Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso FACULDADE SÃO MIGUEL CURSO DE FISIOTERAPIA BRUNA LOYSE FERREIRA LOPES EFEITOS DA CINESIOTERAPIA NA RECUPERAÇÃO FUNCIONAL E DA QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM QUEIMADURAS EM MEMBROS INFERIORES RECIFE, 2011 BRUNA LOYSE FERREIRA LOPES EFEITOS DA CINESIOTERAPIA NA RECUPERAÇÃO FUNCIONAL E DA QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM QUEIMADURAS EM MEMBROS INFERIORES Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao curso de Fisioterapia da Faculdade São Miguel, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia. ORIENTADORA PROFESSORA SHIRLEY MARIA SANTOS MERGULHÃO RECIFE, 2011 Trabalho julgado adequado e aprovado com conceito A em 12­/01/2012 Banca Examinadora Neyla Súcie de Menezes Sales Siqueira José Osnaldo de Souza Brito Conceito A 866 Recife n. 2 p.866-923 2011 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao meu bom Deus pela realização de um sonho; à minha família pela paciência e por acreditar em meu potencial; aos amigos Júlio César, Flaviano Gonçalves, Célia Fedele e Telma Macambira, que comigo sofreram, sorriram e apoiaram-me em todos os momentos; à Enny que com carinho, amizade e humildade atravessou comigo esse longo caminho percorrido. Agradeço aos meus professores, às minhas professoras, orientadoras e amigas, que pacientemente, instruíram-me no desenvolvimento da minha vida acadêmica e prepararam-me como profissional. Obrigada a todos! “O rugido do leão aterroriza os habitantes da floresta. Para a leoa é declaração de amor”. Hermógenes RESUMO As queimaduras são lesões da pele causadas por vários fatores, como calor, frio, produtos químicos, eletricidade, radiações, entre outros. Podem ser classificadas em queimaduras de primeiro grau, onde somente a epiderme é atingida; queimaduras de segundo grau, atingindo a epiderme e derme e as queimaduras de terceiro grau, afetando a epiderme, derme e a tela subcutânea. Quando a queimadura atinge alguma articulação, pode levar à diminuição ou perda da amplitude de movimento, e consequentemente à perda da independência funcional da estrutura acometida, fazendo com que o paciente perca a eficácia do movimento e limite-se a uma marcha antálgica que pode demorar algum tempo para ser reestruturada. Com isso, pode-se utilizar a ci- Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 867 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Este trabalho é dedicado aos meus familiares e pessoas intimamente ligadas à minha vida, que no período de desenvolvimento deste, ajudaram-me com sua paciência, carinho e compreensão, demonstrando que a superação nos momentos difíceis vale a pena, por estarmos ao lado de quem realmente importa-se com nosso sucesso. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso nesioterapia associada aos alongamentos posturais como recurso fundamental na busca da excelência do movimento, a fim de devolver aos pacientes sua independência funcional, para um retorno breve e satisfatório das atividades da vida diária. Assim, essa pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito da cinesioterapia na recuperação funcional e qualidade de vida de voluntárias que sofreram queimaduras de membros inferiores e tiveram uma ou mais articulações acometidas. Dessa forma foi utilizado um estudo piloto para um ensaio clínico randomizado cego futuro, com uma amostra de 6 (seis) pacientes que foram alocadas aleatoriamente em dois grupos, onde as voluntárias do grupo controle seguiram o protocolo de lubrificação e massagem das áreas cicatrizadas com loção hidratante e a cinesioterapia ativa e passiva, e o grupo experimental realizou o mesmo protocolo acrescentando os alongamentos posturais. Diante o exposto foi verificado que os resultados de ambos os grupos foram satisfatórios, apesar de algumas involuções em relação à qualidade de vida, porém o grupo experimental obteve um maior êxito após o tratamento proposto. Porém, devido à escassez de pesquisas relacionadas ao tema, tornam-se necessários novos estudos que busquem aprofundar os conhecimentos na área de reabilitação do paciente queimados, após a alta hospitalar. PALAVRAS-CHAVE: MOVIMENTO; INDEPENDÊNCIA; PACIENTE; LESÃO; FISIOTERAPIA. ABSTRACT Burns are the skin lesions caused by several factors, such as heat, cold, chemicals, electricity, radiation, among others. They can be classified in burns, where only the epidermis and hit; 2ND degree burns, reaching the epidermis and dermis and 3RD degree burns, affecting the epidermis, dermis and subcutaneous screen. When the burn affects some articulation, may lead to a reduction or loss of range of motion, and consequently to the loss of functional independence of the structure affected, making the patient loses the effectiveness of the movement and limit to a gait antalgic which may take some time to be restructured. Thus, this study aimed to evaluate the effect of exercise on functional recovery and quality of life of volunteers who suffer burns of the lower limbs and had one or more joints involved. This form was used a pilot study for a randomized clinical trial blind future, with a sample of 6 (six) patients who were randomly allocated into two groups, where the volunteers in the control group followed the protocol of lubrication Conceito A 868 Recife n. 2 p.866-923 2011 KEY WORDS: MOVEMENT; INDEPENDENCE; PATIENT; INJURY; PHYSIOTHERAPY. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Postura de alongamento rã no ar................................874 Figura 2 – Postura de alongamento rã no chão ...........................875 Figura 3 – Estrutura da pele......................................................877 Figura 4 – Regra dos nove........................................................881 Figura 5 – Graus de queimadura................................................882 Figura 6 – Articulação do quadril................................................888 Figura 7 – Movimentos do quadril..............................................889 Figura 8 – Articulação do joelho.................................................891 Figura 9 – Movimentos do joelho................................................891 Figura 10 – Ossos do pé...........................................................894 LISTA DE QUADROS Quadro 1.0 – Esquema de Lund-Browder....................................881 Quadro 2.0 – Classificação dos músculos do quadril.....................890 Quadro 2.1 – Classificação dos músculos do joelho......................892 LISTA DE TABELAS Tabela 1Médias, desvio padrão e variação do grupo experimental..............902 Tabela 2 – Médias, desvio padrão e variação do grupo controle......902 Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 869 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores and massage the areas healed with body lotion and the active and passive kinesiotherapy, and the experimental group performed the same protocol by adding the stretching postural. Faced with the above has been verified that the results of both groups were satisfactory, despite some involutions in relation to the quality of life, but the experimental group had greater success after the proposed treatment. However, due to the scarcity of research related to the topic, it becomes necessary new studies that seek to develop knowledge in the area of rehabilitation of the patient with burning, after hospital discharge. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Média e variação dos escores do grupo experimental... 903 Gráfico 2 – Média e variação dos escores do grupo controle.......... 903 Gráfico 3 – Variação das médias................................................904 Gráfico 4 – Goniometria do grupo controle..................................905 Gráfico 5 – Goniometria do grupo experimental...........................906 SIGLAS MMII – Membros inferiores TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ADM – Amplitude de movimento CCF – Cadeia cinética fechada CCA – Cadeia cinética aberta SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................871 1. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................873 1.1 Procedimento do estudo.....................................................876 2. ESTRUTURA E FISIOLOGIA DA PELE.......................................877 3. EPIDEMIOLOGIA..................................................................879 4. FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA DA QUEIMADURA....................880 4.1 Processo de cicatrização das queimaduras.............................883 4.2 Formação das cicatrizes.......................................................884 5. ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES.........886 5.1 Anatomia e biomecânica do quadril.......................................887 5.2 Anatomia e biomecânica do joelho.......................................890 5.3 Anatomia e biomecânica do pé.............................................893 6. AVALIAÇÃO DO PACIENTE QUEIMADO....................................895 7. INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA.........................................897 7.1 Cinesioterapia...................................................................898 7.1.1 Cinesioterapia ativa e passiva...........................................899 7.1.2 Alongamentos................................................................900 8. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................901 9. CONCLUSÃO.......................................................................908 REFERÊNCIAS.........................................................................908 APÊNDICE A...........................................................................914 ANEXO A...............................................................................917 Conceito A 870 Recife n. 2 p.866-923 2011 A queimadura pode ser definida como uma lesão do tecido orgânico provocada por vários fatores sejam eles químicos, físicos ou biológicos. Podem ser classificadas pela profundidade da lesão, onde são divididas em quatro graus: queimaduras de primeiro grau, onde somente parte da epiderme é afetada; queimadura de segundo grau superficial, envolvendo a epiderme e parte da derme; queimadura de segundo grau profunda, onde a epiderme e toda a derme são atingidas e queimaduras de terceiro grau que atinge a epiderme, derme e a tela subcutânea (PORTH, 2004). Segundo a definição de Rey, (2003), página 105, as queimaduras são: Conjunto de lesões causadas pelo calor, corrente elétrica, radiações, substâncias cáusticas, etc., que produzem desnaturação das proteínas, edema local e perda de líquidos intravasculares por aumento da permeabilidade vascular. [...] O fogo é a causa de queimadura mais frequente em adultos, enquanto, entre crianças, são os líquidos em ebulição. Entre esses dados, as mulheres são as principais vítimas por contato frequente com substâncias aquecidas e fogo no lar. Para verificar a extensão da queimadura, utilizam-se alguns métodos rápidos, como a “regra dos nove”, onde são contabilizadas as partes do corpo em múltiplos de nove ou o gráfico de Lund e Browder, que contabiliza a superfície do corpo queimada de acordo com a idade e parte anatômica (LIMA et al, 2009). Dependendo do grau e severidade da lesão, os pacientes podem perder parcial ou totalmente a amplitude de movimento da área afetada. Em se tratando de queimaduras de membros inferiores, qualquer articulação lesionada pode impedir que o paciente realize suas atividades de vida