Cura que vem da natureza

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Ano 1 | nº 05 | Ago/Set/Out
R$ 9,50
Cura que vem
da natureza
Pesquisas comprovam o que nossas avós já sabiam: plantas
medicinais são eficazes para tratar doenças
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
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Algomais Saúde • AGO//SET//OUT/2015
Algomais Saúde • AGO//SET//OUT/2015
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EDIÇÃO 5
SUMÁRIO
Capa. Você pode cultivar uma
verdadeira farmácia no seu
jardim. Página 06
Gordura no fígado. Saiba como
ela pode prejudicar sua saúde
Página 11
É virose. Veja porque os
médicos dão esse diagnóstico.
Página 16
Cuidar do cuidador. Familiar
que assiste parente com Alzheimer também requer atenção.
Página 18
Diabetes. Conheça as novidades
no tratamento. Página 22
Expediente
Uma publicação da SMF- TGI EDITORA
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EDITORIAL
Nesta terra tudo
dá, até remédio
Quando a sabedoria popular faz uma parceria com o conhecimento acadêmico, o resultado pode ser muito proveitoso para todos. É o que observamos
nas crescentes pesquisas científicas que comprovam a eficácia de plantas
medicinais. São estudos que partem do saber de comunidades rurais, indígenas ou mesmo urbanas.
Na reportagem de capa desta edição, o leitor vai conhecer o verdadeiro arsenal terapêutico que pode ser cultivado nos jardins. Também verá algumas
iniciativas que incentivam a população a usar a fitoterapia. As pessoas passam a tratar doenças simples como uma gripe a um custo menor e ganham
uma autonomia para cuidar de si próprias.
E tem mais: como salientou Tiago Ribeiro, coordenador de políticas integrativas da Secretaria Municipal de Saúde, há todo um resgate afetivo quando
usamos as plantas medicinais. Afinal, ele lembra, ninguém se recorda com
carinho do anti-inflamatório que tomou para tratar uma doença, mas certamente não esquece daquela xícara quentinha de chá que nossa mãe nos deu
quando estávamos doentes.
A boa notícia é que em breve vamos ter fitoterápicos gratuitos a partir de
uma iniciativa da Secretaria de Saúde. Veja detalhes na matéria de capa.
E se você já foi alguma vez diagnosticado com virose não pode deixar de ler
a matéria da página 16. O termo é muito usado por médicos para indicar um
quadro infeccioso e tem causado muita irritação nos pacientes, que o consideram um diagnóstico impreciso. Mas os médicos explicam na reportagem
porque eles recorrem à terminologia.
A seção Bem-Estar traz a notícia de que os especialistas em Alzheimer começam a voltar suas atenções também para o familiar que cuida dos pacientes
com a doença. É um parente que enfrenta um alto nível de estresse a ponto
de adoecer. A matéria traz dicas de como aliviar a sobrecarga dessa situação.
Também trazemos duas novidades nesta edição. Uma delas é a seção Pensando Bem Saúde que terá sempre um artigo de um especialista renomado. Neste
número, o hepatologista Fábio Marinho aborda a gordura no fígado. Numa
outra seção, Fala, Doutor, outro médico de competência reconhecida informará novidades no tratamento de doenças. O endocrinologista Luiz Griz,
comenta nesta edição, as inovações na terapia contra o diabetes.
Boa leitura!
Cláudia Santos - Editora Geral
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Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade
de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a
opinião da revista.
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Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
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Fotos: Alexandre Albuquerque
CAPA
Uma
farmácia
no seu JARDIM
Tradição que vem dos nossos antepassados, uso de plantas medicinais tem eficácia
comprovada por pesquisas científicas no tratamento de diversas doenças
Cláudia Santos
S
e você pensa que aquele chá que
sua avó lhe oferecia quando estava doente não traz benefícios
para a saúde, é bom mudar de
ideia. Existem comprovações científicas dos efeitos positivos das plantas
medicinais e dos remédios produzidos
a partir delas, os fitoterápicos. A tradição de nossos ancestrais de transformar a flora numa verdadeira farmácia
ganhou status de ciência. E não é só
isso. Também virou política pública. O
Ministério da Saúde (MS) vem incentivando a fitoterapia País afora a partir do Programa Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). E
aqui, na Veneza Brasileira, a Secretaria
de Saúde do Recife vai inaugurar no
ano que vem um projeto de Farmácia
Viva no Jardim Botânico para distribuir plantas medicinais e fitoterápicos
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Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
aos pacientes da rede municipal.
Pernambuco já teve um laboratório
semelhante. Foi o primeiro do Brasil pertencente ao serviço público. Isso aconteceu lá pelos idos de 1983, em Olinda, tendo
à frente a médica Evani Araújo, que hoje é
professora do Curso de Farmácia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Uma
série de fatores, porém, levou à suspensão
Ministério da Saúde
vem incentivando o
uso de fitoterápicos
Brasil afora na rede de
atenção básica
da iniciativa, que, no entanto, deixou sementes. A ponto de hoje já termos certa
expertise para fazer um novo laboratório.
“Quando comecei, nos anos 80, a fitoterapia era mal vista pelos colegas”,
recorda-se Evani. “Mas a concepção foi
evoluindo até que em 2006 veio a resolução do Ministério da Saúde oficializando o uso no SUS da fitoterapia. Em
seguida foi divulgada a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus)”, relata a médica.
Nessa relação constam 71 plantas muito pesquisadas e que já têm segurança
de uso. A intenção do MS é expandir a
utilização delas tanto in natura quanto
na forma de fitoterápicos.
Segundo dados de 2012 do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade
da Atenção Básica do MS, 970 municípios disponibilizam fitoterápicos em ao
ELBA AMORIM
Plantas medicinais
têm ação benéfica, mas
não são desprovidas de
efeitos colaterais"
menos um estabelecimento de saúde da
atenção básica e 80 ofertam esses remédios no modelo de Farmácia Viva. A fitoterapia também ganhou as farmácias
comerciais. Basta dar uma olhada nas
prateleiras das drogarias para perceber
a quantidade e variedade desses medicamentos que são vendidos.
Os que desejam saber como cultivar e
usar essas plantas têm a oportunidade de
participar de cursos gratuitos ofertados
pelo Núcleo de Apoio às Práticas Integrativas (Napi), ligado à Secretaria de Saúde
do Recife. O aluno aprende a fazer a formulação caseira mais adequada, seja um
chá, um lambedor, ou até um xampu, a
partir de vegetais muito comuns em
jardins e quintais, como quebra-pedra,
babosa e Melão-de-São-Caetano. Gente
de todas as classes sociais frequentam as
aulas, desde donas de casa, até profissionais da área de saúde que estão fazendo
mestrado ou doutorado.
Evani é uma das professoras e assegura que a melhor alternativa para adquirir uma planta medicinal é fazer seu
próprio cultivo. “Deve-se saber onde buscar a planta, nem sempre os mercados
públicos são a opção mais vantajosa. O
melhor é cultivar em casa, mesmo sendo
num apartamento. Pode-se plantar até
numa garrafa PET”, incentiva a médica.
Usar plantas medicinais requer um
certo cuidado. Qualquer interferência externa pode modificar sua eficácia, como
a poluição. “E se não forem utilizadas
logo depois da coleta, devem ser secadas”,
orienta Elba Lúcia Amorim, professora
associada e vice-chefe do Departamento
de Ciências Farmacêuticas da UFPE.
Elba, que também é conselheira do
Conselho Regional de Farmácia, alerta,
ainda, para a falsa ideia de que as plantas medicinais não provocam efeitos
adversos. Portanto, esqueça aquele pensamento de que tudo que é natural se
não fizer bem, mal não faz. “Elas apresentam ações benéficas, mas não desprovidas de efeitos colaterais”, adverte a
farmacêutica. Quer ver um exemplo? O
boldo é uma planta cuja eficácia contra
a indigestão é conhecida por muita gente e teve seus efeitos benéficos comprovados por pesquisas. Mas, em grande
quantidade pode provocar câncer hepático. Vale também um alerta especial
para gestantes e bebês. Como ainda não
existem estudos científicos que comprovem que plantas medicinais não são tóxicas para eles, grávidas e crianças muito pequenas não devem fazer uso delas.
