Ano 1 | nº 05 | Ago/Set/Out R$ 9,50 Cura que vem da natureza Pesquisas comprovam o que nossas avós já sabiam: plantas medicinais são eficazes para tratar doenças Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 1 2 Algomais Saúde • AGO//SET//OUT/2015 Algomais Saúde • AGO//SET//OUT/2015 3 EDIÇÃO 5 SUMÁRIO Capa. Você pode cultivar uma verdadeira farmácia no seu jardim. Página 06 Gordura no fígado. Saiba como ela pode prejudicar sua saúde Página 11 É virose. Veja porque os médicos dão esse diagnóstico. Página 16 Cuidar do cuidador. Familiar que assiste parente com Alzheimer também requer atenção. Página 18 Diabetes. Conheça as novidades no tratamento. Página 22 Expediente Uma publicação da SMF- TGI EDITORA Av. Domingos Ferreira, 890, sala 805 Boa Viagem | 51110-050 | Recife/PE - Fone: (81) 3126.8181 DIRETORIA EXECUTIVA Sérgio Moury Fernandes Ricardo de Almeida Luciano Moura Francisco Cunha REDAÇÃO Fone: (81) 3327.3944/4348 Fax: (81) 3126.8154 [email protected] EDITORA-GERAL Cláudia Santos REPORTAGENS Camila Moura EDITORIA DE ARTE Rivaldo Neto Caroline Rocha Humberto Araújo ASSINATURA [email protected] Fone: (81) 3126.8161 PUBLICIDADE Engenho de Mídia Comunicação Ltda. Fone/Fax: (81) 3126.8181 [email protected] EDITORIAL Nesta terra tudo dá, até remédio Quando a sabedoria popular faz uma parceria com o conhecimento acadêmico, o resultado pode ser muito proveitoso para todos. É o que observamos nas crescentes pesquisas científicas que comprovam a eficácia de plantas medicinais. São estudos que partem do saber de comunidades rurais, indígenas ou mesmo urbanas. Na reportagem de capa desta edição, o leitor vai conhecer o verdadeiro arsenal terapêutico que pode ser cultivado nos jardins. Também verá algumas iniciativas que incentivam a população a usar a fitoterapia. As pessoas passam a tratar doenças simples como uma gripe a um custo menor e ganham uma autonomia para cuidar de si próprias. E tem mais: como salientou Tiago Ribeiro, coordenador de políticas integrativas da Secretaria Municipal de Saúde, há todo um resgate afetivo quando usamos as plantas medicinais. Afinal, ele lembra, ninguém se recorda com carinho do anti-inflamatório que tomou para tratar uma doença, mas certamente não esquece daquela xícara quentinha de chá que nossa mãe nos deu quando estávamos doentes. A boa notícia é que em breve vamos ter fitoterápicos gratuitos a partir de uma iniciativa da Secretaria de Saúde. Veja detalhes na matéria de capa. E se você já foi alguma vez diagnosticado com virose não pode deixar de ler a matéria da página 16. O termo é muito usado por médicos para indicar um quadro infeccioso e tem causado muita irritação nos pacientes, que o consideram um diagnóstico impreciso. Mas os médicos explicam na reportagem porque eles recorrem à terminologia. A seção Bem-Estar traz a notícia de que os especialistas em Alzheimer começam a voltar suas atenções também para o familiar que cuida dos pacientes com a doença. É um parente que enfrenta um alto nível de estresse a ponto de adoecer. A matéria traz dicas de como aliviar a sobrecarga dessa situação. Também trazemos duas novidades nesta edição. Uma delas é a seção Pensando Bem Saúde que terá sempre um artigo de um especialista renomado. Neste número, o hepatologista Fábio Marinho aborda a gordura no fígado. Numa outra seção, Fala, Doutor, outro médico de competência reconhecida informará novidades no tratamento de doenças. O endocrinologista Luiz Griz, comenta nesta edição, as inovações na terapia contra o diabetes. Boa leitura! Cláudia Santos - Editora Geral [email protected] Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista. 4 Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 5 Fotos: Alexandre Albuquerque CAPA Uma farmácia no seu JARDIM Tradição que vem dos nossos antepassados, uso de plantas medicinais tem eficácia comprovada por pesquisas científicas no tratamento de diversas doenças Cláudia Santos S e você pensa que aquele chá que sua avó lhe oferecia quando estava doente não traz benefícios para a saúde, é bom mudar de ideia. Existem comprovações científicas dos efeitos positivos das plantas medicinais e dos remédios produzidos a partir delas, os fitoterápicos. A tradição de nossos ancestrais de transformar a flora numa verdadeira farmácia ganhou status de ciência. E não é só isso. Também virou política pública. O Ministério da Saúde (MS) vem incentivando a fitoterapia País afora a partir do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). E aqui, na Veneza Brasileira, a Secretaria de Saúde do Recife vai inaugurar no ano que vem um projeto de Farmácia Viva no Jardim Botânico para distribuir plantas medicinais e fitoterápicos 6 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 aos pacientes da rede municipal. Pernambuco já teve um laboratório semelhante. Foi o primeiro do Brasil pertencente ao serviço público. Isso aconteceu lá pelos idos de 1983, em Olinda, tendo à frente a médica Evani Araújo, que hoje é professora do Curso de Farmácia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Uma série de fatores, porém, levou à suspensão Ministério da Saúde vem incentivando o uso de fitoterápicos Brasil afora na rede de atenção básica da iniciativa, que, no entanto, deixou sementes. A ponto de hoje já termos certa expertise para fazer um novo laboratório. “Quando comecei, nos anos 80, a fitoterapia era mal vista pelos colegas”, recorda-se Evani. “Mas a concepção foi evoluindo até que em 2006 veio a resolução do Ministério da Saúde oficializando o uso no SUS da fitoterapia. Em seguida foi divulgada a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus)”, relata a médica. Nessa relação constam 71 plantas muito pesquisadas e que já têm segurança de uso. A intenção do MS é expandir a utilização delas tanto in natura quanto na forma de fitoterápicos. Segundo dados de 2012 do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica do MS, 970 municípios disponibilizam fitoterápicos em ao ELBA AMORIM Plantas medicinais têm ação benéfica, mas não são desprovidas de efeitos colaterais" menos um estabelecimento de saúde da atenção básica e 80 ofertam esses remédios no modelo de Farmácia Viva. A fitoterapia também ganhou as farmácias comerciais. Basta dar uma olhada nas prateleiras das drogarias para perceber a quantidade e variedade desses medicamentos que são vendidos. Os que desejam saber como cultivar e usar essas plantas têm a oportunidade de participar de cursos gratuitos ofertados pelo Núcleo de Apoio às Práticas Integrativas (Napi), ligado à Secretaria de Saúde do Recife. O aluno aprende a fazer a formulação caseira mais adequada, seja um chá, um lambedor, ou até um xampu, a partir de vegetais muito comuns em jardins e quintais, como quebra-pedra, babosa e Melão-de-São-Caetano. Gente de todas as classes sociais frequentam as aulas, desde donas de casa, até profissionais da área de saúde que estão fazendo mestrado ou doutorado. Evani é uma das professoras e assegura que a melhor alternativa para adquirir uma planta medicinal é fazer seu próprio cultivo. “Deve-se saber onde buscar a planta, nem sempre os mercados públicos são a opção mais vantajosa. O melhor é cultivar em casa, mesmo sendo num apartamento. Pode-se plantar até numa garrafa PET”, incentiva a médica. Usar plantas medicinais requer um certo cuidado. Qualquer interferência externa pode modificar sua eficácia, como a poluição. “E se não forem utilizadas logo depois da coleta, devem ser secadas”, orienta Elba Lúcia Amorim, professora associada e vice-chefe do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPE. Elba, que