Estratégias de manejo para alta produtividade do milho

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INFORMAÇÕES
AGRONÔMICAS
Promover o uso apropriado de P e K nos
sistemas de produção agrícola através da
geração e divulgação de informações científicas que sejam
agronomicamente corretas, economicamente lucrativas,
ecologicamente responsáveis e socialmente desejáveis.
MISSÃO
N0 113
MARÇO/2006
ESTRATÉGIAS DE MANEJO PARA
ALTA PRODUTIVIDADE DO MILHO
Tsuioshi Yamada1
Silvia Regina Stipp e Abdalla2
P
romover debates e divulgar tecnologias relacionadas aos fatores que envolvem o manejo sustentável
da cultura do milho, visando o aumento de sua produtividade e lucratividade, foi o objetivo do Workshop sobre “Estratégias de Manejo para Alta Produtividade na Cultura do Milho”,
que a POTAFOS realizou em fevereiro último, em Piracicaba, SP.
Constando de três painéis: (1) Estratégias de manejo da
cultura; (2) Manejo de invasoras, pragas e doenças e (3) Adubação da cultura do milho, o Workshop deixou mensagens importantes, como:
• O que define o potencial máximo de produção é o conjunto
de fatores relacionados a histórico da área; escolha do híbrido;
população de plantas; condições químicas e físicas do solo; manejo de pragas, doenças e plantas daninhas; condições climáticas
(quantidade e distribuição de chuvas, temperatura, radiação solar,
luminosidade) e aplicação espacial e temporal de insumos.
• Na ausência de restrição de fatores de produção, o ganho
de produtividade é função do aumento da população de plantas,
que por sua vez é dependente da qualidade do colmo, do vigor das
sementes e da escolha criteriosa do híbrido. Em meio à restrição de
fatores de produção, o ganho de produtividade será dependente da
distribuição espacial de plantas, que por sua vez é dependente da
qualidade da operação de semeadura;
• O grande desafio no manejo de solos tropicais é melhorar a
predição da capacidade dos solos em suprir nutrientes às plantas.
Será que a adubação que estamos utilizando é suficiente para atingir o patamar de produtividade desejado? As atuais tabelas de recomendação de adubação do milho estão adequadas para a sustentação do sistema plantio direto?
1
2
Veja também neste número:
Influência da nutrição e adubação na sanidade
da cultura da soja ................................................... 9
Nitrogênio no milho sob plantio direto no
cerrado ................................................................... 11
Produtor de citros é homenageado .................... 14
Criando vantagem competitiva para produção
de soja no Brasil .................................................. 16
Encarte: Manejo antecipado do nitrogênio nas
principais culturas anuais
• A semeadura do milho na época certa, embora não tenha
nenhum efeito no custo de produção, seguramente afetará o rendimento e, conseqüentemente, o lucro do agricultor;
• A matocompetição inicial é que define o potencial de produtividade da cultura. Nas áreas de semeadura direta, o programa
de manejo de invasoras na cultura do milho deve ser iniciado já por
ocasião da dessecação de manejo que antecede a semeadura;
• A resistência dos genótipos de milho ainda é a principal
estratégia de controle de doenças, associada à rotação de culturas,
para a redução do tipo e da severidade do inóculo;
• Mais pesquisas, de caráter multidisciplinar, envolvendo
pesquisadores especialistas das diferentes áreas são necessárias
para determinar os elementos-chave do sucesso na obtenção de
altas produtividades de milho.
Engenheiro Agrônomo, M.S., Doutor, diretor da POTAFOS; e-mail: [email protected]
Engenheira Agrônoma, M.S., POTAFOS; e-mail: [email protected]
POTAFOS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTASSA E DO FOSFATO
Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone e fax: (19) 3433-3254 - Website: www.potafos.org - E-mail: [email protected]
Endereço Postal: Caixa Postal 400 - CEP 13400-970 - Piracicaba-SP, Brasil
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
1
MILHO
Um resumo das principais mensagens deixadas pelos
palestrantes é apresentado a seguir.
PAINEL 1. ESTRATÉGIAS DE MANEJO
Palestra: ESTRATÉGIAS DE MANEJO PARA ALTA
PRODUTIVIDADE DE MILHO NO BRASIL –
Antônio Luiz Fancelli , Professor do Departamento de Produção
Vegetal da ESALQ, Piracicaba-SP, e-mail: [email protected]
Fancelli destacou os principais fatores relacionados à manifestação do potencial produtivo das espécies cultivadas, que são:
genótipo, ambiente de produção e manejo. Assim, a escolha do
genótipo em função da época, da região e das estratégias de manejo adotadas reveste-se de suma importância para a obtenção de
produtividades lucrativas, sobretudo quando aliada à compreensão
das limitações e/ou vantagens do ambiente de produção.
Destacou que as principais estratégias de manejo da lavoura de milho objetivando altas produtividades podem ser classificadas em dois grupos: estratégias de caráter geral e estratégias de
caráter específico. Dentre as estratégias de caráter geral, merecem
especial atenção:
• O manejo fundamentado na fenologia e não no número de
dias transcorridos após um dado evento, devendo ser abominadas
recomendações preconcebidas similares a “receitas de bolo” ou
pacotes tecnológicos;
• A ação e intervenção no sistema de produção baseado no
holismo, na previsibilidade de fenômenos e em princípios ecológicos básicos;
• O investimento efetivo na capacitação e desenvolvimento
pessoal dos atores do processo produtivo; e
• A gestão por qualidade.
Da mesma forma, as estratégias de manejo de caráter específico são:
• Adequação do híbrido ao ambiente de produção;
• Garantia de aprofundamento e extensão do sistema radicular;
• Garantia de ausência de estresse, principalmente nos estádios fenológicos iniciais;
• Uso de adubação fundamentada no equilíbrio nutricional e
não na quantidade de nutrientes em si;
• Emprego da população máxima e de distribuição espacial
uniforme de plantas na área; e
• Garantia da extensão e duração da área foliar.