Por todas essas razões, antes de
recorrer à fitoterapia, o ideal é obter
informações seguras de como se beneficiar de uma horta medicinal. Uma das
maneiras, por exemplo, é participar dos
cursos, como o do Napi. Maria Alci Medeiros é uma das alunas que usufruiu
dos conhecimentos das aulas. Ao sofrer
Erva-lanceta (Solidago chilense) Conhecida como arnica brasileira,
e com ela se prepara um gel para
uso local em caso de pancada e
contusões.
Alfavaca (Ocimum gratissimum) Utilizada principalmente na forma
de inalação para tratamentos de
sinusites ou como digestivo, contra
vômitos.
de infecção urinária, foi parar duas vezes na emergência. Ela se curou com o
bom e velho chá de quebra-pedra. “Nunca mais tive nada”, comemora Alci.
Já os medicamentos fitoterápicos
contêm o princípio ativo (substância
que produz o efeito farmacológico)
que foi extraído das plantas. Mas não
pensem que por serem originados da
natureza não passam por fiscalização.
Assim como os remédios industrializados, eles precisam do registro da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para serem comercializados. Esse
registro é obtido a partir da confirmação de testes que comprovem sua eficácia terapêutica e a segurança quanto à
toxicidade.
PESQUISA
O Brasil – Pernambuco incluído – tem um
potencial grande para expandir o uso de
plantas medicinais e produzir uma quantidade diversificada de fitoterápicos. Afinal, nossa biodiversidade é imensa. Mas
esbarramos nos obstáculos para realizar
pesquisas que evidenciem o efeito desses
medicamentos. “Desenvolver esses estudos é um investimento muito caro. Falta
incentivo”, lamenta Evani.
Tratar-se, na verdade, de um processo que pode levar mais de 10 anos.
Primeiro identifica-se a planta, a partir
da classificação botânica internacional
com nome em latim. Em seguida, estuda-se como ela se apresenta durante o
ano, colhendo mês a mês para verificar
se sofre algum tipo de alteração. Em
seguida vem uma série de testes priAlgomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
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Mentrasto (Ageratum conyzoides) Excelente cicatrizante e anti-inflamatório para uso tópico.
Espaço | Evani revela que se pode cultivar os vegetais até num apartamento
meiro em animais, depois em pessoas.
Elba coordenou um estudo sobre os
efeitos de determinada planta no combate a infecções por fungos. Mas teve
que paralisar a pesquisa na fase de testes em animais porque não conseguiu
financiamentos de R$ 50 mil para dar
prosseguimento à investigação. A professora da UFPE não revelou nome do
vegetal porque pretende patenteá-lo.
Um cuidado compreensível uma
vez que a biopirataria é uma realidade. “Pessoas de outros países pegam a
informação com a população sobre o
uso medicinal das plantas, produzem
seu medicamento, visando o lucro, mas
não dão retorno às comunidades que
detinham o conhecimento. A patente de um medicamento leva 20 anos”,
confronta Evani. Segundo o Ministério
da Saúde existe legislação para evitar a
saída das plantas. “Mas é difícil a fiscalização, somos um país continental, com
áreas de difícil acesso, os vegetais são
exportados sem proteção”, afirma Elba.
Mas, estudiosos como ela não desistem das pesquisas. Hoje, Elba está à
frente de um estudo de certa planta da
caatinga de Altinho (cidade próxima
a Caruaru) para observar seus efeitos
como protetor solar. “Analisamos se o
extrato dessa planta consegue filtrar a
radiação ultravioleta. As pesquisas estão em andamento na fase de testes in
vitro”, informa a professora.
Evani também realizou vários estu-
dos, mas agora optou por trabalhar com
as plantas já pesquisadas e comprovadamente eficazes no combate às doenças.
“Meu trabalho visa repassar para os
profissionais e população em geral os
resultados de pesquisas sobre eficácia e
segurança no uso das plantas".
Ressalte-se, porém, que os fitoterápicos não são substitutos dos medicamentos industrializados, mas são
complementares. Porém oferecem
uma boa economia para o bolso do
consumidor, principalmente quando o laboratório do Jardim Botânico
estiver concluído já que serão ofertados gratuitamente. Economia que
também pode ser usufruída se o tratamento for à base de plantas medicinais cultivadas pelo próprio paciente.
E você também pode se beneficiar.
Basta transformar o seu jardim numa
farmácia natural. Portanto, mão à
obra, ou melhor à terra!
Conheça os termos
Fitoterapia – ciência que estuda a terapia com plantas medicinais
Planta medicinal – vegetal que tem uso tradicional pela população
como remédio, sem comprovação científica.
Manjericão (Ocimum basilicum) Planta aromática usada na culinária que tem ação digestiva e anti-inflamatória.
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Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
Droga vegetal – planta medicinal ou partes dela que passaram por processo de secagem (como as que são vendidas nos mercados públicos)
Medicamento fitoterápico – remédio obtido quando a planta sofre
um processamento para se transformar uma fórmula farmacêutica
(comprimido, xarope, etc).
UMA
OPERAÇÃO
DE SUCESSO
NO HOSPITAL
JAYME
DA FONTE.
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
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Alexandre Albuquerque
A população do Recife contará , em
breve, com uma Farmácia Viva, isto é, vai
adquirir, gratuitamente, plantas medicinais, drogas vegetais e medicamentos
fitoterápicos na rede de atenção básica
do município. O projeto é uma parceria
da Secretaria Municipal de Saúde com a
Secretaria Meio Ambiente, que cedeu o
Jardim Botânico do Recife (JBR) para cultivar a horta medicinal. No JBR também
será instalado um laboratório para a fabricação dos remédios.
“Resolvemos fazer essa parceria
com o Jardim Botânico, que já tem a expertise no manejo dessas plantas, aliando à nossa capacidade técnica desenvolvida no Núcleo de Práticas Integrativas
(Napi) da Secretaria da Saúde”, explica
o secretário de Saúde Jailson Correia. O
núcleo a que o secretário se refere oferece aos pacientes da rede municipal
atividades como tai chi chuan, bioenergética, ioga, acupuntura, além de orientações relativa à fitoterapia seguindo
um conceito de saúde integral.
E é a partir dessa experiência que
a Farmácia Viva está sendo implantada. Não por acaso, quem participa da
iniciativa é Tiago Ribeiro, coordenador
do Napi. Ele explica que o projeto venceu um edital do Ministério da Saúde,
em 2014, e garantiu cerca de R$ 450 mil
para estruturação do serviço e compra
de equipamentos. “Como contrapartida a Secretaria de Saúde terá que bancar o investimento da construção da
sede do laboratório”, acrescenta.
Mesmo com a retração da economia,
Jailson Correia garante que as obras estarão concluídas no prazo estabelecido de
2016. “Estamos somando os esforços com
a Secretaria de Meio Ambiente para a
construção desse laboratório, indo atrás
de novos recursos. Apesar do momento
difícil, vamos manter a expectativa de tê-lo funcionando no ano que vem.”
Dez plantas medicinais serão cultivadas no Jardim Botânico: capim-santo, maracujá, aroeira da praia, babosa, melão-de-são-caetano, chambá,
alumã, boldo, hortelã graúda e colônia.
Segundo Correia, o desenvolvimento
do projeto está sendo realizado em
sintonia com a prática dos recifenses.
Sol Pulquério/PCR
Horta | Ribeiro informa que dez espécies de plantas medicinais serão
cultivadas no Jardim Botânico
Divulgação/PCR
Em breve, plantas e
fitoterápicos gratuitos
Plano | Correia: projeto é feito em
sintonia com a prática da população
“Nossa população ainda usa bastante
as plantas medicinais”, constata.
