CUIDADO COM A PELE: O CASO DOS FEIRANTES DA FEIRA

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CUIDADO COM A PELE: O CASO DOS FEIRANTES DA FEIRA LIVRE DA
CIDADE NOVA EM FEIRA DE SANTANA-BA
Antonia dos Reis Braga1; Mírian Tereza Cerqueira Brito Maciel2
1. Bolsista FAPESB, Graduanda em Enfermagem, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected]
2. Orientadora, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected]
PALAVRAS-CHAVES: Cuidado, Lesões de pele, Feiras Livres.
INTRODUÇÃO
O surgimento e crescimento de diversas cidades estão intrinsecamente vinculados à
presença das feiras livres, responsáveis pelo desenvolvimento do setor econômico e também a
sociabilidade cultural. No município de Feira de Santana não foi diferente, sendo o
surgimento da cidade decorrente das feiras livre. A expansão das feiras livres ocorreu de tal
forma que se disseminou por alguns bairros de feira de Santana, favorecendo aos
consumidores que passaram a encontrar os produtos mais próximos a suas moradias. Neste
sentido, uma destas feiras livres corresponde à do bairro da Cidade Nova que tem sua origem
datada da década de 70, funcionando durante todos os dias da semana, com pico de
movimento aos sábados e domingo. Assim, os feirantes estão expostos a condições precárias
de trabalho como cargas horárias exaustivas de trabalho, falta de disponibilidade de tempo
para lazer e cuidar de sua saúde e pressões econômicas decorrente da variabilidade dos
preços da mercadoria e concorrência com os supermercados (Aguiar, 2010). Partindo deste
pressuposto, evidencia-se que os feirantes apresentam diversos fatores que podem
desencadear lesões cutâneas, relacionada ao ambiente de trabalho e a atividade laboral como
exposição prolongada ao sol, às chuvas, carga horária de trabalho exaustiva, a maneira como
estão dispostas as barracas, a questão postural, os fatores de ordem biológica como
envelhecimento, o aparecimento de doenças crônicas degenerativas, além de outros fatores
decorrentes do estilo de vida e de uma alimentação inadequada. Diante disso surge a
necessidade de investigar como esses feirantes cuidam de sua pele em seu cotidiano. Diante
do exposto, este trabalho tem como objeto o cuidado com a pele realizado por feirantes da
feira livre da Cidade Nova em Feira de Santana-Ba. Assim, questionamos como os feirantes
da feira livre da Cidade Nova em Feira de Santana cuidam de sua pele íntegra e/ ou quando
apresentam lesões?Este trabalho teve como objetivo analisar as práticas de cuidado com a
pele íntegra e/ou quando apresenta lesões realizadas pelos feirantes da feira livre da Cidade
Nova em Feira de Santana-Ba, identificando e descrevendo os cuidados que os feirantes da
feira livre da Cidade Nova em Feira de Santana-Ba realizam com a pele íntegra e/ou quando
apresentam lesões. Assim, este estudo parte do princípio que o enfoque nas práticas de
cuidados dos feirantes supõe o respeito aos saberes construídos culturalmente, no sentido do
empoderamento de sujeitos, que, porventura não tenham tido a possibilidade de compreensão
de suas maneiras de agir e de seus modos de viver para que possam re-pensar o cuidar de si,
fortalecendo seus saberes e práticas (BOEHS, 2002). Desta forma, este trabalho pretende
oferecer subsídios aos profissionais de saúde na elaboração de um programa de atenção à
saúde dos feirantes, voltado à prevenção e cuidado com a pele íntegra e lesionada,
considerando as especificidades e o cotidiano deste grupo populacional.
METODOLOGIA
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Este subprojeto constitui-se como parte integrante do projeto Práticas de Cuidado no
Cotidiano de Feirantes em Feira de Santana - BA, vinculado ao Núcleo Integrado de Estudos
e Pesquisas sobre o Cuidar/Cuidado. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, do
tipo estudo de caso com observação livre, numa abordagem qualitativa realizada com dez
feirantes na feira livre da cidade nova no período de seis a quatorze de maio de dois mil e
doze, no horário de 11h00min as 13h00min que aceitaram participar deste estudo, após o
contato inicial e a explicação dos objetivos da pesquisa. A coleta foi realizada após a
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UEFS), sob o número de protocolo
20/2012. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada e
observação da dinâmica do cotidiano da feira durante as visitas e as entrevistas. Os dados
foram analisados conforme a técnica de análise de conteúdo e divididos em duas categorias.