também é conselheira do Conselho Regional de Farmácia, alerta, ainda, para a falsa ideia de que as plantas medicinais não provocam efeitos adversos. Portanto, esqueça aquele pensamento de que tudo que é natural se não fizer bem, mal não faz. “Elas apresentam ações benéficas, mas não desprovidas de efeitos colaterais”, adverte a farmacêutica. Quer ver um exemplo? O boldo é uma planta cuja eficácia contra a indigestão é conhecida por muita gente e teve seus efeitos benéficos comprovados por pesquisas. Mas, em grande quantidade pode provocar câncer hepático. Vale também um alerta especial para gestantes e bebês. Como ainda não existem estudos científicos que comprovem que plantas medicinais não são tóxicas para eles, grávidas e crianças muito pequenas não devem fazer uso delas. Por todas essas razões, antes de recorrer à fitoterapia, o ideal é obter informações seguras de como se beneficiar de uma horta medicinal. Uma das maneiras, por exemplo, é participar dos cursos, como o do Napi. Maria Alci Medeiros é uma das alunas que usufruiu dos conhecimentos das aulas. Ao sofrer Erva-lanceta (Solidago chilense) Conhecida como arnica brasileira, e com ela se prepara um gel para uso local em caso de pancada e contusões. Alfavaca (Ocimum gratissimum) Utilizada principalmente na forma de inalação para tratamentos de sinusites ou como digestivo, contra vômitos. de infecção urinária, foi parar duas vezes na emergência. Ela se curou com o bom e velho chá de quebra-pedra. “Nunca mais tive nada”, comemora Alci. Já os medicamentos fitoterápicos contêm o princípio ativo (substância que produz o efeito farmacológico) que foi extraído das plantas. Mas não pensem que por serem originados da natureza não passam por fiscalização. Assim como os remédios industrializados, eles precisam do registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para serem comercializados. Esse registro é obtido a partir da confirmação de testes que comprovem sua eficácia terapêutica e a segurança quanto à toxicidade. PESQUISA O Brasil – Pernambuco incluído – tem um potencial grande para expandir o uso de plantas medicinais e produzir uma quantidade diversificada de fitoterápicos. Afinal, nossa biodiversidade é imensa. Mas esbarramos nos obstáculos para realizar pesquisas que evidenciem o efeito desses medicamentos. “Desenvolver esses estudos é um investimento muito caro. Falta incentivo”, lamenta Evani. Tratar-se, na verdade, de um processo que pode levar mais de 10 anos. Primeiro identifica-se a planta, a partir da classificação botânica internacional com nome em latim. Em seguida, estuda-se como ela se apresenta durante o ano, colhendo mês a mês para verificar se sofre algum tipo de alteração. Em seguida vem uma série de testes priAlgomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 7 Mentrasto (Ageratum conyzoides) Excelente cicatrizante e anti-inflamatório para uso tópico. Espaço | Evani revela que se pode cultivar os vegetais até num apartamento meiro em animais, depois em pessoas. Elba coordenou um estudo sobre os efeitos de determinada planta no combate a infecções por fungos. Mas teve que paralisar a pesquisa na fase de testes em animais porque não conseguiu financiamentos de R$ 50 mil para dar prosseguimento à investigação. A professora da UFPE não revelou nome do vegetal porque pretende patenteá-lo. Um cuidado compreensível uma vez que a biopirataria é uma realidade. “Pessoas de outros países pegam a informação com a população sobre o uso medicinal das plantas, produzem seu medicamento, visando o lucro, mas não dão retorno às comunidades que detinham o conhecimento. A patente de um medicamento leva 20 anos”, confronta Evani. Segundo o Ministério da Saúde existe legislação para evitar a saída das plantas. “Mas é difícil a fiscalização, somos um país continental, com áreas de difícil acesso, os vegetais são exportados sem proteção”, afirma Elba. Mas, estudiosos como ela não desistem das pesquisas. Hoje, Elba está à frente de um estudo de certa planta da caatinga de Altinho (cidade próxima a Caruaru) para observar seus efeitos como protetor solar. “Analisamos se o extrato dessa planta consegue filtrar a radiação ultravioleta. As pesquisas estão em andamento na fase de testes in vitro”, informa a professora. Evani também realizou vários estu- dos, mas agora optou por trabalhar com as plantas já pesquisadas e comprovadamente eficazes no combate às doenças. “Meu trabalho visa repassar para os profissionais e população em geral os resultados de pesquisas sobre eficácia e segurança no uso das plantas". Ressalte-se, porém, que os fitoterápicos não são substitutos dos medicamentos industrializados, mas são complementares. Porém oferecem uma boa economia para o bolso do consumidor, principalmente quando o laboratório do Jardim Botânico estiver concluído já que serão ofertados gratuitamente. Economia que também pode ser usufruída se o tratamento for à base de plantas medicinais cultivadas pelo próprio paciente. E você também pode se beneficiar. Basta transformar o seu jardim numa farmácia natural. Portanto, mão à obra, ou melhor à terra! Conheça os termos Fitoterapia – ciência que estuda a terapia com plantas medicinais Planta medicinal – vegetal que tem uso tradicional pela população como remédio, sem comprovação científica. Manjericão (Ocimum basilicum) Planta aromática usada na culinária que tem ação digestiva e anti-inflamatória. 8 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 Droga vegetal – planta medicinal ou partes dela que passaram por processo de secagem (como as que são vendidas nos mercados públicos) Medicamento fitoterápico – remédio obtido quando a planta sofre um processamento para se transformar uma fórmula farmacêutica (comprimido, xarope, etc). UMA OPERAÇÃO DE SUCESSO NO HOSPITAL JAYME DA FONTE. Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 9 Alexandre Albuquerque A população do Recife contará , em breve, com uma Farmácia Viva, isto é, vai adquirir, gratuitamente, plantas medicinais, drogas vegetais e medicamentos fitoterápicos na rede de atenção básica do município. O projeto é uma parceria da Secretaria Municipal de Saúde com a Secretaria Meio Ambiente, que cedeu o Jardim Botânico do Recife (JBR) para cultivar a horta medicinal. No JBR também será instalado um laboratório para a fabricação dos remédios. “Resolvemos fazer essa parceria com o Jardim Botânico, que já tem a expertise no manejo dessas plantas, aliando à nossa capacidade técnica desenvolvida no Núcleo de Práticas Integrativas (Napi) da Secretaria da Saúde”, explica o secretário de Saúde Jailson Correia. O núcleo a que o secretário se refere oferece aos pacientes da rede municipal atividades como tai chi chuan, bioenergética, ioga, acupuntura, além de orientações relativa à fitoterapia seguindo um conceito de saúde integral. E é a partir dessa experiência que a Farmácia Viva está sendo implantada. Não por acaso, quem participa da iniciativa é Tiago Ribeiro, coordenador do Napi. Ele explica que o projeto venceu um edital do Ministério da Saúde, em 2014, e garantiu cerca de R$ 450 mil para estruturação do serviço e compra de equipamentos. “Como contrapartida a Secretaria de Saúde terá que bancar o investimento da construção da sede do laboratório”, acrescenta. Mesmo com a retração da economia, Jailson Correia garante que as obras estarão concluídas no prazo estabelecido de 2016. “Estamos somando os esforços com a Secretaria de Meio Ambiente para a construção desse laboratório, indo atrás de novos recursos. Apesar do momento difícil, vamos manter a expectativa de tê-lo