E a população vai poder participar
dessa iniciativa, não apenas adquirindo produtos fitoterápicos, mas também
participando de atividades no Jardim
Botânico. “Vamos promover ações educativas para a comunidade em geral e
também para profissionais e estudantes
da área de saúde”, acrescenta Ribeiro.
Esse contato com as pessoas, de
acordo com Ribeiro, é importante porque há uma demanda cada vez maior
da fitoterapia, que oferece não apenas tratamento para as doenças, mas
promove um resgate afetivo, de um
conhecimento que foi transmitido por
nossos antepassados. “É algo que está
inerente na nossa cultura. Ninguém
se recorda com afetividade do anti-inflamatório que tomou, mas nos lembramos com carinho daquela xícara
quente de chá que nossa mãe nos deu
quando estávamos doentes. ”
Colaboração:
Elba Amorim - Farmacêutica
Fone: (81) 2126-8511
Evani Araújo - Médica
Fone: (81) 3035-7777
Jailson Correia - Secretário de Saúde
Fone: (81) 3355-8000
Tiago Ribeiro - Psicólogo
Fone: (81) 3355-2810
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Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
PENSANDO BEM - SAÚDE
* Fábio Marinho
é médico hepatologista
O que você precisa saber
sobre: gordura no fígado
M
uito se tem falado sobre
fígado gorduroso, e nós
não estamos nem falando do famoso foie gras,
deliciosa iguaria da culinária sofisticada. Falamos sim do fígado gordo dos
humanos, ou da famosa esteatose hepática. Essa entidade tem sido assunto
em várias especialidades médicas entre cardiologistas, endocrinologistas,
gastroenterologistas e hepatologistas,
além de rodas e redes sociais.
Essa doença não é nova, apenas foi
mais estudada e divulgada nos últimos
20 anos. Trata-se na verdade de acúmulo de triglicérides nas células hepáticas, os hepatócitos. Esse acúmulo está
relacionado a vários fatores, dentre os
quais sobrepeso e obesidade, aumento dos níveis séricos de triglicérides
e colesterol, alterações da glicose ou
diabetes mellitus, sedentarismo, erros
alimentares, doenças hepáticas outras
e consumo de álcool. Atualmente se dá
ênfase às causas não relacionadas ao
álcool, já que sabemos bem dos efeitos
deletérios do álcool ao fígado. Chama-se, então, de esteatose não-alcoólica.
Então, o que pode ocorrer com o
fígado se você estiver com gordura?
Normalmente o fenômeno da esteatose está relacionado muito de perto
a aumento do risco de eventos cardiovasculares, como infarto e acidentes
vasculares. Quanto ao fígado em si, o
risco é do desenvolvimento de cirrose
– e lembro – independente do consumo do álcool. Se houver inflamação associada à presença da gordura no fígado, esse risco é bastante mais elevado.
Então, ao logo do tempo, se não
houver cuidado com a esteatose poderá ocorrer cirrose. Essa é a principal mensagem que quero passar. Há
uma cultura equivocada de que “todo
mundo tem gordura no fígado”, e que
isto seria normal e que estaria ligada a
fatores de risco. Mas só que se precisa
saber que um percentual desses pacientes irá evoluir negativamente, com
inflamação e desenvolverá cirrose. A
doença hepática gordurosa do fígado é
hoje a segunda indicação de transplante de fígado nos Estados Unidos, logo
depois da hepatite C crônica. O Brasil
caminha para essas cifras.
Atualmente é frequente nos nossos
consultórios, por exemplo, pacientes
diabéticos de longa data com controle inadequado, que já chegam
cirróticos e muitas vezes com complicações, como câncer de fígado ou
ascite (água no abdome). Isso pode
ocorrer com pacientes que também
têm esteatose por outras causas, como
obesidade, ou colesterol elevado. Você
pode imaginar que muitas pessoas
podem se enquadrar em pacientes de
risco para cirrose hepática. Claro que
nem todas as pessoas que
têm esteatose terão cirrose.
Por isso é
necessária uma
avaliação detalhada
por profissional
capacitado para
saber se aquela esteatose carrega em si
o risco da cirrotização. De qualquer maneira o fato de haver esteatose merece
no mínimo uma avaliação cardiológica pelos riscos inerentes à condição. A
investigação das causas da doença e do
seu risco são fundamentais para guiar
o tratamento.
O tratamento para essa condição é
baseado essencialmente em mudanças
de estilo de vida. Os medicamentos são
utilizados para redução dos níveis alterados de glicose, colesterol, triglicérides
entre outros agravos. Os remédios para
a esteatose também funcionam para
reduzir e
cessar a inflamação,
podendo fazer
com que a
doença regrida.
O mais
importante
nessa doença é entender que é
uma entidade potencialmente grave,
mas que tem
como ser tratada. Precisa-se que todas
as pessoas que
têm a esteatose
hepática sejam
bem avaliadas
para se entender se “aquela”
esteatose tem
potencial de
cirrotização.
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
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MITO OU VERDADE?
Comer e logo em seguida tomar banho de chuveiro, mar
ou piscina faz mal à saúde?
Mito. O que ocorre é que após a refeição, a circulação sanguínea para região abdominal
aumenta, com o intuito de auxiliar na digestão. O sangue é direcionado para o esôfago,
estômago e intestino, que são os órgãos responsáveis pelo processamento dos alimentos
e posterior absorção dos nutrientes obtidos com a dieta. Quanto mais farta for a refeição,
maior será a
quantidade de sangue requerida para ser digerida. Temperaturas
extremas, muito frias ou muito quentes, fazem com que a circulação seja desviada para a pele e extremidades a fim de estabilizar
a temperatura corporal e irrigar os músculos. Banhos de imersão
(mar ou piscina) nessas condições de temperatura, por serem
mais prolongados, maximizam esses efeitos. Logo, há uma
"competição" pelo sangue entre o trato gastrointestinal
e a pele/músculos, o que pode ocasionar sintomas de
indigestão ou câimbras. “No entanto, exceto no caso de
refeições fartas com banhos de imersão em temperaturas extremas, se alimentar e tomar banhos de chuveiro, mar ou piscina não faz mal à saúde, sobretudo
porque as águas do nosso País tropical geralmente
são mornas e confortáveis”, explica o gastroenterologista e endoscopista do Hospital Esperança Olinda,
Gerson Brasil.
Usar boné com muita frequência
faz cair o cabelo?
Verdade. O boné, segundo a dermatologista do Realderma (Hospital Português) Rossana Chagas, provoca um
aumento da oleosidade dos fios devido à elevação da
temperatura na cabeça. “O calor aumenta, e consequentemente, leva ao aparecimento da seborreia que
pode ocasionar a queda dos cabelos”, alerta a médica.