Fancelli ressaltou que a obtenção de produtividades satisfatórias por parte do milho exige a amplitude térmica mínima de 15oC
(ideal: 20oC), que pode ser assegurada por latitudes altas ou por
altitudes acima de 720 m (ideal: 850 m a 1.000 m). Quando cultivado,
no Brasil, em locais com altitudes inferiores a 600 m, a aptidão para
alta produtividade pode ser melhorada em função da escolha correta do genótipo (híbrido com necessidade calórica superior a
850 graus-dia e com tolerância comprovada a doenças) e da época
de semeadura.
Fancelli citou trabalho de Musatenko et al. (2003), em recente pesquisa, demonstrando que plântulas de milho mais tolerantes
a temperaturas mais altas apresentavam maior conteúdo de ABA e
citocininas em comparação às plântulas de genótipos mais sensíveis, as quais freqüentemente evidenciavam anormalidades na estrutura lamelar dos cloroplastos. Elevada temperatura também pro-
2
voca a diminuição da atividade da nitrato-redutase, acarretando
interferência no processo de assimilação do nitrogênio por parte da
planta, que pode ser amenizada pelo emprego foliar de molibdênio
(20 a 30 g ha-1, no estádio de 4 a 6 folhas).
Citou que o efeito de temperaturas elevadas e de estresse
hídrico comuns em condições tropicais, na cultura do milho, pode
ser amenizado pelo uso de maiores doses de nitrogênio na semeadura, pelo emprego de cloreto de potássio em pré-semeadura e pela
aplicação de citocininas nos estádios iniciais de desenvolvimento
da planta. No entanto, a proximidade do cloreto de potássio em
relação às sementes torna-se mais grave quando as mesmas apresentam baixo vigor e pequeno tamanho, bem como com o aumento
do teor de areia dos solos e com a ocorrência de deficiência hídrica
após a semeadura, quando então é melhor a distribuição do KCl a
lanço.
Acrescentou que a falta de água no solo resulta na restrição
significativa do crescimento do sistema radicular devido ao aumento da resistência do solo e da diminuição do potencial de água.
Todavia, a redução da taxa de crescimento de raízes, nessa condição, é menor que aquela observada na parte aérea. Por outro lado,
raízes de milho em condição de estresse hídrico, submetidas a
substrato com baixo grau de impedimento mecânico, continuam
crescendo, quando comparadas àquelas em substratos adensados,
demonstrando a importância da presença e da persistência da matéria orgânica no solo.
Estresses por água e luz, segundo recente trabalho de pesquisa empreendido por Baldo e Fancelli (2006 - no prelo), demonstraram a baixa capacidade de recuperação da planta de milho quando
os mesmos ocorreram nos estádios fenológicos iniciais (2 a 6 folhas), reduzindo significativamente o número de folhas, o índice de
área foliar (IAF), o diâmetro do colmo, o número de fileiras de grãos
na espiga, a prolificidade e o potencial produtivo da planta. Demonstraram ainda que o potencial produtivo da espécie está diretamente relacionado ao aproveitamento da radiação solar incidente
na área, que pode ser conseguida pelo adequado número e distribuição espacial de plantas presentes na área.
Como norma geral, Fancelli afirma que na ausência de restrição de fatores de produção, o ganho de produtividade é função do
aumento da população de plantas, que por sua vez é dependente da
qualidade do colmo, do vigor das sementes e da escolha criteriosa
do genótipo. Atualmente, os maiores rendimentos têm sido obtidos
com o emprego de população entre 70.000 e 85.000 plantas ha-1. Por
outro lado, em meio à restrição de fatores de produção, o ganho de
produtividade será dependente da distribuição espacial de plantas,
que por sua vez é dependente da qualidade da operação de semeadura. Hoje, em decorrência dos genótipos disponíveis no mercado
e das limitações do ambiente de produção, a faixa de espaçamento
responsável pelos maiores índices de produtividade corresponde a
45-70 cm, entre linhas.
A perda de produtividade em populações abaixo da ideal é,
freqüentemente, maior que a quebra de produtividade em populações acima da ideal. Portanto, o uso da população máxima de plantas, em lavouras de milho, em função do genótipo, local, nutrição e
manejo, se constitui em fator preponderante de garantia de obtenção de elevados índices de produtividade.
Observações de campo têm evidenciado que o emprego de
populações superiores a 65.000 plantas ha-1 poderá implicar na ocorrência dos seguintes fenômenos:
• Redução da atividade da reductase do nitrato (implicando
em maior necessidade de Mo);
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
MILHO
• Aumento da esterilidade feminina e alteração do sincronismo pendão-espiga (implicando em maior necessidade de B) e
• Redução da taxa de fertilização de óvulos (implicando em
maior necessidade de citocininas).
Fancelli ressaltou ainda que, além do número e da distribuição correta de plantas de milho, a produtividade também depende
da duração da área foliar, visto que 60% a 75% do enchimento de
grãos depende da integridade e da atividade das 5 a 8 folhas presentes no terço superior da planta. A destruição de 5 folhas superiores,
em plantas de milho, resulta na perda aproximada de 35% da produção. Ainda, pesquisas demonstram que a redução de 20% da área
foliar das 5 folhas do terço superior da planta, após o florescimento,
pode provocar a perda estimada de 800 a 1.080 kg ha-1 de grãos. Da
mesma forma, se a planta permanecer 3 horas dia-1 com os estômatos
fechados, durante 15 dias, no período de enchimento de grãos,
resultará na perda estimada de 600 a 850 kg ha-1 de grãos.
Face ao exposto, salientou que, apesar do milho ser considerado uma das plantas mais bem dotadas fisiologicamente que se
conhece, bem como detentora de elevada capacidade produtiva, a
manifestação desses atributos depende das condições presentes
no ambiente de produção. Por essa razão, somente o conhecimento
da fisiologia da planta, o respeito às exigências edafo-climáticas da
espécie e a visão sistêmica da atividade, aliados ao estabelecimento de estratégias racionais e eficazes de manejo, poderão garantir a
obtenção dos rendimentos lucrativos e sustentáveis almejados.