diária com êxito (SASAKI, 2005). Para Spence (2001), apesar das queimaduras não serem consideradas como condições patológicas, elas causam graves comprometimentos para a região afetada, podendo resultar na formação de extensa área de tecido cicatricial, que além de serem desfigurantes, podem restringir os movimentos das partes lesadas. Assim verificamos que a intervenção fisioterapêutica em queimaduras Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 871 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores INTRODUÇÃO Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso é de fundamental importância, pois tem como principal objetivo diminuir as sequelas causadas pela lesão, melhorando a qualidade de vida do paciente e fazendo-o voltar às suas atividades com independência. Para isso pode-se utilizar a cinesioterapia ativa, caracterizada pela participação ativa e consciente do paciente que realizará os exercícios voluntariamente, sem auxílio do terapeuta, e dessa forma, alcançar a autonomia desejada e retornar às suas atividades de vida diária sem nenhuma restrição (CRUZ & GUIMARÃES, 2003). Segundo Hall e Brody (2007), página 01, a fisioterapia pode ser definida assim: A fisioterapia compreende o diagnóstico e o tratamento da disfunção do movimento e o aprimoramento das capacidades físicas e funcionais; restauração, manutenção e promoção de uma função física ótima, de aptidão e bem-estar ótimos e de uma qualidade de vida ótima no que se relaciona ao movimento e à saúde; e prevenção do início, dos sintomas e da progressão das deficiências, das limitações funcionais e das incapacidades que podem resultar de doenças, distúrbios, afecções ou lesões (Carrie M. Hall e Lori Thein Brody em Exercício terapêutico na busca da função, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2007, pág 1). Na busca do êxito durante o movimento, podemos então utilizar a fisioterapia como recurso fundamental para alcançar esse objetivo. O tratamento fisioterapêutico em pacientes queimados não se limita a pequenos movimentos, prevenindo dores, uma vez que se torna sensível a área afetada. Devem-se impor movimentos amplos, respeitando sempre a dor do paciente, porém, prevenindo retrações da musculatura envolvida (HEIZMANN et al, 2009). Segundo Knoplich (2000), a fisioterapia deve ser utilizada de forma global, partindo do preceito “movimento”, determinando o tratamento ao tipo de lesão acometida. Ainda segundo o autor, a cinesioterapia ativa é imprescindível na recuperação do movimento perdido, uma vez que, faz com que o paciente sinta a força que tem ou não no membro atingindo e assim buscando a melhor forma de alcançar a eficácia dos movimentos perdidos. Este estudo foi realizado a fim de verificar os efeitos da cinesioterapia, através de mobilizações passiva e ativa e do alongamento passivo, em alguns domínios da qualidade de vida e na recuperação da amplitude de movimento das diversas articulações dos MMII (membros inferiores) em razão de aderências formadas no processo de cicatrização em pacientes que sofreram queimaduras Conceito A 872 Recife n. 2 p.866-923 2011 1. MATERIAIS E MÉTODOS O atual estudo foi desenvolvido no Ambulatório de Fisioterapia do Hospital da Restauração, no período de setembro a novembro de 2011. O local do estudo fica situado na Avenida Agamenon Magalhães, s/n, bairro do Derby, RecifePE, CEP 52010-040. Este estudo faz parte do projeto “Recursos de avaliação e intervenção fisioterapêutica nos sistemas tegumentar e osteomioarticular“ com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) número 0039.0.096.000-09 e protocolo de número 072/2009. Foi realizado um estudo experimental piloto para um ensaio clínico randomizado cego futuro, onde o avaliador da primeira e última sessão foi o objeto cego da pesquisa Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – APÊNDICE A), as voluntárias foram avaliadas através da goniometria e avaliação da flexibilidade muscular da cadeia ântero-interna da pelve e da cadeia posterior dos membros inferiores e registro fotográfico e do questionário de qualidade de vida SF-36 (ANEXO A). Em seguida foram aleatoriamente alocadas em 2 grupos, um experimental e um controle. O sorteio aleatório foi realizado através de uma tabela de números randômicos, numa ordem de dois por dois, da esquerda para a direita. Ambos os grupos realizaram 10 sessões de fisioterapia numa frequência de 2 sessões semanais e duração média de 45 a 60 minutos. No grupo experimental as voluntárias foram submetidas ao seguinte protocolo: lubrificação e massagem das áreas cicatrizadas ressecadas com Saniskin (loção hidratante) durante 10 minutos, utilizando manobras de deslizamento superficial e/ou profundo; mobilização passiva das articulações Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 873 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores térmicas parciais superficiais e/ou profundas nessa região. Esta pesquisa tem por objetivo avaliar o efeito da cinesioterapia passiva e ativa associada ao alongamento passivo em mulheres, numa faixa etária entre 19 a 59 anos, que sofreram queimaduras térmicas parciais superficiais e/ou profundas em MMII, que poderá contribuir para estudos futuros que visam desenvolver técnicas que possibilitem um retorno breve e satisfatório de cada paciente nas atividades de vida diária, sem perda ou limitação de seus movimentos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso comprometidas sendo 10 repetições de cada movimento em cada articulação comprometidas; mobilização ativa livre contra a gravidade, cada movimento realizado em 3 séries de 10 repetições, com intervalos de 2 minutos entre uma série e outra; adoção das posturas de alongamento das cadeias musculares que se mostrarem retraídas ao exame físico – postura em fechamento do ângulo coxofemoral (postura rã no ar com braços fechados – FIGURA 1) e postura em abertura do ângulo coxofemoral (postura rã no chão com braços fechados – FIGURA 2). Essas posturas foram realizadas a cada sessão e mantidas durante 20 minutos seguidos. Figura 1 – Posição rã no ar com braços fechados Fonte: Marques, 2003. Conceito A 874 Recife n. 2 p.866-923 2011 No grupo controle, as voluntárias foram submetidas ao seguinte protocolo: lubrificação e massagem das áreas cicatrizadas ressecadas com Saniskin (loção hidratante) durante 10 minutos, utilizando manobras de deslizamento superficial e/ou profundo; mobilização passiva das articulações comprometidas sendo 10 repetições de cada movimento em cada articulação comprometidas e mobilização ativa livre contra a gravidade sendo cada movimento realizado em 3 séries de 10 repetições com intervalos de 2 minutos entre uma série e outra. Nesse estudo foram incluídas voluntárias do sexo feminino, na faixa etária de 19 a 59 anos que sofreram queimaduras parciais superficiais e/ou profundas de membros inferiores e perderam parcial ou totalmente a amplitude de movimento em 1 ou mais articulações. Foram excluídas as voluntárias que apresentaram amputações, deformidades osteoarticulares fixas, distúrbios psiquiátricos, disfunções neuromotoras, deficiências auditivas ou visuais. A amostra foi composta de 6 voluntárias que estavam em atendimento no Ambulatório de Fisioterapia do referido hospital e foi adquirida através de uma pesquisa no local de atendimento e pela análise de prontuários. O estudo aconteceu em quatro fases. Primeiramente foi realizada uma visita ao Ambulatório de Reabilitação do Hospital da Restauração, a fim de selecionar o número de pacientes que obedeciam aos critérios de inclusão Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 875 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Figura 2 – Postura rã no chão com braços fechados Fonte: Marques, 2003. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso supracitados, onde foram convidadas a participarem da pesquisa, e mediante a concordância, assinaram o TCLE. Ainda na primeira fase, foram recrutadas 15 pacientes que possuíam os critérios de inclusão da pesquisa, porém, durante o tratamento, somente 6 seguiram todo o protocolo até o fim. Na segunda fase, o pesquisador avaliou o grau da amplitude de movimento da articulação comprometida através da goniometria, utilizando para tal um goniômetro da marca “Carci” e através de registro fotográfico, realizado com máquina fotográfica digital da marca “Sony”; realizou a avaliação física da voluntária e aplicou o questionário de qualidade de vida SF-36. Na terceira fase, foram realizados os procedimentos terapêuticos supracitados. Ao final das 10 sessões, foi avaliada a evolução da amplitude de movimento, através da goniometria e do registro fotográfico. Na quarta fase, os dados foram comparados, analisados e apresentados através de gráficos e tabelas. A realização desta pesquisa foi efetuada pelo pesquisador em questão e com a participação da fisioterapeuta do ambulatório de reabilitação do Hospital da Restauração, propiciando maior segurança e clareza quanto aos resultados e interpretação dos mesmos. Foram utilizados livros com referências entre os anos de 1991 a 1999 por possuírem relevância teórica para o estudo em questão. 1.1 PROCEDIMENTO DO ESTUDO A pesquisa iniciou-se com a aplicação do questionário de qualidade de vida SF-36, que foi escolhido por conter perguntas que permitem respostas exatas, qualificando o estado de saúde do paciente em vários momentos, sendo divididos em domínios diferentes e por ser um questionário reconhecido e bastante utilizado no meio científico. Logo após foi aplicado o teste de goniometria, para verificar a amplitude de movimento da articulação lesionada, e em seguida foram repassados todos os exercícios às pacientes. Ao final do tratamento, todos os procedimentos foram aplicados novamente, para verificar a evolução das pacientes com os protocolos aplicados. Conceito A 876 Recife n. 2 p.866-923 2011 A pele representa cerca de 12% do peso corpóreo e é reconhecida como o maior órgão do corpo humano. É constituída por células, glândulas, terminações nervosas e vasos sanguíneos. Possui também duas camadas principais: epiderme e derme e abaixo, na porção mais profunda da pele, existe a tela subcutânea, como mostra a figura 3 (GUIRRO & GUIRRO, 2007). Figura 3 – Estrutura da pele Fonte: Guirro & Guirro, 2004. A pele é formada por um epitélio pavimentoso estratificado queratinizado, que é constituído por células mortas, onde seus núcleos e citoplasmas são substituídos por queratina, tornando a epiderme resistente ao atrito e impermeável à água (GARTNER & HIATT, 2003). A estrutura da pele varia de um local para o outro a depender de cada função específica, que incluem: proteção contra agentes externos, regulação térmica, sensações e secreção de lipídios protetores. As suas camadas são classificadas de acordo à profundidade e a função (STEVENS & LOWE, 2001). A epiderme é a camada mais superficial da pele, formada por um epitélio estratificado queratinizado e suas células principais são os queratinócitos, que produzem as queratinas. As queratinas são proteínas resistentes e impermeáveis, responsáveis pela proteção. A epiderme não é vascularizada, o que favorece a proteção contra entrada de microorganismos e está diretamente em contato com o ambiente. Como resultado da junção das camadas, as células da epiderme nutrem-se através da derme subjacente, que é bem vascularizada. Esse método Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 877 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores 2. ESTRUTURA E FISIOLOGIA DA PELE Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso é eficaz para as células mais próximas à derme, porém à medida que se tornam mais superficiais, há grande dificuldade em nutri-las, acarretando sua morte. A epiderme possui cinco camadas subjacentes: basal, espinhosa, granulosa, lúcida e córnea. A porção mais profunda da epiderme é constituída por células epiteliais que se proliferam continuamente para manter seu número (DÂNGELO & FATTINI, 2002). Para Leite (2007), a epiderme secreta proteínas e lípidos (a principal, é a queratina) que protegem contra a invasão por parasitas e a injúria mecânica e o atrito. Contra esta também é fundamental o tecido conjuntivo da derme, no qual os fibrócitos depositam proteínas fibrilares com propriedades de resistência à tração e elasticidade, como os colágenos e a elastina. A melanina produzida pelos seus melanócitos protege contra a radiação, principalmente UV. Sua quantidade em alta produz o bronzeamento da pele. A derme é uma espessa camada de tecido conjuntivo sobre a qual se apoia a epiderme, comunicando-se com a tela subcutânea. É composta por estruturas fibrosas, filamentosas e amorfas, nas qual se encontram vasos, nervos e estruturas anexas da epiderme. Sua comunicação com a epiderme é relevante para a manutenção dos dois tecidos, colaborando na junção dermoepidérmica e no processo de reparação tecidual. A derme possui três partes em sua divisão: superficial ou papilar, profunda ou reticular e advencial (AZULAY, 2008). Segundo Junqueira & Carneiro (2008), a tela subcutânea ou hipoderme é formada por um tipo de tecido que une de uma forma instável a derme e os órgãos subjacentes, chamado tecido adiposo. Completa Leite (2007) que a hipoderme é bem vascularizada pelo sangue e linfa e que possui reservas de energia que funcionam como regulador e isolante térmico, apesar de não fazer parte da pele. Completa Azulay (2008), que a pele exerce funções variadas em toda a escala de animais. Exerce funções respiratórias, proteção física, bem como atração sexual. No ser humano, a pele é o maior órgão do corpo e de grande relevância, pois tem como principal função manter um equilíbrio entre o meio externo e interno. Uma de suas principais funções é a de proteção contra agentes externos. A pele tem uma resistência aos agentes mecânicos por possuir capacidade elástica e moldável; termorregulação é a capacidade que a pele tem de colaborar na manutenção e regulação do débito circulatório; secreção, através das glândulas sudoríparas, que secretam líquido, cuja evaporação diminui a temperatura Conceito A 878 Recife n. 2 p.866-923 2011 3. EPIDEMIOLOGIA Com o constante avanço da medicina e tecnologia, foi possível reduzir a morbidade e a mortalidade ocasionada pelas queimaduras no país, porém essa taxa ainda continua alta. Apesar das estratégias de prevenção implantadas, não foi suficiente para alterar o quadro epidemiológico alarmante das queimaduras no Brasil, que chega a atingir um milhão a cada ano (GARCIA et al, 2011). Segundo Borges (2006), as queimaduras ocupam o segundo lugar mundialmente em acidentes, perdendo somente para as fraturas. Fato esse que justifica os avanços da medicina e dos estudos em busca de uma terapêutica mais eficaz para os danos causados por essa lesão. A incidência das queimaduras é frequente em crianças e idosos, principalmente do sexo masculino, constituindo aproximadamente 60%, para mais ou para menos, dos casos totais. As mulheres correspondem a aproximadamente 90% dos casos de autoextermínio com utilização do fogo (XHARDEZ, 2001). Entre as principais causas de queimaduras está o contato com substâncias aquecidas (líquidos, alimentos, etc.), responsável por 58,9% das ocorrências de queimados no Brasil e em seguida estão as queimaduras causadas por chama ou fogo (Ministério da Saúde, 2009). Completa Borges (2006) que as queimaduras elétricas ocupam também um lugar bastante expressivo no Brasil. Essas queimaduras são as que mais matam, onde na maioria dos casos, o choque se dá por alta carga e voltagem. Segundo Bandeira (2011), a incidência de pessoas vítimas de queimaduras vem aumentando a cada ano, principalmente em crianças e mulheres e motivadas por acidentes domésticos, principalmente no Brasil, onde o agente causal dessas lesões são os líquidos superaquecidos e ocorrem, principalmente, no lar. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 879 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores corporal superficial. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 4. FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO A queimadura é o efeito de uma agressão à pele e seus tecidos subjacentes, em decorrência de um processo destrutivo, que causará a necrose tissular, deixando a pele mais suscetível às infecções; ou evolutivo, manifestando-se a gravidade após algum tempo (XHARDEZ, 2001). Segundo Borges (2006), a queimadura pode ser definida como um trauma de origem térmica, com capacidade de causar diversas lesões nos tecidos, seguindo desde a hiperemia localizada, alterações imunológicas e celulares, atingindo também as vias respiratórias, podendo levar o paciente a óbito. Tendo em vista que a queimadura é uma agressão à pele, pode ser definida como lesões dos tecidos orgânicos, em virtude de traumas causados por vários tipos de agentes, sejam eles, físicos, químicos ou biológicos, podendo levar à desfiguração, à incapacidade e até à morte. Alguns parâmetros conduzem os primeiros passos na conduta a ser seguida durante o atendimento a um paciente queimado. São elas, a extensão da queimadura, profundidade e agente causador da lesão. (SILVEIRA, 2004). Entre os variados tipos de queimaduras, as mais frequentes são causadas por agentes físicos, e entre a principal causa está o fogo, apesar de serem as queimaduras produzidas pela eletricidade as responsáveis pela maioria das mutilações. Entretanto é a porcentagem da área total queimada que vai definir o grau de severidade da lesão (JORGE & DANTAS, 2005). Para verificar a extensão da queimadura, utilizam-se alguns métodos rápidos, onde são contabilizadas as partes do corpo em múltiplos de nove ou o gráfico específico, que contabiliza a superfície do corpo queimada de acordo a idade e parte anatômica (LIMA et al, 2005). Esse método rápido e prático para determinação da área queimada é nomeado “regra dos nove”, onde o corpo é dividido em segmentos que correspondem a 9% do total (Figura 4). O outro método, representado por um gráfico específico, é mais eficaz para calcular a extensão da área queimada, chamado esquema de Lund-Browder (Quadro 1.0), na qual se leva em consideração a superfície queimada de acordo com a idade (AZULAY et al, 2008). Conceito A 880 Recife n. 2 p.866-923 2011 Quadro 1.0 ESQUEMA DE LUND-BROWDER PARA CÁLCULO DA ÁREA CORPORAL (%) ÁREA 1 ANO 1 A 4 5 A 9 10 A 16 ADULTO Cabeça 19 17 13 11 7 Pescoço 2 2 2 2 2 Tronco Anterior 13 13 13 13 13 Tronco Posterior 13 13 13 13 13 Nádega Direita 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Nádega Esquerda 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Genitália 1 1 1 1 1 Braço Direito 4 4 4 4 4 Braço Esquerdo 4 4 4 4 4 Antebraço Direito 3 3 3 3 3 Antebraço Esquerdo 3 3 3 3 3 Mão Direita 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Mão Esquerda 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 Coxa Direita 5,5 6,5 8 8,5 9,5 Coxa Esquerda 5,5 6,5 8 8,5 9,5 Perna Direita 5 5 5,5 6 7 Perna Esquerda 5 5 5,5 6 7 Pé Direito 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 Pé Esquerdo 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 TOTAL Quadro 1.0 – Esquema de Lund-Browder para calcular a área corporal queimada Fonte: Xhardez, 2001. Dentre os tipos de queimaduras, pode-se ainda classificá-las a partir do grau de profundidade da lesão, assim são subdivididas em primeiro grau ou superficial, segundo grau (superficial ou profunda) e terceiro grau ou profunda Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 881 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Figura 4 – Regra dos Nove, utilizada para calcular área corporal queimada. Fonte: Azulay, 2008. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso (FIGURA 5). A depender do grau da lesão, algumas estruturas, além da pele, poderão ser acometidas, como músculos e ossos (GOMES, 1995). A B C Figura 5 – Graus de queimadura – Primeiro grau (A); Segundo grau (B); Terceiro grau (C) Fonte:http://www.wikinoticia.com/images/viviendosanos/viviendosanos.com.w p-content.uploads.2010.03.quemaduras_thumb.jpg De acordo Palhares (2009), além da relevância quanto à severidade da queimadura, a definição da profundidade é essencial para o planejamento do tratamento e prognóstico adequado a cada caso. Dessa forma pode-se subdividilas em: Queimaduras de primeiro grau ou superficial – atingindo somente a epiderme. É uma lesão eritematosa, quente e dolorosa, porém leves o edema e a hipersensibilidade. Não apresenta risco ao paciente. Exemplo: queimadura solar. Segundo Jorge & Dantas (2005), nas queimaduras superficiais o grau de destruição limita-se às camadas mais superficiais da epiderme, onde a dor é motivada pela produção de prostaglandinas, que por sua vez produz a vasodilatação, fazendo com que o tecido assuma uma característica avermelhada. Conceito A 882 Recife n. 2 p.866-923 2011 As queimaduras de terceiro grau ou profundas afetam a epiderme, derme e a tela subcutânea, podendo levar à desfiguração ou à morte, uma vez que sua profundidade pode chegar até mesmo aos ossos. A cicatrização é lenta e na maioria dos casos é necessária a enxertia de pele (PALHARES, 2009). Segundo Palermo (2008), as queimaduras de terceiro grau ocasionam pequenas dores, pois por atingirem camadas profundas do tecido, acaba por danificar as terminações nervosas, o que favorece a perda da sensibilidade da área afetada. Além disso, durante sua evolução, podem deixar cicatrizes que precisarão de fisioterapia, que agirá na retirada de lesões e aderências que impossibilitam a movimentação. 4.1 PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DAS QUEIMADURAS A habilidade de regeneração da pele, segundo Garcia et al ( 2010), depende da profundidade da lesão. Assim, lesões na epiderme e em parte da derme representam maior probabilidade à recuperação com sequelas mínimas, enquanto as queimaduras que afetam toda a derme e o tecido subcutâneo recuperam-se em longo prazo, deixando em quase todos os casos, cicatrizes hipertróficas e lesões que levam à incapacidade de movimentar-se sozinho. Após a queimadura, inicia-se um processo de reparação, e posteriormente pelo processo inflamatório, seguindo as etapas de um processo inflamatório semelhante a qualquer patologia, de forma que há uma sequência de eventos, denominados de lesão inicial, inflamação, proliferação e remodelamento (MELLO et al, 2007). Todos os tecidos do corpo humano podem sofrer estímulos que danifiquem a sua estrutura, portanto é necessário um sistema de reparo para restaurar suas funções. Durante a queimadura, o corpo segue um processo fisiológico Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 883 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Para Palhares (2009), as queimaduras de segundo grau superficial atingem a epiderme e parte da derme, caracterizando pela presença de flictenas, eritema, exsudato e dor intensa. Já as queimaduras de segundo grau profundas são aquelas que atingem a epiderme e toda a derme, causando também flictenas, eritema e exsudato, formando ou não aderência cicatricial. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso de cicatrização, com formação de fibras de colágeno, povoado de fibroblastos, no qual, após a reepitelização é chamado de cicatriz. Porém, alterações podem ocorrer durante o reparo, levando à formação de fibrose excessiva, como queloide e cicatriz hipertrófica (ISAAC et al, 2011). O processo de formação da cicatriz ocorre a fim de restaurar a estrutura anatômica e funcional do tecido em busca da sua integridade. Sendo assim, o organismo reage através de vários mecanismos complexos até a formação da cicatriz. No ser humano, uma contração pequena pode retardar o fechamento e consequentemente levar a sangramentos e infecções da ferida, visto que uma contração intensa também pode promover a formação de contraturas teciduais, acarretando disfunções e deformidades. No entanto, o processo de contração de feridas, dificilmente leva ao seu fechamento definitivo, uma vez que esse sistema deve-se principalmente à reepitelização e a formação do tecido de granulação, aonde o tecido novo irá se formar para preencher o local destruído. 4.2 FORMAÇÃO DAS CICATRIZES O processo normal de cicatrização é caracterizado pela coloração normal da pele, deixando-a linear e flexível, além de não afetar a integridade funcional e anatômica da área cometida. Já as cicatrizes patológicas, como o próprio nome diz, afetam a integridade funcional e anatômica da região lesada (FERREIRA, 2008). Para Chiari (2007), há três estágios durante o processo de cicatrização: a primeira fase, caracterizada pela inflamação e exsudato, onde seu principal objetivo é a limpeza da lesão, com a remoção dos tecidos afetados e bactérias. Seu início se dá logo após a lesão, formando uma rede de fibrina, uma proteína fibrótica que em união com as plaquetas, detém a hemorragia e pela migração de neutrófilos e linfócitos que são células de defesa, agem na proteção do corpo contra invasores que possam provocar uma lesão ainda maior. A segunda fase ou proliferativa tem por função recuperar as estruturas acometidas. Nessa fase ocorre a migração de fibroblastos, que são responsáveis pela regeneração, e consequentemente há a deposição de colágeno, que origina novos vasos, formando o tecido de granulação. E, por final, a terceira fase ou fase de maturação, Conceito A 884 Recife n. 2 p.866-923 2011 Segundo Mello et al (2007), a fase de proliferação é a responsável pela reconstrução dos tecidos, o reforço e o revestimento da ferida, formando um tecido fibroso denso (cicatriz). É no remodelamento ou maturação que esse processo continua, podendo levar meses e até anos, alternando a estrutura desse novo tecido. Os principais tipos de cicatrizes que podem formar-se após uma queimadura por produção exagerada de fibroblastos e excesso de colágenos nos tecidos são os cordões fibrosos (queloides) e cicatrizes hipertróficas. Os cordões fibrosos ou queloides são produções exageradas de fibra de colágenos e as cicatrizes hipertróficas são formadas pelo desordenamento das fibras de colágenos. Histologicamente não é possível diferenciar cicatriz hipertrófica de queloide, pois ambos os processos são compostos por tecido fibroso denso. Porém, existe uma pequena diferença entre elas: no processo de cicatrização hipertrófica, o seu limite de área corresponde somente ao do local afetado e, na maioria dos casos, regride com o tempo. Já os cordões fibrosos ou queloides podem não regredir, tomando proporção inversa, alastrando-se além da área afetada, somado a prurido e dor (BORGES, 2006). Para Xhardez (2001), a cicatriz é uma consequência de lesões severas na derme, aspecto esse deixado após a cura, resultando de fenômenos fisiológicos de reparação, constituindo um tecido com aparência densa, fibrosa e esbranquiçada, que, durante quase todo o processo de tratamento, requer o uso de vestimentas (malhas) compressivas para diminuir a espessura do mesmo. Completa ainda que a cicatriz hipertrófica pode ser distinguida da queloide, uma vez que a primeira regride a partir do oitavo mês após a lesão e estabiliza-se ao final de um ano e meio, formando uma cicatriz enrugada, pouco estética, como também menos incômoda. Ao contrário da cicatriz hipertrófica, as queloides não regridem, porém estabilizam-se, deixando o aspecto do tecido mais claro e menos sensível, necessitando de um longo tratamento. Segundo Chiari (2007), após a queimadura, já na fase final da cicatrização, nem sempre se obtém um resultado satisfatório, uma vez que, o desenvolvimento de queloides e cicatrizes hipertróficas são frequentes. Para isso, é necessário Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 885 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores que tem por objetivo formar a cicatriz, que pela ação dos fibroblastos, transforma o colágeno sintetizado do tecido de cicatrização em tecido cicatricial. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso a intervenção fisioterapêutica no intuito de regredir, estabilizar ou minimizar as cicatrizes patológicas, para que o paciente possa retomar total ou parcialmente suas atividades de vida diária sem nenhum prejuízo funcional. Além disso, a fisioterapia pode ser iniciada já na fase aguda da lesão, ainda durante a hospitalização, como forma de prevenção à perda de movimento causada pela formação de bridas. A depender da natureza da lesão e quantidade de tecido lesionado, a cicatrização pode ocorrer de diferentes formas, sejam elas de primeira ou segunda intenção. A cicatrização de primeira intenção dá-se por aproximação das bordas, com pouca quantidade de colágenos e com o tempo de recuperação reduzido. Na queimadura, o que dificulta e/ou impossibilita a aproximação das bordas é a extensão da perda cutânea e, dessa forma, ocorre a cicatrização por segunda intenção, que se define em um processo lento, com um risco de infecção alto, podendo dessa forma, produzir retração da cicatriz ou cicatrizes extensas. Além disso, vários outros fatores podem influenciar no atraso da cicatrização, como o tamanho da lesão, o suporte nutricional, a oxigenação do tecido, entre outros. Sendo assim, qualquer alteração no processo de reparação cicatricial, pode levar à cicatrizes patológicas, como cicatrizes hipertróficas, quelóides e formação de contraturas ( ANDRADE et al, 2010). 5. ANATOMIA E BIOMECÂNICA DOS MEMBROS INFERIORES Os membros inferiores são a sustentação do corpo e têm como principal função a locomoção. São compostos principalmente por ossos e músculos que agem sinergicamente no intuito de obter um único resultado: o movimento. Quando comparados aos membros superiores, os músculos dos membros inferiores são notoriamente mais fortes e volumosos. Quando ocorre qualquer lesão na articulação, esses músculos podem ser afetados, de maneira que vai impedir o êxito durante a marcha, seja por uma fratura do osso ou por uma lesão na pele, como a queimadura. Os membros inferiores possuem inúmeros músculos, sendo eles flexores, extensores, adutores e abdutores, que estão envolvidos na função de suporte, manutenção de postura e locomoção. Durante a marcha, Conceito A 886 Recife n. 2 p.866-923 2011 5.1 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DO QUADRIL A principal função da articulação do quadril é sustentar o peso da cabeça e membros superiores durante a marcha, corrida, postura ereta, além de direcionar as forças entre a pelve e os membros inferiores. A sua articulação é formada pela cabeça do fêmur com o acetábulo e é conhecida como coxofemoral o que lhe proporciona uma ampla execução de movimentos, como sentar, agachar, subir escadas e caminhar. A estrutura côncava da articulação do quadril é o acetábulo, que é composto pela fusão ísquio, ílio e púbis e a cabeça do fêmur é o componente convexo da articulação (Figura 3). Dessa forma, o colo do fêmur projeta a cabeça e a partir daí, é orientada na direção medial, superior e anterior (HALL & BRODY, 2007). Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 887 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores as articulações ativas são o quadril, o joelho e o tornozelo e quase todos os músculos dos membros inferiores têm participação no movimento. Dessa forma, é fundamental para uma boa deambulação, que tenhamos integridade dessas estruturas, não comprometendo a eficácia da marcha (SOUZA, 2001). Para um atendimento fisioterapêutico adequado, é necessário ter conhecimento suficiente de anatomia e cinesiologia, para que as disfunções expostas sejam tratadas, afim de que o objetivo do trabalho seja alcançado: devolver ao paciente toda funcionalidade osteomioarticular possível. Dessa forma, é imprescindível um estudo anatômico detalhado e profundo, para que todas as estruturas acometidas em uma lesão possam receber a restauração e recuperação adequadas (HALL & BRODY 2005). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Figura 6 - Articulação do quadril Fonte: Hall e Brody, 2007. De acordo Lippert (2003), o quadril é muito importante para a sustentação do peso. Por ser uma articulação estável, sacrifica sua amplitude de movimento. Sua articulação triaxial, permite movimento em três planos: flexão, extensão e hiperextensão, ocorrendo 120º de flexão e 15º de hiperextensão no plano sagital e a extensão que é o retorno do movimento a partir da flexão. A abdução, com 45º e a adução, sendo o retorno da abdução, apesar de conseguir realizar um adicional de 25º em relação à posição anatômica, ocorrem no plano frontal. Ainda há a rotação interna e externa, com 45º de movimento em cada direção, em relação à posição anatômica, que ocorre no plano transverso (Figura 7). Conceito A 888 Recife n. 2 p.866-923 2011 D E F C G Figura 7- Movimentos do quadril. (A) Flexão (B) Extensão (C) Hiperextensão (D) Abdução (E) Adução (F) Rotação lateral (G) Rotação medial Fonte: Lippert, 2003. Para Hall e Brody (2007), a osteocinemática que rege o quadril processase em três planos, sendo eles frontal, com abdução de 0 a 30º, e a adução é de 0 a 25º; sagital, com flexão de 0 a 135º e extensão de 0 a 15º; transversal, com rotação medial e lateral de 40º cada. Além disso, para avaliar a amplitude de movimento do quadril, deve-se levar em consideração também a posição do paciente, onde o joelho estendido exercerá uma tensão sobre os isquiotibiais, durante a flexão do quadril, levando a uma amplitude consideravelmente menor, com 90º de flexão. Deve-se atentar, também, para a estabilização da pelve ao medir a amplitude de movimento (ADM) do quadril, para que não ocorra a movimentação pélvica e lombar, levando à dados incorretos. Segundo Moore e Dalley (2001), os membros inferiores estão conectados ao tronco pelo cíngulo do membro inferior, que é formado pelos dois ossos do quadril e juntamente ao sacro formam a pelve. Alguns músculos que atuam no membro inferior originam-se do cíngulo ou da coluna vertebral. Para Lippert (2003), inúmeros músculos cruzam a articulação do quadril, proporcionando a execução dos seus movimentos para que haja a eficácia durante a realização das atividades recrutadas, como deambular, correr, entre outras. O quadril possui músculos flexores, extensores, adutores e abdutores, responsáveis pelos seus movimentos. Possui também um grupamento de músculos que fornecem a maior parte do controle e um grupamento de músculos biarticulares que proporcionam amplitude de movimento. É possível agrupá-los a depender da função e localização (Quadro 2.0). Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 889 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores B A Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso MÚSCULOS DO QUADRIL Músculos Grupo de Músculos uniarticulares Músculos Biarticulares Anterior Medial Iliopsoas Pectínio Adutor magno Adutor longo Adutor curto Glúteo máximo Rotadores profundos Posterior Lateral Reto Femoral e Sartório Grácil Semimembranáceo Semitendíneo Bíceps femoral Tensor da fáscia lata Glúteo médio Glúteo mínimo Quadro 2.0- Classificação dos músculos do quadril por localização e função Fonte: Lippert, 2003. Ao observar a musculatura que compõe o quadril, deve-se ficar atento à relação da articulação com os músculos do tronco e as funções que eles desempenham durante o movimento, por exemplo: a flexão postural do quadril pode se dar a partir do encurtamento dos flexores do quadril e músculos posteriores, juntamente ao alongamento dos músculos anteriores do tronco. Dessa forma, pode-se verificar que a musculatura do quadril age sinergicamente aos músculos e articulações do joelho, pé e tornozelo, quando trabalhados concomitantemente resulta em uma eficiente e eficaz deambulação e vice-versa (HALL & BRODY 2003). 5.2 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DO JOELHO O joelho é uma articulação trocoidea ou gínglimo, que tem como principal função amortecer os impactos sobre a cartilagem. É composto por ossos, cápsulas, ligamentos, meniscos e músculos que são responsáveis pela estabilidade da articulação (Figura 5), (SOBOTTA, 2000). Conceito A 890 Recife n. 2 p.866-923 2011 Segundo Edmond (2000), o joelho é uma articulação que se assemelha a um gínglimo angular por permitir outros tipos de movimentos, mesmo que sejam pequenos, e é composto por duas articulações principais: articulação patelofemoral, formada pela patela e fêmur, onde seus principais movimentos são extensão, flexão, deslizamento medial e lateral; e a articulação tibiofemoral, formada pela tíbia e fêmur, cujos movimentos são flexão, extensão e rotação (Figura 6). Completa Neumann (2006) que, para que haja o movimento exemplar, as articulações dos membros inferiores devem estar associadas funcionalmente, uma vez que os músculos que cruzam o joelho também cruzam o tornozelo e quadril. B A Figura 9 – Movimentos de extensão (A) e flexão (B) do joelho. Fonte: Sobotta, 2000. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 891 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Figura 8 – Articulação do joelho Fonte: Sobotta, 2000. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso A articulação do joelho resiste a todo o peso corporal e transporta as forças provenientes do solo e concomitantemente permite uma quantidade grande de movimento entre suas estruturas. Dessa forma, quando há uma lesão em qualquer parte de sua estrutura, além de sua amplitude articular acometida, pode-se perder também sua estabilidade, fazendo com que haja perda da independência funcional e consequentemente as atividades de vida diária serão prejudicadas (HAMILL e KNUTZEN, 1999). De acordo com Kapandji (2000), o joelho exerce funções biomecânicas essenciais para uma deambulação eficaz, expressando-se principalmente durante a corrida. E para que esse movimento seja executado com êxito, é necessário que sua amplitude de movimento não esteja limitada. Reforça ainda que o joelho permite 140º de flexão e a extensão é o retorno do movimento, permitindo geralmente 0º. Para Lippert (2003), a articulação do joelho permite 135º de flexão e 0 de extensão, porém, diferentemente do cotovelo, possui rotações como movimentos acessórios, o que faz dela, uma falsa articulação em gínglimo. Para que haja uma eficiente deambulação, a articulação do joelho deve estar íntegra, juntamente com os músculos que os cruzam, tanto anterior, lateral e posteriormente (QUADRO 2.1). MÚSCULOS DO JOELHO Área Anterior Posterior Músculos uniarticulares Vasto lateral Vasto medial Vasto intermédio Bíceps femoral (cabeça curta) Poplíteo Lateral Músculos biarticulares Reto femoral Bíceps femoral (cabeça longa) Semimembranáceo Semitendíneo Sartório Grácil Gastrocnênio Tensor na fáscia lata Quadro 2.1 – Classificação dos músculos do joelho por localização e função Fonte: Lippert, 2003. Conceito A 892 Recife n. 2 p.866-923 2011 5.3 ANATOMIA E BIOMECÂNICA DO PÉ Segundo Graaff (2003), os pés são adaptados para suportar todo o peso corporal, manter o nosso equilíbrio e agir mecanicamente durante a locomoção. Existem várias articulações entre os ossos do pé, formando a arcada do pé, essenciais para o movimento. Segundo Gardner (2001), o pé é formado por vários ossos, distribuídos em sete ossos do tarso (calcâneo, navicular, tálus, três cuneiformes e o cuboide); quatorze falanges, sendo três para cada dedo, exceto para o hálux que possui apenas duas; e cinco ossos do metatarso, totalizando 26 ossos. Já as articulações do pé são inúmeras, formada pela articulação superior do tornozelo, transversa do tarso, subtalar, tarsometatarsianas, metatarsofalangianas e interfalangeanas (FIGURA 10). Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 893 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Ainda segundo Lippert (2003), os músculos que cruzam a face anterior do joelho são os quadríceps, composto pelo vasto medial, vasto lateral, vasto intermédio e reto femoral, fixando-se na base patelar e na tuberosidade da tíbia pelo tendão da patela. Esses músculos são responsáveis pela extensão do joelho, já que sobrepõem ao joelho anteriormente. Além disso, flexiona o quadril porque o reto femoral estende-se sobre ele. Já os músculos que cruzam posteriormente o quadril, conhecidos como jarrete e é composto pelo semitendíneo, semimembranáceo e bíceps femoral, além dele o poplíteo e o gastrocnêmio, este último auxilia também na extensão do joelho quando há diminuição da função do quadríceps, como manter-se em posição ereta, em pé. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Figura 10 – Ossos do pé Fonte: Gardner, 2001. Completa Netter (2003) que é a musculatura do pé a responsável pelos seus movimentos, assim é formada por músculos intrínsecos e extrínsecos do pé. Os músculos extrínsecos originam-se abaixo do joelho e inserem-se no pé, sendo responsáveis pelos movimentos de dorsiflexão, quando o dorso do pé aproxima-se da parte anterior da perna; plantiflexão, acontece quando o pé tenta alinhar-se com a perna, elevando o calcanhar do chão; inversão que é o movimento no qual a borda medial do pé encaminha-se em direção a parte medial da perna; e eversão do pé, onde a borda lateral do pé dirige-se à borda lateral da perna. Além disso, auxilia na movimentação dos artelhos. Já os intrínsecos originam-se abaixo da região do tornozelo e podem ser encontrados na região plantar ou dorsal do pé, sendo responsáveis pela movimentação dos artelhos. Para Calais-Germain e Lamotte (1991), o tornozelo representa o local onde se unem o plano vertical do corpo e o horizontal do pé, formando várias articulações fundamentais durante a marcha. Braga (2008) completa que o tornozelo possui três articulações, sendo elas a articulação talocrural, formada pelo tálus e tíbia. Segundo Marques (2003), esta articulação permite de 0 a 20º de flexão dorsal e de 0 a 45º de flexão plantar; articulação subtalar, compondo-a o tálus e o calcâneo e a articulação tibiofibular, formada pela tíbia e fíbula. Os Conceito A 894 Recife n. 2 p.866-923 2011 Conforme Marques (2003), o pé consegue realizar até 40º de inversão e até 20º de eversão. Posteriormente as articulações metatarsofalangianas realizam 40º de flexão (2º ao 5º dedo) e 45º de flexão (hálux); as extensões dos dedos permitem até 45º (2º ao 5º dedo) e até 90º (hálux). Finalizando, as articulações interfalangianas realizam de 0 a 90º (1º dedo); as interfalangianas proximais de 0 a 35º (2º ao 5º dedo) e as interfalangianas distais (2º ao 5º dedo) realizam de 0 a 60º. 6. AVALIAÇÃO DO PACIENTE QUEIMADO A sobrevivência do paciente queimado sempre foi vista como um grande avanço devido ao alto índice de mortalidade e complexidade dos tratamentos e cuidados exigidos. Existem muitos recursos disponíveis que podem atuar como coadjuvantes e ajudar a amenizar as complicações decorrentes das queimaduras. Assim, a avaliação semiológica será extremamente relevante para elaboração do protocolo de tratamento de um paciente queimado. Cada uma das diferentes classificações das queimaduras apresentará um quadro clínico diferente e cada uma mudará dramaticamente o curso do tratamento. Além da quantidade tissular decorrente diretamente da queimadura, o estado metabólico do paciente, suas condições fisiológicas, grau de infecção, enfoque psicológico, os movimentos motores, todos irão interagir, exercendo impacto sobre o estado clínico, que devem ser analisados cuidadosamente pelo fisioterapeuta (SASAKI, 2005). A extensão e a localização da queimadura têm influência direta na a reabilitação do paciente queimado, pois quanto maior a área queimada, maior será a possibilidade de evolução para a perda das funções motoras. Será de extrema importância a avaliação frequente da amplitude de movimento Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 895 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores movimentos permitidos nessa articulação são a dorsiflexão, plantiflexão, eversão e inversão, sendo o tibial anterior e extensor longo dos dedos, gastrocnêmio e sóleo, extensor longo dos dedos e fibular longo e curto e tibial anterior e posterior, os músculos responsáveis por esses movimentos, respectivamente. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso articular e da força muscular, pois irão atuar na prevenção das deformidades, complicações e retrações osteoarticulares. Os exercícios propostos através da avaliação motora estimulam precocemente a coordenação, o controle do tronco, equilíbrio e marcha, buscando sempre alcançar um nível funcional elevado, que proporcione melhor qualidade de vida e um retorno satisfatório às atividades de vida diária (GOBBI & CAVALHEIRO, 2009). Conforme Rocha et al (2010), para iniciar um tratamento é necessário que o fisioterapeuta conheça profundamente o paciente que irá atender. Dessa forma é fundamental uma avaliação, a fim de obter dados relevantes para o desenvolvimento eficaz do tratamento. Por isso, o questionário de avaliação deve conter: • Cabeçalho com identificação pessoal e profissional; • Identificação do acidente, como data, local, tipo de acidente, agente causador da lesão; • Identificação da área queimada, tipo, profundidade da queimadura – para poder traçar um protocolo adequado a cada paciente; • Características da lesão, como cor, espessura; • Sintomatologia, como dor, flictenas; • Problemas associados, como fraturas, alterações vasculares; • Aspectos funcionais, como limitação articular e postural; • Avaliação do estado emocional do paciente; • Programa de tratamento e evolução. Completa Guirro e Guirro (2007), que a avaliação do estado psicológico é fundamental durante o tratamento, pois influenciará nas respostas que o paciente terá durante os exercícios, facilitando ou dificultando a relação terapeutapaciente. Para Gobbi e Cavalheiro (2009), a avaliação é primordial para traçar um procedimento fisioterapêutico eficaz e adequado para cada caso de queimadura. Conceito A 896 Recife n. 2 p.866-923 2011 7. INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA É relevante e imprescindível uma terapêutica específica para cada caso de queimadura, variando do grau de comprometimento da pele e do tipo de lesão, sendo assim necessária a inclusão de alongamentos, ganho de força muscular e principalmente propriocepção, dando ênfase principalmente às articulações que perderam ou diminuíram sua amplitude de movimento, para que assim, seja