Rossana salienta ainda que existem alguns tipos de
bonés que causam atrito e podem depilar o local no
couro cabeludo. 12
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
ALÉM DO CONSULTÓRIO
Entre Baco
e o bisturi
Cirurgião e laringologista Jorge Pinho é um enófilo reconhecido
C
Alexandre Albuquerque
hefe da Unidade de Cirurgia sem curso de especialização, o enófilo como Provença e Bordeux, ambas na
Cabeça, Pescoço e Tireoide do tem o gabarito necessário para minis- França, e Douro, em Portugal. A enoHospital Memorial São José, o trar palestra. Esse dom de ensinar, de gastronomia, por sua vez, também não
médico Jorge Pinho é especia- acordo com ele, é uma herança da me- pode ser esquecida nos passeios que faz
lista em laringologia. Mas seu principal dicina. “Nós, médicos, temos mania de com a esposa, a neurocirurgiã Débora.
objeto de estudo, a garganta, ganha ou- dar aula, porque somos muito curiosos “O segredo é escolher vinhos produzidos
tra função aos finais de semana:
com a uva daquela localidade. Se
a de apreciar os sabores dos mais
eu estou na Borgonha, tenho que
variados vinhos. O interesse em
tomar Pinot Noir”, orienta.
conhecer mais profundamente a
Além do prazer da degustabebida de Baco começou há pelo
ção, o médico atribui, à bebida mimenos 20 anos quando o cirurlenar, o surgimento de novas amigião levou um amigo em uma
zades e a adega dele é prova disso.
viagem aos Estados Unidos para
“Eu tenho na minha casa um vitratar de um câncer. “Sempre
nho para cada amigo, porque o visaíamos para beber juntos, até
nho não tem essa história de comque o médico disse que a única
prar só pensando em mim. Eu
bebida que ele poderia tomar era
compro para tomar com os amivinho. Resolvi acompanhá-lo e
gos.” Jorge Pinho ainda formou
comecei a estudar sobre o tema”,
com outros sete apaixonados pela
conta. Para dar início ao aprenbebida um grupo de Whatsapp, o
dizado, o Dr. Jorge comprou o
Top Wine Group, no qual trocam
livro Tintos e Brancos, de Saul
fotos e informações quando estão
Galvão, e, desde então, já viajou o
viajando. Os integrantes também
mundo para visitar as principais
se revesam na função de anfitrião
vinícolas.
para receber os colegas e saborear
Graças a sua dedicação, o
a bebida.
médico se transformou em uma
Nomes como Château Moureferência quando o assunto é viton Rothschild e Nuits Saint
nho. “Sempre me consultam para
Georges estão entre os preferisaber qual comprar. Quando esdos do médico de 59 anos. Mas,
tou em um congresso, por exemsegundo ele, vinho bom é aquele
plo, pedem para que eu escolha
que respeita o orçamento de cada
o vinho”, revela. Com a intenção união | Pinho divide o prazer do vinho com amigos um. “Dizer que o melhor vinho é
de compartilhar os conhecimeno Romanée-Conti, que é o mais
tos e desmistificar a bebida, o cirurgião e estamos sempre estudando.”
caro do mundo, é fácil. No entanto, não
fundou, junto com um grupo de colegas,
Nas viagens, o vinho nunca sai do cabe no bolso de todos”, sentencia. O
a Sociedade dos Amigos do Vinho em roteiro do laringologista e já o fez conhe- cirurgião ainda associa a qualidade do
Pernambuco (SBAV-PE) em 1997. Mesmo cer as mais diversas regiões produtoras vinho a boas recordações.
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
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GOSTOSO & SAUDÁVEL
*Sylvia Lobo é nutricionista da
Prodieta.
www.prodieta.com.br
(81) 3241-5961
SPAKids/MaíraPassos
ALIMENTAÇÃO INFANTIL
Quem tem criança em casa sabe o quanto é difícil convencer os pequenos a se alimentarem de forma saudável e deixar
um pouco de lado salgadinhos, biscoitos e refrigerantes. O bombardeio da indústria alimentícia, que invade os supermercados
associando sua marca a desenhos animados, além da influência
dos colegas estão entre os principais vilões.
Já um dos principais aliados é a influência dos pais. É
importante que o exemplo seja dado não só através do comportamento à mesa, como também pela oferta abrangente
de alimentos naturais e saudáveis dentro de casa. A ausência
do pai e da mãe, que muitas vezes passam o dia fora e não
acompanham a alimentação dos filhos, também pode pesar
na balança. É de extrema importância que os pais controlem
os tipos de alimentos oferecidos e os horários das refeições.
Mesmo quem tem filhos saudáveis deve dar duro e desde cedo impor uma alimentação nutritiva e com controle
de gorduras e calorias. Isso previne doenças futuras, como
obesidade, hipertensão e diabetes, levando-se em consideração que as crianças estão em fase de pleno desenvolvimento
e crescimento dos ossos, músculos e órgãos, e por isso precisam de mais nutrientes que os adultos. Nos primeiros 6
meses, a amamentação deve ser exclusiva, até os dois anos já
devem ser introduzidos alimentos saudáveis e variados para
a formação de hábitos corretos à mesa e assim por diante.
É importante ressaltar que não adianta forçar uma alimentação só com frutas e saladas. O cardápio tem que ser
diferenciado para o paladar que a meninada estava acostumada, equilibrando os nutrientes. Pratos criativos, coloridos e divertidos ajudam na aceitação das crianças ao alimento. Pipoca, picolé, bolo e balas são permitidos sim, mas
tudo com quantidade e hora certa, com menos gorduras e
mais fibras. Os pais que quiserem uma forcinha para ajudar a reeducar a alimentação dos filhos podem recorrer ao
SPA Kids, indicada para a garotada de 8 a 16 anos. Através
do programa, idealizado e oferecido pela clínica de nutrição Prodieta, é feito um atendimento e acompanhamento
nutricional para formar e incentivar hábitos alimentares
saudáveis nas crianças.
Para já começar a incentivar novos hábitos alimentares,
a coluna hoje traz uma receitinha de hambúrguer de brócolis. Confira!
HAMBÚRGUER DE BRÓCOLIS
1 maço médio de brócolis japonês cozido e picado (só as flores)
1 cebola pequena picada
1 clara
2 colheres de sopa de aveia em flocos finos
3 colheres de sopa de farinha de rosca
1/2 xícara (chá) de maionese light
1/2 colher (chá) de sal
7 fatias de queijo minas frescal light
Para untar e polvilhar: margarina light e farinha de rosca
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Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
Preaqueça o forno em temperatura média (180°C). Unte e polvilhe
uma assadeira média (33x23cm). Reserve. Em uma tigela média,
junte os brócolis, a cebola, a clara, a aveia, a farinha de rosca, a
maionese light e o sal. Misture. Enfarinhe as mãos com a farinha de
rosca, coloque porções da mistura e modele pequenos hambúrgueres. Coloque um ao lado do outro na assadeira reservada e
leve ao forno por 10 minutos. Vire os hambúrgueres e deixe por
mais 10 minutos ou até dourarem. Retire do forno, cubra cada um
com uma fatia do queijo minas frescal light, coloque sobre ela outro
hambúrguer e leve ao forno mais 5 minutos ou até derreter o queijo.
Sirva em seguida. Se preferir, coloque 1 fatia de tomate sobre a de
queijo, cubra com outro hambúrguer e leve ao forno.
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
15
INFECTOLOGIA
VIROSE, um
diagnóstico vago?
Saiba porque o médico usa essa terminologia e não informa com mais precisão
o tipo de doença que acomete o paciente que tem febre, dor no corpo e fadiga
Q
uem nunca saiu irritado de
um consultório médico após
receber um diagnóstico de
virose, que atire o primeiro
comprimido de anti-inflamatório. A
sensação é de que os médicos já não
sabem mais detectar com precisão
uma simples gripe. Mas a história não
é bem assim. Não é tão fácil quanto se
pensa descobrir com exatidão qual a
doença que acomete o paciente. Isso
porque vários tipos diferentes de viroses – como gripe, dengue, zika, resfriado, mononucleose, entre outras – apresentam sintomas semelhantes, como
febre, dor de cabeça, fadiga.
Mas, afinal, o que é virose? “É toda
16
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
infecção causada por vírus”, responde
o infectologista Filipe Prohaska, do
Hospital Português. Uma doença infecciosa também pode ser causada por
outros tipos de micróbios - ou como
dizem os especialistas micro-organismos - como como fungos e bactérias.
Mas, segundo Prohaska, cerca que
90% das pessoas atendidas nas emergências com infecção possuem sintomas clássicos provocados por vírus. As
viroses, porém, compõem uma gama
ampla de doenças, desde um resfriado,
passando pela dengue, zika, até hepatites e Aids. Boa parte daquelas que
acometem os pacientes, no entanto, é
benigna, os sintomas desaparecem em
menos de uma semana.