Palestra: MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO E
ADUBAÇÃO NO MILHO DE ALTA PRODUTIVIDADE –
Antonio Marcos Coelho, Pesquisador da EMBRAPA-CNPMS,
Sete Lagoas-MG, e-mail: [email protected]
Segundo Antonio Marcos, a cultura do milho, nos últimos
anos, vem passando por importantes mudanças tecnológicas, resultando em aumentos significativos da produtividade e produção.
Entre estas tecnologias destaca-se a adoção de sementes de cultivares melhoradas, alterações no espaçamento e densidade de semeadura de acordo com as características das cultivares, e a conscientização dos produtores da necessidade de melhoria na qualidade dos solos, visando uma produção sustentada.
Citando Hoeft (2003), o pesquisador mostrou que um fator
comum entre os agricultores detentores de recordes de produtividade no mundo é a habilidade em identificar e manter um ambiente
altamente produtivo no solo. E que as áreas de alta produtividade
têm em comum o manejo que prioriza a produção de matéria orgânica.
Disse que para atender às exigências nutricionais das lavouras de milho de alta produtividade é necessário otimizar as condições de desenvolvimento das plantas via melhoria da fertilidade
do solo. Assim, a fertilidade do solo, a nutrição e a adubação são
componentes essenciais para a construção de um sistema de produção eficiente. A disponibilidade de nutrientes deve estar sincronizada com o requerimento da cultura em quantidade, forma e tempo.
Salientou que, com a adoção do plantio direto e da rotação
de culturas, incluindo a safrinha, houve a introdução do conceito
de adubação dos sistemas de produção,e não de culturas específicas, sendo o manejo dos corretivos da acidez do solo, fertilizantes
fosfatados, potássicos e micronutrientes bem definidos. De acordo
com a necessidade dos solos e das culturas, estes podem ser manejados através da aplicação a lanço, na pré-semeadura como adubação corretiva, no sulco de semeadura, como adubação de manutenção ou uma combinação desses métodos.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
No que se refere à exportação de nutrientes pela cultura do
milho, o fósforo (P) e o nitrogênio (N) são quase totalmente translocados para os grãos, seguindo-se o Mg, o K e o Ca. Isso implica
que a incorporação dos restos culturais devolve ao solo parte dos
nutrientes, principalmente K e Ca, contidos na palhada (Tabela 1).
Entretanto, mesmo com a manutenção da palhada na área de produção, e em decorrência das grandes quantidades que são exportadas
pelos grãos, faz-se necessária a reposição desses nutrientes nos
cultivos seguintes.
Tabela 1. Quantidades de nutrientes reciclados nas palhadas de milheto e
aveia utilizadas como cobertura de solo em plantio direto e nas
palhadas de milho e soja após a colheita dos grãos. Selvíria, MS.
Cultura
Produtividade
(M.S.)1
-1
(t ha )
Nutrientes
N
K
Ca
Mg
-1
- - - - - - - - - - (kg ha ) - - - - - - - - - -
Milheto
7,10
122
Aveia
3,10
Milho
7,65
Soja
5,42
1
P
16
124
26
17
62
8
60
12
4
78
16
90
34
12
54
8
77
28
15
M.S. = matéria seca a 65oC.
Fonte: modificada de MARQUES et al. (2002).
Comentou que o milho destinado à produção de forragem
tem recomendações especiais porque todo o material é cortado e
removido do campo antes que a cultura complete seu ciclo. Com
isso, a remoção de nutrientes é muito maior do que aquela para a
produção de grãos. Daí a necessidade de se diferenciar, nas tabelas
de recomendação de adubação, as quantidades de nutrientes a serem restituídas em função da finalidade da cultura, para grãos ou
para forragem, principalmente em relação ao potássio (K).
Segundo Antonio Marcos, devido à extrema complexidade
da dinâmica do N no solo, a qual é fortemente influenciada pelas
variáveis ambientais, é difícil o diagnóstico de sua disponibilidade
para as plantas com base na análise do solo. Assim, sua recomendação deve ser cada vez mais específica, e na tomada de decisão
sobre a necessidade de adubação nitrogenada, alguns fatores devem ser considerados, tais como: condições edafoclimáticas, sistema de cultivo (plantio direto ou convencional), época de semeadura (época normal e safrinha), responsividade do material genético,
rotação de culturas, época e modo de aplicação, fontes de N, aspectos econômicos e operacionais.
Exemplificou mostrando como o efeito da cultura precedente
pode, às vezes, ser determinante do potencial de rendimento da cultura
seguinte. Resultados experimentais de campo têm demonstrado que
gramíneas (aveia, milheto, etc.) precedendo o milho podem afetar
bastante a liberação de N em função do tempo, em razão do aumento da atividade biológica do solo. Nestas condições, a aplicação
antecipada de N pode ser viável em determinadas condições.
Em relação aos micronutrientes, disse que o milho tem alta
sensibilidade à deficiência de zinco, média à deficiência de cobre,
ferro e manganês e baixa à deficiência de boro e molibdênio. E que
podem ser aplicados no solo, via foliar, nas sementes ou por
fertirrigação.
Antonio Marcos finalizou dizendo que, embora exista uma
grande amplitude de variação na produtividade de milho nas diferentes regiões e Estados, no Brasil, em virtude da dimensão continental do país e da extrema diversidade de clima e solo, altas produtividades podem ser alcançadas em muitas regiões. Os produtores
3
MILHO
que desejarem atingí-las precisam ser pacientes e devem dar um
passo de cada vez. Não é possível atingir o limite da produtividade
em um curto período de tempo. Aqueles que já atingiram o fizeram
com muita experimentação e também com alguns fracassos durante
a jornada.