funcionando no ano que vem.” Dez plantas medicinais serão cultivadas no Jardim Botânico: capim-santo, maracujá, aroeira da praia, babosa, melão-de-são-caetano, chambá, alumã, boldo, hortelã graúda e colônia. Segundo Correia, o desenvolvimento do projeto está sendo realizado em sintonia com a prática dos recifenses. Sol Pulquério/PCR Horta | Ribeiro informa que dez espécies de plantas medicinais serão cultivadas no Jardim Botânico Divulgação/PCR Em breve, plantas e fitoterápicos gratuitos Plano | Correia: projeto é feito em sintonia com a prática da população “Nossa população ainda usa bastante as plantas medicinais”, constata. E a população vai poder participar dessa iniciativa, não apenas adquirindo produtos fitoterápicos, mas também participando de atividades no Jardim Botânico. “Vamos promover ações educativas para a comunidade em geral e também para profissionais e estudantes da área de saúde”, acrescenta Ribeiro. Esse contato com as pessoas, de acordo com Ribeiro, é importante porque há uma demanda cada vez maior da fitoterapia, que oferece não apenas tratamento para as doenças, mas promove um resgate afetivo, de um conhecimento que foi transmitido por nossos antepassados. “É algo que está inerente na nossa cultura. Ninguém se recorda com afetividade do anti-inflamatório que tomou, mas nos lembramos com carinho daquela xícara quente de chá que nossa mãe nos deu quando estávamos doentes. ” Colaboração: Elba Amorim - Farmacêutica Fone: (81) 2126-8511 Evani Araújo - Médica Fone: (81) 3035-7777 Jailson Correia - Secretário de Saúde Fone: (81) 3355-8000 Tiago Ribeiro - Psicólogo Fone: (81) 3355-2810 10 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 PENSANDO BEM - SAÚDE * Fábio Marinho é médico hepatologista O que você precisa saber sobre: gordura no fígado M uito se tem falado sobre fígado gorduroso, e nós não estamos nem falando do famoso foie gras, deliciosa iguaria da culinária sofisticada. Falamos sim do fígado gordo dos humanos, ou da famosa esteatose hepática. Essa entidade tem sido assunto em várias especialidades médicas entre cardiologistas, endocrinologistas, gastroenterologistas e hepatologistas, além de rodas e redes sociais. Essa doença não é nova, apenas foi mais estudada e divulgada nos últimos 20 anos. Trata-se na verdade de acúmulo de triglicérides nas células hepáticas, os hepatócitos. Esse acúmulo está relacionado a vários fatores, dentre os quais sobrepeso e obesidade, aumento dos níveis séricos de triglicérides e colesterol, alterações da glicose ou diabetes mellitus, sedentarismo, erros alimentares, doenças hepáticas outras e consumo de álcool. Atualmente se dá ênfase às causas não relacionadas ao álcool, já que sabemos bem dos efeitos deletérios do álcool ao fígado. Chama-se, então, de esteatose não-alcoólica. Então, o que pode ocorrer com o fígado se você estiver com gordura? Normalmente o fenômeno da esteatose está relacionado muito de perto a aumento do risco de eventos cardiovasculares, como infarto e acidentes vasculares. Quanto ao fígado em si, o risco é do desenvolvimento de cirrose – e lembro – independente do consumo do álcool. Se houver inflamação associada à presença da gordura no fígado, esse risco é bastante mais elevado. Então, ao logo do tempo, se não houver cuidado com a esteatose poderá ocorrer cirrose. Essa é a principal mensagem que quero passar. Há uma cultura equivocada de que “todo mundo tem gordura no fígado”, e que isto seria normal e que estaria ligada a fatores de risco. Mas só que se precisa saber que um percentual desses pacientes irá evoluir negativamente, com inflamação e desenvolverá cirrose. A doença hepática gordurosa do fígado é hoje a segunda indicação de transplante de fígado nos Estados Unidos, logo depois da hepatite C crônica. O Brasil caminha para essas cifras. Atualmente é frequente nos nossos consultórios, por exemplo, pacientes diabéticos de longa data com controle inadequado, que já chegam cirróticos e muitas vezes com complicações, como câncer de fígado ou ascite (água no abdome). Isso pode ocorrer com pacientes que também têm esteatose por outras causas, como obesidade, ou colesterol elevado. Você pode imaginar que muitas pessoas podem se enquadrar em pacientes de risco para cirrose hepática. Claro que nem todas as pessoas que têm esteatose terão cirrose. Por isso é necessária uma avaliação detalhada por profissional capacitado para saber se aquela esteatose carrega em si o risco da cirrotização. De qualquer maneira o fato de haver esteatose merece no mínimo uma avaliação cardiológica pelos riscos inerentes à condição. A investigação das causas da doença e do seu risco são fundamentais para guiar o tratamento. O tratamento para essa condição é baseado essencialmente em mudanças de estilo de vida. Os medicamentos são utilizados para redução dos níveis alterados de glicose, colesterol, triglicérides entre outros agravos. Os remédios para a esteatose também funcionam para reduzir e cessar a inflamação, podendo fazer com que a doença regrida. O mais importante nessa doença é entender que é uma entidade potencialmente grave, mas que tem como ser tratada. Precisa-se que todas as pessoas que têm a esteatose hepática sejam bem avaliadas para se entender se “aquela” esteatose tem potencial de cirrotização. Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 11 MITO OU VERDADE? Comer e logo em seguida tomar banho de chuveiro, mar ou piscina faz mal à saúde? Mito. O que ocorre é que após a refeição, a circulação sanguínea para região abdominal aumenta, com o intuito de auxiliar na digestão. O sangue é direcionado para o esôfago, estômago e intestino, que são os órgãos responsáveis pelo processamento dos alimentos e posterior absorção dos nutrientes obtidos com a dieta. Quanto mais farta for a refeição, maior será a quantidade de sangue requerida para ser digerida. Temperaturas extremas, muito frias ou muito quentes, fazem com que a circulação seja desviada para a pele e extremidades a fim de estabilizar a temperatura corporal e irrigar os músculos. Banhos de imersão (mar ou piscina) nessas condições de temperatura, por serem mais prolongados, maximizam esses efeitos. Logo, há uma "competição" pelo sangue entre o trato gastrointestinal e a pele/músculos, o que pode ocasionar sintomas de indigestão ou câimbras. “No entanto, exceto no caso de refeições fartas com banhos de imersão em temperaturas extremas, se alimentar e tomar banhos de chuveiro, mar ou piscina não faz mal à saúde, sobretudo porque as águas do nosso País tropical geralmente são mornas e confortáveis”, explica o gastroenterologista e endoscopista do Hospital Esperança Olinda, Gerson Brasil. Usar boné com muita frequência faz cair o cabelo? Verdade. O boné, segundo a dermatologista do Realderma (Hospital Português) Rossana Chagas, provoca um aumento da oleosidade dos fios devido à elevação da temperatura na cabeça. “O calor aumenta, e consequentemente, leva ao aparecimento da seborreia que pode ocasionar a queda dos cabelos”, alerta a médica. Rossana salienta ainda que existem alguns tipos de bonés que causam atrito e podem depilar o local no couro cabeludo. 