Além de apresentarem sintomas
semelhantes, as viroses são causadas
por micro-organismos que muitas vezes são difíceis de serem detectados
em exames. “Muitos vírus não alteram
tanto o teste laboratorial”, explica o
infectologista. Na Europa, de acordo
com Prohaska, já existem exames que
identificam de forma mais precisa 20
tipos diferentes de vírus. A má notícia,
porém, é que custam cerca de R$ 4 mil.
“O custo benefício não vale a pena.
Essa é uma vertente para o futuro”, estima o médico.
Para algumas viroses, como a dengue, já existem testes disponíveis no
Alexandre Albuquerque
DANYLO PALMEIRA
Hidratar-se é
fundamental para
evitar pressão baixa"
de diagnosticar a virose, oferecendo o
maior número de informações sobre
os sintomas. Por isso, é fundamental
a chamada anamnese, isto é o interrogatório que o especialista faz nas
consultas com o paciente procurando
detalhes para formar um diagnóstico.
“Se alguém, por exemplo, reporta que
está com tosse com secreção amarelada e febre, ao invés de um resfriado
ou gripe, podemos estar diante de uma
infecção bacteriana, sendo necessário
o uso de antibióticos”, deduz Palmeira.
Não se espante se o médico não
prescrever um medicamento quando
você estiver com virose, porque não
existem remédios que eliminem a grande quantidade de vírus que provocam
a infecções como gripes, resfriados,
dengue, rotavírus, entre muitos outros.
Mas não se preocupe: em alguns dias a
infecção desaparece. “Costumo dizer
que o curso da doença não vai mudar
com, sem ou apesar do remédio. O procedimento é usar medicamentos para
aliviar os sintomas”, orienta Prohaska.
Assim, prescreve-se um analgésico para dor, um antiemético para vômitos, antitérmicos para febre. Fique
longe, porém, dos anti-inflamatórios
se estiver com suspeita de dengue.
“Nesse caso, pode provocar hemorragias”, alerta Danylo Palmeira. Nem
pense também em tomar antibióticos.
Eles só combatem bactérias.
ÁGUA
É importante tomar muita água pois o
corpo se desidrata quando sofre uma
infecção. Isso acontece porque nos vasos sanguíneos não há apenas sangue,
mas água também. A febre provoca
uma dilatação nos vasos expulsando
essa água para outras partes do corpo.
“Hidratar-se é fundamental para evitar queda da pressão arterial”, explica
Palmeira, alertando que a hipotensão
pode levar ao choque, um estado potencialmente letal para o organismo.
Crianças e idosos devem ter atenção especial quando são acometidos por
infecção, porque não costumam tomar
muita água. Cuidado redobrado também com pessoas com baixa resistência,
como indivíduos em tratamento oncológico, com Aids ou grávidas devido à fragilidade do seu sistema de defesa.
Também é muito importante estar
atento aos sinais de alerta que podem
Divulgação
País. É a sorologia, obtida por meio do
hemograma. Por isso, quando você vai
à emergência com sintomas de infecção o médico, muitas vezes, solicita um
exame de sangue. Nele são identificados os anticorpos presentes no seu organismo, que são uma espécie de exército de defesa do nosso corpo capaz de
combater os micro-organismos. Para
cada tipo de vírus, existem anticorpos
específicos para combatê-los.
A dengue, por exemplo, é diagnosticada pela presença de anticorpos chamados IgM e IgG. Mais recentemente a
virose também é detectada pela presença de um antígeno – substância que produz anticorpos – chamado NS1. Mesmo
nesse caso, porém, o diagnóstico não
é tão simples de ser feito. Se o resultado der negativo para a presença dessas
substâncias não significa que a pessoa
não esteja com a doença.
“Os anticorpos, muitas vezes, demoram a aparecer nos testes e só por volta
do sétimo dia a contar do início da doença, é que vão ser detectáveis”, esclarece
Danylo Palmeira infectologista dos Hospitais Jayme da Fonte e Português. Resultado: a pessoa tem o vírus mas o exame
não é capaz de identificá-lo.
Apesar dessas dificuldades, você
pode ajudar o médico nessa difícil arte
FILIPE PROHASKA
Muitas vezes, o vírus
não é detectável num
exame laboratorial"
indicar um quadro mais grave. Caso a
pessoa com virose sinta dor abdominal
intensa, alteração de comportamento
(ficar desorientada ou até agressiva),
alterar o nível de consciência e ficar
muito sonolenta, apresentar queda de
pressão, desidratação, falta de ar, desmaios, começar a suar frio ou vomitar
com muita frequência deve ser levada
imediatamente para a emergência.
Mas na maioria das vezes as infecções virais que nos acometem não
provocam grandes consequências e
desaparecem depois de alguns dias.
Durante a recuperação a dica fundamental é manter o repouso.
E, agora, que você já sabe o quanto
é difícil detectar um vírus, não precisa
mais ficar irritado quando receber o
diagnóstico de virose. Descanse, tome
bastante água e tenha paciência que
logo, logo o vírus vai embora.
Colaboração:
Danylo Palmeira - Infectologista
Fone: (81) 3416- 0000
Filipe Prohaska - Infectologista
Fone: (81) 3416-1090
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
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BEM-ESTAR
alerta | Pesquisas revelam que familiar pode sofrer de ansiedade, desenvolver depressão ou até ter um infarto
CUIDADOR também
precisa de cuidados
Familiares responsáveis por assistir parente com Alzheimer enfrentam
situações tão estressantes a ponto de comprometerem a sua saúde
P
rofissionais que atendem pessoas com Alzheimer começam
a voltar suas atenções também
para o familiar que cuida desses pacientes. A experiência nos consultórios, corroborada por pesquisas
cientificas, mostram que os cuidadores familiares vivenciam um nível de
estresse tão elevado a ponto de, em
muitos casos, afetar a sua saúde.
Foi o que constatou o estudo realizado pelo geriatra Alexandre de Mattos na Universidade de Pernambuco
(UPE). De acordo com resultados da
18
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
pesquisa, o cuidador familiar de uma
pessoa com Alzheimer tem três vezes
mais chances de desenvolver depressão e quatro vezes mais de ficar com
ansiedade em comparação com cuidadores de idosos que não têm a doença.
“Existem estudos que mostram adoecimento não só psíquico como também
aumento de infarto e AVC”, acrescenta
Mattos, que é professor da UPE e geriatra do Instituto de Medicina do Idoso.
Esse desgaste acontece independentemente de haver ou não um cuidador
profissional e da condição financeira
da família. “Um profissional não passa
pelo mesmo estresse do familiar, que
está envolto com uma relação subjetiva
e afetiva com o paciente”, ressalta o médico e psicoterapeuta Dival Cantarelli.
O primeiro estresse é o próprio impacto do diagnóstico, já que a doença
paulatinamente vai afetando a memória e a capacidade de realizar tarefas banais do cotidiano, como tomar banho. É
como se a pessoa, aos poucos, deixasse
de ser ela mesma e, como explica Cantarelli, não mais representasse o mesmo papel na trama familiar a que todos
Alexandre Albuquerque
DIVAL CANTARELLI
Eles muitas vezes
abrem mão dos projetos
profissionais, da
interação social e da
realização amorosa"
os parentes estavam acostumados.
Foi o que aconteceu com a funcionária pública, Maria Joene Pires, cuja
mãe, Quitéria Carolina, hoje com 92
anos, tinha uma participação forte e
ativa na família. “Lá em casa era um
matriarcado”, resume Joene. Foi muito
doloroso para ela e seus irmãos perce-
berem que a “matriarca” sempre muito
“condutora” e presente na vida da casa
e dos filhos estava com Alzheimer. “É
como se ela começasse a desaparecer.
Uma morte em vida”, lamenta. “No
início, a gente demora a perceber os
sintomas, o que, na verdade, é uma espécie de negação. Depois as coisas vão
se esclarecendo, como num processo
de decantação”, compara.
Um dos sintomas que causa mais
estresse emocional é quando a pessoa perde a memória a tal ponto que
não reconhece os próprios parentes.