PAINEL 2. MANEJO DE INVASORAS, PRAGAS E
DOENÇAS
Palestra: MANEJO DE PLANTAS INVASORAS NA
CULTURA DO MILHO –
Rubem Silvério de Oliveira Jr e Jamil Constantin, Professores da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, e-mail:
[email protected]
Segundo professor Rubem, as plantas daninhas são responsáveis por aproximadamente um terço das perdas na agricultura.
Isso ocorre principalmente devido às suas características de
agressividade; grande habilidade competitiva por espaço, luz, água
e nutrientes; grande produção, longevidade e dispersão das
sementes; rápido desenvolvimento inicial e alelopatia.
Assim, dentre os fatores que podem contribuir para maximizar o potencial produtivo da cultura de milho, dois aspectos
merecem atenção especial. O primeiro diz respeito à necessidade
de um esforço multidisciplinar para que esse objetivo seja atingido;
o segundo, é o fato de que não basta proceder de forma eficiente as
recomendações fitossanitárias para a cultura, mas é preciso que as
medidas sejam implementadas no momento adequado.
Com relação ao manejo de plantas daninhas na cultura do
milho, sabe-se que o período crítico de prevenção de interferência
(PCPI), isto é, a fase do ciclo em que a convivência das plantas
daninhas com a cultura afeta diretamente o potencial produtivo da
lavoura, inicia-se por volta de 15 a 20 dias após a emergência e vai
até 40 a 45 dias após a emergência. Este período é normalmente
observado para as condições de cultivo de verão, onde, em função
da agressividade da comunidade infestante, é necessário o controle contínuo durante todo o PCPI. O atraso na implementação de
medidas de controle após o início do PCPI acarreta reduções na
produtividade, e estas são tão maiores quanto maior for o atraso
para o início do controle (Figura 1).
Disse que os maiores problemas no milho “safrinha” são
observados quando ocorrem escapes da safra de verão ou quando
a sementeira que emerge após a colheita de verão não é adequadamente controlada. Em função da menor temperatura, precipitação e
alternância de temperaturas, a emergência de plantas daninhas no
milho “safrinha” é normalmente menor do que no verão e constituída predominantemente por espécies de folhas largas. Assim, em
função da menor infestação e do desenvolvimento mais lento das
mesmas, é possível que o controle possa ser feito por um período
mais curto do que no verão, e, eventualmente, por meio de um único
controle pontual durante o ciclo da cultura. Esta possibilidade tem
se tornado ainda mais atraente com o surgimento de novos herbicidas seletivos para o milho para utilização em pós-emergência.
Uma outra implicação da infestação menos agressiva no milho “safrinha” é a possibilidade de uso de doses reduzidas de
herbicidas. Para a definição das doses, no entanto, deve-se levar em
conta que a falta de controle adequado na “safrinha” implica na possibilidade de aumento das infestações nas lavouras em sucessão.
Rubem salientou que os maiores efeitos negativos sobre o
potencial de produção do milho são observados quando a emergência das plantas daninhas ocorre antes ou simultaneamente à
emergência da cultura. Este fato indica que um programa de manejo de invasoras na cultura do milho deve ser iniciado já por ocasião da dessecação de manejo que antecede a semeadura, nas
áreas de semeadura direta.
Trabalhos conduzidos em diversos locais do Brasil têm evidenciado que, em áreas de grande cobertura do solo pela massa
vegetal, a utilização do sistema “Aplique-Plante” pode afetar a produtividade do milho. Assim, o manejo antecipado, ou seja, a utilização de um herbicida sistêmico de amplo espectro 15 a 20 dias antes
da semeadura, seguida de uma segunda aplicação de um herbicida
de contato imediatamente antes da semeadura, pode maximizar o
potencial produtivo do milho.
Segundo Rubem, este sistema de manejo implica, ainda, em
dois fatores decisivos para o estabelecimento de uma cultura vigorosa e de alto poder competitivo com as infestantes:
• Dessecação eficiente já na semeadura, que favorece o desenvolvimento inicial da cultura e
• Menor emergência de plantas daninhas durante o ciclo da
cultura, que implica em maior facilidade do controle em pós-emergência da cultura, independente do método a ser adotado. Nota-se
na Tabela 2 que o mesmo herbicida aplicado em diferentes datas
pode controlar as ervas daninhas mas com diferentes produtividades (diferença de 1.000 kg ha-1 entre AP e SIC).
Palestra: MANEJO DE PRAGAS NA CULTURA DO
MILHO – José Magid Waquil , pesquisador da EMBRAPACNPMS, Sete Lagoas-MG; e-mail: [email protected]
Figura 1. Efeito da época de controle de plantas daninhas sobre a
produtividade do milho. Safra 1997/98 .
Fonte: J. Zagonel, UEPG, Ponta Grossa-PR.
Explicou que, no caso do milho “safrinha”, ainda há necessidade de se atentar para a possibilidade de ocorrência de carryover,
ou seja, de efeito residual de herbicidas aplicados na cultura anterior de verão (imazaquin, imazethapyr, fomesafen e diclosulam), afetando o desenvolvimento do milho.
4
Segundo o pesquisador Waquil, embora os investimentos
em tecnologia, como mecanização, transporte, armazenamento, melhoramento genético e manejo cultural tenham promovido ganhos
expressivos em produtividade na cultura do milho, alguns fatores
continuam desafiando as estratégias de proteção do potencial produtivo da lavoura.
A expansão de práticas como o plantio direto, culturas hospedeiras irrigadas no período da entressafra e o cultivo da safrinha
levaram a alterações significativas no agroecossistema. Essas mudanças afetaram profundamente as interações do ambiente com os
artrópodes associados à cultura do milho. Assim, esses sistemas
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
MILHO
Tabela 2. Efeito de diferentes manejos e tratamentos de pós-emergência
do mato na produtividade do milho.
Manejo/Tratamento em pós-emergência
Aplique-Plante/Nenhum
Produtividade (kg ha -1)
6.440 d
Aplique-Plante/Capina manual
7.873 b
Aplique-Plante/Tratamento químico
7.933 b
7 DAP1/Nenhum
6.733 d
7 DAP/Capina manual
8.253 b
7 DAP/Controle químico
8.386 b
SIC2/Nenhum
7.326 c
SIC/Capina manual
8.893 a
SIC/Controle químico
8.993 a
Testemunha no mato
2.593 e
1
2
DAP = dias antes do plantio.