12 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 ALÉM DO CONSULTÓRIO Entre Baco e o bisturi Cirurgião e laringologista Jorge Pinho é um enófilo reconhecido C Alexandre Albuquerque hefe da Unidade de Cirurgia sem curso de especialização, o enófilo como Provença e Bordeux, ambas na Cabeça, Pescoço e Tireoide do tem o gabarito necessário para minis- França, e Douro, em Portugal. A enoHospital Memorial São José, o trar palestra. Esse dom de ensinar, de gastronomia, por sua vez, também não médico Jorge Pinho é especia- acordo com ele, é uma herança da me- pode ser esquecida nos passeios que faz lista em laringologia. Mas seu principal dicina. “Nós, médicos, temos mania de com a esposa, a neurocirurgiã Débora. objeto de estudo, a garganta, ganha ou- dar aula, porque somos muito curiosos “O segredo é escolher vinhos produzidos tra função aos finais de semana: com a uva daquela localidade. Se a de apreciar os sabores dos mais eu estou na Borgonha, tenho que variados vinhos. O interesse em tomar Pinot Noir”, orienta. conhecer mais profundamente a Além do prazer da degustabebida de Baco começou há pelo ção, o médico atribui, à bebida mimenos 20 anos quando o cirurlenar, o surgimento de novas amigião levou um amigo em uma zades e a adega dele é prova disso. viagem aos Estados Unidos para “Eu tenho na minha casa um vitratar de um câncer. “Sempre nho para cada amigo, porque o visaíamos para beber juntos, até nho não tem essa história de comque o médico disse que a única prar só pensando em mim. Eu bebida que ele poderia tomar era compro para tomar com os amivinho. Resolvi acompanhá-lo e gos.” Jorge Pinho ainda formou comecei a estudar sobre o tema”, com outros sete apaixonados pela conta. Para dar início ao aprenbebida um grupo de Whatsapp, o dizado, o Dr. Jorge comprou o Top Wine Group, no qual trocam livro Tintos e Brancos, de Saul fotos e informações quando estão Galvão, e, desde então, já viajou o viajando. Os integrantes também mundo para visitar as principais se revesam na função de anfitrião vinícolas. para receber os colegas e saborear Graças a sua dedicação, o a bebida. médico se transformou em uma Nomes como Château Moureferência quando o assunto é viton Rothschild e Nuits Saint nho. “Sempre me consultam para Georges estão entre os preferisaber qual comprar. Quando esdos do médico de 59 anos. Mas, tou em um congresso, por exemsegundo ele, vinho bom é aquele plo, pedem para que eu escolha que respeita o orçamento de cada o vinho”, revela. Com a intenção união | Pinho divide o prazer do vinho com amigos um. “Dizer que o melhor vinho é de compartilhar os conhecimeno Romanée-Conti, que é o mais tos e desmistificar a bebida, o cirurgião e estamos sempre estudando.” caro do mundo, é fácil. No entanto, não fundou, junto com um grupo de colegas, Nas viagens, o vinho nunca sai do cabe no bolso de todos”, sentencia. O a Sociedade dos Amigos do Vinho em roteiro do laringologista e já o fez conhe- cirurgião ainda associa a qualidade do Pernambuco (SBAV-PE) em 1997. Mesmo cer as mais diversas regiões produtoras vinho a boas recordações. Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 13 GOSTOSO & SAUDÁVEL *Sylvia Lobo é nutricionista da Prodieta. www.prodieta.com.br (81) 3241-5961 SPAKids/MaíraPassos ALIMENTAÇÃO INFANTIL Quem tem criança em casa sabe o quanto é difícil convencer os pequenos a se alimentarem de forma saudável e deixar um pouco de lado salgadinhos, biscoitos e refrigerantes. O bombardeio da indústria alimentícia, que invade os supermercados associando sua marca a desenhos animados, além da influência dos colegas estão entre os principais vilões. Já um dos principais aliados é a influência dos pais. É importante que o exemplo seja dado não só através do comportamento à mesa, como também pela oferta abrangente de alimentos naturais e saudáveis dentro de casa. A ausência do pai e da mãe, que muitas vezes passam o dia fora e não acompanham a alimentação dos filhos, também pode pesar na balança. É de extrema importância que os pais controlem os tipos de alimentos oferecidos e os horários das refeições. Mesmo quem tem filhos saudáveis deve dar duro e desde cedo impor uma alimentação nutritiva e com controle de gorduras e calorias. Isso previne doenças futuras, como obesidade, hipertensão e diabetes, levando-se em consideração que as crianças estão em fase de pleno desenvolvimento e crescimento dos ossos, músculos e órgãos, e por isso precisam de mais nutrientes que os adultos. Nos primeiros 6 meses, a amamentação deve ser exclusiva, até os dois anos já devem ser introduzidos alimentos saudáveis e variados para a formação de hábitos corretos à mesa e assim por diante. É importante ressaltar que não adianta forçar uma alimentação só com frutas e saladas. O cardápio tem que ser diferenciado para o paladar que a meninada estava acostumada, equilibrando os nutrientes. Pratos criativos, coloridos e divertidos ajudam na aceitação das crianças ao alimento. Pipoca, picolé, bolo e balas são permitidos sim, mas tudo com quantidade e hora certa, com menos gorduras e mais fibras. Os pais que quiserem uma forcinha para ajudar a reeducar a alimentação dos filhos podem recorrer ao SPA Kids, indicada para a garotada de 8 a 16 anos. Através do programa, idealizado e oferecido pela clínica de nutrição Prodieta, é feito um atendimento e acompanhamento nutricional para formar e incentivar hábitos alimentares saudáveis nas crianças. Para já começar a incentivar novos hábitos alimentares, a coluna hoje traz uma receitinha de hambúrguer de brócolis. Confira! HAMBÚRGUER DE BRÓCOLIS 1 maço médio de brócolis japonês cozido e picado (só as flores) 1 cebola pequena picada 1 clara 2 colheres de sopa de aveia em flocos finos 3 colheres de sopa de farinha de rosca 1/2 xícara (chá) de maionese light 1/2 colher (chá) de sal 7 fatias de queijo minas frescal light Para untar e polvilhar: margarina light e farinha de rosca 14 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 Preaqueça o forno em temperatura média (180°C). Unte e polvilhe uma assadeira média (33x23cm). Reserve. Em uma tigela média, junte os brócolis, a cebola, a clara, a aveia, a farinha de rosca, a maionese light e o sal. Misture. Enfarinhe as mãos com a farinha de rosca, coloque porções da mistura e modele pequenos hambúrgueres. Coloque um ao lado do outro na assadeira reservada e leve ao forno por 10 minutos. Vire os hambúrgueres e deixe por mais 10 minutos ou até dourarem. Retire do forno, cubra cada um com uma fatia do queijo minas frescal light, coloque sobre ela outro hambúrguer e leve ao forno mais 5 minutos ou até derreter o queijo. Sirva em seguida. Se preferir, coloque 1 fatia de tomate sobre a de queijo, cubra com outro hambúrguer e leve ao forno. Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 15 INFECTOLOGIA VIROSE, um diagnóstico vago? Saiba porque o médico usa essa terminologia e não informa com mais precisão o tipo de doença que acomete o paciente que tem febre, dor no corpo e fadiga Q uem nunca saiu irritado de um consultório médico após receber um diagnóstico de virose, que atire o primeiro comprimido de anti-inflamatório. A sensação é de que os médicos já não sabem mais detectar com precisão uma simples gripe. Mas a história não é bem assim. Não é tão fácil quanto se pensa descobrir com exatidão qual a doença que acomete o paciente. Isso porque vários tipos diferentes de viroses – como gripe, dengue, zika, resfriado, mononucleose, entre outras – apresentam sintomas semelhantes, como febre, dor de cabeça, fadiga. Mas, afinal, o que é virose? “É toda 16 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 infecção causada por vírus”, responde o infectologista Filipe Prohaska, do Hospital Português. Uma doença infecciosa também pode ser causada por outros tipos de micróbios - ou como dizem os especialistas micro-organismos - como como fungos e bactérias. Mas, segundo Prohaska, cerca que 90% das pessoas atendidas nas emergências com infecção possuem sintomas clássicos provocados por vírus. As viroses, porém, compõem uma