“É uma situação delicada, o familiar
poderá sentir como se não houvesse
afeto”, analisa Cantarelli. Sofrimento vivenciado por Sheila de Almeida
Leite, cuja mãe, já falecida, estava com
Alzheimer. “Certa vez, ela ficou meio
ausente e, de repente, não me reconhecia, ficou estranha, e eu fiquei louca, só
chorava. Mas, graças a Deus, no caso
dela esse esquecimento durou pouco
tempo”, recorda-se.
Além das questões emocionais, há
ainda as demandas de cuidar de uma
pessoa que não consegue mais realizar
ações simples, como trocar de roupa.
Mas os sintomas que dão mais impacto, de acordo com Mattos, são os comportamentais. Muitos passam a noite
acordados, pode haver agressividade e
agitação. Também é comum pacientes
perambularem pela rua, sem que os familiares saibam, e se perderem.
“Quanto mais intensos e frequen-
tes os sintomas, maior o impacto na
saúde do cuidador”, adverte o geriatra. A doença é progressiva, apresenta
muitas fases de mudanças de comportamento e o paciente vai piorando gradativamente. “Cada vez que ele muda é
pior para o familiar que está cuidando
dele”, salienta a geriatra Carla Núbia
Nunes Borges.
SOLITÁRIO
Na maioria dos casos, alguém da família se coloca na função do cuidador,
em geral filho ou cônjuge, e carrega
sozinho toda a sobrecarga de cuidar
do doente. Esse isolamento não acontece, muitas vezes, por simples acomodação dos demais parentes. Alguns
enfrentam uma limitação emocional
diante da nova realidade. Uma mulher, por exemplo, que durante toda
a vida conjugal sentia-se frágil e foi
sempre cuidada pelo marido, pode ter
dificuldades em perceber que seu forte
protetor se encontra numa situação de
vulnerabilidade.
Sheila, por exemplo, lembra que
cuidou sozinha de sua mãe durante
o perído de um ano e meio que ficou
hospitalizada. “Não contei com ninguém, apenas com cuidadoras a quem
eu pagava. Meu irmão não conseguia
ir ao hospital, pois não aguentava vê-la
internada”.
O familiar que se dispõe a ser o
cuidador tenta abarcar o atendimento de todas as demandas do parente
Dicas para aliviar o estresse
Cuide de si mesmo, você não conseguirá cuidar bem do seu familiar, se
você estiver doente ou esgotado.
Confira os serviços de apoio em sua comunidade. Grupos como a Abraz
mantêm uma rede para dar assistência e orientação a cuidadores.
Informe-se sobre o Alzheimer, é importante conhecer as fases da
doença e se preparar.
Peça ajuda quando necessário e, mais importante, aceite ajuda.
Cuide de sua própria saúde, fazendo consultas regulares com médicos, tendo
boa alimentação e praticando exercícios, que ajudam a diminuir o estresse.
Dê valor ao seu cuidado. Faça uma lista de todas as coisas que você já
fez e vem fazendo pelo seu familiar com Alzheimer e consulte-a sempre.
Consulte um psicoterapeuta e obtenha ajuda, caso seu nível de estresse
esteja alto ou se esteja se sentindo deprimido.
Se você é uma pessoa religiosa procure se aconselhar também com o
seu líder espiritual.
Reserve um tempo na semana para lazer, como ir ao cinema, a um
show, jantar com amigos. E não esqueça de tirar férias. Isso é fundamental
para recarregar as energias.
Se estiver havendo conflitos entre os demais familiares – o que é muito
comum – considere a consultoria de um terapeuta de família que ajudará
na mediação.
Faça as pazes com o Alzheimer. É muito importante admitir e verdadeiramente aceitar doença. Aprenda a amar a pessoa exatamente como ela é agora.
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
19
Divulgação
É POSSÍVEL PARTILHAR
Mesmo diante dessa situação problemática, é possível aliviar a sobrecarga
do cuidador familiar. O primeiro passo
é partilhar o cuidado com outros parentes e tirar um tempo para si próprio e
para o lazer. O que nem sempre é fácil.
Muitas vezes o cuidador não se permite ter direito a uma folga. “Existem
aqueles que acham que só ele entende
o doente e só ele sabe cuidar. Mas é salutar que tenham momentos de lazer,
descanso | Carla: "É salutar que o
familiar tenha tempo para o lazer"
20
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
Divulgação
com Alzheimer. Passa a entrar numa
situação de estresse, comprometendo
a qualidade de vida, o tempo e até a
carreira profissional. Cantarelli ressalta que o Alzheimer tem surgido numa
faixa etária cada vez mais precoce e,
como muitas mulheres passaram a
ter filhos numa idade mais avançada,
existem muitos jovens cuidando de
pais com essa doença.
“Eles, em muitos casos, estão tão
imbuídos de salvar seu familiar, que
abrem mão dos projetos profissionais,
da interação social e da realização amorosa. Às vezes se separam até dos filhos
para priorizar aquela ajuda”, relata o
psicanalista. “Entram num processo de
estresse e podem até ser agressivos com
o paciente, sem ter a menor intenção
disso”, acrescenta. Não por acaso, muitos acabam doentes, comprometendo
sua disposição de cuidar do familiar.
ALEXANDRE DE MATTOS
São necessárias
polí�icas públicas para
que se comece a assis�ir
também o cuidador, não
só o paciente"
para descansar, renovar as energias e
todos os familiares têm que participar”,
recomenda Carla Núbia, que também é
presidente da Associação Brasileira de
Alzheimer (ABRAZ-PE), entidade sem
fins lucrativos, formada por profissionais de saúde e familiares de portadores da doença.
O objetivo da Abraz é divulgar informações sobre a doença. E, nesse sentido tem ajudado muito os familiares,
alertando-os para a importância de partilhar o cuidado com o doente. “Orientamos os familiares sobre o que muda
com a doença, como proceder, como
reagir, quando interditar. Levamos informações científicas que ajudam no
cuidado. Enfatizamos a união da família e a necessidade de o cuidador ter
momentos de lazer para se distrair e
deixar o dia a dia mais leve. Nosso lema
é: você não está sozinho, a Abraz PE está
com você”, informa a médica.
Fazer psicoterapia é outra medida
que pode ajudar o cuidador e os demais familiares. “O ideal seria ainda
por ocasião do diagnóstico os familiares procurassem um psicoterapeuta”,
orienta Dival Cantarelli. Joene sabe o
quanto as sessões de terapia podem
ajudar. Ela já se consultava com um
psicoterapeuta quando soube que a
mãe era portadora de Alzheimer. Caçula de uma família de cinco filhos
(quatro mulheres e um homem) Joene
é a típica cuidadora familiar embora
não more mais com a mãe. “Entrei em
pânico de resolver milhares de coisas
ao mesmo tempo. Fiquei estressada,
mas a terapia me ajudou muito”, conta, aliviada.
Ela descobriu que precisa ter momentos de descanso para poder enfrentar essa realidade. Por isso, junto
com a família está providenciando um
cuidador profissional para passar as
noites com a mãe. “Do contrário, não
terei tempo para mim. Se ficarmos irritados, cansados, impacientes não vamos poder colaborar”, constata.
Fundamental para Joene foi também escolher um especialista para sua
mãe que levasse em conta as necessidades da família. “No início ficamos com
um médico que era mais frio, um mero
passador de remédio. Depois mudamos
para a Dra. Carla Núbia, e fiquei encantada. Percebi que na relação com o médico faltava mais informação, conversa
com familiares, aconchego”, compara.
Essa visão de tratamento que inclui
a família também é defendida por Alexandre de Mattos. Ele sugere a adoção
de políticas públicas para que o governo comece a olhar para o cuidador familiar e não só para o doente, de forma
que haja um grupo multidisciplinar
que atenda também os parentes. “Assim, a partir do diagnóstico, poderia-se
oferecer ao familiar que estivesse com
depressão ou ansiedade, a oportunidade de ser encaminhado para ambulatórios específicos para tratar desses
sintomas”, propõe o geriatra. Fica dada
então a dica: em casos de Alzheimer, o
cuidador familiar também tem que ser
cuidado. (C.S.)