Vale ressaltar que em todos os momentos da pesquisa respeitou-se a resolução 196/96.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram desse estudo 10 feirantes de ambos os sexos, com idade mínima de 18
anos, sendo quarto do sexo masculino e seis do sexo feminino, com idades entre vinte e cinco
e cinquenta e seis anos. Os participantes desta pesquisa possuem um tempo de trabalho na
feira livre entre um e trinta e três anos, referiram jornada de trabalho entre seis e treze
horas.Cinco feirantes vem para feira livre todos os dias da semana, enquanto cinco colocam
seus produtos à venda apenas aos fins de semana.Quanto à escolaridade podemos constatar
que foi variável entre a terceira série do primário ao nível médio completo, contudo o que
prevaleceu foi o ensino fundamental até a sexta série, hoje sétima ano, evidenciando a baixa
escolaridade entre os feirantes. Dos feirantes participantes da pesquisa, seis possuem a feira
livre como única fonte de renda, enquanto que dois dividem seu tempo entre o trabalho na
feira livre e o trabalho em plantações de hortaliças na zona rural, e um realiza atividade
ajudante. Desta forma, para alguns feirantes a atividade na zona rural, geralmente a
agricultura familiar contribuem com a renda, uma vez que utilizam a colheita para
comercializar na barraca. Assim, percebem-se as exaustivas cargas de trabalho que essas
pessoas são submetidas, visto que possuem duas atividades laborais que exigem esforço físico
e psicológico, demandando tempo. O cuidado de si com a pele íntegra para os feirantes da
cidade nova implica em adotar alguns hábitos de higiene como tomar banho, usar creme,
sabonetes, visto que estes cuidados aumentam sua autoestima, fazendo com que se sintam
bem. Além disso, os feirantes demonstraram uma preocupação com o cuidado com a pele e
quanto às medidas de prevenção de alguma patologia, principalmente relacionada ao sol visto
que os mesmos possuem uma exposição em decorrência ao seu ambiente de trabalho. O
cuidado adotado com a pele ferida assume outra dimensão, visto que é sinônimo de doença ou
de anormalidade. Neste aspecto, as práticas dos feirantes possuem uma intersecção com os
hábitos e crenças culturais, sendo que na maioria das vezes este saber ultrapassa as gerações.
Assim, percebe-se que o cuidado com a pele lesionada varia desde o uso de plantas
medicinais ao uso de métodos farmacológicos comercializados. Percebe-se a partir de alguns
discursos que o cuidado com a ferida inicia-se com a limpeza do local, afastando de qualquer
sujidade, fatores estes que diminuem o risco de infecções e agilizam o processo de
reparação,sendo que após isso, utilizam algum método indicado por algum profissional de
saúde.Vale ressaltar que os feirantes utilizam plantas medicinais que possuem efeito
cicatrizante para o tratamento das feridas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A partir dos resultados desta pesquisa percebe-se que os feirantes da feira livre da
Cidade Nova estão expostos aos riscos decorrente da atividade laboral como a exposição a
chuva,ao sol e às exaustivas jornadas de trabalho, interferindo na forma como cuidam de sua
saúde, visto que não possuem tempo para realizar atividades de lazer,alimentação de
qualidade e procurar os serviços de saúde.Algumas condições exógenas e endógenas podem
levar ao surgimento ou retardo da cicatrização de uma lesão de pele.Deste modo,os feirantes
estão expostos a alguns fatores de risco como as exaustivas carga horária de trabalho,o
estresse, a ausência de tempo para cuidar de sua saúde e uma alimentação rica em
carboidratos e deficiente nos demais nutrientes responsáveis pela renovação das células
epiteliais. Associado a isso, têm-se algumas práticas de cuidado inadequadas como o uso de
hidratantes e substâncias farmacológicas que provocam a citólise. Os cuidados com a pele
realizado por este grupo se configurou como cuidados de higiene e quando a pele estava
lesionada,prevaleceu o uso de plantas medicinais.Assim,percebe-se que um conhecimento
insuficiente dos feirantes quanto aos riscos que podem ser desencadeados em decorrência da
exposição ao sol,chuva e ambientes insalubres,bem como a ausência de qualquer atividade na
feira livre referente a medidas preventivas ou cuidado com a pele. Deste modo, ao
compreender que as práticas de cuidado com a pele realizado por feirantes estão estreitamente
relacionados ao ambiente, aos hábitos de vida, a crença e à cultura faz-se necessário um
programa a atenção à saúde do feirante no próprio ambiente da feira livre atendendo às
necessidades desta população, valorizando e respeitando este conhecimento.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, M. G. G. et al. Práticas de cuidado no cotidiano de feirantes em Feira de Santana.
Projeto de pesquisa do Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas sobre o Cuidar/Cuidado
(NUPEC) da Universidade Estadual de Feira de Santana, 2008, 48f.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3ed. Lisboa Portugal, Edição 70, 2004.
BOEHS, A. E. Análise dos conceitos de negociação/acomodação da teoria de M. Leininger.
Rev Latino-am Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 1, p. 90-96, jan./fev. 2002.
MINAYO, M. C. de S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 4. ed Petrópolis:
Vozes, 1995.
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