SIC = sistema integrado de cultivo (dessecação 20 dias antes da semeadura).
têm promovido um aumento da densidade populacional de insetospraga que passam pelo menos uma de suas fases no solo como, por
exemplo, os corós, a lagarta-do-colmo (LCM), a lagarta-da-espiga e
a broca-da-cana-de-açúcar, que passam a fase de pupa nos restos
culturais das plantas hospedeiras.
Citou que, atualmente, o sucesso da cultura do milho, que
era considerada sem pragas importantes, depende do controle
eficiente de várias espécies-praga, para se obter altas produtividades. A adoção do “Manejo Integrado de Pragas-MIP”, na sua
plenitude, poderá promover ganhos significativos de produtividade, com menos gastos com defensivos e menor impacto ambiental.
Segundo Waquil, para facilitar a organização de manejo, as
principais espécies-alvo no milho são distribuídas em três grupos
principais:
• Pragas iniciais – insetos de hábito subterrâneo, que atacam as sementes, sistema radicular e plântulas: cupins-subterrâneos, larva-arame, larva-angorá ou peludinha, corós, larvas-dediabrótica, percevejo-castanho e percevejo-preto, lagarta-elasmo,
lagarta-do-cartucho, broca-da-cana-de-açúcar, lagarta-rosca.
• Insetos sugadores e/ou vetores de fitopatógenos: cigarrinha-do-milho, pulgão-do-milho, percevejo barriga-verde.
• Lagartas: lagarta-do-cartucho, lagarta-da-espiga, brocada-cana-de-açúcar, curuquerê-dos-capinzais.
Atualmente, várias estratégias têm sido utilizadas para o
manejo das principais espécies de pragas. Para o controle das pragas iniciais tem sido usado o tratamento de sementes, do solo, com
inseticidas granulados, ou pulverização dos sulcos de plantio. O
tratamento de sementes é uma prática que tem dado boa resposta
no estabelecimento da população ideal de plantas.
Os produtos a base dos carbamatos (thiodicarb e carbofuran)
dão boa proteção contra as pragas das sementes, algumas das raízes
e proteção contra algumas que atacam as plântulas logo após a
emergência, por cerca de até 17 dias. Entretanto, estes produtos
têm pouca ação contra os insetos sugadores que atacam as plantas
jovens. Para o controle deste grupo de pragas tem sido recomendado o uso dos inseticidas do grupo dos neonicotinóides. O tratamento de sementes tem sido uma prática altamente econômica,
pois, em milho, com um custo de apenas 4,8% dos insumos, leva a
um aumento de cerca de 15% na emergência de plantas. Cerca de
40% dos produtores têm utilizado o tratamento de sementes nos
últimos anos.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
Além dos tratamentos químicos, Waquil citou que vários
inimigos naturais como percevejos, tesourinha, joaninha, pássaros, vírus, bactérias, fungos e nematóides também contribuem
para o equilíbrio populacional das pragas. A bactéria Bacillus
thuringiensis (Berliner) (Bt.), estirpe HD1, por exemplo, vem sendo
usada como bioinseticida há décadas e está registrada, sem limitação de uso, para o controle de várias espécies de insetos-praga da
família Lepidoptera. E que a introdução, o aumento e a preservação
desses agentes de controle biológico são muito importantes para
manter a população das espécies-alvo em equilíbrio e abaixo dos
níveis de dano econômico.
Também destacou as novas perspectivas que surgem com a
introdução das plantas transgênicas, no caso o milho-Bt. Entretanto, alertou que, para que essa seja uma alternativa sustentável, é
necessário atentar para o impacto dessa tecnologia na sociedade e
no ecossistema.
Finalizou indicando uma lista de defensivos registrados
para a cultura do milho com suas respectivas doses, que pode ser
encontrada no site: http://www.cnpms.embrapa.br/milho/
prtabelas.htm#tabela1.
Palestra: MANEJO DE DOENÇAS NECROTRÓFICAS
NA CULTURA DO MILHO – Carlos Roberto Casela, pesquisador da EMBRAPA-CNPMS, e-mail: [email protected]
De acordo com o pesquisador Casela, a incidência dos patógenos que infectam a cultura do milho tem aumentado nos últimos anos, o que constitui um dos principais entraves para o contínuo aumento na produtividade da cultura, principalmente em semeaduras mais tardias. Dentre eles, estão os os patógenos necrotróficos, que crescem e se desenvolvem tanto em organismos vivos
quanto em hospedeiros mortos ou meio de cultura (parasitas facultativos), representados pelos fungos causadores das principais
doenças do milho, como cercosporiose, mancha foliar, podridão de
diplodia, helmintosporiose e antracnose.
Entre os vários fatores que podem estar contribuindo para
a incidência e a severidade de doenças na cultura do milho, Casela
citou:
• Manejo inadequado da cultura;
• Ampla distribuição da área de plantio, fazendo com que a
mesma esteja exposta a diferentes condições climáticas;
• Monocultura, resultante do plantio sucessivo do milho
em uma mesma área;
• Adoção de novas práticas de cultivo, como o plantio direto e o plantio da safrinha; e
• Suscetibilidade inerente das cultivares comerciais a estas
doenças.
E para o manejo adequado das principais doenças na cultura do milho, citou ser importante a observação dos seguintes
aspectos:
• Plantio em época adequada, de modo a se evitar que os
períodos críticos para a produção coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença;
• Utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com
fungicidas;
• Utilização da rotação com culturas não suscetíveis; e
• Manejo adequado da lavoura – adubação, população de
plantas adequada, controle de pragas e de invasoras e colheita na
época correta.
5
MILHO
Estas medidas trazem um benefício imediato ao produtor por
reduzir o potencial de inóculo em sua lavoura, e, principalmente,
contribuem para maior durabilidade e estabilidade da resistência
genética presente nas cultivares comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos.
