Sob o ponto de vista do governo, dada a imprescindibilidade da disponibilidade de indivíduos com motivação breaking up para o crescimento de MPMEs, um dos grandes desafios ao desenvolvimento econômico se torna aumentar o número de indivíduos na população com este tipo de motivação, o que requer investimento em aumento do capital humano, tanto de empreendedores, especificamente, como da população em geral. Para aumentar a disponibilidade de serviços gerenciais técnicos na firma, ou seja, de estado da arte e especializados, seria preciso: ampliar a quantidade e a qualidade de escolas de formação técnica; viabilizar escolas técnicas de baixo custo e com ensino de boa qualidade, assim como a contratação de profissionais delas egressos e divulgar o empreendedorismo junto a este tipo de organização; estimular o empreendedorismo junto a alunos de mestrado e doutorado das áreas técnica e tecnológica; ampliar as modalidades de cursos 228 de mestrado e doutorado nessas áreas; incentivar a realização de cursos de mestrado e doutorado em países estrangeiros com alto nível de empreendedorismo; e criar centros de pesquisa avançada. Para aumentar o potencial de prestação de serviços de organização, ou seja, de organizadores, seria necessário: promover encontros de empreendedores; estimular a criação de empresas especializadas no desenvolvimento de soluções em softwares para MPMEs; simplificar legislações e normas; reduzir a freqüência da mudança nos textos dos normativos. Associações de classe podem prover cursos que facilitem a compreensão de como as normas se aplicam a cada negócio e a conscientização da importância de se manter controles financeiro e tributário eficientes. Por fim, devem ser investigadas formas de ampliar o nº de identificadores de oportunidades - prestadores de serviços empreendedores clássicos. O presente estudo propôs duas: (1) criação de um ambiente institucional favorável ao empreendedorismo; (2) aumento do número de disciplinas referentes a empreendedorismo, ainda que facultativas, em cursos de graduação da área tecnológica. 7.2 Limitações do Estudo Foram entrevistadas muitas firmas de tamanhos micro e pequeno. Portanto, não foi possível analisar o ciclo de vida das firmas; O estudo, por ser indutivo não produziu conhecimento generalizável para a população (BOYCE E NEALE, 2006), mas sim para o corpo teórico sobre o empreendedor e o crescimento sustentável da firma; Não foi objetivo do estudo verificar a eficiência dos bancos em relação a cada um dos papéis propostos. Foram feitas referências a questões de eficiência apenas no que diz respeito ao papel de provedor de recursos, dada a freqüência com que empreendedores se referiram ao banco como credor; 229 Foram propostos quatro papéis potenciais para os bancos comerciais em relação ao crescimento das MPMEs. No entanto, o papel dos bancos é evolutivo (DE CECCO, 1987). Com o tempo, podem surgir novos papéis em decorrência de mudanças tecnológicas ou legislativas, que ampliem a gama de potenciais papéis desempenhados pelos bancos comerciais; 7.3 Sugestão para Estudos Futuros Estudos quantitativos, realizados via survey, podem ser realizados para validar a existência dos perfis motivacionais propostos. Uma vez testada e validada a tipologia, poderão ser realizados estudos que visem a analisar o comportamento do empreendedor, a partir da tipologia proposta. Com isso, poderiam ser identificadas características pessoais de empreendedores de cada um dos cinco perfis. A identificação de características pessoais de cada um dos tipos de empreendedores propostos poderia contribuir para uma avaliação do perfil do empreendedor, antes mesmo que este fosse posto em posição de liderança dentro da firma, e portanto, para uma melhor alocação dos recursos humanos. Alguns autores dedicaram sua atenção ao estudo de diferenças entre os problemas enfrentados por homens e mulheres donos de empresas. Problemas referentes a gênero foram pouco relatados ao longo das entrevistas. Sugere-se que estudos desta natureza levem em conta a existência de tipos diferentes de empreendedores e comparem os problemas por eles enfrentados, quando em posição de liderança e quando atuantes nas atividades compatíveis com seu perfil motivacional. Adicionalmente, podem ser investigados os fatores que poderiam levar a mudanças no perfil motivacional do empreendedor. Uma das questões primordiais seria: é possível transformar a motivação breaking free em breaking up? Além disso, devem ser investigados métodos para realocação de indivíduos nas atividades da firma mais compatíveis com seus respectivos perfis 230 motivacionais. Em empresas de grande porte, pode ser investigada a adequação da alocação dos indivíduos, de acordo com seu perfil motivacional. Também poderia ser estudado o perfil motivacional de ocupantes de cargos de gestão no setor público e as conseqüências gerenciais. Estudos futuros podem também investigar as conseqüências das diferenças em termos de perfil motivacional em caso de sucessão empresarial, para a firma e para o sucessor; No que se refere ao relacionamento com os bancos comerciais, existe uma grande carência de pesquisas que envolvam os tipos de produtos e serviços mais utilizados por empreendedores. Podem ser verificados os tipos de informações essencialmente obtidas junto a bancos e a percepção da confiabilidade dessas informações. Podem ser pesquisados os tipos de problemas mais comuns encontrados por empreendedores em seu relacionamento com os bancos. Pouco se sabe sobre o perfil do gerente de bancos que atende a MPMEs. Existem cursos específicos para sua preparação? Podem ser avaliados os critérios adotados por gerentes de bancos para determinação dos produtos e serviços a serem oferecidos a MPMEs; pesquisados os critérios utilizados para a concessão de crédito; investigada a percepção de eficiência dos bancos comerciais nos quatro papéis propostos para os bancos comerciais (mediante comparação entre bancos); realizados estudos comparativos entre diversas agências de um mesmo, banco situadas em regiões diferentes do país em relação a um determinado perfil; assim como proceder à comparação dos produtos e serviços prestados por bancos comerciais brasileiros a MPMEs, com aqueles prestados por bancos comerciais de países desenvolvidos. 231 REFERENCIAS ACS, Z.J.; AUDRETSCH, D.B. Innovation and Small Firms. Cambridge: MIT Press,1990 AHEARN, K. K.; FERRIS, G. R.; HOCHWARTER, W. A. ; DOUGLAS, C.; AMMETER, A. P. Leader Political Skill and Team Performance. Journal of Management, V. 30, p. 309-327, 2004 AKERLOF, G. A.; KRANTON, R. E. 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