gama ampla de doenças, desde um resfriado, passando pela dengue, zika, até hepatites e Aids. Boa parte daquelas que acometem os pacientes, no entanto, é benigna, os sintomas desaparecem em menos de uma semana. Além de apresentarem sintomas semelhantes, as viroses são causadas por micro-organismos que muitas vezes são difíceis de serem detectados em exames. “Muitos vírus não alteram tanto o teste laboratorial”, explica o infectologista. Na Europa, de acordo com Prohaska, já existem exames que identificam de forma mais precisa 20 tipos diferentes de vírus. A má notícia, porém, é que custam cerca de R$ 4 mil. “O custo benefício não vale a pena. Essa é uma vertente para o futuro”, estima o médico. Para algumas viroses, como a dengue, já existem testes disponíveis no Alexandre Albuquerque DANYLO PALMEIRA Hidratar-se é fundamental para evitar pressão baixa" de diagnosticar a virose, oferecendo o maior número de informações sobre os sintomas. Por isso, é fundamental a chamada anamnese, isto é o interrogatório que o especialista faz nas consultas com o paciente procurando detalhes para formar um diagnóstico. “Se alguém, por exemplo, reporta que está com tosse com secreção amarelada e febre, ao invés de um resfriado ou gripe, podemos estar diante de uma infecção bacteriana, sendo necessário o uso de antibióticos”, deduz Palmeira. Não se espante se o médico não prescrever um medicamento quando você estiver com virose, porque não existem remédios que eliminem a grande quantidade de vírus que provocam a infecções como gripes, resfriados, dengue, rotavírus, entre muitos outros. Mas não se preocupe: em alguns dias a infecção desaparece. “Costumo dizer que o curso da doença não vai mudar com, sem ou apesar do remédio. O procedimento é usar medicamentos para aliviar os sintomas”, orienta Prohaska. Assim, prescreve-se um analgésico para dor, um antiemético para vômitos, antitérmicos para febre. Fique longe, porém, dos anti-inflamatórios se estiver com suspeita de dengue. “Nesse caso, pode provocar hemorragias”, alerta Danylo Palmeira. Nem pense também em tomar antibióticos. Eles só combatem bactérias. ÁGUA É importante tomar muita água pois o corpo se desidrata quando sofre uma infecção. Isso acontece porque nos vasos sanguíneos não há apenas sangue, mas água também. A febre provoca uma dilatação nos vasos expulsando essa água para outras partes do corpo. “Hidratar-se é fundamental para evitar queda da pressão arterial”, explica Palmeira, alertando que a hipotensão pode levar ao choque, um estado potencialmente letal para o organismo. Crianças e idosos devem ter atenção especial quando são acometidos por infecção, porque não costumam tomar muita água. Cuidado redobrado também com pessoas com baixa resistência, como indivíduos em tratamento oncológico, com Aids ou grávidas devido à fragilidade do seu sistema de defesa. Também é muito importante estar atento aos sinais de alerta que podem Divulgação País. É a sorologia, obtida por meio do hemograma. Por isso, quando você vai à emergência com sintomas de infecção o médico, muitas vezes, solicita um exame de sangue. Nele são identificados os anticorpos presentes no seu organismo, que são uma espécie de exército de defesa do nosso corpo capaz de combater os micro-organismos. Para cada tipo de vírus, existem anticorpos específicos para combatê-los. A dengue, por exemplo, é diagnosticada pela presença de anticorpos chamados IgM e IgG. Mais recentemente a virose também é detectada pela presença de um antígeno – substância que produz anticorpos – chamado NS1. Mesmo nesse caso, porém, o diagnóstico não é tão simples de ser feito. Se o resultado der negativo para a presença dessas substâncias não significa que a pessoa não esteja com a doença. “Os anticorpos, muitas vezes, demoram a aparecer nos testes e só por volta do sétimo dia a contar do início da doença, é que vão ser detectáveis”, esclarece Danylo Palmeira infectologista dos Hospitais Jayme da Fonte e Português. Resultado: a pessoa tem o vírus mas o exame não é capaz de identificá-lo. Apesar dessas dificuldades, você pode ajudar o médico nessa difícil arte FILIPE PROHASKA Muitas vezes, o vírus não é detectável num exame laboratorial" indicar um quadro mais grave. Caso a pessoa com virose sinta dor abdominal intensa, alteração de comportamento (ficar desorientada ou até agressiva), alterar o nível de consciência e ficar muito sonolenta, apresentar queda de pressão, desidratação, falta de ar, desmaios, começar a suar frio ou vomitar com muita frequência deve ser levada imediatamente para a emergência. Mas na maioria das vezes as infecções virais que nos acometem não provocam grandes consequências e desaparecem depois de alguns dias. Durante a recuperação a dica fundamental é manter o repouso. E, agora, que você já sabe o quanto é difícil detectar um vírus, não precisa mais ficar irritado quando receber o diagnóstico de virose. Descanse, tome bastante água e tenha paciência que logo, logo o vírus vai embora. Colaboração: Danylo Palmeira - Infectologista Fone: (81) 3416- 0000 Filipe Prohaska - Infectologista Fone: (81) 3416-1090 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 17 BEM-ESTAR alerta | Pesquisas revelam que familiar pode sofrer de ansiedade, desenvolver depressão ou até ter um infarto CUIDADOR também precisa de cuidados Familiares responsáveis por assistir parente com Alzheimer enfrentam situações tão estressantes a ponto de comprometerem a sua saúde P rofissionais que atendem pessoas com Alzheimer começam a voltar suas atenções também para o familiar que cuida desses pacientes. A experiência nos consultórios, corroborada por pesquisas cientificas, mostram que os cuidadores familiares vivenciam um nível de estresse tão elevado a ponto de, em muitos casos, afetar a sua saúde. Foi o que constatou o estudo realizado pelo geriatra Alexandre de Mattos na Universidade de Pernambuco (UPE). De acordo com resultados da 18 Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 pesquisa, o cuidador familiar de uma pessoa com Alzheimer tem três vezes mais chances de desenvolver depressão e quatro vezes mais de ficar com ansiedade em comparação com cuidadores de idosos que não têm a doença. “Existem estudos que mostram adoecimento não só psíquico como também aumento de infarto e AVC”, acrescenta Mattos, que é professor da UPE e geriatra do Instituto de Medicina do Idoso. Esse desgaste acontece independentemente de haver ou não um cuidador profissional e da condição financeira da família. “Um profissional não passa pelo mesmo estresse do familiar, que está envolto com uma relação subjetiva e afetiva com o paciente”, ressalta o médico e psicoterapeuta Dival Cantarelli. O primeiro estresse é o próprio impacto do diagnóstico, já que a doença paulatinamente vai afetando a memória e a capacidade de realizar tarefas banais do cotidiano, como tomar banho. É como se a pessoa, aos poucos, deixasse de ser ela mesma e, como explica Cantarelli, não mais representasse o mesmo papel na trama familiar a que todos Alexandre Albuquerque DIVAL CANTARELLI Eles muitas vezes abrem mão dos projetos profissionais, da interação social e da realização amorosa" os parentes estavam acostumados. Foi o que aconteceu com a funcionária pública, Maria Joene Pires, cuja mãe, Quitéria Carolina, hoje com 92 anos, tinha uma participação forte e ativa na família. “Lá em casa era um matriarcado”, resume Joene. Foi muito doloroso para ela e seus irmãos perce- berem que a “matriarca” sempre muito “condutora” e presente na vida da casa e dos filhos estava com Alzheimer. “É como se ela começasse