Mas, segundo ele, a mais atrativa estratégia de manejo de
doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma
vez que o seu uso não exige nenhum custo adicional ao produtor,
não causa nenhum tipo de impacto negativo ao ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas de controle e é, muitas
vezes, suficiente para o controle da doença.
Explicou que o manejo da resistência às doenças necrotróficas pode ser feito através da incorporação de resistência horizontal ou inespecífica (efetiva contra todas as raças do patógeno) e
de resistência vertical ou específica (efetiva contra algumas raças
do patógeno).
Ressaltou, porém, que com o manejo da resistência vertical
corre-se o risco de se gerar alterações na população de patógenos,
pois muitos agentes patogênicos apresentam a capacidade de rápida adaptação à resistência genética incorporada em cultivares em
uso comercial. A capacidade de produção de uma ampla gama de
patótipos por parte destes agentes patogênicos, associada ao aumento da área de plantio das cultivares resistentes, cria uma condição favorável para a seleção e propagação destas novas raças e,
conseqüentemente, para o desenvolvimento de epidemias severas
em cultivares anteriormente resistentes.
Finalizou citando algumas estratégias que podem ser utilizadas para melhorar a resistência vertical, como, por exemplo,
piramidação de genes, rotação de genes e desenvolvimento de
multilinhas.
PAINEL 3. ADUBAÇÃO DA CULTURA
Palestra: ESTRATÉGIAS DE MANEJO PARA ALTA
PRODUTIVIDADE DE MILHO E SOJA NOS ESTADOS
UNIDOS – Achim Dobermann, professor da University of
Nebraska, Lincoln, Estados Unidos; e-mail: [email protected]
De acordo com Dobermann, o potencial de produção é definido como a produção de uma cultura quando esta se desenvolve
em ambiente no qual está adaptada, sem limitação de água e nutrientes e com pragas e doenças efetivamente controladas. Conseqüentemente, para uma dada variedade ou híbrido em um ambiente
específico no campo, o potencial de produtividade é determinado
pela concentração de CO2, pela quantidade de radiação solar incidente, pela temperatura, pelo genótipo e pela densidade de plantas
– esta última governa a taxa de desenvolvimento da parte aérea
foliar.
O potencial de produtividade pode ser reduzido por suprimento insuficiente de água, tanto por precipitação pluviométrica
inadequada, nos sistemas de cultura tradicionais, ou por irrigação
deficiente, em sistemas irrigados, ou ainda por deficiências ou
desequilíbrios nutricionais, doenças, insetos e competição pelas
plantas daninhas (Figura 2).
O professor resumiu os resultados de um programa de pesquisa a longo prazo envolvendo o estudo do potencial produtivo
da soja e do milho e o desenvolvimento de estratégias de manejo
para alcançá-los.
Segundo ele, as etapas para se alcançar altas produtividades são:
6
Figura 2. Fatores que afetam o potencial produtivo da cultura.
Para MILHO:
1. Entender a condição climática e o potencial de produtividade da cultura e maximizar o potencial de produção através do
plantio de germoplasma elite em época e densidade populacional
adequadas.
2. Otimizar o uso de água disponível (precipitação ou irrigação) para minimizar a diferença em relação à produtividade potencial (GAP 1).
3. Fazer ajuste fino no manejo para minimizar o GAP 2, através de:
• Uso de sementes de qualidade, com excelente estabelecimento da cultura;
• Suprimento equilibrado de N, P, K e outros nutrientes;
• Ajuste anual das doses de N, com aplicações de acordo
com a demanda da cultura;
• Correção dos problemas de solo compactado, micronutrientes e pH;
• Controle de plantas daninhas, insetos, doenças através
de medidas profiláticas e corretivas, incluindo a escolha do híbrido.
4. Melhorar a fertilidade do solo com o tempo, através de
plantio direto, manejo do resíduo da cultura, etc.
Explicou que o potencial médio de produção de milho no
Corn Belt americano varia de 15 a 20 t ha-1, dependendo da temperatura e da radiação solar incidente, ocorrendo uma variação de cerca
de 3 t ha-1 entre os anos, dependendo do clima, e que ele resulta de
híbridos de milho que utilizam plenamente a estação de crescimento
e são cultivados visando o maior potencial de produtividade.
Produções de milho com 80-85% do potencial de produção
são obtidas com a utilização de melhores práticas de manejo, tais
como: análise de solo, rotação de culturas, população entre 70 e
75 mil plantas por hectare, nitrogênio aplicado em pré-plantio e no
estádio V6, com excelente manejo da cultura.
Produções de milho acima de 90% do potencial de produção
requerem maiores populações de plantas (80 a 95 mil plantas por
hectare, espaçamento de 40-50 cm), doses maiores de NPK, aplicações de N mais parceladas e maior atenção aos outros nutrientes.
Para SOJA:
1. Em soja irrigada, deve-se evitar irrigá-las antes do estádio
R3, exceto em anos de extremo estresse por água no estádio inicial,
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
e deve-se focar o fornecimento de adequada umidade durante os
estádios críticos de enchimento das vagens (R3-R6).
2. Utilizar variedades resistentes ao acamamento porque os
sistemas altamente produtivos objetivam maiores quantidades de
vagens por planta, tornando-as mais propensas ao acamamento.
3. Plantar cedo para garantir que a cultura alcance o número
máximo de nós.
4. Tratar as sementes com fungicidas e inseticidas sistêmicos.
5. Alcançar uma população atual de, pelo menos, 350 mil
plantas por hectare; plantar cerca de 25% mais de sementes (corrigidas para percentagem de germinação) que a densidade do estande
final desejado.
6. Garantir adequada fertilidade do solo quanto a P e K, bem
como adequado suprimento de outros macro e micronutrientes.
Finalizou informando que as máximas produtividades de soja
variaram de 4,5 a 6 t ha-1, e as maiores delas foram obtidas em anos
de clima mais frio durante o enchimento das vagens.