possível a reversão do quadro, melhora da qualidade de vida desses pacientes e retorno às atividades de vida diária sem limitações (MILANI et al, 2006). Para uma terapêutica eficaz, faz-se necessário elaborar um plano de tratamento individualizado, com acompanhamento de até dois anos decorridos da lesão. Em primeiro lugar, é feita a identificação do paciente, seguindo-se da localização e avaliação da qualidade do tecido cicatricial, das limitações articulares e funcionais e posteriormente é traçado o plano de conduta para tratamento das cicatrizes e limitações funcionais provocadas por elas. Para os casos mais simples, os pacientes são orientados a praticarem exercícios domiciliares. É de fundamental importância acompanhar o tratamento, como forma de monitoramento e manutenção do programa estabelecido, como também orientá-los quanto ao uso de vestes compressivas, hidratação das cicatrizes e massoterapia (FERREIRA, 2008). Dependendo da severidade e grau da queimadura, o paciente pode perder parcial ou totalmente os movimentos das articulações e, consequentemente, minimizar sua amplitude de movimento. Na queimadura, a fisioterapia exerce uma função, além da reabilitação, após a alta hospitalar, exercendo também um papel preventivo, quando iniciada precocemente. Apesar de ser dolorosa para o queimado, a fisioterapia é de fundamental importância logo após a lesão, pois, quando realizada precocemente, aumenta a probabilidade de recuperação de todos os movimentos articulares ou manutenção da amplitude de movimento. A Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 897 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores São diversos tipo de lesões provocadas na pele e dessa forma, cada avaliação deve ser única e exclusiva do paciente, no intuito de obter um resultado satisfatório. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso deambulação deve ser incentivada constantemente, priorizando os exercícios de propriocepção inicialmente (XHARDEZ, 2001). Após a alta hospitalar, o fisioterapeuta deve realizar condutas que visam à melhora da amplitude de movimento, força e resistência muscular, para que o paciente possa readquirir suas funções e proporcionar o retorno mais breve possível das suas atividades de vida diária, com independência e eficácia (COELHO et al, 2008). A amplitude de movimento refere-se à direção e a distância natural do número de grau de movimento de uma articulação. Quando há acometimento de uma determinada estrutura, principalmente da musculatura e osso, como exemplo o encurtamento dos tecidos moles, há uma diminuição da amplitude de movimento. Na queimadura de membros inferiores, a amplitude de movimento que pode ser limitada é da articulação do quadril, joelho e tornozelo. A combinação de todas as articulações dos membros inferiores resulta numa boa e eficaz deambulação (KENDALL, 2007). Segundo Kisner e Colby (2005), a amplitude de movimento é o movimento completo possível, utilizado como técnica primordial para avaliação e elaboração do tratamento cinesioterapêutico. O encurtamento progressivo dos tecidos moles resulta quando há uma redução da força ou perda da elasticidade por posicionamento inadequado em postura de encurtamento. É através desse encurtamento que a mobilidade e a função são limitadas, reduzindo a capacidade do paciente em realizar suas atividades de vida diária. Dessa forma, é fundamental a cinesioterapia, principalmente para manter uma boa mobilidade da articulação no paciente com queimadura e aumentar a amplitude de movimento, para que ele possa retornar o mais breve possível às suas atividades cotidianas (HALL & BRODY, 2007). Segundo Hoizmann (2009), as instruções repassadas aos pacientes são imprescindíveis para a eficácia de um longo tratamento. Dessa forma, é necessário que o fisioterapeuta instrua seus pacientes para que continue as atividades também em casa, reforçando os objetivos fisioterapêuticos propostos. 7.1 CINESIOTERAPIA A cinesioterapia vai exercer um papel importante na recuperação do paciente que Conceito A 898 Recife n. 2 p.866-923 2011 7.1.1 CINESIOTERAPIA ATIVA E PASSIVA A cinesioterapia ativa, segundo Palermo (2008), dá-se quando o paciente executa o movimento sem auxílio do terapeuta. Caracteriza-se pela participação ativa e consciente do paciente, que irá executar os movimentos voluntariamente, buscando reequilibrar as forças mecânicas que foram comprometidas, proporcionando melhor qualidade do movimento, e consequentemente, melhor qualidade de vida. Os exercícios e a participação ativa do paciente em atividades funcionais da vida diária são a combinação certa para êxito no tratamento, prevenindo Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 899 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores sofreu queimadura de membros inferiores, pois ajudará a manter ou recuperar a amplitude total articular afetada, prevenindo retrações e encurtamentos da musculatura envolvida; manter ou recuperar movimentos funcionais e reduzir edemas (GOMES, 1995). Atrelada à cinesioterapia está o tipo de cadeia cinética a utilizar: cadeia cinética aberta (CCA) ou cadeia cinética fechada (CCF). Apesar de ser a CCA a categoria mais empregada, ambas oferecem vantagens e desvantagens, a depender do objetivo do tratamento (O’SULLIVAN & SCHMITZ, 2004). As cadeias cinéticas abertas e fechadas possuem características comuns entre elas, a interdependência do movimento articular, o que permite aos músculos realizarem suas funções de acordo com o exercício exigido (HALL & BRODY, 2007). Quanto à cinesioterapia, podemos classificá-la em ativa e passiva, onde haverá ou não a participação do fisioterapeuta na realização dos movimentos; a cinesioterapia ativa pode ser subdividida em ativa, ativa assistida e ativa resistida; a cinesioterapia passiva é uma técnica utilizada quando o paciente não consegue executar os movimentos sozinhos, e dessa forma há a intervenção do fisioterapeuta. Ambas possuem a função de impedir a rigidez articular, o encurtamento e retração muscular, além de auxiliar no retorno venoso e linfático e manter os padrões de movimentos (GOMES, 1995). Segundo Masseli (2008), a cinesioterapia definida como terapia do movimento, é o treinamento planejado e sistemático dos movimentos corporais com intenção de tratar ou prevenir o comprometimento de uma determinada estrutura; melhorar e aumentar a função física e aperfeiçoar o estado de saúde. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso ou minimizando as contraturas, fortalecendo a musculatura, favorecendo a amplitude de movimento (ADM) e permitindo um maior e melhor resultado durante a reabilitação. É necessária a educação precoce e constante do paciente para que possa entender e ajudar no processo de recuperação da funcionalidade dos membros afetados (O’SULLIVAN & SCHMITZ, 2004). Segundo Cruz e Guimarães (2003), a cinesioterapia ativa pode ser dividida em ativa livre, assistida e resistida. Em se tratando de cinesioterapia ativa livre, o paciente realiza a ação sem auxílio algum do terapeuta. A cinesioterapia ativa assistida é definida como o exercício realizado pelo paciente com ajuda do terapeuta que o auxilia na finalização do movimento, quando este não consegue completar o arco do movimento imposto. Já a cinesioterapia ativa resistida se dá quando o terapeuta coloca qualquer tipo de força contrária ao movimento proposto, realizado pelo paciente. Para Moreira e Alves (2009), a cinesioterapia ativa tem como função manter a mobilidade articular (melhorar a amplitude de movimento), ganhar tônus e força muscular, melhorar a coordenação motora, além de melhorar o retorno venoso, circulação sanguínea periférica e oxigenação tecidual pelas diversas gamas de movimentos possíveis, independente do tipo e recurso utilizado. A cinesioterapia passiva, no entanto, também é imprescindível durante as atividades propostas em uma intervenção fisioterapêutica. Apesar de a cinesioterapia ativa ser a alternativa mais adotada pelos terapeutas, faz-se necessário também o uso da cinesioterapia passiva como recurso para pacientes que não conseguem realizar livremente os movimentos. Dessa forma, podemos definir a cinesioterapia passiva como movimentos realizados pelo terapeuta, quando o paciente está impossibilitado de executá-los sozinho (MOREIRA & ALVES, 2009). 7.1.2 ALONGAMENTOS Os alongamentos são exercícios utilizados no intuito de promover o estiramento das fibras musculares e, dessa forma, aumentar o seu comprimento. O movimento principal de um alongamento está associado ao aumento da flexibilidade da cadeia muscular em questão, promovendo assim a maior amplitude de movimento possível da articulação envolvida, pois, quanto mais alongada estiver a musculatura, maior é a amplitude de movimento da articulação que o Conceito A 900 Recife n. 2 p.866-923 2011 8. RESULTADOS E DISCUSSÃO O teste SF-36 teve seus escores (raw scales) revisados e calculados para os grupos “experimental” e “controle”. Nos dois grupos, foram calculadas as estatísticas relevantes para todos os domínios. Para os pacientes, foi extraído o Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 901 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores mesmo coordena e assim, também, será maior sua flexibilidade (FERREIRA, 2008). Para aumentar a amplitude de movimento das articulações dos membros inferiores é necessário utilizar a cinesioterapia como base precursora. Dessa forma, os alongamentos da musculatura envolvida no processo serão indispensáveis para que esse objetivo seja alcançado. Existem vários tipos de alongamentos das cadeias musculares, sendo adotadas àqueles que mais se encaixam com o perfil da articulação lesionada. Além dos alongamentos padrões, existem outros que são utilizados em técnicas de reeducação postural global que são muito eficazes, como a postura em fechamento do ângulo coxofemoral, sendo classificada em Postura rã no ar, Postura sentada e Postura em pé - inclinada para frente. Além dessas, há também como a abertura do ângulo coxofemoral, que é classificada em Postura rã no chão e Postura em pé. Essas posturas são indicadas para trabalharem a cadeia posterior dos membros inferiores, a cadeia anterior e algumas trabalham também a cadeia posterior do tronco (MARQUES, 2003). Para Cruz e Guimarães (2003), a postura escolhida como forma de alongamento deve levar em consideração o grupo muscular encurtado. Além de respeitar a ampla diversidade de situações, deve-se levar em conta também a patologia a ser tratada, respeitando sempre o limite de dor de cada paciente. Completa também que os alongamentos são essenciais antes de qualquer exercício, porém, deve-se levar em consideração a faixa etária, o tipo de patologia e principalmente se está sendo executado da maneira correta. A associação dos alongamentos aos exercícios ativos ou passivos remete à grande resultados, quando comparados às atividades em que somente uma das opções é seguida. Na fisioterapia, os dois exercícios são utilizados e recomendados, principalmente quando há diminuição da amplitude de movimento de uma articulação (HALL & BRODY, 2007). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso GRUPO EXPERIMENTAL ESCORES escore total que é a soma de todos os domínios individuais; a média dos domínios Variação de cada um; o desvio padrão de cada um e a variação entre as médias dosGrupo Início Média Desvio P Após Média Desvio P Experimental escores de cada paciente. Também foi calculado o desempenho dos pacientes em cada1 domínio o pré- teste e o pósteste (fim) por meio18,10 do Paciente 353,50 e entre 44,19 34,73 (início) 417,50 52,19 35,90 Pacientede 3 variação, 342,50 como 42,81mostra 32,72 303,00 -11,53 cálculo as tabelas 1 e 2 e o37,88 gráfico 1, 29,95 2 e 3 do grupo Paciente 6 119,50 14,94 15,21 438,50 54,81 28,75 266,95 experimental e controle, respectivamente. TOTAL 815,50 101,94 82,66 1159,00 144,88 94,60 42,12 MÉDIA 33,98 48,29 31,53 42,12 DP 16,50489 9,116077 Tabelas 1 – mostra as médias, desvio padrão (DP) e variações do grupo experimental, antes e após o tratamento proposto. GRUPO CONTROLE ESCORES Início Paciente 2 Paciente 4 Paciente 5 TOTAL MÉDIA DP Média 455,00 318,00 173,50 946,50 Desvio P 56,88 39,75 21,69 118,31 39,44 17,59583 Após Média 28,94 26,86 21,68 77,47 536,50 363,50 291,50 1191,50 Desvio P 67,06 45,44 36,44 148,94 49,65 15,74024 Variação Grupo Controle 17,91 14,31 68,01 25,88 25,88 30,67 28,73 23,89 83,29 27,76 Tabelas 2 – mostram as médias, desvio padrão (DP) e variações do grupo experimental e controle, antes e após o tratamento proposto. Conceito A 902 Recife n. 2 p.866-923 2011 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Gráfico 1 – Média e variação resumida dos escores do grupo experimental. Gráfico 2 – Média e variação resumida dos escores do grupo controle. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 903 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Gráfico 3 – Comparativo das variações das médias emtre os dois grupos. Foi utilizado também o nível de significância de 5% (0,05) para definir o risco de não haver evolução das pacientes após o tratamento (hipótese falsa). E para o objetivo do trabalho, que é o estudo comparativo entre os dois momentos (pré e pós- tratamento), foi utilizado o método de comparação de médias pelo teste “t” de Student, que revela a significância estatística do trabalho e a aceitação ou não da hipótese formulada. Para isso, foram utilizados os softwares Stata 5 e SAEG, para modelagem e ajuste dos dados. Durante esta pesquisa, foi visto que os recursos fisioterapêuticos utilizados na reabilitação de pacientes queimados abrangem uma ampla categoria, porém, poucos são os estudos realizados a respeito da fisioterapia ambulatorial. Pesquisas mostram que a fisioterapia é bastante utilizada em pacientes ainda acamados, principalmente, em enfermarias, utilizando, geralmente, técnicas respiratórias, o que também é de extrema importância. No entanto, poucos são os estudos que buscam analisar e explorar a importância da fisioterapia após a alta hospitalar. Neste estudo foi visto que os resultados dos exercícios propostos às Conceito A 904 Recife n. 2 p.866-923 2011 Gráfico 4 – resultados goniométricos do grupo controle, antes e após o tratamento, com suas respectivas variações. Os resultados do grupo experimental também foram satisfatórios, visto que as pacientes responderam bem aos exercícios propostos. Porém, as variações do grupo experimental foram maiores quando comparada ao grupo controle. Os resultados das pacientes 3 e 6 assemelham-se aos resultados da paciente 4 do grupo controle, onde os dados goniométricos do movimento de extensão do joelho, refere-se ao retorno do joelho à posição neutra, como mostra o gráfico 5 abaixo. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 905 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores pacientes foram satisfatórios em algumas categorias e insuficientes em outras. Na avaliação da goniometria, percebeu-se que as pacientes responderam bem aos exercícios propostos, aumentando o grau da amplitude de movimento em quase todas as articulações acometidas. As pacientes que compunham o grupo controle tiveram variações diferentes, satisfatórias e diversas, como mostra o gráfico 4 abaixo. No resultado da paciente 4, o movimento de “extensão do joelho” refere-se ao potencial máximo de extensão em relação aos graus de flexão, ou seja, ao retorno do joelho à posição neutra (extensão). Assim, a paciente 4 havia inicialmente 5º (cinco graus) para completar a extensão máxima, e ao final do tratamento, somente 4º (quatro graus). Isso implicou na variação negativa, uma vez que a paciente diminuiu os graus de amplitude de movimento. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Gráfico 5 – resultados goniométricos do grupo experimental, antes e após o tratamento, com suas respectivas variações. Para Lateur et al (2007), a utilização de técnicas de reabilitação em pacientes que sofreram queimaduras é de fundamental importância para que as mesmas voltem às suas atividades de vida diárias normais. No entanto ressalta que também é muito relevante que os exercícios de reabilitação estejam associados às atividades físicas, como complemento do trabalho ambulatorial, favorecendo assim a musculatura envolvida, que possivelmente perdeu força e tônus, pela inatividade durante o tempo acamado, melhorando também a amplitude de movimento das articulações acometidas pelas cicatrizes hipertróficas e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Já Esselman (2007), defende que as queimaduras resultam em complicações físicas e psicológicas, que requerem tratamento de reabilitação abrangente e multidisciplinar, uma vez que a aparência física e a limitação funcional são barreiras significativas para a reintegração dessas pessoas à sociedade, e em quase todos os casos, partindo o preconceito do próprio paciente queimado, que não aceita sua condição. Ambos autores concordam que há poucos estudos sobre a eficiência da reabilitação em pacientes que sofreram queimaduras. Em seus estudos comprovaram que as queimaduras ocupam a quinta colocação em causas de Conceito A 906 Recife n. 2 p.866-923 2011 Lateur et al (2007), em um de seus estudos viu que a fisioterapia, associada a atividades físicas aeróbicas, diminuiu significativamente a probabilidade de uma nova cirurgia para liberar as contraturas provocadas pelas cicatrizes hipertróficas. Viu também que houve um grande avanço em pacientes que seguiram somente o programa de reabilitação padrão, sem atividades físicas, porém, o ganho de amplitude de movimento, o sentimento de bem estar e a força muscular foram mais satisfatórios em pacientes que seguiram o protocolo de fisioterapia associada à atividades físicas aeróbicas. Neste estudo foi visto que houve evolução, tanto no grupo controle, quanto no grupo experimental, uma vez que os resultados do grupo experimental foram mais satisfatórios. No grupo experimental, o teste Sf-36 revelou clara evolução de rendimento das pacientes, apesar de uma leve involução da paciente nº 3, a diferença entre as médias nos dois testes foi de 42,12%. Já o grupo controle obteve as maiores médias, porém com variação menor. Assim, pode-se afirmar seguramente que estatisticamente os resultados advindos da aplicação do teste SF-36, revelam aumento dos escores dos pacientes no pós-teste, ou seja, o resultado foi positivo para os dois grupos. Porém, devido ao número de amostras insuficientes, não é possível dizer se há prevalência da idade nos resultados obtidos nos teste, mas pode-se afirmar que essa prevalência existe de forma geral e abrangente. Assim, pode-se afirmar que os procedimentos realizados pelo grupo experimental foram mais satisfatórios quando comparados ao grupo controle, no que diz respeito à recuperação funcional, ressaltando a importância da cinesioterapia ativa e passiva associada a alongamentos das musculaturas envolvidas no processo de recuperação da amplitude de movimento. Houve melhora na qualidade de vida dessas pacientes, uma vez que afirmaram ter retornado às atividades da vida social que anteriormente haviam perdido, por vergonha, preconceito ou limitação funcional. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 907 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores morte que mais matam jovens em todo o país (ESSELMAN, 2007; LATEUR et al, 2007). Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 9. CONCLUSÃO Ao final do estudo foi verificado que os resultados da fisioterapia nessas pacientes foram satisfatórios, uma vez que as voluntárias de ambos os grupos evoluíram bem, tanto em relação ao fator psicológico, quanto ao funcional, sugerindo assim que, as técnicas empregadas são importantes em um protocolo de atendimento em pacientes queimados. Assim, pôde-se verificar, através das análises dos dados obtidos, o efeito da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida dessas pacientes, uma vez que houve evolução significativa da maioria delas, em especial nas voluntárias do grupo experimental. O presente estudo sugere, então, que a associação dos exercícios ativos com as posturas de alongamento em cadeia cinética fechada são mais eficazes na recuperação funcional dessas lesões, entretanto, o pequeno tamanho da amostra não nos permite generalizar tais resultados. No entanto fazem-se necessárias novas pesquisas científicas que busquem comprovar a melhora da qualidade de vida de pacientes queimados, utilizando a fisioterapia como precursora, uma vez que poucos foram os estudos realizados com este fim. REFERÊNCIAS ANDRADE, A. G; LIMA, C. F; ALBUQUERQUE, A. K. Efeito do laser terapêutico no processo de cicatrização das queimaduras: uma revisão bibliográfica. Recife-PE, 2010. AZULAY, R.D. Dermatologia. Quinta edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Conceito A 908 Recife n. 2 p.866-923 2011 BORGES, F.S. Dermato-Funcional – Modalidades Terapêuticas nas Disfunções Estéticas. São Paulo: Phorte, 2006. BRAGA, R. V. Anatomia do Joelho e tornozelo. 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A pesquisadora responsável é a professora Shirley Maria Santos Mergulhão e Cláudia Fônseca de Lima e o pesquisador auxiliar é: Bruna Loyse Ferreira Lopes. Se decidir participar da mesma, é importante que leia as informações a seguir sobre a pesquisa e o seu papel enquanto participante dela. Neste momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a Instituição. No caso de você decidir retirar-se do estudo, deverá notificar ao profissional e/ou pesquisador que o esteja atendendo. Caso queira participar da pesquisa é preciso entender a natureza e os riscos da sua participação e dar aqui o seu consentimento livre e esclarecido, passando a assinar este termo. 2) OBJETIVO Este estudo pretende analisar o efeito da cinesioterapia em mulheres que sofreram queimaduras de membros inferiores e verificar a melhora funcional e da qualidade de vida após as sessões de fisioterapia. 3) PROCEDIMENTODO ESTUDO Se concordar em participar deste estudo, na fase inicial, primeiro dia, será aplicado um questionário de Qualidade de Vida, constituído das seguintes subcategorias do conceito de saúde: funcionamento físico, funcionamento social, dor corporal, vitalidade, papel emocional e físico na vida, saúde geral e saúde mental. No segundo dia serão realizadas a segunda e terceira etapas. Na segunda etapa serão realizadas a avaliação do tipo de alteração que será tratada e preenchimento da ficha de avaliação específica. Na etapa seguinte serão realizadas avaliações osteomusculares e postural de forma global. Na quarta etapa (5 a 10 sessões) da pesquisa, será realizada uma abordagem com técnicas fisioterapêuticas (cinesioterapia) pertinentes a patologia em foco. E, na etapa final, último dia da pesquisa serão realizadas reavaliações através dos parâmetros supracitados e a verificação do grau de satisfação em relação aos resultados. O tempo para cada procedimento não excederá o período de uma Conceito A 914 Recife n. 2 p.866-923 2011 4) RISCOS, DESCONFORTOS, INCOVENIÊNCIA E INCÔMODOS. A metodologia adotada apresenta mínimo risco, devido ao incômodo dos voluntários serem abordados por pessoas desconhecidas, para responder os questionários da pesquisa, e por participarem de programas terapêuticos. As possíveis dificuldades encontradas estarão relacionadas com a abstenção dos pacientes nas datas pré-estabelecidas para a realização do tratamento ou pela desistência dos mesmos durante quaisquer das fases estabelecidas na metodologia, o que pode acarretar atrasos no cumprimento das metas previamente traçadas. 5) DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS. Os resultados obtidos serão repassados para os participantes da pesquisa através de palestras educacionais, orientações sobre a patologia estudada, além da entrega de panfletos educativos, se possível. 6) RELEVÂNCIA DA PESQUISA. A importância da pesquisa reside no fato de que o presente estudo objetiva contribuir através de suas conclusões na importância de protocolos de avaliação para que se realize uma abordagem terapêutica mais específica para pacientes queimados. 7) CARÁTER CONFIDENCIAL DOS REGISTROS. Todas as informações obtidas mediante sua participação neste estudo não poderão ser mantidas em estrita confidencialidade, pois, algumas delas podem vir a ser solicitadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa que aprovou o projeto deste trabalho. Você não será identificado quando o conteúdo de suas informações for utilizado, seja para propósitos de publicação científica ou educativa. Os dados a serem publicados serão impessoais e integrados ao conjunto daqueles dos demais voluntários da pesquisa. Sua identidade e seus dados de caráter pessoal específico, em tudo que depender da pesquisadora dentro do respeito à Lei, serão mantidos em absoluto sigilo. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 915 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores hora, tempo relativo a uma sessão de fisioterapia. Não haverá a necessidade do seu deslocamento, todos os procedimentos serão realizados no Hospital da Restauração de Pernambuco. Os dados serão arquivados junto ao pesquisador responsável por um período de cinco anos. Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso 8) PARA OBTER INFORMAÇÕES ADICIONAIS. Você como pessoa convidada a participar desta pesquisa, tem plena liberdade para aceitar participar ou recusar-se a participar da mesma. Tem o direito de continuar até o final da coleta de dados ou desistir de sua participação a qualquer momento. Caso você venha a ter algum problema diretamente ligado a esta pesquisa, ou tenha mais perguntas sobre a mesma, pode entrar em contato com a professora Shirley Maria Santos Mergulhão ou Cláudia Fônseca de Lima, que são as pesquisadoras responsáveis por esta pesquisa, cujo endereço eletrônico são [email protected] e [email protected], respectivamente. DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de assinar este Termo de Consentimento. Declaro que fui informada sobre o objetivo, os métodos e procedimentos da pesquisa, as inconveniências, riscos, benefícios da mesma. Por isso coloco minha assinatura ao final deste documento, logo a seguir. Declaro também que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia desse formulário de consentimento. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem perda de benefícios ou qualquer outra penalidade na relação com os pesquisadores. Dou o meu consentimento de livre e espontânea vontade e sem reservas, para participar como voluntária dessa pesquisa. Nome da Entrevistada Assinatura Local/Data Nome da Testemunha Assinatura Local/Data Conceito A 916 Recife n. 2 p.866-923 2011 1- Em geral você diria que sua saúde é: Excelente Muito Boa 5.0 4.4 Boa Ruim Muito Ruim 3.4 2.0 1.0 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores ANEXO A Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida -SF-36 Nome:__________________________________________________________ _____ Idade: _______ Sexo: ________ Função exercida no trabalho: _______________________________________ __________ Há quanto tempo exerce essa função: ___________________ Instruções: Esta pesquisa questiona você sobre sua saúde. Estas informações nos manterão informados de como você se sente e quão bem você é capaz de fazer atividades de vida diária. Responda cada questão marcando a resposta como indicado. Caso você esteja inseguro em como responder, por favor, tente responder o melhor que puder. 2- Comparada há um ano, como você classificaria sua saúde em geral, agora? Muito Melhor Um Pouco Melhor Quase a mesma Um Pouco Muito Pior Pior 1 2 3 4 5 3- Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia comum. Devido à sua saúde, você teria dificuldade para fazer estas atividades? Neste caso, quando? Atividades a) Atividades vigorosas, que exigem muito esforço, tais como correr, levantar objetos pesados, participar em esportes árduos. Conceito A Recife n. 2 Sim, dificulta muito Sim, dificulta um pouco Não, não dificulta de modo algum 1 2 3 p.866-923 2011 917 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso b) Atividades moderadas, tais como mover uma mesa, passar aspirador de pó, jogar bola, varrer a casa. 1 2 3 c) Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3 d) Subir vários lances de escada 1 2 3 e)Subir um lance de escada 1 2 3 f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrarse g) Andar mais de 1 quilômetro 1 2 3 1 2 3 h) Andar vários quarteirões 1 2 3 i) Andar um quarteirão 1 2 3 j) tomar banho ou vestir-se 1 2 3 4- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou com alguma atividade regular, como consequência de sua saúde física? a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou outras atividades? b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? Sim 1 Não 2 1 2 1 1 2 2 c) Esteve limitada no seu trabalho ou a outras atividades? d) Teve dificuldades de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. exe. Necessitou de um esforço extra) 5- Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou outra atividade regular diária, como consequência de algum problema emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)? Sim Não 1 2 1 2 a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou outras atividades? b) Realizou menos tarefas do que gostaria? Conceito A 918 Recife n. 2 p.866-923 2011 1 2 6- Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família, amigos ou em grupo? De forma alguma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente 5 4 3 2 1 7- Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas? Nenhuma Muito leve Leve Moderada Grave 6.0 5.4 4.2 3.1 Muito Grave 2.0 1.0 Interpretação para pontuar: A resposta da questão 8 depende da nota da questão 7. Se 7 = 1 e se 8 = 1, o valor da questão é = 6 Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 1, o valor da questão é (5) Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 2, o valor da questão é (4) Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 3, o valor da questão é (3) Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 4, o valor da questão é (2) Se 7 = 2 à 6 e se 8 = 3, o valor da questão é (1) Se a questão 7 não for respondida, o escore da questão 8 passa a ser o seguinte: Se a resposta for (1), a pontuação será (6); Se a resposta for (2), a pontuação será (4.75) Se a resposta for (3), a pontuação será (3.5) Se a resposta for (4), a pontuação será (2.25) Se a resposta for (5), a pontuação será (1.0) 8- Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal (incluindo o trabalho dentro de casa)? De Maneira alguma Um pouco 1 2 3 Bastante Extremamente 4 5 9- Para cada questão abaixo, por favor, dê uma resposta que mais se aproxime da maneira como você se sente, em relação as última 4 semanas. Conceito A Recife n. 2 p.866-923 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores c) Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto cuidado que geralmente faz. 2011 919 Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso Todo tempo A maior parte do tempo Uma boa parte do tempo 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 d) Quanto tempo você tem se sentido calmo ou tranquilo? 6 5 4 3 2 1 e) Quanto tempo você tem se sentido com muita energia? 6 5 4 3 2 1 a) Quanto tempo você tem se sentido cheio de vigor, de vontade, de força? b) Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa muito nervosa? c) Por quanto tempo se sente tão deprimido que nada pode animá-lo? Alguma Uma parte pequena do parte do tempo tempo Nunca f) Quanto tempo você tem se sentido desanimado ou abatido? g) Quanto tempo você tem se sentido esgotado? 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 h) Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa feliz? 6 5 4 3 2 1 i) Quanto tempo você tem se sentido cansado? 1 2 3 4 5 6 10- Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou problemas emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc)? Conceito A 920 Recife n. 2 p.866-923 2011 A maior parte do tempo 1 2 Alguma parte do tempo 3 Uma pequena parte do tempo Nenhuma parte do tempo 4 5 11- O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você? a) Eu costumo adoecer um pouco mais facilmente que as outras pessoas b) Eu sou tão saudável quanto qualquer pessoa que eu conheço c) Eu acho que minha saúde vai piorar d) Minha saúde é excelente A maioria das vezes verdadeiro Não sei A maioria das vezes falso 1 2 3 4 5 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 5 4 3 2 1 Pontuação do questionário de qualidade de vida Fase 1: Ponderação dos dados Valor total obtido nas questões correspondentes: Fase 2; Cálculo do Raw Scale Nesta fase você irá transformar o valor das questões anteriores em notas de 8 domínios que variam de 0 (zero) a 100 (cem), onde 0 = pior e 100 = melhor, para cada domínio. É chamado de Raw Scale, porque o valor final não apresenta nenhuma unidade de medida. Domínio: • Capacidade funcional: • Limitação por aspectos físicos • Dor • Estado geral de saúde • Vitalidade Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 921 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores Todo tempo Revista Conceito A | Revista dos Trabalhos de Conclusão de Curso • • • Aspectos sociais Aspectos emocionais Saúde mental Para isso você deverá aplicar a seguinte fórmula para o cálculo de cada domínio: Domínio: valor obtido nas questões correspondentes – limite inferior X 100 Variação (Score Range) Na fórmula, os valores de limite inferior e variação (Score Range) são fixos e estipulados na tabela abaixo. Domínio Pontuação das questões Limite inferior correspondidas Variação Capacidade funcional 03 10 20 Limitação por aspetos físicos 04 4 4 Dor 07+08 2 10 Estado geral de saúde 01+ 02+11 5 20 Vitalidade 09 (somente os itens a+e+g+i) 4 20 Aspectos sociais 06+10 2 8 Limitação por aspectos emocionais 05 3 3 Saúde mental 09 (somente os itens b+c+d+f+h) 5 25 Assim, você deverá fazer os cálculos para os domínios, numa escala que varia de 0 a 100, onde zero é o pior estado e 100 é o melhor, obtendo oito notas no final, que serão mantidas separadamente, não se podendo soma-las e fazer uma média. Obs. A questão número 2 não faz parte do cálculo de nenhum domínio, sendo utilizada somente para se avaliar o quanto o indivíduo está melhor ou pior Conceito A 922 Recife n. 2 p.866-923 2011 Conceito A Recife n. 2 p.866-923 2011 923 Efeitos da cinesioterapia na recuperação funcional e da qualidade de vida de mulheres com queimaduras em membros inferiores comparado a um ano atrás. Se algum item não for respondido, você poderá considerar a questão se esta tiver sido respondida em 50% dos seus itens.