a desaparecer. Uma morte em vida”, lamenta. “No início, a gente demora a perceber os sintomas, o que, na verdade, é uma espécie de negação. Depois as coisas vão se esclarecendo, como num processo de decantação”, compara. Um dos sintomas que causa mais estresse emocional é quando a pessoa perde a memória a tal ponto que não reconhece os próprios parentes. “É uma situação delicada, o familiar poderá sentir como se não houvesse afeto”, analisa Cantarelli. Sofrimento vivenciado por Sheila de Almeida Leite, cuja mãe, já falecida, estava com Alzheimer. “Certa vez, ela ficou meio ausente e, de repente, não me reconhecia, ficou estranha, e eu fiquei louca, só chorava. Mas, graças a Deus, no caso dela esse esquecimento durou pouco tempo”, recorda-se. Além das questões emocionais, há ainda as demandas de cuidar de uma pessoa que não consegue mais realizar ações simples, como trocar de roupa. Mas os sintomas que dão mais impacto, de acordo com Mattos, são os comportamentais. Muitos passam a noite acordados, pode haver agressividade e agitação. Também é comum pacientes perambularem pela rua, sem que os familiares saibam, e se perderem. “Quanto mais intensos e frequen- tes os sintomas, maior o impacto na saúde do cuidador”, adverte o geriatra. A doença é progressiva, apresenta muitas fases de mudanças de comportamento e o paciente vai piorando gradativamente. “Cada vez que ele muda é pior para o familiar que está cuidando dele”, salienta a geriatra Carla Núbia Nunes Borges. SOLITÁRIO Na maioria dos casos, alguém da família se coloca na função do cuidador, em geral filho ou cônjuge, e carrega sozinho toda a sobrecarga de cuidar do doente. Esse isolamento não acontece, muitas vezes, por simples acomodação dos demais parentes. Alguns enfrentam uma limitação emocional diante da nova realidade. Uma mulher, por exemplo, que durante toda a vida conjugal sentia-se frágil e foi sempre cuidada pelo marido, pode ter dificuldades em perceber que seu forte protetor se encontra numa situação de vulnerabilidade. Sheila, por exemplo, lembra que cuidou sozinha de sua mãe durante o perído de um ano e meio que ficou hospitalizada. “Não contei com ninguém, apenas com cuidadoras a quem eu pagava. Meu irmão não conseguia ir ao hospital, pois não aguentava vê-la internada”. O familiar que se dispõe a ser o cuidador tenta abarcar o atendimento de todas as demandas do parente Dicas para aliviar o estresse Cuide de si mesmo, você não conseguirá cuidar bem do seu familiar, se você estiver doente ou esgotado. Confira os serviços de apoio em sua comunidade. Grupos como a Abraz mantêm uma rede para dar assistência e orientação a cuidadores. Informe-se sobre o Alzheimer, é importante conhecer as fases da doença e se preparar. Peça ajuda quando necessário e, mais importante, aceite ajuda. Cuide de sua própria saúde, fazendo consultas regulares com médicos, tendo boa alimentação e praticando exercícios, que ajudam a diminuir o estresse. Dê valor ao seu cuidado. Faça uma lista de todas as coisas que você já fez e vem fazendo pelo seu familiar com Alzheimer e consulte-a sempre. Consulte um psicoterapeuta e obtenha ajuda, caso seu nível de estresse esteja alto ou se esteja se sentindo deprimido. Se você é uma pessoa religiosa procure se aconselhar também com o seu líder espiritual. Reserve um tempo na semana para lazer, como ir ao cinema, a um show, jantar com amigos. E não esqueça de tirar férias. Isso é fundamental para recarregar as energias. Se estiver havendo conflitos entre os demais familiares – o que é muito comum – considere a consultoria de um terapeuta de família que ajudará na mediação. Faça as pazes com o Alzheimer. É muito importante admitir e verdadeiramente aceitar doença. Aprenda a amar a pessoa exatamente como ela é agora. Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 19 Divulgação É POSSÍVEL PARTILHAR Mesmo diante dessa situação problemática, é possível aliviar a sobrecarga do cuidador familiar. O primeiro passo é partilhar o cuidado com outros parentes e tirar um tempo para si próprio e para o lazer. O que nem sempre é fácil. Muitas vezes o cuidador não se permite ter direito a uma folga. “Existem aqueles que acham que só ele entende o doente e só ele sabe cuidar. Mas é salutar que tenham momentos de lazer, descanso | Carla: "É salutar que o familiar tenha tempo para o lazer" 20 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 Divulgação com Alzheimer. Passa a entrar numa situação de estresse, comprometendo a qualidade de vida, o tempo e até a carreira profissional. Cantarelli ressalta que o Alzheimer tem surgido numa faixa etária cada vez mais precoce e, como muitas mulheres passaram a ter filhos numa idade mais avançada, existem muitos jovens cuidando de pais com essa doença. “Eles, em muitos casos, estão tão imbuídos de salvar seu familiar, que abrem mão dos projetos profissionais, da interação social e da realização amorosa. Às vezes se separam até dos filhos para priorizar aquela ajuda”, relata o psicanalista. “Entram num processo de estresse e podem até ser agressivos com o paciente, sem ter a menor intenção disso”, acrescenta. Não por acaso, muitos acabam doentes, comprometendo sua disposição de cuidar do familiar. ALEXANDRE DE MATTOS São necessárias polí�icas públicas para que se comece a assis�ir também o cuidador, não só o paciente" para descansar, renovar as energias e todos os familiares têm que participar”, recomenda Carla Núbia, que também é presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ-PE), entidade sem fins lucrativos, formada por profissionais de saúde e familiares de portadores da doença. O objetivo da Abraz é divulgar informações sobre a doença. E, nesse sentido tem ajudado muito os familiares, alertando-os para a importância de partilhar o cuidado com o doente. “Orientamos os familiares sobre o que muda com a doença, como proceder, como reagir, quando interditar. Levamos informações científicas que ajudam no cuidado. Enfatizamos a união da família e a necessidade de o cuidador ter momentos de lazer para se distrair e deixar o dia a dia mais leve. Nosso lema é: você não está sozinho, a Abraz PE está com você”, informa a médica. Fazer psicoterapia é outra medida que pode ajudar o cuidador e os demais familiares. “O ideal seria ainda por ocasião do diagnóstico os familiares procurassem um psicoterapeuta”, orienta Dival Cantarelli. Joene sabe o quanto as sessões de terapia podem ajudar. Ela já se consultava com um psicoterapeuta quando soube que a mãe era portadora de Alzheimer. Caçula de uma família de cinco filhos (quatro mulheres e um homem) Joene é a típica cuidadora familiar embora não more mais com a mãe. “Entrei em pânico de resolver milhares de coisas ao mesmo tempo. Fiquei estressada, mas a terapia me ajudou muito”, conta, aliviada. Ela descobriu que precisa ter momentos de descanso para poder enfrentar essa realidade. Por isso, junto com a família está providenciando um cuidador profissional para passar as noites com a mãe. “Do contrário, não terei tempo para mim. Se ficarmos irritados, cansados, impacientes não vamos poder colaborar”, constata. Fundamental para Joene foi também escolher um especialista para sua mãe que levasse em conta as necessidades da família. “No início ficamos com um médico que era mais frio, um mero passador de remédio. Depois mudamos para a Dra. Carla Núbia, e fiquei encantada. Percebi que na relação com o médico faltava mais informação, conversa com familiares, aconchego”, compara. Essa visão de tratamento que inclui a família também é defendida por Alexandre de Mattos. Ele sugere a