Não houve resposta consistente da produtividade a diferentes populações de plantas ou à aplicação de fertilizantes, além
das práticas recomendadas.
NOTA: Lá, como cá, a resposta do milho às boas práticas de manejo
é mais consistente que a da soja.
Palestra: AUMENTANDO A PRODUTIVIDADE DO MILHO
E DA SOJA E NAS REGIÕES SUL E CENTRAL DAS
GRANDES PLANÍCIES DOS ESTADOS UNIDOS –
Mike Stewart, diretor regional do Potash & Phosphate Institute,
San Antonio, Texas, Estados Unidos, e-mail: [email protected]
Segundo Mike, há uma grande diferença entre as produtividades de milho que podem ser alcançadas e as produtividades médias obtidas atualmente pelos agricultores nas regiões Sul e Central
das Grandes Planícies dos Estados Unidos. Em vista disso, o Instituto da Potassa e do Fosfato (PPI) lançou em 2000 um programa de
pesquisa de produtividade máxima de milho com o objetivo de estreitar essa diferença através da pesquisa de sistemas de produção
com sustentabilidade econômica e ambiental.
Os sistemas de cultivo altamente produtivos representam:
• Maior fonte potencial de alimento para uma população
crescente no mundo, tendo em vista a previsão de aumento de
2,7 bilhões de pessoas, ou 41%, na população mundial até a metade
deste século (U.S. Census Bureau, 2006);
• Maior oportunidade de lucro para os agricultores;
• Ajuda significativa ao ambiente através do aumento no
seqüestro de carbono, na eficiência de uso de nutrientes e através
do resgate de mais terra para pântanos, florestas e recreação; e
• Oportunidade potencial para respostas aos nutrientes devido aos altos níveis de produtividade.
Mike enfatizou que, para conduzí-los, deve-se considerar o
sistema como um todo e as interações entre os vários fatores que
afetam a produção. Citou, como exemplo, a pesquisa conduzida no
Colorado com milho irrigado de alta produtividade. O estudo mostrou que a dose de nitrogênio (N), a população de plantas e o híbrido podem interagir para afetar a produtividade (Figura 3). Vê-se que
houve um aumento da produtividade do milho, em altas populações, em três dos quatro híbridos estudados à medida que aumentou a dose de N, demonstrando, assim, que, em muitos casos, doses maiores de N são necessárias para se obter os benefícios do
aumento da população de plantas.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
Produtividade em função da
maior população de plantas (%)
MILHO
12
8
4
0
-4
67K vs 94K
A
B
96K vs 114K
C
D
Híbridos de milho
358
252
168 e N
d -1 )
se ha
Do kg
(
Figura 3. Influência da dose de N no aumento da produtividade do milho
em altas populações de plantas, para quatro híbridos de milho,
em pesquisa no Colorado, conduzida por S. R. Olsen.
Fonte: STEWART (2000).
Além da apresentação de inúmeros resultados de pesquisas, Mike comentou também que, comumente, numa rotação milhosoja, o adubo é aplicado somente na fase do milho, ficando a soja
com os nutrientes remanescentes da cultura anterior, embora ela
remova cerca de duas vezes mais P e quase cinco vezes mais K que
o milho. Assim, para capitalizar os melhoramentos genéticos na
produção, deve-se suprir os nutrientes necessários para não limitar
a produção da soja.
Isso pode ser visto através dos resultados de um experimento em Kansas (Tabela 3), em 2004, comprovando que pode haver uma resposta significativa da adubação direta da soja, quando
em rotação com milho, em ambiente de alta produtividade. Observase que a aplicação de 40 kg ha-1 de P e 74 kg ha-1 de K (alto P e baixo
K) aumentou a produtividade da soja em 2.352 kg ha-1, comparado
à testemunha, passando de 3.461 kg ha-1 para 5.813 kg ha-1 (média
de dois anos). A aplicação adicional de K e/ou a aplicação de N não
aumentaram as produções acima daquela (alto P-baixo K). Somente
em 2005, com a adição de Mn ao tratamento N-P-K, houve aumento
de 336 kg ha-1 na produtividade, passando de 5.914 kg ha-1 para
6.250 kg ha-1 de soja. O Mn foi incluído com o objetivo de observar
seu efeito na soja Roundup ready.
Tabela 3. Resposta da soja à adição de fertilizantes no Centro-Norte de
Kansas. Média de duas populações e dois espaçamentos.
Tratamentos1
Produtividade
2004
2005
Média
Diferença
- - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - Testemunha
3.226
3.696
3.461
-
Baixo P
3.830
4.234
4.032
571
Baixo P-Baixo K
4.771
5.107
4.939
1.478
Baixo P-Alto K
5.174
5.443
5.309
1.848
Alto P-Baixo K
5.712
5.914
5.813
2.352
Alto P-Alto K
5.678
5.981
5.830
2.369
N-P-K
5.746
5.914
5.830
2.369
N-P-K-Mn
6.250
[336]2
1
Baixo P = 15 kg ha-1 de P; alto P = 40 ha-1 de P; baixo K = 74 kg-1 de K;
alto K = 112 kg-1 de K; N-P-K = 22 kg de N, 40 kg de P e 112 kg de K; dose
de Mn = 5,6 kg-1 de Mn.
2
[6.250 - 5.914 = 336].
7
MILHO
Palestra: FertRec’X da POTAFOS –
José Francisco da Cunha, consultor, Tec-Fértil Comércio, Representações e Serviços Ltda., São Paulo-SP; e-mail: [email protected]
Cunha fez uma apresentação detalhada sobre os recursos
do FertRec’X da POTAFOS – novo software da Potafos para diagnóstico nutricional através da interpretação das análises de solo e
de plantas para recomendação de adubação.