Colaboração:
Alexandre de Mattos - Geriatra
Fone: (81) 3037-8686
Carla Núbia Borges - Geriatra
Fone: (81) 3097-3087
Dival Cantarell - Médico e psicoterapeuta
Fone: (81) 3442-0576
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
21
FALA, DOUTOR
Conheça mais
sobre o diabetes
Endocrinologista aponta a últimas novidades no tratamento da doença e
ressalta a importância de hábitos saudáveis para realizar a prevenção
Luiz Griz*
D
iabetes mellitus é uma desordem metabólica caracterizada pelo aumento da glicose
no sangue (hiperglicemia).
Os principais tipos são, os diabetes
tipo 1 (que corresponde a 10% do total
de casos da doença), resultante da destruição das células beta do pâncreas
por um processo autoimune, o qual
ocorre mais frequentemente em crianças, adolescentes e adultos jovens, e o
diabetes tipo 2 (90% dos casos), caracterizado por um defeito na secreção
de insulina ou da ação da insulina,
acometendo em geral, pessoas de mais
de 50 anos de idade, associado à obesidade e história familiar de diabetes.
Para critério diagnóstico, a glicemia de
jejum normal é até 99 mg/dl, entre 100
e 125 é chamado de intolerância à glicose e diabetes quando a glicemia for
igual ou acima de 126 mg/dl. Outros
critérios diagnósticos: hemoglobina
glicada igual ou acima de 6.5% ou uma
glicemia após 75 gramas de glicose anidra igual ou acima de 200 mg/dl.
Segundo, dados da Organização
Mundial da Saúde, estima-se que em
2030 existam 366 milhões de diabéticos no mundo. A doença tem um grande impacto do ponto de vista de saúde
22
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
Medicamento | Insulina é
utilizada no tratamento do
diabetes tipo 1
pública devido à elevada morbidade e
dos elevados custos. Diabetes é a causa
mais frequente de amputação de membros inferiores depois de trauma, de
insuficiência renal em pacientes que
estão em regime de hemodiálise, perda
da visão antes dos 70 anos e do aumento do risco de eventos cardiovasculares
(infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral). O diabetes tipo 2 é uma
doença silenciosa e em muitas vezes o
paciente já procura o médico com uma
complicação crônica.
Daí a importância de anualmente
avaliar aqueles sujeitos de risco aumentado para desenvolver a doen-
Exercício | Atividade física é uma
das maneiras de reduzir o índice de
açúcar no sangue
ça. Os pacientes de maior risco para
diabetes tipo 2 seriam aqueles acima
de 40 anos, com dislipidemia (níveis
elevados de gordura no sangue), história familiar de diabetes, sedentários, hipertensos, intolerante à glicose
e obesos. Nas mulheres, história de
recém-nascido macrossômico (excesso
de peso) e síndrome de ovários policísticos seriam outros fatores de risco.
Quanto ao tratamento, o diabetes
tipo 1 é tratado desde o início com múltiplas doses de injeções de insulina. Uma
insulina basal e outra de ação rápida
antes das refeições. Enquanto o diabetes
melitus tipo 2 é tratado usualmente no
início com hopoglicemiantes orais.
Vem ocorrendo um grande avanço
em relação aos hipoglicemiantes orais,
tais como as incretinas e os inibidores
dos transportadores sódio-glicose 2
(SGLT2). As incretinas são hormônios
liberados no intestino que estimulam a
secreção de insulina por ocasião da ingestão de carboidratos. Nestes grupos
nós temos o agonista do receptor do
GLP1 (Glucagon-like peptide 1) e os inibidores da DPP 4. A vantagem do agonista do GLP em relação aos inibidores
do DPP 4 é que além reduzir a glicemia,
está associado a uma redução do peso
na maioria dos pacientes. Os agonistas do GLP1 disponível no Brasil são: o
Victosa (liraglutida) e o Lyxumia (lixisenatida), usados (forma injetável) via
subcutânea ao dia ou o semanal denominado de bydureon (exenatida), disponível nos Estados Unidos, mas que
pode ser importado.
Os inibidores dos transportadores
sódio-glicose 2 ( SGLT2) são compostos
que atuam inibindo a reabsorção da
glicose nos rins, aumentando sua excreção na urina e consequentemente
reduzindo a glicemia. No Brasil, já dispomos de: o forxiga (dapagliflozina),
jardiance (empagliflozina) e o invokana (canagliflozina). Esses medicamentos também apresentam um efeito na
redução do peso corpóreo e da pressão
arterial.
Atualmente, os hipoglicemiantes
orais (metformina, incretinas e os inibidores da SGLT2) são considerados
como o padrão ouro no tratamento
do diabetes mellitus tipo 2. No início
do tratamento, devemos enfatizar a
mudança de estilo de vida (redução do
Segundo, dados da
Organização Mundial
da Saúde, estima-se
que em 2030 existam 366 milhões de
diabéticos no mundo
peso e exercício) e iniciar o tratamento
com a metformina, a menos que haja
uma contra-indicação. Caso esta não
consiga um controle glicêmico adequado, deve-se associar uma segunda
droga e posteriormente uma terceira
se necessário (incretinas ou os inibidores da SGLT2).
A insulinoterapia também deve ser
considerada nos pacientes portadores
de diabetes tipo 2 quando não se alcançar as metas do tratamento através dos
hipoglicemiantes orais ou naqueles pacientes sintomáticos (perda de peso, dé-
bito urinário aumentado e muita sede)
com glicemia muito elevada. O controle glicêmico deve ser uma meta desde
o início no tratamento do diabetes
para reduzir suas complicações e desse
modo, permitir que os pacientes possam ter uma expectativa de vida igual
à população não diabética e com boa
qualidade de vida. O alvo para atingir
o bom controle glicêmico é através dos
níveis de hemoglobina glicada e deve
ser individualizado para cada paciente.
Níveis de hemoglobina glicada menor
que 7% estão associadas à redução das
complicações crônicas do diabetes. Naqueles sujeitos com idade não muito
avançada, pouco tempo de diabetes e
sem complicações cardiovasculares,
o objetivo poderia ser níveis de hemoglobina glicada menor que 6.5%. Entretanto, naqueles com complicações
crônicas avançadas, ou que tenham
episódios de hipoglicemias severos e
expectativa de vida limitada, níveis de
hemoglobina glicada menor que 8%,
podem ser apropriadas.
*Luiz Griz é MD, PhD, FACE, professor-adjunto doutor da disciplina de Endocrinologia da FCMP/UPE, médico preceptor da
Residência Médica da Unidade de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Agamenon
Magalhães e Fellow of the American College of Endocrinology.
Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
23
* Jayme Panerai Alves é
psicoterapeuta do Libertas
OLHAR INTERIOR
Caminho! Caminhe!
Caminhemos!
D
esde que a espécie humana
surgiu no planeta, caminhamos. As pernas foram
sempre nosso meio de locomoção. Pés e pernas fizeram os deslocamentos de nossos ancestrais. E, através da terra, eles, nômades, buscavam
os lugares seguros, onde os alimentos
tinham melhor colheita de acordo com
a época do ano, etc.
Séculos e milênios se passaram com
as pernas conduzindo o ser humano
pelo e através do planeta. Hoje, estamos
perdendo esta maravilha que a natureza nos proporcionou por absoluta
acomodação e preguiça, aliadas a desculpas como segurança ou tempo livre.
Sedentários, os homens não querem sair da frente da TV ou dos bancos
macios dos carros parados e estacionados em engarrafamentos, os quais
imobilizam máquinas que possuem
motores para andar a mais de 200
km/h e andam a 10, 15, 20 km/h. Um
desperdício de motor e de pernas.