adoção de políticas públicas para que o governo comece a olhar para o cuidador familiar e não só para o doente, de forma que haja um grupo multidisciplinar que atenda também os parentes. “Assim, a partir do diagnóstico, poderia-se oferecer ao familiar que estivesse com depressão ou ansiedade, a oportunidade de ser encaminhado para ambulatórios específicos para tratar desses sintomas”, propõe o geriatra. Fica dada então a dica: em casos de Alzheimer, o cuidador familiar também tem que ser cuidado. (C.S.) Colaboração: Alexandre de Mattos - Geriatra Fone: (81) 3037-8686 Carla Núbia Borges - Geriatra Fone: (81) 3097-3087 Dival Cantarell - Médico e psicoterapeuta Fone: (81) 3442-0576 Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 21 FALA, DOUTOR Conheça mais sobre o diabetes Endocrinologista aponta a últimas novidades no tratamento da doença e ressalta a importância de hábitos saudáveis para realizar a prevenção Luiz Griz* D iabetes mellitus é uma desordem metabólica caracterizada pelo aumento da glicose no sangue (hiperglicemia). Os principais tipos são, os diabetes tipo 1 (que corresponde a 10% do total de casos da doença), resultante da destruição das células beta do pâncreas por um processo autoimune, o qual ocorre mais frequentemente em crianças, adolescentes e adultos jovens, e o diabetes tipo 2 (90% dos casos), caracterizado por um defeito na secreção de insulina ou da ação da insulina, acometendo em geral, pessoas de mais de 50 anos de idade, associado à obesidade e história familiar de diabetes. Para critério diagnóstico, a glicemia de jejum normal é até 99 mg/dl, entre 100 e 125 é chamado de intolerância à glicose e diabetes quando a glicemia for igual ou acima de 126 mg/dl. Outros critérios diagnósticos: hemoglobina glicada igual ou acima de 6.5% ou uma glicemia após 75 gramas de glicose anidra igual ou acima de 200 mg/dl. Segundo, dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que em 2030 existam 366 milhões de diabéticos no mundo. A doença tem um grande impacto do ponto de vista de saúde 22 Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 Medicamento | Insulina é utilizada no tratamento do diabetes tipo 1 pública devido à elevada morbidade e dos elevados custos. Diabetes é a causa mais frequente de amputação de membros inferiores depois de trauma, de insuficiência renal em pacientes que estão em regime de hemodiálise, perda da visão antes dos 70 anos e do aumento do risco de eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral). O diabetes tipo 2 é uma doença silenciosa e em muitas vezes o paciente já procura o médico com uma complicação crônica. Daí a importância de anualmente avaliar aqueles sujeitos de risco aumentado para desenvolver a doen- Exercício | Atividade física é uma das maneiras de reduzir o índice de açúcar no sangue ça. Os pacientes de maior risco para diabetes tipo 2 seriam aqueles acima de 40 anos, com dislipidemia (níveis elevados de gordura no sangue), história familiar de diabetes, sedentários, hipertensos, intolerante à glicose e obesos. Nas mulheres, história de recém-nascido macrossômico (excesso de peso) e síndrome de ovários policísticos seriam outros fatores de risco. Quanto ao tratamento, o diabetes tipo 1 é tratado desde o início com múltiplas doses de injeções de insulina. Uma insulina basal e outra de ação rápida antes das refeições. Enquanto o diabetes melitus tipo 2 é tratado usualmente no início com hopoglicemiantes orais. Vem ocorrendo um grande avanço em relação aos hipoglicemiantes orais, tais como as incretinas e os inibidores dos transportadores sódio-glicose 2 (SGLT2). As incretinas são hormônios liberados no intestino que estimulam a secreção de insulina por ocasião da ingestão de carboidratos. Nestes grupos nós temos o agonista do receptor do GLP1 (Glucagon-like peptide 1) e os inibidores da DPP 4. A vantagem do agonista do GLP em relação aos inibidores do DPP 4 é que além reduzir a glicemia, está associado a uma redução do peso na maioria dos pacientes. Os agonistas do GLP1 disponível no Brasil são: o Victosa (liraglutida) e o Lyxumia (lixisenatida), usados (forma injetável) via subcutânea ao dia ou o semanal denominado de bydureon (exenatida), disponível nos Estados Unidos, mas que pode ser importado. Os inibidores dos transportadores sódio-glicose 2 ( SGLT2) são compostos que atuam inibindo a reabsorção da glicose nos rins, aumentando sua excreção na urina e consequentemente reduzindo a glicemia. No Brasil, já dispomos de: o forxiga (dapagliflozina), jardiance (empagliflozina) e o invokana (canagliflozina). Esses medicamentos também apresentam um efeito na redução do peso corpóreo e da pressão arterial. Atualmente, os hipoglicemiantes orais (metformina, incretinas e os inibidores da SGLT2) são considerados como o padrão ouro no tratamento do diabetes mellitus tipo 2. No início do tratamento, devemos enfatizar a mudança de estilo de vida (redução do Segundo, dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que em 2030 existam 366 milhões de diabéticos no mundo peso e exercício) e iniciar o tratamento com a metformina, a menos que haja uma contra-indicação. Caso esta não consiga um controle glicêmico adequado, deve-se associar uma segunda droga e posteriormente uma terceira se necessário (incretinas ou os inibidores da SGLT2). A insulinoterapia também deve ser considerada nos pacientes portadores de diabetes tipo 2 quando não se alcançar as metas do tratamento através dos hipoglicemiantes orais ou naqueles pacientes sintomáticos (perda de peso, dé- bito urinário aumentado e muita sede) com glicemia muito elevada. O controle glicêmico deve ser uma meta desde o início no tratamento do diabetes para reduzir suas complicações e desse modo, permitir que os pacientes possam ter uma expectativa de vida igual à população não diabética e com boa qualidade de vida. O alvo para atingir o bom controle glicêmico é através dos níveis de hemoglobina glicada e deve ser individualizado para cada paciente. Níveis de hemoglobina glicada menor que 7% estão associadas à redução das complicações crônicas do diabetes. Naqueles sujeitos com idade não muito avançada, pouco tempo de diabetes e sem complicações cardiovasculares, o objetivo poderia ser níveis de hemoglobina glicada menor que 6.5%. Entretanto, naqueles com complicações crônicas avançadas, ou que tenham episódios de hipoglicemias severos e expectativa de vida limitada, níveis de hemoglobina glicada menor que 8%, podem ser apropriadas. *Luiz Griz é MD, PhD, FACE, professor-adjunto doutor da disciplina de Endocrinologia da FCMP/UPE, médico preceptor da Residência Médica da Unidade de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Agamenon Magalhães e Fellow of the American College of Endocrinology. Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 23 * Jayme Panerai Alves é psicoterapeuta do Libertas OLHAR INTERIOR Caminho! Caminhe! Caminhemos! D esde que a espécie humana surgiu no planeta, caminhamos. As pernas foram sempre nosso meio de locomoção. Pés e pernas fizeram os deslocamentos de nossos ancestrais. E, através da terra, eles, nômades, buscavam os lugares seguros, onde os alimentos tinham melhor colheita de acordo com a época do ano, etc. Séculos e milênios se passaram com as pernas conduzindo o ser humano pelo e através do planeta. Hoje, estamos perdendo esta maravilha que a natureza nos proporcionou por absoluta acomodação e preguiça, aliadas a desculpas como segurança ou tempo livre. Sedentários, os homens não querem sair da frente da TV ou dos bancos macios dos carros parados e estacionados em engarrafamentos, os quais imobilizam máquinas que possuem motores para andar a mais de 200 km/h e andam a 10, 15, 20 km/h. Um desperdício de motor e de pernas. Uma paralisação geral torna-se cotidiana. Afastados da natureza, enganamos a nós mesmos, acreditando que a vida não pode parar e que temos que estar constantemente correndo ou engarrafados. Ilusão. Perdemos, assim, a saúde das pernas e dos pés e fortalecemos o racional, o cognitivo e o intelectual. Sabemos em nossa cabeça tudo ou muito. E, nossos pés e pernas, muitas vezes, não visitam a esquina próxima. Em outras palavras, não têm oportunidade de praticar sua vida. E, desenvolvemos algumas vezes, pernas mecânicas, burocráticas e sem vida. Calos, micoses mostram que a saúde dos pés deve ser cuidada. Com massagens, escalda pés, talcos desodorantes, palmilhas. Toda sorte de auxílios que permi- 24 Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 " O andar sobre a terra permite que sintamos a estreita e rica relação de nosso pés com o planeta. Somos filhos da Mãe Terra" tam que possamos seguir e ir adiante. Caminhar pode dissolver nossas irritações, mágoas, feridas, pode esvaziar nossa cabeça e mente, geralmente tão exigidas. Pode permitir que a criatividade brote e surja, justamente da cabeça vazia, pela energia vital que desce para os pés, cedendo lugar para novas ideias. Caminhar amplia a respiração e beneficia a circulação sanguínea. Caminhar, segundo a medicina chinesa, que diz que temos nas plantas dos pés pontos que correspondem aos órgãos principais do corpo humano, permite o massagear destes pontos e, consequentemente, ativa e vitaliza estes órgãos. Caminhar pacifica o organismo e o interior. E, se estamos em paz, um lugar no planeta estará em paz. Também o andar sobre a terra permite que sintamos a estreita e rica relação de nossos pés com o planeta. Somos filhos da Mãe Terra. Dela viemos. Mas, a rejeitamos à medida que nos afastamos do contato com ela. E mais, ensinamos nossos filhos a somente andar calçados e a não pisar na terra, com medos e receios de adoecerem. Rejeitamos o lugar de onde viemos. A prática do caminhar nos traz para o único e verdadeiro lugar da vida e do mundo que é o aqui e agora. Desfrutamos os cheiros, o azul do céu, as plantas e suas cores, e permanecemos ligados na respiração. Se quisermos, podemos inspirar calma e expirar paz para todas as pessoas. Caminhar junto com outra pessoa, ao longo da vida, faz bem e apoia. Andar com amigos, com a família, com colegas de trabalho. Existem algumas iniciativas que se organizam ao caminhar em grupo. Existe uma, do Libertas com a psicóloga Fátima Lucas que, todo último domingo de cada mês, sai da frente do parque da Jaqueira às 6 hs da manhã e anda perto de 8 km por pontes, museus, igrejas e mercados. Outras iniciativas já se reúnem com este objetivo. Andar e redescobrir a cidade, o corpo, as pernas, os pés e a saúde. Nossas pernas são duas colunas visíveis que sustentam uma invisível que é a coluna vertebral. Necessitamos desta trindade, tanto como da respiração, do coração e do cérebro. Ou ainda, dos rins, do fígado e do pâncreas ou do baço. Enfim, caminhar na vida pode devolver em nós a alegria ancestral de mover-nos na direção de nossa construção. INFORMAÇÕES LIBERTAS Rua Rodrigues Sete, 158 - Casa Amarela. Contato: (81) 3441-7462 | 3268-3311 | 3268-3596 | 9721-2021 www.libertas.com.br facebook.com/libertas twitter.com/libertas_brasil Algomais Saúde • AGO/SET/OUT/2015 25 *Sylvia Lemos Hinrichsen é médica infectologista e professora universitária. O QUE HÁ DE NOVO... Nanotecnologia: O que podemos esperar? J á há algum tempo que se vive num mundo de tecnologias, e, a cada dia mais surpresas surgem nesse universo antes encantado e distante, mas hoje tão real. Nos últimos anos é crescente a introdução de um novo elemento nessa viagem tecnológica, rápida e não perceptível ao olho nu, que se chama de nanotecnologia. Um novo produto que começa a estar presente em muitos componentes eletrônicos, desde computadores até aparelhos da medicina e outros tantos itens que possuem um alto padrão tecnológico. E o que vem a ser a nanotecnologia? Na verdade, um nanômetro (matéria próxima à escala de um átomo para produzir novas estruturas) é uma medida como outra qualquer, assim como o centímetro, o metro e o quilômetro. Mas, explicar com palavras o que é um nanômetro parece ser simples, quando se diz que ele equivale a um bilionésimo de metro, mas isso não explica realmente o que ele é e a sua importância na vida de cada um de nós. Imaginar um nanômetro seria, de uma forma simplística, o mesmo que comparar uma bola de futebol com a lua (moléculas 90 mil vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo). Incrível, não é? O termo nanotecnologia foi criado e definido pela Universidade Científica de Tóquio, no ano de 1974, embora já fosse falado em 1959 pelo físico Richard Faynman. Entre 1980 e 1990 muitas outras teorias foram elaboradas em cima da definição básica criada por um professor da Universidade de Tóquio e, no ano de 2000, começou a serem desenvolvidas em laboratórios de pesquisas 26 Algomais Saúde • Ago/Set/Out/2015 sendo até hoje o centro das atenções em várias áreas da ciência. Atualmente, a nanotecnologia vem sendo aplicada em vários produtos, como processadores de computadores, placas de vídeos, games, sendo também muito utilizada na medicina, na química quântica, indústrias aeroespaciais, refinarias e na produção de artigos como raquete e bolas de tênis, filtros de proteção solar, screening contra raios ultra violeta, nano-colas, cabeamento de vidros com antierosão, polímeros antirriscos, assim com tecidos que não amassam e não mancham por não permitirem que substâncias, líquidos e ou secreções contendo microrganismos entrem em suas tramas. Na medicina, várias são as pesquisas que vêm sendo usada na criação de aparelhos para diagnosticar determinadas doenças, as quais não podem ser detectadas apenas com base em sintomas e exames comuns. Assim, nanômetros vêm sendo usados na área de ortopedia (implantes ortopédicos) e de cardiologia (cateteres, válvulas cardíacas, marca-passo). Há estudos com o uso de nanopartículas de ferro, como uma alternativa para ajudar no diagnóstico do mal de Parkson. A nanotecnologia também está presente no desenvolvimento de cosméticos, medicamentos tópicos para herpes, bactérias e fungos, assim como em aparelhos de filtração de ar instalados em ambientes fechados que têm seus filtros dimensionados contra poluentes da atmosfera, evitando a reprodução de bactérias nocivas à saúde. Os filtros revestidos com nanopartículas de prata vêm apresentando eficácia Inovação | Nanopartículas levam medicamento até células cancerígenas sem afetar tecidos saudáveis antibacteriana utilizando dois tipos de bactérias: Escherichia coli e Staphylococcus epidermidis. Há também estudos com a nanotecnologia na terapêutica do câncer bucal, de próstata, útero, pele e bexiga, em que medicamentos são injetados localmente, aguardando-se um determinado tempo para a aplicação de luz com o auxílio da fibra ótica. Mas, como tudo na vida, benefícios também têm potenciais riscos e, com a nanotecnologia não é diferente. Já se começa a observar problemas relacionados à nanopoluição gerada pelos nanomateriais ou durante a confecção destes, que por sua capacidade de flutuação no ar percorrem grandes distâncias. Devido ao seu pequeno tamanho, essas minúsculas partículas podem entrar nas células dos seres humanos, animais e plantas, com danos e efeitos adversos ainda desconhecidos. Portanto, teremos que aguardar...