Disponível no site da Potafos (www.potafos.org), o programa pode ser utilizado pelos usuários para a interpretação de suas
análises foliares, pela faixa de suficiência e pelo DRIS, para as principais culturas: algodão, café, citros, milho, soja e eucalipto. Já a
avaliação e a interpretação das análises de solo são disponibilizadas
graficamente, através de um fertigrama, que possibilita, ainda, a
exibição dos resultados das últimas análises e permite a comparação dos resultados e a visualização da evolução da fertilidade diante das adubações e correções efetuadas.
Segundo Cunha, deve-se observar alguns pontos importantes durante sua execução:
• Para a interpretação dos resultados das análises é preciso
compará-los com escalas definidas nos boletins de fertilidade publicados por órgãos de pesquisa ou por comissões estaduais formadas para este fim, bem como as recomendações de adubação.
Assim, é importante que a base escolhida utilize os mesmos métodos de análise das amostras a serem avaliadas. As bases de interpretação e recomendação utilizadas no programa FertRec’X são:
IAC-SP, CFSE-MG, EMBRAPA, EMBRAPA Cerrados, ROLAS-RS/SC
e Fundação MT.
• É preciso atenção quanto às unidades de medidas utilizadas nas análises, que, se necessário, devem ser transformadas para
as unidades solicitadas no sistema.
• Recomenda-se ao usuário que mantenha um registro de
todas as informações importantes sobre todas as análises de solo e
de folha, dos tratamentos realizados na área amostrada e dos níveis
de produtividade alcançados, com vistas a montar um histórico
contínuo da área ou propriedade.
Cunha comentou que uma opção interessante do programa
diz respeito à possibilidade do usuário permitir que outras pessoas
tenham acesso aos resultados cadastrados, mas sem permissão
para alterá-los, e visualizar os diagnósticos. Isso torna possível
que um usuário tenha várias fazendas cadastradas e crie cadastros
individualizados para que outros técnicos ou proprietários possam
acessar os resultados relativos às respectivas fazendas.
Palestra: HYBRID MAIZE – SOFTWARE PARA
SIMULAÇÃO DE PRODUTIVIDADE –
Achim Dobermann, University of Nebrasca, San Antonio, Lincoln,
Estados Unidos, e-mail: [email protected]
Segundo Dobermann, tradicionalmente, os agricultores
americanos têm utilizado as produtividades obtidas no passado
para ajustar as metas de produtividade, aumentando-as gradualmente com o passar do tempo. Por exemplo, na produção de milho,
o procedimento comum para se determinar a meta de produtividade é adicionar 5% à produtividade média obtida nos últimos cinco
anos. Uma vez que as decisões relativas à nutrição da cultura e a
outros fatores de manejo são comumente baseadas na produtividade buscada, a previsão correta das produtividades esperadas é
importante tanto para os produtores quanto para a indústria agrícola.
8
Um problema relativo ao procedimento tradicional é que o
potencial produtivo pode flutuar significativamente de um ano para
o outro devido à variação nas condições climáticas, de solos e de
disponibilidade de água. Outro problema é que o histórico das produtividades pode ser bem menor que o potencial de produtividade real
do local, resultando em meta de produtividade menor que a ótima.
Assim, o melhor entendimento quantitativo e mecanístico
do potencial produtivo e das diferenças de produtividade nos sistemas de produção da cultura podem conduzir a metas de produção
mais realistas bem como avaliar e reduzir os riscos associados a elas.
Pensando nesta possibilidade, a Universidade de Nebraska
recentemente liberou um programa de computador para o milho – o
modelo de simulação Hybrid-Maize – que pode ser usado para predizer o potencial de rendimento esperado em diferentes estádios de
crescimento da planta, sob condições irrigadas ou não. Os agricultores podem usar tais predições para monitorar sua cultura e fazer
ajustes no manejo durante a estação, avaliando riscos de seca, e
para melhorar as decisões sobre o mercado de sua colheita. As
aplicações específicas do Hybrid-Maize incluem:
• Análise do potencial de produtividade local sob condições
ótimas e de como ele é afetado pelo clima, época de plantio e escolha do híbrido de milho;
• Análise da necessidade de água para alcançar o potencial
de produção desejado;
• Análise dos determinantes da produtividade nas safras
passadas e nos sistemas de cultivo; e
• Simulação em tempo real do crescimento da cultura e da
produtividade projetada.
Dobermann explicou que o programa utiliza dados do histórico de clima e dados em tempo real fornecidos pelo Centro Climático Regional do High Plains para locais selecionados no oeste do
Corn Belt. Para simulações mais precisas, e particulamente para
simulações no tempo real da safra atual, os usuários devem adquirir
os dados diretamente das estações climáticas públicas ou comerciais. Os usuários também podem editar seus arquivos de dados,
adicionando seus registros de precipitação pluviométrica. O programa também requer informações específicas de campo como data
de plantio, crescimento do híbrido [graus-dias (GD) da emergência
à maturidade], população de plantas, tipo de solo e datas e quantidade das irrigações que tem sido ou serão aplicadas. Com base
nestas informações, o Hybrid-Maize simula o desenvolvimento da
cultura do milho.
Disse que uma das grandes utilidades deste programa é que
ele pode ser usado para revelar a diferença entre a produtividade
atual e a produtividade potencial em uma situação específica de
campo. Uma vez estimado o potencial de produção, agricultores e
agrônomos podem identificar, avaliar e eliminar os fatores limitantes
e, assim, maximizar lucros.
Para as condições do Brasil, citou ser necessário o acesso
aos dados diários de clima de, no mínimo, cinco anos:
• Para determinação do potencial produtivo: temperaturas
mínima e máxima e radiação solar.
• Para determinação do potencial produtivo limitado pela
água: evapotranspiração total (ET), precipitação e umidade relativa.
Dobermann finalizou dizendo que este programa é de fácil
manejo e que requer somente experiência básica em computação e
entendimento dos fatores que afetam o crescimento da cultura. É
útil para pesquisadores, profissionais agrícolas e produtores, mas é
também uma grande ferramenta educacional. Mais informações estão disponíveis online no endereço http://www.hybridmaize.unl.edu/.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 113 – MARÇO/2006
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