Uma paralisação geral torna-se cotidiana. Afastados da natureza, enganamos a nós mesmos, acreditando que a
vida não pode parar e que temos que estar constantemente correndo ou engarrafados. Ilusão. Perdemos, assim, a saúde das pernas e dos pés e fortalecemos o
racional, o cognitivo e o intelectual.
Sabemos em nossa cabeça tudo ou
muito. E, nossos pés e pernas, muitas
vezes, não visitam a esquina próxima.
Em outras palavras, não têm oportunidade de praticar sua vida. E, desenvolvemos algumas vezes, pernas mecânicas, burocráticas e sem vida. Calos,
micoses mostram que a saúde dos pés
deve ser cuidada. Com massagens, escalda pés, talcos desodorantes, palmilhas. Toda sorte de auxílios que permi-
24
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
" O andar sobre a terra
permite que sintamos
a estreita e rica relação de nosso pés com o
planeta. Somos filhos
da Mãe Terra"
tam que possamos seguir e ir adiante.
Caminhar pode dissolver nossas
irritações, mágoas, feridas, pode esvaziar nossa cabeça e mente, geralmente
tão exigidas. Pode permitir que a criatividade brote e surja, justamente da cabeça vazia, pela energia vital que desce
para os pés, cedendo lugar para novas
ideias. Caminhar amplia a respiração e
beneficia a circulação sanguínea.
Caminhar, segundo a medicina chinesa, que diz que temos nas plantas dos
pés pontos que correspondem aos órgãos principais do corpo humano, permite o massagear destes pontos e, consequentemente, ativa e vitaliza estes
órgãos. Caminhar pacifica o organismo
e o interior. E, se estamos em paz, um
lugar no planeta estará em paz.
Também o andar sobre a terra permite que sintamos a estreita e rica relação de nossos pés com o planeta. Somos filhos da Mãe Terra. Dela viemos.
Mas, a rejeitamos à medida que nos
afastamos do contato com ela. E mais,
ensinamos nossos filhos a somente
andar calçados e a não pisar na terra,
com medos e receios de adoecerem.
Rejeitamos o lugar de onde viemos.
A prática do caminhar nos traz para
o único e verdadeiro lugar da vida e
do mundo que é o aqui e agora. Desfrutamos os cheiros, o azul do céu, as
plantas e suas cores, e permanecemos
ligados na respiração.
Se quisermos, podemos inspirar
calma e expirar paz para todas as pessoas. Caminhar junto com outra pessoa, ao longo da vida, faz bem e apoia.
Andar com amigos, com a família, com
colegas de trabalho.
Existem algumas iniciativas que
se organizam ao caminhar em grupo.
Existe uma, do Libertas com a psicóloga Fátima Lucas que, todo último
domingo de cada mês, sai da frente do
parque da Jaqueira às 6 hs da manhã
e anda perto de 8 km por pontes, museus, igrejas e mercados.
Outras iniciativas já se reúnem com
este objetivo. Andar e redescobrir a cidade, o corpo, as pernas, os pés e a saúde.
Nossas pernas são duas colunas visíveis
que sustentam uma invisível que é a
coluna vertebral. Necessitamos desta
trindade, tanto como da respiração, do
coração e do cérebro. Ou ainda, dos rins,
do fígado e do pâncreas ou do baço.
Enfim, caminhar na vida pode devolver em nós a alegria ancestral de mover-nos na direção de nossa construção.
INFORMAÇÕES
LIBERTAS
Rua Rodrigues Sete, 158 - Casa Amarela.
Contato: (81) 3441-7462 | 3268-3311 | 3268-3596 | 9721-2021
www.libertas.com.br
facebook.com/libertas
twitter.com/libertas_brasil
Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015
25
*Sylvia Lemos Hinrichsen
é médica infectologista e
professora universitária.
O QUE HÁ DE NOVO...
Nanotecnologia:
O que podemos esperar?
J
á há algum tempo que se vive num
mundo de tecnologias, e, a cada dia
mais surpresas surgem nesse universo antes encantado e distante,
mas hoje tão real. Nos últimos anos
é crescente a introdução de um
novo elemento nessa viagem tecnológica, rápida e não perceptível ao olho nu,
que se chama de nanotecnologia. Um
novo produto que começa a estar presente em muitos componentes eletrônicos, desde computadores até aparelhos
da medicina e outros tantos itens que
possuem um alto padrão tecnológico.
E o que vem a ser a nanotecnologia? Na verdade, um nanômetro (matéria próxima à escala de um átomo para
produzir novas estruturas) é uma medida como outra qualquer, assim como
o centímetro, o metro e o quilômetro.
Mas, explicar com palavras o que é um
nanômetro parece ser simples, quando
se diz que ele equivale a um bilionésimo de metro, mas isso não explica
realmente o que ele é e a sua importância na vida de cada um de nós.
Imaginar um nanômetro seria, de
uma forma simplística, o mesmo que
comparar uma bola de futebol com a
lua (moléculas 90 mil vezes menores
do que a espessura de um fio de cabelo). Incrível, não é?
O termo nanotecnologia foi criado
e definido pela Universidade Científica
de Tóquio, no ano de 1974, embora já
fosse falado em 1959 pelo físico Richard
Faynman. Entre 1980 e 1990 muitas outras teorias foram elaboradas em cima
da definição básica criada por um professor da Universidade de Tóquio e, no
ano de 2000, começou a serem desenvolvidas em laboratórios de pesquisas
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Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015
sendo até hoje o centro das atenções em
várias áreas da ciência.
Atualmente, a nanotecnologia vem
sendo aplicada em vários produtos,
como processadores de computadores,
placas de vídeos, games, sendo também muito utilizada na medicina, na
química quântica, indústrias aeroespaciais, refinarias e na produção de
artigos como raquete e bolas de tênis,
filtros de proteção solar, screening
contra raios ultra violeta, nano-colas,
cabeamento de vidros com antierosão,
polímeros antirriscos, assim com tecidos que não amassam e não mancham
por não permitirem que substâncias,
líquidos e ou secreções contendo microrganismos entrem em suas tramas.
Na medicina, várias são as pesquisas que vêm sendo usada na criação
de aparelhos para diagnosticar determinadas doenças, as quais não podem
ser detectadas apenas com base em
sintomas e exames comuns. Assim, nanômetros vêm sendo usados na área
de ortopedia (implantes ortopédicos) e
de cardiologia (cateteres, válvulas cardíacas, marca-passo). Há estudos com
o uso de nanopartículas de ferro, como
uma alternativa para ajudar no diagnóstico do mal de Parkson.
A nanotecnologia também está
presente no desenvolvimento de cosméticos, medicamentos tópicos para
herpes, bactérias e fungos, assim como
em aparelhos de filtração de ar instalados em ambientes fechados que
têm seus filtros dimensionados contra
poluentes da atmosfera, evitando a reprodução de bactérias nocivas à saúde.
Os filtros revestidos com nanopartículas de prata vêm apresentando eficácia
Inovação | Nanopartículas levam medicamento até células cancerígenas
sem afetar tecidos saudáveis
antibacteriana utilizando dois tipos de
bactérias: Escherichia coli e Staphylococcus epidermidis.
Há também estudos com a nanotecnologia na terapêutica do câncer
bucal, de próstata, útero, pele e bexiga,
em que medicamentos são injetados
localmente, aguardando-se um determinado tempo para a aplicação de luz
com o auxílio da fibra ótica.
Mas, como tudo na vida, benefícios
também têm potenciais riscos e, com
a nanotecnologia não é diferente. Já
se começa a observar problemas relacionados à nanopoluição gerada pelos
nanomateriais ou durante a confecção destes, que por sua capacidade de
flutuação no ar percorrem grandes
distâncias. Devido ao seu pequeno tamanho, essas minúsculas partículas
podem entrar nas células dos seres humanos, animais e plantas, com danos e
efeitos adversos ainda desconhecidos.
Portanto, teremos que aguardar...
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